2 minute read

Á

Next Article
SINOPSE A

SINOPSE A

Avó Maria Aquela que sabe. Ninguém pode ocupar o lugar dela, precioso. Ainda assim ninguém a vê. Traz consigo a sabedoria das várias voltas ao Sol, desde sempre. Lida com os ciclos, com serenidade e ligeireza, resistindo às tempestades mais duras, e tirando o melhor das Primaveras, para tod@s.

Toma um chá com o medo, sempre que ele aparece. Dança com os dragões internos e distingue lobos e cordeiros à distância. Afaga a tristeza e queima a dor no mesmo lume com que cozinha, para tod@s.

Advertisement

O seu sorriso é de resistência, os seus pés conhecem os caminhos mais escuros e as suas mãos, doridas e cuidadoras contam-nos vidas, coisas antigas.

Mas os seus olhos, dão-nos murros no estômago, tiram nos o sono, mas também nos trazem coragem, vontade de pelo menos, tentar fazer melhor, pelos seus netos e bisnetos.

Não creio, honestamente, que ela saiba, que enquanto trança a sua história e a dos outros, com paciência, amor e simplicidade, a Grande Mãe se manifesta, em silêncio, quietude e intimidade.

Ao longo da semana em que desenvolvi este projecto, vivi numa nova rotina, num novo território e tive a oportunidade de conhecer mulheres guerreiras, onde partilhei momentos com um grupo de pessoas grandes, pela sua educação, pela sua criatividade e por me surpreenderem nos dias em que experimentei com elas este projecto.

Quando aceitei este desafio da Kutsaca, não conhecia o território onde iria desenvolver este trabalho, mas no primeiro contacto que tive com a aldeia de Mahungo e com estas mulheres, era como se já estivesse escolhido antes de o conhecer. Descobri nestas mulheres uma enorme força interior, temas e mensagens que estão muito longe da minha realidade. De alguma forma, tudo era novo para mim e também para elas.

Foi através da fotografia que fui descobrindo o que sentiam, o que gostavam de comunicar, quem eram, tema central do trabalho desenvolvido por mim durante este processo. No primeiro dia percebi que tinha um grupo de mulheres com ideias e gostos bem definidos, o que me fez ficar apaixonada por este projecto.

O primeiro desafio que lhes lancei foi desenharem e explicarem qual a mensagem que queriam passar, quem são enquanto Mulheres, o que sentem. Cada uma escreveu o tema e imaginou uma cena fotográfica. A partir daqui foi todo um processo de criação fotográfica, onde se ajudavam umas às outras, num processo que partiu de individual para colectivo, em que no seu desenvolvimento, já se procurava um maior rigor na imagem e na mensagem a passar.

No final, a frase que acompanha a imagem, é clara e sem medos. Pretendi com este projecto, que o simples acto de disparar, que o registo de um momento se transformasse num documento que contemplasse histórias, emoções e relações. Foi um processo de experiências onde se recolheu, viu e se conversou sobre a vida e sobre as suas fotografias, atingindo assim uma atmosfera de criatividade colectiva.

A minha abordagem junto das mulheres foi sempre informal para tentar criar envolvimento. Não procurei a qualidade técnica dos trabalhos, mas privilegiei as intenções e escolhas de quem fotografou, fomentando o lado narrativo das imagens.

Neste projecto as mulheres exploraram o seu quotidiano e reflectiram sobre as suas vidas através do acto de fotografar. A fotografia é isto, tem o poder de comunicar e como algumas mulheres disseram, de mostrar em imagens o que sentimos.

Tânia Araújo

This article is from: