Jornal OPaís edição 1698 de 25/12/2019

Page 1

‘O Presidente da República concluiu que 2019 foi um ano de justificações das suas medidas’ ECONOMIA: O professor de Macroeconomia, Yuri Quixina,considera ‘contraditório’ rotular

comerciantes de ‘desonestos’, numa economia onde o custo de produção e a carga fiscal são os principais desafios dos investidores. P. 20 Director: José Kaliengue www.opaís.co.ao e-mail: info@opaís.co.ao @jornalopaís facebook/opaís.angola

O diário da Nova Angola

Edição n.º 1698 Quarta-feira 25 /12 /2019 Preço: 40 Kz

dr

É Natal, É natal! EMFOCO: Hoje é Natal. Dia de festa para uns e um dia normal para outros. OPAÍS traz na presente edição o ponto de vista de um sacerdote, de um sociólogo e de um ateu sobre esta efeméride que movimenta milhares de pessoas e milhões em capital financeiro pelo mundo. P. 10 Nuno Dala: “Não acredito em Deus” Em pleno ambiente natalício, OPAÍS procurou ouvir a opinião de Nuno Álvaro Dala, um activista cívico que se diz convicto e que fez parte do caso 15+2. Porém, não para falar de activismo, mas da outra faceta dele que pouca gente conhece. Trata-se da sua veia cristã com os principais sacramentos na Igreja Católica e experiências religiosas com as Testemunhas de Jeová, os metodistas, os pentecostais entre outros grupos, mas se tornou incrédulo relativamente à existência de Deus P. 12

l

Daniel Pires “Não podemos empreender no sector têxtil sem que antes tenhamos indústrias”

CASA-CE diz que situação social de Benguela piorou nos últimos dois anos

Selecção Nacional de Andebol retoma preparação para o Africano

l A posição da Convergência Ampla

l Depois da pausa para o Natal, o sete sénior masculino volta aos trabalhos em Luanda, visando a prova que a Tunísia acolhe de 16 a 20 de Janeiro de 2020. P. 26

de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), consta num relatório que se ocupa da avaliação da situação social na província de Benguela. P. 8

Assistência religiosa e limpeza marcam jornada da Igreja Messiânica no Hospital do Capalanga


EM FOCO

2

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

Empresas que se atrasem no pagamento de salários serão punidas A Inspecção Geral do Trabalho no Bié dá até 31 de Dezembro para as empresas regularizarem as suas dívidas com os trabalhadores. Caso não cumpram, a partide de 6 de Janeiro sofrerão as consequências Com ANGOP

<S

etenta por cento das empresas privadas ligado ao ramo do comércio, indústria, hotelaria, prestações de serviços e construção civil, da província do Bié, ainda têm salários, subsídios de férias e de Natal por pagar aos trabalhadores. A lista incluiu 196 empresas que, segundo o chefe dos serviços da Inspecção Geral do Trabalho (IGT), António Caquarta de Oliveira, têm até ao dia 31 de Dezembro deste ano para pagar os salários, subsídios de férias e de Natal. Com vista a repor a legalidade, a instituição alertou as empresas para honrarem os compromissos, salientando que, em caso de incumprimento, a IGT, a partir do dia 6 de Janeiro de 2020, vai aplicar multas. A IGT, este ano, registou 911 infracções laborais, menos mil e

89 em relação a 2018, nos municípios do Cuito, Andulo, Camacupa e Chinguar. A redução deveu-se às campanhas de sensibilização junto das empresas. Segundo o responsável, a instituição continua a necessitar de mais inspectores e meios de trabalho para expandir as actividades aos municípios de Catabola, Cuhinga, Cuemba, Nhârea e Chitembo (Bié). A IGT realizou 212 visitas inspectivas e aplicou 40 multas/autos de notícias. Destas, 15 foram já pagas, arrecadando dois milhões 463 mil 729 kwanzas. No período em análise, salientou, recebeu 277 pedidos de mediação, dos quais 217 resolvidos, com indemnização de quatro milhões 448 mil 210 kwanzas a favor dos trabalhadores. Enquanto 60 casos não tiveram consenso (empresas/trabalhadores), tendo sido encaminhados ao tribunal local para o procedimento jurídico. Foram notificados, no presente ano, nove acidentes de trabalho.

Corpo de bebé de cinco meses removido na via pública no Huambo

A

s autoridades policiais removeram, no último fimde-semana, o corpo de um bebé de, aproximadamente cinco meses, encontrado numa das vias terciárias no bairro da Calomanda, arredores da cidade do Huambo, somando dez casos de abandono de recém-nascidos em rios e lixeiras deste Junho deste ano. O facto consta no relatório do Comando da Polícia Nacional na província do Huambo enviado esta Terça-feira à ANGOP, sobre a situação delituosa na região no aludido período, no qual se pode ler que o corpo do recém-nascido foi, supostamente, depositado no local

pela própria mãe, que se encontra em fuga, por razões ainda desconhecidas. O caso, o décimo registado desde Junho, com o abandono de bebés em lixeiras e rios, alguns dos quais com vida e outros mortos, devido às condições em que foram expostos, abalou a população da localidade que condenou o acto bárbaro, por dizimar a vida de um inocente ainda em fase de formação. Perante tal facto, a Polícia Nacional reafirmou o seu compromisso de realizar diligências no sentido de encontrar a autora, para que seja responsabilizada pelo acto e, de igual modo, desencorajar prá-

ticas do género. Ao todo, o documento indica que durante o fimde-semana, foram registados 36 crimes de natureza diversa, contra os anteriores 48, que culminara na detenção de 42 cidadãos implicados no cometimento dos ilícitos criminais. Em alguns destes cidadãos, cujas detenção resultaram das denunciais da comunidade e das operações da Polícia Nacional, em coordenação com o Serviço de Investigação Criminal (SIC), foram-lhes retirados uma arma de fogo, 15 botijas de gás butano, um fogão, igual número de televisor e vários meios electrónicos e utensílios domésticos.


PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

3

Preços da cesta básica voltam a subirno Huambo Com ANGOP

F

altando menos de 24 horas para a celebração da festa de Natal, os preços dos principais produtos da cesta básica registaram um ligeiro aumento nos mercados formais e informais da província do Huambo, segundo apurou ontem (Terça-feira) a ANGOP. Numa ronda em alguns armazéns, lojas e em mercados informais, foi possível constatar que o período festivo influenciou na alteração dos preços, registando-se uma subida ligeira, em comparação aos praticados antes do dia 20 do mês em curso. Entre os produtos com alteração variável, destaca-se a farinha

de trigo com os preços a rondarem entre os 19 mil aos 20 mil kwanzas, o saco de 50 quilogramas, ao passo que o cartão de ovo, com 30 unidades, estava a chegar à mesa dos consumidores a dois mil e 700, contra os anteriores mil e 600, tratando-se dos produtos mais procurados nesta fase do ano. Entre os mais procurados, estavam também o açúcar, cujo preço do saco de 50 quilogramas está a ser vendido a 15 mil kwanzas, contra os 12 mil anteriores, ao passo que o de arroz, de 25 quilogramas, subiu de 10 mil para 11 mil, tal como o óleo vegetal, que passou de nove mil para 10 mil. Estes bens, segundo constatou a ANGOP, registaram um aumento com uma variação máxima de 10 por centro dos seus valores anteriores.

Ainda entre os bens da cesta básica com preços alterados, estão o peixe, o frango e outros de origem animal, como a carne, o leite e a manteiga. Para o caso do frango, a caixa de 10 kg, que anteriormente custava nove mil, já ultrapassava o valor de 12 mi kwanzas e a peixe, sobretudo o carapau, de 20 kg, passou de 19 mil para 22 mil, ao passo que a carne de vaca, estava, ontem, no mercado informal a ser comercializada a dois mil e 500 e, no formal a 3000 mil por quilograma, com um aumento de 500 Kwanzas. Já o leite e a manteiga registaram uma variedade a depender da qualidade de cada produto. Em reacção a esta subida dos preços, o chefe dos serviços provinciais do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC)

no Huambo, Afonso Chicucuma, disse ser normal que tal aconteça nesta fase do ano, tendo em conta as dificuldades que os comerciantes enfrentam na importação dos bens alimentares, numa altura em que o país debate-se com a crise económico-financeira. Não obstante a essa situação, informou que o INADEC está a desenvolver acções de fiscalização nos estabelecimentos comerciais, para evitar a especulação de preços e a venda de produtos impró-

prios ao consumo humano, que, por sua vez, deve contar com o envolvimento de todos na denúncia de tais práticas. Com uma extensão territorial de 35.771 quilómetros quadros, na província do Huambo, onde vivem dois milhões, 519 mil e 309 habitantes, distribuídos em 11 municípios, funcionam 4075 estabelecimentos mercantis e de prestação de serviços, de um total de 5700 licenciados pelas autoridades locais.

AF_TAAG_NIGERIA_JORNAL O PAÍS_276X177,8mm.pdf 1 09/12/2019 13:08:16 PUB

A partir de:


4 destaques política. PÁG. 08 CASA-CE diz que situação social de Benguela piorou nos últimos dois anos

SOCIEDADE. PÁG. 10 Natal: uma das festas mais importante do Cristianismo.

o editorial

hoje:

O Dia das crianças

O

dia que hoje se comemora é o mais esperado pelas crianças do mundo cristão. É dia de brinquedos, de carinho, de família. É dia de amor.

cartaz. PÁG. XX Daniel Pires “Não podemos empreender no sector têxtil sem que antes tenhamos indústrias”

ECONOMIA. PÁG. 18 Diversificar a

economia é muito mais que aprovação de decretos”

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

Mas é também um dia em que os adultos se reconciliam, se juntas, festejam e refectem sobre as suas acções ao longo do ano. É um dia de paz e de esperança. Neste dia, nas acções religiosas se ora pelo futuro, pela livração dos pecados. Se reza igualmente pelos governantes, para que a Luz os ajude a levar o país ao melhor destino, que é a felicidade do seu povo. O Governo inteiro, ou quase, celebrou já o Natal com crianças desfavorecidas, que além da festa tenha ficado reforçada a força suficiente para congregar toda a sociedade numa caminhada conjunta que leve a que as actuais dificuldades do país se dissipem de imediato, vontade expressa do Presidente.

os números do dia

1

44

Está-se a formar e promover jovens com perfil de comando e liderança e com elevado conhecimento da história e tradição de luta do povo angolano” General Sá Miranda

Comandante do Exército

Crianças portadoras do VIH/SIDA ganharam no distrito urbano do Zango, no município de Viana, em Luanda, um almoço solidário no âmbito da quadra festiva, numa organização do Complexo Hoteleiro ‘’Sport Bar 2 Amores’’

100 778

o que foi dito mundo . PG. 22 Putin: é preciso monitorar mísseis de curto e médio alcance dos EUA na Europa e Pacífico

Mulher, de 31 anos, foi morta à paulada na localidade de Shangalala, município de Ombadja, província do Cunene, pelo marido, de 37 anos, após desentendimento entre o casal.

A quadra festiva constitui a ocasião em que as famílias partilham momentos fraternos, com alegria e conquistas, bem como avaliar o ano que termina” Joffre Van-Dúnem Júnior Ministro do Comércio

Idosos, entre os quais 60 do lar da terceira idade da Cahala e 40 residentes nas redondezas do centro, beneficiaram de cestas básicas na província de Malanje.

Técnicos médios de saúde especializados em enfermagem, análises clínicas, cardiologia e pediatria, estão preparados a servir o sector na província de Luanda.

A ida à igreja Bom Deus visou, igualmente, reforçar os laços de parceria existentes e encorajá-la a prosseguir o trabalho de evangelização e de luta contra o alcoolismo e a delinquência” Luísa Damião Vice-presidente do MPLA


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

5 e assim... José Kaliengue Director

É mais o espírito...

Hoje no online de O PAÍS leia a entrevista com Luzia Dumbo Aberdolai e saiba mais sobre a implementação de políticas públicas em Angola e o combate à criminalidade

A

www.opais.co.ao Natal : Os cristãos celebram hoje o Nascimento de Jesus Cristo, num dia que se quer de paz, harmonia e amor (DR)

o que vai acontecer Internacional O Parlamento britânico aprovou o plano do Primeiro-Ministro, Boris Johnson, para o Brexit, o que possibilita ao Governo conservador cumprir a promessa de consolidar a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) até 31 de Janeiro de 2020. A maioria obtida pelo Partido Conservador de Johnson nas eleições de 12 de Dezembro permitiu que o texto fosse aprovado por 358 votos contra 234. O resultado na Câmara dos Comuns deve permitir uma ratificação do acordo sem sobressaltos, nas próximas etapas do processo no Parlamento. A votação marca o fim do período de incertezas.

Andebol A Selecção Nacional de andebol sénior masculina prossegue hoje, às 8:30, os trabalhos de preparação no Pavilhão Principla da Cidadela Desportiva, em Luanda, tendo em vista o Campeonato Africano das Nações (CAN), em 2020, na Tunísia. O seleccionador Nelson Catito disse que mesmo no auge do seu optimismo, uma participação a augurar a manutenção da 3ª posição da edição “Gabão’2016”, depende da qualidade do estágio que a Federação organizar. Para isso, o técnico pede aos jogadores vão engajamento nos treinos de modo a concretizar o objectivo

Basquetebol A Associação Provincial de Basquetebol da Huíla (APBH) trabalha na criação de condições, para albergar, em Janeiro de 2020, o Campeonato Nacional da modalidade nos escalões de sub-14, em ambos os sexos. Henriques Albano, presidente de direcção da APBH, confirmou que na reunião com a Comissão de Gestão da Federação Angolana de Basquetebol, ficou decidido que as provas programadas deveriam ser adiadas de Dezembro para Janeiro de 2020. O responsável garantiu que o certame, nos escalões de sub-14 em masculino e feminino, tem o arranque previsto para o dia 7 de Janeiro de 2020, na cidade do Lubango.

Sociedade Várias estradas de-

gradadas que fazem ligações entre os municípios, e quase a totalidade das comunas, na província do Uíge, vão começar a ser reabilitadas nos próximos dias. O Governo Provincial recebeu diversos equipamentos para trabalhos de terraplenagem e asfaltagem do Ministério da Construção e Obras Públicas. Entre os equipamentos, constam pá carregadora, uma máquina buldózer, uma moto - niveladora, máquina giratória, mini carregadora, cilindro de rolo liso, cilindro pé de Carneiro, retro escavadora, tractor agrícola, duas viaturas de apoio, um caminão basculante entre outros meios.

lguma coisa está mesmo mal, para se ver tanta tristeza nos rostos das pessoas neste Natal. Mas não é apenas a falta do que levar à mesa o que traz tristeza aos angolanos. Na verdade, milhões de angolanos já passaram por momentos piores. A conjuntura de guerra ajudava a viver a carência de forma diferente, é verdade, inventava-se, mas mesmo naqueles momentos havia um centelha lá a frente, uma esperança, uma espécie de certeza, ainda que fosse da incerteza com que se vivia, porque importava, sobretudo, viver o momento. Agora não. Há tristeza, desesperança. Uma descrença qualquer. E o curioso é que tudo isto acontece quando o Governo está em contenção para sanear as contas e deixar o país em condições de merecer investimentos e até empréstimos externos, o que seria esperançoso. Seria bom que neste momento a produção nacional aproveitasse para crescer e ocupar espaço no mercado, mas não, também ela, a pouca que existe, está pouco competitiva, em modo suicida, com preços que afugentam. Tudo isto leva à criação de um clima pesado, de rostos fechados. Este Natal está triste porque não se conseguiu ainda iluminar a esperança. O pior não é a falta de comida na mesa, é a falta de sonhos, de esperança. E quando se apagam os sonhos... Aliás, ainda que todas as mesas estivessem fartas, sem espírito de Natal não há Natal. E é isto o que falta este ano. Governo, igrejas, empresas falharam, não acenderam a vela.

E também... Dia de Natal - 25 de Dezembro É neste dia que se comemora o nascimento do Menino Jesus, filho da Virgem Maria e de São José. Na noite de 24 de Dezembro as famílias reúnem-se para a Ceia de Natal. À mesa, degustam as iguarias de Natal, tal como o bacalhau, as rabanadas, o pão-deló, o bolo-rei, os sonhos de Natal, entre muitos outros alimentos tradicionais da época. Às 00h00 do dia 25 de Dezembro realiza-se a tradicional Missa do Galo em certas localidades do país. Algumas famílias assistem a esta missa, que comemora o nascimento do Menino Jesus, em Belém. Em casa, beija-se o Menino Jesus do presépio à meia-noite.


6 Media Nova, S.A Presidente do Conselho de Administração Filipe Correia de Sá Administradores Executivos Luís Gomes Paulo Kénia Camotim Propriedade : Socijornal Depósito Legal: Nº 244/2008 Contribuinte: 5417015059 Nº registo estatístico: 48058

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

no tempo do kaparandanda

Director Geral de Publicações: José Kaliengue jose.kaliengue@opais.co.ao

opaís

Director: José Kaliengue Sub-Director: Daniel Costa, daniel.costa@opais.co.ao Chefe de Redacção: Eugénio Mateus, eugenio.mateus@opais. co.ao Grande repórter: André Mussamo andre.mussamo@opais.co.ao Editorias : Política: Ireneu Mujoco ireneu.mujoco@opais.co.ao (Editor) Sociedade: Paulo Sérgio paulo.sergio@opais.co.ao (Editor) Romão Brandão romao.brandao@opais.co.ao (Sub-editor) Economia Luís Faria (Coordenador-Editor) luis.faria@opais.co.ao Desporto: Sebastião Félix sebastiao.felix@opais.co.ao (Editor) Mário Silva mario.silva@opais.co.ao (Sub-editor) Cartaz: Jorge Fernandes jorge.silva@medianova.co.ao (Sub-editor) Redacção: Norberto Sateco, Alberto Bambi, Augusto Nunes, Rila Berta, Miguel Kitari, Domingos Bento, Neusa Filipe, Afrodite Zumba, Milton Manaça, Antónia Gonçalo, Maria Teixeira, Iracelma Kaliengue, Patrícia Oliveira, Stela Cambamba, Zuleide de Carvalho (Benguela),Brenda Sambo, Maria Custódia, Kiameso Pedro e Adjelson Coimbra. Arte: Ladislau Bernardo (Coordenador) Valério Vunda (Coordenador adjunto)Lourenço Pascoal, Annette Fernandes, Nelson da Silva e Francisco da Silva. Fotografia: Carlos Moco (Editor), Daniel Miguel (Sub-editor), Pedro Nicodemos, Jacinto Figueiredo, Carlos Augusto, Virgílio Pinto, Lito Cahongolo (repórteres fotográficos), Rosa Gaspar e Yuri dos Santos (Assistentes de Departamento) Revisão: António Setas

1882

25 de Dezembro Edward Johnson, um dos companheiros de Thomas Edison, iluminou, pela primeira vez, uma árvore de Natal com lâmpadas eléctricas

1971

25 de Dezembro O general Idi Amin Dadá liderou um golpe de Estado no Uganda, destituindo o Presidente Milton Obote

1991

25 de Dezembro Mikhail Gorbachov demitiu-se de todos os cargos que detinha na ex-União Soviética e afastou-se do poder

carta do leitor

DR

Agências: Angop, AFP, Reuters, Getty Images

Assistentes de Redacção: Antónia Correia, Rosa Gaspar, Inês Monteiro e Sílvia Henriques Impressão e acabamento: DAMER, S. A. Luanda Sul, Edifício Damer Distribuição: Media Nova Distribuição Tel: +244 943028039 Distribuidora@medianova.co.ao pontodevenda@medianova.co.ao Assinaturas: Bruno Pedro Tel: +244 945 501 040 Bruno.Pedro@medianova.co.ao Online: Venâncio Rodrigues (Editor)Isabel Dalla e Ana Gomes Sítio Online: www.opais.co.ao Contactos: info@opais.co.ao Tel: 914 718 634 -222 003 268 Fax: 222 007 754 Sede: Condomínio ALPHA, Talatona- Luanda. Tel: 222 009 444 República de Angola

Comercial e Marketing: Senda Costa 922682440 Vladimir Teixeira email: comercial@medianova.co.ao Tiragem: 15 000 exemplares

Que as famílias sejam mais unidas Caro director Hoje é dia 25 de Dezembro, uma data em que as famílias, à mesa, reflectem o ano que passou e ao mesmo tempo perspectivam o Ano Novo. Com isso, espero que as famílias anglanas e outras consigam traçar planos ou pro-

jectos que unifiquem cada vez mais a célula que se desenvolve a sociedade. Os tempos são outros, logo, novas abordagens devem surgir para tirar a família angolana do marasmo em que se encontra. Os valores, a ética e a educação escolar devem merecer a atenção dos encarregados de educação

com os seus destinatários, ou seja, os filhos. Outras instituições públicas e privadas são também chamadas nesse processo, uma vez que o sucesso da família refelcte-se sempre na sociedade. Por isso, vamos acreditar numa Angola com famílias mais unidas

e com valores mais sólidos para a construção da sociedade que se pretende. Espero que o Ano Novo traga bons ventos para a família angolana, uma vez que as dores de 2019 ficam para o passado. Feliz Ano Novo! Juvenal O. Diavuta

Escreva para o Jornal OPAÍS através do e-mail info@opais.co.ao ou ligue para estes contactos Tel: 222 003 268 Fax: 222 007 754



POLÍTICA

8

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

CASA-CE diz que situação social de Benguela piorou nos últimos dois anos Irregularidades A CASA-CE denúncia ainda a existência de um processo malparado que envolve 49 professores retirados da lista do concurso público desde 2003, por, alegadamente, serem militantes da UNITA. Há 16 anos que os mesmos vem requerendo a reinserção, mas, segundo o relatório da CASACE, nunca obtiveram da parte do Gabinete Provincial da Educação uma resposta plausível e “o processo ficou abafado”. Em relação ao sector da Saúde, esta organização política lamenta a má prestação da assistência médica e medicamentosa, falta de quadros no Hospital Geral de Benguela e o despedimento de 200 funcionários.

Vista parcial da cidade de Benguela, capital da província com o mesmo nome, onde a situação sócio-económica está degradada, segundo a CASA-CE

A posição da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) consta num relatório que se ocupa da avaliação da situação social na província de Benguela Constantino Eduardo, em Benguela

O

documento a que OPAÍS teve acesso salienta que a falta de escolas para absorção de alunos que transitam do ensino primário para o secundário, em aldeias e comunas, provoca o êxodo de adolescentes às cidades. Quem não migra fica fora do sistema de ensino. O relatório reitera que a desvalorização da moeda, associado à entrada do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA), reduziu consideravelmente o poder de

compra do cidadão local e as políticas de protecção social ficam muito aquém do desejado. De acordo com o relatório, que resultou de um périplo efectuado pelo secretário da CASA-CE, Zeferino Kuvíngua, aos 10 municípios, o Governo de Benguela, liderado por Rui Falcão, é apontado por menosprezar o sector primário da economia. Indústria transformadora Na perspectiva da terceira força política do país, as indústrias nesta circunscrição estão esquecidas e o Governo não tem uma visão “do valor e da importância da indústria transformadora”,

citando como exemplo o facto de as fábricas de açúcar, óleo, massa de tomate, na Capupa (Cubal), Celulose do Alto Catumbela, na Ganda, estarem votadas ao abandono. Se essas unidades fabris fossem relançadas, a CASA-CE, segun-

“Muita gente vive em casa com iminência de desabar ou em casa de chapas, sem terrenos para erguer uma casa melhor”

do argumenta, acredita que se resolveria parte do problema do desemprego com que a província se tem vindo a debater, “A inauguração da fábrica alimentar pelo Presidente da República, recentemente, foi um exemplo da iniciativa que queremos”, diz a CASA-CE. Sector social Na perspectiva do político, não se nota, da parte do governador Rui Falcão, acção para a inversão do actual quadro, o qual qualifica de degradante. “O povo vive muito mal”, sustenta o relatório. O documento acrescenta haver uma gritante falta de habitação. “Muita gente vive em casa com iminência de desabar ou em casa de chapas, sem terrenos para erguer uma casa melhor”, observa. Nesta perspectiva, a coligação eleitoral denúncia a falta de transparência na selecção de cidadãos para as centralidades nos municípios do Lobito, Catumbela e Baía-Farta.

Situação política de Benguela O relatório, denominado “Resultados Sobre a Situação Social, Política e Económica da província de Benguela”, escrutina vários sectores da vida governativa de uma região considerada estratégica para o poder político instalado em Luanda. Segundo o dossier, o país conheceu, há dois anos, uma nova forma de liderança. Os princípios de governação do Presidente João Lourenço subentendem a construção de um estado social e político de harmonia e reconciliado com todas as forças vivas da Nação. Entretanto, a CASA-CE em Benguela acusa os dirigentes da estrutura local de promoverem comportamentos que contrariam esses princípios defendidos pelo Presidente da República, porquanto continua a haver política de exclusão daqueles que “pensam diferente do partido no poder”. Intolerância política O documento reclama, ainda, da intolerância política de que têm sido alvos os partidos da Oposição no interior da província, com o município do Bocoio a capitanear a lista de ocorrências, razão por que chama a atenção à Polícia Nacional (PN) para a necessidade de se estancar determinados focos naquela circunscrição.


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

9

Governo investe mais de 3 mil milhões de kwanzas na construção da rede SIAC O investimento feito pelo Governo permitiu a ar-

recadação para a Conta Unida do Tesouro (CUT) do valor de 192.500.458.172 kwanzas por via dos vários serviços que a unidade presta Domingos Bento

N

o âmbito da politica pública de simplificação e descentralização dos serviços da administração estatal, o Governo investiu, nos últimos anos, a quantia de 3 mil milhões, 693 milhões, 507 mil e 883 kwanzas para a construção de 13 unidades da Rede de Serviços Integrados de Atendimento ao Cidadão ( SIAC), que é um conceito de serviço público orientado para a transparência, funcionalidade e humanização com a utilização de tecnologia de informação e comunicação. O investimento feito pelo Governo permitiu a arrecadação para a Conta Única do Tesouro (CUT) do valor de 192 mil milhões, 500 milhões, 458 mil e 172 kwanzas por via dos vários serviços que as unidades prestam. Só de 2017 a 2019, a rede SIAC emitiu 336 mil e 148 Bilhetes de Identidade, 105 mil 760 registos criminais, 131 e 209 cartas de condução e 3 mil e 836 livretes. Ainda no mesmo período, foram

registadas 93 mil e 624 crianças e atribuídos 200 mil e 695 números de identificação fiscal. Todos esses serviços foram emitidos em tempo célere, o que permitiu que os utentes ficassem menos tempo na fila de espera a aguardar pelo atendimento, como tem acontecido nas conservatórias e noutros serviços notariais. O ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), Jesus Faria Maiato, disse que, apesar da satisfação do público mediante a procura constante dos serviços prestados, ainda há necessidade de se continuar a estender a rede a outras partes do país, para permitir que os cidadãos despendam menos esforços quando precisarem de tratar documentos importantes para o seu dia-a-dia. Explicou que o Governo angolano investiu na construção da rede SIAC para permitir que os cidadãos tratem de vários assuntos num só lugar, sem ter a necessidade de se deslocar para outros pontos. “O cidadão tem a possibilidade de poupar esforços e tratar variados

assuntos em tempo célere e com o respeito devido que as administrações públicas e privadas têm a obrigação de prestar a cada um dos utentes”, frisou. Estender o SIAC em todas as províncias Segundo ainda Jesus Maiato, tendo em atenção a enorme procura dos serviços pelos cidadãos, o Governo achou por bem estender o SIAC para todas as capitais de província, para evitar a movimentação de um lugar para o outro. Em Luanda, frisou, a grande necessidade prende-se com a zo-

na Sul onde se assiste ainda à uma enorme procura pelos serviços. “Por exemplo, a unidade de Talatona está a registar a presença de muitos cidadãos que são provenientes do Porto Amboim, o que pressupõe dizer que há toda a necessidade de estender os serviços de modos a evitar a essa movimentação”, apontou. Para o próximo ano, o governante deu a conhecer que entrarão em funcionamento outras unidades da rede SIAC, como são os caso da Huila, Luena e da Centralidade Marconi, no distrito de Ngola Kiluanje ( bairro Petrangol), municí-

pio do Cazenga. “A ideia é irmos expandido os serviços da rede para permitir que mais cidadãos tenham acesso e conheçam as vantagens de frequentar o espaço e usufruir de todos os serviços prestados”, frisou. Jesus Maiato, que falava durante o acto de inauguração do SIAC Kalawenda, no Cazenga, disse que os serviços têm a obrigação de continuar a fazer com que os cidadãos se sintam valorizados. Para o efeito, apelou a que os trabalhadores adoptem uma postura que contribua para um serviço público eficiente e de qualidade.

Jovens baleados no Huambo já estão fora do perigo

O

s dois jovens baleados pela Polícia Nacional no Huambo, durante uma manifestação decorrida nesta cidade, já estão fora de perigo, segundo uma fonte do jornal OPAÍS. Segundo a fonte, os dois jovens, cujos nomes não avançou, que passaram ao licenciamento das Forças Armadas Angolanas (FAA) para a Polícia Nacional (PN), estavam a receber tratamento num posto médico privado. Um sofreu ferimentos ligeiros no tórax, perto do coração, e o outro na perna esquerda (região de fémur), provocados por disparos de agentes de Polícia Nacional quando se manifestavam para a exigir o

seu enquadramento corporação. Entretanto, um comunicado da Polícia Nacional dizia que o facto ocorreu na Sexta-feira, 21, e que tudo aconteceu quando um grupo de cerca de 60 cidadãos, licenciados e desmobilizados das FAA, interditou durante meia hora algumas ruas e protagonizou acções de arruaça, com o arremesso de pedras, paus, queima de pneus e destruição de contentores de lixo. Os manifestantes reclamavam do processo de selecção para o ingresso na Polícia Nacional, o que levou a uma reacção das forças da ordem para repor a normalidade da situação.

O documento acrescenta ainda que, não satisfeitos com a presença policial, os mesmos, que pretendiam chegar ao Palácio Provincial, arremessaram pedras contra os agentes destacados no local e os seus meios, numa acção que resultou no ferimento de um agente e de três manifestantes, que acabaram por receber tratamento médico no Hospital Militar Regional. A Polícia Nacional dá ainda conta de que estes cidadãos, que reclamam por ingresso nesta corporação, tinham sido reprovados nos testes realizados, por não preencherem os requisitos exigidos para o seu quadro de pessoal.


sociedade

10

O PAÍS Quarta-feira,25 de Dezembro de 2019

Natal: uma das festas mais importantes do Cristianismo

vanta dúvidas mesmo entre os fiéis católicos mais desprevenidos”, lamentou. Acrescentou que muitos atacam o Natal como se fosse uma festa pagã, um invento dos católicos, tornando a data numa festa de promoção consumista ou de festa de família.

Hoje é Natal. Dia de festa para uns e um dia normal para outros. OPAÍS traz, na presente ediçã,o os pontos de vista de um sacerdote, de um sociólogo e de um ateu sobre esta efeméride que movimenta milhares de pessoas e de capitais financeiros pelo mundo dr

Presépio representando a circunstância em que ocorreu o Nascimento de Cristo

Maria Teixeira

O

padre José Esteves, da Igreja Católica, define o Natal como uma das festas mais importantes do Cristianismo, junto com a Páscoa e o Pentecostes, por, alegadamente, ser a celebração do Nascimento de Jesus Cristo. Explicou que o Natal é uma Epifania ou seja, a manifestação de Deus e da sua grande luz num menino, a que São Francisco de Assis, no século XII, ao iniciar a tradição católica do presépio, chamou de “a festa das festas”. Porém, para a sua Igreja, a “festa das festas” é a Páscoa, por representar “a ressurreição de Jesus

Cristo” que, alegadamente, ressuscitou da morte, criando para o homem um lugar no próprio Deus. No entanto, ressalta que São Francisco não mudou, nem quis mudar, a hierarquia das festas litúrgicas, nem a estrutura interior da fé com o seu centro no Mistério Pascal. “Graças a este santo e ao seu modo de crer e viver o Evangelho, descobriu-se numa profundidade totalmente nova a humanidade de Jesus”, frisou. Ele disse que desta forma, o “Filho de Deus” visto como menino, como verdadeiro filho do homem, toca com profundidade o coração do santo de Assis, transformando a fé em acto de ternura e de amor. Contou que com o nascimento de Cristo tornou-se clara a hu-

mildade de Deus, ressaltando que o seu filho nasceu na pobreza do estábulo. Nele, Deus fez-se de-

“Graças a este santo e ao seu modo de crer e viver o Evangelho descobriu-se numa profundidade totalmente nova a humanidade de Jesus”

pendente, necessitado do amor de pessoas humanas, reduzido à condição de pedir o seu e o amor da humanidade. O Natal tornou uma festa dos negócios José Esteves disse ainda que esta efeméride tornou-se uma festa dos negócios, cujo fulgor ofuscante esconde o mistério da humildade de Deus, que convida as pessoas à humildade, à simplicidade, à ternura, à compaixão e à alegria. “Com a proliferação de seitas que se proclamam “cristãs” e se apresentam como únicas intérpretes autorizadas das sagradas escrituras, as tradições mais genuínas do verdadeiro cristianismo vão sendo contestadas e a desinformação le-

Origem da celebração do Natal Em seu entender, o equívoco inicial é afirmar que os primeiros cristãos não comemoravam o Natal e que essa tradição teria começado com o imperador Constantino, ou com os franciscanos, no século XII (…). De acordo com José Esteves, o facto histórico, na verdade, é que os cristãos já comemoravam formalmente o nascimento do Cristo, pelo menos desde o segundo século, e é quase certo que o faziam informalmente antes disso. “Afinal, Deus mesmo determinou que nos alegrássemos pelo nascimento do seu Filho neste mundo –, Deus feito homem para a nossa salvação”, frisou. Para fundamentar a sua afirmação, recorreu a duas passagens na Bíblia que isso revelam: A primeira está no segundo capítulo de Lucas, versículos de 10 a 12, segundo a qual os anjos, logo após o nascimento do Menino Deus, clamam aos pastores. “Não temais, eis que vos anunciamos uma Boa Nova, que será de alegria para todo o povo: hoje vos nasceu, na Cidade de Davi, o Salvador, que é o Cristo e Senhor!”. A segunda, não menos importante, encontra-se no Antigo Testamento. De acordo com o sacerdote, o profeta Isaías, no capítulo 9, versículo de 1 a 5, afirmava também que se deveria festejar o nascimento de Cristo, numa das passagens que considera de ser uma das mais belas: “O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz. Sobre os que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu a Luz. Suscitais um grande júbilo, provocais uma imensa alegria! Rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita porque um menino nos nasceu (…)”. José Esteves disse que o povo cristão é admoestado a alegrar-se e a celebrar o Nascimento de Cristo. “Há registos históricos desta celebração desde o ano 200 de nossa era (muito antes de Constantino, portanto), como, por exemplo, Clemente de Alexandria (150 dC) que chegou a declarar (atenção) que os teólogos do Egipto não guardavam nenhum dia do ano a não ser o Natal do Senhor”.


O PAÍS Quarta-feira,25 de Dezembro de 2019

11 cedida

Sobre a data 25 de Dezembro

O

pároco da paróquia de São Marcos explicou ainda que, segundo alguns estudos, a Igreja escolheu o 25 de Dezembro, dia em que os pagãos do Império Romano celebravam Mitra, o “Sol Nascente”, festa de luz, e os cristãos vivendo no meio dessa cultura introduziram esses elementos pagãos no cristianismo para celebrarem o verdeiro “Sol que nasce do alto”. “Contudo, é interessantíssimo e muito importante lembrar que recentes estudos acadêmicos vêm apontando que a decisão de celebrar o Natal a 25 de Dezembro pode ter sido bem mais alinhada aos

factos históricos e menos catequética do que expusemos até aqui e daquilo que é comumente aceite,

Celebrar o Natal em 25 de Dezembro pode ter sido bem mais alinhada aos factos históricos e menos catequética do que expusemos até aqui e daquilo que é comumente aceite, mesmo pela Igreja

mesmo pela Igreja. Para fundamentar a sua tese, recorreu à revisão dos cálculos do historiador judeu Flávio Josefo (37–100dC) e na comparação com outros cálculos de datações da época que atestaram que é totalmente possível – e até provável – a hipótese de que o monge Dionísio o Exíguo estivesse certo ao estabelecer, em 532, a data do Nascimento de Cristo no 8º “Dia das Calendas” de Janeiro do ano 754 da fundação de Roma. Ocorre que esta data, para surpresa de muitos, corresponde exatamente ao dia 25 de Dezembro do ano 1 a.C.

José Esteves, padre

cedida

Sociólogo considera ser um património cultural dr

O

Pedro de Castro Maria

“Há pessoas e instituições que aproveitam apenas para fazer marketing”

A

firma o sociólogo Pedro de Castro Maria que mais do que dar o peixe e uma vez por ano, a aposta deve ser em ensinar a pescar e prover para os que não podem adquirir por si mesmos o anzol e a linha e mostrar o caminho para o rio. Pedro de Castro Maria diz que há pessoas e instituições que se aproveitam dessa efeméride para apenas fazerem marketing das suas agendas, eventu-

almente políticas, comerciais ou outras, usando a solidariedade como meio para o alcance de tais reprováveis e repugnantes objectivos. Aproveitou a ocasião e desejou às famílias angolanas, festas felizes, com moderação e reflexão e que no ano que se avizinha, sejam redobrados os esforços, principalmente daqueles que dirigem o país, para que possamos ir tendo uma Angola melhor.

sociólogo Pedro de Castro Maria definiu o Natal como sendo uma festa sociologicamente relevante, uma vez que mobiliza e envolve largas massas populares, tendo-se tornado parte da cultura de muita gente. Na sua avaliação sobre a impotência que as pessoas dão a esta data (do Natal), afirmou que devido ao consumismo marcante das sociedades contemporâneas, o sentido cristão do Natal é subalternizado e as pessoas envolvem-se em actos mais de satisfação de seus egos. “Há tendência para muitos gastos supérfluos e os que podem vão mesmo até para a ostentação. Uma marca do novo-riquismo”, frisou. Sustentou essa sua tese alegando existirem famílias que passam por privações económicas durante grande parte do início do ano seguinte por causa dos gastos exagerados que são feitos durante a chamada quadra festiva. Por outro lado, disse que, em todo o caso, há aquelas pessoas que fazem do Natal, de facto, um momento de recolhimento e reflexão, quer sobre a sua vida cristã, quer sobre a união de suas famílias. Questionado sobre se acreditava que a mesma data contribui para a adopção de melhores comportamentos entre os seres humanos, Pedro de Castro Maria disse que essa efeméride deveria ser considerada e vivida como um momento de união entre as famílias, principal-

mente em Angola, onde, enquanto feriado nacional, assinala-se o Dia da Família. Entretanto, defende que uma efeméride, por si só, não é suficientemente capaz de se constituir em factor determinante para a tal pretendida união. “A união entre as famílias deve ser um processo que tem de ocorrer ao longo de todo o ano, e aí sim, a efeméride seria então simbolicamente relevante e seria celebrada como tal. O Natal, desse ponto de vista, não faz milagres”, afirmou. Pedro de Castro Maria disse que a experiência tem mostrado que a data não contribui para a adopção de melhores comportamentos entre os seres humanos, uma vez que aumentam as atitudes consumistas, sobretudo, no que tange ao consumo de bebidas alcoólicas e as consequências daí decorrentes tornam-se fatais, como os acidentes de viação e práticas nocivas ao salutar convívio social. Apesar disso, considera que de-

terminadas pessoas, famílias e instituições, em função das mensagens que recebem e que veiculam, procuram adoptar bons comportamentos e aperfeiçoam cada vez mais as suas condutas, mas é um processo. Quanto ao facto desta data ser usada para a realização de actividades de solidariedade para com os mais desfavorecidos, Pedro de Castro Maria considera ser bom que o ser humano e especialmente as instituições criem o espírito de solidariedade para com essa franja da sociedade. Para si, o Natal é uma boa ocasião para o reforço do cultivo desse espírito e a realização de várias actividades afins. “O que se tem de apelar aqui é há necessidade de se criar um mundo melhor, um país melhor, comunidades melhores e as acções de solidariedade devem ser periódicas e mesmo sistemáticas”, evidenciou.


sociedade

12

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

Nuno Álvaro Dala

“Não acredito em Deus”

No quadro do ambiente natalício, OPAÍS procurou ouvir a opinião Nuno Álvaro Dala, um activista cívico que se diz convicto e que fez parte do caso 15+2. Porém, não para falar de activismo, mas da outra faceta dele que pouca gente conhece. Trata-se da sua veia cristã com os principais sacramentos na Igreja Católica e experiências religiosas com as Testemunhas de Jeová, os metodistas, os pentecostais entre outros grupos, mas-se tornou incrédulo relativamente à existência de Deus

Maria Teixeira

P

ara si, o que representa o Natal? Não representa nada. Não acredito em Deus (ou deuses), Jesus Cristo, ou quaisquer outras figuras celebradas como salvadoras da Humanidade. Não acredito em nascimentos milagrosos. Não acredito em planos divinos de salvação da Humanidade, nem qualquer coisa semelhante. O Natal apenas me interessa como objecto científico (no âmbito da Antropologia, da Sociologia e da Psicologia). Como avalia a importância que as sociedades dão a essa celebração? As sociedades, incluindo a angolana, dão uma importância tanto religiosa quanto secular ao Natal. Importância religiosa porque se trata da celebração do nascimento do Filho de Deus, enviado à Terra para executar o plano de Deus de salvação da Humanidade, segundo a Bíblia. Os angolanos cristãos

– das mais diversas denominações, salvo excepção – celebram o Natal como um evento de significado universal, por entenderem que a vinda de Jesus Cristo na forma humana (através de um nascimento virginal) constitui um ponto singular na História da Humanidade. Então, celebram o Natal (palavra que significa nascimento) imbuídos de um espírito de congratulação, expressa através de expressões, símbolos e rituais de essência e alcance religioso. Por outro lado, há um grupo de pessoas que, mesmo não sendo religiosas (não necessariamente ateus, porque estes têm posições muito claras e fortes) celebra o Natal, mas sob um significado diferente. Se para os religiosos praticantes – cristãos – representa a homenagem ao Filho de Deus e ao seu nascimento virginal, para os do segundo grupo, o Natal é uma oportunidade para celebrar a família, a fraternidade, a cooperação, a paz, a harmonia, a reconciliação, etc. Para tais pessoas, não interessam a ideia-força e o conceito original, o objecto original e as finalidades originais do Natal. Interessa como momento do ano em que as pessoas celebram os valores e princípios que mencionei acima.

Essa efeméride pode ser considerada como um momento de união entre as famílias? Sim. Tanto os cristãos como os não cristãos (onde estão incluídas pessoas sem religião, embora crentes em algum deus ou coisa parecida) celebram o Natal como reunião das famílias e entre as famílias. Com o passar das décadas, até mesmo os cristãos passaram a celebrar o Natal mais pela dimensão familiar do que pela dimensão relativa ao objectivo fundamental que levou a Igreja Católica Apostólica Romana a instituir o Natal: celebrar o plano de Deus de salvação da Humanidade através da vinda do seu Filho Unigénito em forma humana. Acredita que o Natal contribui para adopção de melhores comportamentos entre os seres humanos? Em todas as sociedades onde o Natal é celebrado constata-se um problema grave: a secularização. Outro problema sério prende-se com o facto de o Natal ter si-


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

do transformado, a partir do século XX, numa feira de vaidades e hipocrisias. Nesse dia, salvaguardas as devidas excepções, as pessoas celebram uma série de valores e princípios, adornam os seus actos de celebração com discursos de paz, de reconciliação, de solidariedade etc., mas as realidades de uma sociedade decadente e cada vez mais insensível se tornam evidentes no dia seguinte. As pessoas que celebram o Natal não o fazem no quadro de um compromisso de superação. Passada a euforia, voltam a reproduzir as mesmas atitudes e comportamentos contrários ao estabelecido por Jesus Cristo, conforme o registo bíblico nos evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Como encara o facto dessa data ser usada para a realização de actividades de solidariedade para com os mais desfavorecidos? Os actos de solidariedade devem ser realizados todos os dias. Talvez o Natal seja útil ao lembrar às pessoas da necessidade de participarem de maneira construtiva na vida dos seus semelhantes, mas é preocupante que a maioria das pessoas tenha como que calendarizados os actos de solidariedade, facto que denuncia o carácter teatral dos estilos e regimes de vidas das pessoas hodiernas. Muito teatro, muita hipocrisia e muita falta de autocrítica ampla, profunda e transformadora de atitudes e comportamentos. Acha que o mundo seria pior sem essa celebração? Sem religião existem pessoas boas e más. Com a religião o número de pessoas más aumenta. A religião conseguiu segregar as pessoas e classificá-las segundo as suas crenças, de tal sorte que ser religioso (cristão, muçulmano, judeu etc.) passou a ser um critério definidor do caracter humano – o grau de nobreza de carácter de uma pessoa é determinado pela adesão da pessoa à religião. Todavia, a Humanidade nasceu sem religião. A grande utilidade do Natal tem sido, obviamente, a de encher os bolsos e a constas bancárias dos grandes grupos capitalistas. O Natal não passa de uma tentativa de transformar atitudes e comportamentos. Tomamos conhecimento de que era religioso e se tornou ateu. O que o motivou a deixar de acreditar na existência de um ser supremo? Eu fui baptizado a 25 de Dezembro de 1984, isto é, no Dia de Natal daquele ano, numa paróquia da Arquidiocese do Uíge (Igreja Ca-

13

tólica). Tinha 5 meses de vida. Aos 7 anos comecei a frequentar a catequese na Paróquia da Nossa Senhora do Cabo, na Ilha de Luanda. Continuei a frequentar a catequese, até a concluir, já na Paróquia Nossa Senhora das Graças. Levei o catolicismo muito a sério, tanto que, por volta do ano 2001, era uma certeza a minha ida ao seminário, onde eu daria sequência aos estudos para ser sacerdote. Foi, porém, nessa altura em que, dada a minha tendência de não me contentar com o básico e de questionar até mesmo o inquestionável, eu passei a estudar de forma sistemática a História da Igreja Católica: o altamente complexo e contraditório sistema de crenças e doutrinas, a Inquisição, a perseguição e prisão de cientistas e filósofos, o cerceamento ao acesso à Bíblia, o papel da Igreja na colonização dos africanos e outros povos, a sua mancomunação com regimes totalitários, a sua posição dúbia em relação à luta de libertação nacional nas antigas colónias, principalmente as portuguesas, a pedofilia, o celibato e outros problemas levaram-me a ter uma crise de fé. Deixei de acreditar na Igreja. Então, em 2001, desliguei-me da Igreja Católica. Renunciei à fé católica. E o que foi que aconteceu nos anos seguintes? Nos anos seguintes, ao passo que me mantinha no activismo, tive experiências religiosas com as Testemunhas de Jeová, os metodistas, os pentecostais e outros grupos. Mas, acabei por me desligar de todos. Descobri, mediante pesquisas independentes, to-

As pessoas que celebram o Natal não o fazem no quadro de um compromisso de superação. Passada a euforia, voltam a reproduzir as mesmas atitudes e comportamentos contrários ao estabelecido por Jesus Cristo”

A grande utilidade do Natal tem sido, obviamente, a de encher os bolsos e a constas bancárias dos grandes grupos capitalistas da uma série de inverdades, atrocidades, manipulações, segredos tenebrosos etc. que me levaram a compreender que as denominações cristãs, por mais que aleguem seguir a Bíblia, não o fazem senão na medida dos seus interesses de grupo. Finalmente, passei a estudar a Bíblia com recurso à crítica histórica, filosófica e científica. Estudei igualmente os diversos sistemas religiosos (Hinduísmo, Judaísmo, Islamismo, etc.) e seus livros de referência (Rig Veda, Torá, Corão, etc.). Durante a segunda licenciatura realizei estudos de Filosofia da Ciência e Filosofia da Religião. No mestrado, aprofundei estudos em Cosmologia, Biologia, Genética e Psicologia da Religião, bem como Antropologia. E percebi que Deus não é a explicação satisfatória para a origem, complexidade e (in)finitude do Cosmos e da vida. Ademais admitindo que a Grande Explosão que deu origem ao Universo ocorreu há 13 820 000 000 de anos, as perguntas são: haveria entre a Grande Explosão (Big Bang) e a Parede de Planck um «estado numérico»? Dito por outras palavras: os números que conhecemos pelas matemáticas são prévios à realidade física? Ora, os crentes alegam que, se a reposta à referida pergunta for afirmativa, então Deus tem uma linguagem e uma gramática: as matemáticas que os humanos vão descobrindo e, com elas, descrevendo o mundo físico. Ora, tal asserção ou resposta não passa de uma presunção arbitrária. Resumir as respostas a Deus é demasiado simplista. No seu ponto de vista, existe outra data a que os africanos deveriam dar a mesma importância ou superior à que dão ao Natal?

Existe: 25 de Maio, data da fundação da OUA (Organização de Unidade Africana, precursora da União Africana). A data assumiria um significado maior, no qual seriam celebradas as identidades africanas, o mosaico das culturas africanas e a retomada do legado da civilização africana. O Natal não deveria ser celebrado em África. Representa uma efeméride (fictícia ou não, esta é outra questão) ligada a um sistema religioso que tem servido durante séculos como instrumento de colonização religiosa, ética, cultural e política. A civilização africana sofreu uma violenta interrupção no seu desenvolvimento e a religião cristã foi usada como instrumento em tal processo. Alegar que o cristianismo já está arraigado na estrutura religioso-cultural dos africanos é recorrer a um atalho fácil para justificar a falta de vontade de desfazer-se dos mecanismos de aculturação que, mais do que coloniais, têm contribuído para o atraso ou estagnação civilizacional do continente. Como vê o papel dos africanos na consolidação do cristianismo? Se os africanos fossem, na sua maioria, lúcidos sobre a História da sua Civilização ou Civilizações, bem como estivessem cientes do papel do cristianismo na ocupação e colonização do continente e fossem coerentes e consequentes, hoje não estariam a celebrar o Natal nem quaisquer outras festividades de matriz cristã. É uma contradição o africano ser cristão. O mesmo digo do Islamismo.

Perfil Nuno Álvaro Dala nasceu no Negage, Uíge, em 1984. Linguista, pedagogo, metodólogo e professor. Licenciado em Linguística Portuguesa (Universidade Agostinho Neto, 2006). Licenciado em Pedagogia (Universidade de Winnipeg, 2010). Especializado em Estudos Clássicos e Metodologia de Investigação Científica (Universidade de Roma, 2012). Mestre em Educação Inclusiva (Universidade de Winnipeg, 2014). Doutor em Epistemologia e Metodologia das Ciências Sociais (Universidade de Frankfurt, 2015-/2017-2018). Investigador do Projecto de Pesquisa e Uniformização da Língua Gestual Angolana (INEE [Instituto Nacional para a Educação Especial], 2004-2005). Consultor do National Democratic Institute for the International Affairs (NDI, 2005-2009). Consultor da World Vision (2006-2008). Consultor da African Union of the Deaf (AUD, 2006). Fundador do Centro de Treinamento em Investigação Científica (CETIC, 2015). Professor na Universidade de Winnipeg de 2011 a 2012. Professor do Instituto Superior Metropolitano de Angola de 2013 a 2014. Professor convidado da Universidade de Oslo desde 2017. Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Jyvaskyla desde 2014.


cartaz seu suplemento diário de lazer e cultura

Daniel Pires

“Não podemos empreender no sector têxtil sem que antes tenhamos indústrias” cedidas

isso debatemos essa questão, para de alguma forma criar espaços e oportunidades para os jovens neste ramo, quer sejam costureiros, alfaiates, modistas, empresários e demais interessados. O país tem alguma fábrica de confecção têxtil? Ainda não! Tivemos algumas fábricas, a África Têxtil, em Benguela, a ex-Satec, no Dondo, e da Textang II, em Luanda. Essas estão a servir de museu, porque não produzem. Estão paradas e não funcionam. O Governo fez um investimento bilionário naquelas fábricas e estão conforme estão. E nós que trabalhamos com isso, não conseguimos beneficiar delas, porque encontram-se paradas. Por isso é que o empreendedorismo no sector, deste modo, fica com debilidades, uma vez que não podemos empreender sem que tenhamos indústrias funcionais.

O coordenador geral do projecto “Modangola”, Daniel Pires,

em conversa com O PAÍS, falou sobre as prioridades do evento realizado, recentemente, em Luanda, e das barreiras tidas na área, no sector têxtil, que tem dificultado o trabalho dos estilistas e a sua rentabilidade Antónia Gonçalo

O

promotor de eventos que tem dado oportunidade a novos talentos, tanto estilistas bem como modelos, em mostrar o seu potencial, considerou o sector têxtil no país como uma área rentável, que segundo ele, também ajudaria o Governo a conseguir parte dos 500 mil pos-

tos de emprego tanto almejado, sobretudo por parte da juventude A VII Edição do “Modangola” realizou-se, recentemente, em Luanda, sob o lema “Produzir para transformar - indústria têxtil como fonte de receita na revitalização da nossa economia”. Que mensagens pretenderam transmitir com essa máxima? O nosso foco desde o começo do projecto foi o fomento do sector têxtil no país. O “Modangola”, por ser um evento nacional e

de carácter anual, e pelo facto de o país estar a “lutar” para se firmar, ou manter-se no quesito de cada sector, criamos sempre temas ousados para chamar a atenção e com alguma preocupação, porque houve muitos investimentos no sector que infelizmente não deram frutos. Então, não se pode falar deste sector sem antes abordar sobre a matéria-prima. Como assim? Eu posso produzir uma camisa, mas antes tenho de pensar no ma-

terial que vou usar para a sua produção. A nossa preocupação agora é em relação ao investimento neste sector, e o seu fomento. Para isso é necessário que se faça a produção e o cultivo do algodão e outros meios, para a aquisição de obras-primas, de modos a evitarmos despesas com a importação. Os produtos utilizados estão cada vez mais caros. Isso porque temos que comprar no exterior para assim poder trabalhar. Por isso é que este ano criamos um leque de informações, para ver se os estilistas e os criadores de moda, principalmente o Governo, possa ver que em todas as áreas de acção no país, cada jovem, quer seja o músico, está preocupado com a produção de discos, os jornalistas com a informação e os produtores de moda com a indústria têxtil. A indústria da moda não foge à regra. Por

Desse modo, a classe do sector tenciona em insistir neste assunto? Sim! Será sempre assim até a coisa pegar. O “Modangola”, em particular, vai sempre tocar nos interesses para o fomento da indústria têxtil no país. Na verdade, o nosso real interesse é que haja empresários a investir neste sector, que na verdade é bilionário em todo o mundo. Se fizermos uma triagem histórica, só mesmo em Angola, para não falar de outros países, até 1973 dependia da agricultura. Uma das grandes fontes de receitas no país era o algodão. Se os empresários começarem a investir na indústria têxtil, na transformação do algodão para retorcer dinheiro aos outros produtos, para atingirmos a produção têxtil, vamos ter, a meu ver, todos os sectores a funcionar. O que aconselha o Governo a fazer agora para a curto, médio e longo prazos possa ver solucionada es-


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

15

Tenho dito que o sector têxtil é o que mais emprega a nível do mundo. Isso porque para a área funcionar na totalidade é necessário que funcione o cultivo de algodão, as fábricas de confecção e as redes de lojas, para receber o produto final. ta questão? Felizmente, o nosso Governo está bem classificado. Temos um Ministério da Indústria. Se não tivéssemos seria outro problema. Também temos um histórico. Então, é preciso que haja investimentos. O Orçamento Geral do Estado (OGE) é repartido para cada ministério. Temos que começar a perceber que o Estado também está preocupado com isso, mas que o empresariado tem de começar também a despertar a atenção para o investimento neste sector. Na verdade, o Governo é uma estrutura institucional, que vai de alguma forma viabilizar a situação, mediar as questões políticas e outras. Agora, senão tiver uma abertura política no sector, o empresário não vai investir. Se ao nível da política não se abordam essas questões, o empresariado não tem como investir, porque não terá argumentos suficientes para fazê-lo. Ele é uma pessoa imediatista, quer investir, mas também espera colher. O nosso mercado chega a ser rentável para investimentos do género? Sim. Vale a pena, sim, investir neste sector. Ainda no quarto trimestre do ano em curso, o Governo, ao nível do Ministério de Economia e Planeamento e da Indústria convidou uma consultora para realizar pesquisas sobre a indústria têxtil no país. Por acaso tive a oportunidade de participar num desses seminários. Fez-se uma triagem, um levantamento, que Angola, mesmo sem as fábricas de produção têxtil, produz mais de 18 milhões de peças por ano. Já imaginou se houvesse fábricas a funcionar? O número de peças que seriam produzidas e o dinheiro que poderia retornar desse trabalho, assim como os postos de trabalho que é uma das grandes metas na governação do Presidente João

Lourenço? É só para ver a dimensão do negócio. Por que considera que esse sector contribuiria para tal pretensão? Tenho dito que o sector têxtil é o que mais emprega ao nível do mundo. Isso porque para a área funcionar na totalidade é necessário que funcione o cultivo de algodão, as fábricas de confecção e as redes de lojas, para receber o produto final. Entretanto não existe no país uma fábrica a funcionar… Temos algumas fábricas do sector privado. As que mencionei anteriormente, mas não são de produção têxtil. Existem diferenças entre a fábrica de produção têxtil com a de confecção. Pode explicar melhor? A primeira é aquela que produz o tecido para a confecção das roupas. Temos a África Têxtil em Benguela e a Textang II, que deixaram de funcionar. Por isso, vamos continuar a falar sobre o assunto até que se perceba que o investimento nesta área por parte do Estado é de interesse geral. Da mesma maneira que temos a necessidade em nos alimentar todos os dias, sentimos também essa obrigação de cobrirmo-nos, ou vestir diariamente. Nós compramos roupas todos os dias. Como é que não se investe naquilo que é para o bem de todos, que satisfaz as nossas necessidades? Até porque não usamos o tecido só para fazer roupas. Em nossas casas usamos as toalhas de mesa e de banho, os lençóis que nos cobre nas noites frias. Por isso digo que a roupa, assim como o alimento, são coisas que necessitamos diariamente. Estamos a falar simplesmente da produção interna? Sim. Por isso é importante que o

Governo deva preocupar-se com este sector, porque para que seja concretizado é preciso fazer com que as indústrias funcionem. Por isso, estamos acostumados a viajar e comprar no exterior, porque é mais barato. O produto também é mais acabado e tem maior qualidade. Mas se tivermos essas industrias a funcionar no país, o preço e a qualidade dos produtos serão acessíveis, porque são vários os cidadãos que adquirem roupas pronto-a-vestir. O que notamos também é que as roupas feitas pelos estilistas angolanos, muitas vezes os preços são considerados exorbitantes, porque a questão está relacionada com a obra-prima, o material usado para a sua produção, que são importados. Não produzimos botões, agulhas, linha e o próprio tecido. Tudo que você não produz e, por consequência, importa, torna obviamente o produto final mais caro. E os panos africanos, também compram no exterior? Sim! Por isso é que esses tipos de panos são actualmente os mais caros, porque são investimentos estrangeiros. Até os panos Samakaka, original, não é produzido por nós. Temos várias estampas, produtos naturais como a Welwitschia Mirabilis, a Palanca Negra, O Rei Mandume e a Rainha Jinga, que podem servir de estampas para vários tecidos, de modotambém a divulgar as figuras ligadas à nossa história, assim como os patrimónios nacionais. Até mesmo os estrangeiros, actualmente estão a usar muitos os panos africanos. Porque então não investir neste sector, que iria também dinamizar a nossa economia, conforme se pretende. Dou os parabéns ao artista e empresário Dji Tafinha que apresentou a sua linha de ténis de marca “GLX Galáxia”, também a Beatriz Frank, que é empresária da moda. Eles industrializaram as suas marcas e possuem roupas por séries. É desta forma que devemos fazer, para que o mercado reduza a importação. E quanto aos Top Model’s? O mercado angolano não tem Top Model. Se formos a ver, Angola ainda não fez Top Model. As angolanas que hoje “supostamente” o são foram feitas fora do país. Essa é a outra grande problemática que eu e os meus colegas temos de perceber, que o país só faz a indústria quando tem produtos. Por isso é que muitos lutam para internacionalizar as suas carreiras, para maior e melhor rentabilizar.

Assistência religiosa e limpeza marca jornada da Igreja Messiânica ao Hospital do Capalanga

A

Igreja Messiânica Mundial de Angola (IMMA) ligada ao Líder espiritual do Japão efectuou uma campanha de limpeza e assistência religiosa ao hospital municipal do Capalanca, município de Viana, em Luanda, recentemente, a primeira acção desde que a Igreja está adstrita ao Trono de Kyoshu, em 2018. A acção social da IMMA juntou cerca de uma centena de fiéis e visou homenagear os médicos, enfermeiros e técnicos da área de saúde de todo o país, pelos 365 dias que cuidaram da saúde física e mental. Os messiânicos foram recebidos por Luís Lourenço, responsável pela acção social do hospital municipal do Capalanca. A faxina incidiu sobre os diversos compartimentos do Hospital incluindo o pátio. Alguns fiéis distribuíram flores e folhetos doutrinários intitulados “Quem Somos”, enquanto outros grupos procederam à assistência religiosa com Johrei (oração) e aconselhamento a pacientes acamados e não só. A campanha da Igreja Messiânica foi objecto de elogios, como são os casos de Rosa Paulo, acompanhante de paciente e da encarregada de serviços gerais, Luísa João, que apelou à sensibilidade colectiva no que

limpeza diz respeito, aconselhando os utentes a depositar sempre o lixo em locais apropriados. A nossa interlocutora disse que os utentes têm faltado com o seu dever de cidadania, ao insistirem em deitar o lixo no chão, contribuindo, assim, para o surgimento de problemas de saneamento e saúde pública. Em nome do colectivo de trabalhadores, a enfermeira Isabel Francisco agradeceu o gesto dos messiânicos e teceu considerações quanto a importância da hiegiene na saúde individual e colectiva. No final da limpeza Luís Lourenço congratulou-se com mais esse gesto da Igreja Messiânica, dizendo que o país sai a ganhar. “Se mais organizações sociais se propusessem levar a cabo gestos semelhantes, diríamos que estamos a caminhar bem”, disse. Quanto a simbiose Hospital-Igreja, Luís Lourenço destacou a importância desse casamento, dizendo não conseguir imaginar um cenário hipotético de pacientes desligados da relação social impregnada na Igreja. O nosso entrevistado que agradeceu repetidamente, aventou enormes vantagens para o hospital e não só, no caso da Igreja Messiânica direccionar mais campanhas do género àquele hospital. cedidas


16

cartaz

O PAÍS Quarta-feira,25 de Dezembro de 2019

Mahezu

Carmo Neto

Adeus, amigo João S

entados num lugar que se acorda com o primeiro canto do galo, Bartolomeu de calças jeans coçadas, calçava sandálias de cabedal e usava cabelo curto e o João um cambuta vigoroso com os músculos dos braços e das costas salientes, de cabelos crespos, olhos grossos sempre inquietos, também militante das jeans coçadas, olhos inquietos, esbanjavam diálogo. Folheavam, o tempo da avó Maria, com caligrafia elegante, dos tempos áureos do Quéssua, quando copiavam e liam cabeça-braço-mão-perna-pé, a propósito dos erros ortográficos de hoje que nossos doutores cometem sem vergonha. Para além da desejável ressurreição generalizada dos quadros de honra em todos níveis do ensino. Cansaço não parecia percorrer suas veias. Mesmo com a queda do muro de Berlim Bartolomeu aguardava pelo regresso do socia-

21 PONTES

Chadwick Boseman é um detective da polícia de Nova Iorque que tem de capturar os responsáveis pelas mortes de vários polícias. O detective vê-se envolvido numa complicada e inesperada conspiração. Kilamba Sala 4 13:00 - 15:20 - 17:40(2) - 20:20(2) - 22:40(1) Nova Vida Sala 2 13:00 - 15:20 - 17:40(2) - 20:20(2) - 22:40(1) Talatona Sala 1 13:00 - 15:20 - 17:40(2) - 20:20(2) - 22:40(1) (1)

Apenas dias 20 e 21 de Dezembro (2) Excepto dia 24 de Dezembro

lismo, diferente do João aparentemente despido das ideologias políticas da juventude. As horas retardavam o adeus da separação, quando a recordação, era o tempo que mulheres com montanhas de carnes inflamadas rasgavam as roupas e eram assim consideradas as mais lindas!...Todos estes incêndios verbais pareciam adiar a reforma das suas idades. Espontaneamente partilhavam gargalhadas. Pareciam mais velhos matulões repetentes que caçavam o lanche dos mais novos estudantes distraídos. Recordando Celmira que vestia quase sempre mini saias e de salto alto, a menina mais linda do liceu, o que a tornava mais atraente ainda era o facto de que conduzia uma mini Honda (rainha da elegância virou baleia da elegância!).Ou dos professores serenos com óculos de alta graduação capazes de descobrirem as mais bem escondi-

das cábulas. As horas retardavam o adeus para o dia seguinte, sobretudo quando a razão fosse o grau comparativo de desenvolvimento nacional se melhor aliados fôssemos sempre do mundo desenvolvido. Sendo filhos de gente importante era curioso o pingue-pongue do João e Bartolomeu sobre geografia universal, dois velhos amigos, orgulho do liceu da época: -Devemos ser nós próprios com os nossos milionários angolanos a desenvolver o país, afirmou o João. -Mas porquê? -questionou o Bartolomeu, bruscamente agitado. -Deves ser mais global porque o mundo hoje é uma aldeia. -Porque já vamos bem melhor só com os nossos - respondeu ele, de voz excitante. -Nossos milionários já ajudam o país a crescer. -Ah, isso é uma anedota-retorquiu o Bartolomeu, muito agitado. -Temos que estar com o mundo. Ao contrário não vamos longe.

Com os outros países do mundo seria uma boa aliança. -Não concordo, concluiu o João de forma categórica. De repente o telemóvel reivindica que Bartolomeu atendesse a chamada. Levou tempo para o efeito. Fixou o aparelho sobre o ouvido a mascarar para o João que nem tudo entendia, mas mal ouvia a chamada do seu chefe milionário para viabilizar sua ida para os Estados Unidos acompanhado da secretaria antecedida do curso básico de língua inglesa, corria para o aparelho. Bartolomeu sempre assumiu a magia do romantismo fatal e das esperanças utópicas do fim do capitalismo. Mesmo contrariado com a nostalgia do ideal frequentou o curso de inglês para sua superação profissional nos Estados Unidos, questionando sempre a incompetência da secretaria cujo inglês resumia-se ao yes, mas usava cabelo tratado de vés-

DISTINÇÃO

CONFISSÃO

ENTRETENIMENTO luto

MPLA destaca figura de Sabu Guimarães na cultura

Eddie Murphy arrependido de ter recusado filme: “Sinto-me um idiota”

Gilmário Vemba anima Natal no Sky Bar

Morreu o costureiro francês Emanuel Ungaro

Toda a gente tem arrependimentos na vida e Eddie Murphy sabe bem aquele que irá sentir para sempre. Durante uma entrevista ao programa ‘The Tonight Show Starring Jimmy Fallon’, no último final de semana, o comediante falou precisamente sobre este assunto. “O único filme que eu recusei na vida e que se tornou num grande êxito foi o ‘Quem Tramou Roger Rabbit?’”, confessou. “Era para ser o Bob Hoskins e pensei: ‘O quê? Animação e pessoas? Isso não me soa bem’. Agora sempre que o vejo sinto-me um idiota”, completou.

O humorista Gilmário Vemba, ex integrante dos Tuneza, anima hoje o palco do Sky Bar, com um espectáculo de “Stand Up Comedy” onde revelará também toda asuamestriamusical.Para estanoite, oartista fechaaúltima edição2019 do projecto “NotasSoltas”,exibindoum repertório de piadas em torno de vários temas que marcam o quotidiano, e música da autoria de distintosmaestros,numconcertointeractivo em que contará com o auxílio da sua guitarra.Oreferidopalco,jáacolheugrandes nomes da música angolana, com destaqueparaFilipeMukenga,EduardoPaim, Euclides da Lomba, Yuri da Cunha, Pérola, Edmázia Mayembe, Filho do Zua, Léo Princípe, Gerilson Insrael, Paulo Flores, Heavy C, Lípsia Wapota, Bruna Tatiana e muitos outros.

O estilista francês de origem italiana Emanuel Ungaro morreu este Domingo em Paris aos 86 anos de idade, anunciou a família. Nascido em 13 de Fevereiro de 1933 em Aix-en-Provence, no sul de França, o segundo filho de seis de uma família de imigrantes italianos aprendeu costura com o pai, que era alfaiate, mas deixou a sua cidade natal para morar em Paris. Chegou à capital francesa em 1956, com apenas 23 anos e foi lá que conheceu o seu mestre: o estilista espanhol Cristobal Balenciaga. Emanuel Ungaro dirá mais tarde que aprendeu o essencial com o pai e com Balenciaga. Depois de seis anos a trabalhar com Balenciaga, em 1965, abriu a sua casa de moda.

O MPLA destacou, recentemente, em Luanda, o músico Sabu Guimarães como uma figura de referência no mosaico artístico angolano. Numa nota de condolências pela morte do artista, vítima de doença, o MPLA afirma que Sabu Guimarães notabilizou-se pela participação em agremiações músico-culturais que incitavam o sentimento nacionalista e independentista, interpretando aclamadas obras do cancioneiro nacional, como “Mbiri mbiri” e “Manuele”. “O intérprete destacou-se também como um dos mais acérrimos defensores dos direitos dos trabalhadores angolanos, na década de 90 do século XX”, lê-se na mensagem, afirmando que Sabu Guimarães deixa saudades e um vazio difícil de preencher.

pera com uma parte do postiço a cair-lhe de lado e vestia um vestido de um dos melhores costureiros portugueses, mesmo a viver em Angola trata do cabelo em Portugal. No seu quintal a jogar pinguepongue durante a despedida fartou-se Bartolomeu de ouvir o conselho para melhor aproveitamento do curso. João murmurou-lhe palavras meigas e seu pai observava para ele com um ar de alegria. Todos desejaram-lhe boa sorte. Pessoas de todas as cores e etnias, desempregados e trabalhadores, todos desejavam o destino da boa sorte e ele numa carta endereçada ao velho amigo, não tardou em responder, a partir da América, a devolver o encorajamento no fim escreveu ao amigo João: Adeus, amigo João! Mahezu, ngana! *Escritor



Economia

18

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

Diversificar a economia é muito mais que aprovação de decretos”

A Presidente do Conselho de Administração do Grupo Diside, detentora da fazenda

Norberto Sateco

Q

ual é o estado actual da produção nacional, neste contexto de crise financeira internacional? Hoje, fazer o balanço das empresas é muito questionável; dizer que tudo correu bem, não estaria a ser honesta; porque estamos a manter a produção e a estrutura com muito sacrifício. O que lhe posso dizer é que está muito desafiante, a produção nacional não é fácil em nenhuma parte do mundo e em Angola é quatro vezes pior. Acho que chegou o momento de sermos todos realistas e pensar se paramos, continuamos, ou ouvimos o que se está a passar. Todos nós reclamamos, mas não queremos saber aspectos como o acesso às divisas. Quem produz tem que ter condições favoráveis, tendo em conta o contexto. Diversificar a economia é muito mais que aprovação de decretos, é muito mais que fiscalização, devíamos estar a olhar para os nossos solos, para o perfil do produtor, o tecido empresarial, diagnóstico ao enorme parque industrial, mas não de forma empírica. Ainda sente-se que os expatriados são mais privilegiados em relação aos nacionais? É um facto, por terem saído de vários países e terem que criar uma condição especial. Mas, o que é certo é quê passados 20 anos o expatriado não pode estar no país nesta condição, deve ser residente, ou ser contratado nas mesmas condições que os nacionais. Somos daqueles grupos que durante muito tempo tivemos à volta de 30 expatriados, hoje só contamos com 24, mas têm um comprometimento com o país. (…) Ninguém vai investir num país na agricultura, sem que ela se-

‘Perola do Kikuxi’, Elizabeth Dias dos Santos, em entrevista exclusiva a “O PAÍS”, aborda o impacto da crise financeira no sector produtivo com destaque para a aquisição de matérias-primas, sem acesso a divisas para a produção de ovos e frangos. Por conta disso,este ano, o nível da produção de ovos baixou de 1 milhão para 600 mil DR

Tivemos um período de paralisação por acreditar na parceria com um único grupo que faz o fornecimento de pintos e que tiveram aberturas de CDI’s. Em menos de uma semana fomos informados que não seria possível fornecer os pintos, tivemos que fazer um esforço financeiro enquanto privado para repor a produção de frangos que já existe, quando devia ser uma questão de concertação. Qual foi alternativa encontrada diante desta situação? Tivemos que avançar, numa primeira fase, com uma necessidade de importação de 200 mil euros de pintos, quando temos um grupo que faz localmente, que nos permitiria ter uma vantagem, tornando o produto menos oneroso, elevando o peso superior a estrutura e consequentemente ao preço. Não há articulação entre as unidades.

ja rentável. Ninguém vai resolver problemas no país do outro, se não tiver benefícios, temos que pensar como angolanos. Temos que dar

O nosso grande problema é que o nosso milho concorre com dois grandes sectores,:humano e animal”

primazia aos nacionais e os expatriados apenas naquelas áreas específicas onde tenhamos alguma dificuldade de pessoal com qualificação profissional. Fale dos constrangimentos dos factores estruturantes da produção nacional com destaque para a área em que actua? As pessoas, às vezes (...), quando falam de ovo pensam apenas num ovo. Por detrás temos uma máquina grande com objectivos por atingir e elevados níveis de qualidade. Produzir um ovo não é só apenas o ovo, os resultados que nós temos da produção de frangos é no máximo nível da qualidade, por que senão estaríamos a alimentar a população com animais doentes. Só para ter uma ideia, tivemos que in-

vestir numa central eléctrica e somos taxados como consumidores finais e não temos sentido como se fossemos uma indústria. Tivemos que investir numa central de tratamento de água e somos cobrados pela EPAL como se fossemos consumidores finais. Temos um plano de necessidades anual, para manter os níveis de produção interna, se isto não é respeitado por outros órgãos com a mesma responsabilidade como os agentes do sector financeiro, como por exemplo a AGT, significa dizer que todo um trabalho que a empresa desenvolve fica comprometido. Temos vindo a ser afectados com aquilo que têm sido os nossos objectivos, já devíamos ter uma produção de frangos de 10 mil aves por hora, mas continuamos com 2 mil e quinhentas.

Qual foi a vossa produção este ano em termos de ovos e de frangos? Houve uma descida considerável. A nossa capacidade instalada é de 1 milhão de ovos e chegamos a baixar para os 600 mil por dia. Estamos a trabalhar para repor esta produção. Se reparar, o mercado ressentiu esta produção da Kikovo e o preço do ovo aumentou no mercado, coisas que já não se ouviam há algum tempo (…). Isto reflecte as dificuldades que a Kikovo teve, sem desmerecer aos outros produtores. Nós temos estado a aguentar o mercado, imagine outros que saíram e fecharam. Como tem mantido os níveis de produção com as dificuldades sobretudo no acesso às divisas? Temos três grandes factores de produção determinantes, com


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

destaque para a água, captação e tratamento, que é mais fácil. Depois temos a alimentação que tem a ver com o milho, a soja e as vitaminas. Ao nível do milho, o país tem uma produção, mais não é suficiente para alimentar o sector animal, quer o sector social por via da fuba. O nosso grande problema é que o nosso milho concorre com dois grandes sectores: humano e animal, e a capacidade produtiva não é suficiente. Só a Fazenda Kikuxi consome anualmente 25 mil toneladas de milho. Com esta restrição da importação de milho houve uma apetecia, ou seja o executivo faz uma coisa de um lado e, do outro, os mais inteligentes do comércio inventam outras regras, e nunca vi tanto libanês, cubanos e luso-angolanos articulados, e nós produtores ficarmos reféns deste mercado. Por isso é que tem estado acontecer, além da saída de alguns produtores, houve aumento das matérias-primas. Os mais entendidos saíam das fazendas produtivas, compravam produtos para fornecer à Fazendo do Kikuxi e apresenta-se com dono do milho. E nós que somos produtores finais ficamos reféns do preço que se pratica, inflacionando o mercado e as matérias-primas dispararam e quem vai sofrer com isso é o produtor final, porque alguém viu oportunidade de especular. Quando devia haver, nesta área, concertação para identificar quem são os que estão a produzir matéria-prima e saber a capacidade interna de produção de milho, ou então se há um défice, e a que preço, tudo isso são políticas de concertação. Acha que esta a faltar mão da entidade reguladora no comércio rural e na política de preço? Angola tem uma economia de oportunidades. Por mais que o executivo crie regras, a informalidade é muito forte. Se tivéssemos o sistema formal seria fácil regular, com informatização em alta, por mais que os agentes económicos queiram fiscalizar os que têm o domínio da informalização caiem na rede. Desafios da transformação e distribuição? Trabalhamos enquanto grupo nos três grandes sectores de proteínas para a saúde humana, nomeadamente o ovo, carne e peixe. Ao nível de ovos o país lutou bastante e conseguiu organizar esta área que já foi uma anarquia. Todo mundo importava ovos, desde a China, Japão e outros países. Mas, com a imposição da validade do ovo ficou

19

lhão para os animais, depois avançamos para outra fase, significa dizer que quando nós avançamos na fase final, já não temos necessidade de um incremento tão grande porque o projecto em si já está a produzir, esta é a nossa política. Eu de forma racional nunca falaria de um projecto acima de 100 milhões de dólares, quando se fala de criação animal e de abate de animais. Depois temos outros lados que são as matérias-primas.

difícil, até por uma questão normativa internacional para o consumo humano é de 28 dias. Sendo esta uma regra, a organização de processos, para quem quisesse importar, e tempo de navegação o ovo quando chegasse não tinha condições por passar os 28 dias. Significa dizer que tinha que trazer os ovos por via área e que fica muito caro, logo deixou de ser competitiva. Há muito produtor nacional, mas com a desvalorização da moeda, acesso a divisas e matéria-prima, aqueles grupos que não estão muito bem estruturados acabam por desaparecer. Sou daquelas pessoas que defende projectos-âncoras, não para criar monopólios, mas ser aquele parceiro directo do executivo. Por exemplo, nós a Kikovo, vamos dizer, somos os maiores produtores de ovo, até que provem o contrário. Para trazermos a auto-suficiência de ovo no país, nós precisamos da produção de 5 milhões de ovos por dia. Até 2014, o país chegou a produzir mais de 2 milhões de ovos por dia. Com a crise, houve um decair, estamos agora andar à volta do 1 milhão e 800 mil.

“Para trazermos a auto-suficiência de ovo no país, nós precisamos da produção de 5 milhões de ovos por dia. Até 2014 o país chegou a produzir mais de 2 milhões de ovos por dia”

Um projecto-âncora é aquele que vai dizer ao executivo as necessidade para a auto-suficiência no país é de 5 milhões de ovos por dia. O que é necessário para tal, é assegurar as matérias-primas, comprar alguma matéria-prima em mercados do futuro, porque o milho é bolsista. Não adianta importar um contentor quando se nós importamos navios faz baixar automaticamente este custo. O que é que está ser feito ao nível da produção, cobre quanto da produção interna, ou vamos importar mais? E assim faz-se a diversificação sem comprometer o próprio consumo interno. Com estes factores que citou, acha que o país chegaria a atingir a auto-suficiência num horizonte de quantos anos? Nós com um bom projecto e comprometimento em 5 anos, somos capazes de apresentar um projecto sério e com resultados. Quando começamos na Kikovo todo mundo disse que era impossível fazer ovo de qualidade no país. O argumento é que os empresários não estavam capacitados, Angola não possuía condições para a produção de ovos e nem de frangos (…) com a desvalorização da moeda quem importa o frango está vulnerável a uma série de situações, devíamos aproveitar esta grande oportunidade. Nós estamos a trabalhar nas matériasprimas e o nosso próximo projecto é cobrir 40 por cento da quota de produção de frango no país. Sou contra o falar de números tão grandes, mas os nossos projectos tendem a ser projectos onde apresentamos o plano global e depois a fase de implementação. Significa dizer que o projecto para arranque, estaríamos a falar de 50 e 60 milhões de dólares, mas nós temos o binómio operação (…) temos o plano de arranque, terminou o pavi-

Sei que é pretensão vossa a produção de cereais para suprir o mercado em matéria de rações? Nós ainda, porque na altura nos foi dito que os projectos estavam repartidos e eu sou a favor de especializações de grupos. Mas, como a fazenda do Kikuxi assenta numa gestão especializada, neste caso a EPIMASTER e DISIDE, fizeram todo um desenvolvimento para a criação de um outro projecto que tenha que ver com matéria-prima. Com as dificuldades de acessos às divisas não podemos continuar a pensar na importação, temos necessidade de importação mas é preciso apresentar um plano estratégico do Executivo que tenha que ver com as matérias-primas. Regra geral, para se falar de diversificação de uma economia séria é suprir as necessidades para alimentar a industria e nós fizemos o contrário. Construímos grandes indústrias que são reféns da importação, os custos produtivos tendem a ser altos, com a dificuldade de acesso a divisas torna muito difícil as indústrias se manterem vivas. Por isso, estamos a trabalhar em Malanje num projecto para a produção de milho e soja, sem um índice de gordura acentuado para as galinhas poderem produzir ovos Qual é a sua visão sobre os programas de apoio à produção nacional? (…) Eu às vezes me pergunto, se o nosso problema estão nos programas ou então nas pessoas?! Está nas pessoas. A nossa economia é informal, financiada por elementos nacionais ou expatriados a quem o Executivo aposta, mas são os mesmos que também dão o tiro nas políticas do Executivo. Não há programa nenhum que poderá vincar. A produção não tem que ter rosto, tem que ter números. Acho que as pessoas que aprovam estes programas tem que ser repensada. A estratégia do país esta montada, o que falha é quando sai do Executivo para baixo. Há quem diga não existir sensibilidade do empresário, há quem pretende financiar, mas eu acho isto mais uma desculpa.

A banca aponta com frequência projectos sem viabilidade apresentados pelos empresários como o motivo do não financiamento. Este argumento colhe? É o jogo do gato e do rato. Mas também aqui é preciso dizer que estamos a precisar de um banco estratégico para o sector agrário. O Executivo aposta, na sua maior parte, em bancos comerciais, e estes não têm também as condições suficientes e necessárias para avaliar muitos dos projectos que lhes são entregues. Conheço camponeses que, sem conhecimento nenhum, do pouco fizeram muita coisa. Agora, o banco de forma estratégica também pode criar um gabinete de apoio aos projectos que está a financiar, evitando o crédito mal parado, conseguindo o perfil do empresário a financiar, a ficha técnica da avaliação. Temos a capacidade de ir lá fora e compra Rolex, temos também que apreender o que é de melhor produtivo, na correcção de solos, produção de aves… O problema é que esperamos muito de lá de cima e lá de cima esperar de nós, e depois não há uma linguagem compatível em dizer que isto é um orgulho nacional, o problema é nosso vamos lutar todos. Fala-se do Congo e os seus problemas mas têm um sentido de patriotismo extraordinário, fui ao Senegal e fiquei espantada. Costumo dizer que o barco mais podre neste pais pesca mais que o nosso mais “top”. É preciso fazer uma correcção agora. Qual tem sido o impacto da desvalorização da moeda e o fraco poder de compra dos consumidores ? O ovo é um produto de responsabilidade social, pois enquanto produtora não posso vender um ovo ao preço de 100 Kz. Significa dizer que quando chegar na produtora estará a 200 Kz. Já reduzimos, ao nível de estruturas, o impacto da desvalorização da moeda, implementação do IVA, não acesso a divisas e um provável aumento nos combustíveis, tudo isto tem custado o bolso. Não sei como vai ser 2020, é uma situação insustentável, mas os anos pares tendem a ser de sorte. Olha para o próximo ano com algum optimismo? Qual será a sua estratégia? Trazer a Kikovo aos níveis de 1 milhão de ovos por dia que baixaram consideravelmente este ano. Vamos investir fortemente em cereais na ordem de 5 milhões de dólares, não queremos indústrias muito grandes, queremos trazer um modelo de sequeiro e pivot.


ECONOMIA REAL

análise económica

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

19

“Estar contra a especulação é estar contra as famílias, empresas e o desenvolvimento” Professor de Macroeconomia, Yuri Quixina considera ‘contraditório’ rotular comerciantes de ‘desonestos’, numa economia onde o custo de produção e a carga fiscal são os principais desafios dos investidores daniel miguel/arquivo

Mariano Quissola / Rádio Mais

É

Natal e a festa é caracterizada por cultos especiais entre os cristãos, consumo exagerado e actos de solidariedade. Como viver o natal em tempo de crise? É fundamental que as famílias vão aos supermercados com uma lista para comprarem o necessário, pois natal também deve ser dia de poupança. Reduzam algumas prendas, amigos ocultos, porque a família vai precisar dinheiro para comprar material escolar e para matrículas. Infelizmente, os nossos valores éticos e culturais foram alterados e, com eles, a desvalorização da nossa gastronomia. Valorizamos mais a gastronomia portuguesa, tudo porque invertemos a nossa cultura gastronómica e os farmacêuticos estão felizes, porque desenvolve-

mos novas doenças. E o Presidente da República, João Lourenço, dedicou um Natal Feliz a todos, na habitual mensagem de ano novo. É normal os presidentes fazerem esse tipo de discursos no fim de cada ano e aqui não foi diferente. Mas penso ter sido uma mensagem contraditória, sobretudo na parte económica. De modo geral, o Presidente concluiu que 2019 foi um ano de justificações das suas medidas. Repito, na parte económica foi muito antagónica e pareceu-me que quem escreveu ou aconselhou o Presidente a colocar essa parte, domina muito a economia socialista e comunista, mas domina pouco a economia de livre mercado. João Lourenço disse que “os avanços registados ainda não se reflectem de forma directa na vida da população… por força da especulação de alguns comer-

ciantes desoneste e da baixa oferta de bens e serviços essenciais de produção nacional”. Onde está a contradição? Primeiro, estar contra a especulação é estar contra as famílias,

Quem aconselhou o Presidente a colocar essa parte, domina muito a economia socialista e comunista, mas domina pouco a economia de livre mercado”

empresas e o desenvolvimento. Economia definida numa palavra e o seu sinónimo: preço e custo. Preço é o valor monetário que se atribui a um bem ou serviço. Quem determina o preço no mercado são as famílias, mediante a oferta e a procura. Já o custo de produção deve ser estimado em função do custo do mercado, porque o mercado já tem preço e há um confronto entre a oferta e a procura. Agora, o preço numa economia tem sinais. E como caracteriza os sinais de preço? Os sinais de preço são como o de uma criança quando está a aquecer muito, que sinaliza ter alguma enfermidade. Com os preços a mesma coisa e traduzem três elementos importantes: informação sobre o custo de produção, sobre as estradas que não estão boas, sobre a taxa de câmbio, - por falta de divisas, sobre as importações, matérias-primas e outros factores. Segundo, o preço exprime a distribuição de rendimento. É através do preço que o empregador define o salário a pagar aos trabalhadores. O incentivo, que traduzido é lucro, é o terceiro elemento, que consiste no prémio que o consumidor atribui ao empresário que prestou melhor serviço. Não é que o empresário seja gatuno ou capitalista. Mas isso só ocorre num mercado onde há competitividade e alternativas para o consumidor. É daí onde vem o tiro na perna dado pelo Presidente da República, quando, a seguir, diz e cito: “Com vista a corrigir esta situação, o Executivo vem tomando todo tipo de medidas de fomento e incentivo ao aumento da produção interna…”. Então não é especulação, é a falta de produto no mercado que faz com que um ou dois agentes económicos a oferecerem produtos colocam os preços acima. Há muita procura e pouca oferta. O natural é o aumento dos preços. Muita gente confunde especulação e manipulação. Qual é a diferença entre os dois conceitos? O que as autoridades económicas

devem combater é a manipulação. Especulação é vida. Sou dos que defende especulação, porque promove riqueza e capacidade produtiva das empresas. A sua afirmação é contundente e não é a primeira vez que o Presidente fala sobre o assunto. Afinal o que é especulação e o que é manipulação? Manipulação é alguém ter informação privilegiada e manipula o mercado. Se alguém tiver, por exemplo, influência no BNA que lhe facilita o acesso às divisas, potencia um produtor no mercado. Já especulação é comprar barato para vender caro. E isso normal, sobretudo se estiver sozinho no mercado. Não existe nenhum país que se desenvolveu sem especulação e os Estado Unidos é o exemplo. Que investidor entra numa economia onde o governo controla preço?! Mas o direito criminaliza quem venda bem ou serviço acima do preço permitido por lei. Direito são normas feitas por um homem com interesses próprios. A economia tem leis próprias, que são as leis do mercado. O jurista que quiser definir lei sobre a economia deve estudar muito de economia de livre mercado. O que o Governo deve fazer é resolver os problemas do custo de produção.

Sugestão de leitura: Título da obra: ‘Uma década de África’ Autor: Fátima Moura Roque, Professora Catedrática convidada de Economia Africana Ano de lançamento: 2018

Frase: : “A felicidade está mais em dar do que em receber”, Jesus Cristo, Actos 20:35/Bíblia Sagrada Yuri Quixina, economista.


Mercados

21

O PAÍS Quarta-feira,25 de Dezembroo de 2019

A taxa Luibor Overnight fixou-se em 29,63% na última sessão O nível corresponde a um incremento semanal de 1,55 p.p., o maior registo da série histórica do BNA,

influenciado pelas medidas restrictivas de liquidez definidas pelo Banco Central, com impactos sobre o financiamento ao sector privado

O

BNA deverá comercializar cerca de 120 milhões USD durante a semana corrente. O montante a ser disponibilizado via leilões diários de 30 milhões USD reflecte uma redução de 20% em relação ao período anterior, o que deverá reflectir-se sobre a depreciação da moeda nacional. MERCADOS ESPAÇO INTERNACIONAL Canadá • O Produto Interno Bruto referente ao mês de Outubro contraiu 0,1%. O nível representa a primeira contracção desde Março, quando atingiu -0,2%,

dr

influenciado pela redução nos sectores manufactureiro, com possíveis efeitos sobre a procura por matérias-primas.

O BNA deverá comercializar cerca de 120 milhões USD durante a semana corrente

MERCADOS Petrolífero Brent: +0,38% (66,39 USD/barril). Os ajustamentos nas expectativas dos investidores favoreceu a cotação da commodity

Cambial OGBP: -0,48% (1,2936 USD). A possibilidade de realização de um Brexit sem acordo penalizou a da moeda esterlina.


Mundo

22

Putin: é preciso monitorar mísseis de curto e médio alcance dos EUA na Europa e Pacífico As declarações foram feitas durante o discurso do presidente russo no Conselho do Ministério da Defesa do país nesta Terça-feira (24)

O

ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, por sua vez, comentou o desenvolvimento de mís-

seis de curto e médio alcance pelos EUA. Para ele, os recentes testes de mísseis conduzidos pelo Pentágono provam que os Estados

Unidos desenvolviam mísseis proibidos pelo Tratado de Proibição de Mísseis de Médio Alcance, mesmo enquanto o instrumento estava em vigor.

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

Deslizamento de barreira atinge casas e deixa 5 mortos no Recife

C

inco pessoas morreram num deslizamento de barreira no bairro de Dois Unidos, na Zona Norte do Recife. Outras três pessoas ficaram feridas e duas estão desaparecidas. Segundo o Corpo de Bombeiros, o deslizamento aconteceu às 2h55 desta Terça-feira (24) e atingiu duas casas, causando a morte de três adultos, uma criança e um bebé. Os bombeiros ainda buscam duas mulheres desaparecidas. “Quando eu cheguei, a casa estava destruída, entrei em desespero. Começamos a cavar e tirar os destroços de cima”, afirmou Marco António, vizinho das vítimas que ajudou no resgate, conforme o portal G1. No momento do acidente, seis viaturas do Corpo de Bombeiros foram enviadas ao local, incluindo viaturas de busca e salvamento, busca com cachorros, resgate e comando operacional, além das equipas da Defesa Civil do Recife. De acordo com o Corpo de Bombeiros, ainda não se sabe o

que teria causado o deslizamento, já que naquele momento não chovia. Entretanto, os moradores locais afirmaram que um cano da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) estourou no local e o vazamento teria iniciado às 2 horas. “Pode ter havido o rompimento. O abastecimento da região realmente aconteceu anteontem (23), mas o rompimento não foi causado pelo rodízio. Estava a ser abastecido no momento do desastre”, declarou o gerente da região leste da Compensa, Aprígio Cunha. Por sua vez, o gerente da companhia afirmou que não há registos de vazamento nos sistemas da Compensa na área do deslizamento. “Não temos nenhum registo de vazamento nessa área. A tubulação está numa profundidade que não dá para detectar se teve ou não vazamento [...]”, afirmou. O estado de saúde das três pessoas feridas no deslocamento ainda não foi divulgado.

‘Bunker do apocalipse’ guarda em segurança sementes do mundo inteiro A ilha de Spitsbergen, localizada a aproximadamente 1.300 quilómetros do Pólo Norte, no arquipélago de Svalbard, abriga uma construção única com um robusto sistema de segurança

O

governo norueguês construiu o “cofre do Juízo Final”, originalmente proposto pelo cientista norte-americano Cary Fowler. Ele deve servir como uma moderna “Arca de Noé” em caso de um evento que coloque a civilização humana em perigo, conforme relatado num documentário australiano. O “bunker” de Spitsbergen, que abriga uma extensa variedade de sementes fornecidas por bancos de genes do mundo inteiro, assegura a protecção das amostras numa eventual crise regional ou global. “Na imensidão congelada ártica da ilha norueguesa de Sval-

bard, não longe do Pólo Norte, há algo que parece tão estranho quanto uma pirâmide na Lua”, comenta Charles Wooley, apresentador do documentário. “A sua torre de dez metros emergindo do solo se inclina para trás como um obelisco caído”, afirma. Ali são cuidadosamente armazenadas sementes congeladas, “90% das sementes do mundo”, servindo como uma “potencial apólice de seguro contra potenciais calamidades de guerra, terrorismo, fogo ou inundação”. Este é o cofre para o Juízo Final. Ele se encontra na remota ilha norueguesa de Spitsbergen. Este cofre oferece uma garantia contra uma perda de sementes numa

catastrófica crise global. O doutor Fowler levou uma equipa de filmagem para dentro da construção, erguida numa montanha de arenito, passando por vários níveis de segurança antes de explicar a escolha do local para o projeto: “A construção contém muita história, história biológica, em torno de 130 metros abaixo da superfície, mas não foi uma voz dos céus que me influenciou, somente uma longa frustração por ver boa parte da diversidade de plantas ser extinta”, lamenta o doutor. Fortemente vigiada, a instalação é administrada pelo Centro Nórdico de Pesquisa Genética.

Noventa por cento das sementes do Mundo estão armazenadas neste lugar, em caso de um apocalipse


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

23

China arregaça as mangas para lidar com árduas tarefas do desenvolvimento rural em 2020 A China está preparada para lidar com as rígidas tarefas para o desenvolvimento rural no ano que vem ao avançar com a sua campanha contra pobreza e a meta de construir uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos

A

batalha contra a pobreza não cessará até que a vitória integral seja garantida, segundo uma conferência central de trabalho rural encerrada no último Sábado, em que as autoridades centrais definiram um roteiro para o trabalho relacionado a agricultura, áreas rurais e população rural em 2020. Esforços serão feitos para reunir recursos, aumentar apoio e tomar medidas direccionadas para fortalecer os elos fracos no trabalho em agricultura, áreas rurais e população rural, disse um comunicado divulgado depois da reunião. Pediu esforços consistentes para retirar a população carente que ainda resta da pobreza e passos efectivos para prevenir que pessoas retornem ao status e pobreza. Em 2019, a China fez grande progresso na redução da pobreza com medidas direccionadas, com mais de 10 milhões de pessoas e cerca de 340 distritos programados para sair da pobreza. Em áreas afectadas pela pobreza profunda, incluindo partes do Ti-

bet, Xinjiang, Sichuan, Yunnan e Gansu, a proporção do número de pessoas carentes caiu para 2% dos 8,2% em 2018. Porém, a situação do desenvolvimento rural permanece árdua, ao passo que os riscos e desafios do país e do exterior estão a aumentar e a pressão económica descendente está a crescer, disse Han Changfu, ministro de Agricultura e Assuntos Agrícolas. A chave é garantir a produção e o fornecimento estáveis de importantes produtos agrícolas incluindo grãos e porcos, assegurar que a crescente dinâmica de renda da população rural não seja enfraquecida e revertida, e também uma vitória firme no combate à pobreza e fortalecer os elos fracos da infra-estrutura rural e dos serviços públicos, segundo Han. Deve-se desenvolver as indústrias capazes de aumentar a renda da população rural e incentivar todos os tipos de trabalhadores habilidosos a retornar à zona rural para estabelecer negócios, disse o comunicado.

China persiste na redução da pobreza na áreas rurais

A produção de grãos deve ser mantida estável enquanto a produção de porcos deve ser restabelecida de maneira acelerada. Instalações agrícolas modernas devem ser expandidas, e instalações de logística de cadeia fria para armazenamento e preservação de produtos serão lançadas. A China alcançou uma grande safra de grãos por 16 anos consecutivos. Este ano a sua produção de grãos atingiu 663,85 milhões de toneladas, excedendo 650 milhões de toneladas por cinco anos consecutivos. Apesar dos avanços, a capacidade chinesa de produção de grãos ainda continua a ser consolidada, disse Han, acrescentando que em alguns lugares os agricultores relaxaram na produção de grãos ou até reduziram o plantio. A China promete concluir o cultivo de 5,3 milhões de hectares de terra de cultivo de alto padrão e a instalação de infra-estruturas de irrigação de economia de água de alta eficiência em 1,3 milhão de hectares de terras de cultivo. Para sustentar as grandes safras, o ministro disse que garantir a estabilidade de políticas e manter as áreas de plantio estáveis são essenciais. A conferência esclareceu que políticas de terra sobre o desenvolvimento de indústrias rurais serão optimizadas e a reforma experimental do sistema de direitos de propriedade coletiva rural será promovida em todo o país. A China testará a extensão do uso de terras de cultivo para outros 30 anos com o vencimento da segunda ronda de contrato em cidades e distritos selecionados em 2020, disse Han. Para aumentar o sentimento de ganho da população rural, a conferência também enfatizou os esforços para impulsionar o desenvolvimento de infra-estrutura rural e fornecimento de água, e melhorar ambiente de vida rural, educação, serviços médicos, previdência social, actividades culturais e ambiente ecológico.

Ante a apatia de Washington, China, Japão e Coreia do Sul quer revitalizar o diálogo com a Coreia do Norte

Líderes de Coreia do Sul, Japão e China vão promover diálogo entre Coreia do Norte e EUA China, Japão e Coreia do Sul concordaram em trabalhar juntos para promover o diálogo entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, afirmou o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, nesta Terça-feira, após uma cimeira entre os três países, na China

A

Coreia do Norte estabeleceu um prazo até ao final do ano para os EUA mudarem o que diz ser uma política de hostilidade em meio a um impasse nos esforços para progredir na sua promessa de encerrar o programa nuclear do Norte e estabelecer uma paz duradoura. O líder norte-coreano, Kim Jong Un, e o presidente dos EUA, Donald Trump, se encontraram três vezes desde Junho de 2018, mas não houve progresso substancial no diálogo enquanto o Norte exigia que as sanções internacionais esmagadoras fossem levantadas primeiro. Falando na cidade chinesa de Chengdu, no sudoeste da China, após uma reunião com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, Moon disse que os três países concordaram com a necessidade de uma comunicação estreita. “Coreia do Sul, China, Japão, os três países concordaram em continuar com estreita comunicação e cooperação para a desnuclearização e a paz duradoura na Península Coreana”, afirmou Moon em entrevista coletiva. “Nós compartilhamos a opinião de que a paz na Península Coreana é do interesse comum dos três

países e decidimos trabalhar juntos para garantir que a desnuclearização e a paz continuem através do diálogo imediato entre a Coreia do Norte e os EUA”, acrescentou. Li disse que os três líderes reafirmaram a necessidade de buscar uma resolução para a questão norte-coreana via diálogo e que os três cooperassem nesse sentido. A China é o principal suporte económico e diplomático da Coreia do Norte, embora Pequim se tenha irritado com os repetidos testes de mísseis e nucleares de Pyongyang. PO enviado especial dos EUA para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, reuniu-se com dois diplomatas chineses durante a sua visita de dois dias a Pequim na semana passada, após reuniões semelhantes na Coreia do Sul e no Japão dias antes, enquanto diplomatas fazem tentativas de última hora para impedir novos confrontos. Pequim, juntamente com a Rússia, propôs na semana passada que o Conselho de Segurança das Nações Unidas levante algumas sanções no que chama de tentativa de romper o impasse actual e procurar obter apoio. Mas não está claro se Pequim pode convencer Seul e Tóquio a romper com Washington, o que deixou clara a sua oposição e pode vetar qualquer resolução.


CONTO DE NATAL

24

O PAÍS Quartta-feira,25 de Dezembro de 2019

ONOFRE DOS SANTOS

Recado de Santa Efigénia

M

ateus Dala dava voltas à cabeça para resolver o seu mais urgente problema: como pôr na mesa de Natal alguma coisa que fosse diferente do pão duro de todos os dias, como diferentes eram as luzes enfeitando os edifícios públicos e os grandes estabelecimentos da cidade. Estudara, trabalhara e apaixonara-se por Clarinda, sem tomar precauções e agora os dois filhos pequeninos eram a sua responsabilidade, o seu fardo, a sua cruz como lhe recordava o pároco da Mamã Nazaré quando partilhava com ele depois da missa de domingo as suas crescentes preocupações. “Então Dala, como vão as coisas?” “Não tão bem... não tão bem...” “Conta-me lá... quem sabe eu posso ajudar...” “Só se as suas orações fizerem um milagre, o que eu preciso, senhor padre, é de algum dinheiro mas para isso tenho de arranjar trabalho... estou mesmo desesperado...” O prior ficou a ver a figura magra e esguia de Mateus afastar-se, os ombros curvados para dentro pelo desalento... deixara-o partir sem uma palavra de encorajamento... “Ei Dala! Dala! Volta aqui....” “Diga senhor padre...” Olha...Dala, ainda não contei o dinheiro da colecta... hoje a missa tinha muitos fieis... viste como a Igreja estava cheia? Quando se aproxima o Natal as pessoas tornam-se mais religiosas e um pouco mais generosas... abrem mais os cordões à bolsa... ajuda-me a contar... talvez te possa ajudar...”

dr

Dala acompanhou o pároco como um autómato até à sacristia... em cima da mesa alguns sacos de veludo vermelho estavam amontoados diante do livro do registo das esmolas já aberto, sob o olhar vigilante das duas mamãs envoltas nos seus panos estampados com as imagens de Bento XVI, uma homenagem respeitosa à visita do Papa, já lá vão uns anos... nem é ele quem agora manda no Vaticano mas a recordação carrega em si a gratidão por aquele homem alquebrado, representante de Deus na terra que não excluiu Angola dos seus domínios espirituais.

“Feliz Natal Dala...” “Obrigado senhor padre... vai ser um Natal pobre, mas com a sua ajuda... acredito que vai ser feliz...” Com a ajuda de Deus, Dala, com a ajuda de Deus... eu pouco posso fazer...”

“Obrigado mamãs... estão dispensadas... hoje tenho um ajudanteparacontaroofertório...” O prior fez um meio sorriso que mais parecia uma careta quando as duas dedicadas auxiliares deram meia volta depois de se despedirem com uma vénia, apesar da sua evidente insatisfação por não serem as primeiras a saber o valor entrado no cofre da paróquia... um cofre sempre magro mas que era o sustento do culto do único santuário de Luanda. “Senta aí Dala... queres uma limonada? “Não muito obrigado senhor padre...” “Nem uma Savanna? Olha, eu vou beber uma... estou cá com uma sede... tive de falar muito hoje...” “Uma Savanna pode ser... afinal também preciso... está muito calor e vamos ter de trabalhar um bocado...” “Ah, Ah... afinal vieste à Igreja e sempre arranjaste trabalho...” “Deve ter sido a Santa Efigénia... fiquei mesmo do seu lado e rezei

garrafas ao Dala e segurando a sua deu na outra um toque à laia de brinde, fazendo tilintar os vidros...

muito... muito mesmo...” O pároco voltou com duas Savannas geladinhas... que colocou sobre o tampo da mesa. Arrastou a sua cadeira de braços para junto da mesa, passou um olhar avaliador sobre as bolsas das esmolas,

apanhou o abre latas e removeu as tampinhas que emitiram um suave suspiro, quase nenhum o excesso de gás... o pároco que já se tinha libertado da batina e estava em camisa mostrando os suspensórios vermelhos cardinalíceos de que nunca prescindia, passou uma das

“As coisas não são nunca o que nós pensamos ou julgamos... Ele fez muitos milagres... mas não se vivia naquele tempo em estado de milagre permanente, uma situação que tornasse inútil o trabalho... Ele até discutiu com os fariseus por causa de fazer curas no sábado... era medicina, ainda que divina, trabalho portanto...”

Mateus estava ansioso por começar a trabalhar... contar dinheiro fora esse o trabalho do outro Mateus... o evangelista que antes de ser discípulo de Jesus era cobrador de impostos... poisou a garrafa na mesa e olhou para o prior que se regalava a regar a garganta com aquele líquido dourado... “Temos tempo Dala... temos tempo... sabes que eu não gosto de contar dinheiro? Eu preciso muito, tanto quanto tu precisas... mas não gosto de contar... o dinheiro é o Diabo... Jesus disse que não se podia servir a dois senhores... a Deus e ao Dinheiro... ele não disse Diabo... ou Demónio... disse mesmo Dinheiro!” “E o meu xará... Mateus, era contador de dinheiro... e mesmo assim Jesus o escolheu... precisava de um tesoureiro...” “Nada, Dala... o tesoureiro era o Iscariotes... o Judas que o entregou nas mãos dos seus inimigos, por trinta dinheiros... o demónio atrai o demónio...” “Mas era preciso um tesoureiro... alguém tinha de pagar as despesas, alojamento, comida... a maior parte das vezes, porque quando era mesmo preciso Jesus fazia um milagre da multiplicação... o senhor padre falou hoje isso na homilia...” “As coisas não são nunca o que


O PAÍS Quartta-feira,25 de Dezembro de 2019

nós pensamos ou julgamos... Ele fez muitos milagres... mas não se vivia naquele tempo em estado de milagre permanente, uma situação que tornasse inútil o trabalho... Ele até discutiu com os fariseus por causa de fazer curas no sábado... era medicina, ainda que divina, trabalho portanto...” “TrabalhodeDeus...ummistério... eu também queria trabalhar para Ele... mas o Natal está à porta e eu estou mal... sem um kwanza para comprar nem uns bagos de arroz para um jantar melhorado, para a mulher e para os filhos... “Olha, meu filho, eu vou buscar mais uma Savanna... podes começar a contar... um saco de cada vez... separas as notas de 100, 200, 500 e 1000, se houver de 2000 será muito bom... um montinho para cada uma... depois é mais fácil de somar...” Mateus deu mais um golo para ganhar coragem e começou a sua tarefa... de lidar com o Diabo... Quando o prior regressou, algum tempo mais tarde, pois fora retido por algumas santas mulheres que lhe queriam desejar as Boas Festas e recomendar algumas intenções, a primeira coisa que pensou foi que tivesse bebido de mais... as pilhas de notas subiam às alturas e Mateus Dala continuava a retirar dinheiro dos sacos de veludo como se estes não tivessem fundo. “Mas, o que é se passa aqui? De onde veio todo este dinheiro?” “O senhor padre disse que era o Diabo... agora eu não sei... mas hoje na pregação o senhor mesmo disse que Jesus multiplicou uns pedaços de pão e alguns peixes e que isso deu para alimentar uma multidão... eu nunca percebi... nemvouperceber...osenhorpadre disse que era uma antecipação da sagrada comunhão, a distribuição do corpo de Deus por todos os homens do mundo...” “Mas isso foi lá na terra santa... nós estamos em Luanda... Dala... eu não estou a compreender... isto... “Senhor padre, então o Papa não veio aqui na nossa terra, duas vezes já... então isto também é terra santa... e temos a nossa Santa Efigénia... eu rezei muito senhor padre...” “Cala-te Dala... quanto é que temos aqui? Eu nunca vi tanto dinheiro... vai fechar aquela

25

porta... se alguém vê este monte de dinheiro ainda somos assaltados...” “Fechar a porta? Talvez devêssemos fazer como Jesus lá na Palestina... distribuir pelos pobres... tem muitos aí à porta... eles sempre estão à volta da igreja... se aqui não há um coração compadecido eles não vão encontrar noutro lado mesmo...” O prior ficou de repente atordoado... como se tivesse levado um murro no estômago que lhe agitou a Savanna ingerida e lhe provocasse um vómito de angústia... envergonhado, lembrou como aquele seu amigo viera ter com ele em estado de necessidade, e agora pensava primeiro naqueles que ainda estavam num patamar de miséria abaixo do dele... e por instantes, ele sacerdote, já estava a pensar entesourar aquela inesperada dádiva de Deus... mas ele era o prior da Nazaré, tinha de ser responsável... primeiro tinha que contar aquela data de massa toda... depois tomaria a decisão mais acertada... ou a mais justa... Mateus continuava a retirar as notas dos sacos de veludo encarnado, umas amarrotadas e velhinhas, outras frescas como se tivessem sido acabadas de sair dos maços de um banco. A mesa já não chegava e agora o dinheiro amontoava-se em cima do armário das toalhas e dos paramentos perante os olhos esbugalhados e incrédulos do pároco da Mamã Nazaré que, afinal, depois de tanta reza e pregação, não acreditava em milagres. Pelo contrário, não acreditava que aquilo fosse uma obra de Deus mas uma armadilha diabólica para o testar e começou a espreitar de soslaio para o Dala que, imperturbável, continuava a separar as notas em vários montinhos de 1000, 2000 e 5000 kwanzas... Estava ali uma fortuna e o que lhe veio de imediato à memória foram os vários orçamentos que estavam há meses enfiados nas gavetas, para a pintura da igreja, para a nova instalação sonora que tanta falta fazia para a sua voz se fazer ouvir até à marginal onde pelo menos nos dias de festas se acumulava a multidão dos peregrinos para dar graças à padroeira do santuário... O prior começou a procurar agitadamente nas gavetas as chaves do cofre onde dificilmente poderia atafulhar todas aquelas notas verdinhas... era preciso encontrar outras gavetas com chave de segurança... começando por esvaziar a gaveta das

alfaias do culto que poderiam transitoriamente passar para outro lado... não seriam objecto de tanta cobiça como o próprio dinheiro... “Pronto, senhor padre... acabou... está aí tudo...” “Mas tu não vês que isto é impossível... que tudo isto, como tu dizes, não cabe nestes sacos?” - e o bom do padre sacudia as bolsas de veludo vazias que agora pareciam em cada uma das suas mãos uns trapos inúteis...

Mateus estava ansioso por começar a trabalhar... contar dinheiro fora esse o trabalho do outro Mateus... o evangelista que antes de ser discípulo de Jesus era cobrador de impostos... poisou a garrafa na mesa e olhou para o prior que se regalava a regar a garganta com aquele líquido dourado...

“É Natal senhor padre... isto pode ser um sinal de Deus, não pode? Só para Deus nada é impossível... e nãosepodeserviradoissenhores... mas isso o senhor padre sabe melhor do que eu... eu vou indo...” “Espera Dala... espera... tu trabalhaste duas horas... foste tu que juntaste toda esta dinheirama... agora só me resta contar... para saber quanto recolhemos... mas acho que te posso pagar...” O pároco adiantou-se para um dos maços de 5000 as suas mãos pairaram sobre as notas, hesitaram e mudaram de direcção... passaram lentamente por um maço de 2000... para acabarem por poisar num maço de 1000... pegou no maço e começou a separar algumas notas que foi contando mentalmente... “Toma Dala... isto é mais do que um peditório dominical... num domingo... normal... acho que vais ter um bom Natal...” “Obrigado senhor padre... foi muito bom para mim... Feliz Natal...” Opadrefezumgestodedespedida com a mão... ficando a ver o Mateus Dala desparecer pela porta da sacristia. Viu depois a garrafa de Savanna sobre a mesa ainda meio bebida... e com um sentimento de culpa lamentou a dureza do seu coração agora que estava rico, comparado com o espírito de partilha do pouco que tinha há bem pouco, quando era pobre... depois relanceou o olhar pelos montes de notas que tinham dramaticamente mudado o cenário da sua sempre

tão modesta e despida sacristia. Como se tivesse sido atingido por um raio em plena luz do dia, deuse conta aterrado e em pânico que estava fechado, ali, naquela salinha preambular da Igreja, sozinho, com o seu pior inimigo... só faltava mesmo fechá-lo todo nas gavetas á chave para começar a ouvir as suas gargalhadas crescentes, desconcertantes e avassaladoras... Correu para a porta e quase gritou o nome de Dala como quem clamasse por socorro. Viu o seu amigo a dar uma nota ao pobre andrajoso que ainda esperava uma esmola para suavizar um pouco a sua miséria... Naquela noite foi realmente Natal para todos os pobres da freguesia... o pároco e o seu novo ajudante visitaram todos os casebres da paróquia distribuindo esmolas e convidando todos para uma grande ceia no adro do santuário. Os acólitos, catequistas e coralistas, a Legião de Maria em peso, as senhoras da Promaica, os não casados do grupo de Santa Efigénia e os casados dos grupos da Família, do “Jesus é o Salvador”, do “Jesus é o caminho” e do “Quero caminhar contigo”, todos foram convocados de urgência e mobilizados para a compra de géneros e para os servir... a instalação sonora não seria a ideal... mas ia ser suficientemente boa para dar música e alegrar os corações... vai ser um verdadeiro banquete de Natal! “Mas quem é que paga este... este... banquete?” A Mamã Nazaré, quem mais havia de ser? Um pedido de Santa Efigénia... como ia recusar?


desporto

26

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

daniel miguel/arquivo

São Silvestre 2019 encerra inscrções daniel miguel/arquivo

Fundistas angolanos e estrangeiros depois do tiro de largada

A Atletas da Selecção Nacional depois de uma sessão de treinos no Pavilhão Principal da Cidadela Desportiva

Selecção Nacional retoma preparação para o Africano O sete nacional sénior masculino, que prepara o Campeonato Africano de andebol que a Tunísia acolhe de 16 a 26 de Janeiro de 2020, ficou alguns dias de pausa para a festa do Natal Sebastião Félix

A

Selecção Nacional sénior masculina de andebol, que prepara o Africano da Tunísia (16 a 26 de Janeiro), retoma os trabalhos na Sexta-feira, segundo a equipa técnica. Os atletas de Nelson Catito foram dispensados para a festa da família, o Natal, data que assinala o nascimento de Jesus Cristo. Por conta disto, o sete nacional trabalha no Pavilhão Principal da Cidadela Desportiva até ao dia 08 de Janeiro de 2020. Na mesma semana, os pupi-

los de Nelson Catito deslocam-se à cidade de Argel, na Argélia, onde cumprirão um estágio de quatro dias. De acordo com o programa de preparação, a Selecção Nacional vai realizar alguns jogos de controlo com equipas locais. “Os jogos vão dar mais rodagem competitiva ao grupo e vão também ajudar a corrigir alguns erros defensivos e ofensivos”, disse o seleccionador nacional, Nelson Catito. Em declarações, o técnico adiantou que o objectivo de Angola na prova é superar ou manter o terceiro lugar feito na edição anterior no Gabão, em 2018. Por esta razão, quatro atletas que evoluem no estrangeiro juntaram-se ao grupo de trabalho na Segunda-feira. Eduardo Ferreira do Aralwadah

da Arábia Saudita, Romeu Hebo do Benfica de Portugal, Declerk Sibo do Qatar Sport Club e Feliciano Couveiro do Sporting de Braga de Portugal são os internacionais angolanos que vão “engordar” as opções de Nelson Catito. No grupo B do Africano, Angola vai medir forças com a Líbia, Gabão e Nigéria, selecções com tradição nesta modalidade. Nos últimos tempos, a Selecção Nacional tem sido regular nas competições realizadas dentro do continente africano. O sete nacional conquistou medalha de ouro nos Jogos Panafricanos que o Marrocos acolheu este ano, superando selecções do Magreb, tidas como as fortes nesta classe.

organização da São Silvestre encerra amanhã as inscrições da corrida pedestre de fimde-ano, prova que sai às ruas de Luanda no dia 31 de Dezembro, às 17:00. De acordo com a programação, a Federação Angolana de Atletismo (FAA) pretende contar com 3 mil participantes. Fundistas nacionais e estrangeiros, e populares vão fazer parte da festa que a cidade de Luanda acolhe há 64

anos. Segundo uma fonte ligada à organização da prova, as verbas para a premiação estão por ser desbloqueadas. A FAA contará também com o apoio de alguns parceiros privados, apesar da crise económica e financeira que o país vive. A organização adiantou também que dez países, entre os quais Quénia, Uganda, África do Sul, Portugal, já confirmaram presença na São Silvestre, prova de 10 quilómetros.

Militares e tricolores acertam o “passo”

O

1º de Agosto e o Petro de Luanda medem forças nodia 8 de Janeiro próximo, no acerto da quarta jornada da 42ª edição do CampeonatoNacional de basquetebol, no Pavilhão Victorino Cunha, às 18:00. O desafio entre ambas as formações não se disputou na data marcada à pedido dos tricolores devido à apresentação do base norteamericano Antwan Scott,

de 27 anos. O encontro é aguardado com expectativa pelos adeptos das duas equipas, uma vez que quando se defrontam o desfecho é sempre imprevisível. Ambas as agremiações partilham a liderança da competição com seis pontos cada uma. Por seu lado, o Interclube figura na terceiraposição com quatro pontos. daniel miguel/arquivo


O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

27

1º de Agosto prepara jogo com o TP Mazembe

O

daniel miguel/arquivo

1º de Agosto prossegue amanhã a preparação, visando o jogo da terceira jornada do grupo A da Liga dos Clubes Campeões Africanos com o TP Mazembe do Congo Democrático, no dia 27, no Estádio 11 de Novembro, em Luanda, às 17:00.

No Estádio França Ndalu, no Cassequel, os militares trabalham para contrapor o adversário. Aliás, é ponto assente que o “gigante” do futebol congolês tem muitos adeptos em Luanda e arredores. Por isso, não será uma partida fácil para os militares que tiveram um início de época diferente dos anos anteriores. No primeiro turno do Girabola, o campeão Nacional ficou na segunda posição, mas a um ponto do se rival de longa data, o Petro de Luanda, líder com 38 pontos. O técnico adjunto do 1º de Agosto, Ivo Traça, adiantou que estão a trabalhar para fazer um bom resultado em casa. Mas, admitiu também que não será uma partida fácil, porque o TP Mazembe é uma equipa com créditos firmados no futebol africano. Correcções tácticas e outros

Médio do 1º de Agosto, Ibukun, tenta desfazer-se dos adversários

modelos de ensaio vão dominar o treino desta manhã no Estádio França Ndalu. Na primeira jornada, o representante angolano empa-

tou a uma bola com o Zesco United da Zâmbia, ao passo que na segunda perdeu no Egipto com o Zamalek por duas bolas a zero.

Zito Luvumbo fora das opções de Dragan Jovic O avançado do 1º de Agosto, Zito Luvumbo, é uma das baixas no plantel no embate frente ao TP Mazembe no dia 27 do corrente mês, segundo a equipa do clube fundado em 1977. O técnico adjunto, Ivo Traça, lamentou a ausência do internacional angolano, mas fez saber que o seu lugar será ocupado por um dos seus colegas. No ano passado, o 1º de Agosto eliminou o emblema do Congo Democrático na cidade de Lumbumbashi.

Benfica multado em 13.500 euros pela UEFA A UEFA aplicou uma multa de 13.500 euros ao Benfica de Portugal por uso de material pirotécnico e lançamento de objectos para o relvado pelos adeptos encarnados no jogo com o Lyon, realizado em França, no dia 05 de Novembro. Também relativo ao mesmo encontro da 4.ª jornada do Grupo G da Liga dos Campeões, que terminou com triunfo (3-1) dos franceses, o Benfica recebeu uma advertência do Comité Disciplinar, de Ética e Controlo da UEFA devido às luvas utilizadas pelo guarda-redes Vlachodimos.

Jorge Jesus regressa com excesso de bagagem Jorge Jesus chegou no passado Domingo ao Brasil com a comitiva do Flamengo, proveniente do Qatar. No entanto, na Segunda-feira preparou-se para regressar a Portugal, sua terra natal, onde vai entrar em 2020. A gestão da sua conta do Twitter partilhou uma foto com os troféus conquistados. “Estou a arrumar as malas para entrar de férias, com tantos prémios conquistados e com tantas recordações atribuídas, creio que irei pagar por excesso de bagagem”, segundo a legenda na foto.

Petro de Luanda com teste difícil em Casa Blanca daniel miguel/arquivo

N

o prosseguimento da terceira jornada da Liga dos Clubes Campeões, o Petro de Luanda joga Sábado com o Wydad de Casa Blanca do Marrocos, em partida referente à terceira jornada do grupo C, às 17:00. Os tricolores, também na última posição com um ponto, não têm outra alternativa senão vencer pa-

ra continuarem a sonhar com a passagem. Por esta razão, o técnico Toni Cosano prepra a equipa e escala mais cedo o palco da competição para preparar melhor o desafio. Nas duas primeiras jornadas o Petro de Luanda empatou com o USM da Argélia a uma bola e perdeu com o Mamelodi Sundowns da África do Sul por 3-0.

Girabola regressa no próximo A disputa da segunda volta do Girabola 2019/2020, Campeonato Nacional de futebol, regressa aos relvados do país no próximo ano. O Petro de Luanda é o campeão do primeiro turno com 38 pontos, ao passo que o 1º de Agosto é o segundo com 37. Os clubes regressam aos trabalhos na primeira semana de Janeiro, uma vez que algumas transferências também serão feitas neste período, segundo uma fonte da Federação Angolana de Futebol (FAF). Médio do Petro, Dani, num dos jogos das Afrotças em Luanda

Leclerc amplia contrato com a Ferrari até 2024 O monegasco Charles Leclerc prolongou por dois anos o seu contrato com a Ferrari, até 2024, anunciaram a escuderia italiana e o próprio piloto. “Estou muito feliz por anunciar que seguirei na escuderia Ferrari por cinco anos mais”, escreveu Leclerc, de 22 anos, no Twitter. Quarto colocado no Mundial de Pilotos de 2019 na sua primeira temporada ao volante da Ferrari, Charles Leclerc tinha contrato até 2022.

Clijsters anuncia regresso às quadras em 2020 A belga Kim Clijsters, três vezes campeã do US Open e que se aposentou do ténis em 2012, revelou que voltará a jogar em 2020, mais precisamente em Março no México. “Mais algumas semanas de paciência, estarei pronta para entrar na quadra”, afirmou Clijsters num vídeo publicado nas redes sociais, mais de três meses depois de anunciar que pretendia voltar a jogar. A ex-número 1 do mundo citou os torneios de Monterrey (2-8 de Março), Indian Wells (11-22 de Março) e Charleston (4-12 de Abril).

Maratona da Europa decidi o campeão nacional A edição de 2020 da Maratona da Europa será também palco da decisão do campeonato nacional da distância, anunciou a Global Sport. Depois de já ter sido feito nas restantes três maratonas portuguesas (Porto, Lisboa e Funchal), o campeonato nacional da especialidade será em Aveiro a 26 de Abril de 2020, uma prova que levou milhares de corredores na primeira edição.

Kevin Durant trouxe sorrisos a crianças O jogador dos Brooklyn Nets, Kevin Durant, pode não contribuir dentro dos “courts” desde a lesão no jogo 5 da final da NBA frente aos Raptors, quando ainda era dos Golden State Warriors. No entanto, fora dos “courts”, vai dando assistências às crianças que mais necessitam nesta quadra natalícia ao oferecer 40 presentes a crianças sem-abrigo.


classificados emprego

28

imobiliĂĄrio

O PAĂ?S Quarta-feira,25 de Dezembro de 2019

diversos


29

O PAÍS Quarta-feira,25 de Dezembro de 2019

ANASTACIO CAETE

diversos

• Terrenos bem localizados 20/30 na ENCARREGADO Zona Verde III do Benfica a partir de EXECUTOR AKZ 750.000,00 • Terrenos com boa localização, todos murados de 20/30 no Patriota e Kifica Contactos: 993795 911 / 930580930

Em acabamentos ˇ Pedreiro Canalizador Electricista Ladrilhador Tˇcnico de Frio Estucador Pintor e aplica Tecto Falso, Pladur e Sancas com gavetas

OBS: DISPONÍVEL A NÍVEL NACIONAL

Cont: 933 781 255

J.L.F

CANALIZAÇÃO & PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

Especialista em Servi�o de Canaliza��o Executamos Servi�o de Ponta com material de alta qualidade e durabilidade como: Material PPR, Multicamada, Galvanizado, Politileni e muito mais. Executamos: Tubagem Sistema de �gua Quente e Fria. Sistema de Gravidade em reservat�rio de �gua e combust�vel. Tamb�m fazemos manuten�ı es com Contrato em piscinas, Col�gio, Escrit�rios, Unidades Industriais, Hot�is, Restaurantes, Resid�ncia, Condom�nios como: desentupimos canos, eliminamos infiltra�ı es, montamos electrobomba com sistema de filtro, termo-acomulador, hidromassagem e Loi�a Sanit�ria.

OBS: Disponível a nível Nacional

RAPIDEZ, QUALIDADE E EFICÁCIA AO TRABALHO

Telef: 918 717 526

Tel. 934525243


Gisela Silva

Jornalista Apresentadora

Sílvia Borges

Albino Capitango

Jornalista

Jornalista Apresentador

Mário Silva

Higino Alfredo

Sonorizador

Apresentador

Claudimer da Costa Repórter

Josefa Kiala Recepcionista

Cláudio Dias Jornalista

Rádio Mais

A Rádio que virou notícia e que se mantém no topo das audiências

Huíla 91.3 FM

Teodoro Albano

Jornalista Apresentador

Luanda 99.1 FM Huambo 89.9 FM Benguela 96.3 FM


TEMPO

O PAÍS Quarta-feira,25 de Dezembro de 2019

31

Fonte: INAMET

PREVISÃO DO TEMPO PARA AS PRINCIPAIS CIDADES

Válida de 24 a 27 de Dezembro de 2019 INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGOA E GEOFÍSICA - CENTRO NACIONAL DE PREVISÃO DE TEMPO (CNPT) PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES, válida de 25 á 27 de Dezembro de 2019 Data 25/12/ 2019

CIDADE

Mín

Máx

Data 26/12/ 2019

Estado do Tempo

Mín

Data 27/12/ 2019

Estado do Tempo

Máx

Mín

Estado do Tempo

Máx

LUANDA

24

33

Céu nublado, chuva fraca.

24

33

Céu nublado, chuva fraca ou moderada

24

33

Céu nublado, chuva fraca ou chuvisco

CABINDA

25

30

Céu nublado, chuva moderada.

25

31

Céu nublado, chuva moderada.

24

30

Céu nublado, chuva fraca.

SUMBE

25

30

Céu nublado, chuva moderada á forte.

25

30

Céu nublado, chuva moderada á forte.

25

30

Céu nublado, chuva moderada á forte.

CAXITO

25

34

Céu nublado, chuva moderada

25

34

Céu nublado, chuva moderada.

25

34

MBANZA CONGO

21

34

Céu nublado, chuva moderada á forte.

21

34

Céu nublado, chuva moderada.

20

34

UIGE

18

29

Céu nublado, chuva moderada.

18

28

Céu nublado, chuva moderada.

18

29

Céu nublado, chuva fraca.

NDALATANDO

16

29

Céu nublado, chuva moderada.

17

29

Céu nublado, chuva moderada.

18

29

Céu nublado, chuva moderada.

MALANJE

16

30

Céu nublado, chuva moderada á forte.

16

30

Céu nublado, chuva moderada á forte.

16

30

Céu nublado, chuva moderada.

DUNDO

22

29

Céu nublado, chuva moderada.

21

29

Céu nublado, chuva fraca.

21

29

Céu nublado, chuva moderada.

SAURIMO

19

29

Céu nublado, chuva moderada á forte.

18

28

Céu nublado, chuva fraca.

18

28

Céu nublado, chuva fraca

BENGUELA

23

30

Céu nublado, chuva moderada.

23

30

Céu nublado, chuva moderada.

23

30

Céu nublado, chuva moderada á forte.

HUAMBO

08

23

Céu nublado, chuva moderada á forte.

08

23

Céu nublado, chuva moderada á forte.

08

23

Céu nublado, chuva moderada á forte.

CUITO

16

28

Céu nublado, chuva moderada.

16

28

Céu nublado, chuva fraca ou moderada

16

29

Céu nublado, chuva moderada á forte.

LUENA

18

25

Céu nublado, chuva fraca.

18

25

Céu nublado, chuva fraca.

18

25

Céu nublado, chuva moderada á forte.

LUBANGO

17

26

Céu nublado, chuva moderada á forte.

17

25

Céu nublado, chuva moderada á forte.

17

26

Céu nublado, chuva moderada.

MENONGUE

21

32

Céu parcial nublado.

21

32

Céu nublado, chuva fraca ou moderada

21

32

Céu nublado, chuva fraca.

MOÇÂMEDES

20

29

Céu nublado, chuva moderada.

20

30

Céu nublado, chuva fraca

20

30

Céu nublado, chuva fraca.

ONDJIVA

19

33

Céu nublado, chuva fraca.

19

34

Céu nublado, chuva fraca.

20

34

Céu nublado, chuva fraca.

Céu nublado, chuva fraca.

Das 18 horas do dia 24 de dezembro às 18 horas do dia 25 de dezembro de 2019 REGIÃO NORTE: Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uige, Malanje, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Lunda-Sul Céu parcialmente nublado, apresentando-se muito nublado pela madrugada e manhã. Possibilidade de ocorrência de chuva fraca ou moderada em alguns municípios da província de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte Cuanza-Sul, Lunda Norte e Lunda-Sul. Possibilidade de ocorrência de nevoeiro ou neblina matinal em alguns municípios das províncias do Zaire, Bengo, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul.

Céu nublado, chuva fraca.

O Meteorologista: Lionete Mitange.

Luanda, 24 de Dezembro de 2019

REGIÃO CENTRO: Províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico Céu pouco nublado a limpo, tornando-se muito nublado pela madrugada e manhã. Possibilidade de ocorrência de chuva moderada, podendo ser localmente forte em alguns municípios das províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico. REGIÃO SUL: Províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango Céu nublado, tornando-se muito nublado pela madrugada e manhã em alguns municípios das províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango. Possibilidade de ocorrência de chuva fraca ou moderada em alguns municípios das províncias do Namibe, Huíla, e Cunene.

Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, Rua 21 de Janeiro – Tel.: 949320641 – Luanda. Site: http://www.inamet.gov.ao; emails: geral@inamet.gov.ao / geral.inamet@angola-portal.ao

TEMPO no mar BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA 1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 15:00 TU DO DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2019: Moderada á boa

Circulação de Este/Sul, fraca a modera entre os paralelos 4°S e 12°S (Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul); Circulação de Sudeste, moderada a forte entre os paralelos 12°S e 18°S (Benguela e INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA - INAMET Namibe). Centro Nacional de Previsão do Tempo BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA

2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ ÀS 18:00 TU DO DIA 25 DE DEZEMBRO DE 2019: 1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 15:00 TU DO DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2019:

Circulação de Este/Sul, fraca á modera entre os paralelos 4°S a 12°S (Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza Sul); Circulação de Sudeste, moderada a Sem aviso. forte entre os paralelos 12°S a 18°S (Benguela e Namibe). 2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 25 DE DEZEMBRO DE 2019:

Sem aviso.

REGIÃO

VENTO

ESTADO DO TEMPO

(ATÉ 200 MILHAS DA COSTA)

Cabinda (4°S – 6°S)

ALTURA DA ONDA (METROS)

ESTADO DO MAR

VISIBILIDADE HORIZONTAL (KM)

Pouco agitado

Fraca á Moderada (Superior a 5)

DIRECÇÃO FORÇA (KT) Chuvisco

Este

Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul (6°S – 12°S) Benguela (12°S – 14°S)

Chuvisco

Sudeste

Namibe (14°S – 18S)

Chuvisco

Sudeste

Sul

Até 8.0

Até 1.1

5.0 á 10

1.0 á 1.4

Até 11

Até 1.7

Até 19

Até 2.0

Pouco agitado

Agitado

Agitado

Moderada á boa (Superior a 7)

Fraca á Moderada (Superior a 5) Fraca á Moderada (Superior a 5)

Fonte: INAMET 3. DESCRIÇÃO SINÓPTICA DAS 18:00 UTC DO DIA 24/12/2019 ÀS 18:00 UTC DO DIA 25/12/2019 Depressão com pressão de 1010hPa. O seu vale depressionário estendese em toda a costa marítima de Angola. O anticiclone de Santa Helena irá deslocar-se para o Leste, com o seu centro de 1025hPa, influenciando o padrão e a intensidade do vento. Assim, prevê-se ondas máximas de até 2.0 metros de altura para a região marítima do Namibe. Para as regiões marítimas de Cabinda, Zaire, Luanda, Bengo, Cuanza-Sul e Benguela prevê-se onda máxima de 1.1 a 1.7 metros de altura.

4. CARTA DO VENTO MÁXIMO E DA ALTURA DA ONDA MÁXIMA PREVISTA Os contornos a cores indicam a altura máxima da ondulação e os contornos em tom cinza indicam os possíveis incrementos das vagas devido à influência do vento local.


Última

32

O PAÍS Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2019

IGT promete punir empresas com salários em atraso

Seis mortos e 12 feridos em acidente de viação no Bengo Seis mortos e 12 feridos graves é o balanço de um acidente de viação ocorrido na madrugada desta Terça-feira, na comuna da Canacassala, município do Nambuangongo, província do Bengo

S

egundo o director de Comunicação Institucional e Imprensa do Comando Provincial do Bengo da Polícia Nacional, inspectorchefe Paulo Miranda de Sousa, o capotamento de um camião proveniente da província do Uíge foi causado pelo mau estado técnico da viatura e a inobservância das regras do código de estrada. O condutor do camião, que além da mercadoria também transportava passageiros, en-

contra-se em fuga e diligências estão em curso para a sua detenção. Os corpos resultantes deste acidente estão depositados na morgue do hospital municipal do Nambuangongo e os feridos recebem tratamento médico no hospital geral do Bengo, em Caxito. O responsável apelou aos automobilistas a pautar por uma condução prudente e respeitar as regras do código de estrada para se evitar acidentes e mortes nas es-

tradas. Numa nota, o Governo do Bengo expressa as suas sentidas condolências e a sua solidariedade às famílias enlutadas. O Governo Provincial do Bengo comunica, igualmente, que está a ser providenciada pelos Serviços de Urgência do Hospital Provincial do Bengo toda a assistência médico-medicamentosa aos feridos que se encontram todos estáveis e a quem deseja rápida recuperação e melhoras.

Corpo de bebé de cinco meses removido na via pública A

s autoridades policiais removeram, no último fim-desemana, o corpo de um bebé de, aproximadamente cinco meses, encontrado numa das vias terciárias no bairro da Calomanda, arredores da cidade do Huambo, somando dez casos de abandono de recém-nascidos em rios e lixeiras deste Junho deste ano. O facto consta no relatório do Comando da Polícia Nacional na província do Huambo, enviado esta Terça-feira à ANGOP, sobre a situação delituosa na região no aludido período, no qual se pode ler que o corpo do recém-nascido foi supostamente depositado no local pela própria mãe, que se

encontra em fuga, por razões ainda desconhecidas. O caso, o décimo registado desde Junho, com o abandono de bebés em lixeiras e rios, alguns dos quais com vida e outros mortos, devido as condições em que foram expostos, abalou a população da localidade que condenou o acto bárbaro, por dizimar a vida de um inocente ainda em fase de formação. Perante tal facto, a Polícia Nacional reafirmou o seu compromisso de realizar diligências no sentido de encontrar a autora, para que seja responsabilizada pelo acto e, de igual modo, desencorajar práticas do género.

Ao todo, o documento indica que durante o fim-de-semana, foram registados 36 crimes de natureza diversa, contra os anteriores 48, que culminara na detenção de 42 cidadãos implicados no cometimento dos ilícitos criminais. Em alguns destes cidadãos, cujas detenções resultaram das denúncias da comunidade e das operações da Polícia Nacional, em coordenação com o Serviço de Investigação Criminal (SIC), foilhes retirados uma arma de fogo, 15 botijas de gás butano, um fogão, um televisor e vários meios electrónicos e utensílios domésticos.

Setenta por cento das empresas privadas ligado ao ramo do comércio, indústria, hotelaria, prestações de serviços e construção civil, da província do Bié, ainda têm salários, subsídios de férias e de natal por pagar aos trabalhadores. A lista incluiu 196 empresas que, segundo o chefe dos serviços da Inspecção Geral do Trabalho (IGT), António Caquarta de Oliveira, têm até ao dia 31 de Dezembro deste ano para pagar os salários, subsídios de férias e de natal. Com vista a repor a legalidade, a instituição alertou as empresas para honrar os compromissos, salientando que, em caso de incumprimento, a IGT, a partir do dia 6 de Janeiro de 2020, vai aplicar multas. A IGT, este ano, registou 911 infracções laborais, menos mil e 89 em relação a 2018, nos municípios do Cuito, Andulo, Camacupa e Chinguar. A redução

deveu-se às campanhas de sensibilização junto das empresas. Segundo o responsável, a instituição continua a necessitar de mais inspectores e meios de trabalho para expandir as actividades nos municípios de Catabola, Cunhinga, Cuemba, Nhârea e Chitembo (Bié). A IGT realizou 212 visitas inspectivas e aplicou 40 multas/auto de notícias, destas 15 foram já pagas, arrecadando dois milhões 463 mil 729 Kwanzas. No período em análise, salientou, recebeu 277 pedidos de mediação, dos quais 217 resolvidos, com indemnização de quatro milhões 448 mil 210 Kwanzas a favor dos trabalhadores. Enquanto 60 casos não tiveram consenso (empresas/trabalhadores), tendo sido encaminhados ao tribunal local para o procedimento jurídico. Foram notificados, no presente ano, nove acidentes de trabalho.

Detidos presumíveis assassinos de idosas no Zango

A

Polícia Nacional deteve Segunda-feira dois suspeitos de terem assassinado, no Sábado, duas idosas e atirado os seus corpos numa fossa, no Zango, município de Viana, em Luanda. O porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional, intendente Hermenegildo de Brito, disse tratar-se do filho de uma das vítimas e um outro indivíduo, ambos de 22 anos de idade. O intendente Hermenegildo de Brito não precisou as motiva-

ções do crime, afirmando apenas que as investigações prosseguem com a colaboração do Serviço de Investigação Criminal (SIC). Uma fonte familiar disse à Angop que os homicídios ocorreram depois de uma briga entre mãe e filho, por a idosa ter-se recusado a dar dinheiro pedido pelos suspeitos, que partiram para agressão. Os cadáveres das duas mulheres, irmãs de 65 e 69 anos, foram encontrados na fossa de uma residência.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.