O livro de Pedro Marinho Falcão, in Advocatus

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O livro de…

Pedro Marinho Falcão

Como companhia de leitura prefiro habitualmente obras que tenham uma ligação com um facto real, com um acontecimento marcante, socialmente relevante. O pragmatismo que a profissão impõe nunca me cativou para ler romances e mesmo da adolescência não guardo na memória a leitura de livros de banda desenhada que tanto entusiasmavam os amigos com quem convivia. Foi neste contexto que resolvi abordar uma obra cujo conteúdo merece, pela sua valia, ser revisitada e que trata um acontecimento que me marcou: a queda da aeronave que vitimou o primeiro-ministro de Portugal Francisco Sá Carneiro. Em dezembro de 2001, Ricardo Sá Fernandes publicou o “Crime de Camarate”, obra que corresponde a um trabalho hercúleo de investigação do autor e que retra40

Fevereiro de 2014

ta, não obstante a circunstância de ser escrita pelo advogado que defendeu as vitimas, de forma séria e racional os factos, provas e evidências da queda do aparelho que transportava em 4 de dezembro de 1980, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Trata-se de uma investigação com relevantíssimos dados sobre um tema de interesse nacional e que elucida o destinatário sobre as razões e os factos associados à queda do Cessna. Li - e em alguns capítulos reli - o “Crime de Camarate” e pude ao longo das cerca de 600 páginas da obra perceber o que de facto aconteceu naquela noite. Não só o acidente, mas as circunstâncias que lhe estavam associadas e que de forma exemplar são explicadas pelo autor. Mas no final da ponderação deste trabalho, passei a conviver

com outra dúvida que ainda hoje transporto e que é, para mim, mais preocupante: por que razão não quis a justiça portuguesa fazer o julgamento perante a evidência das provas? Como afirma Ricardo Sá Fernandes “o local adequado para apresentar e discutir esta demonstração seria o tribunal, no decurso de um julgamento público”, mas os tribunais portugueses foram proferindo sucessivas decisões de arquivamento, impedindo o julgamento dos factos, validando desta forma a tese oficial das autoridades de que o Cessna caiu por falta de combustível e que se tratou de um acidente. A conclusão a que cheguei pela leitura deste trabalho é precisamente a contrária e sinto o desconforto de não perceber o comprometedor silêncio da justiça portuguesa.

Pedro Marinho Falcão Sócio da Nuno Cerejeira Namora, Pedro Marinho Falcão & Associados. Licenciado pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique.

O agregador da advocacia


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