Medeia Magazine 7 - Setembro e Outubro 2013

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Yasujiro Ozu

Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké no Espaço Nimas

Woody Allen Regressa com Blue Jasmine

Interior.Leather Bar

James Franco à frente e atrás das câmaras

Por Detrás do Candelabro

O novo último filme de Soderbergh

Ouro

Setembro | Outubro 2013

setembro | outubro 2013

Descubra-o com Thomas Arslan

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editorial Yasujiro Ozu. O Ocidente descobriu-o nos anos 60, com alguns dos maiores cineastas a renderem-se ao seu cinema. Refere Wim Wenders que “se existisse algo como um tesouro sagrado do cinema, para mim seria o trabalho do realizador Yasujiro Ozu... nunca o cinema esteve tão próximo da sua essência e objectivo: mostrar imagens do homem deste século, uma imagem válida na qual ele não só se reconhece, como também, e acima de tudo, consegue aprender sobre si mesmo”. O Espaço Nimas comemora o 110º aniversário do nascimento de Ozu com a exibição de dois filmes restaurados do realizador japonês: Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké. Outro cineasta incontornável regressa às salas de cinema. Falamos de Woody Allen e do seu mais recente filme, Blue Jasmine. Acutilante e mordaz. É assim a variação contemporânea do clássico de Tennessee Williams Um Eléctrico Chamado Desejo à qual Allen juntou a crise dos tempos modernos. Se dúvidas existiam sobre a capacidade criativa de James Franco, dissiparam-se com Interior. Leather Bar. O actor, escritor e pintor afirma-se agora na realização com um documentário ficcionado sobre os 40 minutos que faltariam a Cruising, de William Friedkin, e que foram alegadamente cortados para que o filme não fosse classificado como pornográfico. Ouro de Thomas Arslan, Mud de Jeff Nichols e Por Detrás do Candelabro de Steven Soderbergh são outras estreias que não pode perder. Equipa Director: Paulo Branco Edição e Textos: Ágata Xavier Design: André Carvalho e Catarina Sampaio Colaboração: Frederico Batista Capa: O Gosto do Saké

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SETEMBRO | OUTUBRO 2013

Blue Jasmine DE

Woody Allen

ESTREIA 12 SET

com Cate Blanchett, Alec Baldwin, Alden Ehrenreich, Sally Hawkins

Dur: 98 min

Acutilante e mordaz. É assim a variação contemporânea do clássico de Tennessee Williams Um eléctrico chamado desejo. Woody Allen junta-lhe a crise dos tempos modernos e dá-lhe um nome: Blue Jasmine.

Woody Allen regressa com um cenário apropriado a Um eléctrico chamado desejo de Tennessee Williams. Cate Blanchett, que já havia interpretado Blanche DuBois, a anti-heroína de Williams, no teatro, é Jasmine na versão de Allen. Alec Baldwin é o marido caído em desgraça. De Hamptons, em Nova Iorque, Jasmine muda-se para casa da irmã, numa zona humilde de São Francisco. “Os que fizeram uma leitura mais literal dirão que o filme diverge”, avança a New Yorker, “mas é uma grande homenagem e uma brilhante variação contemporânea.”

“Allen, que está agora com 77 anos, tornou-se mais duro com idade. Os seus homens e mulheres enfrentam-se; as diferenças sociais entre pessoas com estilos de vida diferentes podem revelar-se cruéis e impiedosas” The New Yorker Jasmine estava habituada ao luxo e à riqueza que o seu marido lhe proporcionava, até ao dia em que este se vê envolvido num escândalo financeiro e os dois perdem tudo. Geralmente, nestes casos, o foco está nos homens mas, aqui, Allen preferiu centrar-se na mulher. O realizador satiriza uma realidade que é mais próxima da sua, aquela que, apesar de aparentar uma durabilidade eterna pode, de um dia para o outro, ficar desprotegida. O caso de Bernie Madoff é uma presença constante. O antigo investidor foi responsável pela maior fraude financeira dos Estados Unidos ao usar o esquema Ponzi — um esquema em que o dinheiro investido pelas pessoas serve apenas para pagar investimentos de terceiros (e em que nunca existe retorno ou ganhos reais). Cate Blanchett contou, em entrevista ao canal DP/30, que procurou conhecer melhor este caso para se aproximar ainda mais do público: “É o mais interessante em ser actor. Queremos ligar-nos a uma audiência, por isso, tal como toda a gente, segui o caso. Mas esse caso é outra coisa maior, e se


ESTREIAS cinema o Woody quisesse transformá-lo numa história tê-lo-ia feito.” Em São Francisco, para onde Jasmine viaja, a realidade é outra. A sua irmã adoptiva, Ginger, trabalha num supermercado e divide a casa com os dois filhos pequenos. Snobe e ambiciosa, Jasmine sente dificuldade em adaptar-se, refugiando-se em Xanax. Ginger tem mau gosto e bom fundo, enquanto Jasmine é elegante e mentirosa. O diálogo entre ambas é praticamente impossível pois as suas referências são distintas. Estará Woody Allen a testar o limite do humor ao questionar a fragilidade da sua compreensão? “Allen, que está agora com 77 anos, tornou-se mais duro com idade. Os seus homens e mulheres enfrentam-se; as

NOIVA PROMETIDA De Rama Burshtein Em Tel Aviv, uma família ortodoxa e conservadora está prestes a ver a sua filha mais nova, Shira, casar com um rapaz de boas famílias, por quem ela está apaixonada. No entanto, pouco antes do casamento, Esther, a irmã mais velha, morre durante o parto, adiando a cerimónia. Agora a preocupação da família é encontrar uma nova noiva para Yochay, o viúvo de Esther. Ele decide casar com uma viúva belga e mudar para o país da esposa. Com medo de ver o neto partir, a família de Shira prepara um outro plano: desfazer o casamento da Shira e obrigá-la a casar com Yochay.

EM EXIBIÇÃO JOBS De Joshua Michael Stern diferenças sociais entre pessoas com estilos de vida diferentes podem revelar-se cruéis e impiedosas”, escreve a New Yorker. “Allen moldou uma obra-prima no que toca à construção. A sua escrita é afiada e lúcida, aforística e exemplar”, conta a mesma revista. Para a Vanity Fair é uma ruptura do realizador com o seu universo habitual, “a terra da fantasia hermética de Upper East Side (com extensão europeia) em que o dinheiro nunca é um problema e até os adolescentes vão à ópera”. A ligação deste filme a questões políticas e sociais contemporâneas é inegável e desde Manhattan (1979) que não estava tão presente num filme de Woody Allen. “Sem medo, não se sobrevive”, disse um dia o realizador. Podemos comprová-lo em Blue Jasmine.

“Sem medo, não se sobrevive”

Filme sobre a extraordinária história de Steve Jobs. Ashton Kutcher encarna este inovador e revolucionário empreendedor, que tinha como regra não deixar que nada se intrometesse no caminho da grandeza. O filme conta a épica e turbulenta história de Jobs desde que iniciou o percurso que mudou a tecnologia - e o mundo - para sempre.

EM EXIBIÇÃO

Woody Allen

Dark Horse De Todd Solondz Abe é uma espécie de homemcriança. Aos trinta e poucos anos é incapaz de fazer parte do mundo dos adultos. Ainda vive na casa dos pais, trabalha sem qualquer entusiasmo na empresa do pai e passa a maior parte do tempo no eBay à procura de brinquedos antigos. Os únicos aliados de Abe são a sua superprotectora mãe e a secretária do seu pai, que de boa vontade acaba os trabalhos que ele deixa em atraso.

ESTREIA 5 setembro setembro | OUTUBRO SETEMBRO outubro 2013

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ESTREIAS CINEMA

O Mordomo de Lee

Daniels

Frances Ha

ESTREIA 5 SET

com Forest Whitaker, John Cusack, Robin Williams

Dur: 132 min

É a primeira opção quando se procura um culpado. Omnipresença, decoro, lealdade e dedicação são características inerentes à profissão. Conheça O Mordomo, o filme de Lee Daniels com banda sonora de Rodrigo Leão.

Mais ou menos dedicados, são uma presença constante nas melhores casas. Do Batman à Família Addams, não há mansão cinematográfica que prescinda dos seus serviços. Em O Mordomo, Lee Daniels conta a história de um homem que trabalhou trinta e quatro anos na residência mais famosa do mundo: a Casa Branca. Um mordomo que acompanhou oito presidentes dos Estado Unidos da América faz, desde logo, parte da história universal. Eisenhower, Nixon, Reagan, Kennedy, Lyndon Johnson e outros tantos fizeram parte integrante do seu convívio diário. Cecil Gaines, personagem interpretada por Forest Whitaker, seguiu as mudanças radicais que ocorreram no seu país e não só: assistiu à luta pelos direitos civis, à Guerra do Vietname, à chegada do homem à lua, aos escândalos presidenciais, à morte de Kennedy, à Guerra do Iraque e à eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Baseia-se na história verídica de Eugene Allen, cujo perfil traçado no jornal Washington Post serviu de base ao filme. Há quem associe O Mordomo a uma visita ao Madame Tussauds (o conhecido museu de cera que recria figuras históricas e mediáticas), dado o número de actores conhecidos que nele entram. Para além de Whitaker, temos Oprah, Vanessa Redgrave, Alain Rickman, Robin Williams, John Cusack ou Cuba Gooding Jr. a dividir o cenário com Lenny Kravitz e Mariah Carey. “Recebi um email da Jane Fonda a dar-me os parabéns”, revelou Oprah na antestreia do filme em Nova Iorque, que dizia: “Não reconheci a Oprah, só vi a Gloria [Gloria Gaines, mulher de Cecil]. É tão bom quando isso acontece.” Este ambicioso e movimentado biopic é o cinema em estado de entretenimento puro: intrigante, complexo e com muito coração.

de Noah Baumbach

SETEMBRO | OUTUBRO 2013

Dur: 86 min

Noah Baumbach tem novo filme, uma comédia melancólica numa Nova Iorque a preto e branco protagonizada pela actriz indie do momento: Frances Ha só podia ser Greta Gerwig.

Gerwig cruzou-se com Baumbach em Greenberg. Ela à frente das câmaras, ele a dirigi-la. Desta vez, o argumento de Frances Ha foi trabalhado a quatro mãos, entre o realizador e a actriz (que, antes deste, também já tinha escrito outros guiões e realizado o seu próprio filme). Com Greenberg ou Damsels in Distress, de Whit Stillman, Greta Gerwig tornou-se um rosto de culto mas Frances Ha marca uma nova etapa – para ambos. Se Gerwig corporiza na perfeição os temas familiares à obra de Baumbach (bem como as suas personagens em busca de saída para o eterno impasse entre crescer ou ficar no mesmo lugar), a actriz trouxe também para este universo uma leveza refrescante. Frances Ha não está distante das figuras habituais no universo do realizador: uma jovem adulta a viver em Nova Iorque (apesar de não ter um apartamento) e a estudar dança (mas sem ser bailarina no sentido convencional). Mas o que poderia ser um cenário problemático torna-se numa história de traços burlescos. “Neste filme fui guiado pela Greta Gerwig”, confessou Noah Baumbach ao Guardian. “Fui motivado pela vontade de proteger esta personagem, queria que o filme fosse tão leve quanto ela.” A Nouvelle Vague é uma inspiração assumida (a banda sonora inclui várias composições de Georges Delerue, colaborador de Truffaut). E alguns críticos lembraram-se também de Manhattan, de Woody Allen – não apenas pela fotografia a preto e branco mas pela nostalgia que o realizador procurou convocar. “Através do seu charme quase volátil de filme de época, Frances Ha revela um questionamento social e afectivo inebriante”, considerou Joachim Lepastier nos Cahiers du Cinéma. Principais Festivais: Festival de Berlim – Selecção Oficial

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ESTREIA 10 OUT

com Greta Gerwig, Adam Driver, Mickey Sumner


estreias cinema

Interior. Leather Bar. de

James Franco e Travis Mathews

ESTREIA 26 SET

EXCLUSI

CINEM VO AS MEDEIa Duração: 60 min

com Val Lauren, James Franco, Christian Patrick, Travis Mathews

Explícito, muito erótico e quase pornográfico. É assim o filme-ensaio assinado por James Franco e Travis Mathews que chega às salas de cinema no dia 26 de Setembro.

“Não mostrem sexo gay”, diz Franco no trailer de Interior. Leather Bar, “É o diabo”. Depois de ter encarnado Allen Ginsberg em Howl, de ter sido um dos companheiros do candidato Harvey Milk no filme de Gus Van Sant, Milk, e de ter colocado uma arma na boca para simular sexo oral no filme Spring Breakers — Viagem de Finalistas, James Franco volta à temática LGBT com Interior. Leather Bar. Realizado a quatro mãos, com Travis Mathews, este filme baseia-se vagamente em Cruising, uma película controversa dos anos 80, assinada por William Friedkin (O Exorcista) que contava com Al Pacino no principal papel. Em Cruising, Pacino é um polícia que se infiltra na cena underground sadomasoquista gay para descobrir um serial killer que opera junta desta comunidade. O termo Cruising, para além de significar a ronda nocturna da polícia, designa alguém à procura de actividade sexual. Em ambos os casos, figuras andam à deriva sem saber como culminará a noite. Em Interior. Leather Bar foram directos ao assunto. Mathews conta em entrevista à revista Xtra que

“A melhor e mais nítida surpresa de Sundance” The New York Times Franco o abordou com o filme de Friedkin em mente mas não o quis recriar: “Ele estava interessado em revisitar o Cruising, não para fazer um remake mas sim para falar de outras coisas como o sexo homossexual explícito.” Os dois realizadores procuraram, desta forma, recriar os míticos 40 minutos de sexo que faltariam na versão original, retirados para que o filme não fosse classificado como pornográfico. Mas não só. Quiseram também explorar a dificuldade

em fazer algo deste género. “É um filme que joga com as barreiras do que é um filme narrativo e do que é um documentário, assim como joga com as barreiras pessoais, criativas e sexuais — e como tudo se envolve em censura” explica Mathews na mesma entrevista. A dupla juntou-se depois de Franco ter visto I want your love, uma curta-metragem de Travis Mathews .“O sexo pode ser usado para fazer milhões de coisas diferentes. Quis expandir isso e usá-lo como um instrumento que mostrasse o desenvolvimento do carácter, dos assuntos interpessoais, da intimidade, do divertimento e aproximá-lo da realidade que me é familiar” conta Mathews no site oficial do seu filme. Sobre Franco, Mathews não se inibe em falar do

“Genial! Complicado, estranho e avant-garde” Gus Van Sant mediatismo que envolve o multifacetado actor (que é também escritor, pintor e agora realizador) e os rumores que rodeiam a sua sexualidade. “Ele tem aparecido em muitos filmes associados a temas gay. É um “gayluminário” que não teve ainda o seu tempo ao sol. Tem feito muitas coisas com a comunidade gay e, sendo uma estrela sexy de Hollywood, acaba por suscitar dúvidas nas pessoas”. Para a IndieWire, Interior.Leather Bar é o filme em que Franco cria “finalmente um projecto que faz justiça às suas ecléticas ambições artísticas”. Principais Festivais: Sundance e Festival de Cinema de Berlim ‘13

setembro | outubro 2013

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ESTREIAS CINEMA

DIANA de Oliver Hirschbiegel

muD ESTREIA 26 SET

com Naomi Watts, Naveen Andrews, Douglas Hodge

Dur: 108 min

de Jeff Nichols ESTREIA 24 OUT com Matthew McConaughey, Reese Witherspoon

Dur: 130 min

Ainda há segredos por revelar sobre a “Princesa do Povo”? Naomi Watts coloca-se na pele de Lady Diana Spencer para provar que sim.

Da relação improvável e perigosa entre dois jovens e um adulto sai uma das histórias de amizade mais tocantes do cinema: Mud, de Jeff Nichols.

A sua vida tinha tudo para dar um filme. Este ano, Diana chega ao cinema, numa obra biográfica assinada pelo alemão Oliver Hirschbiegel (que já filmou os últimos dias de Adolf Hitler, em A Queda, e dirigiu Nicole Kidman e Daniel Craig no thriller A Invasão). Terá mesmo sido Dodi Fayed a verdadeira paixão da Princesa de Gales? Ou esse papel coube ao cirurgião Hasnat Khan? No filme, que acompanha os últimos dois anos da vida de Diana, o relacionamento secreto com o médico de origem paquistanesa (sobre quem Diana terá confessado ser “o amor da sua vida”) ocupa uma parte importante da história. O filme acompanha ainda a Princesa na sua ascensão a figura de topo na luta por causas humanitárias, nomeadamente a sua cruzada contra as minas terrestres. Não faltará o momento que correu mundo: quando Diana “passeou” por um campo minado, em Angola. Em vida, estes elementos foram apenas alguns dos que alimentaram durante anos uma novela sensacionalista em redor de Diana. Agora são o cenário para quase duas horas de um filme evocativo e que pode colocar Naomi Watts na rota para um Oscar. A actriz britânica viveu o papel intensamente, como explicou ao Daily Mail. “Esta história tinha de ser contada mas foi mesmo a coisa mais difícil que já fiz. Nunca estive tão próxima de uma personagem.” “Não deixava de perguntar a mim mesma ‘Será que ela vai gostar’. Então passei o tempo todo a pedir-lhe autorização para continuar. E num momento em particular senti que o seu consentimento foi dado”, revelou Naomi Watts.

Ellis e Neckbone, dois rapazes do Arkansas que vão passar férias numa pequena ilha próxima do rio Mississipí, encontram um barco encalhado numa árvore. Quando lá entram, percebem que este é habitado por Mud, um filho da terra que anda fugido à polícia por ter matado o homem que maltratou a sua actual namorada, Juniper. Mud conta aos rapazes que apenas quer ir buscar a namorada e sair da cidade. Para além da polícia, também King Carver, o pai do homem que Mud matou, anda no seu encalço. Paralelamente à evasão de Mud e Juniper, os rapazes vêem-se enredados nos seus próprios problemas. O realizador Jeff Nichols começou a delinear a história quando ainda era estudante. Inspirou-se no livro Huckleberry Finn, de Mark Twain, para criar a relação entre os três protagonistas e juntou-lhe alguns elementos mais pessoais, como a intensidade das emoções na adolescência, a descoberta do amor e as posteriores desilusões. Para Hemingway, o romance de Twain é o ícone da literatura americana. “Toda a escrita americana vem daí. Não há nada antes. Não foi feito nada melhor depois”, disse o escritor numa conversa. Esta versão moderna de Tom Sawyer feita por Nichols reuniu o consenso da crítica: foi aplaudido em Cannes e recebeu 98% no site de cinema Rotten Tomatoes. Nichols mostra, com Mud, a dificuldade que é crescer, lidar com imprevistos e acalentar ambições. Fá-lo num espaço neutro e intemporal: “Um local mítico onde se podem contar histórias, fazer amizades, ganhar confianças e criar memórias”, escreve Philip French do Guardian. E continua: “Mud é um filme de interpretações fenomenais, imagens memoráveis e pessoas que pertencem a um sítio em vez de se sujeitarem ao meio”.

Sabia que... A primeira actriz confirmada para o papel de Diana foi a americana Jessica Chastain, que acabou por deixar o lugar vago por questões de agenda.

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SETEMBRO | OUTUBRO 2013

Principais Festivais: Festival de Cannes (Competição) ‘12 e Sundance ‘13


estreias cinema

POR DETRÁS DO CANDELABRO de Steven

Soderbergh

ESTREIA 19 SET

Duração: 118 min

com Matt Damon, Michael Douglas, Scott Bakula, Eric Zuckerman

Efeitos Secundários não foi o último filme de Soderbergh, como o próprio sugeriu, mas sim Por Detrás do Candelabro, um biopic sobre Liberace. Será mesmo?

Vladziu Valentino Liberace dizia ter nome de espirro mas foi um dos artistas americanos mais conceituados (e bem pagos) de sempre. Pianista e cantor, animou os palcos durante 40 anos até morrer, vítima do HIV, em 1987. Sobre o piano tinha sempre a sua imagem de marca: um candelabro. Personagem polémica, nunca assumiu a sua homossexualidade, chegando a processar todos os que o indicavam, viveu vários anos com Scott Thorson, um homem bastante mais novo. Esta relação dá o mote para o novo último filme de Steven Soderbergh — o realizador que disse não querer fazer mais filmes depois de Efeitos Secundários (2013). “É o virtuoso canto do cisne de uma pausa na realização (pelo menos por agora) para que possa dedicarse à pintura”, escreve Alison Willmore na Indiewire. Liberace, interpretado por Michael Douglas, conhece Scott (Matt Damon) no auge da sua carreira. O pianista, que começou a tocar aos 4 anos e a actuar profissionalmente aos 13, contrata Scott para seu motorista, numa tentativa de estar

próximo dele e, assim, conseguir ter sempre companhia. Scott tinha 17 anos na altura e Liberace 57. No filme atenuou-se a diferença de idades. Soderbergh demorou mais de uma década a planear este filme. “Falei com o Michael [Douglas] sobre o filme durante as filmagens de Tráfico (2000). Não queria fazer um biopic tradicional. Queria ir mais fundo (...) não me interessava fazer um daqueles filmes em que tens quatro pessoas a interpretar o Liberace em diferentes fases da sua via”, explicou o realizador ao Los Angeles Times. Foi só quando uma amiga sua lhe recomendou o livro escrito por Scott Thorson — Behind the Candelabra: My Life With Liberace — que Soderbergh resolveu o problema. Garantiu os direitos e falou com os actores principais. Mas porquê Liberace? “Achava-o muito divertido, mas também sentia que era uma pessoa atípica. Agora, percebo melhor como era talentoso e as razões que o levaram a criar uma personagem de que muitos

outros vieram a apropriar. Isto aconteceu antes do Elton John, da Cher, da Madonna, Lady Gaga e todos os outros artistas extravagantes, geralmente conhecidos por um só nome”, conta na mesma entrevista. O realizador decidiu abordar um lado da vida que Liberace sempre tentou esconder: a sua homossexualidade e a relação com um homem bastante mais novo. Envolvido num mundo de kitsch palaciano, Scott acaba por manter uma relação duradoura com o músico. Não foi o primeiro, nem o último mas foi o que se manteve mais tempo a seu lado. O filme não é apenas uma sequência de bizarrias e extravagâncias, como a cirurgia plástica que Liberace impõe a Scott para que fiquem mais parecidos. O realizador percebeu a dinâmica que existia entre eles e a importância da relação na vida de ambos, numa altura em que por trás do palco se abria um gigantesco, e mal iluminado, armário. Principais Festivais: Cannes 2013 (nomeado para a Palma de Ouro)

setembro | outubro 2013

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programação

espaço nimas

YasujirO Ozu

PERFIL

a sua sala de cinema independente Para celebrar o 110º aniversário do nascimento de Yasujiro Ozu, o Espaço Nimas estreia, em versão digital e restaurada, duas obras-primas do cineasta japonês:
 Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké. São dois dos títulos mais celebrados de uma obra vasta, ímpar e particular, que marcou e continua a marcar o cinema mundial. Dois filmes atravessados pelos temas mais caros a Ozu: a passagem do tempo, o conflito de gerações e, no centro de tudo, a família. Mas há mais cinema japonês no Espaço Nimas. Não perca, na primeira semana de Setembro, os filmes: Os Sete Samurais e Rapsódia em Agosto de Akira Kurosawa, A Enguia de Shohei Imamura e Quando uma Mulher Sobe as Escadas de Mikio Naruse. Conte com os habituais ciclos de cinema clássico e familiar que lhe dão a oportunidade de ver (ou rever) os grandes filmes do cinema mundial. Godard, Mizoguchi, Antonioni, Pasolini, Rivette, Provost e muitos mais, reunidos num único espaço, o Nimas.

clássicos japoneses 1 Setembro . 15h30/18h30 OS SETE SAMURAIS de Akira Kurosawa 2 Setembro . 15h30/18h30 RAPSÓDIA EM AGOSTO de Akira Kurosawa

3 Setembro . 15h30/18h30 A ENGUIA de Shohei Imamura 4 Setembro . 15h30/18h30 QUANDO UMA MULHER SOBE AS ESCADAS

O filme preferido de Yasujiro Ozu era Citizen Kane — O Mundo a seus Pés, de Orson Welles. A história de um repórter que procura o significado da última palavra proferida por um dos homens mais ricos do mundo pode explicar o gosto de Ozu pela procura de sentido. Nos filmes do realizador japonês o sentido é circular — como as estações do ano ou o fenómeno de observar o desabrochar das amendoeiras em flor, uma tradição nipónica conhecida por sakura. Os seus filmes abordam problemas do quotidiano familiar, o chamado Gendai-geki. Ozu encontra no retratar da temporalidade, da nostalgia e da velhice os seus temas de eleição. A partir dos anos 40, deu a conhecer as grandes obras que compõem a sua filmografia, como Primavera Tardia (1949), Viagem a Tóquio (1953) ou O Gosto do Saké (1962). Da sua estética destaca-se o plano baixo, que obriga o operador de câmara a manter-se de cócoras, numa aproximação ao olhar do espectador sentado na sala. Talvez tenha sido o apego à memória a adiar a entrada de Ozu no cinema sonoro. O mesmo se terá passado com a introdução da cor na sua obra, algo que se deu em 1958 com Flores do Equinócio. O Ocidente descobriu-o nos anos 60, com alguns dos maiores cineastas a renderem-se ao seu cinema. Refere Wim Wenders que “se no nosso século, existiu alguma coisa sagrada, se existisse algo como um tesouro sagrado do cinema, para mim seria o trabalho do realizador Yasujiro Ozu... nunca o cinema esteve tão próximo da sua essência e objectivo: mostrar imagens do homem deste século, uma imagem válida na qual ele não só se reconhece, como também, e acima de tudo, consegue aprender sobre si mesmo”. O Espaço Nimas exibe dois filmes restaurados do realizador japonês: Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké.

de Mikio Naruse

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com 8

SETEMBRO | OUTUBRO 2013

ANIVERSÁRIO


estreias PROGRAMAÇÃO programação cinema

viagem a tóquio de Yasujiro Ozu

EXCLUSI

CINEM VO AS MEDEIa

ESTREIA 5 SET

com Chishû Ryû, Chieko Higashiyama, Setsuko Hara, Haruko Sugimura

Dur: 136 min

CINEMA CLÁSSICO TODOS AS SEGUNDAS ÀS 18H30 NO ESPAÇO NIMAS 2 Setembro UM ANJO À MINHA MESA de Jane Campion

9 Setembro A ATALANTE de Jean Vigo 16 Setembro PEDRO, O LOUCO de Jean-Luc Godard

23 Setembro BLOW UP de Michelangelo Antonioni 30 Setembro RUA DA VERGONHA de Kenji Mizoguchi

7 Outubro ONDAS DE PAIXÃO de Lars Von Trier

Obra-prima de Ozu que rivaliza nas tabelas de melhores filmes de sempre com Vertigo, de Alfred Hitchcok, e Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés, de Orson Welles. Conta a história de Tomi e Shukichi, um casal idoso que viaja até Tóquio para estar com dois dos seus filhos. A única pessoa que se preocupa com eles é a nora viúva, Noriko, que lhes mostra a cidade enquanto os filhos estão absortos em trabalho. Na viagem de regresso, o casal decide passar por Osaka para visitar outro filho. Durante o trajecto, Tomi sente-se mal, acabando por adoecer. Ozu dá-nos um drama familiar poderoso que joga com a passagem do tempo e o desenvolvimento das relações.

O GOSTO DO SAKÉ de Yasujiro Ozu

ESTREIA 5 SET

EXCLUSI

CINEM VO AS MEDEIa

Dur: 112 min

com Chishû Ryû, Shima Iwashita, Keiji Sada, Mariko Okada, Teruo Yoshida

14 Outubro INDIA SONG de Marguerite Duras 21 Outubro A ENGUIA de Shohei Imamura 28 Outubro AS MIL E UMA NOITES de Pier Paolo Pasolini

CINEMA FAMILIAR TODOS OS DOMINGOS ÀS 15H30 NO ESPAÇO NIMAS 1 Setembro ALMOÇO DE 15 DE AGOSTO de Gianni Di Gregorio

8 Setembro PONETTE de Jacques Doillon 15 Setembro O BANDO DAS QUATRO de Jacques Rivette

22 Setembro CYRANO DE BERGERAC de Jean-Paul Rappeneau

29 Setembro VIÚVA RICA, SOLTEIRA NÃO FICA de José Fonseca e Costa

É a última obra de Ozu e, talvez por isso, a que melhor retrata o envelhecimento. A preparação do saké, tem um princípio, meio e fim e, apesar de ser uma cerimónia conjunta, implica alguma solidão. Tal como nesta prática milenar japonesa, também em O Gosto do Saké uma cerimónia maior conduz ao isolamento. Um velho viúvo procura um noivo para filha, embora saiba que isso o deixará sozinho. Uma história de amor paternal com a depuração clássica de mestre Ozu.

6 Outubro PARA RIR! de Lucas Belvaux 13 Outubro SERAPHINE de Martin Provost 20 Outubro CARAMEL de Nadine Labaki 27 Outubro A CAÇA ÀS BORBOLETAS de Otar Iosseliani

setembro | OUTUBRO SETEMBRO outubro 2013

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10 SETEMBRO | OUTUBRO 2013


estreias cinema

OURO de

Thomas Arslan

EXCLUSI

CINEM VO AS MEDEIa

ESTREIA 3 OUT

Duração: 101 min

com Nina Hoss, Marko Mandic, Uwe Bohm, Lars Rudolph, Peter Kurth, Rosa Enskat, Wolfgang Packhäuser

Um western alemão filmado no Canadá só poderia significar uma coisa: A Grande Corrida de Klondike. Thomas Arslan aventurou-se nas montanhas áridas do Yukon para lhe trazer Ouro.

Tempos houve em que se atravessavam oceanos em busca de uma pepita dourada. Na altura, o sonho de riqueza vinha colado a outro, liberdade. Foi no continente descoberto por Colombo que se deram as míticas corridas ao ouro, que transformaram imigrantes à procura de uma vida melhor em garimpeiros autodidactas. Em 1896, descobriu-se ouro na zona do Yukon, na fronteira com o Alasca. A notícia espalhouse rapidamente, atraindo ávidos aventureiros naquela que ficou conhecida como a Grande Corrida ao Ouro de Klondike. Ninguém conseguia prever o que se seguiu: montanhas sinuosas, climas agressivos e viagens longas que podiam durar anos. Thomas Arslan pegou em diários de viagem, filmes e fotografias da época e, a partir desse material, recriou a viagem de um grupo de alemães até ao ouro canadiano. “Este período naturalista, envolvente e cheio de tensão, explora as convenções do western tardio, assim como as suas paisagens áridas e majestosas”, escreve a Variety a propósito de Ouro. O filme conta a história de sete personagens. Wilhelm Laser, um bandido à moda antiga, promete a seis compatriotas seus chegar a Klondike em seis tranquilas semanas: a sonhadora e determinada Emily, o tocador de banjo e pai de família Joseph Rossman, o jornalista Gustav Müller, o casal de cozinheiros Otto e Maria Dietz e o bagageiro Carl Boehmer. Das tensões que uma viagem de grupo acarreta, juntam-se as circunstâncias árduas do trajecto, um facto ocultado por Laser. O

suspense aumenta quando dois homens avançam no encalço de Boehmer. Em Ouro, Arslan “mantém a acção enxuta, firme e tranquila; os diálogos são notavelmente livres e usados sobretudo para expor um ponto de vista”, escreve a Variety. Thomas Arslan foi o único realizador alemão a competir na edição do Festival de Cinema de Berlim deste ano. Experiente nestas andanças, venceu em edições anteriores prémios graças aos filmes Dealer e In the Shadows. Com Ouro, aventura-se numa temática pouco comum no cinema germânico, embora demasiado explorada pelo americano. Não é por isso de estranhar que surjam comparações. Para a Hollywood Reporter, a personagem feminina, Emily (Nina Hoss), lembra Claudia Cardinale, com as devidas diferenças no tom de cabelo, em Aconteceu no Oeste (1968), filme mítico de Sérgio Leone. A peregrinação minimalista de Kelly Reichardt, O Atalho (2010), é a comparação mais aproximada no tempo e onde, mais uma vez, surge uma mulher como protagonista. Em ambos, a mulher é a antítese do estereótipo da época, trocando a fragilidade pela força e persistência. “Li muito sobre as mulheres que fizeram este percurso, e foram umas quantas”, conta Nina Hoss à Sokh.TV. E conclui: “Elas não procuravam segurança, mas sim liberdade e aventura.” Principais Festivais: Festival de Cinema de Berlim 2013 (competição)

setembro | outubro 2013 11


estreias cinema

eu E TU

ESTREIA 26 SET

EXCLUSI

CINEM VO AS MEDEIa

de Michel Gondry ESTREIA 10 OUT

de Bernardo Bertolucci com Tea Falco, Jacopo Antinori E Sonia Bergamasco

A Espuma dos Dias

Dur: 103 min

Nove anos depois de Os Sonhadores o cineasta italiano regressa com longametragem intimista, ambientada numa cave em Roma onde dois jovens tentam escapar da sua própria solidão.

Lorenzo (um jovem adolescente com um passado que se adivinha traumático) escapa-se de uma viagem escolar a uma estância de esqui e decide esconderse, em segredo, na cave do seu apartamento em Roma. Mas a chegada de Olivia, a sua meia-irmã, vai alterar a semana que o rapaz contava ser de refúgio. Ela é viciada em heroína e precisa de um local para ressacar. Ele é um adolescente ensimesmado. São dois outsiders – como quase sempre o são as personagens de Bertolucci. Durante uma semana (que se consome durante uma hora e meia), Lorenzo e Olivia vão ficar encerrados naquele espaço, desenterrando alguns segredos pessoais e de família ao mesmo tempo que se vão descobrindo. Aos 72 anos, o cineasta de O Último Tango em Paris e O Último Imperador realiza uma última obra “cheia de charme juvenil”, escreveu Thomas Sotinel do Le Monde. O próprio Bertolucci referiu, numa entrevista ao semanário Expresso, que lhe foi fácil falar de adolescentes. “Tendo em conta que eles são seres em desenvolvimento, ao contrário de mim, cuja evolução já parou”, referiu. “Se calhar é um filme em que entro na maturidade”. Sabia que... Em 1969, David Bowie gravou uma versão da sua Space

Oddity em italiano. A música manteve-se mas a letra

com Romain Duris, Audrey Tautou, Gad Elmaleh

Dur: 125 min

Um dos mais criativos realizadores franceses, Michel Gondry junta dois conhecidos actores seus compatriotas, Audrey Tautou e Romain Duris, e adapta a obra-prima de um dos mais irreverentes e conceituados escritores de França, Boris Vian. O resultado chama-se A Espuma dos Dias.

Michel Gondry é conhecido por criar realidades mágicas, carregadas de simbolismo e ingenuidade. Fê-lo em O Despertar da Mente (2004), A Ciência dos Sonhos (2006) ou Por favor Rebobine (2008), histórias de adultos com espírito de criança que, com recurso a efeitos especiais muito característicos, transportam o espectador para um cenário idílico. A Espuma dos Dias não é excepção. Trata-se de um filme que é “um delicioso cocktail onírico e poético. Para ver várias vezes e sem moderação”, lê-se na Paris Match. Na adaptação do romance homónimo de Boris Vian, Gondry envereda por dois universos que conhece e domina bem: o surrealismo e anarquia. Na história de A Espuma dos Dias, Audrey Tautou dá vida a Chloé, uma jovem que desenvolve uma doença rara: cresce-lhe uma flor no coração. O tratamento implica que esteja constantemente rodeada por flores, uma tarefa hercúlea que o seu marido Colin cumpre com desvelo. “A força do filme — esquizofrénico, belo e fascinante — reside em estar perto daquilo que Vian imaginou”, revela a Cahiers du Cinéma. Um filme apaixonante sobre o amor e a forma de o cuidar— tão próxima da manutenção de um jardim.

foi alterada para contar o encontro de um jovem casal:

Ragazzo Solo, Ragazza Sola foi o título escolhido.

Boris Vian escreveu A Espuma dos Dias

Em Eu e Tu, Bernardo Bertolucci recupera a música.

em 1947. O livro foi adaptado ao cinema três vezes: primeiro por Charles Belmont, depois pelo japonês Go Riju e, agora,

Principais Festivais: Festival de Cannes – Selecção Oficial Prémios David di Donatello – Nomeado Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento

12 SETEMBRO | OUTUBRO 2013

Boris Vian

por Gondry. Em 1981, o compositor russo Edison Denisov criou uma ópera baseada no romance de Vian.


brevemente

CICLO Ingmar Bergman EM NOVEMBRO no espaço nimas

“Quando me sentei para jantar com Bergman, senti-me um pintor de paredes ao pé de Picasso” Woody Allen Ingmar Bergman, dividiu-se entre o cinema, a televisão e o teatro: filmou mais de 60 longas-metragens e encenou cerca de 170 peças. A mortalidade, a solidão e a fé foram os seus temas de eleição. Intempestivo, o próprio revelou que jamais seria amigo de um jovem Bergman. “Tenho consciência da minha dupla personalidade… o lado conhecido está sempre controlado; tudo está planeado e seguro. O lado desconhecido pode ser muito desagradável. Acho que é esse o lado responsável pelo trabalho criativo — porque está próximo da infância”, contou ao New York Times em 1983. Para Woody Allen, Bergman foi o melhor cineasta desde a invenção do cinema, enquanto que, para Godard, foi quem melhor soube encontrar respostas no vazio criativo que é a arte cinematográfica.

A PRISÃO Fängelse (1949) UM VERÃO DE AMOR Sommarlek (1951) MÓNICA E O DESEJO Sommaren Med Monika (1953) UMA LIÇÃO DE AMOR En Lektion I Kärlek (1954) SORRISOS DE UMA NOITE DE VERÃO Sommarnattens Leende (1955) O SÉTIMO SELO Det Stunde Inseglet (1957) MORANGOS SILVESTRES Smultronsstället (1957) O OLHO DO DIABO Djävulens Öga (1960) EM BUSCA DA VERDADE Säsom I En Spegel (1961) O SILÊNCIO Tystnaden (1963) A MÁSCARA Persona (1966) RITUAL Riten (1969) LÁGRIMAS E SUSPIROS Viskningen Och Rop (1973) CENAS DA VIDA CONJUGAL Scener Ur Ett Äktenskap (1973) SONATA DE OUTONO Höstsonaten (1978) DA VIDA DAS MARIONETAS Aus Dem Leben Der Marionettten (1980) FANNY E ALEXANDRE Fanny Och Alexander (1983) setembro | outubro 2013 13


programação

TEATRO CAMPO ALEGRE Estrelas únicas. Mágicas. Fatais. A preto e branco e a cores, atraíram gerações atrás de gerações às salas de cinema. Da época de ouro de Hollywood, Marlene Dietrich (“Her voice alone can break your heart”, dela dizia Hemingway), Katharine Hepburn, Cyd Charisse, Janet Leigh, Maureen O’Hara, às divas do cinema europeu dos anos 50 e 60, Alida Valli, Moreau, Bardot, Anna Karina, Catherine Deneuve, o ciclo “Algumas Divas ‘Muito Cá de Casa’” (obrigado João Bénard da Costa) revisita grandes actrizes e grandes filmes, em cópias de 35mm, do catálogo da Leopardo. Em simultâneo, pode ser vista, no hall do cine-estúdio do Teatro do Campo Alegre, uma exposição de fotografias destas e outras divas do cinema, numa co-produção do Museu do Cinema de Melgaço - Jean-Loup Passek e do Institut Français du Portugal, com a colaboração da Medeia Filmes.

Programação sujeita a alterações de última hora. Confirme sempre em www.medeiafilmes.com 14 SETEMBRO | OUTUBRO 2013


estreias estreias programação cinema cinema

ESTREIAS TEATRO CAMPO ALEGRE A Rapariga de 14 de Julho de Antonin Peretjatko

VIAGEM A TÓQUIO de Yasujiro Ozu o gosto do saké de Yasujiro Ozu NO NEVOEIRO de Sergei Loznitsa Uma Família Respeitável de Massoud Bakhshi

Eu e Tu de Bernardo Bertolucci

BREVEMENTE em dvd CAMILLE CLAUDEL 1915 um filme de Bruno Dumont com Juliette Binoche, Jean-Luc Vincent, Emmanuel Kauffman

Inverno de 1915. Confinada pela sua família a um asilo no sul de França – onde nunca mais irá esculpir – esta é a crónica da vida em reclusão de Camille Claudel, enquanto aguarda a visita do seu irmão, Paul Claudel.

SALÓ OU 120 DIAS DE SODOMA um filme de Pier Paolo Pasolini

Saló ou 120 dias de Sodoma que foi apelidado de perturbador, chocante, depravado ou pornográfico é também uma obra-prima. A transposição da obra de Marquês de Sade para a Itália fascista continua a ser um dos filmes mais arrebatadores e debatidos de todos os tempos. Um exame crítico e provocador às dinâmicas sociais, políticas e sexuais que regem o mundo actual.

Como um Trovão De Derek Cianfrance Um duplo de motas (Ryan Gosling) sem muitas possibilidades financeiras começa a ponderar a hipótese de cometer um crime para assim garantir a sustentabilidade económica da sua família.

ESTREIA 19 setembro The Angel’s Share De Ken Loach Em Glasgow, Robbie, um jovem pai de família, é constantemente apanhado pelo seu passado de delinquente. Cruza o caminho de Rhino, de Albert e da jovem Mo quando, como eles, escapa por pouco à prisão, sendo no entanto punido com uma pena de trabalhos de interesses gerais. Henri, o educador que lhes foi atribuído, torna-se então o seu novo mentor iniciando-os secretamente... na arte do whisky! De destilarias a sessões de provas seleccionadas, Robbie descobre em si um talento real de provador, conseguindo identificar pouco depois as colheitas mais excepcionais, mais caras. Com os seus três camaradas, será que Robbie se vai contentar em transformar este dom em burla, uma etapa a mais na sua vida de pequenos delitos e de violência? Ou em novo futuro, cheio de promessas? Só os anjos o sabem...

ESTREIA 3 OUTUBRO Captain Philips AS MIL E UMA NOITES / DECAMERON OS CONTOS DE CANTERBURY três filmes de Pier Paolo Pasolini

Durante a década de 70 o grande poeta italiano, filósofo e cineasta Pier Paolo Pasolini adaptou ao cinema um trio de obras-primas da literatura medieval e ao fazê-lo criou a sua obra mais desinibida e extravagante. Um desafio à cultura do consumidor moderno e uma celebração do corpo humano incorrupto. Decameron, Os Contos de Canterbury e As Mil e Uma Noites são os três filmes que constituem a Trilogia da Vida de Pasolini, obras recheadas de humor escatológico e sensualidade e que são acima de tudo um hino à vida.

De Paul Greengrass Baseado na história real do capitão Richard Phillips, este filme conta a história do capitão (Tom Hanks) que aceita ser refém por piratas somalianos em troca da liberdade da sua tripulação.

ESTREIA 10 OUTUBRO setembro | OUTUBRO SETEMBRO outubro 2013 15


08 - 17 novembro

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16 SETEMBRO | OUTUBRO 2013


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