Medeia Magazine 15 - Janeiro e Fevereiro 2015

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SONO DE INVERNO Palma de Ouro em exclusivo na Medeia

Janeiro | Fevereiro 2014

VÍCIO INTRÍNSECO

O ÚLTIMO DIA DE PASOLINI

CHANNING TATUM A DOBRAR "Foxcatcher"

CITIZENFOUR

Paul Thomas Anderson adapta Thomas Pynchon

e "A Ascensão de Jupiter"

por Abel Ferrara

no Teatro do Campo Alegre e no Espaço Nimas

JANEIRO | FEVEREIRO 2015

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EDITORIAL Abel Ferrara apresenta Pasolini, que, como o nome indica, é uma homenagem ao realizador, poeta e crítico Pier Paolo Pasolini. Além de retratar os momentoschave do seu último dia de vida, de 1 para 2 de Novembro de 1975, Ferrara aventura-se na recriação de Petrolio, romance que o italiano estava a escrever, e Porno-Teo-Kolossal, filme que não viria a concretizar. Muito aguardada, também, é a estreia de Sono de Inverno, grande vencedor do Festival de Cinema de Cannes deste ano, do realizador turco Nuri Bilge Ceylan. Trata-se da história de Aydin, interpretado por Haluk Bilginer, um actor reformado que gere um pequeno hotel na Anatólia Central com a jovem esposa Nihal, de quem se tem vindo a afastar emocionalmente, e com a irmã Necla, que se encontra a recuperar de um divórcio recente. Destaque ainda para as estreias do filmes Olhos Grandes, de Tim Burton, Vício Intrínseco (uma adaptação de um livro de Thomas Pynchon) de Paul Thomas Anderson e Foxcatcher, filme de Bennett Miller (com o qual venceu o prémio de melhor realizador em Cannes). No Espaço Nimas poderá ver Citizenfour, um documentário, sobre as revelações do espião americano Edward Snowden. Em Março, o mesmo cinema recebe um ciclo dedicado a Roberto Rosselini.

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com Equipa Director: Paulo Branco Edição e Textos: Ágata Xavier e Frederico Batista Design: André Carvalho e Catarina Sampaio Capa: Sono de Inverno

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JANEIRO | FEVEREIRO 2015

PASOLINI DE

ABEL FERRARA

ESTREIA 1 JAN

Duração: 86 min

COM WILLEM DAFOE, MARIA DE MEDEIROS, GIADA COLAGRANDE, RICCARDO SCAMARCIO

Willem Dafoe dá vida ao último dia de Pier Paolo Pasolini, no novo filme de Abel Ferrara.

Um dia na vida do polémico e genial Pier Paolo Pasolini, o controverso realizador de filmes como Salò ou os 120 Dias de Sodoma, As Mil e Uma Noite, Teorema ou O Evangelho segundo São Mateus. Além de realizador era crítico, autor e poeta – embora no seu passaporte constasse apenas “escritor”. Mas este dia é, em boa verdade verdade, o último da vida de Pasolini. Nele reflectem-se as preocupações de um homem que filma como acto político. Um homem preocupado com o sentido da vida, do conhecimento e do quebrar das barreiras: a morte, o sexo, a religião. Como música de fundo ouve-se Maria Callas, a grande musa de Pasolini – e figura central do seu filme Medeia, de 1969. Embora polémico, Pasolini era acarinhado pela elite cultural do seu tempo, sobretudo a de Roma, cidade para onde se mudou com a mãe depois de ser acusado de actos obscenos na via pública. Abel Ferrara, o realizador deste Pasolini, centra-se nesse dia em concreto. Pier Paolo Pasolini regressara de Estocolmo, onde estivera com Ingmar Bergman e outros intelectuais suecos. Assistimos à última entrevista que deu ao jornalista Furio Colombo, da revista italiana L’Espresso, que nos elucida sobre o modo como o realizador pensa certos temas: o que faz, como faz, porque faz. Sentado no sofá da sala, Pasolini conversa com Colombo sobre a sua visão do consumismo ("uma forma de fascismo pior do que a original"); ainda tem tempo para almoçar com a mãe e com as amigas e actrizes Graziella Chiarcossi (que entrou nos filmes Medeia (1969) e Comizi d'amore (1964), de Pasolini) e Laura Betti (que participou em vários filmes de Pasolini e é aqui interpretada por Maria de Medeiros), até ao encontro, fatal, com Pelosi. Este último, um prostituto com quem o realizador jantara, viria a ser condenado pela morte de Pasolini. Uma morte brutal, que incluiu espancamento e atropelamento, deixando-o irreconhecível. O rapaz viria a ser apanhado mais tarde a conduzir o Alfa Romeo roubado ao realizador. Em 2005, Pelosi alegou a sua inocência (diz ter confessado na altura por temer represálias) e que teriam sido antes três homens a cometer o crime – cujo sotaque sulista indiciava ligações à máfia. Nunca se apurou a verdade


ESTREIAS PROGRAMAÇÃO CINEMA

PIER PAOLO PASOLINI e Ferrara não quis avançar com uma tese. Até o facto de a câmara subir e afastar-se em alguns momentos mostra esse distanciamento. “Procurei a morte do último dos poetas, só para encontrar o assassino que há em mim”, revela o também polémico Abel Ferrara na apresentação do filme. Além dos momentos-chave do último dia de Pasolini, de 1 para 2 de Novembro de 1975, Ferrara aventura-se na recriação de Petrolio, romance que o realizador italiano estava a escrever, e Porno-Teo-Kolossal, filme que não viria a concretizar. Neste último, duas personagens, o sábio Epifanio e o jovem Nuncio, seguem um cometa que os levará à gruta onde o Messias nasceu. Na altura, Ninetto Davoli e Eduardo De Filippo anunciavam-se como os actores escolhidos por Pasolini. No filme de Ferrara, Davoli entra, não para ser o jovem que Pasolini idealizou, mas, pela idade actual, representar o sábio. Ferrara já havia reproduzido este ano, ainda que de forma muito livre (nem se trata de um biopic), o escândalo que envolveu o então director do Fundo Monetário Europeu, Dominique Strauss–Kahn, num caso de violação em Welcome to New York, com Gérard Depardieu. Agora, volta a apropriar-se de factos verídicos para construir um filme biográfico. Para o crítico Xan Brooks, do jornal The Guardian, Ferrara dá um “walk on the wild side” (até vemos um poster de Lou Reed, quando lançou o álbum Transformer, colado numa parede de Roma) . E conclui: “Willem DaFoe está soberbo na celebração do realizador italiano que morre em circunstâncias misteriosas em 1975, num filme que deve ser o melhor de Ferrara até à data.”

Símbolo de como a arte podia combater o poder, Pasolini era escritor, realizador, poeta e crítico italiano. Longe de ser consensual, era amado por muitos e odiado por outros tantos. O Vaticano, que tanto o perseguiu e censurou, acabou por revelar em Abril deste ano que O Evangelho Segundo São Mateus era o melhor filme a ser feito sobre a vida de Jesus. Homossexual, alvo de crítica e censura, questionava com o seu cinema a luxúria, o consumismo e a relação entre arte, religião e política. Atacava, sobretudo, a sociedade burguesa. Pasolini, tal como a sua família, era comunista (ainda que seu pai, um general italiano, tivesse impedido um jovem anarquista de assassinar Mussolini durante uma parada). Morreu em circunstâncias misteriosas a 2 de Novembro de 1975. FILMOGRAFIA ESSENCIAL:

Salò ou os 120 dias de Sodoma (1975) As Mil e Uma Noites (1974) Os Contos de Canterbury (1972) Decameron (1971) Medeia (1969) Teorema (1968) Passarinhos e Passarões (1966) O Evangelho Segundo São Mateus (1964)

JANEIRO | FEVEREIRO 2015

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ESTREIAS CINEMA

CAMINHOS DA INVENCÍVEL FLORESTA ROB MARSHALL ANGELINA JOLIE Dur: 124 min

ESTREIA 1 JAN

DE

DE

Dur: 137 min

ESTREIA 8 JAN

COM JOHNNY DEPP, ANNA KENDRICK, CHRIS PINE, MERYL STREEP

COM JACK O'CONNEL, DOMHNALL GLEESON, JAI COURTNEY

Trata-se de uma abordagem moderna aos aclamados contos dos irmãos Grimm. O filme combina os enredos de algumas histórias e explora as consequências dos desejos e actos das personagens. Este musical bemhumorado e emocionante acompanha os contos clássicos de Cinderela, o Capuchinho Vermelho, João e o Pé de Feijão e Rapunzel; unidos numa história original que envolve um padeiro e a sua mulher, o seu desejo de iniciar uma família e a interação com a bruxa (Meryl Streep) que os amaldiçoou. Baseado no musical de Stephen Sondheim, que venceu 8 Prémios Tony.

Adaptado do famoso livro de Laura Hillenbrand, Invencível é o segundo filme realizado por Angelina Jolie (depois de Na Terra de Sangue e Mel, em 2011) e mostra o poder de resistência do espírito humano. Este drama revela a inspiradora história de vida de Louis “Louie” Zamperini, um atleta olímpico e herói de guerra que, juntamente com outros dois tripulantes, sobreviveu numa jangada à deriva no mar durante 47 dias, depois de um acidente aéreo quase fatal (a acção passase durante a II Guerra Mundial). É encontrado e capturado pela marinha japonesa e enviado para um campo de prisioneiros de guerra, onde fica sujeito às maiores adversidades.

Prémios e Festivais: Golden Globes – 3 Nomeações incluindo Melhor Filme

A TEORIA DE TUDO LIVRE DE JAMES

MARSH

ESTREIA 29 JAN

Dur: 123 min

DE

ESTREIA 26 FEV

Dur: 115 min

JEAN-MARC VALLÉE

COM FELICITY JONES, EDDIE REDMAYNE, EMILY WATSON, CHARLIE COX

COM REESE WITHERSPOON, GABY HOFFMANN, LAURA DERN

Baseado na biografia Travelling to Infinity, escrito pela primeira mulher do cientista Stephen Hawking, e mostra como o jovem astrofísico, fez descobertas importantes sobre o tempo. Além do percurso académico e científico, retrata o romance entre ambos, desde o seu encontro até ao momento em que, com apenas 21 anos, Hawking descobre que tem uma doença motora degenerativa.

Depois de perder a mãe, começar a consumir heroína e divorciar-se, Cheryl Strayed decide embarcar numa caminhada de mais de 1000 km, apostada numa verdadeira busca interior. Uma jornada recheada de desafios e momentos únicos, capaz de transformar uma pessoa. O filme adapta uma história verídica e conta com o argumento do escritor inglês Nick Hornby.

Prémios e Festivais:

Prémios e Festivais:

Golden Globes – 4 Nomeações incluindo Melhor Filme

Golden Globes – Nomeação Melhor Actriz Drama

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JANEIRO | FEVEREIRO 2015


ESTREIAS CINEMA

BIRDMAN

Dur: 119 min

ESTREIA 8 JAN

DE ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑÁRRITU COM MICHAEL KEATON, EMMA STONE, ZACH GALIFIANAKIS,

EDWARD NORTON, NAOMI WATTS

É um homem, um pássaro, um avião? A comédia negra de Alejandro Iñárritu tenta responder a questões bem mais complexas. Os mais distraídos podem achar que o realizador de Babel e 21 Gramas se aventurou na lucrativa moda das adaptações de banda desenhada ao cinema. Mas Birdman não é um filme de super-heróis -- é muitas outras coisas: drama, comédia, sátira a Hollywood dos nossos tempos, retrato da tentativa de ressurreição de uma carreira ou relato de uma crise existencial. Michael Keaton, o actor que já fez de Batman, é Riggan Thomson, um actor que já fez de Birdman, super-herói de um franchise de filmes de ação muito bem sucedido mas que recusou continuar nesse papel para se tornar num ator respeitado. O tempo passou. Riggan perdeu credibilidade, perdeu dinheiro, perdeu o cabelo. E quer recuperar duas dessas três coisas com uma peça de teatro. Ao escrever, produzir, encenar e protagonizar a adaptação ao teatro um conto de Raymond Carver, O Que Falamos

Quando Falamos de Amor, Riggan Thomson espera pôr a sua vida nos eixos e estabelecer-se como um artista relevante. Mas, para isso, vai ter de enfrentar o maior vilão de todos – ele próprio, as suas inseguranças e aquela voz dentro da sua cabeça que lhe diz que não vai ser capaz. Elogiado pela técnica – está filmado como se fosse apenas um plano, sem cortes – e aplaudido pelo desempenho dos seus actores (poderá ressuscitar a carreira de Michael Keaton?) Birdman está nomeado para 7 Globos de Ouro e esteve em Competição no Festival de Cinema de Veneza, em 2014. Prémios e Festivais: Golden Globes - 7 Nomeações incluindo Melhor Filme Melhor Realizador, Melhor Actor, Melhor Argumento Festival de Veneza - Em Competição

O JOGO DA IMITAÇÃO DE MORTEN TYLDUM ESTREIA 15 JAN

Dur: 114 min

COM BENEDICT CUMBERBATCH, KEIRA KNIGHTLEY, MATTHEW GOODE

A mais do que atribulada vida de um génio que ajudou a pôr fim à II Guerra Mundial chega ao cinema Entre 1939 e 1945, em plena II Guerra Mundial, a elite de criptanalistas esteve reunida em Bletchley Park, o quartel-general do Reino Unido no que respeitava à decifração de códigos, tão essenciais para a vitória no conflito. Alan Turing era provavelmente um dos mais brilhantes. Numa verdadeira corrida contra o tempo, este cientista informático (que também era matemático, filósofo e maratonista...) foi um dos responsáveis pela compreensão das mensagens emitidas pela Enigma, uma máquina usada pela Alemanha Nazi para enviar mensagens codificadas. O próprio Winston Churchill reconheceu que a contribuição de Turing foi uma das mais importantes para a vitória dos Aliados. Há quem diga mesmo que se estes códigos não tivessem sido decifrados a guerra poderia ter-se prolongado por mais dois anos. Mas o filme não se fica apenas pelo período áureo de Alan Turing (que ainda hoje é considerado uma das influências maiores na Ciência da computação teórica e na Inteligência Artificial).

O Jogo da Imitação percorre a sua vida desde a infância até aos últimos anos na década de 1950, após ter sido acusado e condenado por comportamento imoral, depois de revelar ter mantido uma relação homossexual. A crítica é unânime nos elogios a Benedict Cumberbatch, pela sua interpretação de Turing. O Chicago SunTimes considerou-a a sua “melhor interpretação no grande ecrã”. Já Peter Travers, da Rolling Stone, escreveu que “a força primal do filme reside em Cumberbatch, um grande actor cujo talento brilha aqui nas alturas. É uma interpretação explosiva e emocionalmente complexa”. Prémios e Festivais: Golden Globes - 7 Nomeações (Melhor Filme Drama Melhor Actor Drama, Melhor Actriz Secundária Melhor Argumento, Melhor Banda Sonora)

JANEIRO | FEVEREIRO 2015

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ESTREIAS CINEMA

VÍCIO INTRÍNSECO OLHOS GRANDES Dur: 148 min

TIM BURTON

DE PAUL THOMAS ANDERSON ESTREIA 19 FEV

DE

COM JOAQUIN PHOENIX, JOSH BROLIN, JOANNA NEWSOM, KATHERINE

COM AMY ADAMS, CRISTOPH WALTZ, JASON SCHWARTZMAN

ESTREIA 26 FEV

Dur: 106 min

WATERSTON, ERIC ROBERTS, OWEN WILSON, BENICIO DEL TORO

Depois de O Mentor, Thomas Anderson regressa com uma farsa policial psicadélica adaptada do romance de Thomas Pynchon

Pynchon é um dos mais fascinantes autores norteamericanos. Não tanto pelo mistério que circunda a sua vida pessoal (mais do que discreto, é uma espécie de eremita do qual existem poucas imagens e cujo paradeiro é misterioso) mas pela obra que foi edificando através de monumentos como O Arco-Íris da Gravidade ou Mason & Dixon – as mais de 1000 páginas de cada um destes livros são em simultâneo a marca de um génio e um convite para mergulhar no seu universo singular, onde cabem conspirações políticas, vícios e poucas virtudes, ciência e transcendência e um misterioso dispositivo bélico chamado "Schwarzgerät". Paul Thomas Anderson escolheu adaptar um dos seus romances mais recentes naquela que é a primeira transposição da obra do escritor para o cinema. “Adoro-o e adoro a sua obra. Tinha uma espécie de sentimento de possessão – se alguém ia estragar tudo isto preferia ser eu a fazê-lo”. Mas qual a história deste novo filme do realizador de Magnólia e Haverá Sangue, que o The New York Times considerou “o mais cómico e anárquico do realizador desde Boogie Nights – Jogos de Prazer”? Uma viagem féerica pela Califórnia guiada pelo detective privado Doc Sportello, que procura desvendar uma conspiração. Tudo isto enquanto nos despedimos do psicadelismo da década de 1960 e abrimos os braços à paranóia dos anos 70, lado a lado com personagens sob o efeito das mais variadas substâncias. Anderson afasta-se do território sombrio de O Mentor para uma comédia delirante “a transbordar de gags visuais e artifícios” e inesperadamente “inspirado em paródias como Top Secret! – Ultra-Secreto e Aeroplano!”, segundo o The New York Times.

O novo filme de Tim Burton traz uma mudança de tom no cinema do sempre surpreendente realizador Durante anos, os quadros que Margaret Keane pintava em sua casa foram dos mais populares nos E.U.A. As crianças de ar desamparado e olhos gigantes foram um símbolo kitsch nas décadas de 1950 e 60, tão desprezadas pela crítica como cobiçadas pelo público. Infelizmente, a fama e o proveito só chegaram mais tarde a Margaret já que o seu marido se apropriou das suas pinturas, apresentando-se como autor. O divórcio e a luta de Margaret para reaver os seus direitos autorais estão no centro do novo filme de Tim Burton. Pela primeira vez em mais de 20 anos, o realizador escolheu um elenco inteiramente composto por actores com os quais nunca tinha trabalhado, como Amy Adams e Cristoph Waltz, que receberam nomeações para os Golden Globes. Burton, que tem alguns quadros de Keane, recordava a obra da artista da sua infância. “Cresci com estes quadros, eram comuns nas casas e salas de jantar das pessoas, como arte suburbana. Estava muito presente, como um sonho bizarro, na minha consciência”, revelou o realizador. À semelhança de Ed Wood, Burton volta a debruçar-se sobre a vida de uma artista cuja obra não caiu nas graças da crítica. “Quando Ed Wood estava a filmar Plan 9 provavelmente pensava que estava a fazer “Star Wars”, quando Margaret pinta os seus quadros pensa que será a Mona Lisa. Há uma espécie de paixão imprudente que os faz não pensar nas ramificações daquilo que estão a fazer, simplesmente fazem-no.” Para o The Hollywood Reporter, o filme “exala um agradável apelo excêntrico ao mesmo tempo que pinta um retrato perturbador do domínio masculino e da submissão feminina…”.

Prémios e Festivais: Golden Globes – Nomeação para Melhor Actor Comédia National Board of Review – TOP 10 Melhores Filmes do Ano e Melhor Argumento Adaptado

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JANEIRO | FEVEREIRO 2015

Prémios e Festivais: Golden Globes - Nomeações para Melhor Actor e Actriz Comédia/Musical e Melhor Canção Original


ESTREIAS CINEMA

SNIPER AMERICANO BLACKHAT: AMEAÇA NA REDE DE CLINT EASTWOOD ESTREIA 22 JAN COM BRADLEY COOPER, SIENNA MILLER, LUKE GRIMES

Dur: 132 min

DE MICHAEL MANN ESTREIA 22 JAN COM CHRIS HEMSWORTH, VIOLA DAVIS, WILLIAM MAPOTHER

Adaptado do livro American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Militar History, este filme realizado por Clint Eastwwod narra a história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), um atirador de elite das forças especiais da marinha americana. Durante cerca de dez anos, Kyle matou mais de 150 pessoas, tendo recebido reconhecimento por isso, tornando-se conhecido como “A Lenda”. Essa fama chega ao adversário que coloca a cabeça de Kyle a prémio. Quando regressa a casa, o SEAL percebe que não pode levar uma vida normal.

No mundo do cibercrime global, Blackhat: Ameaça na Rede acompanha a história de um recluso (Chris Hemsworth) em liberdade condicional que, em conjunto com parceiros espalhados por vários pontos do globo, persegue uma rede organizada internacional que opera de Chicago a Los Angeles e de Hong Kong a Jacarta. Blackhat significa “chapéu preto” e simboliza os vilões dos westerns americanos e foi aqui apropriado para definir os hackers. O filme é assinado por Michael Mann, o realizador de Heat - Cidade sob Pressão e Miami Vice.

SELMA

MISS JULIE

DE

ESTREIA 29 JAN

AVA DUVERNAY

Dur: 127 min

DE LIV ULLMANN ESTREIA 25 JAN

Dur: 129 min

COM DAVID OYELOWO, TIM ROTH, OPRAH WINFREY, CUBA GOODING JR.

COM JESSICA CHASTAIN, COLIN FARREL, SAMANTHA MORTON

Num período em que a discriminação racial volta a estar na ordem do dia nos Estados Unidos, o filme de Ava DuVernay recua até à década de 1960 para um dos momentos mais significativos do movimento pelos direitos civis. Produzido por Oprah Winfrey, Selma acompanha os três meses de protestos liderados por Martin Luther King, que envolveram milhares de manifestantes e culminaram na aprovação da Lei dos Direitos ao Voto, garantindo este direito a todos. O filme encontra-se nomeado para os Golden Globes nas principais categorias, incluindo Melhor Filme – Drama, Melhor Realizador, Melhor Actor Principal e Melhor Canção Original.

A peça de Strindberg ganha de novo vida no cinema pela mão de Liv Ullmann, mítica actriz que protagonizou alguns dos mais icónicos filmes de Ingmar Bergman e que regressa à realização depois de Infidelidade. Jessica Chastain incarna Julie, a filha de um aristocrata que decide seduzir o criado do seu pai (interpretado por Colin Farrell), sempre sob o olhar atento da cozinheira da família (Samantha Morton). Uma sedução que se transforma num verdadeiro jogo de estratégia que se vai adensando cada vez mais, à medida que a noite se aproxima. JANEIRO | FEVEREIRO 2015

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PROGRAMAÇÃO

ESPAÇO NIMAS

CITIZENFOUR

A SUA SALA DE CINEMA INDEPENDENTE

DE

O ano começa com uma sessão especial do filme Água Prateada - Um Auto-Retrato da Síria, que contará com o Ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, e os jornalistas Sofia Lorena (Público) e Ricardo Alexandre (Antena 1). Será no dia 5 de Janeiro na sessão das 21h30.

O documentário mais discutido do ano é também um dos mais hipnotizantes dos últimos tempos e vai estar em exibição exclusiva no Espaço Nimas

Logo a seguir, estreia-se um dos filmes mais aguardados do ano: o vencedor da Palma de Ouro. Sono de Inverno, de Nuri Bilge Ceylan, é uma obra-prima monumental passada durante um Inverno num pequeno hotel da Capadócia que se torna num campo de batalha verbal. Os ecos de Shakespeare e Chekhov não estão longe deste filme, soberbamente filmado pelo cineasta turco. Estreia-se em exclusivo no Nimas a 8 de Janeiro. De seguida estreia-se um dos principais candidatos ao Oscar de Melhor Documentário. CITIZENFOUR, o filme de Laura Poitras sobre Edward Snowden, tem sido um dos mais polémicos e discutidos nos últimos meses, como se comprovou na sessão do Leffest' 14 que contou com a presença da realizadora. A partir de 12 de Fevereiro a não perder em exclusivo no Espaço Nimas. Antecipamos ainda nestas páginas os títulos dos filmes que irão compor uma programação especial dedicada a Roberto Rossellini, que a partir de Março vai tomar conta do Nimas.

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com 8

JANEIRO | FEVEREIRO 2015

LAURA POITRAS

ESTREIA 12 FEV

EXCLU

CINEMSIVO AS M

EDEIA

Dur: 114 min

DOCUMENTÁRIO COM EDWARD SNOWDEN, GLENN GREENWALD, JACOB APPELBAUM

“Tenso e assustador. Uma fábula política fundamental para a era digital.” The New Yorker

Por esta altura a maior parte das pessoas já se poderá ter esquecido que em 2013 Edward Snowden abdicou da sua vida, tal como a conhecia, para expor as práticas de vigilância de massas efectuadas pela Agência de Segurança Norte-Americana. O documentário de Laura Poitras chega agora às salas para as relembrar e principalmente para as deixar aterradas. Não é por acaso que a revista Time considerou CITIZENFOUR “o filme mais assustador deste Halloween”, quando o filme chegou às salas de cinema norte-americanas no final de Outubro. À medida que vamos acompanhando as reuniões de Snowden com a realizadora Laura Poitras e o jornalista Glenn Greenwald num quarto de hotel em Hong Kong, vamos descobrindo com estupefacção a extensão do sistema de vigilância indiscriminado e ilegal desenvolvido pelos serviços secretos norte-americanos. Ou como resumem os produtores: “no final do filme, nunca mais olhará da mesma forma para o seu telefone, e-mail, cartão de crédito, browser de internet…” A realizadora Laura Poitras já trabalhava num filme sobre vigilância há cerca de dois anos quando Snowden a contactou em Janeiro de 2013. É assim que se tornou possível assistir, mesmo que em diferido, a um pedaço da História recente a acontecer diante dos nossos olhos neste “thriller da vida real”, que o The Hollywood Reporter considerou “um dos principais e mais marcantes documentários dos últimos tempos”. O documentário, que segundo a Rolling Stone é também “um grito de alerta que nos atinge como um balde de água fria”, encontra-se na lista de possíveis nomeados para os Oscars da Academia e afigura-se como um dos principais candidatos. Prémios e Festivais: New York Film Critics Circle – Melhor Documentário do Ano Los Angeles Film Critics Circle – Melhor Documentário do Ano New York Film Festival – Selecção Oficial Lisbon & Estoril Film Festival – Selecção Oficial


PROGRAMAÇÃO

DEZ FILMES DE ROBERTO ROSSELLINI A PARTIR DE 25 DE MARÇO

EXCLU

CINEMSIVO AS M

EDEIA

ROMA, CIDADE ABERTA 1945 VERSÃO RESTAURADA

PAISÀ - LIBERTAÇÃO 1946

VERSÃO RESTAURADA

ALEMANHA, ANO ZERO 1948 VERSÃO RESTAURADA ROMA, CIDADE ABERTA

Um dos maiores cineastas do neo-realismo italiano, Roberto Rosselini alcançou o sucesso depois da Segunda Guerra Mundial ao assinar Roma, Cidade Aberta (que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, em 1945), Paisà (1946) e Alemanha, Ano Zero, em 1947. O seu pai construiu o primeiro cinema de Roma, o Barberini, e ofereceu ao filho um livre-trânsito para assistir aos filmes que quisesse. Rosselini casou quatro vezes, uma delas com a actriz Ingrid Bergman, com quem teve três filhos, entre eles a actriz Isabella Rosselini. Pode assistir a uma programação dedicada ao realizador no Espaço Nimas, com 10 títulos em versões restauradas.

L'AMORE 1948

VERSÃO RESTAURADA

STROMBOLI 1950 VERSÃO RESTAURADA

LA MACCHINA AMMAZZACATTIVI 1952

VERSÃO RESTAURADA

VIAGEM EM ITÁLIA 1954 VERSÃO RESTAURADA

O MEDO 1954

VERSÃO RESTAURADA

ÍNDIA 1958

VERSÃO RESTAURADA

LA FORZA E LA RAGIONE 1971 VERSÃO RESTAURADA

VIAGEM EM ITÁLIA

JANEIRO | FEVEREIRO 2015

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ESTREIAS CINEMA

STILL ALICE

Dur: 101 min

ESTREIA 22 JAN

RELATOS SELVAGENS

DE RICHARD GLATZER, WASH WESTMORELAND

DE DAMIÁN SZIFRÓN ESTREIA 5 FEV

COM KRISTEN STEWART, JULIANNE MOORE, KATE BOSWORTH, ALEC BALDWIN

COM RICARDO DARÍN, OSCAR MARTÍNEZ, LEONARDO SBARAGLIA

Alice Howland (Julianne Moore) é uma reconhecida professora de linguística, com um casamento feliz e três filhos. Aos poucos, começa a esquecer–se de certas palavras e a desorientar-se nas ruas de Manhattan. É-lhe diagnosticado Alzheimer e a doença põe à prova a família. Enquanto a relação com o marido (Alec Baldwin, com quem Moore contracenou em 30 Rock) se fragiliza, Alice e a filha Lydia (Kristen Stewart) aproximam-se.

A história de Relatos Selvagens é feita a partir de seis episódios que alternam entre a intriga, a traição, a comédia e a violência; e inspirada na série de televisão Amazing Stories (1985-1987), criada e produzida pelo realizador americano Steven Spielberg. As personagens são empurradas para o abismo e para o inegável prazer de perder o controlo - cruzando a linha que separa a civilização da barbárie.

Prémios e Festivais:

Prémios e Festivais:

Golden Globes - Nomeação Melhor Actriz Drama

Festival de Cannes '14 | Festival de São Paulo

Dur: 122 min

AS CINQUENTA SOMBRAS DE GREY

UM ANO MUITO VIOLENTO

DE SAM TAYLOR-JOHNSON

DE

ESTREIA 12 FEV

ESTREIA 5 FEV

J.C. CHANDOR

Dur: 125 min

COM DAKOTA JOHNSON, JAMIE DORNAN, AARON TAYLOR-JOHNSON

COM OSCAR ISAAC, JESSICA CHASTAIN, DAVID OYELOWO

O filme As Cinquenta Sombras de Grey é a adaptação cinematográfica muito aguardada do best-seller homónimo escrito por E.L. James, que se tornou um fenómeno mundial. Desde o seu lançamento, a trilogia foi traduzida em 51 línguas em todo o mundo e vendeu acima de 100 milhões de cópias, incluindo a versão digital, tornando-se uma das séries de livros mais vendida de sempre. Expõe a relação sado-masoquista de uma estudante de Literatura, Anastasia Steele, com o presidente de uma poderosa empresa internacional, Christian Grey.

Uma história de acção que tem Nova Iorque no Inverno de 1981 como pano de fundo. Este foi, segundo as estatísticas, um dos anos mais violentos da história da cidade. A narrativa centra-se na vida de um imigrante e da sua família, e na sua tentativa de expandir o negócio e aproveitar as oportunidades que aparecem num mundo cheio de violência, decadência e corrupção.

10 JANEIRO | FEVEREIRO 2015

Prémios e Festivais: Globo de Ouro – Nomeação Melhor Actriz Secundária


ESTREIAS CINEMA

CHANNING TATUM A DOBRAR

FOXCATCHER DE

BENNETT MILLER

Dur: 130 min

ESTREIA 1 JAN

COM CHANNING TATUM, MARK RUFFALO, STEVE CARREL, SIENNA MILLER

Campeão olímpico de luta greco-romana, Mark Schultz (Channing Tatum) sempre treinou com o seu irmão mais velho, David (Mark Ruffalo), que é também uma lenda no desporto. Até que, um dia, recebe um convite para visitar o milionário John du Pont (o quase irreconhecível Steve Carell, com um nariz falso que leva o crítico da revista New Yorker a dizer que a prótese é o quarto actor principal do filme) na sua mansão. Apaixonado pelo desporto, du Pont propõe Mark que entre na sua própria equipa, a Foxcatcher, onde tem todas as condições necessárias para se aprimorar e ganhar o Campeonato do Mundo,

primeiro, e os Jogos Olímpicos, depois. Atraído pelo salário e pelas condições de vida oferecidas, Mark aceita a proposta e muda-se para uma casa na propriedade do milionário. Aos poucos eles tornam-se amigos, mas a difícil personalidade de du Pont faz com que Mark acabe por se desviar dos seus objectivos. Quando o irmão, David, chega a Foxcatcher as coisas complicam-se ainda mais. Prémios e Festivais: Festival de Cinema de Cannes - Melhor Realizador Nomeado para 3 Globos de Ouro

A ASCENSÃO DE JUPITER DE ANDY WACHOWSKI E LANA WACHOWSKI

ESTREIA 5 FEV

Dur: 125 min

COM CHANNING TATUM, MILA KUNIS, SEAN BEAN

Os irmãos Waschowski regressam à ficção científica e à premissa de sucesso que criaram na trilogia Matrix: há um ser escolhido no meio de todos os outros. Jupiter Jones (Mila Kunis) sempre sentiu que tinha nascido para fazer algo grandioso mas, a verdade é que não consegue fazer melhor do que trabalhar em limpezas e saltar de relação falhada em relação falhada. Quando Caine Wise (Channing Tatum), um ex-militar geneticamente modificado, chega ao planeta Terra à sua procura, Jupiter confronta-se com uma nova realidade: a sua herança genética pode alterar o equilíbrio do cosmos. Vários planetas são habitados por famílias reais alienígenas que procuram descobrir uma substância que permita viver para sempre e,

desse modo, criar o “Estado Darwinista da Perfeição”. Quando a rainha da poderosa Casa de Abrasax morre, inicia-se uma disputa pela sucessão da matriarca. Os três filhos iniciam uma guerra pelo trono até a rapariga de Chicago, Jupiter Jones, entrar também na equação. O primeiro filme em 3D dos Waschowski parte de um guião com mais de 600 páginas e integra-se no género conhecido por “space opera”. Ao contrário do que o termo sugere não se trata de um filme cantado, mas de uma história melodramática que tem o espaço como cenário (a saga A Guerra das Estrelas é disso um exemplo). JANEIRO | FEVEREIRO 2015 11


ESTREIAS ESTREIAS CINEMA CINEMA

SONO DE INVERNO DE

NURI BILGE CEYLAN

ESTREIA 8 JAN

Dur: 196 min

COM HALUK BILGINER, MELISA SÖZEN, DEMET AKBAG, AYBERK PEKCAN

O filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes estreia-se em Portugal e conta a história de um actor rico da Anatólia que é indiferente à pobreza que o rodeia.

PALAVRA DE PRESIDENTE "O filme tem um ritmo tão belo que acabei por me deixar levar, e até poderia ter ficado mais algumas horas. É realmente magistral e, na minha opinião, fala dos temas daquela forma circular Tchekoviana. Vejo-o como uma obra de Tchekov na qual as personagens se torturam entre si, mas de forma bastante hábil. Revi-me em todas as personagens e vi-o como um confronto. Por isso, senti que era muito sofisticado. Existem muitas razões pelas quais o filme ganhou, mas estas são as minhas." Jane Campion, Cineasta e Presidente do Júri do Festival de Cannes que consagrou o filme Sono de Inverno como vencedor da Palma de Ouro, o prémio máximo do festival e um dos mais importantes no mundo.

12 JANEIRO | FEVEREIRO 2015

O realizador Nuryi Bilge Ceylan é um homem dado a climas hostis. Frios e desertos, é neles que costuma rodar os seus filmes. Foi assim em Era uma Vez na Anatólia (2011), em Uzak- Longínquo (2002) e agora neste Sono de Inverno, vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 2014 – é o segundo realizador turco a receber o galardão depois da dupla Yilmaz Güney Serif Gören, responsáveis por Yol, em 1982. Ceylan está longe de ser um novato em Cannes. Está habituado a ser premiado neste festival onde foi distinguido como melhor realizador em 2008, com o filme Três Macacos, recebeu o Grande Prémio do Júri em 2002 com Uzak – Longínquo e, em 2011, com Era Uma Vez na Anatólia, bem como o Prémio FIPRESCI, em 2006, por Climas. Em Sono de Inverno, Aydin, interpretado por Haluk Bilginer, é um actor reformado que gere um pequeno hotel na Anatólia Central com a jovem esposa Nihal, de quem se tem vindo a afastar emocionalmente, e com a irmã Necla, que se encontra a recuperar de um divórcio recente. Prémios e Festivais: Festival de Cinema de Cannes – Palma de Ouro Festival de Cinema de Cannes – Prémio FIPRESCI Lisbon & Estoril Film Festival – Selecção Oficial


ESTREIAS PROGRAMAÇÃO CINEMA No Inverno, quando a neve começa a cobrir a estepe, o hotel, para além de um refúgio, transforma-se num teatro dos seus próprios conflitos. Em takes longos e estáticos, Ceylan explora a monotonia que existe na rotina ou as dúvidas existencialistas que afligem os seres humanos. Nem sempre o faz de maneira frontal: por vezes filma os actores de costas, levando o espectador a fazer suposições sobre o comportamento das personagens. O crítico do Guardian, Xan Brooks, diz que: “Este é um filme deslumbrante. No seu auge, Sono de Inverno mostra que Ceylan é tão rigoroso psicologicamente quanto, à sua maneira, Ingmar Bergman o foi antes dele”.

“Este é um filme deslumbrante. No seu auge, Sono de Inverno mostra que Ceylan é tão rigoroso psicologicamente quanto, à sua maneira, Ingmar Bergman o foi antes dele” The Guardian Aydin é uma espécie de líder da região ainda que, no fundo, toda a gente (incluindo a esposa) o despreze. O seu carro é atingido por uma pedra e o que é visto como uma travessura infantil (a pedra foi atirada por uma criança) revela-se, afinal, uma pequena vingança, por Aydin estar quase a desalojar uma família. Indiferente ao que o rodeia, a atitude apática do actor simboliza a actual relação entre ricos e pobres na região e traduz uma crítica mordaz de Ceylan à Turquia dos nossos dias. “O filme é um retrato memorável e soberbamente feito de um proprietário rico e egocêntrico e das várias figuras afetadas pelo seu império”, lê-se no site Indiewire. Sono de Inverno, escreve o Telegraph, “é uma obra diabolicamente inteligente do realizador, que é capaz de nos levar aos limites conhecidos do cinema, e, também, aos limites que o próprio cinema espera de nós”.

NURI BILGE CEYLAN Ceylan descobriu na Universidade a sua paixão pela Fotografia e pelo Cinema. Assim que terminou os estudos, partiu para longas viagens pela Europa e Ásia, mas foi ao participar na curta-metragem de um amigo que começou a aprofundar o seu conhecimento sobre Cinema. Comprou uma câmara Arriflex 2B e com ela assinou a sua primeira curta, Koza, a primeira curta turca selecionada para o festival de Cannes. Seguiram-se Kasaba (1997) e Clouds of May (1999), ambos selecionados para o Festival de Berlim, e principalmente Uzak – Longínquo (2002). Foi com o Grande Prémio do Júri, atribuído ao filme no Festival de Cannes, que Ceylan se tornou definitivamente um cineasta internacionalmente reconhecido. Com 47 prémios, o filme tornou-se o filme turco mais premiado de sempre na História do país. Seguiram-se Climas (2006), vencedor do Prémio FIPRESCI no Festival de Cannes, Três Macacos, vencedor do prémio de Melhor Realizador em Cannes, e ainda Era Uma Vez na Anatólia, com o qual ganhou uma vez mais o Grande Prémio do Júri no festival francês. Sono de Inverno conquistou o mais ambicionado prémio do Festival de Cannes, a Palma de Ouro.

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ESTREIA 19 DE FEVEREIRO

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ESTREIA 26 DE FEVEREIRO

20.000 DIAS NA TERRA um filme de Jane Pollard,Iain Forsyth com Nick Cave, Kylie Minogue, Blixa Bargeld, Susie Cave, Warren Ellis, Ray Winstone

O 20.000º dia na vida de Nick Cave – a partir do som do seu despertador, logo pela manhã, até a um passeio nocturno pela praia, após um concerto – transforma-se num retrato poético e atmosférico acerca de um dos mais criativos artistas do nosso tempo. Na sua estreia cinematográfica, a dupla Jane Pollard e Iain Forsyth combina fantasia e realidade, privado e público, num dia ficcionado, capturando a história de vida deste músico aclamado. JANEIRO | FEVEREIRO 2015 15


VENCEDOR PRÉMIO

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SELECÇÃO OFICIAL

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NOS CINEMAS MEDEIA A 5 DE MARÇO

16 JANEIRO | FEVEREIRO 2015

Distribuição: Leopardo Filmes


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