Medeia Magazine 2 - Novembro e Dezembro 2012

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Novembro Dezembro 2012

OPERAÇÃO OUTONO O julgamento do caso Humberto Delgado filmado por Bruno de Almeida

AMOR

Explicado por Michael Haneke

Lisbon & Estoril Film Festival De 9 a 18 de Novembro O melhor cinema está entre o rio e o mar

Fausto

Sokurov encerra a tetralogia do poder

CésAr deve morrer Shakespeare atrás das grades

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editorial Novembro chegou e com ele o Lisbon & Estoril Film Festival. Já são precisas duas mãos para contar as edições do Festival. No seu sexto ano, o evento prepara-se para reunir o que de melhor se faz no mundo da 7ª arte. 
Com uma programação exigente e escolhida a dedo por quem vive e respira cinema, este festival situado entre a capital e o mar coloca Portugal no circuito dos principais festivais do mundo. O realizador Bruno de Almeida estreia Operação Outono, uma biografia do General Sem Medo Humberto Delgado — um forte opositor do salazarismo que ousou enfrentar o regime. Conheça Amor, o filme de Michael Haneke que venceu a Palma de Ouro em Cannes este ano e que tem no elenco uma actriz portuguesa.

Fausto, de Aleksandr Sokurov encerra a tetralogia do realizador dedicada à natureza do poder. Poderá ver os quatro filmes num ciclo organizado pelo Espaço Nimas. Em Dezembro vai poder ver ou rever, alguns clássicos de Jacques Tati. Nós voltamos em 2013 para mais um ano de bom cinema.

Ágata Xavier

Equipa Director: Paulo Branco Edição e textos: Ágata Xavier Design: Catarina Sampaio Colaboração: Ana Sousa Dias, Carla Soeima, Frederico Batista, André Carvalho Capa: Emmanuelle Riva em Amor de Michael Haneke

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operação outono de

BRUNO DE ALMEIDA

Duração: 92 min

ESTREIA 22 NOV

John Ventimiglia, Marcello Urgeghe, Renata Batista, João d`Ávila, Nuno Lopes

“É um filme sobre a mentira”, diz Bruno de Almeida, o realizador que durante dois anos pesquisou o caso Humberto Delgado para escrever o argumento de “Operação Outono”. Mais de dois anos de trabalho, e o filme aí está. Ana Sousa Dias: Nasceu no ano em que Humberto Delgado foi morto, 1965. O que o levou a fazer este filme? Bruno de Almeida: Eu tinha nove anos no 25 de Abril e o meu pai levou-me para a rua. Assisti à cena de tiros na rua António Maria Cardoso, onde era a sede da PIDE. Vivi esses momentos entre o real e o imaginário, para um miúdo havia naquilo um lado de jogo e na altura não percebi bem. Tinha a consciência do que era viver em ditadura, os meus pais estiveram exilados e eu sabia que havia coisas que não podia dizer na escola. Depois obviamente mais tarde percebi o que eram as circunstâncias políticas, o que isso queria dizer. Quando li a biografia de Humberto Delgado feita por Frederico Delgado Rosa, pensei que era um filme que tinha de ser feito, independentemente de ser eu a fazê-lo. A história nunca tinha sido bem contada, houve uma série de mentiras sobre a forma como o Humberto Delgado foi assassinado, nos resultados do julgamento, no que se passou no tribunal. Dramaticamente, tinha todos os elementos para ser um filme, é mirabolante, com episódios incríveis. Nem que fosse como um estudo sociológico ou arqueológico: como éramos nessa atura, como somos agora? Não há muitas diferenças. Portugal é diferente do que era mas em termos de corrupção e de tribunais, continuamos numa sociedade arcaica. ASD: Optou por uma estética que associamos a esse tempo, até filmou em 16 mm. Porquê? BA: Decidi filmar na época e completamente anti-estético. Não há nenhum plano “bonito” ou composto para ser bonito. É um cinema objectivo, no sentido em capta as coisas mas não tem indicações subjectivas de um personagem ou de outro. O ponto de vista não é do Humberto Delgado nem dos pides, é abstracto aos personagens.


ESTREIAS cinema Quase como uma câmara que representa aquilo que eu considero ser a verdade do momento, sem dizer “estes são os bons, estes são os maus, isto está correcto ou isto está incorrecto”. Quero que o espectador pense sem ter uma decisão imediata e por isso onão mostro s pides como personagens maus. Embora pense que eram sinistros, eles e a organização. ASD: Escolheu aliás alguns actores com quem o público tem à partida empatia, como o Nuno Lopes, o Marcelo Urgheghe ou o Camané. BA: O estudo dos personagens foi o mais aprofundado que conseguimos fazer, os actores e eu, tentámos chegar à verdade daquela situação sem diabolizar. O filme tenta mostrar como é que o sistema, desde a polícia aos tribunais, funcionava naquela época, e como é que isso pode ser transposto para os dias de hoje. Um filme nunca é um documento histórico porque é uma dramatização. Mas fizemos muita pesquisa e tentámos ser rigorosos. Até há pouco tempo, pensava-se que Humberto Delgado tinha sido morto a tiro, e na realidade não foi, como confirma a autópsia feita em Espanha. E pode surgir outro facto, um novo documento. A História está em constante evolução. Toda a gente sabe que a PIDE matou o Humberto Delgado, isso nunca foi uma dúvida. Mas mantém-se a grande questão: quem dá as ordens? Como no caso do Klaus Barbie, o assassino de Lyon. Quem é culpado ele, o Hitler, as SS? O filme deveria fazer pensar sobre quem tem as responsabilidades máximas. E neste caso é o Salazar, ponto final. Nada se passava sem ele saber. Em 1962, com a Revolta de Beja, a Crise Estudantil e a guerra em África, Salazar despediu o topo da PIDE e colocou lá o grupo constituído por Silva Pais, Barbieri Cardoso e Álvaro Pereira de Carvalho, um personagem muito importante porque foi quem montou o aparelho de informação, com o apoio da CIA. A primeira operação grande que organizaram foi a Operação Outono, em 65, com sucesso e insucesso porque foi uma grande trapalhada. As pessoas pensam que a PIDE era muito eficaz, e era, com os 20 mil informadores, mas ao mesmo tempo eram uns patetas e havia divergências entre as brigadas para chegarem ao poder.

Humberto Delgado Humberto Delgado foi um dos principais opositores da ditadura, embora tivesse participado no Golpe Militar que a instaurou. Candidatou-se à Presidência da República mas perdeu contra Américo Tomás, num resultado eleitoral fraudulento. Perseguido acaba por exilar-se no Brasil. Quando tenta regressar a Portugal, para orquestrar um novo golpe de Estado, é interceptado na fronteira e assassinado pela PIDE. Operação Outono é um thriller político sobre a operação que levou à sua morte em Fevereiro de 1965, em Villanueva del Fresno. O filme inspira-se em factos verídicos descobertos por Frederico Delgado Rosa, biógrafo e neto do General.

ASD: É por isso que dá mais importância ao julgamento dos envolvidos, que durou de 1978 a 1981? BA: O julgamento é muito interessante, porque todos os pides mentiram. O filme é, antes de mais, um filme sobre a mentira. A questão que coloco em relação ao julgamento é que nunca se chegou a Salazar. Ao não condenar ninguém excepto Casimiro Monteiro, está-se a ilibar toda a cadeia de chefia. Perante a História, legalmente, eles não são culpados. No limite, este processo poderia ser reaberto. Quem é o culpado perante a História? Não tenho dúvidas de que é o Salazar. Não há um documento escrito, gravado, a dar a ordem, mas qualquer pessoa percebe que ele deu ordem para matar. E também é absurdo dizer que Silva Pais não estava ao corrente. O director da PIDE seria o maior idiota da História se não estivesse ao corrente da operação. ASD: A história passa-se em cinco países diferentes. Teve problemas complicados nas filmagens? BA: Tivemos uma colaboração incrível da Câmara de Lisboa e do Exército. O julgamento é filmado no Tribunal de Santa Clara onde de facto decorreu. Foi exactamente com as mesmas mesas, as mesmas cadeiras, no mesmo espaço. Tivemos apoio do Exército na reconstituição da tomada da PIDE. E os espanhóis ajudaram-nos imenso em termos logísticos.

BRUNO DE ALMEIDA Português nascido em Paris, é um dos mais prolíficos nomes do cinema nacional. Começou por ser músico de jazz e compositor de obras para os grandes nomes da dança contemporâneas nacional. Mudou-se para Nova Iorque nos anos 80 e lá iniciou o estudo do cinema. A sua primeira curta, A Dívida, foi premiada em Cannes. Filmou Amália Rodrigues, Camané e o universo excêntrico de Manuel João Vieira.

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estreias cinema

CÉSAR DEVE MORRER de

Paolo e Vittorio Taviani

ESTREIA 1 NOV

Duração: 76 min

com Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Frasca, Juan Dario Bonetti e Vittorio Parrella

Quase 60 anos após a sua estreia na realização, os irmãos Taviani chegaram, viram e venceram no último Festival de Berlim. O filme que recria A Tragédia de Júlio César, de Shakespeare, com reclusos de uma prisão italiana foi um surpreendente vencedor do Urso de Ouro e chega às salas de cinema portuguesas no dia 1 de Novembro, logo depois de encerrar a edição deste ano do DocLisboa.

O Cinema é um caso de família. E no álbum onde encontramos os célebres irmãos Lumière, haverá sempre um lugar garantido para Paolo e Vittorio Taviani, os irmãos italianos que se estrearam a quatro mãos na realização na década de 1960 e que ainda hoje o continuam a fazer, já com o respeitável estatuto de octogenários.

“Desde que descobri a Arte, esta cela tornouse uma prisão.” Cosimo Rega (actor/recluso)

Até ao último festival de Berlim, em Fevereiro passado, pareciam longínquos os anos mais gloriosos dos irmãos Taviani. Em 1977, o júri do Festival de Cannes fez-lhes cair nas mãos a Palma de Ouro por Padre Padrone. Em 1982, também em Cannes, A Noite de São Lourenço recebeu o Grande Prémio do Júri. Quatro anos depois, o Festival de Veneza entrega-lhes um Leão de Ouro pela sua carreira, aos 50 anos. 4

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Mas em 2011, Paolo e Vittorio entraram na prisão de Rebibbia, nos arredores de Roma, passaram semanas na ala de alta de segurança e filmaram todo o processo de adaptação de Júlio César de Shakespeare com amadores. O resultado foi a conquista do Urso de Ouro, em Berlim. Num ambiente repleto de condenados a penas duras, ou mesmo penas perpétuas, as palavras escritas há centenas de anos ressoam em cada um de forma particular. O suficiente para que um deles diga: “até parece que o Shakespeare viveu nas ruas da minha cidade.” Não se trata de um acaso. A escolha de uma peça onde poder e crime são os protagonistas relacionase directamente com o passado da maioria dos presos, com um percurso marcado pela participação em organizações criminosas. “Teria sido fácil tornar o filme numa história inspiradora de criminosos em busca de conforto e libertação através

da representação”, escreveu o Screen International. “Mas o que confere autenticidade e intensidade ao filme” é a forma como os irmãos Taviani conseguiram “transformar esta tragédia política numa obra que levanta questões importantes sobre a fraternidade, o arrependimento e o sofrimento de estar encarcerado”. “Quando as filmagens terminaram, deixámos a prisão e os nossos actores. Foi uma despedida dolorosa”, disse Paolo Taviani. “Esperamos que, quando o filme estrear, os espectadores digam a si mesmos, ou até mesmo aqueles à sua volta, que até um prisioneiro com a mais terrível das penas é um ser humano.” Principais Festivais: Festival de Cinema de Berlim: Urso de Ouro Festival de Cinema de Nova Iorque: Selecção Oficial


estreias cinema

O Hobbit:

Uma Viagem Inesperada

Pela Estrada Fora ON THE ROAD

Duração: 124 min

de Peter Jackson ESTREIA 13 DEZ

de Walter Salles ESTREIA 20 DEZ

com Martin Freeman, Ian McKellen, Andy Serkis, Elijah

com SAM RILEY, GARRETT HEDLUND, KRISTEN STEWART, KIRSTEN

Wood e Cate Blanchett

DUNST, AMY ADAMS, TOM STURRIDGE e VIGGO MORTENSEN

Depois da jornada de Frodo e companheiros em busca da salvação da Terra Média, Peter Jackson regressa ao universo de Tolkien com O Hobbit.

WALTER SALLES filma o trajecto vibrante descrito e vivido por Jack Kerouac e os amigos 55 anos depois de o livro Pela Estrada Fora ser publicado.

Abrir um livro de Tolkien é enfrentar uma barreira de nomes inesperados como Smaug, Haradrim, Erebor… Mas acima de tudo é entrar num mundo novo, criado ao pormenor, a abarrotar de significados por desvendar e línguas por compreender, desenvolvido como uma verdadeira operação de cosmogonia. O Hobbit, que antecede em termos narrativos os três volumes de O Senhor dos Anéis, chega agora ao cinema pela mesma equipa que adaptou os três livros do escritor e professor britânico, transformado numa trilogia. Peter Jackson (depois dos friamente recebidos Visto do Céu e King Kong) realiza mais uma história de um pequeno Hobbit obrigado a sair da sua confortável casa no Shire para embarcar numa aventura de dimensões proporcionalmente inversas ao seu tamanho. Se em O Senhor dos Anéis, Frodo Baggins penou para salvar a Terra Média do temível Sauron, em O Hobbit, passado cerca de 60 anos antes, o seu primo Bilbo Baggins parte com Gandalf e 13 anões numa jornada para reconquistar a Montanha Solitária e o seu tesouro do dragão Smaug. Pelo caminho, Bilbo encontra criaturas mais ou menos amistosas como trolls, elfos, aranhas gigantes, goblins e lobos, e ainda se vê alistado como participante na Batalha dos Cinco Exércitos. Esperam-se dias complicados para mais uma simpática criatura de pés grandes e peludos.

Após oito anos de preparação e quase cem mil quilómetros de caminho, Pela Estrada Fora, é finalmente adaptado para o cinema e exibido em Portugal. A obra de culto que há meio século tem servido o imaginário de muitos leitores ganhou, nos últimos meses, mais protagonismo e aceleração com a adaptação conduzida pelo realizador de Diários de Che Guevara. Estreado na Competição do Festival de Cannes deste ano, o filme de Walter Salles recupera o espírito deambulante e livre da obra de 1957 assinada por Kerouac e a mística de nomes marcantes como Allen Ginsberg ou Neal Cassidy – fundamentais na definição do movimento beat de artistas norteamericanos. Neste filme “esteticamente vibrante” e “belo” (Hollywood Reporter), a procura pela libertação criativa, sexual e sensorial conduz um grupo de amigos a uma viagem sem prazo que atravessa os Estados Unidos. Longe de limites, esta passagem para o mundo adulto que desafia as imposições conservadoras da sociedade americana de finais dos anos 40 coloca a amizade e o sentido de tudo em risco quando a mais pertinente das perguntas começa a ressoar: “estaremos a ir longe de mais?” Escrito por Jack Kerouac e editado pela primeira vez em 1957, On the Road é o livro que define o movimento beat: nómada, inconformista e hedonista. Principais Festivais: Festival de Cannes 2012 – Selecção Oficial

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estreias cinema

AMOR de

Michael Haneke

ESTREIA 6 DEZ

Duração: 127 min

com Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert Alexandre Tharaud e Rita Blanco

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes em 2012, Amor é a última obra prima de Michael Haneke. Outras se seguirão.

Michael Haneke

Sabia que... O realizador alemão venceu por duas vezes a Palma de Ouro, a primeira em 2009 com

O Laço Branco e agora com Amor.

Principais Festivais: Festival de Cannes 2012: Palma de Ouro

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Amor foi escrito a pensar no sofrimento de alguém que se gosta. Também foi escrito a pensar no desempenho de Jean-Louis Trintignant, amigo de Haneke e por quem o realizador nutre uma especial admiração. “Sempre quis trabalhar com ele porque é um actor que eu admiro muito. A sua presença em Amour era uma condição sine qua non. Jamais faria o filme sem ele”, confessa o realizador ao site Allociné. Foi uma conquista difícil. Trintignant afastou-se do cinema para se dedicar apenas ao teatro. Leu o guião, percebeu a sua força e intensidade mas não o quis interpretar. A produtora do filme, Margaret Ménégozo, foi eficaz quando lhe disse “não te sentes bem agora, não fazendo o filme não te vais sentir melhor por isso mais vale fazeres”. Trintignat aceitou e passou a ser Georges, um octogenário casado com Anne, também ela na casa dos oitentas e professora de música reformada. A filha, Eva (Isabelle Huppert), vive longe e poucas vezes os visita. Quando Anne tem um enfarte, que lhe começa por imobilizar um braço mas que depressa evolui para a demência, Georges é confrontado com o amor que é firmado no notário ou na igreja, ou em nenhum: aquele que cuida na saúde e na doença, até que a morte os separe. Há pormenores do universo criativo de Haneke reconhecíveis como o facto de o casal se chamar Anne e George, comum à maioria dos filmes do realizador austríaco. O despojamento visual mantém-se, o mesmo que segundo Haneke permite ao espectador evadir-se do filme, criando espaço para a fantasia e para o auto-conhecimento. O enredo é pesado, intenso, que espicaça as emoções de qualquer um. Michael Haneke estava numa reunião de família infeliz, não especifica


se era um funeral ou um acidente, quando se questionou sobre a gestão do sofrimento alheio, sobretudo de alguém que se ama. Esse encontro motivou-o a filmar Amor. Para o papel de Anne escolheu Emmanuelle Riva, que o havia seduzido em Hiroshima, mon amour. Haneke explicou que “Desde o início, que Emmanuelle era a minha escolha, não só porque ela é uma grande actriz, mas também porque forma o casal perfeito com Jean-Louis Trintignant”. O sentimento é recíproco já que Riva comentou que “não se pode recusar trabalhar com Haneke. É impossível.” O mesmo deve pensar Isabelle Huppert que pela terceira vez se junta ao realizador, depois de A Pianista (2001) e O Tempo do Lobo (2003). Criterioso, Haneke é capaz de tudo para ter o filme perfeito, até dirigir um pombo de forma metódica. Na conferência de imprensa do filme em Cannes, Trintignant explica que numa das cenas há um pombo que entra pela janela e que tiveram de repetir várias vezes até que ficasse perfeito. O realizador reagiu e disse que “é verdade eu posso ser teimoso para conseguir o que quero, mas é também uma questão de paciência e amor ao trabalho”. O mesmo amor que o fez recriar a casa dos pais em Viena para este filme. Recriar a casa e não a sua realidade familiar. “Eu tentei reproduzir o apartamento porque é sempre útil quando se escreve um guiao, ter em vista uma geografia específica. Por exemplo, neste caso, a distância da cozinha para o quarto deu-me ideias sobre o que os actores podiam fazer e o que poderia acontecer”. E aconteceu, segundo The Guardian, “tudo o que se poderia esperar dele e mais: um drama comovente, aterrorizante e de extraordinária cumplicidade e inteligência”.

“Os prémios valem o que valem, mas Cannes ainda é a meta. É onde se mostra o bom cinema.” Rita Blanco

Michael Haneke deu-nos a sua visão do amor. Conheça a de outras figuras do cinema, da cultura e da ciênica.

“Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos.”

Victor Hugo “O ouvido é o caminho do coração.”

Voltaire “A gravidade não é a responsável por as pessoas ficarem caídas umas pelas outras.”

Albert Einstein “Em amor é um erro falar-se de uma má escolha, uma vez que, havendo escolha, ela tem de ser sempre má.”

Marcel Proust “Amar é ultrapassarmo-nos.”

Oscar Wilde

A actriz portuguesa Rita Blanco tem uma pequena participação no último filme de Michael Haneke. A actriz contou à Lusa que: “Estava em Cannes quando o filme foi exibido. Percebi que poderia ganhar.” Sobre a sua colaboração com o realizador alemão, Rita Blanco diz que gostou muito de colaborar com Haneke. “Ele pensou naquele filme durante mais de dez anos”, conta, “Fico muito contente por ele. É um bom filme. Os prémios valem o que valem, mas Cannes ainda é a meta. É onde se mostra o bom cinema. ” conclui. A actriz , que “entra apenas em três cenas” interpreta a porteira do prédio onde moram George e Anne e foi escolhida por Haneke depois dele a ter visto no filme Ganhar a Vida de João Canijo.

“A única coisa sem a qual não conseguimos viver é o amor. E a única coisa que nunca conseguimos dar totalmente é o amor ”

Henry Miller

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lisbon & estoril film festival

LISBON & ESTORIL FILM FESTIVAL 9-18 de Novembro JÚRI - SELECÇÃO OFICIAL • António Damásio • Hanna Damásio • Alfred Brendel • Fanny Ardand • Sonia Wieder-Atherton

EM COMPETIÇÃO СТУДЕНТ / Student KZ 2012 90’ de Darezhan Omirbayev

SUEÑO Y SILENCIO ES 2012 107’ The Dream And The Silence de Jaime Rosales

WINTER, GO AWAY! RU 2012 79’

EM COMPETIÇÃO

CONVIDADOS CONFIRMADOS NESTA SECÇÃO: Isabelle Hupert Bertrand Bonello Brandon Cronenberg Sarah Gadon THE MASTER US 2012 137’ FILME DE ABERTURA de Paul Thomas Anderson

BEASTS OF THE SOUTHERN WILD

FILME DE ABERTURA de Benh Zeitlin US 2012 93’

de Elena Khoreva, Denis Klebeev, Askold Kurov, Dmitry Kusabov, Nadezhda Leonteva, Anna Moiseenko, Madina Mustafina, Sofia Rodkevich, Anton Seregin, Alexey Zhiriakov

HOLY MOTORS FR 201” 115’

LOW TIDE US/IT/BE 2012 92’

VOUS N’AVEZ ENCORE RIEN VU

de Roberto Minervini

FR 2012 115’

L’INTERVALLO IT/CH/DE 2012 90’ de Leonardo di Costanzo

DER GLANZ DES TAGES AT 2012 90’ The Shine Of Day de Tizza Covi, Reiner Frimmel

LAURENCE ANYWAYS de Xavier Dolan CA/FR 2012 169’

DJECA BH 2012 90’ Children Of Sarajevo de Aida Begic

DESPUÉS DE LÚCIA MX/FR 2012 93’

de Leos Carax

AMOUR FR/DE/AT 2012 127’ de Michael Haneke

de Alain Resnais, Bruno Podalydès

DA-REUN NA-RA-E-SUH In Another Country de Hong Sang-soo KR 2012 89’

BELLA ADDORMENTATA Dormant Beauty de Marco Bellocchio IT/FR 2012 115’

IO E TE IT 2012 103’ Me and You

Ingrid Caven Bruno de Almeida Christian Vadim

Passion FR/GR 2012 100’ de Brian de Palma

Operação Outono PT 2012 92’ de Bruno de Almeida

Ingrid Caven, Musique et Voix de Bertrand Bonello FR 2012 105’

Padroni di Casa IT 2012 90’ The Landlords de Edoardo Gabbriellini

West of Memphis NZ 2012 147’ de Amy Berg

Antiviral US 2012 108’ de Brandon Cronenberg

La noche de enfrente Night Across the Streets de Raúl Ruiz CL/FR 2012 110’

Trouble with the Curve FILME DE ENCERRAMENTO de Robert Lorenz US 2012 111’

de Bernardo Bertolucci

Cloud Atlas DE/US/HK/SG 2012 164’ FILME DE ENCERRAMENTO

THE WE AND THE I

de Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski

de Michel Gondry UK/USA/FR 2012 103’

de Michel Franco

AVALON SE 2011 79’ de Axel Petersén

RENGAINE FR 2012 78’ de Rachid Djaïdani

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CONVIDADOS ESPECIAIS

Willem Dafoe Paul Giamatti


lisbon & estoril film festival O Lisbon & Estoril Film Festival dedica parte da programação a redescobrir e a promover alguns dos protagonistas do grande ecrã. Todos anos, através das secções Homenagem e Retrospectiva, o LEFFEST dá a conhecer as obras de grandes autores da História do Cinema. O trabalho é relembrado pela exibição de filmes, publicação de um catálogo e organização de encontros e debates.

HOMENAGENS

Monte Hellman COM a PRESENÇA do realizador

Lucrecia Martel COM A PRESENÇA da realizadora

RETROSPECTIVAS

Brian de Palma

Hou Hsiao-Hsien Secção dedicada aos grandes realizadores que não se submetem ao ritmo e às imposições da indústria cinematográfica e seguem os próprios impulsos na procura de definição e maturação da sua obra. O Lisbon & Estoril Film Festival homenageou em anos anteriors os realizadores Victor Erice, Franco Piavoli, Andrei Ujica e Aleksei Guerman.

CINEASTAS RAROS João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata COM A PRESENÇA dos realizadores

Serge Daney COM A PRESENÇA de serge toubiana, bill khron, pascal bonitzer e oliver assayas

Entre Outros

Artavazd Peleshyan

Adolpho Arrietta

“Tenho de repente o sentimento (agradável) de me encontrar frente a um elo em falta na verdadeira História do cinema.” Serge Daney

COM A PRESENÇA DE adolpho arrietta e philippe azoury

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lisbon & estoril film festival

CINEMART

SESSÕES ESPECIAIS PRESERVAR A MEMÓRIA DO CINEMA Filmoteca Espanhola

Enrique Vila-Matas COM A PRESENÇA do escritor

Campanadas a medianoche Chimes at Midnight de Orson Welles Las Hurdes, tierra sin pan de Luis Buñuel Vida en sombras de Lorenzo Llobet Gracia Restauraciones de campanas a medianoche de Luciano Berriatúa Un chien andalu de Luis Buñuel

Heaven’s Gate As Portas do Céu

As escolhas de Alfred Brendel COM A PRESENÇA do músico

de Michael Cimino, 1980, EUA, 149’ O filme Heaven´s Gate estará também em destaque pelo recente restauro de que foi alvo. Aclamado na Europa e agraciado nos mais importantes festivais de cinema europeus, o realizador sempre se manteve à margem, recusando qualquer apresentação pública ou conversa informal sobre o filme.

PERCURSOS DE MIGUEL ALEXANDRE O nome é português; o percurso, alemão. O realizador Miguel Alexandre (n. 1968) nasceu em Faro, no sul de Portugal, e cresceu em Lübeck, no norte da Alemanha, para onde os pais emigraram. Desde 1995 que se dedica a fazer telefilmes, muitos centrados em episódios históricos. Vive em EversenHeide, a 15 quilómetros de Hamburgo.

David Hockney COM A PRESENÇA DE Bruno wollheim

bob wilson’s life and death of marina abramovic de Giada Colagrande, 2012, UK, 57’

CINEMA E HISTÓRIA Hitler, ein Film aus Deutschland de Hans-Jurgen Syberberg, 1977, GER, 442’

Hanif Kureishi COM A PRESENÇA do escritor

L’Inconscio Luca Guadagnigno, 2011, ITA, 100’

Exodus de Otto Preminger, 1960, EUA, 208’

Bab el Shams Yousry Nasrallah, 2004, FR, 278’

Luís Noronha da Costa COM A PRESENÇA do pintor 10 NOVEMBRO | dezembro 2012


lisbon & estoril film festival

EVENTOS Performance “Le Navire Night”

“Arte vs. Industrias Cultlturais” Simpósio

com Sonia Wieder Atherton e Fanny Ardant

Leitura de “O RETRATO” com Jorge Silva Melo

Nos tempos que correm, e nos cabem, as palavras (e os conceitos) “cultura” e “indústrias culturais” são com frequência invocados, e mesmo olhados como uma da saídas possíveis para a crise económica que vivemos. Mas a ligeireza, muitas vezes a leviandade, na abordagem, têm vindo a gerar uma enorme confusão. Por isso, importa-nos discutir de que falamos quando falamos de arte, de cultura, de indústrias culturais. Estará hoje em dia a arte cada vez mais submetida à cultura e ao negócio? Estarão as indústrias culturais a “formatar” os artistas (levando-os, entre outras coisas, a não correr riscos)? Estaremos reféns de uma “mentalidade da mediania que, não obstante as aparências, é refractária à criação” (João Barrento, 2011). É este o ponto de partida para uma reflexão que nos propomos levar a cabo no Simpósio “Arte Vs Indústrias Culturais” na próxima edição do Lisbon & Estoril Film Festival, para a qual convidamos artistas, cineastas, escritores, pensadores e cientistas.

Apresentação do livro “entre o céu e a terra” de Rui Chafes COM A PRESENÇA DE RUI CHAFES Convidados:

Exposição David Hockney e Alberto de Lacerda: THERE

Exposição de Noronha da Costa

Pascal Quignard Emmanuèle Bernheim Dominique Gonzalez-Foerster Pascal Quignard Bernardo Pinto de Almeida Manuel Graça Dias Maria Filomena Molder Rui Chafes João Barrento António Guerreiro Jorge Silvlva Melo Hanif Kureishi António Damásio Hanna Damásio Fanny Ardant Sónia Wieder-AthAtherton bella freud

com a presença do pintor

Filmes:

Exposição de Isabel Zuzarte

A sociedade do Espectáculo de Guy Debord Réfutation de tous les jugements de Guy Debord L’hypothèse du tableau volé de Raul Ruíz (adaptação do livro de Pierre Klossovski) Le vocation suspendu de Raul Ruíz (adaptação do livro de Pierre Klossovski) Roberto, ce soir de Pierre Zucca (adaptação do livro de Pierre Klossovski) Branca de Neve de João César Monteiro Belle comme le jour de Dominique Gonzalez Foester

com a presença da fotógrafa

Encontro das Escolas de Cinema Europeias Este ano as escolas presentes serão: - Netherlands Film and Television Academy (Holanda) - Stockholm Academy of Dramatic Arts (Suécia) - ESAD - Escola Superior de Artes e Design - de Caldas da Rainha (Portugal)

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programação

espaço nimas ciclo - sokurov a sua sala de cinema independente Em Novembro e Dezembro conheça o projecto do russo Alexandr Sokurov sobre a natureza do poder e veja as biografias de Adolf Hitler, Lenin, Hirohito e Fausto. A propósito da estreia de Operação Outono, do português Bruno de Almeida, o Nimas organiza o ciclo Cinema e Justiça. A justiça é um dos temas essenciais do cinema, quer seja na vertente da ficção como no documentário. Dos grandes casos aos erros judiciais, passando pelos processos mediáticos, todos são passíveis de recriação cinematográfica. Contaremos com a presença de magistrados e representantes da sociedade civil para debater temas e analisar casos. Termine o ano a ver, ou a rever, os clássicos de Jacques Tati.

MOLOCH 1999, 108’ Um fim de semana na vida de Hitler. O ditador vai ter com Eva Braun, acompanhado por Goebbels e a mulher, para uns dias apolíticos. Festival de Cannes 1999 - Vencedor Melhor Argumento

TAURUS 2001, 104’ Lenin era do signo Touro, um animal poderoso, destinado (infelizmente) ao sacrifício colectivo. A sua morte simbolizou o fim de uma era. Festival de Cannes 2001- Selecção Oficial

O SOL 2005, 110’ Mostra os últimos dias do imperador japonês Hirohito no seu bunker, à espera das tropas americanas. O retrato de um homem mimado e minado. Festival de Cinema de Berlim 2005 - Selecção Oficial

SoKUROV O realizador ganhou notoriedade com o filme A Arca Russa, uma hora e meia filmada num único plano-sequência sem corte. Com Fausto, termina a sua tetralogia do poder, iniciada com os filmes Moloch, Taurus e O Sol — sobre Hitler, Lenin e Hirohito. Presença habitual do festival de Cannes viu quatro dos seus filmes estrearem no certame. A ensaísta Susan Sontag incluiu dois filmes do russo na sua lista de filmes preferidos da década de 90. Escreveu na altura que: “Não há o realizador no activo que eu mais admire”.

12 NOVEMBRO | DEZEMBRO dezembro 2012

FAUSTO 2011, 140’ O último filme da tetralogia do poder pega na lenda alemã de Fausto, um homem que vende a alma ao Diabo em troca de conhecimento. Festival de Veneza 2011- Vencedor do Leão de Ouro

CICLO - MITO DE FAUSTO NO CINEMA De lenda alemã à consagração de Goethe, o mito de Fausto foi recriado no cinema por Murnau e na ópera por Charles Gonoud.


OUTRAS programação ESTREIAS

estreias

ARGO De Ben Affleck

O FIM DOS LCD SOUNDSYSTEM - ESTREIA 1 NOV

Will Lovelace e Dylan Southern EUA, 212, 108’ Dois jovens vivem muma comunidade isolada no deserto australiano. Um dia são obrigados a partir e iniciar uma viagem pela sobrevivê.

Em 1979, a embaixada americana na Irão é invadida por revolucionários. Seis americanos conseguem fugir e esconder-se na casa do embaixador do Canadá. A única maneira de os tirar de lá passa pela criação de um enredo hollywodesco. EUA, 2012, 120’

ESTREIA 8 novembro AS VOLTAS DA VIDA De Robert Lorenz

NÃO OLHES PARA TRÁS - ESTREIA 22 NOV

Marina de Van FR, 2009, 111’ Um drama psicológico sobre uma fotógrafa cujas imagens contam uma história diferente daquela que percepciona.

SESSÕES ESPECIAIS NOITE - BRUNO DE ALMEIDA A propósito da estreia do filme Operação Outono, o espaço Nimas exibe uma série de filmes do prolífico realizador português.

CICLO - JUSTIÇA E CINEMA Ciclo de filmes ligados à Justiça seguido com debates sobre os principais casos da Justiça nacional com magistrados e representantes da sociedade civil.

CICLO - JACQUES TATI •

O MEU TIO (1958) 117 min

PLAY TIME - VIDA MODERNA (1967) 155 min

TRAFIC (1971) 96 min

HÁ FESTA NA ALDEIA ( 1949) 70 min

AS FÉRIAS DO SR HULOT (1953) 114 min

Parade ( 1974) 84 min

Clint Eastwood é um olheiro veterano de baseball que está a perder a visão e inicia numa viagem com a filha, Amy Adams, para observar uma jovem promessa, Justin Timberlake. O rapaz passa a estar debaixo de olho por outros motivos. EUA, 2012, 111’

ESTREIA 22 novembro KILLING THEM SOFTLY De Andrew Dominik Jackie Cogan é um assassino profissional contratado para apanhar os responsáveis por assalto ocorrido durante um jogo de poker clandestino. Brad Pitt regressa aos papéis de arma na mão e Gandolfini e Ray Liotta ao sotaque mafioso. EUA, 2012, 97’

ESTREIA 6 DEZEMBRO KILLER JOe De William Friedkin Chris é um traficante de droga com dívidas que vê na morte da mãe uma maneira de as liquidar. Com a ajuda do pai e da irmã contrata Joe Cooper, um assassino profissional. Incapaz de pagar o serviço, Chris oferece a irmã como garantia. EUA, 2011, 102’

ESTREIA 27 dezEMBRO NOVEMBRO | DEZEMBRO dezembro 2012 13


estreias cinema

Fausto DE

Aleksandr Sokurov

ESTREIA 20 DEZ

Duração: 140 min

com Johannes Zeiler, Anton Adasinsky, Isolda Dychauk, Georg Friedrich e Hanna Schygulla

Alexadr Sokurov encerra a sua tetralogia do poder com Fausto. O realizador não precisou de vender a alma ao diabo para ganhar um Leão de Ouro em Veneza.

Esteve recentemente em Lisboa o conhecido encenador alemão Peter Stein para apresentar a sua versão do clássico de Goethe ao qual deu o nome de Fausto, Fantasia. Durante a conferência de imprensa, no São Luiz, Stein falou do seu Fausto e de como todas as outras eram desinteressastes, rudimentares e pouco criativas. Até que foi questionado por alguém na audiência sobre o último filme de Alexandr Sokurov. Stein parou e teve de retroceder no seu discurso abrasivo. Afinal alguém tinha olhado para Fausto de um modo diferente do dele mas igualmente válido. Ficou prestada a homenagem. Fausto faz parte do corpus lendário alemão, tradição oral fixada em texto no século XVI que conta a história de um homem que vende a alma a Mefistófeles em troca de conhecimento. Na interpretação livre do realizador russo, Fausto apaixona-se por Margarete por esta ser a encarnação da beleza. A jovem passa a ser, por isso, alvo do seu amor e obsessão desmesurada. Não é de estranhar que uma trama 14 NOVEMBRO | dezembro 2012

em que o poder e a corrupção (do espírito) estão entrelaçados desperte o interesse de meios de comunicação social dedicados a outras áreas que não o cinema. “Não admira que Fausto de Aleksandr Sokurov – rabugento, selvagem e visionário – tenha ganho o Leão de Ouro em Veneza no ano passado. Ele ruge na nossa direcção, sacudindo a juba gloriosa, e no fim prova que a melhor maneira de honrar um clássico é comê-lo vivo”, escreveu o Financial Times. “É rude e irresistível” continua o jornal de economia. Goethe acreditava que a vida era como a imagem de um espelho finita e parcial - onde se vislumbrava a verdade eterna. É por isso que Sokurov inicia o filme com um espelho gigantesco suspenso no céu. Este confronto entre ilusão e realidade é destacado pelos Cahiers du Cinema na sua crítica que diz: “Há um remoinho caótico de luzes e materiais que produzem ilusões, mas é a ‘canção monótona’ que ganha todo o filme e se torna

o seu drama principal: esta é provavelmente a grande beleza de Fausto”. Com Fausto, Sokurov encerra “a tetralogia da origem do poder”, conforme a designação dada pelo próprio. Depois de Moloch, Taurus e O sol, retratos inquisitórios de Hitler, Lenin e Hirohito, este último filme apresenta o herói de Goethe como uma figura histórica e real, corrupta mas susceptível de amar. Mais ou menos presente e comum a todos eles, está o diabo, essa figura mítica que volta e meia toma a forma de homem para arrasar a humanidade.

Sabia que... Pode ver a tetralogia do poder de Alexandr Sokurov no Espaço Nimas

Principais Festivais: Festival de Veneza 2011: Leão de Ouro Festival de Londres 2011: Nomeado para Melhor Filme


OUTRAS estreias programação ESTREIAS cinema

BREVEMENTE em dvd

ANNA KARENINA

SANSÃO E DALILA

De Joe Wright

um filme de Warwick Thornton com Rowan McNamara, Marissa Gibson

AS QUATRO VOLTAS

O clássico de Leo Tolstoy adaptado mais uma vez ao cinema. Anna Karenina é casada com Alexei. Numa viagem conhece o conde Vronsky por quem se apaixona. Adultério numa família que sendo infeliz, não se parece com as outras. UK , 2012, 130 min

um filme de Michelangelo Frammartino com Giuseppe Fuda, Bruno Tímpano

ESTREIA 6 DEZEMBRO

Sansão e Dalila vivem numa isolada comunidade aborígene no deserto da Austrália Central. Entre um pequeno grupo de casas tudo acontece em ciclo. Com o passar dos dias, nada se altera, tudo permanece igual e ninguém parece importar-se.

Numa velha aldeia no Sul de Itália, um velho pastor vive os seus últimos dias. É uma visão poética sobre os ciclos da vida e da natureza e sobre as inquebráveis tradições de um local intemporal.

PARTIR um filme de Catherine Corsini com Kristin Scott Thomas, Sergi López, Yvan Attal

A vida tranquila no sul de França não satisfaz Suzanne, uma mulher de 40 anos, casada e mãe de dois filhos. À procura de uma mudança, ela decide dedicar-se à sua antiga profissão como fisioterapeuta.

CHANTRAPAS um filme de Otar Iosseliani com Dato Tarielashvili, Tamuna Karumidze

Nicolas é um artista, um cineasta, que só deseja expressar-se e a quem todos desejam reduzir ao silêncio. Quando inicia a sua carreira na Geórgia, os “ideólogos” esperam amordaçá-lo, preocupados com o facto de a sua obra não seguir as regras fixadas.

LIFE OF PI De Ang Lee O filho de um tratador de zoo muda-se com a família e os animais para o Canadá. Durante a viagem a embarcação naufraga. O rapaz sobrevive mas não é o único: um tigre de Bengala vagueia com ele no oceano. EUA, 2012, 120 min

ESTREIA 20 Dezembro CLOUD ATLAS De Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski

Nos duros anos do pós-guerra, numa zona rural da Catalunha, Andreu, um rapaz cuja família pertence ao grupo dos que perderam a guerra, encontra no bosque os cadáveres de um homem e do seu filho.

O último filme dos irmãos Wachowski é também o último de Tom Tykwer. A história do filme percorre o passado, o presente e o futuro, enquanto uma alma é moldada a partir de um assassino até se transformar num herói. EUA, 2012, 172 min

MARIA-RAPAZ

ESTREIA 20 Dezembro

PÃO NEGRO um filme de Agustí Vilaronga com Francesc Colomer, Marina Comas, Nora Navas

um filme de Céline Sciamma com Zoe Heran, Malonn Levana, Jeane Disson

Laure tem 10 anos e não é como a maior parte das raparigas. Prefere o futebol às bonecas e camisolas a vestidos. Quando Laure e a família se mudam para um novo bairro, a vida familiar continua a ser igual ao que era antes.

WOMEN ARE HEROES - O Documentário um filme de JR

O filme “Women are Heroes” transporta-nos até África, Ásia e América do Sul. O artista francês JR leva-nos a locais dos quais já ouvimos falar na televisão quando alguma tragédia se abate sobre eles, mas que se encontram afastados dos habituais destinos turísticos.

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com

NOVEMBRO | DEZEMBRO dezembro 2012 15


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