Jornal OPaís edição 1796 de 03/04/2020

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MINISTÉRIO dA INdÚSTRIA JUNTA-SE À CAUSA dA PROdUÇÃO dE SABÃO PARA FAMÍLIAS CARENCIAdAS

PRS E FNLA APOIAM MEdIdAS dO EXECUTIVO, MAS APELAS A QUE SE OLHE PARA O MERCAdO

Foram já distribuídas mais de duas mil barras de sabão em dois dias de campanha nos bairros 28 de Agosto, Buraco e Tapo, pertencentes ao ramiros e Mussulo. Barra do Cuanza, Calumbo e Icolo e Bengo serão os próximos beneficiários. P. 10

Em declarações a OPAÍS, os dois partidos da Oposição apelam ao Executivo para redobrar os esforços para manter os produtos da cesta básica disponíveis à população neste período de estado de emergência nacional. P. 8

OPAÍS

Director: José Kaliengue www.opaís.co.ao e-mail: info@opaís.co.ao @Jornalopaís facebook/opaís.angola

O DIÁRIO DA NOVA ANGOLA

Edição n.º 1796 Sexta-feira, 03/04/2020 Preço: 40 Kz

VIrGÍLIO PINTO

Dr

ANGOLA SEM NOVOS CASOS POSITIVOS dE COVId-19 NAS ÚLTIMAS 24 HORAS ● Angola continua com oito casos positivos de Covid-19 detectados até agora. Cinco infectados apresentam sintomas ligeiros da doença e estão a ser assistidos nas unidades equipadas para o efeito, revelou, ontem, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda. P. 3

COVId-19

BIOCOM dOA 16 MIL LITROS dE ÁLCOOL

EM FOCO: A “guerra” é de todos e o único fabricante nacional do

produto mais procurado do momento entra nela fornecendo-o a centros de acolhimento, lares de idosos, hospitais, forças armadas e de segurança, administrações municipais e a técnicos do Ministério da Saúde, entre outros. P. 2 af_bai_nahora_imprensa_276x42,733mm_empresa.pdf

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18/11/19

15:05

“A censura complicavanos a vida” ● Antigo jornalista do Cultura II

e do ABC, ex-membro da Sociedade Cultural de Angola, Adolfo Maria é um nacionalista angolano que participou na luta anti-colonial. Em alguns dos seus livros, o ensaísta aborda o processo que culminou com a Independência nacional. P. 14

Albertina Cassoma apela os cidadãos a ficarem

em casa

● A pivot da Selecção Nacional

sénior feminina de andebol e do 1º de Agosto, Albertina Cassoma, apelou aos angolanos a ficarem em casa, de modo a prevenir a propagação do Covid-19, que está a assolar o mundo. P. 27


EM FOCO

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Dr

Saúde recebe 10 mil litros No município de Cacuso foram beneficiados o orfanato do Lombe, com 100 litros, o hospital municipal, com 200 litros, o comando policial e a escola regional da Polícia com 200 litros cada Stela Cambamba

F Biocom fornece 16 mil litros

de álcool a instituições para o combate ao Covid-19 A Companhia de Bioenergia de Angola LDA (Biocom) decidiu fornecer cerca de 16 mil litros de álcool a diversas instituições. A medida tem como objectivo evitar a propagação do Covid-19 em Angola Patrícia de Oliveira

P

erto de 35 instituições de diversos sectores, fundamentalmente orfanatos, hospitais, lares de idosos, unidades policiais e administrações beneficiaram de álcool neutro. A matéria-prima é utilizada, nesta época, para higienização, limpeza e desinfestação na luta contra a pandemia do Covid-19, que contínua a ceifar vidas em todo o mundo. O director-geral da Biocom, Luís Bagorro, avançou que com esta iniciativa, a Biocom quer participar de forma activa no combate ao Coronavírus no país. “A Biocom é a única produtora de álcool no país. Tendo em conta a escassez do produto, fomos soli-

citados a ajudar com a distribuição para o sector da Saúde e outras empresas, pelo facto de ser uma matéria-prima de grande utilidade no combate ao Covid-19”, disse. O responsável referiu que foi montada uma estrutura rápida na empresa e foram adquiridos recipientes novos. Começando-se de imediato a fazer o engarrafamento de álcool neutro 70% utilizado nestas situações. “Começamos a fazer a distribuição no município de Cacuso, província de Malange, e depois estendemos a outras localidades”, explicou. Segundo ele, para garantir as medidas de higiene orientadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a empresa dispensou 30 % dos trabalhadores. “Fizemos reformas no refetório para permitir que a distância seja preservada entre os funcionários.

De modo a evitar a propagação da pandemia”, explicou. A grande preocupação do dirigente prende-se com a importação de máquinas para auxiliar na produção em grande escala. Biocom pretende aumentar produção de álcool e açúcar em 2020 Na safra passada, num período de seis meses, a Biocom produziu

Começamos a fazer a distribuição no município de Cacuso, província de Malange, e depois estendemos a outras localidades”

um total de 14 milhões de litros de etanol. Deste número, 40% é destinado para consumo nacional na produção de produtos hospitalares, de limpeza e na indústria de bebidas. Enquanto isto, foram produzidas 110.000 de toneladas de açúcar do tipo cristal branco, que representa 35% do consumo nacional. Sobre aa produção de energia elétrica, a empresa gerou 60.000 MWh que foram exportados para a RNT (capacidade energética para servir de 60 mil residências). Estes números ultrapassam os records de produção nacional. Na safra 2020, a empresa pretende elevar a produção para 115 mil toneladas de açúcar cristal, 18 milhões de litros de etanol neutro e gerar 98 mil Mwh de energia elétrica de fonte renovável.

oram ainda beneficiados na localidade o centro de reclusão com 150 litros, comando da 11ª brigada 250 litros, e no município sede, foram beneficiários o Governo provincial de Malanje, o hospital-geral, o beiral, a cadeia da comarca, o corpo de bombeiros, a Casa do Gaiato, todas com 200 litros, quando a Força Aérea recebeu 150 e o Ministério do Interior 300 litros de álcool. No Cuanza-Norte as instituições que beneficiaram foram o Governo provincial,l com 200 litros, e o SINSE, com 100 litros. Em Luanda, a acção começou ontem, com variadíssimas unidades programadas pela empresa, entre as quais se destaca o Ministério da Saúde, que será contemplado com 10 mil litros de álcool. Outras unidades como o Lar Kuzola, o centro de acolhimento Horizonte Azul, a cadeia de São Paulo, Comarca de Viana, a Remar, associações de Crianças e Adolescentes e a Administração de Talatona irão receber 200 litros cada. Entretanto, o Hospital Américo Boavida, a clínica Multiperfil, MISFRON e o beiral recebem 100 litros cada, assim como a RNT e IRSEA com 75 litros cada.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

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Angola sem novos casos positivos de Covid-19 nas últimas 24 horas Angola continua com oito casos positivos de Covid-19 detectados até agora. Cinco infectados apresentam sintomas ligeiros da doença e estão a ser assistidos nas unidades equipadas para o efeito, revelou, ontem, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda

Maria Teixeira

N

a apresentação diária do ponto da situação epidemiológica do país, o gestor fez saber que até ao dia de ontem não tinham sido registados em Angola novos casos positivos de Covid-19, ou seja, o país continua com os oito casos positivos, já anunciados no dia anterior. “Até ao momento, o quadro não mudou. Ficamos com os cinco casos hospitalizados, um recuperado e dois óbitos. Todos, os cinco estão estáveis”, garantiu ontem Franco Mufinda, em declarações à imprensa. Esclareceu que se trata de casos importados, que do ponto de vista de saúde pública entende-se como casos de pessoas que viajaram a áreas onde se vive a doença e, de regresso ao país, acabaram por revelar-se doentes. E o país se encontra assim neste momento. Por outro lado, disse que o quadro pode mudar com o andar do tempo, havendo a previsão que já referiu dias atrás de num provável aumento de casos na segunda quinzena do mês corrente, o que poderia levar a ter no princípio do mês de Maio pouco mais de 1000 casos e tendencialmente ir até ao pico no mês de Junho com um acumulado de 10 mil casos. Explicou que existe também o segundo conceito que é chamado de transmissão local, em que o sujeito que regressou ao país pode contaminar uma outra pessoa que não viajou a lado algum. “Essa progressão da doença até dois sujeitos nós chamamos de transmissão local que pode vir a acontecer, mas ainda não aconteceu no país” esclareceu. Franco Mufinda disse ainda que se o primeiro contacto, ou o o sujeito que teve contacto com este que

regressou ao país, for contaminado e depois passar a doença a uma outra pessoa, ali estaríamos diante do terceiro conceito que é chamado de circulação comunitária. “Passamos do viajante ao não viajante que pode distribuir a doença ao vizinho, amigo e a toda a família. Ali sim, já não há controlo e não há contenção e chamamos de circulação comunitária, que não queremos que venha a acontecer no país”, esclareceu. Por outro lado, pediu às pessoas que observem as medidas todas e respeitem o isolamento social, que é ficar em casa e seguir as medidas de higiene, lavar frequentemente as mãos e manter o distanciamento social. dois casos suspeitos em internamento Durante as 24 horas registaram-se cerca de 224 chamadas no CISP e 11 alertas de casos suspeitos, destes, seis foram descartados e cinco investigados, sendo que os dois casos tiveram como finalidade o internamento e estão a ser seguidos como casos suspeitos. “Tivemos também acesso a 26 denúncias de violações de quarentena domiciliar. Até a presente data, o sistema registou 336 casos suspeitos e seguimos cerca de 559 contactos. Neste momento estamos a controlar 1918 pessoas que se encontram em quarentena”, disse. Cerca de 150 amostras estão em processamento Até ao momento foram colhidas 591 amostras e estão em processamento 150. Entretanto, fez saber que esforços estão a ser feitos para que até amanhã ou no Domingo as pessoas que se encontram em quarentena institucional possam receber alta. Salientou que as actividades de formação continuam, bem como a aquisição de equipamentos de pro-

VIrGÍLIO PINTO

tecção individual, mas também outros meios de ventilação e medicamentos indicados para o seguimento de casos confirmados. Também a preparação dos hospitais. De realçar que o último cidadão que fez subir para oito casos positivos de infecção de Covid-19 no país é um sul-africano. Este caso nada tem a ver com as pessoas que cumprem a quarentena institucional.

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ANÚNCIO PÚBLICO ASSUNTO: PEDIDO DE EXPRESSÃO DE INTERESSE (EdI), PUBLICADO EM 13/03/2020 Em aditamento à EdI para a prestação de serviços de consultoria para a compilação de relatórios temáticos para: (i) aspectos socioeconómicos das indústrias oceânicas; e (ii) turismo costeiro e marinho no Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela, a Convenção da Corrente de Benguela tem a honra de comunicar aos potenciais concorrentes que, devido a restrições rigorosas destinadas ao combate à propagação do COVID-19, que resultaram em dificuldades logísticas, foram tomadas as seguintes medidas: 1. Os documentos de concurso deverão ser remetidos electronicamente à Sr.ª Laimy Brown laimy@benguelacc.org; 2. O prazo-limite foi prorrogado até 09 de Abril de 2020; Por favor, note que aqueles que já remeteram cópias impressas, NÃO deverão remeter novamente.


4 dESTAQUES POLÍTICA. PÁG. 8 FNLA e PrS apelam ao Executivo para reabastecer o mercado com produtos da cesta básica.

SOCIEdAdE. PÁG. 10 Ministério da Indústria junta-se à causa de produção de sabão para famílias carenciadas

CARTAZ. PÁG. 14“A censura complicava-nos a vida”.

ECONOMIA. PÁG. 19 Futuras notas de kwanzas vão ser lidas por deficientes invisuais.

o editorial

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

HOJE: os números do dia

O

Governo não está sozinho na luta contra o novo Coronavírus. Há ainda resistência de muitas pessoas à ideia de ficar em casa, mas a mensagem precisava e precisa de tempo para ter efeito. tempo que escasseia. Há mais gente com comportamento diferente na rua, pessoas mais afastadas, menos circulação, apesar de tudo. E há empenho empresarial, inestimável, como o da Biocom e o da Nova Agrolíder, cuja acção leva o cidadão a perceber mudanças e a ser tocado pela mensagem. Mas há bancos e seguradoras também a ajudar, tal como empresas e proprietários particulares de camiões-cisterna a levar águas aos bairros que não a têm canalizada. ƒ pelo exemplo que se chega lá. E que não seja cobrado depois. Mais empresas, mais serviços, mais figuras a agir e mias facilmente as pessoas entenderão a mensagem. Felizmente há parceiros com quem o Governo pode contar.

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Hoje a Europa está a mobilizar-se ao lado da Itália. Infelizmente, nem sempre foi o caso” Ursula von der Leyen Presidente da Comissão Europeia

Fábrica de oxigénio, com capacidade para produzir entre 25 e 30 botijas por dia, começa a funcionar nos próximos dias na província do Bengo. A informação foi avançada pela directora do local da Saúde, Victória

Cidadãos foram detidos na Quarta-feira pela Polícia Nacional, em Saurimo, província da Lunda-Sul, por desobediência.Angola observa desde o dia 27 de Março um regime de excepção que restringe direitos durante 15 dias fundamentais dos cidadãos, como a livre circulação e conglomerados populacionais.

577 5116

Pessoas estão detidas no estabelecimento de Cacanda, na Lunda-Norte, entre detidos e condenados. O centro de detenção criou já uma área de quarentena pata novs reclusos.

Mortes em 215.417 casos confirmados é o último balanço sobre o Covid-19 nos EUA. O número de óbitos nos Estados Unidos ja superou os 3.316 registados pela China, mas estão bem abaixo dos contabilizados na Itália e Espanha.

o que foi dito MUNdO . PG. 23 China intensificará triagem de infecções assintomáticas por COVID-19

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Uma questão de dias

Nenhuma pessoa foi infetada com o novo coronavírus no nosso país até agora”, Pak Myong Su Diretor do departamento antiepidémico do centro de emergência contra as epidemias da Coreia do Norte

Podem usar detergente para lavar e reutilizá-las, por isso isto deve ser uma boa resposta à repentina e enorme procura por máscaras” Shinzo Abe Primeiro-ministro do Japão


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

5 e assim... José Kaliengue Director

Hoje no online de O PAÍS leia a entrevista com a embaixadora do reino Unido, Jessica Hand, saiba mais sobre a cimeira que o seu país organiza a partir de amanhã com parceiros africanos

Se pudéssemos parar o tempo...

P

www.opais.co.ao Covid-19 (India): O segunda país mais populoso do planeta depois de decretar o estado de emergencia, a população diz: “a fome vai nos matar-nos antes dos vírus” (Dr)

o que vai acontecer Quarentena Doze cidadãos

nacionais em quarentena domiciliar desde o dia 12 de Março, em Ndalatando, Cuanza-Norte, podem receber hoje exames laboratoriais de confirmação ou descarte do contágio do novo Coronavírus (Covid-19) para serem liberados. Segundo a directora do Gabinete Provincial da Saúde, Filomena Wilson, que falava à imprensa, os cidadãos em causa, sendo nove vindos de Portugal, um do Brasil e dois residentes em Ndalatando, já cumpriram o período de isolamento imposto pelas autoridades.

Suécia Prossegue hoje a integração, iniciada ontem, na Suécia, de comissários de bordo treinados de forma intensiva entra na linha de frente de combate ao Covid-19, a fim de reduzir a sobrecarga de médicos e enfermeiros no país. A expectativa é de que mais de mil funcionários da companhia aérea SAS irão aderir ao programa de treinamento, oferecido gratuitamente em Estocolmo na Universidade Sophiahemmet. A SAS afastou temporariamente um total de dez mil funcionários – 90% da sua força de trabalho – no último dia 15 de Março, em função da drástica redução do tráfego aéreo.

Comércio Estabelecmentos comerciais encerram hoje na capital do Zaire, depois de a administradora municipal de Mbanza Kongo, Nzuzi Makiese, ter, onte, solicitado, o encerramento e a detenção dos proprietários de alguns estabelecimentos comerciais que ainda insistem em comercializar produtos proibidos pelo Decreto Presidencial. De acordo com a responsável, assiste-se ainda em Mbanza Kongo, a abertura de alguns estabelecimentos comerciais excluídos de vender nesta fase de regime excepcional que o país vive, sob o olhar alegadamente impávido e sereno dos agentes da Polícia Nacional.

Pandemia O Ministério da Saúde apresenta hoje em conferência de imprensa o estado actual do novo Coronavírus (Covid-19), na sede do CIAM, em Luanda, a partir das 16 horas.

or quarenta e oito horas Angola não teve revelado qualquer novo caso de contaminação pelo novo Coronavírus. Que estes dois dias se multipliquem, que cresçam, sendo sempre iguais. Mas iguais apenas no caso desta doença nova. Para que cada um possa sair a abraçar quem ama, para que os afectos se façam outra vez do toque, da proximidade. Para que os angolanos, e toda a humanidade, voltem a sentir o afago de um cafuné e a liberdade de ir solto ao vento ao encontro do horizonte onde há sempre quem nos espera e de onde há sempre novas partidas. Mas será obrigatório novo elemento na bagagem com que se parte, novo sabor no carinho que se dá e que se recebe, nova alma no beijo. Tudo isto vindo da lição aprendida. Olhando para o rasto do maldito vírus pelo mundo, há que soltar um forte basta! gritado a plenos pulmões, o seu alvo principal. Mas é preciso gritar com novas atitudes, e viver com mais amor, pelo próximo, por cada um, pela natureza. Não é a demonstração física de afectos que espalha o vírus, é a falta de amor que o faz, porque pode haver um vazio de amor quando se tocam os corpos, quando se partilha objectos. O amor que devemos reaprender agora é aquele que respeita a vida, que a preserva se necessário afastando-se. Digamos que se trata de uma fase de maturidade do amor. As crises, as doenças do corpo e da alma, os dias que passam e os erros servem para isso mesmo, para crescermos, como pessoas, como sociedade, como Estado. Nestes dias de saudades, em que também se semeia no espírito a presença moldada de afastamento, nestes dois dias de tréguas numa guerra que se vence fugindo do toque de mãos de quem se ama para matar o inimigo, aprendamos a multiplica-los ausentando-nos dos outros, de nós, só para mais depressa chegar o reencontro.


6 Media Nova, S.A Presidente do Conselho de Administração Filipe Correia de Sá Administradores Executivos Luís Gomes Paulo Kénia Camotim Propriedade : Socijornal Depósito Legal: Nº 244/2008 Contribuinte: 5417015059 Nº registo estatístico: 48058

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

NO TEMPO dO KAPARANdANdA

Director Geral de Publicações: José Kaliengue jose.kaliengue@opais.co.ao

OPAÍS

Director: José Kaliengue Sub-Director: Daniel Costa, daniel.costa@opais.co.ao Chefe de Redacção: Eugénio Mateus, eugenio.mateus@opais. co.ao Grande repórter: André Mussamo andre.mussamo@opais.co.ao Editorias : Política: Ireneu Mujoco ireneu.mujoco@opais.co.ao (Editor) Sociedade: Paulo Sérgio paulo.sergio@opais.co.ao (Editor) romão Brandão romao.brandao@opais.co.ao (Sub-editor) Economia Luís Faria (Coordenador-Editor) luis.faria@opais.co.ao Desporto: Sebastião Félix sebastiao.felix@opais.co.ao (Editor) Mário Silva mario.silva@opais.co.ao (Sub-editor) Cartaz: Jorge Fernandes jorge.silva@medianova.co.ao (Sub-editor) Redacção: Norberto Sateco, Alberto Bambi, Augusto Nunes, Miguel Kitari, Domingos Bento, Neusa Filipe, Milton Manaça, Antónia Gonçalo, Maria Teixeira, Iracelma Kaliengue, Patrícia Oliveira, Stela Cambamba, Zuleide de Carvalho (Benguela),Brenda Sambo, Maria Custódia e Adjelson Coimbra. Arte: Ladislau Bernardo (Coordenador) Valério Vunda (Coordenador adjunto)Lourenço Pascoal, Annette Fernandes, Nelson da Silva e Francisco da Silva. Fotografia: Carlos Moco (Editor), Daniel Miguel (Sub-editor), Pedro Nicodemos, Jacinto Figueiredo, Carlos Augusto, Virgílio Pinto, Lito Cahongolo (repórteres fotográficos), rosa Gaspar e Yuri dos Santos (Assistentes de Departamento) Agências: Angop, AFP, reuters, Getty Images

Assistentes de Redacção: Antónia Correia, rosa Gaspar, Inês Monteiro e Sílvia Henriques Impressão e acabamento: DAMEr, S. A. Luanda Sul, Edifício Damer Distribuição: Media Nova Distribuição Tel: +244 943028039 Distribuidora@medianova.co.ao pontodevenda@medianova.co.ao Assinaturas: Bruno Pedro Tel: +244 945 501 040 Bruno.Pedro@medianova.co.ao Online: Venâncio Rodrigues (Editor)Isabel Dalla e Ana Gomes Sítio Online: www.opais.co.ao Contactos: info@opais.co.ao Tel: 914 718 634 -222 003 268 Fax: 222 007 754 Sede: Condomínio ALPHA, Talatona- Luanda. Tel: 222 009 444 república de Angola

Comercial e Marketing: Senda Costa 922682440 Vladimir Teixeira email: comercial@medianova.co.ao Tiragem: 15 000 exemplares

1930 -

03 de Abril de Rastafari assume o poder na Abissínia (actual Etiópia) e proclama-se imperador, adoptando o nome de Hailé Selassie.

1979 -

03 de Abril de O exprimeiro-ministro paquistanês, Ali Bhutto, afastado do poder através de um golpe de Estado militar, é executado por enforcamento.

1982-

03 de Abril de A primeiraministra britânica, Margareth Thatcher, envia uma poderosa força naval para o Atlântico Sul, na sequência da tomada das ilhas Falkland (Malvinas) pela Argentina.

CARTA dO LEITOR

Gestos pequenos para grandes obras Dr

Caro director, Cada um pode fazer alguma coisa para travar o Coronavírus. Eu tenho visto pequenas acções que podem ajudar as pessoas perceber o perigo e que também ajudam para a mudança de comportamento. Por exemplo, às portas das cantinas, não todas, mas muitas delas, os proprietários colocaram bidons com torneira e sabão para que os clientes lavem as mãos antes de entrarem. Alguns têm uma mistura com lixívia. Lá dentro, também há comerciantes que não aceitam mais do que dois clientes ao mesmo tempo. Acho que é com estes agentes que lidam com o povo a todo o momento que se deve contar para passar a mensagem. Os administradores de mercados também deveriam ser obrigados a disponibilizar este pequeno serviço de lavagem das mãos para que todas as pessoas usem. Os populares perceberiam que há algo de diferente nas suas vidas e perceberiam melhor o perigo e que têm de mudar de comportamento. Daí a ficar em casa o caminho da sensibilização fica mais curto. É fazendo coisas pequenas que se ergue grandes obras. João Mateus Mfinda Escreva para o Jornal OPAÍS através do e-mail info@opais.co.ao ou ligue para estes contactos Tel: 222 003 268 Fax: 222 007 754


1973 - Amílcar Cabral, dirigente e fundador do PAIGC, é assassinado em Conakry. 1981 - Os 52 reféns norte-americanos, detidos no Irão há mais de 13 meses, são finalmente libertados, ao mesmo tempo que Ronald Reagan toma posse como quadragésimo presidente dos Estados Unidos. 1997 - O governo de Mobutu, em Kinshasa, Zaire, declara, oficialmente, guerra contra os rebeldes no norte do país, liderados por Laurent Désiré Kabila, depois de estes ocuparem uma parcela de 600 quilómetros no interior do país.


POLÍTICA

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

FNLA e PrS apelam ao Executivo para reabastecer o mercado com produtos da cesta básica Em declarações a OPAÍS, os dois partidos da Oposição apelam ao Executivo para redobrar os esforços para manter os produtos da cesta básica disponíveis à população, neste período de estado de emergência nacional DANIEL MIGUEL/ArQUIVO

Secretário-geral do PRS, Rui Malopa

Maria Custódia

O

porta-voz da FNLA, Jerón i mo Makana, disse a OPAÍS que o reaba steci mento do mercado, de bens essensciais, poderá acudir as prementes necessidades básicas da população neste período de emergência e não só, já que os produtos começam a escassear no mercado e os preços

sobem vertiginosamente. “Não sabemos até quando vai durar o estado de emergência. Se não se criar condições de reabastecimento, a fome vai matar a população”, disse, inicialmente. O pronunciamento do político surgiu em reação às reclamações de vários cidadãos da província de Luanda que se queixam da escassez de produtos da cesta básica.Aliás, os disponíveis estão a ser comercializados a preços exorbitan-

“Escrupulosa-

mente” as medidas e as orientações das autoridades, para se evitar “confrontos verbais ou agressões físicas”

tes nos principais mercados. De acordo com o responsável, a situação agrava-se ainda mais com o encerramento dos mercados do Km 30, no município de Viana, Catinton, município de Luanda, e do Kifangondo, no município de Cacuaco, pelas administrações municipais, por força do estado de emergência nacional decretado pelo Presidente da República, João Lourenço. De acordo com o político, o seu partido recebeu “com agrado” as medidas implementadas pelo Executivo, ao decretar o estado de emergência, mas para o seu cumprimento, sem sobressaltos, Jerónimo Makana defende que os cidadãos tenham o suficiente para “comer em casa”, para evitar que saiam às ruas para procurar mantimentos. Informou que face à medida, a FNLA entrou também no processo de sensibilização dos seus militantes, simpatizantes e amigos para cumprirem as medidas de prevenção contra o novo Coronavírus (Covid-19). O porta-voz da FNLA acredita que se todos os angolanos acatarem as medidas do Executivo e cumprirem todas as orientações das autoridades sanitárias, Angola poderá “rapidamente livrar-se desta pandemia”, tendo em conta os poucos casos que tem. Excesso de zelo Por outro lado, o seu partido condena o excesso de zelo de alguns efectivos da Polícia Nacional (PN) e das Forças Armadas Angolanas (FAA) devido aos actos de agressão contra cidadãos que aconteceram

nas províncias de Luanda, Cabinda, e Benguela. Defende que estas forças devem fazer um trabalho de aconselhamento para dar uma orientação acertada à população, sublinhando ser “desnecessária nesta altura a presença de militares nas ruas”. À população, Jerónimo Makana apelou que obedeça “escrupulosamente” as medidas e as orientações das autoridades, para se evitar “confrontos verbais ou agressões físicas”. PRS defende mais alimentos e fármacos Ainda sobre a situação, o secretário-geral do PRS, Rui Malopa Miguel, em conversa com este jornal, manifestou-se preocupado com a situação social por que passa a população, argumentando que o estado de emergência foi decretado numa altura em que não foram criadas as mínimas condições de sobrevivência durante a quarentena. “O estado de emergência encontrou as famílias fragilizadas socialmente. Muitas delas dependem da venda diária para o seu sustento”, disse o político dos renovadores sociais. Rui Malopa apelou ao Governo no sentido de melhorar o abastecimento de alimentos, água e fármacos para ajudar a população a prevenir-se do Covid-19, “ sem deixar de parte a disponibilidade dos produtos da cesta básica”. Fez saber que o seu partido solidariza-se com as equipas médicas e com todas as pessoas que estão mobilizadas nesta altura para combater esta pandemia no país e no mundo.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

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PN desmente agressão contra cidadão na província do Namibe O porta-voz do Ministério do Interior, Waldemar José, desmentiu, na Quinta-feira, em Luanda, o alegado caso de agressão contra um cidadão nacional no município do Tômbwa, província do Namibe, por forças da Polícia Nacional

F

alando na habitual conferência de imprensa de balanço das últimas 24 horas do estado de emergência nacional, no âmbito da prevenção e combate contra o Covid-19, Waldemar José frisou que as imagens di-

fundidas nas redes sociais são antigas e não estão relacionadas com qualquer caso de agressão que tenha sido perpetrada pelos agentes das forças de defesa e segurança. O oficial destacou o julgamento de dois agentes da Polícia Nacional na província de Benguela, por acto

de suborno. Os réus foram condenados a três meses de prisão efectiva. Apontou ainda a detenção, na Quarta-feira, de um cidadão por atropelar um oficial da Polícia, que será responsabilizado criminalmente, e de uma cidadã, para responsabilização criminal, por tentativa de atropelamento de um agente numa barreira policial, ambos na província da Huíla. Nas últimas 24 horas foi também detido, na mesma província, um cidadão, para responsabilização criminal, por ter agredido, com uma garrafa um agente da Polícia. Na província do Namibe, cinco cidadãos foram condenados e um absolvido, enquanto 90 foram detidos por desobediência e desacato

autoridade. Luanda lidera a lista com 49 detidos, 17 na Huíla, nove no Moxico, seis no Bengo, cinco na Lunda-Norte, quatro no Uíge, três no Cuanza-Sul, Lunda-Sul e Cabinda, e um no Cunene, Bié e Huambo, respectivamente. Waldemar José informou terem sido apreendidas 99 viaturas por excesso de lotação nas províncias do Uige, com 47, Luanda com 38,

O oficial destacou o julgamento de dois agentes da Polícia Nacional na província de Benguela, por acto de suborno. Os réus foram condenados a três meses de prisão efectiva

Cuanza-Sul com seis, Benguela com três, Cunene e Cuando Cubango com duas, Moxico com uma. A polícia apreendeu também 156 botijas de gás butano por especulação de preços e 274 motociclos, na província do Cuanza-Norte, 81 motociclos nas províncias de Luanda, 72 no Uíge, 27 em Benguela, 20 no Cuanza-Sul, 18 no Moxico, 16 no Cunene, 13 no Bengo, 11 em Cabinda, 10 no Cuando Cubango, seis no Cuanza-Sul e uma na Luanda-Sul. Foram encerrados, em Luanda, 53 estabelecimentos comerciais, 46 no Moxico, seis no Cunene seis, por desobediência, e desmantelaram cinco mercados informais, sendo três em Benguela e dois no Bié. Adiantou que a Polícia perspectiva bloquear os números telefónicos que praticam denúncias falsas e responsabilizar civil e criminalmente os utentes. ANGOP

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SOCIEdAdE

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

CEDIDA

Ministério da Indústria junta-se à causa da produção de sabão para famílias carenciadas Foram já distribuídas mais de duas mil barras de sabão em dois dias de campanha nos bairros 28 de Agosto, Buraco e Tapo, pertencentes ao ramiros e Mussulo. Barra do Cuanza, Calumbo e Icolo e Bengo serão os próximos beneficiários

O Milton Manaça

Ministério da Indústria vai juntar-se àcampanha de produção e d istribu ição gratuita de sabão às comunidades carentes de Luanda, uma iniciativa de jovens pertencentes a startup Ambireciclo e QVL, que pretendem contribuir para a higienização das mãos no âmbito da prevenção do Covid-19. “O Ministério predispôs-se a ajudar na aquisição da soda cáustica, uma das matérias-primas essenciais para a

produção do sabão. Desde já, agradecemos, porque vai facilitar e acelerar o nosso trabalho”, disse a OPAÍS a engenheira Fernanda Renée, promotora do projecto. Aos poucos, as principais dificuldades que os jovens encontravam na produção de sabão começam a ser ultrapassadas, graças ao envolvimento de diferentes franjas da sociedade que reconhecem a nobre iniciativa. Fernanda Renée diz que a produção ainda não parou e o envolvimento da sociedade civil, hotéis e restaurantes, estes últimos cedendo óleo de cozinha usado, tem sido preponderante na produção deste bem importante para a hi-

O Ministério predispôs-se a ajudar na aquisição da soda cáustica, uma das matérias-primas essenciais para a produção do sabão. Desde já agradecemos, porque vai facilitar e acelerar o nosso trabalho”

gienização das mãos. “Agora já recebemos ligações de pessoas interessadas a contribuir de diferentes formas. É gratificante, porque conseg uimos perceber que começa a existir o interesse de todos para nos prevenirmos desta pandemia”, frisou a nossa interlocutora. Responsabilidade aos beneficiários Na semana finda, comunidades carentes como as do Tapo, 28 de Agosto e Buraco, foram as primeiras beneficiárias do projecto, onde se fez a distribuição de duas mil 256 barras de sabão em dois dias. Nos próximos dias, prevêse concluir a distribuição do Mussulo e Ramiro. Posteriormente vão “atacar” a Barra do Cuanza, Calumbo e o município rural do Icolo e Bengo. Fernanda Renée disse que a par da distribuição do sabão, a sua equipa se tem engajado também na responsabilização

das comunidades mostrando que a pandemia do Coronavírus só poderá ser vencida se cada um fizer a sua parte. Importa frisar que a produção de sabão conta com um laboratório de controlo de qualidade que serve para medir a quantidade soda cáustica, com o objectivo de evitar que o produto cause efeitos colaterais aos usuários. A iniciativa tem uma dupla função, já que a nível ambiental o óleo que está a ser usado quando desperdiçado pode bloquear a drenagem das águas, mas os jovens conseguem recicla-lo e dar-lhe uma outra utilidade social. Várias startup estão unidas à causa, como são os casos da Kubinga, Tupuca, Televa, Soba, Sócia, entre outras, unidos para diminuir as dificuldades que as famílias têm encontrado na aquisição deste produto essencial para prevenção do Covid-19, cujos preços vão se alterando a cada dia que passa.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

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Mais de 40 moto-taxistas julgados por desobediência ao estado de emergência Dr

O Tribunal Provincial de Luanda julga, desde ontem, um grupo de 44 jovens que sobrevivem da actividade de moto-táxi, por inobservância da ordem que consta no Decreto de Estado de Emergência. O serviço de moto-táxi deve estar suspenso durante o período emergencial e a AMOTrANG lamenta o facto de existirem associados a desobedecerem tal ordem Romão Brandão

A

manhã de ontem, 2 de Abril, serviu para o início do julgamento sumário de 44 moto-taxistas, em várias salas dos tribunais municipais da província de Luanda, por desrespeito às regras do Decreto Presidencial de Estado de Emergência, face a pandemia Covid-19. Deste número, foram condenados 22 a penas de 20 a 30 dias de prisão, convertidas em multa de 20 a 30 mil Kwanzas. Os outros 22 cidadãos conhecerão a pena hoje. Consta no Decreto Presidencial n° 82/20 de 25 de Março, no Artigo 29° n°3 a proibição da circulação e o exercício de actividade de moto-táxi enquanto durar o estado de emergência declarado. Por desobediência, os arguidos foram encaminhados ao tribunal, após serem detidos durante uma micro-operação ocorrida em diversos municípios da cidade capital, concretamente em Cacuaco, Kilamba-Kiaxi, Talatona e Icolo e Bengo, que culminou igualmente com a apreensão das motorizadas dos referidos moto-taxistas em julgamento. Essa é uma situação que o presidente da AMOTRANG, associação dos moto-taxistas de Angola, Bento Rafael, lamentou, pois apesar dos apelos que tem vindo a fazer nos meios de comunicação social, muitos associados insistem em trabalhar e desobedecer a proibição do estado de emergência.Em entrevista ao jornal OPAÍS, a reacção de Bento Rafael foi de tristeza, porque os próprios moto-taxistas sabem que exercendo tal actividade, com o novo Coronavírus à solta, colocam em ris-

co a sua via e a vida dos seus familiares, porquanto a aproximação entre o condutor e passageiro é inevitável. “Muitos passageiros agarramse ao condutor como se fosse sinto de segurança. Neste período grave a actividade de moto-táxi deve parar, devemos fazer algum sacrifício, mas, lamentavelmente, algumas pessoas insistem em trabalhar. As leis devem ser respeitadas e cumpridas”, disse. Bento denunciou que muitas dessas motorizadas têm um patrão e é este indivíduo, que a princípio devia ter uma posição contrária, que depois obriga o trabalhador a trazer a conta diária, apesar de todos os riscos de contaminação. Defende que os seus associados devem fazer algum sacrifício e paralisar mesmo. É um sacrifício que não é só dos moto-taxistas, mas de todos, para um bem maior, segundo o entrevistado, só que o momento exige para o bem “vida”. “Muitos desses taxistas estão na aflição, insistem em trabalhar e quando são interpelados pela Polícia estão a cometer atropelamentos, partem sem direção, não medem o que encontram à frente e resulta em consequências graves. Não vamos concordar com este comportamento”, reportou. A nível do país, a AMOTRANG procura não se cansar de orientar os seus delegados provinciais no sentido de continuarem a sensibilizar os moto-taxistas a paralisarem temporariamente o trabalho, até passar esta fase difícil. “Estamos a lutar contra um vírus que ninguém sabe quem já tem, por isso, toda a cautela é importante e a obediência às leis é uma boa iniciativa”, finalizou.

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SOCIEdAdE

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Calouste Gulbenkian dá bolsas de pósgraduação para PALOP e Timor Leste Dr

Com o objectivo de estimular a investigação e promover a valorização profissional, a referida fundação europeia definiu a facilitação da continuação de formação dos estudantes Alberto Bambi

d

e acordo com a i n formação avançada por esta organização, a atribuição destas bolsas a estudantes de países africanos de língua oficial portuguesan (PALOP) e de Timor Leste é, igualmente, uma forma de contribuir para que, nestes países, exerçam as

suas actividades e que pretendam prosseguir e actualizar os seus conhecimentos em Portugal. Para se candidatar a uma das vagas disponíveis aos cursos de ciências exactas, da saúde, Língua Portuguesa e Tecnologias de Informação e Comunicação, em ópticas apilcadas à educação, os candidatos deverão preencher um formulário disponibilizado em contas virtuais da Fundação Calouste Gulbenkian(FCG). O processo, que decorre entre os dias 1 e 30 de Abril, merecerá,

Importa referir que as áreas cietíficas para as quais a instituição europeia submete os candidatos a formar-se em pós graduação ainda constituem uma necessidade gritante em Angola

finalmente, uma selecção a ser feita pelo parecer dos consultores da instituição, que não admitirá recurso por parte de candidatos não seleccionados. As modalidades de inscrição contemplam unica e simplesmente inscrições por via online, estabelecendo 45 anos como a idade limite. “Não são consideradas candidaturas para mestrado integrado, licenciatura incompleta à data do concurso, bem como ensino à distância”, asseguram os representantes da fundação

que promove a continuação da formação de estudantes africanos. A Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de fixar, em cada ano, o número de bolsas a atribuir e limitar a respectiva concessão nas áreas de formação já determinadas. Relativamente à duração das bolsas, sublinham-se os 12 meses no primeiro ano curricular que será seguido de um período de três meses, em Portugal, até uma duração máxima de dois anos para o mestrado e quatro para o programa doutoral, no caso de o bolseiro estar em condiçõe o de o renovar. As condições de renovação têm a ver com as notas dos candidatos e com a prestação de contas à Fundação Calouste Gulbenkian. Importa referir que as áreas cietíficas para as quais a instituição europeia submete os candidatos a formar-se em pós graduação ainda constituem uma necessidade gritante em Angola, a julgar pelos desafios da sociedade local que cobram a intervenção de respectivos especialistas. É a contar com isso que a Calouste tem vindo a programar os seus serviços na promoção de continuidade de formação, ao nível médio e superior. Conhecida pelo PAT Angola No nosso país, a fundação europeia é conhecida pela intervenção que vem levando a cabo no Projecto Aprendizagem para Todos(PAT), onde se dedica a apoiar a formação contínua dos professores do ensino primário, facilitando a monitoração de métodos diferenciados ou a aplicação da diferenciação pedagógica, na sala de aulas. No final de 2019, a FCG lançou o programa de ensino à distância para professores do primeiro nível do sub-sistema de ensino vigente em Angola e não só, em consequência do qual se advinha qualquer outro pacote que vise dar continuidade da formação, sobretudo nas especialidades de grande necessidade para o país.


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O QUE É O CORONAVÍRUS E COMO ME POSSO PROTEGER? O novo Coronavírus, intitulado COVID-19, é de uma família de vírus conhecidos por causarem infecção que pode ser semelhante a uma gripe comum ou apresentar-se como doença mais grave, como pneumonia

F

oi identificado pela primeira vez em Janeiro de 2020 na cidade de Wuhan, na China. Este novo agente nunca tinha sido previamente identificado em seres humanos, tendo causado um surto na aludida cidade que se espalhou rapidamente a vários países do mundo. A Organização Mundial da Saúde decretou (OMS) que o mundo está diante de uma pandemia.

COMO ME POSSO PrOTEGEr?

Não tendo sido reportados casos em Angola, estão indicadas medidas específicas de protecção, mas há questões práticas que se deve ter em conta para reduzir a exposição e transmissão da doença: 1. Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto directo com pessoas doentes; 2. Evitar contacto desprotegido com animais domésticos ou selvagens; 3. Adoptar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo); 4. Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir.

QUAIS OS SINAIS E SINTOMAS?

As pessoas infetadas podem apresentar sinais e sintomas de infecção respiratória aguda 2.Tosse como: 1. Febre 3. Dificuldade respiratória

Em casos mais graves pode levar a pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos e eventual morte.

EXISTE TrATAMENTO? Não existe vacina. Sendo um novo vírus, estão em curso as investigações para o seu desenvolvimento. O tratamento para a infecção por este novo Coronavírus é dirigido aos sinais e sintomas apresentados


CARTAZ seu suplemento diário de lazer e cultura

Adolfo Maria

“A censura complicava-nos a vida” Dr

Antigo jornalista do Cultura II e do ABC, ex-membro da Sociedade Cultural de Angola, Adolfo Maria é um nacionalista angolano que participou na luta anticolonial. Em alguns dos seus livros, o ensaísta aborda o processo que culminou com a independência nacional. A entrevista que se segue teve como pano de fundo o seu livro Angola – a Hora da Mudança, (Edições Colibri, Lisboa, 2019) onde o autor aborda, entre outros assuntos, o jornalismo exercido no período colonial João Ngola Trindade Trabalhou no ABC, no entanto, as autoridades tudo faziam para o que O Diário de Luanda saísse à rua muito antes do vosso jornal… Trabalhei nesse jornal cerca de um ano: de Abril de 1961 a Março de 1962. O director era Machado Saldanha e o chefe de redacção Acácio Barradas. O meio mais eficaz de as autoridades atingirem o jornal ABC era o gabinete de censura cortar vários textos e, sobretudo, demorar a entregar os textos censurados para podermos publicá-los. Isso e o facto de termos de os refazer conforme os cortes da censura fazia com que o fecho da edição para a impressão ficasse atrasado.

(Esclareço que a composição era feita em chumbo através do método intertype, método quase inimaginável no mundo da actual tecnologia de composição e impressão). Assim, muitas vezes, o jornal ia para as mãos dos ardinas cerca das seis horas ou seis e meia da tarde, impossibilitando a sua compra pelas pessoas que habitavam os musseques ou mesmo pelos habitantes da zona da Baixa (recordo que os serviços públicos encerravam às cinco da tarde e o comércio às seis). Deste modo, o único jornal da tarde disponível à hora de as pessoas regressarem dos seus empregos a casa era o Diário de Luanda, o órgão do partido fascista português. Pelo seu conteúdo, este jornal não tinha problemas com a censu-

O regime político que vigorava em Portugal e suas colónias (Angola uma delas) era uma ditadura que proibia partidos políticos e impedia a liberdade de expressão de várias maneiras

ra, logo era mais rapidamente despachado pelo gabinete de censura que, por outro lado, além do tempo gasto para examinar cuidadosamente o material do ABC, demorava a entrega dos textos já examinados. Era obrigatório enviar cada edição do jornal às autoridades antes que ela fosse à gráfica e a rua? O regime político que vigorava em Portugal e suas colónias (Angola uma delas) era uma ditadura que proibia partidos políticos e impedia a liberdade de expressão de várias maneiras. No que respeita à comunicação social (naquele tempo só havia imprensa e rádio, não havia televisão) existia, como acima referi, um organismo que realizava a censura prévia. Ou seja,

nada podia ser publicado sem antes ser enviado a esse organismo que ora cortava frases inteiras nos textos, esvaziando ou deturpando o seu conteúdo original, ora, pura e simplesmente, traçava uma cruz com o lápis azul sobre todo o texto com a indicação de proibição de sua publicação na totalidade. Lembra-se do “caso Alfredo Margarido”, proibido de regressar a Angola por ter escrito um artigo anti-colonial? Creio que Alfredo Margarido foi expulso de Angola para a “Metrópole” (Portugal) por “actividades inconvenientes” ao regime. Juntamente com o artista plástico surrealista Cruzeiro Seixas, ele frequentava assidua e ostensivamente os musseques onde, junto


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Foi no Diário de Luanda onde Castro Soromenho trabalhou de 1936 a 1937. Um dos artigos deste escritor e jornalista, publicado neste jornal, intitula-se “Duas literaturas – a literatura como factor de mentalidade colonial” (14.02.1937) das pessoas, procurava obter conhecimentos sobre a cultura popular angolana. Não sei se, depois, tentou voltar a Angola. Lembra-se de alguns artigos, editoriais ou reportagens de cariz racista publicados no Diário de Luanda? A esta distância no tempo, sessenta anos, não posso recordar textos aparecidos nesse jornal. Lembrome que o tom geral dos seus editoriais, artigos de opinião ou notícias era de constante exaltação da “missão civilizadora de Portugal” e das “virtudes” e obras do regime político em vigor. Este jornal era, em Angola, o órgão do partido único português, chamado União Nacional, portanto era a voz oficial do regime colonial-fascista. Curiosamente, foi no Diário de Luanda onde Castro Soromenho trabalhou de 1936 a 1937. Um dos artigos deste escritor e jornalista, publicado neste jornal, intitula-se “Duas literaturas – a literatura como factor de mentalidade colonial” (14.02.1937). Atenção! Só nos anos 1950 é que o jornal Diário de Luanda passou a ser o órgão do partido fascista por-

tuguês União Nacional. Antes disso era um jornal diário vespertino “normal”, a par dos dois jornais diários matutinos: A Província de Angola e O Comércio. Quando apareceu o vespertino ABC, passou a haver quatro jornais diários em Luanda; saíam dois de manhã e dois à tarde. Não conheço o texto que menciona. Será que estamos diante de um jornalista e de um escritor imbuído do espírito colonial? Não conheço os artigos que publicou em 1936 e 1937 no Diário de Luanda. Procurando ver o contexto da época, não surpreende que um funcionário da Administração Colonial portuguesa, tivesse uma visão, pelo menos imperial, das terras e das gentes sob o domínio de Portugal. Contudo, através dos livros de Castro Soromenho, vê-se que ele se foi debruçando com interesse crescente sobre usos e costumes das gentes angolanas. E tal sucedeu apesar da vigorosa e fanática actuação do regime salazarista quanto à questão colonial. O “bárbaro” e o “selvagem” são adjectivos que Castro Soromenho atribui ao negro em várias obras como Homens Sem Caminho e Noite de Angústia. Na trilogia de Camaxilo o autor dá voz aos colonos brancos que consideram Angola o “cu do mundo”, o “fim do mundo”, uma terra empestada de “mosquitos”. Serão estes os motivos pelos quais a obra deste autor seja considerada literatura colonial? Numa obra literária, a descrição de comunidades ou indivíduos implica a reprodução de como agem e pensam, as suas ideologias, os conceitos e imaginários que os enformam. Os colonos, que são os dominantes num país que é colónia, têm, em geral, uma relação de estranheza com a natureza do país. O mesmo sucede quanto à sua percepção das gentes nativas, que são as dominadas e vistas co-

mo inferiores. Embora seja considerado um escritor colonial por críticos como Mário António e Luís Kandjimbo, Samba, um dos contos de Castro Soromenho, foi incluído na Antologia dos Contistas Angolanos, editada pela Casa dos Estudantes do Império (1960) e a trilogia de Camaxilo foi editada no período pós-colonial em Angola. Não sei que critérios foram utilizados para a sua publicação. Possivelmente foi reconhecido valor literário nessas obras que descrevem paisagens e gentes angolanas, seus modos de vida, costumes, sofrimentos e comportamentos. Quanto à catalogação de Castro Soromenho como escritor, há que ter em conta o conjunto da sua obra, a evolução do seu pensamento e da sua postura política ao longo do tempo em que escreveu. Antes de se rotular o escritor há que dissecar a sua obra e o contexto em que foi produzida. Segundo Paulo Jorge, Castro Soromenho colaborava no sector da documentação/correspondência do MPLA, colaborando na redacção de documentos como comunicados. Conheci Castro Soromenho no minúsculo apartamento de Mário Pinto de Andrade, em Paris em 1959, numa breve passagem que ali fiz, em viagem de missão política nacionalista. Ele era amigo do Mário e do Marcelino dos Santos e, embora ligado à oposição portuguesa, interessava-se profundamente pela nossa luta. Mais tarde, em 1962, quando fui para o exílio e estive alguns meses em Paris, voltei a encontrar Castro Soromenho que convivia intensamente com Inocêncio da Câmara Pires,

Conheci Castro Soromenho no minúsculo apartamento de Mário Pinto de Andrade, em Paris em 1959, numa breve passagem que ali fiz, em viagem de missão política nacionalista

o representante semi-clandestino do MPLA na capital francesa. Possivelmente que colaborava com o Câmara Pires na redacção de comunicados e nos contactos com alguns jornais franceses e outros internacionais. Há também testemunho de que ele participou na divulgação de escritores angolanos, como Agostinho Neto, e de obras de outros autores angolanos. É natural, porque Castro Soromenho tinha contactos com intelectuais de vários países nomeadamente franceses, ingleses, russos, brasileiros e portugueses (no Brasil era editado o jornal da oposição portuguesa ao regime salazarista Portugal Democrático, onde se falava da questão colonial e eram publicadas notícias sobre a luta nacionalista nas colónias portuguesas e textos de personalidades dessa luta). Apesar de tudo isto, a imagem de agente colonial (recrutador de mão-obra e funcionário colonial), presente na mente de alguns contemporâneos seus, condicionou negativamente a apreciação feita a sua obra?

Assim sendo, parece-me que só se quer encarar uma parte do percurso de uma pessoa e não o seu todo. Castro Soromenho foi durante uma parte da sua vida funcionário administrativo (como foram vários angolanos). Sabemos que, nessa situação, tinha as funções que o João Ngola mencionou. Interessa ver também como ele as exercia: se com zelo colonialista, se apenas como funcionário. Há um outro aspecto: esse funcionário administrativo observava as pessoas que tinha como função “administrar” e escrevia sobre elas. Essa observação levou-o a interessar-se pelos seus próprios modos de vida, matéria para romances e outros escritos. Mais tarde, o tal funcionário da Administração Colonial torna-se militante oposicionista ao regime fascista português e é companheiro de exílio de personalidades que combatem o colonialismo português: Marcelino dos Santos, Câmara Pires, Mário de Andrade. Na minha opinião, estes factos não nos levam a uma opinião negativa sobre Castro Soromenho, quer como indivíduo, quer como escritor.


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CARTAZ

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Mahezu

CARMO NETO* irmã, enquanto o irmão cheio de revolta íntima denunciada pelo rosto enrugado, já no local do óbito depois de curta ausência contou a ocorrência ao amigo Passarinho e ouviu as seguintes palavras dele: -Não é só este assunto nos dias correntes. Muitos países já acautelam os conflitos dos óbitos com empresas que garantem todo trabalho e serviço depois de morto. Pagas um valor mensal até concluíres o total, para o teu funeral a sonhares com Deus ou o diabos. Escolhes cor, qualidade de urna anti-salalé ou não. Com ou sem copo de água e outros etecetras escolhes enquanto ainda vês e respiras. Surpreendido João Pardal contestou: -E quem vai me acompanhar? A primeira, segunda ou terceira esposa? -Ó João Pardal mesmo se deverão ou não aparecer decotadas. De mini saia ou não no cemitério; seria boa matéria para os nossos legisladores( deputados)tratarem. Legislarem ou não!... Mahezu,ngana!

aquela manhã de Domingo, Sortudo e Passarinho, a consumirem uma dose suculenta de cacusso, a conversa começou diferente aos tempos exageradamente políticos, sobre fulano, rico, sem aspas ( o ricaço e os nomes que daqui em diante usarei nesta crónica são fictícios). Ao folhearem a página necrológica do Jornal de Angola todos fixaram o olhar sobre a imagem do velho Mbaxi Pardal, pai de vinte e cinco filhos, dentre eles o famoso João Pardal, homem de negócios. Do falecido sabia-se dono de imenso rebanho. A abundância financeira tinha o parto na venda de pilões, bebidas tradicionais e carne de caça. Antes da era do frango congelado distribuía fartas galinhas de capoeiras domésticas para todos.

Ao redor da casa, da terra generosa colhia ervas bastante e sobrava espaço para nutrir gado que lhe dava o sabor da carne fresca a sangrar. As suculentas mangas também desprezavam a fome. E era com o primeiro canto do galo que iniciava seu trabalho. Foram assim gerados os vinte e cinco filhos com três esposas. No país de nascimento restam cinco. Outros afugentados pela guerra e bem sucedidos na carreira profissional vivem noutros mundos, em busca de património pessoal. Não causaria fúria a notícia fosse anúncio de fim de vida do João Pardal, porque actor de vida exagerada. Quarto filho da terceira mulher do falecido, brincava com os pecados carnais, tanto assim, que vivia da desculpa permanente de ter sido atraído pelo doce da boca da prima, aparentemente, todo zonzo, também alegava, culpa da

atmosfera eléctrica, causada pelo decote da blusa da prima. -Virou a cara. Mas meus olhos encontraram os dela -contava ele acrescentando: -e outra vez ela virou a cara rapidamente. Os botões da blusa assustados abriram-se. Farejei o sutiã. Caímos abraçados no chão. Disseram-me depois que ela estava grávida. E a seguir de cara mais séria aceitou a autoria da gravidez. A confessar assim saudaram o décimo segundo filho do João Pardal. Acabada de regressar de Portugal, Lena, irmã do João Pardal sem o mesmo sobrenome familiar, porque a correr, foi levada para Portugal em mil novecentos e setenta e cinco. Éra-lhe cedido livre trânsito e sempre a gritar. Mais uma dentre várias presenças. Ainda a falar alto, pesarosa depois de lhe ser apresentada gente da

mesma aldeia do falecido pai, algumas senhoras idosas apareceram a saltar e a bater com os pés no chão. Impressionada quis saber se aquilo também era dança kizomba?!... -Não. Não. Epá!-exclamou um fulano idoso. -Ė uma forma de afastar os maus espíritos, para distrair a tristeza. Em excesso, mas preciosa prestação ao óbito, dia seguinte, exigiu do irmão que saíssem para compra de flores para o funeral. Pensava ele que fosse também para afugentar a dor, mesmo porque já antes disse não regressaria sem levar suculentas mangas. A caminharem inesperadamente questionou: -Então? Quê faremos com os prédios, terrenos, carros e a quota no Banco Kitadi, do papá? De humor alterado, quase sem poder respirar como se tivesse asma, respondeu: -Desconheço. O papá deixou a casota onde nascemos. Sobre o que falas são todos meus bens. Vá lá ficar com a casa do papá se outros manos e manas deixarem. Pôs a mão sobre o rosto. Todo seu corpo soluçava e não mais falou a

OBITUÁRIO

REALEZA

CORONAVÍRUS

INSTRUÇÕES

CINEMA

Morreu Ellis Marsalis pianista de jazz histórico de Nova Orleães

A “mensagem oficial” do adeus de Meghan Markle e do Príncipe Harry

Músico Adam Schlesinger morre aos 52 anos com Covid-19

Dicas de um médico de Wuhan para a prevenção do novo coronavírus

O pesadelo dos que ficaram fechados em casa

O pianista de jazz Ellis Marsalis, nome histórico de Nova Orleães, professor de gerações e pai dos músicos Wynton e Branford Marsalis, morreu esta Quarta-feira, aos 85 anos, infectado com a Covid-19, anunciou o filho Branford. “É com muita tristeza que anuncio a morte do meu pai, Ellis Marsalis Jr., na sequência de complicações do coronavírus”, disse Branford Marsalis, num comunicado publicado no seu ‘site’. Ellis Marsalis estava internado desde Sábado num hospital de Nova Orleães, no Louisiana.

Meghan Markle e o príncipe Harry deixaram oficialmente de pertencer ao núcleo de membros seniores da família real britânica no dia 31 de Março. Na sequência deste acto, o casal deixou também de ter o seu escritório na Casa Real, como destaca a imprensa internacional. A revista People relata que há já uma ‘mensagem oficial’, que é enviada por mail quando o agora antigo escritório dos duques de Sussex é contactado. Na resposta automática, citada pela publicação, pode ler-se: “Muito obrigado pelo seu e-mail. O escritório do duque e da duquesa de Sussex

O músico co-fundador da banda Fountains of Wayne Adam Schlesinger morreu esta Quarta-feira, aos 52 anos, vítima de complicações relacionadas com a Covid-19, confirmou o seu advogado, Josh Grier, à agência Associated Press. Artista por trás de temas como “Stacy’s Mom” e “That Thing You Do” (usada no filme com o mesmo nome protagonizado por Tom Hanks e que lhe valeu uma nomeação para Óscar de melhor canção), Schlesinger foi também compositor para o palco e para o écran, com destaque para a série “Crazy Ex-Girlfriend”, com a qual venceu o terceiro Emmy da sua carreira.

Wang Zhou, médico chefe do centro de controlo e prevenção de doenças da cidade de Wuhan, na China, o primeiro epicentro da pandemia da Covid-19, assina um livro com conselhos para prevenção da doença. Como conta o jornal espanhol ABC, no “Manual de prevenção para o novo coronavírus: 101 dicas baseadas na ciência que podem salvar a sua vida”, o especialista junta uma centena de conselhos depois de falar com médicos que enfrentaram a epidemia no país asiático. O manual foi publicado pela primeira vez a 10 de Março de 2020 pela Skyhorse Publishing.

Outro êxito espanhol na Netflix, La Trinchera Infinita, é baseado numa história verdadeira de um homem que se escondeu em casa por mais de 30 anos. Para sobreviver havia que ficar em casa em tempos do franquismo, tal como agora em plena pandemia global. A génese do medo em tempo do franquismo. Passado em plena Guerra Civil e três décadas depois, o filme coqueluche do cinema espanhol em 2019 narra a história verdadeira de um perseguido de Franco numa aldeia da Andaluzia, um homem que para não sofrer retaliações do regime escondeu-se em casa durante 30 anos. Um “topo” conforme foram apelidadas estas vítimas.

Depois do Além

N

agora está fechado”.

*Escritor


Maria Teixeira, Jornalista do Jornal OPAĂ?S


ECONOMIA

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O PAÍSS exta-feira,0 3d eA brild e2 020

Coronavírus pode afectar micros, pequenas e médias empresas na Huíla PEDrO NICODEMOS/ArQUIVO

As micros, pequenas e médias empresas na província da Huíla, podem experimentar

maus bocados no exercício das suas actividades económicas após a quarentena, decretada por causa da pandemia de coronavírus que assola o mundo nos últimos tempos João Katombela, na Huíla

S

egundo o presidente da Associação Agropecuária Comercial e Industrial (AAPCIL), Paulo Gaspar, que falava numa entrevista concedida à Rádio Mais/Huíla, a economia nacional vai ressentir-se dos efeitos da COVID-19, já que muitas delas caíram na improdutividade parcial e estas empresas na província da Huíla, poderão ser as mais prejudicadas. O responsável da associação dos empresários na província da Huíla, disse ainda que, por esta razão, o risco de muitas em-

presas perderem a capacidade de gestão e de pagamentos de salários é eminente. Paulo Gaspar informou que em função de as micros, pequenas e médias empresas serem as mais expostas aos riscos, tornase necessário a adopção de políticas viradas para o seu apoio. “Se não houver apoio efectivo, muitas empresas não vão conseguir suportar, principalmente as micros, pequenas e médias empresas, porque as grandes empresas, as grandes multinacionais, conseguiram defender-se”, disse. Na sequência, Paulo Gaspar explicou que tendo em conta a natureza das actividades destas micros, pequenas e médias empresas poderão perder a capacidade de tesouraria, caso se-

ja prorrogado o período de quarentena. “As micro, pequenas e médias empresas em Angola, quase que vivem do dia-a-dia, vivem do que produzem hoje, para pagar serviços e pagar salários amanhã e perdendo a capacidade de tesouraria, estarão falidas”, assegurou. Para que isso não aconteça, o Presidente da Associação Agropecuária Industrial e Comercial, defende que os bancos minimizem as burocracias que ainda se registam na atribuição de créditos. “Não pode ser com a taxa de juros que nós temos, não pode ser com a dificuldade que a banca comercial põe para emprestar a classe empresarial, porque a classe empresarial de

facto, quando acabar a quarentena vai estar falida, e vai precisar de um reforço de caixa para poder pagar salários e para se reerguer”, disse. Período de quarentena, vai provocar surgimento de economias deficitárias nas empresas. Por seu lado, o delegado Provincial da Associação Industrial de Angola A (AIA) na Huíla, disse que este período de quarentena que o país vive, vai provocar o surgimento de economias deficitárias nas empresas. Francisco Chocolate adiantou que esta realidade já está a ser vivida por alguns pequenos empresários que actuam no sector de transformação de milho e outros cereais na província da Huíla. “Reunimos com as indústrias moageiras na província da Huíla, falamos com alguns dos seus responsáveis, que estão neste momento, face à crise causada pelo Coronavírus e nós achamos que muitos problemas que se vivem vão alastrar-se. Porque a população, ao ficar retida em casa vai consumir menos do que o habitual e em consequência as empresas comerciais vão vender menos do que o normal”, afirmou.

Não pode ser com a taxa de juros que nós temos, não pode ser com a dificuldade que a banca comercial põe para emprestar à classe empresarial, porque a classe empresarial, de facto, quando acabar a quarentena vai estar falida, e vai precisar de um reforço de caixa para poder pagar salários e para se reerguer”


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DANIEL MIGUEL/ArQUIVO

presidente da Comunidade de Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola ( CEEIA) Francisco Viana, aplaude a inciativa do BNA.Porém, apela ao surgimento de outros instrumentos de apoio às empresas para recuperar o lucro após o período do isolamento social. Caso a situação durar mais tempo que o previsto. “ É preciso outras medidas que permitam às empresas recuperar o lucro no período que ficaram sem produzir”, salientou. O responsável adiantou que associação que dirige elaborou um conjunto de propostas para apresentar ao Executivo nos próximos tempos. Segundo ele, as instituições bancárias devem encontrar melhor mecanismo de modo a salvar à economia nacional e manter grande número de empresas “, frisou. Por sua vez , o presidente da Associação das Indústrias e Confecções de Angola (AITECA), Luís Contreiras, acredita igualmente ser uma medida assertiva que irá beneficiar as empresas. Pelo facto de algumas instituições que não produzem ou trabalham com serviços essenciais encontram- se encerradas por causa do Estado de Emergência no país. “ As empresas não estão a pro-

duzir e existe um déficit em termos de aquisição de lucro. Por essa razão, a paralisação pode dificultar em honrar os compromissos junto à banca comercial “, explica. No seu entender, as empresas são obrigadas a fazerem esforços financeiros para cumprir as orientações. “As empresas para pagarem salários precisam de produzir. Caso o Estado de Emergência seja prorrogado por mais 15 dias ,muitas empresas terão de fechar as portas sem data para reabrir “, disse. O empresário acredita que a economia mundial irá registar crescimento negativo . “A economia está paralisada. As empresas que estão a funcionar é no sistema de rotação. O continente africano, principalmente Angola, vai ressentir com maior intensidade porque depende exclusivamente das exportações do petróleo”, ressaltou. Para ele, a pandemia da Covid-19 irá piorar a situação económica no país que já enfrenta grandes dificuldades . O instrutivo do BNA suspende durante 60 dias por causa do Estado de Emergência no país . Beneficiam do instrutivo todos os clientes dos referidos bancos. Para o efeito , os clientes devem são solicitar por escrito ou em formato físico aos bancos que devem prestar informações de como proceder . Após dois meses, os bancos vão retomar com as actividade para a cobrança do crédito.

protegidas e seguras, salvaguardando-se, assim, a estabilidade e a credibilidade do sistema de pagamentos e os avanços tecnológicos internacionalmente adoptados na produção das mesmas. A futura família do Kwanza será composta por notas com os valores faciais de 200, 500, 1.000, 2.000, 5.000 e 10.000, respectivamente em cores: azul, castanho, rosa, verde, lilás e amarelo. A nova família de notas terá apenas como motivo principal a efigie do “Dr. António Agostinho Neto, primeiro Presidente da República de Angola, 1975-1979 e a respectiva legenda abaixo”, lê-se na Lei, enquanto no reverso será destacada a diversidade geográfica do país. Para assegurar a inclusão será inserida em ambas impressões

em relevo para auxílio a pessoas deficientes visuais. A família do Kwanza 2020 trás ainda estampada a figura do Pensador, assim como impresso em microtexto a letra do Hino Nacional e será emitida em duas caracteristicas. Em plástico polímero e em substracto de algodão papel. A Lei que autoriza o BNA a emitir e a pôr em circulação uma nova família de notas do Kwanza foi aprovada pela Assembleia Nacional a 23 de Janeiro, promulgada pelo Presidente da República a 12 de Março e publicada a 30 de Março. Assim, estão criadas as condições para a sua aplicação, ficando reservados os passos seguintes à autoridade monetário nacional, o Banco Nacional de Angola.

Patrícia de Oliveira

O Empresários aplaudem medida do BNA em adiar o pagamento do crédito Empresários mostram-se satisfeitos com o adiamento de dois meses para o pagamento do crédito orientado pelo BNA, tendo em conta o Estado de Emergência no país

Futuras notas de Kwanzas vão ser lidas por invisuais ArQUIVO/OPAÍS

André Mussamo

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erão expressas em seis diferentes valores faciais, a começar em 200 e terminar em 10 mil Kwanzas e em dois tipos de materiais. A Lei que autoriza o Banco Nacional de Angola a avançar com a operação está publicada na I Série do Diário da República, o órgão oficial do governo angolano. A decisão de emitir novas notas, advêm da necessidade de elevar o nível de confiança e reforçar a segurança das notas com o aprimoramento e a valorização contínua das características de segurança com vista a que as notas sejam


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MERCAdOS

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

As medidas de contenção do covid-19 em Angola O mundo enfrenta hoje um desafio comum, o Coronavírus, Covid-19. O surto que surgiu em finais de 2019, na China, conta, actualmente, com mais de 600 mil casos confirmados e cerca de 30 mil mortes, o que conduziu a Organização Mundial da Saúde (OMS) a decretar pandemia do novo Coronavírus, em consequência da rapidez com que a doença se propagou por todo o mundo

A

ssim sendo, na tentativa de conter a propagação do vírus, os países têm adoptado um conjunto de medidas, desde o isolamento social, quarentena ao Estado de Emergência, como o caso de Angola, que na passada sexta-feira, 26 de Março, decretou Estado de Emergência, por um período inicial de 15 dias. A pandemia tem afectado não apenas as condições sanitárias dos países, mas também, as suas condições económicas, pois as restrições de mobilidade de pessoas em todo o mundo, as interrupções na produção e, sobretudo, nas cadeias globais de suprimento tenderão a provocar quedas significativas no comércio internacional e uma desaceleração cosiderável na actividade económica, afectando principalmente economias vulneráveis e expostas ao mercado externo – como é o caso de Angola -. Segundo os especialistas e investigadores do Fundo Monetário Internacional (FMI), a cada redução de 10% nos preços das matériasprimas, como o petróleo, resultará, em média, numa redução de 0,6% no crescimento dos exportadores de petróleo e um incremento de 0,8% do PIB nos défices fiscais globais. Face às projecções apresenta-

das, restará aos países exportadores e não exportadores de petróleo a tomada de decisões pragmáticas no sentido de minimizar o máximo possível os impactos económicos do Covid-19 e direccionar tais medidas para o alcance da sustentabilidade dos países no período pós-crise – económica e sanitária -. Em consequência disto, o Governo de Angola, na sua última reunião do Conselho de Ministros, decidiu efectuar a revisão do Orçamento Geral do Estado 2020, ainda em vigor, onde se perspectiva alterações dos principais indicadores macroeconómcos, com o intuito de ajustar o principal documento financeiro do país ao actual contexto económico mundial. A Ministra das Finanças, Vera Daves, declarou que o país deverá registar a sua quinta contracção económica consecutiva, no ano corrente, com a taxa de crescimento real a fixar-se em -1,21%, influenciado pela desaceleração das actividades económicas em geral, e do sector petrolífero, em particular, em que se perspectiva um preço médio do barril do petróleo não superior a 35 USD e uma produção petrolífera de 1,36 milhões barris/ dia. Adcionalmente, o Governo deverá isentar todas as mercadorias

VIrGÍLIO PINTO

importadas para fins de ajuda humanitária e doações no âmbito do combate à pandemia do Covid-19 do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) e direitos aduaneiros, tal como, cativar até 30% das despesas da categoria de bens e serviços desde que não estejam relacionadas com alimentação, limpeza, medi-

camentos e saneamento e suspender parte das despesas de capital que não tenham financiamento garantido. Paralelamente, o Banco Nacional de Angola decidiu, na sua última reunião, reduzir a taxa de juro de facilidade permanente de absorção de liquidez a 7 dias, de 10%

para 7%, o que deverá influenciar as decisões dos bancos comerciais relativamente a detenção de elevadas quantidades em reservas livres. Por outro lado, foram isentos os limites de liquidação por instrumento para a importação de bens da cesta básica alimentar e medicamentos. A semelhança do que tem ocorrido no resto do mundo, em particular com o Banco Central Europeu, o BNA decidiu avançar com um programa de flexibilização quantitativa, também conhecido como Quantitative Easing, – que consiste na aquisição de dívida soberana e privada com o objectivo de garantir maior liquidez -, onde está previsto uma linha de liquidez com valor máximo de 100 mil milhões Kz para compra de Títulos do Tesouro, em posse de sociedades não financeiras. Contudo, todas as soluções apesentadas pelo Governo até a data, têm como objectivo reduzir o máximo possível o impacto do Covid-19 sobre a economia angolana. Assim, espera-se que nos próximos dias, o Ministério da Economia e Planeamento interaja com as classes empresariais, com o intuito de perceber os “desafios” gerados pela pandemia e definir políticas adequadas que garantam a continuidade dos seus negócios.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Março de 2020

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JOSÉ MANUEL dIOGO Dr

A grande pausa T

ocou o telefone do outro lado do mar. Eras tu. — A noite passada percebi o mundo de uma maneira diferente, disseste. Não sei se foi uma epifania ou apenas o efeito daquela erva do Amazonas, que não sei bem dizer o nome e que ontem à noite tomei pela primeira vez — um espelho brutal — mas penso que percebi muitas coisas importantes sobre o que nos está a acontecer. Hoje a humanidade toda junta, todos debaixo do céu, vivemos a Grande Pausa. Disseste “Grande Pausa” com uma solenidade introvertida. Como se fosse uma espécie de descoberta científica privada que não é possível anunciar. Uma descoberta que, apesar de fazer falta a toda humanidade, apesar de ser a coisa mais urgente de entre todas as coisas urgentes, ninguém está ainda preparado para a perceber. — The Big Freeze, glosaste de soslaio — apelando à síntese que

só os ingleses têm e tu sabes — enquanto decidíamos como se podia chamar aquele diário de bordo para estes dias que vão mudar a Humanidade para sempre. A Grande Guerra, a Grande Depressão, a Grande Fome — a Grande Pausa. Concordámos que o presente era o único ligar onde valia a pena estar. Único porque, nestes dias inimagináveis, é nele que está guardada a única folha de papel onde se pode entender o passado; e onde é possível acrescentar alguma coisa a esse futuro inatingível. Estamos todos a trabalhar “como se não houvesse amanhã”, porque temos mesmo medo de morrer —disse eu fazendo gelatina deste lado do oceano. O sino da minha aldeia a cada meia hora lembra-me que estou vivo e que o mesmo presente que habitamos os dois — a 9 mil quilómetros e 3 horas de distância — tem som, e cheiros, e tempo e corpos e saudades. Mas é sobre o tempo — estavel-

mente congelado entre um inimigo implacável (invisível) e uma curva estatística exponencial (visível) onde incide a razão de pensar — que descortinamos o elemento fundador da mudança. Há uma nova teoria da relatividade, desta vez não aplicável à variação da massa quando exposta à velocidade da luz, mas sim a um desejo intrínseco que todos os humanos têm e não podem formular: o desejo simultâneo (e por isso impossível) de que o tempo passe depressa e que ao mesmo tempo se sustenha. Um interminável abraço de urso. Desejado e ao mesmo tempo mortal. Decidimos arrancar para isto. O momento zero é neste caso o primeiro. Nunca será filho único. PS. fica no universo digital e está à espera de todos os que queiram partilhar a Grande Pausa. http://grandepausa.wordpress.com


MUNdO

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Coronavírus: britânicos deixam supermercados sem farinha Confinados em casa contra o coronavírus, muitos britânicos passam o dia a assar bolos, ou seu próprio pão, a tal ponto que a venda de farinha dobrou, deixando os supermercados em carestia

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farinha é “um elemento invisível na cadeia alimentar... até sentirmos falta dela”, disse à AFP Alex Waugh, da associação britânica de farináceos Nabim. Juntamente com o macarrão, o arroz e alimentos enlatados, este produto foi alvo de frenesi do consumidor britânico para estocar alimentos. Sem restaurantes, bares, ou redes de fast-food que lhes fornecem parte de suas refeições, eles são obrigados a cozinhar três vezes ao dia, e alguns passam o dia fazendo bolos em família, ou assando pão caseiro. Em poucas semanas, as compras de farinha no país dobraram, atin-

Dr

Está uma autênctica corrida por alimentos no Reino Unido, onde a farinha de trigo é dos prpodutos mais procurados

gindo quatro milhões de pacotes semanais, segundo Nabim. Como tem sido feito com outros itens essenciais, entre eles sabão e produtos de higiene, os supermercados limitaram as suas vendas a dois ou quatro pacotes por pessoa. Com o comércio desabastecido, alguns tentam trocar legumes por farinha com os vizinhos, geralmente sem sucesso. Outros tentam comprar directamente das fábricas, que dizem estar “sobrecarregadas”. Muitos tiveram de fechar as lojas. Impossível atender à demanda “Os pedidos de estabelecimentos comerciais quadruplicaram, e recebemos 800 pedidos on-line em dois dias, em vez da dúzia usual”, explica David Wright, director do moínho G.R. Wright and Sons. É preciso voltar pelo menos à década de 1970 e a uma greve das padarias para encontrar uma situação tão tensa em relação à demanda por farinha, aponta Wright, cuja empresa - propriedade familiar desde o século XIX - em-

prega 120 pessoas. Já Waugh acredita que a situação actual não tem equivalente na história moderna do sector. Como resultado, os grupos operam as suas fábricas 24 horas por dia, sete dias por semana. Ainda assim, é impossível atender a toda demanda. Em circunstâncias normais, os moínhos já operam com capacidade quase total e levaria meses para investir em novas linhas de produção. Além disso, o problema gira em torno das embalagens: as fábricas de papel, que produzem os sacos e os imprimem, também não conseguem acompanhar. Sem mencionar as medidas de distanciamento para proteger os funcionários do coronavírus, ou a ausência de muitos deles devido ao isolamento. No ano passado, o Reino Unido chegou a acumular provisões diante do risco de um Brexit sem acordo que poderia ter cortado o fornecimento de grãos do continente europeu.

China intensificará triagem de infecções assintomáticas por COVID-19 A China intensificará a triagem direccionada de pessoas infectadas com o novo coronavírus, mas que não apresentam sintomas, disse nesta Quinta-feira uma autoridade de saúde

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monitoramento de infecções assintomáticas será ampliado para incluir contactos próximos de pacientes confirmados com o Covid-19 e de pacientes assintomáticos, surtos de cluster, áreas-chave e populações com alto risco de infecções, disse Wang Bin, funcionária da Comissão Nacional de Saúde (CNS), numa conferência de imprensa em Beijing. As instituições médicas,

com a ajuda de comunidades e clínicas de febre, reforçarão os esforços para identificar pacientes assintomáticos e colocá-los

Os pacientes assintomáticos identificados serão submetidos a observação médica centralizada

em quarentena concentrada em tempo hábil, disse ela. Wang disse que as investigações epidemiológicas de pacientes assintomáticos serão conduzidas imediatamente e que as informações relevantes serão divulgadas de forma aberta e transparente. Os pacientes assintomáticos identificados serão submetidos a observação médica centralizada por duas semanas e serão liberados após testarem negativo para o vírus por duas vezes consecutivas, acrescentou.

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

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Encontrada razão de elevada mortalidade na Itália por Coronavírus

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Itália representa um enigma na pandemia do Coronavírus: como pode um país com apenas 60 milhões de habitantes ter mais mortes do que qualquer outra nação do mundo?

Presidente da União Europeia Ursula von der Leyen

UE propõe até 100 biliões de euros para apoiar emprego frente à crise

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Comissão Europeia propôs nesta Quintafeira (2) mobilizar até 100 biliões de euros em empréstimos para os países mais afectados pelo impacto económico do novo coronavírus, com o objectivo de garantir salários e evitar demissões em massa. “O confinamento paralisou a demanda e a oferta. Muitas empresas ficaram sem receita. E, se não fizermos nada, terão que demitir os seus trabalhadores (...) Isso limitará nossa recuperação”, afirmou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Além do custo de vida, com mais de 34.000 mortes, somente na Europa, desde o início da pandemia, a crise também afecta a economia devido às medidas decretadas para conter o seu avanço, o que diminuiu a actividade económica. A Espanha, um dos países mais afectados ao lado da Itália e cuja taxa de desemprego já estava acima da média europeia antes da pandemia, registou em Março mais de 300 mil novos desempregados, principalmente no sector de serviços. O instrumento proposto pela Comissão permitirá que empréstimos da UE sejam obtidos “em condições favoráveis” para ajudar a “cobrir custos directamente relacionados” a “regimes nacionais de desemprego parcial”, explica o comunicado da Comissão.

M

édicos italianos explicaram a alta taxa de mortalidade no seu país durante a pandemia por um inverno ameno, que tornou a gripe sazonal menos virulenta, de acordo com um relatório do Ministério da Saúde italiano. O facto de a estação da gripe ter sido menos intensa, provocando uma menor mortalidade na Itália que o habitual em Novembro-Janeiro, levou a que as pessoas com doenças crónicas e que foram poupadas pela gripe tenham ficado em maior risco quando o novo vírus come-

çou a se espalhar em Fevereiro e Março, refere o relatório. As mortes neste grupo contribuíram significativamente para as estatísticas globais de mortalidade, observa a agência de notícias Bloomberg, numa análise efectuada ao relatório. Menos gripe, mais Covid-19 Segundo a Bloomberg, o relatório analisou dados de 19 cidades italianas até 21 de Março. De acordo com este documento, que apresenta dados actualizados a 17 de Março para a maioria das cidades, e a 21 de Março para outras, a mortalidade devido à gripe de Novembro a Janeiro ficou 6% abaixo da média no Norte do país, e 3% nas re-

Doenças crónicas na origem da alta mortalidade por Coronavírus na Itália revela estudo

giões centro e Sul. É possível que a menor mortalidade no início do Inverno “tenha levado a um aumento no grupo dos mais vulneráveis” que foram expostos à COVID-19, segundo o relatório italiano. No Norte da Itália, onde ocorreu a maioria das mais de

12 mil mortes, a letalidade geral em Novembro-Janeiro entre pessoas com 65 anos de idade ou superior foi 6% abaixo da média dos anos anteriores. Nas cidades do centro e do Sul da Itália, as mortes ficaram neste período 3% abaixo do previsto.

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Cientistas estudam possível ‘calcanhar de Aquiles’ do Coronavírus em busca de remédio Pesquisadores estudaram uma proteína que o SArS-CoV-2 utiliza para se fixar nas células humanas. A pesquisa deverá ajudar a compreender como o Coronavírus se propaga entre humanos e animais

A

s proteínas das farpas que o SARSCoV-2 utiliza para se fixar nas células humanas podem ser a verdadeira fraqueza do coronavírus. Entender como eles fazem isso pode ajudar a desenvolver novos medicamentos eficazes no combate à pandemia, dizem cientistas norte-americanos, segundo o portal Science Alert. Durante a pesquisa, os cientistas da Universidade de Minnesota, EUA, utilizaram a cris-

talografia de raios X para criar um modelo tridimensional que permita compreender a estrutura da proteína que forma as farpas do SARS-CoV-2. Graças a elas, o Coronavírus penetra nas células para se replicar, causando a temida doença COVID-19. Além disso, este modelo ajudou a visualizar como pequenas mutações na proteína criam cristas, que mais tarde mudam a forma como o coronavírus se conecta aos recep-

Cientista no seu labor busca caminhos para bloquear a Covid-19

tores das células humanas. Os resultados do seu estudo revelaram que a estirpe do SARS-CoV-2 sofreu várias mutações, que geraram as cristas particularmente compactas nas farpas das suas proteínas. Estas são mais compactas do que as que podem ser encontradas no vírus SARS que causou o surto de pneumonia atípica em 20022003. Além disso, é possível que esta seja uma das razões pelas quais a nova estirpe do coro-

navírus é tão resistente e que tenha afectado um número tão grande de pessoas, causando o Covid-19. Como resultado, o coronavírus desenvolveu novas estratégias que o ajudam a se conectar mais fortemente às células, explicou Fang Li, coautor da pesquisa, citado no jornal britânico The Guardian. “Esta ligação firme com um receptor ajuda o coronavírus a infectar células humanas e se espalhar entre os humanos”, disse o cientista.


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ACTUAL Dr

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Putin estende licença remunerada na rússia até ao dia 30 de Abril inclusive Dr

A China serviu-se largamente da tecnologia para lidar com a Covid-19

Como tecnologias simples ajudam China a combater pandemia de COVId-19? desde códigos QR até sensores e aplicativos, tecnologias do dia-a-dia têm tido grande valor para evitar maior contágio do Covid-19

A

lém dos cuidados necessários para se evitar o Coronavírus, tecnologias usadas no quotidiano ajudam a combater a infecção pelo vírus, assim como criam comodidades durante isolamento. Em entrevista à Sputnik China, o especialista Wang Zhiyong, do Instituto da População e Economia do Trabalho da Academia de Ciências Sociais da China, junto a pessoas da geração Y (os que nasceram entre o início da década de 80 e 2005) contaram em detalhes sobre tais tecnologias. “Tais tecnologias ajudaram porque foram orientadas às necessidades dos usuários no futuro. Por exemplo, pagamento via código QR no WeChat [serviço de mensagens instantâneas] evita o contacto entre pessoas através de dinheiro vivo, enquanto serviços de saúde online evitam idas ao hospital”, disse Zhiyong.

Fechaduras inteligentes A senhora Chen, da cidade de Shangai, explicou como portas com fechadura inteligente ajudam a superar as dificuldades da pandemia. “Eu tenho uma gata na minha casa, mas eu não pude voltar a casa a tempo devido à pan-

demia. O bom foi que, antes dela, eu instalei uma fechadura inteligente [na porta de casa]. Por isso, eu confiei a senha ao meu vizinho para que ele pudesse abrir a porta e cuidar da minha gata”, afirmou. Código QR Uma das preocupações durante a propagação de doenças virais é saber onde os indivíduos estiveram algum tempo antes. Segundo a moradora de Pequim identificada como Li, os códigos QR foram importantes para rastrear certas pessoas. “Graças aos códigos QR ficou mais fácil seguir e confirmar onde as pessoas estiveram no último mês. Esta tecnologia, apesar de ser bem simples, teve um importante papel durante a pandemia e diminuiu o fluxo de pessoas”, disse. desinfectantes com sensores e a Internet Falando à Sputnik China, Peng, também habitante de Pequim, disse: “Eu acho que os desinfectantes com sensores se tornaram muito úteis durante a pandemia. Isso permitiu evitar a necessidade de se tocar em objectos durante a lavagem das mãos”, explicou.

Presidente russo Vladiir Putin diz que o pico da pandemia ainda não foi atingido no mundo

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residente da Rússia, Vladimir Putin, faz discurso à nação nesta Quinta-feira (2) para tratar do combate ao novo coronavírus. Segundo o Presidente, a

primeira semana de isolamento social permitiu ao país ganhar tempo na luta contra a epidemia. Por isso, a licença remunerada nacional deve continuar até ao dia 30 de Abril. “Se a situação nos permitir,

vamos diminuir o período de dias sem trabalho”, enfatizou Putin. O Presidente lembrou que a ameaça representada pelo vírus continua e que o pico da epidemia no mundo e na Rússia ainda não foi atingido. “O que eu considero mais importante é que nós, por enquanto, conseguimos em geral proteger dessa séria ameaça a nossa geração mais velha, não permitir o surgimento de focos da epidemia em creches e escolas, em universidades e outras instituições de ensino”, disse Putin. O Presidente russo lembrou que a situação epidemiológica na Rússia é muito variada, em função da diversidade demográfica do país: “O nosso país é muito grande, com densidade demográfica diversa. Existem regiões da Federação na qual o Coronavírus já criou uma ameaça séria para as pessoas, como em Moscovo, onde, apesar das medidas adoptadas pelas autoridades federais e municipais, ainda não foi possível reverter essa situação”, notou. Assim, o presidente russo considera que as regiões deverão variar o nível de rigidez das suas medidas de restrição, conforme a sua situação epidemiológica específica.

Número de mortos por Coronavírus em Espanha tem novo recorde diário e número total passa de 10 mil Dr

O

Ministério da Saúde da Espanha informou, nesta Quinta-feira (2), que o número de mortos pelo novo coronavírus superou a marca de 10 mil pessoas após o recorde de 950 mortes nas últimas 24 horas. Segundo informações publicadas pela agência Reuters, o número de casos aumentou cerca de 8% em relação à Quarta-feira (1º). No entanto, apesar do crescimento, o aumento diário proporcional vem desacelerando no país nos últimos

Espanha é o segundo país europeu mais fustigado pela pandemia de Covid-19

dias. De acordo com o ministério, o número total de mortes chegou a 10.003, aumentando em pouco mais de 10%, taxa similar re-

gistada no dia anterior. Mais de 6 mil pessoas estão ainda sob cuidados intensivos, indicam os dados do Ministério da Saúde espanhol.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

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RICARdO VITA*

Carta de um confinado parisiense

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assaram-se duas semanas desde que o país em que vivo, a França, está confinado devido a essa pandemia que surgiu em Dezembro passado na região de Wuhan, em China, que já matou mais de 43.000 pessoas no mundo e contra a qual nenhum dos cientistas mais reputados até agora conseguiu encontrar a fórmula mágica para a combater. Mais da metade dos habitantes da Terra agora é for-çada a ficar em casa e, apesar da implementação de medidas de confinamento mais ou menos drásticas nos cinco continentes, a doença continua a fazer estragos. Os governos estão a reagir im-perfeitamente contra esse vírus desconhecido, o que nos diz que nem a medicina nem a política são ciências exactas. Portanto, devemos ter humildade antes de julgar, políticos e médicos estão numa situação difícil e não têm todas as informações ou mesmo todos os meios que precisariam para agir convenientemente. A rotina diária do meu mundo faz-me falta, não posso negar. Mas, desde o início do confinamento, surpreendo-me todos os dias descobrindo outras formas de viver. Embora sinta falta até das pequenas coisas que costumava desleixar, das vozes e dos corpos com os quais estava acostumado, o sentimento mais pronunciado em mim não é o da saudade do passado. É o sentimento de urgência que prevalece em mim neste momento. Através de lembranças veiculadas na minha mente pelos rostos das pessoas com quem cruzava na minha rua, pelo 9°arrondissement de Paris, no supermercado, no metro, nas lindas praças da « capital do amor » e na vida mundana parisiense, o sentimento de urgência é claramente predominante. Penso cada vez mais no mendigo que sempre vem sentar-se num can-

to da entrada da estação do metro Notre Dame de Lorette, com a mão estendida suja pela miséria humana, penso no velho solitário de rosto triste que sempre vagueia pelo Parc Monceau na mesma hora quando por lá passo, penso na bola de papel que cai no chão na rua e que não recolho, por falta de tempo, quando tento deitá-la no caixote de lixo. « Estamos em guerra », afirmou o presidente Macron, lembremos. Desde o início da quarentena e no meu espírito de guerra, tive tempo de pensar nas guerras que a humanidade enfrentou no passado guerras civis, interestatais ou sanitárias - e notei que cada uma deixou a sua marca nas sociedades que atingiu e transformou-as. E as guerras para as quais o inimigo foi identificado como uma ameaça comum tiveram a capacidade de tornar os indivíduos mais cooperativos e altruístas. Hoje, toda a humanidade entrou em guerra contra a covid-19, e todos os grupos humanos, que geralmente defendem interesses intergrupais, agora têm um só inimigo externo, esse vírus. Então, também se-remos transformados após a nossa guerra, como as sociedades que nos precederam foram. E como temos tempo para pensar, comecei a esboçar, a reunir, para o meu diário de confinamento, pedaços de ideias que podem representar essa mudança. Dado que a terra hospitaleira que nos acolheu, antes de esgotá-la e estragá-la, está a recuperar os seus direitos violentamente, é óbvio que a sua brutali-dade nos obriga a tomar consciência das incoerências no funcionamento do mundo que criamos. Pagamos hoje por causa da ganância de um mundo que faz com que o lucro máximo seja o seu mo-tor, pagamos por causa do funcionamento do capitalismo financiarizado, que está entre as principais causas do

aquecimento global e que hoje nem é capaz de fornecer máscaras para proteger as pes-soas, pagamos por causa das deslocalizações de empresas em países com baixos salários e direitos sociais reduzidos. Queríamos destruir o vínculo natural entre os seres humanos, aqui estamos em prisão domiciliar para nos lembrar da preciosidade da vida comunitária. Queríamos criar um mundo de solidão em que tivéssemos que viver afogados em confinamento virtual, agora ficamos verdadei-ramente sozinhos e reduzidos a existir, a falar um com o outro, a interagir apenas através de ecrãs. Eis o nosso mundo, inóspito e fechado! Se antes escolhíamos confinar-nos nas nossas vidas particu-lares e individualistas, hoje somos postos à prova para vivermos algo novo todos juntos para nos despertar. Vamos então viver essa experiência com dignidade, é um presente do universo que nos quer unir numa comunidade humana verdadeira, é a única vocação hu-

Queríamos criar um mundo de solidão em que tivéssemos que viver afogados em confinamento virtual, agora ficamos verdadeiramente sozinhos e reduzidos a existir, a falar um com o outro, a interagir apenas através de ecrãs

mana na Terra. Se fomos ca-pazes de imaginar uma série de televisão, lançada em 2018 num canal coreano e disponível na Netflix desde Fevereiro de 2020 sob o título de « My Secret Terrius », cenários que coincidem sur-preendentemente com o que estamos a viver agora com o coronavírus, uma previsão no 53º minuto do episódio 10 que legitimamente faz pensar a uma conspiração, é que a imaginação humana é fértil o suficiente para criar um mundo melhor que este. Tive tempo de revisitar durante o confinamento os escritos de humanistas como Pierre Rabhi. Este perito da agroecologia sabe lembrar a necessidade de cultivar e continuar tradições pacíficas que estão em harmonia com a terra. O seu pensamento incita a não cair no desperdício de recursos e a respeitar os equilíbrios devidos ao meio ambiente, para não fazer e passar pelo que estão a passar hoje os países que modelaram o seu sistema de criação de riqueza no interesse financeiro que esma-ga seres humanos. Porque se eles não tivessem destruído o habitat natural do pangolim e dos mor-cegos, talvez não teríamos esse vírus contagioso cuja expansão vertiginosa ataca as nossas vias res-piratórias. O capitalismo produtivista, que degradou os habitats dos animais e destruiu as barreiras biológicas protectoras dos seres humanos, é uma das causas da passagem de vírus de animais para seres humanos. Em relação à África, o continente que menos participou nessa destruição, parece que a covid-19 começou matando os seus melhores filhos. Matou Manu Dibango. Matou Pape Diouf. Oxalá que os antepassados e os deuses continuem a proteger a terra africana contra a grande propagação dessa doença, é o continente menos bem equipado para esta guerra e já sofreu cala-

mi-dades inimagináveis. Estamos talvez a viver o colapso que os colapsólogos têm esperado, que eles acreditam que pro-duzirá o nosso necessário renascimento. E, pelo que tudo indica, as tentações nacionalistas também farão parte do novo mundo, e já começaram. A crise sanitária trouxe à luz a dependência económica dos Estados uns dos outros e fez chegar a hora do isolamento nacionalista. As potências económicas mundiais tenderão, portanto, à independência e soberania nacionais, e pergunto-me o que será da União Europeia que não consegue estar à altura da crise. Mas o renascimento deveria antes de tudo levar-nos a adotar um modo de vida moderado, a aprimorar a produção e o consumo locais, sem necessariamente cair no retraimento, e fazer a ajuda mútua entre os povos prosperar. Conseguire-mos recriar para nós mesmos os liames que rompemos ? Vamos criar novos caminhos e abandonar o nosso imediatismo negativo? Seria sensato, porque a nova solidariedade deve estar dentro e entre as gerações. O coronavírus e a quarentena que provocou vieram pôr à prova o nosso potencial de despertar, é uma maneira de fazer-nos amar uma vida mais saudável e olhar para a natureza. Porque, se não aproveitarmos essa oportunidade e continuarmos a ser maus inquilinos, a natureza sempre poderá salvar a Terra e eliminar-nos, como aconteceu com os dinossauros. *É Ricardo Vita é Pan-africanista, afro-optimista radicado em Paris, França. É colunista do diário Folha de São Paulo (Brasil), do diário Público (Portugal) e do diário Libération (França). É cofun-dador do instituto République et Diversité que promove a diversidade em França e é empresário.


dESPORTO

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Horácio Mosquito pondera recondução na presidência do Caála DANIEL MIGUEL/ArQUIVO

Para o ciclo olímpico que se avizinha, o presidente de direcção da formação do Huambo adianta que ainda não definiu se concorre ou não ao cadeirão máximo do clube

O

pre sidente do Recreativo da Caála ( H u a m bo), Horácio Mosqu ito, não sabe se vai ou não concorrer às eleições para o ciclo olímpico 2020/2024. O dirigente desportivo adiantou que tem outras prioridades, por isso pondera a sua recondução no clube afecto ao Planalto Central. No seu discurso, Horácio Mosquito referiu que durante o seu consulado tiveram pontos po-

Horácio Mosquito, presidente do Recreativo da Caála (Huambo)

sitivos e negativos no que concerne à sua gestão. “Fizemos coisas boas ao longo do nosso consulado. Também damos a mão à palmatória pelas coisas menos boas que fi zemos”, reconheceu o dirigente desportivo. Para o responsável, o Caála mantémse focado nos projectos ligados ao fu-

APFH já tem candidatos Zinga Carlos e Pepé António são os candidatos à presidência da Associação Provincial de Futebol da Huíla (APFH) para o quadriénio 2020/2024

O

pleito, apesar de ter sido adiado por causa da CIVID-19, conta com candidatos comprometidos com o desporto-rei naquela província. Por isso, Zinga Carlos adiantou que tem projectos para desenvolver a modalidade e man-

ter uma ligação estreita com os clubes. Com isto, o antigo árbitro espera que mais clubes se engajem neste processo para tornar o projecto viável em vários escalões. Para Pepé António, o futebol na Huíla precisa de uma no-

va dinâmica, e as linhas de força do seu programa serão brevemente conhecidas. O Desportivo da Huíla é o clube com maior dimensão na cidade do Lubango, pelo que, no seu reduto tomba gigantes, o Petro de Luanda tem muito para dizer.

tebol angolano, uma vez que continua a fazer uma campanha regular. No Girabola, Campeonato Nacional de futebol, o Recreativo da Caála ocupa a sétima posição com 30 pontos na tabela classificativa. Com esta paragem devido à

COVID-19, o Caála adoptou novos métodos de trabalho para os jogadores não perderem a forma desportiva. No âmbito do combate à pandemia, os atletas e jogadores estão a cumprir as orientações impostas pelas autoridades sanitárias.

DANIEL MIGUEL/ArQUIVO


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

27 Dr

DANIEL MIGUEL/ArQUIVO

Paulo Macedo já “dribla na FAB”

O

ex-internacional angolano, Paulo Macedo, é o nome que mais se fala nos corredores da Federação Angolana de Basquetebol (FAB) para orientar a Selecção Nacional sénior masculina. Segundo uma fonte da FAB, o antigo jogador, que orientou o 1º de Agosto e conquistou o Afrobasket 2013, em Abidjan (Cote d’Ivoire), tem perfil para o cargo. Aliás, conhece o basquetebol angolano desde longa data, e, por isso, deverá ser chamado pela comissão de gestão

Albertina Cassoma apela os cidadãos a ficarem em casa Mário Silva

A

pivô da Selecção Nacional sénior feminina de andebol e do 1º de Agosto, Albertina Cassoma, apelou aos angolanos a ficarem em casa de modo a prevenir a propagação da Covid-19, que está a assolar o mundo. Em declarações ao site do clube militar, Albertina Cassoma, uma das melhores jogadoras de África e do mundo, aconselhou todos acatarem as orientações anunciadas pelas

autoridades sanitárias. “Vamos evitar colocar as mãos à boca e no nariz, porque são partes do corpo de fácil contágio. Portanto, quando tivermos que tossir, espirrar é importante colocarmos o antebraço à boca, lavar as mãos com frequência com água e sabão ou usar álcool-gel”, lembrou as medidas de prevenção. Ainda assim, a craque das Pérolas Africanas clamou mesmo que todos fiquem em casa, porque só com união será possível vencer a pandemia do novo Coronavírus. Ao nível da equipa central das Forças Armadas Ango-

lanas, Albertina Cassoma já conquistou seis campeonatos nacionais, duas Taças de Angola, cinco Taças dos Clubes de Africa, quatro Taças das Taças e cinco Supertaças. Com a camisola da Selecção Nacional conta com dois títulos africanos de cadetes, um africano de júnior, também já teve participação nos Jogos Olímpicos do Brasil’2016, em dois mundiais de cadetes, um mundial de júnior e quatro de sénior. Além destas conquistas, o seu curriculum desportivo também está preenchido com prémios de MVP.

presidida por Gustavo da Conceição. De acordo com a fonte deste jornal, o órgão que rege a modalidade no país tem um passivo agressivo com o técnico William Voigt, logo o presidente demissionário, Hélder Cruz, deve pronunciar-se. Paulo Macedo foi campeão africano com a camisola da Selecção Nacional e como treinador, por isso a escolha deverá recair nele. Na presente temporada, no 1º de Agosto, foi substituído por Walter Costa no comando técnico por enfrentar maus resultados.

Presidente da FAA reage às datas alteradas devido à COVId-19 DANIEL MIGUEL/ArQUIVO

O

presidente da Federação Angolana de Atletismo (FAA), Bernardo João, disse que a alteração das datas dos Olímpicos de Tóquio e do Mundial têm razão de ser. As provas aconteceriam este ano, mas devido à pandemia que vai fazendo vítimas no mundo, foram transferidas para o ano 2021. Bernardo João referiu que as medidas de adiamento vi-

sam salvaguardar a vida dos atletas e dos amantes do desporto em todo o mundo. “É importante mantermos os níveis de prevenção, porque o vírus é muito forte e letal, por isso é importante cumprir”, admitiu. O dirigente desportivo disse que Angola vai continuar a trabalhar para não ficar longe dos acometimentos desportivos dentro e fora do continente.


CLASSIFICAdOS emprego

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imobiliรกrio

O PAร S Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

diversos


O PAĂ?S Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

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imobiliĂĄrio

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TEMPO

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Fonte: INAMET

PrEVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PArA AS PrINCIPAIS CIDADES Ê

Válida de 03 a 05 de Abril de 2020

Ê

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGOA E GEOFÍSICA - CENTRO NACIONAL DE PREVISÃO DE TEMPO (CNPT)Ê

Ê

PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES, válida de 03 a 05 de abril de 2020Ê Data 03/ 04/ 2020

CIDADE

Mín

Data 04/ 04/ 2020

Estado do Tempo

Máx

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Data 05/ 04/ 2020

Estado do Tempo

Máx

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Máx

Estado do Tempo

LUANDA

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Céu parcial nublado, chuvisco.

24

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Parcial, chuvisco/chuva fraca.

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Parcial, chuvisco.

CABINDA

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Céu nublado, chuvisco.

25

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Nublado, chuva fraca.

25

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Nublado, chuvisco

SUMBE

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Céu nublado, chuva fraca a moderada, trovoada.

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Nublado, chuva fraca a moderadaÊ

25

31

Parcial nublado

CAXITO

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Céu parcial nublado, chuvisco/chuva fraca.

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Nublado, chuva fraca a moderada

24

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Parcial, chuva fraca.Ê Céu nublado.Ê

MBANZA KONGO

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Céu nublado, chuvisco/chuva fraca.

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Nublado, chuva fraca, trovoada

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UIGE

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Céu nublado, chuva fraca.

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Nublado, chuva moderada a forte.

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NDALATANDO

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Nublado, chuvisco/chuva fraca.

19

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Nublado, chuvisco/ chuva fraca.Ê

19

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Parcial, chuvisco.Ê

MALANJE

19

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Céu nublado, chuva fraca, trovoada.

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Nublado, chuva fraca a moderada.

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Nublado, chuva moderada.Ê

DUNDO

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Céu nublado, chuva fraca a moderada.

19

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Nublado, chuva fraca, trovoada.

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SAURIMO

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Céu nublado, chuva fraca a moderada, trovoada.

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Parcial, chuva fraca, trovoada

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BENGUELA

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Céu parcial nublado, chuvisco/chuva fraca.

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Parcial nublado, chuvisco.Ê

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HUAMBO

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Céu nublado, chuva fraca a moderada, trovoada.

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Nublado, nebline, chuva fraca.Ê

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Nublado, chuva.

CUITO

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Céu nublado, chuva fraca a moderada, trovoada.Ê

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Nublado, chuva moderada a forte.Ê

13

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Nublado, chuva moderada.

LUENA

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Céu nublado, chuva moderada a forte, trovoada.

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Nublado, chuvisco/chuva fraca.Ê

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Nublado, chuva moderada.Ê

LUBANGO

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Céu nublado, chuvisco/chuva fraca.Ê

15

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Parcial, chuvisco/chuva fraca.Ê

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MENONGUE

17

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Céu nublado, chuva fraca a moderada, trovoada.

16

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Nublado, chuva fraca a moderada.

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MOÇÂMEDES

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Céu parcial nublado.

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Céu pouco nublado.

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Parcial nublado

ONDJIVA

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Céu parcial a nublado, chuva fraca.

18

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Parcial, chuvisco.

18

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Parcial, chuvisco

O(s) Meteorologista(s): Lúcia

Yola C. Fernando e Lutuima J. S. Domingues

Parcial, chuva fraca.Ê

Nublado, chuva moderada.Ê Nublado, chuva moderada.Ê Parcial nublado.Ê

Parcial, chuvisco.Ê Parcial, chuva fraca

Luanda, 02 de abril de 2020

Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, Rua 21 de Janeiro – Tel.: 949320641 – Luanda. Site: http://www.inamet.gov.ao; emails: geral@inamet.gov.ao / geral.inamet@angola-portal.aoÊ

TEMPO NO MAR

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA – INAMET

Circulação fraca a moderada de Sul a Sudoeste os paralelos 4°S e 14°S(Cabinda a Benguela) Centro Nacionalentre de Previsão do Tempo e circulação de Sul a sudoeste fresco entre o paralelo 14°S e 18°S(Namibe). BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA

2. PREVISÃO VÁLIdA ATÉ ÀS 18:00 TU dO dIA 03 dE ABRIL dE 2020:

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIA 01 DE ABRIL DE 2020: Circulação geralmente fraca a moderada de sudeste a sudoeste.

2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 02 DE ABRIL DE 2020: AVISO : AVISO DE ONDULAÇÃO DE 3.3 DE ALTURA. VENTO

(ATÉ 200 MILHAS DA COSTA)

Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul (6°S – 12°S)

Parcialmente Nublado

Benguela (12°S – 14°S)

Parcialmente Nublado

Namibe (14°S – 18°S)

ALTURA DA ONDA (METROS)

ESTADO DO MAR

VISIBILIDADE HORIZONTAL (KM)

DIRECÇÃO FORÇA (KT) Parcialmente Nublado

Parcialmente Nublado

O anticiclone de Santa Helena irá deslocar-se gradativamente para leste com a pressão central de 1020hPa. Assim, prevê-se estado do mar agitado, com ondas de 2.1 a 2.2 metros de altura, da região marítima de Cabinda a Benguela , sendo muito agitado na região marítima do Namibe, com a altura das ondas de 2.6 metros.

4. CARTA dO VENTO MÁXIMO E dA ALTURA dA ONdA MÁXIMA PREVISTA

Os contornos a cores indicam a altura máxima da ondulação e os contornos em tom cinza indicam os possíveis incrementos das vagas devido à influência do vento local.

AVISO : SEM AVISO.

Cabinda (4°S – 6°S)

REGIÃO SUL: Províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango: Céu parcialmente nublado, apresentando-se nublado durante a madrugada e manhã. Possibilidade de ocorrência de chuva moderada a forte, acompanhado, por vezes, de trovoada, em alguns municípios da província do Cuando-Cubango. Possibilidade de ocorrência de chuvisco ou chuva fraca acompanhada, por vezes, de trovoada em alguns municípios das províncias do Namibe, Huila e Cunene.

3. dESCRIÇÃO SINÓPTICA dAS 18:00 TU dO dIA 02/04/2020 ÀS 18:00 TU dO dIA 03/04/2020.

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU dO dIA 02 dE ABRIL dE 2020:

ESTADO DO TEMPO

REGIÃO CENTRO: Províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico Céu nublado a muito nublado, apresentando-se parcialmente nublado ao anoitecer na província de Benguela. Possibilidade de ocorrência de chuva moderada a forte, acompanhado por vezes de trovoada, em alguns municípios das províncias do Huambo, Bié e Moxico. Possibilidade de ocorrência de chuvisco ou chuva fraca acompanhada por vezes de trovoada em alguns municípios da província de Benguela.

Fonte: INAMET

BOLETIM METEOrOLÓGICO PArA A NAVEGAÇÃO MArÍTIMA

REGIÃO

das 18 horas do dia 02 às 18 horas do dia 03 de Abril de 2020 REGIÃO NORTE: Províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Lunda-Sul: Céu nublado a muito nublado, apresentando-se parcialmente nublado ao entardecer nas províncias de Cabinda, Zaire e Luanda. Possibilidade de ocorrência de chuva moderada, acompanhada, por vezes, de trovoada, em alguns municípios das províncias do Cuanza-Sul, Lunda-Sul e Lunda-Norte. Possibilidade de ocorrência de chuvisco ou chuva fraca, acompanhada, por vezes, de trovoada, em alguns municípios das províncias de Cabinda, Zaire, Luanda, Bengo, Uíge, Cuanza-Norte e Malanje.

Sudeste a Sudoeste

6 a 20

Até 1.7

Agitado

Moderada a boa (Superior a 7)

SulSudoeste

6 a 12

Até 2.4

Agitado

Boa (Superior a 8)

SulSudoeste

10 a 15

Até 2.8

Muito Agitado

Boa (Superior a 9)

SulSudoeste

15 a 23

Até 3.3

Muito agitado

Boa (Superior a 8)


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

31

JOÃO ROSA SANTOS

Fique em casa! Dr

O

mambo está sério, nada de facilitar, coronavírus não está para brincadeiras, no primeiro, no segundo ou no terceiro mundo está a bondar vidas humanas, velhos e novos, mulheres e homens, rico ou pobre, sem dó nem piedade, a velocidade de cruzeiro. A humanidade “está colocada”, todo mundo a chichilar, a angústia é internacional, o inimigo é comum e invisível, a brincar às escondidas, todos no corre-corre, a tomar medidas drásticas, a procura de soluções, em busca do antídoto necessário e eficaz para travar definitivamente a onda mortal da pandemia. Em boa hora, no tempo certo, o Presidente angolano decidiu decretar o Estado de Emergência, para evitar males maiores, o colapso do sistema de saúde nacional, não fosse tão veloz a capacidade de propagação do vírus que aumenta vertiginosamente todos os dias o número de pessoas infectadas. Afinal, mais vale prevenir do que remediar! Se é verdade que o coronaví-

rus é mais perigoso do que parecia ser, não é menos verdade que o seu potencial destrutivo está a semear o pânico mundial, a assustar as pessoas, a paralisar economias, a retardar o desenvolvimento sustentável das nações, a complicar o dia-a-dia dos cidadãos hoje, na sua grande maioria em quarentena e, temporariamente, aconselhados ou orientados a ficar em casa. Para quem pensava que o surto era restrito a alguns países, continentes ou de mera ordem climá-

Neste dilema, algumas vozes creem que, como explicitam os últimos capítulos em Apocalipse, está em cumprimento a profecia, já que, segundo a bíblia, uma praga iria surgir e se alastrar aos poucos matando muita gente

tica, redondamente se enganou, a escala e gravidade da pandemia cresceu, ultrapassou fronteiras, atingiu a humanidade de forma devastadora obrigando a intervenções extremas para se barrar o avanço da doença. Neste dilema, algumas vozes creem que, como explicitam os últimos capítulos em Apocalipse, está em cumprimento a profecia, já que, segundo a bíblia, uma praga iria surgir e se alastrar aos poucos matando muita gente. Certo ou errado, a realidade crua e nua é clara e objectiva exigindo, em abono da verdade, mais acções e menos teorias, em nome da salvaguarda da existência humana e do inalienável direito a vida. Para Angola, que têm sabido gerir a crise e decidir correctamente no momento oportuno, o tempo para se prestar um serviço digno e relevante a comunidade é agora, sem hesitações nem contemplações, unindo o útil ao agradável pois, amanhã ou depois poderá ser tarde demais. Certamente não serão poucos os sacrifícios que são e estão sendo consentidos, o apertar dos cintos, a mobilidade limitada, os negócios parados, cultos religiosos suspensos, enfi m, é preciso coragem, compreender e aceitar a realidade, consentir esforços, acreditar e fazer fé que novos e melhores dias virão. O sucesso da missão em muito depende do comportamento, das atitudes, da compreensão dos cidadãos que estão chamados a assumir e interiorizar, cumprir e fazer cumprir as orientações e medidas emanadas pelas instâncias competentes, para que, em conjunto, todos juntos, no mais curto espaço de tempo possamos sair vitoriosos desta grande guerra contra a pandemia do coronavírus. Para já, por enquanto, como bons angolanos que somos, nada de xinguilar, o melhor mesmo é ficar em casa!


ÚLTIMA

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O PAÍS Sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Homem detecta O QUE SABER Coronavírus em si próprio SOBRE O graças a molho de tomate CORONAVÍRUS… Um turista neozelandês descobriu estar contaminado com o novo Coronavírus SArS-CoV-2 durante um simples almoço, depois de ter voltado para casa, vindo do reino Unido

O

neo-zelandês suspeitou que algo anormal se passava consigo ao estranhar o sabor do molho de tomate, que tinha “um gosto metálico horrível”, segundo ele. “Eu experimentei outra marca que tínhamos em casa e era exactamente a mesma coisa”, referiu Joshua Dent ao tabloide Daily Mail. Joshua tinha visitado a França e o Reino Unido. Regressado à Nova Zelândia, no longo percurso de carro até à sua casa, se sentiu constipado, com dores de garganta e muito cansado. Mas foi a aversão ao molho de tomate que chamou a sua atenção, pois o paladar dos restantes alimentos, incluindo o dos tomates

frescos, se manteve inalterado. Joshua, que ainda está em isolamento, apesar de curado do coronavírus, contou que a primeira coisa que comeu depois da recuperação foi um cachorro com salsicha coberta de molho de tomate, confessou ao Daily Mail. Novos sintomas As mudanças no paladar e no olfato, ou a sua completa perda, têm sido apontadas por médicos e especialistas em saúde como sintomas de coronavírus a ter em conta. A perda destes dois sentidos muitas vezes se desenvolve rapidamente e pode ser um dos primeiros sintomas detectáveis. Segundo o Daily Mail, alguns médicos britânicos já pediram que

O neo-zelandês Joshua Dent que descobriu estar infectado com Covid-19 através do sabor do tomate que comeu

estes sintomas sejam adicionados às listas oficiais. O surto na Nova Zelândia Segundo informa a Universidade Johns Hopkins, em 2 de Abril a Nova Zelândia apresenta 797 infectados, uma morte e 92 recuperados. O país decretou o estado de emergência nacional em 26 de Março e o regime de confinamento. Escritórios e escolas foram fechados, assim como serviços não essenciais, por exemplo, bares, restaurantes, academias, piscinas, museus, bibliotecas e parques infantis.

Americanos teriam desviado entrega de máscaras adquiridas pela França horas antes do vôo

A

falta mundial de máscaras, além de demonstrar o despreparo de muitos governos para lidar com o coronavírus, origina disputas pela compra destes itens vitais. A França, um dos países mais afetados pela propagação da pandemia no continente europeu, tem feito enormes compras de máscaras na China. Porém, algo impensável ocorreu justamente no momento em que uma delas seria entregue. Em entrevista ao canal BFM TV, o presidente do Conselho Regional de Provence-AlpesCôte d’Azur, na França, Renaud

Muselier, afirmou que a última entrega de máscaras, que devia chegar à sua região, foi desviada. Segundo o político, no momento em que as máscaras estavam a ser levadas ao avião que realizaria a entrega, um grupo de norte-americanos ofereceu uma quantia em dinheiro três vezes maior do que a paga pela França, e desviou a carga para os Estados Unidos. “Uma encomenda francesa foi comprada por americanos, em dinheiro, na pista. O avião que deveria vir à França partiu directamente aos Estados Unidos”, declarou Muselier. Para evitar um agravamento da trá-

“O

álcool ou qualquer mistura com álcool a mais de 65% dissolve qualquer gordura, sobretudo a camada lipídica externa que protege o vírus”. “Qualquer mistura com uma parte de cloro e cinco partes de água dissolve directamente a proteína, desintegrando o vírus”. “O vírus não é um organismo vivo, mas sim uma molécula de proteína (ARN) coberta por uma camada protectora de lípido (gordura), que ao ser absorvida pelas células das mucosas ocular, nasal ou bucal, alteram o código genético delas (mudam) e as convertem em células agressoras multiplicadoras”. “O vírus conserva-se muito estável em ambientes frios, húmidos e escuros”. “Nenhum bactericida serve! O vírus não é um organismo vivo como a bactéria, e se não está vivo não se pode matar com antibióticos, os vírus são desintegrados. Daí que a solução está em romper a sua cadeia de propagação e mutação”. “O vírus não atravessa a pele sã”.

gica situação enfrentada na sua região, o presidente regional afirmou que “tentaria garantir o máximo possível estes suprimentos”. Os Estados Unidos vivem uma dramática batalha contra a propagação do coronavírus. O país apresenta mais de 210 mil casos confirmados do Covid-19.

“O calor muda o estado da matéria da gordura da camada protectora do vírus, por isso é bom usar água a mais de 25 graus centígrados para lavar as mãos, a roupa e locais em que nos encontremos”. “Não sacudam! Esfreguem

as superfícies com álcool, cloro (lixívia), água oxigenada ou detergente! O vírus agarrado a uma superfície se desintegra algum tempo segundo a matéria de que é feita esta superfície. 3 horas (tela porosa), 4 horas (cobre e madeira), 24 horas (cartão), 42 horas (metal) e 72 horas (plástico). Se se sacudir o vírus volta a flutuar no ar e pode alojar-se no nariz”. “Como o vírus não é um ser vivo senão uma molécula de proteína, não se mata, mas se desintegra. O tempo de desintegração depende da temperatura, humidade e tipo de material onde repousa”. “A água oxigenada dissolve a proteína do vírus, isto ajuda muito depois do uso de sabão, álcool ou cloro para atacar o vírus, mas há que usá-la pura e se se usar na pele a pode ferir”. “O vírus é muito frágil, o único que o protege é uma camada externa muito fina de gordura, por isso é que qualquer tipo de sabão é o melhor remédio, porque a espuma corta a gordura (há que esfregar-se por 20 segundos no máximo e fazer muita espuma. Ao dissolver a camada de gordura se dispersa e desintegra por si”. UMA RECOMENdAÇÃO VALIOSA Use a mão não dominante para abrir as portas em casa, escritório, transporte, banhos, etc., já que é muito difícil que venha a tocar o rosto com essa mão. Na Coreia do Sul foi muito difundida esta iniciativa.


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