Jornal OPaís edição 1817 de 24/04/2020

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CERCA SANITÁRIA PROVINCIAL APENAS PARA LUANDA

POLÍTICA: O estado de emergência vai durar até ao dia 10 de Maio e apresenta-se agora mais flexível, com o levantamento da cerca sanitária províncial (excepto Luanda) e o aumento do horário de trabalho da função pública, que passa a funcionar das 8 às 15 horas, mas com apenas 50 por cento da sua força laboral, em regime rotativo. P. 8

Director: José Kaliengue www.opaís.co.ao e-mail: info@opaís.co.ao @Jornalopaís facebook/opaís.angola

“COVID-19 DESTROÇOU 0 PROGRAMA DE GOVERNAÇÃO”

O DIÁRIO DA NOVA ANGOLA

Edição n.º 1817 Sexta-feira, 23/04/2020 Preço: 40 Kz

CARloS MoCo

ENTREVISTA:.Cientista político e autor do livro

“Transição pela transição: uma análise da democratização em Angola”, o professor universitário Nelson Domingos analisa as circunstâncias e o significado das últimas alterações no Executivo angolano. P. 22

“Não podemos colocar de parte o Mais de 180 pessoas em quarentena por contacto com professor do ensino particular” cubana infectada com ovid-19 ● Angola não registou novos casos

positivos de Covid-19, ontem. Entretanto, 183 pessoas que estiveram em contacto com o último caso, da especialista cubana em estatística médica infectada, foram para quarentena institucional. P. 2

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18/11/19

15:05

● Presidente da C. Instaladora da Associação dos Professores do Ensino Particular, Carlos da Conceição, repudia encarregados de educação que se recusam a pagar até 60% da propina durante o estado de emergência. Especialista em finanças acusa escolas de má-gestão. P. 10

Nacional de basquetebol pode ser disputado a portas fechadas ● A prova nacional da bola ao cesto tem pernas para continuar no próximo mês, mas, a portas fechadas devido à pandemia que assola o mundo, segundo uma fonte da Federação Angolana de Basquetebol (FAB). P. 26


EM FOCO

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Mais de 180 pessoas em quarentena por contacto com cubana infectada com Covid-19 Angola não registou qualquer caso positivo de Covid-19 nas últimas 24 horas. Entretanto, 183 pessoas que estiveram em contacto com o último caso, da especialista cubana em estatística médica que está infectada pelo vírus, estão a observar quarentena institucional, revelou, ontem, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda Maria Teixeira

E

m declarações à imprensa, na habitual conferência de actualização dos dados sobre a pandemia da Covid-19 no país, em Luanda, Franco Mufinda esclareceu que à volta do último caso registado no país, nas 24 horas anteriores, ou seja, a 22 deste mês, foi realizado um trabalho de investigação, sendo que 183 pessoas foram detectadas e estão a observar quarentena institucional. Explicou que continua a busca nas comunidades, sobretudo em torno deste último caso, porque dos contactos dos contactos ocasionais também nasceram os contactos dos contactos, então o trabalho segue o seu rumo.

Disse que estão em seguimento por contactos directos ou ocasionais 938 pessoas e os casos investigados estão acima de 390. Por outro lado, garantiu que nas últimas 24 horas não houve alteração dos dados. “Continuamos com os 25 casos confirmados positivos, dos quais dois mortos, seis recuperados e 17 pessoas seguem em acompanhamento clínico, sendo que o estado dos mesmos é estável”, disse. Fez saber que actualmente há um registo de 1.918 amostras colhidas e se encontram em processamento 329 amostras. Entretanto, durante as 24 horas foram analisadas 90 amostras que tiveram resultado negativo. O secretário de Estado para a Saúde Pública disse ainda que mesmo com o aumento dos casos, as lo-

calidades afectadas continuam as mesmas. Neste caso, a província de Luanda continua a ser a única acometida, sendo as localidades Belas, Maianga, Viana, Talatona, Sambizanga, Ingombota e Kilamba Kiaxi.

“Estão em seguimento por contactos directos ou ocasionais 938 pessoas e os casos investigados estão acima de 390”

Sexo masculino continua em predominância Neste momento, a faixa etária também não mudou. Continua a ser de um ano a 62 anos de idade, havendo apenas uma alteração no que respeita a distribuição por sexos, que passou a ser de 68 por cento (masculino) contra 32 (feminino). Portanto, maior predominância ainda é do sexo masculino, com 13 casos positivos contra sete do sexo feminino. Noutra vertente, as nacionalidades alteraram-se com a entrada da paciente cubana. Agora são angolana, sul-africana e cubana. O Centro Integrado de Segurança Pública (CISP) registou, nas últimas 24 horas, um alerta de denúncia de violação de quarentena domiciliar, que foi investigada e validada. lITo CAhoNGolo

Secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda

Mais de 200 pessoas receberam alta ontem Franco Mufinda declarou que, em termos de quarentena, 691 pessoas estão a observar a quarentena institucional, sendo que 239 outras pessoas tiveram alta. “Neste grupo de pouco mais de 200 pessoas temos que trazer à tona o facto de que 32 pessoas são de petrolíferas que nós seguimos ao longo de pouco mais de 14 dias. Então, eles têm a luz verde para poderem trabalhar”, explicou. De acordo com o governante, as autoridades sanitárias continuam com a busca activa. A comissão fez a recepção de meios médicos e medicamentosos decorrentes das aquisições que se tem realizado e a distribuição destes a nível das províncias. Uma tarefa realizada pela Central de Compras de Meios Médicos do Ministério da Saúde. Fez saber que os centros de saúde do Calumbo 1 e 2 foram abertos para se fazer a gestão de pessoas que possam sair dos hospitais e que podem recuperar em centros. Com a abertura dessas instituições que serviram de alojamento de viajantes em quarentena institucional obrigatória, pretende-se ampliar a visão no que respeita ao seguimento de casos leves. Por outro, salientou que a formação de técnicos, mormente enfermeiros, médicos e pessoal de saúde pública continua em todo o país. Além de que, se está a reforçar a vigilância epidemiológica à volta dos centros de quarentena. “Também há todo um trabalho feito, sobretudo com a Inspecção Geral de Saúde, nos hotéis, para ver até que ponto os mesmos têm as condições criadas para, cabalmente, responder à gestão da Covid-19”, disse. Sobre as medidas de protecção, Franco Mufinda apela para a permanência das pessoas em casa, a observância do distanciamento físico e o isolamento social, bem como lavar frequentemente as mãos e cumprir com as medidas ditadas pelo estado de emergência.



4 DESTAQUES POLÍTICA. PÁG. 8 Estado de Emergência mais arejado.

SOCIEDADE. PÁG. 12 Psicólogo recomenda instução de valores culturais para reforço comportamental das crianças.

CARTAZ. PÁG. 14 Um país extenso, populoso e rico com apenas 39 bibliotecas públicas .

ECONOMIA. PÁG. 18 Ernst & Young cria linha de apoio as empresas.

o editorial

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

HOJE: os números do dia

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O Executivo face à Covid-19

A

nova etapa da situação de emergência em Angola pode ser a última, se mais casos importados de infecção pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2) e casos de infecção local não se revelarem nos próximos quinze dias. Aí, terá tido sucesso a acção do Executivo, independentemente de qualquer reparo que se lhe possa fazer. Entretanto, outro feito positivo do Governo, induzido pela ameaça do novo Coronavírus, é uma maior atenção ao sistema de saúde pública e reequipamento de unidades hospitalares. Além da admissão das insuficiências já conhecidas e há muito reclamadas pelos angolanos. Mas a sustentação poderá surgir se os governantes e políticos, de todos os níveis, se deixaram tratar em Angola, nos hospitais públicos. As perspectivas parecem boas, mas há que ouvir sempre os avisos da oMS: em África a pandemia ainda nem começou.

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Unidades industriais da Zona Económica Especial (ZEE) foram constam na segunda vaga do concurso público nacional e internacional para privatização, lançado pelo o Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado (IGAPE) nesta Segunda-feira.

198 1242

o que foi dito MUNDO. PÁG. 26 Medicamentos para pressão arterial estão na mira de pesquisa da Covid-19.

E em tudo o que nós fazemos, nunca devemos esquecer: a ameaça é o vírus, não as pessoas” António Guterres Secretário-geral da oNU

A crise pode servir de pretexto para a adoção de medidas repressivas para fins não relacionados à pandemia”. António Guterres Secretário-geral da oNU

Mercado de peixe vai ser aberto na cidade de Moçâmedes, capital da província do Namibe, com capacidade para mais de 50 vendedores.

Deputados à Assembleia Nacional aprovaram, ontem, Quinta-feira, a prorrogação do estado de emergência vigente no país por mais 15 dias. Não houve votos contra ou de abstenção. Mortos provocados pela Covid-19 representam o total registado em África até ontem, Quinta-feira, com quase 26 mil casos registados da doença em 52 países, segundo as estatísticas mais recentes.

Mais do que nunca, os Governos devem ser transparentes, recetivos e responsáveis. O espaço cívico e a liberdade de imprensa são essenciais” António Guterres Secretário-geral da oNU


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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

e assim...

Hoje no online de O PAÍS leia a entrevista com Tomasz Dowbor, patrão do grupo Boa Vida, e perceba como ele lê o futuro dos negócios depois da pandemia do novo Coronavírus

José Kaliengue Director

Os nossos políticos não resistem

www.opais.co.ao Los Angeles (EUA) Um homem é testado para a doença do novo Coronavírus (a Covid-19) num posto de bombeiros de los Angeles para os sem abrigo (DR)

o que vai acontecer Prevenção os camiões que

transportam carga a partir da cidade portuária e económica de Ponta-Negra, República do Congo, para Cabinda, através da fronteira terrestre de Massabi, passam a ser desinfectados, como medida de prevenção da Covid-19. Agentes importadores da província de Cabinda e o sector petrolífero têm recebido quantidades de carga contentorizada proveniente do porto de Ponta-Negra, entre bens de primeira necessidade e materiais para o sector petrolífero e de construção civil. Para o efeito, as medidas de controlo e fiscalização têm sido redobradas.

Movicel grátis A Movicel, empresa angolana de telecomunicações móveis, anunciou, em comunicado, atribuir pacote especial gratuito aos seus clientes, no âmbito do Plano de Contingência ao Covid-19 no país. No âmbito da sua responsabilidade social, e em linha com o comunicado do Ministério das Telecomunicações e das Tecnologias de Informação, a Movicel preparou um conjunto de acções que visam manter os seus clientes permanentemente contactáveis com os seus familiares e amigos, durante o Estado de Emergência, face à pandemia do Coronavírus “Covid-19”

Totó em concerto o cantor angolano Totó apresenta hoje, pelas 19h00, em luanda, um concerto online, promovido pela Fundação Arte e Cultura. A iniciativa visa encorajar as famílias a permanecerem em casa nesse período de isolamento social, por causa da Covid-19, descontraindo com música acústica. No concerto, o músico irá interpretar alguns dos seus maiores sucessos, entre os quais “Ame Nndu Ku Sole”, “luzingu Malembe” e “Nga Sakidila”. Totó tem no mercado quatro álbuns: “Vida das coisas”(2006), “Batata quente” (2009) e “Filho da luz”

E

ra inevitável, para o nível intelectual e moral dos nossos políticos. Eles não resistiram e não se contiveram. Desactaram já à “bordoada” pública. Uma inqualificável falta de respeito ao cidadão que, definitivamente, merece um país diferente e com políticos diferentes. Há milhares de mortos todos os dias em várias partes do mundo, a economia angolana está praticamente parada, as pessoas desesperadas, aflitas, porque não sabem o que lhes reserva o futuro. Dos poucos empregos que a nossa economia gera em situação normal, boa parte está ameaçada. Há famílias que voltam a confrontar-se com o espectro da fome. E os nossos políticos, sobretudo os dos dois maiores partidos, MPLA e UNITA, acham que este é um bom momento para ataques mútuos, para propaganda abjecta. Os angolanos não merecem esta espécie de pessoas, não foram capazes de umas tréguas em nome do respeito pela dignidade de quem sofre, não foram capazes de ser dignos de respeito. Espera-se que as pessoas, as sociedades, os países, saiam melhores desta crise pandémica, com novos valores morais e éticos, novos códigos de comportamento. Isto vai acontecer, a humanidade vai evoluir. Mas não aqui, infelizmente. Há por cá uma outra doença de que nos temos de curar primeiro.

E também... Dia Mundial do Animal de Laboratório-24 de Abril Pandemia o Ministério da Saú-

de apresenta hoje em conferência de imprensa o estado actual do novo Coronavírus (Covid-19), na sede do CIAM, em luanda, a partir das 19 horas.

A data foi criada em 1979 pela Sociedade Nacional AntiVivissecção (National AntiVivisection Society, NAVS), tendo sido escolhido o dia 24 em honra do antigo presidente da sociedade, hugh Dowding, o primeiro Barão Dowding, nascido neste dia. o objetivo desta data é dar voz e vida aos animais que são utilizados em testes de laboratório por todo o mundo, sofrendo torturas arcaicas por fins comerciais, industriais, científicos e académicos. As iniciativas pelos direitos dos animais têm todas o mesmo fim: acabar com a experimentação animal.


6 Media Nova, S.A Presidente do Conselho de Administração Filipe Correia de Sá Administradores Executivos luís Gomes Paulo Kénia Camotim Propriedade : Socijornal Depósito Legal: Nº 244/2008 Contribuinte: 5417015059 Nº registo estatístico: 48058

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

NO TEMPO DO KAPARANDANDA

Director Geral de Publicações: José Kaliengue jose.kaliengue@opais.co.ao

OPAÍS

Director: José Kaliengue Sub-Director: Daniel Costa, daniel.costa@opais.co.ao Chefe de Redacção: Eugénio Mateus, eugenio.mateus@opais.co.ao Editorias : Política: Ireneu Mujoco ireneu.mujoco@opais.co.ao (Editor) Sociedade: Paulo Sérgio paulo.sergio@opais.co.ao (Editor) Romão Brandão romao.brandao@opais.co.ao (Sub-editor) Economia André Mussamo andre.mussamo@opais.co.ao (Editor) Desporto: Sebastião Félix sebastiao.felix@opais.co.ao (Editor) Mário Silva mario.silva@opais.co.ao (Sub-editor) Cartaz: Jorge Fernandes jorge.silva@medianova.co.ao (Sub-editor) Redacção: Norberto Sateco, Alberto Bambi, Augusto Nunes, Miguel Kitari, Domingos Bento, Neusa Filipe, Milton Manaça, Antónia Gonçalo, Maria Teixeira, Iracelma Kaliengue, Patrícia oliveira, Stela Cambamba, Zuleide de Carvalho (Benguela), Brenda Sambo, Maria Custódia e Adjelson Coimbra. Arte: ladislau Bernardo (Coordenador) Valério Vunda (Coordenador adjunto), Annette Fernandes, Nelson da Silva e Francisco da Silva. Fotografia: Carlos Moco (Editor), Daniel Miguel (Sub-editor), Pedro Nicodemos, Jacinto Figueiredo, Carlos Augusto, Virgílio Pinto, lito Cahongolo (repórteres fotográficos), Rosa Gaspar e Yuri dos Santos (Assistentes de Departamento) Agências: Angop, AFP, Reuters, Getty Images

Assistentes de Redacção: Antónia Correia, Rosa Gaspar, Sílvia henriques Impressão e acabamento: DAMER, S. A. luanda Sul, Edifício Damer Distribuição: Media Nova Distribuição Tel: +244 943028039 Distribuidora@medianova.co.ao pontodevenda@medianova.co.ao Assinaturas: Bruno Pedro Tel: +244 945 501 040 Bruno.Pedro@medianova.co.ao Online: Venâncio Rodrigues (Editor) Isabel Dalla e Ana Gomes Sítio Online: www.opais.co.ao Contactos: info@opais.co.ao Tel: 914 718 634 -222 003 268 Fax: 222 007 754 Sede: Condomínio AlPhA, Talatonaluanda. Tel: 222 009 444 República de Angola

Comercial e Marketing: Senda Costa 922682440 email: comercial@medianova.co.ao Tiragem: 15 000 exemplares

1961 -

24 de Abril de O presidente Tchombe do Catanga (Shaba) denuncia, na conferência dos líderes congoleses, o Presidente da República, Kasa-Vubu, pelo seu acordo com os EUA, e é preso à saída dos trabalhos.

1984 -

24 de Abril de O Governo militar brasileiro ordena o encerramento de duas universidades onde se registaram incidentes entre estudantes e a Polícia e estabelece a censura total a rádio e a televisão quanto a temas relacionados com a exigência popular de eleições directas.

1990 -

24 de Abril de Delegações do Governo de Angola e da UNITA realizam, em solo português, Évora, o primeiro encontro oficial, sob a égide do primeiroministro Cavaco Silva.

CARTA DO LEITOR

Medida injusta Caro director, Estou muito desiludido, como pai, com a medida do Governo que obriga os encarregados de educação a pagar as propinas mesmo quando as escolas privadas e as comparticipadas estão fechadas. Ao que sei, boa parte destas escolas nem tem contratos com os seus trabalhadores para ligação exclusiva. Sabemos dos professores turbo ou garimpeiros. Muitos professores só recebem pelas horas que leccionam, portanto, acho que o Governo actuou em defesa dos interesses dos proprietários das escolas. Mas isto resulta de muitos dos donos destas escolas serem políticos, têm muita força. Não se defendeu os direitos da maioria, dos cidadãos que perderam as suas fontes de rendimento. O Governo já deixou claro que não resiste aos “apertos” dos grandes interesses. É assim na educação como na saúde. Se isto não mudar, vamos continuar a ter maus serviços nestas duas áreas, porque a ganância pelo lucro vai sempre sabotar o serviço púbico de qualidade. Para mim, a medida é injusta.

Francisco Macedo Escreva para o Jornal OPAÍS através do e-mail info@opais.co.ao ou ligue para estes contactos Tel: 222 003 268 Fax: 222 007 754

DR


1973 - Amílcar Cabral, dirigente e fundador do PAIGC, é assassinado em Conakry. 1981 - Os 52 reféns norte-americanos, detidos no Irão há mais de 13 meses, são finalmente libertados, ao mesmo tempo que Ronald Reagan toma posse como quadragésimo presidente dos Estados Unidos. 1997 - O governo de Mobutu, em Kinshasa, Zaire, declara, oficialmente, guerra contra os rebeldes no norte do país, liderados por Laurent Désiré Kabila, depois de estes ocuparem uma parcela de 600 quilómetros no interior do país.


POLÍTICA

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Estado de emergência mais “arejado” O estado de emergência vai durar até ao dia 10 de Maio e apresenta-se agora mais flexível, com o levantamento da cerca sanitária províncial (excepto luanda) e o aumento do horário detrabalho da função pública, que passa a funcionar das 8 às 15 horas, mas com apenas 50 por cento da sua força laboral, em regime rotatividade DR

víncia de Luanda não poderao circular para outras províncias, salvo casos excepcionais devidamente justificados. Apesar deste aligeirmento, Adão de Almeida fez saber que continua restrita a permanência e a circulação de cidadãos na via pública, quer em Luanda, quer noutras províncias. Segundo ainda o ministro, outra das flexibilidades do prorrogado estado de emergência prende-se com o período de trabalho da função pública, que passa a ser das 8 às 15horas, mas com apenas 50 porcento da sua massa laboral, em regime de rotatividade.

Em reunião plenária, a Assembleia Nacional anuniu, ontem, à solicitação do Presidente da República para a prorrogação de estado de emergência

Domingos Bento

O

impacto das medidas de prevenção e de combate ao novo Coronavírus força o país a observar mais quinze dias de estado de emergência, período que se vai iniciar às 0:00h do dia 26 e estender até ao dia 10 de Maio. A solicitação desta segunda prorrogação foi feita pelo Presidente da República, João Lourenço, à Assembleia Nacional que, por sua vez, deu sim ao pedido do Executivo com um total de 198 votos a favor, nenhum contra e zero abstrações na sua reunião Plenária Ordinária da terceira Sessão Legislativa

da IV Legislatura Dentre as várias razões, à semelhança da solicitação anterior, na sua carta enviada aos deputados, o Titular do Poder Executivo aponta a gravidade da Covid-19 e o perigo que representa para as populações como estando na base da prorrogação do estado de emergência, que deve ser obedecido e cumprido por todos, no âmbito das medidas de prevenção e combate à pandemia. Porém, ao contrário do anterior período, o próximo estado de emergência é mais aligeirado em algumas medidas, o que vai permitir que os cidadãos e empresas tenham maior flexibilidade. Entre as medidas consta o levantamento da cerca sanitária provincial, o que possibilitará aos cida-

Não é momento de o país e as populações darem ouvidos aos espalhadores de intrigas e aos opositores do bem”

dãos circular de um município ao outro e para outras províncias, com excepção de Luanda. De acordo com o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, a medida prende-se com o facto de as outras províncias não terem registado qualquer caso de Covid-19, diferente de Luanda, que é a parcela do país com o registo de ocorrências, embora sejam todos provenientes de fora. Porém, esta abertura, frisou, vai permitir que os cidadãos tenham a possibilidade de se locomoverem de um município para outro e para outras províncias, com excepção de Luanda, efectuando as suas actividades normais. Já os cidadãos residentes na pro-

Escolas seguem encerradas Já as instituições de ensino e de formação profissional mantêm-se encerradas durante este período. Relativamente aos estabelecimentos comerciais no geral, estes estão autorizados a funcionar das 8 às 15 horas apenas com um grupo de trabalhadores em de 50 por cento de todo o efectivo. Para a os mercados e venda ambulante, Adão de Almeida disse que este segmento mantém o seu exercício económico das 6 às 13 horas e em três dias na semana (Terça-feiras, Quinta e Sábado) Sobre as actividades de lazer, o ministro afirmou que estas seguem suspensas e devem cumprir rigorosamente a normativa ,sob pena de a desobediência resultar em responsabilização. Por outro lado, Adão de Almeida disse que as actividades políticas e as reuniões em grupo devem estar restritas a grupos de até 50 pessoas. No entanto, para o Executivo, o aligeirmento nesta prorrogação do estado de emergência vai permitir uma maior mobilidade de cidadãos de um lado para outro. Neste sentido, o ministro de Estado fez saber que houve necessidade de se ajustar as medidas de protecção individual. Assim sendo, frisou, passa a ser obrigatório o uso de máscaras nos mercados e nas instituições públicas, de forma a proteger os cidadãos


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de eventuais contágios.

AMERICO CUONONOCA - MPLA

ALBERTINA NGOLO - UNITA

ALEXANDRE SEBASTIÃO - CASA-CE

BENEDITO DANIEL - PRS

LUCAS NGONDA - FNLA

Partidos justificam consenso na votação A solicitação do Presidente da República para a prorrogação do estado de emergência nacional foi aprovado pela Assembleia Nacional com 198 votos, o que representou o consenso da plenária. Ao justificar a sua votação a favor, o presidente da FNLA, Lucas Ngonda, disse que o estado de confinamento social que o país vive trouxe benefícios que impediram males maiores, pelo que há toda a necessidade de se prolongar o estado de emergência. Todavia, disse que a as flexibilidades no novo estado de emergência devem ser acompanhadas por medidas sanitárias. Assim sendo, Lucas Ngonda defende que os estabelecimentos comerciais devem disponibilizar produtos de higiene e de desinfectação logo à entrada para permitir que os cidadãos tenham maior protecção. Por seu lado, o deputado e presidente do PRS, Benedito Daniel, disse que, tendo em conta as debilidades do sistema de saúde e o modo de vida das populações, é necessário que se prolongue o estado de emergência, pelo que a solicitação do Presidente da República faz todo o sentido ee mereceu a aprovação da plenária. Benedito Daniel elogiou os ajustes feitos e disse que se não se fizessem os ajustes ao estado de emergência, o país entraria no caos, porque as prometidas ajudas do Governo não estão a chegar às populações mais vulneráveis, que dependem da informalidade para sobreviver. O deputado apontou ainda a necessidade de abertura do horário de funcionamento dos mercados para permitir um maior exercício comercial das pessoas que dependem deste tipo de actividade. Já o presidente do Grupo Parlamentar da CASA-CE, Alexandre Sebastião, disse estar de acordo com os ajustes feitos neste novo contexto de estado de emergência por compreender que no interior as populações estavam bastante asfixiadas e essa nova abertura vai possibilitar um maior escoamento dos produtos locais para os centros urbanos. UNITA defende alargamento do horário nos mercados Já a vice-presidente do Grupo Parlamentar da UNITA, Albertina Ngolo, disse que o quadro sanitário do país contínua a ser preocupante, pelo que as políticas sanitarias do país devem ter em conta

não só a Covid-19, tida como inimigo invisível, mas também as outras enfermidades que tiram a vida de muitos angolanos. Segundo a parlamentar, o actual número de infectados pela Covid-19, de 25 pessoas, não pode considerar-se um alívio, tendo em atenção que ainda não foram efectuados testes em grande escala nas comunidades. Albertina Ngolo chamou ainda a atenção ao Executivo dizendo que o prolongamento do estado de emergência deve ter em conta a situação das famílias e das empresas que actualmente enfrentam sérias dificuldades devido às medidas impostas pelo estado de confinamento social. Para a deputada, as ajudas que estão a ser prestadas às famílias mais vulneráveis por diferentes organizações devem ser vistas como uma oportunidade que a Covid-19 está a destapar para que todos vejam o quanto a miséria ainda assola muitos agregados. A deputada defende ainda a abertura dos mercados das 9h às 16 horas, a julgar pelas dificuldades das famílias. Albertina Ngolo defende igualmente a fiscalização das medidas do estado de emergência, para que não haja a violação dos direitos dos cidadãos.

DR

MPLA considera medida acertada Já o presidente do Grupo Parlamentar do MPLA, Américo Cuononoca, disse que a solicitação da prorrogação do estado de emergência por parte do Presidente da República constitui uma medida acertada, que visa a defesa do bemestar dos cidadãos. Segundo o político, apesar da situação da Covid-19 em Angola parecer ser controlada, é necessário o redobrar dos cuidados. Para Américo Cuononoca, não é momento de o país e as popula-

ções darem ouvidos aos espalhadores de intrigas e aos opositores do bem, que têm como finalidade a expansão do medo para desestabilizar as medidas acertadas tomadas pelo Executivo com vista a salvar os cidadãos de eventuais cenários tristes. O deputado defendeu ainda a manutenção dos serviços básicos aos cidadãos durante o estabelecimento do estado de emergência e o respeito às forças da ordem e sanitárias que todos os dias trabalham para salvar vidas. PUB


SOCIEDADE

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DR

“Não podemos colocar de parte o professor do ensino particular” O presidente da comissão instaladora da Associação Nacional dos Professores do Ensino Particular, Carlos da Conceição, repudia os pais e encarregados de educação que se recusam a pagar até 60% da propina enquanto durar o estado de emergência, pois considera esta atitude uma desvalorização dos professores do ensino particular

Romão Brandão

O

Estado angolano orientou as instituições privadas de ensino que, em função do período emergencial que se vive, por causa da pandemia Covid-19 (e que obrigou os estudantes a ficarem sem aulas no corrente mês), cobrem até 60% do valor das propinas pagas pelos pais ou encarregados de educação. Esta é uma situação que está a causar inquietações principalmente entre os encarregados de educação, uma vez que muitos reclamam do facto de estarem a pagar por um serviço que não foi prestado. Em entrevista ao jornal OPAÍS, o presidente da comissão instaladora

da Associação Nacional dos Professores do Ensino Particular, Carlos Conceição, considerou o não pagamento desta percentagem das propinas uma clara demonstração da não valorização do professor do ensino particular, porquanto este profissional também precisa do salário para sustentar a sua família.

“Isso para não deixar de dizer que temos também professores que são encarregados e pagam propinas”

“Gostamos muito de colocar de parte os professores do ensino particular, o que não é justo. Porquê que se exclui o professor do privado se a maioria vai receber o salário completo? qual é a dificuldade de pagar? Até nem vão pagar os 100%! Vamos ser justos, somos todos iguais profissionais, tal como os professores do ensino público”, defende. Muitas das instituições privadas dependem do pagamento das propinas para garantirem o salário do professor, por isso, o entrevistado repudia veementemente os pais e encarregados de educação que não querem pagar os 60% e/ou os 25% das propinas referente ao mês de Abril do ano em curso. A Associação Nacional dos Professores do Ensino Particular entende ser boa a medida tomada pelas autoridades angolanas, a aprovação desta forma de pagamento, uma vez que, disse, visa salvaguardar a empregabilidade dos professores e demais funcionários do sector, que neste momento também precisam dos ordenados do respectivo mês para acudir a situação imposta pelo estado de emergên-


O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

cia, resultante da Covid-19. “A questão aqui não é simplesmente os alunos que não tiveram aulas por limitações tecnológicas de muitas instituições de ensino, por exemplo, mas a salvaguarda dos empregos, por um lado, e, por outro, para que os colégios e escolas comparticipadas cumpram as suas obrigações fiscais”, voltou a defender. A salvaguarda dos empregos é uma questão de suma importância para aquele líder associativo, pois avançou que a no sector contam com mais de 40 mil empregos directos, ou seja, milhares de famílias dependem disso para a sua sobrevivência. “Isso para não deixar de dizer que temos também professores que são encarregados e pagam propinas”, sublinhou. Outrossim, o entrevistado reconheceu que os professores, juntamente com as escolas, devem encontrar um meio-termo para garantir as aulas aos alunos enquanto durar o estado de emergência, através de fascículos, exercícios e tarefas, assim como disponibilizar matérias aos mesmos. Percentagem a ser paga vai depender da instituição Raimundo Santarosa, do IGAPE, explicou, numa entrevista concedida a TPA, que a percentagem a ser paga pode ser analisada e concertada entre a instituição e os encarregados de educação. Há instituições que acham que 50% é suficiente e outras apontam percentagens mais baixas (40%), tudo vai depender da concertação, mas o limite são os 60%. Entende-se que se a escola conseguir receber os 60%, limite criado unicamente para garantir o pagamento dos salários, irá conseguir fazer este pagamento. O Estado ditou a medida para que não haja instituições que venham dizer que não estão a conseguir garantir o pagamento dos salários.

CARLOS CONCEIÇÃO, presidente da Associação dos Professores do Ensino Particular

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Ou as instituições não são lucrativas ou são pessimamente geridas DR

Sobre o facto de algumas instituições privadas de ensino apresentarem dificuldades para pagar os salários dos funcionários, em resultado da paralisação das aulas, OPAÍS ouviu também o especialista em finanças Ladislau Neves Francisco, que apresentou duas perspectivas. A primeira é de que a reclamação dos 60% pode ser uma jogada de charme das instituições com a ideia de se defender os lucros antes de serem efectivamente atacadas. Sendo a segunda o facto de as instituições não serem tão lucrativas e/ou haver péssima gestão, e a paralisação imposta pela Covid-19 ter causado danos ao ponto de não conseguirem balancear. Sobre os 60%, é normal que as empresas (colégios/universidades) precisem, porque ajuda na manutenção e/ou aumento do capital. Ajuda a manter a saúde financeira da empresa, segundo o especialista. “É preciso entender que as propinas são a principal fonte de renda das instituições. O que não quer dizer que sem esses 60% elas morram de imediato (claro que umas vão sentir mais que outras). Mas, se vier a sentir muito o peso da falta destes 60%, é sempre relacionado a um problema financeiro antigo que se agravou”, realça, acrescentando que há sempre o caminho da assistência dos accionistas em caso de necessidade da organização. Alguns dos gestores destas instituições reclamam do facto de não conseguirem pagar normalmente os ordenados, uma justificação que não pode ser usada, segundo o especialista, uma vez que, do ponto de vista prático, os 40% que deixam de ser pagos prejudicam acima de tudo aqueles que recebem dividendos destas instituições. Por outra, falou da necessidade de existência de um fundo de maneio, que é o montante necessário para que uma empresa consiga assegurar o exercício normal da sua actividade.

“É uma espécie de almofada financeira que as empresas devem garantir para que apresentem a capacidade de gerar liquidez (ter dinheiro vivo) a curto prazo e mediante o inesperado”, disse. Acrescentou ainda que aquele dinheiro não é exactamente um dinheiro que se usa especificamente para pagar ordenados, mas para custos de produção normal diários. “Aquelas empresas cujo negócio implica fazer gastos todos os dias, precisam de ter dinheiro para as coisas acontecerem”, disse.

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SOCIEDADE

PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Psicólogo recomenda instução de valores culturais para reforço comportamental das crianças DR

Sugere que,

aproveitando o estado de emergência, que já dura há cerca de um mês, os pais e encarregados de educação enriqueçam o grau de convivência com os filhos, falandolhes da componente de conhecimentos que a escola não lhes dá, de forma especifica

Alberto Bambi

O

psicólogo Carlinho Zassala aconselha os pais a aproveitarem o período de confinamento familiar para transmitirem valores tradicionais e culturais positivos aos filhos, de modo a aumentarem os subsídios valiosos que contribuam para a adopção de um comportamento mais aceitável na sociedade. “Porque, muitas vezes, lamentamos dizendo que a geração de hoje tem comportamento inadequado, esquecendo-nos de que o homem é produto na nossa criação, e nós, praticamente, também perdemos os valores e a responsabilidade de passar a mensagem”, disse o académico, tendo acrescentado que os pormenores da nossa tradição que costumam a colocar os nossos filhos na posição de estranheza devem ser explicados. Recordou que o sistema de ensino vigente em Angola é mais virado para o ensino do que para

a educação, alertando, por isso, os encarrregados a aproveitarem essa oportunidade de instruir as crianças sobre conhecimentos genuínos, da cultura que assenta na transmissão de geração em geração, normalmente dos mais velhos para os mais novos. “Então, os pais, consoante as idade dos filhos e servindo-se da tradição oral, devem contar histórias, provérbios e anedotas com carácter pedagógico, no sentido de os seus rebentos ou outros agregados comprenderem a vida cultural dos pais. Segundo ele, isso contribuiria para combater a tendência de se deixar as crianças a forjarem uma cultura livre e diversificada, essencialmente provinda da televisão, das redes sociais e de outras aplicações contemporâneas que, normalmente, refletem cultura de outras paragens fora de An-

Mas é mesmo importante, necessário e urgente que a nossa criança termine o ensino secundário com uma consciência de estudante que conhece a sua identidade cultural e lute para afirmá-la e reafirmá-la na sociedade em quie se encontrar inserido Carlinho Zassala

gola e de África. Daí que se torna ideal e oportuno para fazer com que a criança compreenda os valores da cultura inerentes a humanidade, que exemplificou detalhando que, hoje em dia, as crianças só chamam “irmão do papa” e “irmã da mamã”, não sabendo que, do ponto de vista da nossa cultura africana bantu, esses elementos são denominados pai e mãe, respectivamente. Carlinho Zassala aconselhou, igualmente, a reforçar-se a interacção social entre os membros da família, considerando que, de algum tempo a esta parte, esse protagonismo parece ter sido definitivamente entregue às redes sociais digitais, que, na sua óptica, se dá por vias de interação gestual e não humana. Continuando na senda da necessidade da educação de prin-

cípios que se devem aprender no seio familiar, contou que há jovens que não entendem aqueles procedimentos tradicionais e culturais quando há pedidos, casamentos, óbitos e outras reuniões familiares, ao ponto de se sentirem como autênticos estranhos no seio da sua própria família. Reconhecendo que, em condições normais, nenhuma criança é a favor do confinamento familiar, alerta os encarregados de educação para uma dosificação de conteúdos do género que contemple intervalos preenchidos com actividades livres e actrativas dos filhos, a fim de que eles não vejam nessa acção o aumento do tédio que acham estarem a passar. Manuais com educação cultural Vendo as coisas no contexto institucional, o académico serviuse da sua posição como professor para adiantar o desejo de ver conteúdos do género incluídos nos manuais das crianças. “À medida em que vão ocorrendo as reformas e correcções dos manuais de ensino, deve-se fazer constar nestes um conjunto de matérias de índole cultural enraízadas nas tradições e no leque de normas de convivência típicas dos africanos, em geral, e dos angolanos em paricular. Carlinho Zassala pediu para não ser mal interpretado, esclarecendo que, quando defende a inserção de saberes tradicionais e culturais nos livros do ensino primário e secundário, não está a negar a existência de alguns temas soltos que tenham carga do género. “Mas é mesmo importante, necessário e urgente que a nossa criança termine o ensino secundário com uma consciência de estudante que conhece a sua identidade cultural e lute para afirmá-la e reafirmá-la na sociedade em que se encontrar inserido”, rematou, realçando que o interesse na promoção da produção local ou nacional nasce dessa convicção.


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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

O QUE É O CORONAVÍRUS E COMO ME POSSO PROTEGER? O novo Coronavírus, intitulado CoVID-19, é de uma família de vírus conhecidos por causarem infecção que pode ser semelhante a uma gripe comum ou apresentar-se como doença mais grave, como pneumonia

F

oi identificado pela primeira vez em Janeiro de 2020 na cidade de Wuhan, na China. Este novo agente nunca tinha sido previamente identificado em seres humanos, tendo causado um surto na aludida cidade que se espalhou rapidamente a vários países do mundo. A Organização Mundial da Saúde decretou (OMS) que o mundo está diante de uma pandemia.

CoMo ME PoSSo PRoTEGER?

Tendo sido reportados já 25 casos em Angola, com duas mortes, estão indicadas medidas específicas de protecção, mas há questões práticas que se deve ter em conta para reduzir a exposição e transmissão da doença:

1. lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto directo com pessoas doentes;

2. Evitar contacto desprotegido com animais domésticos ou selvagens; 3. Adoptar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo); 4. lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir.

QUAIS oS SINAIS E SINToMAS?

As pessoas infetadas podem apresentar sinais e sintomas de infecção respiratória aguda 2.Tosse como: 1. Febre 3. Dificuldade respiratória

Em casos mais graves pode levar a pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos e eventual morte.

EXISTE TRATAMENTo? Não existe vacina. Sendo um novo vírus, estão em curso as investigações para o seu desenvolvimento. o tratamento para a infecção por este novo Coronavírus é dirigido aos sinais e sintomas apresentados


CARTAZ seu suplemento diário de lazer e cultura

Angola

Um país extenso, populoso e rico com apenas 39 bibliotecas públicas Os dados são da Biblioteca Nacional de Angola (BNA) e foram revelados pela directora da instituição, Diana Afonso, a este jornal, à propósito do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, que ontem, 23, se assinalou

DR

Israel Campos

E

m Angola a discussão em torno do investimento que se dedica ao livro e ao incentivo à leitura dá sempre pano para muita manga. O país tem um instituto público, afecto ao actual Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, vocacionado à produção literária e discográfica, o Instituto Nacional das Indústrias Criativas (INIC), o antigo Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD), criado em 2000. Ainda assim, apesar de algumas iniciativas desta instituição, como a criação de algumas premiações

literárias e a organização de certos eventos anuais que se dedicam ao livro, a problemática do acesso ao livro e falta de estímulos ao gosto pela leitura no país continuam exactamente as mesmas. Dificuldades na produção de livros no país, dizem os autores. Dificuldades no acesso à matériaprima para a impressão do livro, reclamam as editoras. Preços obscenamente exorbitantes e falta de espaços como livrarias e bibliotecas, protestam os leitores. Bibliotecas, livrarias e mediatecas Segundo dados da Biblioteca Nacional de Angola (BNA) a que OPA-

“Os custos de produção variam conforme as características básicas de cada livro: tamanho, tipo de papel, número de páginas e acabamentos”

ÍS teve acesso, “em Angola existem 39 bibliotecas públicas”, nomeadamente no Bengo, Huambo, Huíla, Cuanza-Sul, Luanda, Lunda-Norte, Lunda-Sul, Malange, Moxico, Namibe, sendo a capital a província com mais bibliotecas. Quanto às mediatecas, o país conta, de acordo com a Rede de Mediatecas de Angola (REMA), com oito mediatecas nomeadamente em Benguela, Huambo, Soyo, Lubango, Saurimo, Cunene e Luanda com duas Mediatecas. É desconhecido o número exacto de livrarias existentes ao nível do país. Em suma, a oferta de espaços pa-

ra promoção e aquisição de livros no país é irrisória para um país tão vasto com cerca de 30 milhões de habitantes. A título de exemplo, só a Namíbia, país vizinho e com menos recursos que Angola, tem 65 bibliotecas públicas ao dispor dos seus cidadãos. O que nos pode levar a questionar se o problema não é de facto uma questão de prioridades. Grito de socorro das editoras Os altos preços praticados pelas editoras nacionais para a produção de livros são quase sempre a justificativa apontada pelos escritores, quando questionados sobre


O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

o porquê de preferirem recorrer ao mercado estrangeiro, como o português e o brasileiro, para a edição e impressão dos seus livros. A Editora Acácias está no mercado editorial angolano desde Novembro de 2015. De lá para cá já publicou variados títulos. Jéssica Branco, em representação desta Editora, disse-nos que “os custos de produção variam conforme as características básicas de cada livro: tamanho, tipo de papel, número de páginas e acabamentos”. O actual contexto económico e a depreciação da moeda nacional são elementos que, de acordo com Jéssica, contribuem para o encarecimento do produto final. “Como sabe mais de 80% do que consumimos é importado, o que gera muita pressão sobre a economia e famílias, e as gráficas fazem parte deste universo”, salientou. “É hoje claramente mais acessível produzir a parte editorial (revisão, edição, paginação e outros serviços) em Angola devido ao contexto cambial, mas a impressão final que ainda depende da importação do papel é a que mais exige

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investimento”, adicionou Jéssica Branco. Em conclusão, com visão futurista, a representante da Editora Acácias declarou que acredita que “nos próximos três anos com a evolução da indústria este desafio também será vencido.” “Quem tem fome não lê” Se produzir é caro, o produto final também será Em Angola, os jovens são quase sempre acusados de estarem distantes da leitura e dos livros por uma alegada falta de interesse levantada por quem conduz este discurso que já se tornou uma constante por tudo quanto é canto. Por alguma razão, este discurso não “casa” com as enchentes, sinal indicativo de procura, que se verificam nas feiras e eventos de lançamentos de livros por todo o país, como se pode constatar nos vários eventos. Então, porque será que alegadamente se lê pouco no país? Ao contrário da falta de interesse apontada por alguns, é também na dificuldades no acesso ao livro que

“Portanto, não se trata apenas de políticas públicas para a afirmação de um compromisso sério com o livro mas com acções da escola e da família que também podem ajudar”

se prende grande parte do problema, como nos disse o escritor Edy Lobo. “Os jovens angolanos na sua maioria, acredito, não fazem a aquisição de livros para lerem porque os livros são caros”, disse-nos o autor do “Diário de Um Professor (a)normal”. Lobo acrescentou ainda que “se eles [os jovens] muitas vezes não têm dinheiro para comprar o que comer, poucas vezes teriam dinheiro para comprar livros. “Quem tem fome não lê”, concluiu o autor. A título de exemplo desta realidade, podemos trazer aqui um livro que teve muita procura nos últimos meses devido às grandes revelações que trouxe. Trata-se do livro “Heroínas da verdade” da jornalista Isabel Malaquias. Apesar do grande interesse que a abordagem do livro despertou em muita gente, nem todos tiveram a oportunidade de comprá-lo pois o livro foi comercializado ao preço de 10 mil Kwanzas, praticamente a metade do salário mínimo nacional que é de 21 454,10 Kwanzas. Posto este cenário, o cidadão na-

da mais pode fazer entre escolher o que comer e a aquisição de um livro. E é certo que o estômago vai sempre vencer. “Escola deve ser lugar de incentivo ao gosto por livros” Já Chocolate Brás, psicólogo escolar e professor universitário, defende que para além de não existir em Angola uma “política clara do livro e da leitura”, a responsabilidade pela falta do gosto de leitura em Angola deve ser repartida entre a família e a escola. “Se na família existir gente que lê, gente que investe nos livros ao invés de outros bens, isto pode gerar nas crianças o gosto e curiosidade pela leitura”, afirma o educador. Por outro lado, Brás acrescenta que a escola deve ser um local de incentivo ao gosto pelos livros através da realização de feiras e outras “pequenas” acções, lamentando que na realidade angolana “não há iniciativas por parte das escolas para o fomento do gosto pela leitura”. “Os professores arrumam um conjunto de informação da Internet PUB


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CARTAZ colocam numa coisa que eles chamam de fascículo e depois exigem direitos de autor quando tudo que fazem é copy and paste.” “Portanto, não se trata apenas de políticas públicas para a afirmação de um compromisso sério com o livro, mas com acções da escola e da família que também podem ajudar”, concluiu o acadêmico. Talvez esteja aqui uma grande oportunidade para que o Instituto Nacional de Estatística (INE) conduza um estudo que comprove, com números, se os jovens, supostamente, “lêem pouco” porque o acesso ao livro em Angola é ainda uma oportunidade exclusiva do privilégio ou, simplesmente, por puro desleixo. Fica o desafio. Uma comissão sem resultados Em Setembro de 2018, o Presidente da República, João Lourenço, criou, via decreto presidencial, uma Comissão multissectorial para o acompanhamento e implementação da Política Nacional do Livro e da Leitura. Com um mandato de cinco anos, a comissão foi criada, segundo o decreto, “para avaliar e propor medidas que visam o crescimento da indústria livreira, estimular o uso da capacidade gráfica nacional disponível e a concorrência.” A comissão aquando da sua criação coordenada pela actual ministra de Estado para o Sector Social, Carolina Cerqueira, na altura na qualidade de titular da pasta do extinto Ministério da Cultura, é composta por vários departamentos ministeriais dentre os quais Cultura, Turismo e Ambiente; Indústria e Comércio; Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação; Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social; Ac-

“Os jovens angolanos na sua maioria, acredito, não fazem a aquisição de livros para lerem porque os livros são caros”

ção Social, Família e Promoção da Mulher, bem como pelos secretários do Presidente da República para os Assuntos Sociais, de Comunicação Institucional e de Imprensa e o seu director do Gabinete de Quadros. Após um ano e cerca de sete meses da sua criação, ainda não são visíveis grandes feitos desta comissão multissectorial criada por João Lourenço. Ainda assim, contactamos a secretaria de Estado para a Cultura, Maria da Piedade de Jesus, ex-ministra da Cultura, para um balanço público geral daquilo que tem sido a actividade da Comissão multissectorial para o acompanhamento e implementação da Política Nacional do Livro e da Leitura mas não tivemos sucesso. Talvez pela falta de costume dos nossos governantes em prestarem esclarecimentos públicos ou, simplesmente, por não haver nada para se dizer, o que revelaria, neste último cenário, o fracasso de mais uma boa iniciativa presidencial. Sobre a comissão multisectorial, o coordenador-geral do Movimento Lev’Arte Angola diz desconhecer a sua actividade de trabalho. “A ideia da criação desta comissão é louvável tirando o facto de as acções do referido grupo não serem tão visíveis”, lamentou Carlos Eva. Uma nova geração de escritores Num contexto tão desafiante, os obstáculos não são tidos como empecilhos para que se desbravem novos caminhos. Há em Angola uma nova geração de escritores, quase todos eles nascidos no país independente, ou seja, depois de 1975, que, destemidos, afirmam os seus nomes na mosaico literário nacional e conquistam o coração de vários leitores através da sua paixão pelas letras. Um destes exemplos é, sem dúvidas, a jovem escritora Rosa Soares. Nascida em Luanda e com apenas 24 anos, Rosa é autora de quatro obras publicadas, nomeadamente Uma Versão Diferente da Vida (2013); Metamorfose (2015) O Nosso Natal- com Inês Melina (2016) e Flores Não São para os Mortos (2017). A jovem que escreve a poesia do amor, os seus contornos e eventuais efeitos nos corações dos apaixonados já foi descrita pelo jornalista Ismael Mateus como “uma das grandes apostas” para o futuro da literatura angolana. Outro rosto Ottoniela Bezerra é outro nome sonante desta nova geração de escritores angolanos. Licenciada em Direito pela Universidade Metodista

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

DR

Escritora, Rosa Soares

Coordenador do Lev´Arte, Carlos Eva

Empreendedor digital, Kiuma Francisco

Escritor, Edy Lobo

Escritora, Ottoniela Bezerra

Psicólogo Escolar, Chocolate Brás

de Angola, Ottoniela nasceu igualmente em Luanda no ano de 1990. A jovem escritora despertou o seu gosto pela escrita muito cedo e desde então tem vindo a abrir as portas do seu coração e imaginação com o público leitor. Já tem agora cinco livros publicados, dentre os quais um livro infantil intitulado “Luara, a Princesa de Luanda” (2017). Ottoniela acabou de lançar a sua mais recente obra literária. Não nos moldes convencionais, face à Covid-19, mas através das suas plataformas digitais. O livro chamase “O que ficou por dizer”, tem 40 páginas e fala sobre “morte e saudade”. Alternativas digitais num mundo novo Novos tempos exigem, sem dúvidas, novas abordagens. Apesar do acesso ao “mundo digital” no país não ser ainda uma realidade tão inclusiva quanto se deseja, já existem algumas soluções locais a serem oferecidas para a problemática da dificuldades de acessos aos livros físicos. Desde a disponibilização gratuita de livros digitais, como vimos acima no caso de Ottoniela Bezerra, à criação de bibliotecas e livrarias digitais, não param de surgir iniciativas que visam aproximar potenciais leitores aos livros. A Mwangope eBooks, autoapresentada como pioneira no segmento de livrarias digitais em Angola, é um exemplo disso mesmo. Criada recentemente, a Mwan-

gope eBooks foi uma iniciativa do empreendedor digital angolano, Kiuma Francisco, de 21 anos de idade. “A ideia de criar a Mwangope eBooks surgiu porque eu senti a necessidade de nós, angolanos, nos interessarmos mais por negócios e produtos digitais”, esclareceu o jovem empreendedor, acrescentando que a grande atenção dos jovens hoje nas plataformas digitais foi também uma das suas grandes motivações. “Tentei juntar o útil ao agradável. O gosto dos jovens pela Internet e trazer os livros para a Internet”. Quando questionado sobre a rentabilidade do negócio, o jovem disse ao OPAÍS que “não é um negócio rentável. Pelo que se nota, cá em Angola, a leitura ainda não é o forte dos jovens”, lamentou. Kiuma disse-nos que apesar de muitas pessoas ainda optarem mais pelos livros convencionais, os físicos, a resposta dos escritores, os jovens sobretudo, “tem sido positiva”.

A data A data instituída a 23 de Abril de 1995, pela UNESCo, serve para promover uma reflexão mundial em torno da importância e utilidade dos também conhecido como “mestres mudos”, bem como incentivar hábitos de leitura no seio das populações.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

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JOSÉ MANUEL DIOGO

JOÃO ROSA SANTOS DR

Rés-do-chão esquerdo

N A quarentena ainda pode ser longa

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“mbora” a verdade, a realidade, sem tirar nem pôr, tamos todos sem excepção, em prontidão, para travar e derrotar, o mister Corona, este invisível e mortífero vírus. Entre fintas e contracurvas, o muadié, um pouco por todo mundo, está armado em chico esperto, quer xaxatar, acantonar, armadilhar as vias e paradigmas da sobrevivência humana. No ar, no mar ou terra, o Corona Vírus está teimoso, a intrometer-se ali onde não lhe chamaram, ninguém que lhe vê, é só seu rasto cobarde, semeando a dor, a morte, o luto. Nos cubicos, família já não é gente, filhos, sogras, noras, netos, primos, cada qual no seu habitat, falar só no telelé, nada de bater as portas, uns dos outros, cada um fica no seu

lugar, espera só o fim da quarentena, sem tugir nem mugir. A vigilância tem e deve ser generalizada. Quando o vizinho está a tossir bué, entra e sai gente, estranha, estás a ouvir, dimba é dimba, tona é tona, sem stop, abre o olho, fofoca no 111 porque o corona está a te espreitar, quer te apanhar. Na tv, rádio ou jornal, ouça e faça fé as orientações do Executivo, siga e cumpra sem pestanejar as medidas, nada de ouvi dizer, fazer ouvidos de mercador, aprenda e saiba ser vivo, a pandemia é violenta, não perdoa desobedientes. Por agora, ficar achado, é burrice, tolice matula, não tem como, enquanto não se descobrir a vacina, corona toza e goza, tudo e todos, não há classes sociais, pequena, média ou grande burguesia, todos ninguém lhe aguenta, é só abusar, pular a cerca, vais basar sem apelo nem agravo.

Quer queiramos ou não, pelo andar e golpes da coronagem, a quarentena ainda pode ser longa, é preciso fazer coragem, ter determinação, acreditar nas autoridades, que novos e melhores dias virão, desde e quando, saibamos ser autodisciplinados, perceber que, melhor do que este, não temos outro caminho a seguir. Mais ou menos 15 dias, não importa, é só saber equilibrar a vida e a economia, o tempo passa rápido, gerir com responsabilidade e cientificidade, algum dia, não muito longínquo, tudo voltará ao normal, todos saberemos reconhecer, valeu a pena o sacrifício. De agora em diante é só continuar a cumprir e fazer cumprir, o corona vai nos “desconseguir”, não será capaz de nos tanchar, somos milhões, trincheira firme, nada nem ninguém nos abusa, visível ou invisível, vamos te dar K.O!

ão foi por amor que tu saltaste da janela abaixo naquele dia de Abril, 6 semanas depois de estarmos só nós dois fechados na casa sem ver mais nada para fazer que não fosse brincar ao mau amor de cada um e o painel de entrada da Netflix. Deixa-me desatinar... tu não te aproximes — disseste-me numa ameaça velada enquanto alargavas a fresta da janela da sala com aquela dignidade inocente que têm as más actrizes europeias mesmo quando imitam as divas do cinema mudo. Olhasteme de alto a baixo com uma tristeza tão grande no olhar que só não era maior porque não sabias mais. Deprimente. Depois, fizeste uma pausa excessivamente longa – tinhas tão pouco jeito para o teatro dramático como para cozinhar – e disseste com mais pompa que circunstância: vou-me matar. Nem sequer te olhei de volta porque tínhamos estado a discutir a tarde inteira e eu já nem te podia ouvir. Lá por sermos casados há 15 anos e termos ultrapassado sempre as crises cíclicas dos matrimónios — e eu ter aguentado sempre esse mau humor que descobri na segunda noite da nossa lua de mel — não quer dizer que me possas tratar dessa maneira. Deste vez eu não me responsabilizo. A tua mãe não te ensinou nada,

Tinhas tão pouco jeito para o teatro dramático como para cozinhar

mesmo nada, nem aquelas coisas que era suposto as mães ensinarem às filhas no tempo em que eras nova, quando os telefones pesavam 5 quilos, nem sequer tinham teclas e estavam agarrados à parede. Nada. Começaste a falar em voz alta, depois a gritar, agarrada à persiana do lado de fora ¬ Olha para mim Celestino, olha para mim, estamos aqui fechados há tanto tempo e ainda não me deste um beijo, Celestino.... nem unzinho. E os olhos esbugalhavam-se-te nas órbitas mais salientes que os de uma Suricata mais distantes que uma ida ao Girabola ou que uma Cuca na esplanada. Celestino, Celestino no que nos tornámos, aquilo que nós somos... Havia qualquer coisa de sobrenatural na tua histeria, romantizavas um tempo que nunca tinha existido. O confinamento fazia-te acreditar, por algum motivo desvírico que alguma vez tínhamos sido felizes. Nunca fomos isso. A minha grande esperança, no dia em que o Governo decretou a solidão, era que finalmente percebesses que entre nós estava tudo acabado, e que nem sequer devia ter começado — e que passarmos muitas semanas juntos seria o suficiente para fazeres a mala e ires, de vez, viver para casa dos teus pais no 9º andar esquerdo, deixando-me ficar descansado a ver a repetição dos mundiais de futebol desde que o Mantorras era criança. Mas não. Nem 15 anos, nem 6 semanas, nem nove andares, nem uma vida inteira de me veres infeliz foram suficientes para teres tomado uma decisão certa. Olha que eu atiro-me, eu atirome e nunca mais me vês Celestino, gritaste tu de novo. Oh dama histérica!


ECONOMIA

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Ernst & Young cria linha de apoio às empresas A linha denomianda “EY pandemia” visa dar respostas a questões relacionadas com a fiscalidade e gestão das empresas, bem como ajudar as empresas a lidarem com a actual mudança no mercado de trabalho, tendo em conta a pandemia Covid-19

DR

“Temos as ferramentas e as metodologias adequadas para assegurar que as nossas equipas prestam o mesmo serviço, com a mesma qualidade à distância”

Brenda Sambo

A

empresa de assessoria fiscal, gestão de riscos e assessoria de transacção Ernst & Young criou, recentemente, a sua linha denominada EY Pandemia para responder a eventuais questões relacionadas à fiscalidade, gestão de empresas e, sobretudo, como a Covid-19 afecta o dia-dia das empresas, dos clientes, adiantou a OPAÍS, o representante EY em Angola, Carlos Bastos. Segundo o gestor, através desta linha, os especialistas da EY vão, igualmente, dar respostas sobre as medidas implementadas pelo Governo, esclarecimentos sobre os processos e trâmites que as empresas devem colocar em prática para poderem reagir e adaptar as organizações a um novo contexto. Salientou ainda que a linha vai servir também de ajuda para as medidas imediatas de estímulo para empresas e particulares nacionais. Assim como fornecer dicas de smart work, para dinamizar o tele-trabalho, por forma a que este seja tão frutífero quanto o trabalho in loco, conselhos em áreas como fiscalidade e previsões sobre o

Carlos Bastos, representante da EY Angola

impacto desta pandemia na economia mundial. “Com essa linha a EY pretende reforçar, desta forma, a sua relação de parceria, aposta e capacidade de resposta aos seus clientes e empresas nacionais”, disse. Referiu que desde o primeiro dia, a EY criou medidas de prevenção que vão desde a redução de pessoal no escritório às reuniões presenciais nos escritórios da EY Angola que passaram a ser feitas por vídeo-conferências, restrição do acesso ao escritório a pessoas provenientes dos países que, na altura, registavam casos de infecção, limpeza geral de desinfestação no seu escritório. Com o “smart work”, os trabalhadores passaram a trabalhar a partir de casa. “Temos as ferramentas e as metodologias adequadas para assegurar que as nossas equipas prestam o mesmo serviço, com a mesma qualidade à distância”, assegurou. A empresa, no âmbito da sua responsabilidade social tem levado a cabo diferentes projectos, tal como o programa de bolsas de estudo e empregabilidade que, segundo o responsável, visa não só contribuir para a formação académica e profissional de jovens com elevado potencial, mediante o estabelecimento de programas de apoio ao desenvolvimento de estudantes de Universidades de referência no país, como atrair futuros profissionais e garantir a formação dos seus jovens talentos, que serão os líderes de amanhã. Sobre EY A Ernst Young é líder global em auditoria, assessoria fiscal, assessoria de transacções e assessoria de gestão. Os insights e serviços de qualidade que prestam ajudam a credibilizar e a construir confiança nos mercados de capitais e em economias de todo o mundo. Desenvolvemos líderes e equipas que trabalham para cumprir as expectativas dos stakeholders. Assim, temos um papel importante na construção de um melhor mundo de negócios para os colaboradores, clientes e as comunidades em que nos inserimos.


O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

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Preços do petróleo sobem em razão da tensão entre EUA e Irão

O

Angoalissar doa mais de 100 toneladas de bens alimentares O grupo empresarial Angoalissar vai doar,

até ao fim do ano em curso, mais de 120 toneladas de produtos da cesta básica desde arroz, massa, feijão, óleo, açúcar, leite condensado a mais de 600 famílias carenciadas

O

grupo Angoalissar deu início no mês passado a uma campanha de doação de bens al-se durante o ano todo a seis províncias do país, nomeadamente, a província do Cunene, Namibe, Cabinda, Cuanza-Norte, Huíla e Bengo. Segundo a admistração do grupo, o objectivo principal das referidas doações é fornecer ajuda às famílias de 6500 famílias carenciadas nesta fase difícil que o país atravessa com

a Covid-19. Refere ainda que as acções especificas em relação à Covid-19, iniciou-se no mês de Março com a doação de alimentos ao centro de quarentena e, neste momento, encontra-se na província do Cunene para fazer a entrega dos bens. Dado o actual contexto, as empresas do grupo Angoalissar tomaram as providências cabíveis para proteger os funcionários e a comunidade ao redor dos seus estabelecimentos. A admistração do grupo sublinhou que houve a necessidade de as empresas do grupo

reduzirem a presença dos funcionários, bem como habilitando o homeoffice como prioridade para aqueles que podem. “Temos muita preocupação em cuidar bem dos nossos funcionários para que estejam bem, juntamente com as suas famí-

“Temos muita preocupação em cuidar bem dos nossos funcionários para que estejam bem, juntamente com as suas famílias”

lias”, referiu. Além deste gesto, a empresa vai brindar os funcionários com 2000 cestas. Presente em Angola há quase 30 anos, o grupo empresarial procura ajudar sempre durante os momentos difíceis com o que for necessário. A empresa, no âmbito da sua responsabilidade social, é a principal patrocinadora do Banco Alimentar Kudia, que é um projecto que tem fornecido alimentos a ONG’s em Angola, e presta ajuda aos mais carentes. A Angoalisaar levou também água potável à Comunidade da Lucira, e construiu a escola de Cabinda para mais de 1.200 alunos. Continuamente, a academia Angoalissar dá formação gratuita aos seus funcionários de forma a preparálos para o trabalho em áreas especificas e sociais.

s preços do petróleo subiram nesta Quinta-feira (23), com o aumento da tensão entre o Irão e os Estados Unidos, o que ofuscou, por um momento, as dificuldades relacionadas ao novo coronavírus que afundaram o mercado nesta semana. Às 11h50 (TMG), o barril de Brent, referência europeia, para entrega em Junho, subia 9,33%, vendido a USD 22,27. Na Quarta-feira, fechou no seu nível mais baixo desde Junho de 1999, abaixo de USD 16. Em Nova Iorque, o barril WTI, referência nos EUA, para entrega em Junho, era negociado a USD 15,68, ou seja, um aumento de 13,79%. Nos últimos dias, a queda brutal na demanda por petróleo devido ao confinamento imposto para conter a epidemia de Covid-19 fez com que os preços caíssem abaixo de zero, uma situação sem precedentes no sector. Os investidores estavam pagando para se livrar dos barris e os principais actores do mercado procuravam onde armazenar petróleo à espera de melhores tempos. Na Quarta-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse ter dado a ordem para atacar e destruir qualquer embarcação iraniana que se aproximar perigosamente de navios americanos na área do Golfo Pérsico. Na semana passada, os Estados Unidos acusaram Teerão de assediar navios americanos nas águas internacionais do Golfo, com lanchas passando “em alta velocidade” e “muito perto” dos navios americanos.


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ANÁLISE

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

A moeda nacional, Kwanza, apreciou face às principais contrapartes, na última sessão ARQUIVo/oPAÍS

ESPAÇO ANGOLA A comparação semanal revela uma apreciação de 1,13% face ao euro e 0,5% em relação ao dólar, tendo-se fi xado em 605,239 Kz/EUR e 556,952 Kz/USD, o que poderá reflectir a depreciação destas moedas no mercado internacional.• O rácio da dívida pública poderá fi xar-se em 132,2% do PIB em 2020, avança o FMI. O desempenho compara com os 109,8% apurados em 2019, um incremento de 22,4 p.p., resultante do agravamento do défice fiscal, com efeitos sobre a sustentabilidade da dívida do país.

ESPAÇO INTERNACIONAL ZONA EURO

A Confiança do Consumidor relativa ao mês de Abril situou-se em 22,7 pontos. O nível representa uma redução mensal de 11,6 pontos, tal como, o menor registo desde Março de 2009, justificado pelas medidas de isolamento social para conter os efeitos do COVID-19 sobre a economia, com efeitos sobre a perspectiva de crescimento do bloco no curto prazo.

MERCADOS Petrolífero Brent: +5,38% (20,37 USD/barril). A possível tensão entre os EUA e o Irão favoreceu a cotação do crude.

Cambial EUR: -0,32% ( 1,0823 USD). A redução das expectativas dos consumidores pressionou a cotação do euro.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

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RICARDO VITA*

Ainda sobre medicina colonial e neocolonialismo em África DR

C

omo pensavam que nunca deixariam a África, os colonizadores não imaginavam que a primeira coisa que os Africanos fariam para recuperar a sua dignidade degradada seria um inventário. A his-tória espantosa que liga a África à Europa e às potências mundiais é pontuada por dominação e des-prezo. Mas a África de hoje, esta África que está de pé, cheia de juventude vigorosa e que sabe que o conhecimento é a sua arma e que a ignorância a desarma, deseja conhecer os seus aliados para seguir o seu caminho em toda a consciência. Portanto, ela não pode não revisitar também a história da medicina colonial, que persiste, como demonstramos nos artigos anteriores. Esta

África sabe que a história de amor que os antigos colonizadores afirmam viver com ela nunca deu nenhuma prova de amor, mas que é bastante marcada por evidências de desencanto. Se o amor se ganha e se mere-ce, a África actual tem o direito de exigir provas, se realmente quisermos falar de amor. Que em alguns círculos angolanos (inédito em África!) se fale de irmandade entre Angolanos e Portugueses, isso deve ser discutido com raciocínio e fundamentação. Talvez falem do fraternalismo definindo por Césaire, situação em que um irmão mais velho, imbuído da sua superioridade e certeza da sua experiência, pega-nos pela mão (com uma mão, infelizmente! Às vezes de modo áspero) para nos conduzir no caminho onde ele sabe que se encontram a Razão e o

Progresso. Se é isso, pelo menos está claro! Mas se falam da verdadeira irmandade, esse vínculo nobre e natural que define o senti-mento de solidariedade e amizade entre pessoas benevolentes, da mesma família ou não, isso deve ser vigorosamente debatido, para extrair e demonstrar o uso abusivo e inaceitável da bela noção, porque seria neste caso uma tomada de reféns por algumas pessoas, ansiosas por estabelecer a he-gemonia do seu mundo que eles querem impor à maioria. Se estivermos a falar de uma irmandade que consiste em impor imaginários colonialistas e estrangeiros aos Angolanos, isso deve ser contes-tado e rejeitado com força. Se falamos dessa fraternidade que incita a desprezar as nossas línguas, a virar as costas às nossas culturas e à África, isso deve ser combatido com impetuosidade até a vitó-ria. Pois deve ser dito: a história que liga Angola a Portugal não é nada fraterna. Pelo contrário, e a maioria dos Angolanos saberá disso e di-lo-á no momento oportuno. Mas o potencial de irmandade com este país, nosso ex-opressor - devemos chamar os bois pelos nomes - está à nossa frente, é uma irmandade que deve ser construída do zero. É uma fraternidade que deve estar ancorada na base de um universalismo comum, inclusivo e intercultural e não no universalismo assimilacionista, oblite-rante e alienador que confunde aliança e subordinação cultural ou outra. Voltando ao racismo médico, o uso da África para fins de ensaios terapêuticos que beneficiam principalmente os países ocidentais não data de hoje, é uma longa tradição colonial. Lembremos de que os Europeus teorizaram a hierarquia dos seres humanos de acor-

do com a cor da pele e colocaram o negro no último degrau da sua taxonomia. Assim, a África e os negros sempre foram vistos como uma reserva natural, um campo de experimentação, que contribuiu para o desenvolvimento da me-dicina ocidental. E é assim que se continua até hoje o espírito da « Missão Civilizadora ». No artigo de 26 de Julho de 2019, falei sobre Saartjie Baartman, essa mulher Sul-africana que os Europeus apelidaram de Vênus Hotentote, que coisificaram em benefício dos prazeres sexuais de homens brancos e da ciência da Europa do século XIX. O seu caso não é único. Os corpos colonizados e escravizados foram explorados pela ciência ocidental moderna, que, através de um sofrimento ex-cruciante infligido a pessoas desumanizadas, lançou as bases para muitas práticas médicas cujo le-gado ainda existe. Por exemplo, a partir de meados do século XIX, o doutor James Marion Sims, conhecido como pai da ginecologia moderna, começou a realizar pesquisas para desenvolver práti-cas médicas no campo da ginecologia. Para a sua ciência, escolheu desenvolver um conjunto de operações que confinavam as mulheres negras como se elas estivessem num talho. Para testar ins-trumentos cirúrgicos, Sims praticava cirurgias nessas mulheres escravizadas sem anestesia. Esse cientista americano branco era o que podemos chamar de torturador, parece que ele tinha prazer em infligir a pior dor a essas mulheres negras para afirmar a sua ciência. Outro caso: Tunísia, em 1930. Os cientistas franceses foram a este país realizar os testes para a vacina contra a febre amarela, por-que lá «não há escassez de material hu-

mano », afirmou o microbiologista francês, Charles Nicolle. E na década de 1950, as populações africanas foram massivamente vacinadas, de Dakar a Léopoldville, apesar dos testes apressados e inconclusivos da vacina contra a doença do sono. Em Gribi, no leste dos Camarões, quase mil pessoas foram vacinadas em 1954. E nos dias que se seguiram, quase trinta morreram de necrose fulminante e centenas sofreram de gangrena na área da picada. Portanto, é a história médica ocidental que condicionou os nossos imaginários sobre o corpo negro. Hoje, por exemplo, todos nós aceitamos na indiferença absoluta que as pessoas falem de doenças na televisão, na imprensa, no cinema, na publicidade, nos museus através de corpos negros. E tudo isso é bem organizado, cultivando a ignorância sobre os verdadeiros debates, já que sempre se esforça para mostrar o lado positivo da colonização, para apagar a verdade e até silenciar as vozes que per-turbariam a falsa paz. Tudo isso serve para proteger a narrativa que é imposta, inclusive aos negros. É assim, há quase quatro séculos, que a ciência colonial e o neocolonialismo exercem sobre os cor-pos negros o que eles consideram uma « missão do direito divino ».

* é Pan-africanista, afro-optimista radicado em Paris, França. É colunista do diário Público (Portugal) e do diário Libération (França). É cofundador do instituto République et Diversi-té que promove a diversidade em França e é empresário.


ENTREVISTA

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

“A pandemia da Covid-19 destroçou o programa de governação do partido no poder” Cientista político e autor do livro “Transição pela transição: uma análise da democratização em Angola”, o professor universitário Nelson Domingos analisa as circunstâncias e o significado das últimas alterações no Executivo angolano, alertando que “o legado de João lourenço depende maioritariamente das escolhas feitas no presente, não apenas do fardo herdado do seu antecessor”. Por outro lado, realça que a “ Covid-19 pode vir a servir de guarda-chuva para os incumprimentos do Governo”, mas diz que “a oposição, por sua vez, tem a oportunidade de colaborar com o Governo e com a sociedade, mas também de exercer acirrada fiscalização aos actos governativos, para não ficar confinada aos limites impostos pelo estado de emergência” entrevista de Dani Costa fotos de Carlos Moco

É

autor de um livro sobre a transição política. Cerca de três anos depois de ter chegado à presidência, já se pode fazer uma avaliação da transição liderada pelo Presidente João Lourenço? A expressão transição política, em Ciência Política, refere-se ao período de mudança de um regime não-democrático para a instauração de um regime democrático ou o restabelecimento de alguma forma de autoritarismo.A ascensão de João Lourenço à Presidência da República trata-se de sucessão ou alternância presidencial que constitui apenas uma variável da transição política. Isto é, a transição para a democracia envolve eleições livres, justas e transparentes, podendo resultar em alternância no poder, bem como a garantia de outros direitos e liberdades. O mandato do Presidente João Lourenço caracteriza-se por um misto de ruptura e continuidade. Na fase inicial do seu governo, João Lourenço procurou distanciar-se da imagem desgastada do seu partido e do seu antecessor, criticou a partidarização do Estado, a bajulação, as chamadas ordens superiores, incentivou o exercício das liberdades de imprensa e de manifestação, adoptou um forte discurso de combate à corrupção, encorajou o julgamento de governantes

e gestores públicos envolvidos em corrupção, rescindiu alguns contratos lesivos ao Estado e afastou certos governantes ligados a anterior governação, em clara ruptura com o seu antecessor. Entretanto, após quase três anos de mandato, antigos governantes e práticas reprováveis de outrora ressurgiram. A continuidade vai-se sobrepondo à ruptura. Quais são os pontos fortes e fracos deste processo de transição? A governação do Presidente João Lourenço é marcada positivamente pela responsividade diante de certos temas fracturantes. Entretanto, é deficitária em termos de consultas populares e debates prévios com parceiros sociais e demais actores relevantes da sociedade, o que tornaria a sua governação mais proactiva e menos reactiva. A parca consulta ao Conselho da República, os episódios do Imposto de Valor Acrescentado (IVA), do bairro dos ministérios, do ginásio para os parlamentares, apenas para citar alguns, são exemplos deste fenómeno. É imperativo lembrar que decisões tomadas após amplo, inclusivo e aprofundado debate produzem maior consenso e melhor resultado governativo. O Presidente João Lourenço tem positivamente procurado rejuvenescer o Governo, todavia, grande parte das suas escolhas não têm sido acertadas, conforme evidenciam as constantes exonerações e nomeações. É imperativo olhar para fora do partido e procurar técnicos competentes e íntegros que, de facto, queiram o bem dos angolanos.A


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rescisão de contratos prejudiciais ao Estado angolano, que beneficiavam maioritariamente indivíduos ligados ao antigo Presidente da República, constituiu um dos pontos fortes do seu mandato. Entrementes, o cidadão comum não tem sentido os efeitos positivos de tais medidas na sua vida. Por outro, a transparência na concessão e gestão destes bens públicos impõe-se, para evitar que tais empresas sucumbam com a paralisação da sua actividade produtiva ou com gestores indignos e ilegítimos. O mandato de João Lourenço será lembrado positivamente pelo facto de pela primeira vez terem sido indiciados e/ou julgados alguns altos mandatários do Governo e gestores públicos, mas também poderá ser lembrado negativamente pela selectividade dos arguidos e pelo desfecho de alguns processos, conforme o mediático caso denominado de Burla Tailandesa. O que acha do repatriamento de capitais? A iniciativa de repatriamento de capitais e perda alargada de bens é, sem dúvida, um dos aspectos positivos da governação de João Lourenço. Entretanto, entre a iniciativa e a concretização existe um abismo de desinformação e falta de transparência sobre o quanto e o que foi recuperado e qual destino tiveram os capitais e bens resgatados. O facto de pertencer à mesma família política do anterior Presidente tem ajudado ou dificultado o processo? O facto de a sucessão presidencial ter ocorrido no seio do mesmo partido pode ter assegurado certa estabilidade política ao país. Paradoxalmente, esta continuidade pode ser um entrave às mudanças profundas de que o país carece para o alcance da democracia, da justiça social e do desenvolvimento, porquanto, mudanças requerem novas mentalidades, quiçá alguns novos actores e novas formas de fazer política, de ver, sentir, estar, perscrutar e perceber Angola e os angolanos. Até que ponto o “eduardismo”, depois de cerca de 40 anos de poder de José Eduardo dos Santos, condiciona as aspirações e ideias do actual Presidente? O modo de pensar e agir de parte dos cidadãos, governantes e gestores públicos angolanos continua refém do legado de corrupção, cabritismo, nepotismo, partidarismo, intolerância e bajulação. É imperativo que o país tenha um novo começo, marcado com exemplos

Exemplo disto são as nomeações realizadas tendo em conta quase exclusivamente a cor partidária e a capacidade de defesa do absurdo em debates televisivos

positivos a partir dos altos mandatários e não apenas discursos que se esfumaçam em confronto com os factos e com o tempo. José Eduardo dos Santos, após 38 anos de governação, deixou ao sucessor um país sem bases sólidas. Exemplo disto são as desastrosas áreas da educação, saúde, habitação, saneamento básico, agricultura, indústria e emprego. Entretanto, apesar do pesado fardo que lhe foi legado, do qual não foi mero espectador, compete a ele recomeçar o país apostando nas questões essenciais: saúde; habitação; ensino e pesquisa de qualidade, criando parcerias entre instituições de ensino e empresas públicas e privadas; apostar na agricultura e na industrialização para garantir empregos; criar um sistema de protecção aos desempregados e empobrecidos da sociedade etc.. Isto é, o legado do Presidente João Lourenço depende maioritariamente das escolhas feitas no presente, não apenas do fardo herdado do seu antecessor. Quais são os níveis de influência do “eduardismo” hoje? Grande parte dos governantes angolanos foi forjada durante os trinta e oito anos de governação de José Eduardo dos Santos, e, a despeito da vociferação de alguns discursos de pretensa abertura democrática, continuam aprisionados à mentalidade e práticas da era eduardista. Exemplo disto são as nomeações

realizadas tendo em conta quase exclusivamente a cor partidária e a capacidade de defesa do absurdo em debates televisivos; a perseguição, intimidação e cooptação de alguns cidadãos que pensam e agem à margem do regime; a repressão aos manifestantes; a manipulação das informações; a limitação à liberdade de imprensa; a realização de concursos públicos duvidosos; a valorização da mediocridade em detrimento do mérito, dentre outros. Existe o relato, por exemplo, de uma manifestante que pode ter perdido o bebê em decorrência da agressão sofrida durante uma manifestação. Por outro, vê-se o renascer das práticas de endeusamento do Presidente da República como fora outrora. Prova disto está na exposição da sua fotografia sempre atrás de certos entrevistados, bem como na substituição progressiva da imagem do seu antecessor. Durante algum tempo, havia uma corrente que dizia que os ricos eram um perigo para o poder e para as repúblicas, os nossos também o são? Quando a origem da riqueza é lícita e honesta e o seu uso racional contribui para assegurar a justiça social e o desenvolvimento sustentável do país, não há grande perigo. Entretanto, a riqueza de grande parte dos endinheirados angolanos tem origem no dinheiro públi-

co, que deveria ser destinado para o desenvolvimento do país. Além do mais, parte destes endinheirados exerce ou exerceu algum cargo governativo ou possui alguma relação de parentesco, amizade ou vassalagem. A maior parte destes endinheirados não gera riquezas que proporcione desenvolvimento para o país e é indiferente ao sofrimento dos seus miseráveis concidadãos. Prova disto é que os seus maiores investimentos e o seu dinheiro não se encontram em Angola e pouco ou nada fazem para combater a miséria que agride os nossos olhos diariamente. Caso um partido da Oposição vencesse as eleições de 2017, haveria maiores possibilidades de se implementar uma série de projectos no país? Isto dependeria em grande medida dos níveis de bloqueios internos impostos por aqueles que detêm o poder económico no país, uma vez que parte deles são os mesmos que actualmente detêm o poder político e militar ou estão ligados por laços de consanguinidade, amizade ou vassalagem. Um dos maiores desafios da Oposição consistiria em diluir o partido-Estado, a fim de assegurar a efectiva abertura do mercado e criar condições para a realização de um sector produtivo eficiente, competitivo, livre e apartidário. Três anos depois, nota-se, clara-

mente, que falta algum entrosamento na equipa governativa de João Lourenço. Já tivemos três ministros da Educação, três da Economia e outros em vários sectores. Onde está a dificuldade? Quando a cor partidária e outros critérios escusos se apresentam como elementos essenciais para a escolha dos governantes e gestores públicos, em detrimento do comprovado mérito, o resultado é o fracasso governativo. Existem quadros competentes na Administração Pública e nas instituições de ensino que são ignorados por serem apartidários e/ou desprovidos da importante arte da bajulação, elemento essencial para a ascensão, continuidade e sucesso no aparelho do Estado. Por outro, alguns dos governantes e gestores públicos angolanos ainda não perceberam a essência da sua actividade, que é: exercer com diligência as suas funções exclusivamente ao serviço do interesse público. Quais são os perigos destas constantes remodelações governamentais? As constantes exonerações e nomeações passam a imagem de escolhas mal feitas, de um Governo sem rumo, aprisionado aos quadros do partido e incapaz de atender às demandas essenciais dos cidadãos. Ademais, as constantes remodelações dificultam o ritmo e continuidade dos projectos iniciados. Quais são os critérios que têm sido obedecidos nestas remodelações? O político ou o administrativo? O critério político parece prevalecer, pois é incompreensível a nomeação de certos governantes e gestores públicos que ao longo dos anos têm dado provas irrefutáveis da sua incompetência e indiferença em relação ao povo que dizem governar. É, outrossim, inconcebível o facto de as mesmas figuras ocuparem seguidamente distintos ministérios, como se omniscientes fossem. Criou-se um ministério da Cultura, Ambiente e Turismo. Alguns apelidam como sendo um superministério e a existência de uma superministra. Concorda? O que é um superministério e um superministro? Trata-se de um superminitério apenas em termos de atribuições, porquanto passou a congregar os ministérios do Ambiente, Cultura e Turismo. Entrementes, em termos orçamentais não figura den


ENTREVISTA tre os ministérios com maior dotação orçamental. Um superministro não pressupõe dispor apenas de inúmeras e relevantes atribuições, mas também ter à sua disposição um orçamento capaz de dar resposta efectiva e atempada às demandas sob a sua responsabilidade. Pressupõe, outrossim, maior autonomia decisiva, acesso e confiança do Titular do Poder Executivo. Extinguiu-se praticamente a reforma do Estado do Ministério da Administração do Território. Acredita que o processo terá sido concluído? O Ministério da Reforma do Estado foi transformado em Secretaria de Estado, o que pressupõe que o processo não está concluído. O Estado angolano continua

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com um conjunto de gargalos que impedem o seu funcionamento eficiente. O Estado continua obeso, apesar da recente remodelação. Existem ministérios que poderiam ser fundidos, como o Ministério da Educação e o Ministério do Ensino Superior, a fim de tornar o Estado mais leve.

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tado. Provavelmente, o Secretário para a Reforma do Estado trabalhe em harmonia com o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, em razão de ter sido o último titular da pasta. Por outro, o facto de o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil assessorar o Presidente da República na condução da actuação do Executivo, pode auxiliar no processo de reforma do Estado.

O que justifica o facto de o Presidente da República ter nomeado um secretário para a Reforma do Estado, ao mesmo tempo em que tem por perto o ministro que coordenava o processo como Chefe da Casa Civil? A remodelação da composição dos órgãos auxiliares do Titular do Poder Executivo não apenas reduziu a quantidade de ministérios, mas também reformulou a orgânica das secretarias de Es-

Qual tem sido o critério utilizado pelo Presidente para a escolha dos seus auxiliares, tanto no Executivo como no Palácio? Parece que a militância partidária, as redes de influência e a capacidade de defesa do indefensável nos noticiários e programas de debates televisivos têm sido importantes na escolha dos

auxiliares do Presidente da República, conforme demostram as reiteradas nomeações. Todavia, existem alguns raros casos em que a capacidade técnica tem certa primazia. As remodelações dão mais folego ao Estado ou ao próprio MPLA? Apesar de algumas nomeações terem sido acertadas, outras foram manifestamente equivocadas, contribuindo para o desgaste da imagem do Presidente da República e do MPLA, na medida em que não produzem resultados que repercutem positivamente na vida do cidadão comum. Passa-se a imagem de que as contínuas exonerações e nomeações são faces da mesma moeda.

“Os salários e subsídios dos governantes angolanos revelam o seu desprezo e indiferença pelo povo que dizem governar” Como está hoje a oposição no país? Os resultados eleitorais produzidos em 2017 não legaram aos partidos na Oposição a possibilidade de estabelecer algum equilíbrio e limitar certas decisões impopulares tomadas pelo partido maioritário no Parlamento, sobretudo. Todavia, têm manifestado publicamente o seu desagrado em certas matérias fracturantes. Existem, no entanto, outras matérias em que são omissos. A falta de denúncia dos astronómicos subsídios de manutenção da casa do presidente da Assembleia Nacional é exemplo disto. No livro que escreveu aborda o “autoritarismo da UNITA”. Continua a ver este partido da mesma forma? O autoritarismo da UNITA descrito no livro “Transição pela transação: uma análise da democratização em Angola” estava circunscrito a alguns macabros acontecimentos ocorridos particularmente na Jamba. Por semelhante modo, descrevo o autoritarismo do MPLA e a purga do 27 de Maio de 1977. O processo eleitoral que determinou a eleição de Adalberto Costa Júnior para a presidência da UNITA revela ter sido competitivo, livre, justo e transparente. Trata-se de um bom exemplo de traços de democracia interna. O que mudou com a entrada de

Adalberto Costa Júnior? A entrada de Adalberto Costa Júnior tornou o cenário político angolano mais competitivo. A sua convincente eloquência e estética atraem jovens, mulheres e intelectuais, gerando certo desconforto ao partido maioritário. Razão pela qual, um conjunto de ataques sistemáticos tem sido orquestrado contra ele, sobretudo nas redes sociais. A manutenção da residência do presidente da Assembleia Nacional, orçada em 17 milhões de Kwanzas, levantou uma certa celeuma nos últimos dias. Como é que analisa esta situação? Há um certo descaso dos populares em relação ao que é feito no Parlamento? A miséria, o obscurantismo, a desinformação e a repressão a que os angolanos são submetidos constituem alguns factores que alienam e incapacitam os cidadãos de participarem de forma activa e criativa na gestão e fiscalização da coisa pública. Um povo miserável, iletrado, desinformado e amedrontado é perfeito para governantes avessos à transparência, fiscalização e prestação de contas da sua gestão. Os salários e subsídios dos governantes angolanos revelam o seu desprezo e indiferença pelo povo que dizem governar. Pois, não é concebível o presidente da Assembleia Nacional ter o direito a um subsídio de 17 milhões de Kwanzas pa-

A entrada de Costa Júnior tornou o cenário político mais competitivo. A sua convincente eloquência e estética atraem jovens, mulheres e intelectuais, gerando certo desconforto ao partido maioritário. Um conjunto de ataques sistemáticos tem sido orquestrado contra ele, sobretudo nas redes sociais

ra a manutenção da residência quando cerca da metade da população angolana não consegue sequer 12 mil Kwanzas mensais para sobreviver. Acredita que venhamos a ter eleições autárquicas este ano? É possível que aconteçam eleições autárquicas este ano, mas parece pouco provável. Caso aconteçam, o Governo poderá dispor de mais uma justificativa para a realização das eleições autárquicas em apenas parte do território nacional, considerando a queda do preço do barril de petróleo e a consequente situação económica e financeira do país. A instituição das autarquias, entretanto, constitui oportunidade para a resolução localmente de problemas económicos, políticos, sociais e culturais. Qual é o custo político da Covid-19 para os que estão a governar e aqueles que estão na Oposição? A pandemia da Covid-19 destroçou o programa de governação do partido no poder, reduzindo a capacidade para satisfazer as demandas dos cidadãos. Diante disso, a Covid-19 pode vir a servir de guarda-chuva para os incumprimentos do Governo. A Oposição, por sua vez, tem a oportunidade de colaborar com o Governo e com a sociedade, mas também de exercer acirrada fiscalização aos actos governativos, para não ficar confinada aos limites impostos pelo estado de emergência.

Quem é Nelson Domingos Nelson Domingos António é Ph. D em Ciência Política; mestre e licenciado em Filosofia, Teologia e Direito. É igualmente professor universitário e advogado de profissão. Autor do livro “Transição pela transação: uma análise da democratização em Angola”, Nelson Domingos é ainda autor de artigos e títulos de livros como “human rights institutions: The ombudsman of Angola”, “Uma análise da percepção de jovens luandenses sobre o racismo em Angola”, “Angola’s 2017 elections and the start of a post-Dos Santos Era”, “Conversando com hobbes acerca da condição da humanidade e dos contratos”, “Conversando com Rousseau acerca da origem da desigualdade entre os homens e dos contratos” e “A questão da propriedade em Thomas hobbes”.


ACTUAL

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

DR

Austrália quer suporte dos membros da OMS para apoiar inquérito sobre coronavírus Todos os países membros da organização Mundial da Saúde (oMS) devem apoiar uma proposta de revisão independente da pandemia de coronavírus, disse o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, na Quinta-feira, ameaçando ainda mais os estreitos laços com a China

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Austrália tornouse um dos críticos mais fortes de Pequim por lidar com a disseminação do coronavírus, com Morrison a pedir a vários líderes mundiais que apoiem uma investigação internacional sobre as suas origens e disseminação, bem como a resposta da OMS. O surto de Covid-19 teve origem na China e, desde então, se espalhou para infectar cerca de 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo e matou quase 160.000, segundo cálculos da Reuters. Pequim rejeitou, orgulhosamente, os pedidos de inquérito, descrevendo os esforços como propaganda liderada pelos EUA contra a China. Morrison disse que todos os membros da OMS devem ser obri-

gados a participar numa revisão, acrescentando que a Austrália pressionará pelo inquérito durante a Assembleia da OMS, em 17 de Maio. “Gostaríamos que o mundo fosse mais seguro quando se trata de vírus. Espero que qualquer outra nação, seja a China ou qualquer outra pessoa, compartilhe esse objetivo”, disse Morrison aos repórteres em Canberra. A China é o maior parceiro comercial da Austrália, mas os laços diplomáticos se desgastaram nos últimos anos em meio a alegações de que Pequim cometeu ciberataques e tentou interferir nos assuntos domésticos de Canberra. “A chamada investigação independente proposta pela Austrália é, na realidade, manipulação política”, disse o porta-voz do Mi-

nistério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, falando numa entrevista colectiva diária em Pequim, na Quinta-feira. “Aconselhamos a Austrália a desistir dos seus preconceitos ideológicos”, disse ele. Os pedidos de inquérito da Austrália serão favoráveis à Casa Branca - que criticou a China e a Organização Mundial da Saúde pela forma como lidaram com a pandemia e retirou o financiamento dos EUA da agência das Nações Unidas. A China disse na Quinta-feira que doará USD 30 milhões adicionais à OMS. Também parece haver menos entusiasmo por uma investigação na Europa, com a França e a GrãBretanha a dizer que agora não é hora de dividir a culpa.

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Angela Merkel, da Alemanha, disse, na Quinta-feira, que a OMS é um “parceiro essencial” e que o país apoia o seu mandato. Os comentários de Morrison vieram poucas horas depois que um alto funcionário do governo australiano pediu aos países do G20 que acabassem com os mercados de animais silvestres, devido a preocupações de que eles representam uma ameaça à saúde humana e aos mercados agrícolas. Pensa-se que o surto, na China, tenha começado num mercado húmido na cidade de Wuhan. Os mercados húmidos são uma faceta essencial da vida quotidiana da China, embora nem todos vendam animais selvagens. A China impôs uma proibição temporária de venda de animais selvagens em Janeiro (23) e agora está a rever a legislação para restringir, permanentemente, o comércio de animais selvagens. O ministro da Agricultura, David Littleproud, disse na Quinta-feira que pediu às autoridades governamentais do Grupo das 20 principais economias que apoiem um plano para acabar com os mercados de animais silvestres. As autoridades americanas também pediram que os mercados de animais selvagens em toda a Ásia sejam fechados. Existem mercados húmidos em toda a Ásia que vendem legumes frescos, frutos do mar e carne, com alguns também vendendo animais exóticos. NAVEGAR PARA LONGE O apelo da Austrália por acção global ocorre à medida que diminui com sucesso a disseminação do coronavírus, com novas infecções bem abaixo de 1% ao dia. A Austrália tem cerca de 6.600 casos de coronavírus e 76 mortes pelo vírus. Cerca de um terço dos casos da Austrália podem ser atribuídos a navios de cruzeiro e um navio, o Ruby Princess, de propriedade da Carnival Corp, é responsável por cerca de 10% dos casos. As autoridades concederam à Ruby Princess permissão para desembarcar os 2.700 passageiros, no mês passado, sem exames de saúde, e a Polícia está a investigar se os operadores do navio deixaram conscientemente os pacientes com coronavírus desembarcarem. O Ruby Princess, que está na Austrália desde Março, deve partir na Quinta-feira com apenas uma equipa, embora não esteja claro para onde irá.

Não houve encobrimento do coronavírus na China, diz enviado chinês

Embaixador chinês, Liu Xiaoming

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China não encobriu o novo surto de coronavírus e, portanto, os Estados Unidos não devem tentar intimidar a República Popular de uma maneira que lembra as guerras coloniais europeias do século XIX, disse o embaixador chinês, em Londres, na Quinta-feira. “Eu ouço bastante essa especulação, essa desinformação sobre a China a encobrir, sobre a China a esconder algo isso não é verdade”, disse Liu Xiaoming. “O governo chinês foi transparente e muito rápido ao compartilhar os dados”. “Algures num outro país – os seus tribunais locais processaram a China - é um absurdo”, disse ele. “Alguns políticos, algumas pessoas, querem brincar de polícia do mundo - não é a era da diplomacia de canhões, não é a época em que a China era uma sociedade semi-colonial e semi-feudal”. “Essas pessoas ainda vivem nos velhos tempos - acham que podem intimidar a China, acham que podem intimidar o mundo”, disse Liu. “A China não é inimiga dos Estados Unidos - se eles consideram a China um inimigo, eles escolhem o alvo errado.”


MUNDO

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Medicamentos para pressão arterial estão na mira de pesquisa da Covid-19 Os cientistas ficam perplexos com a forma como o

coronavírus ataca o corpo - matando muitos pacientes, enquanto o mal afecta outros

M

as alguns são atormentados por uma pista: um número desproporcional de pacientes hospitalizados pela Covid-19, a doença causada pelo vírus, tem pressão alta. Teorias sobre por que a condição os torna mais vulneráveis - e o que os pacientes devem fazer sobre isso provocaram um feroz debate entre os cientistas sobre o impacto de medicamentos para pressão arterial amplamente prescritos. Os pesquisadores concordam que os medicamentos que salvam vidas afectam os mesmos caminhos que o novo coronavírus adopta para entrar nos pulmões e no coração. Eles diferem se essas drogas abrem a porta para o vírus ou protegem contra ele. A solução dessa questão ganhou nova urgência após um relatório de 8 de Abril dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA que mostrou que 72% dos pacientes Covid-19 hospitalizados com 65 anos ou mais tinham hipertensão. Os medicamentos são conhecidos como inibidores da ECA e BRA, categorias amplas que incluem Vasotec, Valsartan, Irbesartan, bem como as suas versões genéricas. Em recente entrevista a uma revista médica, Anthony Fauci - o principal especialista em doenças infecciosas do governo dos EUA citou um relatório mostrando taxas igualmente altas de hipertensão entre pacientes com Covid-19 que morreram na Itália e sugeriu que os medicamentos, em vez da condição subjacente, podem agir como um acelerador para o vírus. Os esforços para entender como o vírus usa o caminho para o coração e os pulmões, e o papel dos medicamentos, são complicados por falta de estudos rigorosos. “Existem milhões de americanos que tomam um inibidor da ECA ou AR diariamente”, disse Caleb Alexander, co-director do Centro Johns Hopkins de Segurança e Eficácia em Medicamentos, em Baltimore. “Esta é uma das questões clínicas mais importantes.” Estima-se que 100 milhões de residentes nos EUA sofram de pressão alta, o que aumenta o risco de

doenças cardíacas, derrame e insuficiência renal. Cerca de quatro quintos deles precisam tomar medicamentos prescritos para controlá-lo, de acordo com o CDC. Os inibidores da ECA e os BRA são amplamente prescritos para pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, diabetes ou doença renal. Os medicamentos representam biliões de dólares em vendas de medicamentos em todo o mundo. A ausência de respostas claras sobre como os medicamentos afectam os pacientes com Covid-19 provocou especulações desenfreadas em correspondências e editoriais publicados em sites de revistas médicas e naqueles em que os cientistas compartilham rascunhos de estudos e pré-publicação não revisados. Muitos pacientes estão sofrendo se os seus medicamentos os ajudarão ou os prejudicarão. Doris Kertzner, 88, de Redding, Connecticut, disse que seguiu cuidadosamente as directrizes de especialistas para prevenir infecções e mantém distância de outras pessoas na sua comunidade de aposentados. Agora, ela tem uma nova preocupação: ela usa losartan, um ARB, e não pode decidir se deve parar. Abandonar o medicamento “apresenta os seus próprios problemas” ao lidar com a pressão alta.

“Ficou muito complicado”, disse ela. O Dr. Carlos M. Ferrario - pesquisador da Faculdade de Medicina da Wake Forest University e co-autor de estudos amplamente citados sobre inibidores da ECA entende a situação dos pacientes. “Há muita paranoia e muita especulação com muito pouca informação fundamental e convincente”, disse ele. Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos fizeram uma chamada buscando propostas de estudos sobre o assunto. Um consórcio independente de pesquisadores lançou um estudo global para analisar os registos de saúde de milhares de pacientes com Covid-19 nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Esse projecto faz parte do programa Observational Health Data Sciences and Informatics, uma plataforma de pesquisa de código aberto que permite estudos em larga escala. O Dr. Marc Suchard - um bio-estatístico da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que lidera o estudo - disse que o objectivo é determinar se os medicamentos tornam as infecções mais prováveis ou mais graves - ou, pelo contrário, se ajudam a proteger contra o vírus. Suchard disse que espera um relatório preliminar dentro de du-

as semanas. MAIS ALVOS PARA O VÍRUS Há evidências de que os medicamentos podem aumentar a presença de uma enzima - ACE2 - que produz hormónios que diminuem a pressão sanguínea ao aumentar os vasos sanguíneos. Isso normalmente é uma coisa boa. Mas o coronavírus também tem como alvo o ACE2 e desenvolveu picos que podem se prender à enzima e penetrar nas células, descobriram os pesquisadores. Portanto, mais enzimas fornecem mais alvos para o vírus, aumentando potencialmente a chance de infecção ou tornando-o mais grave. Outras evidências, no entanto, sugerem que a interferência da infecção na ECA2 pode levar a níveis mais altos de um hormónio que causa inflamação, o que pode resultar na síndrome do desconforto respiratório agudo, um acúmulo perigoso de líquido nos pulmões. Nesse caso, os BRA podem ser benéficos porque bloqueiam alguns dos efeitos prejudiciais do hormónio. A Novartis International AG e a Sanofi SA estão entre os principais fabricantes de medicamentos que vendem inibidores da ECA e BRA. O porta-voz da Sanofi, Nicolas Kressmann, disse que os pacientes devem consultar os seus médicos para continuar a tomar os medicamentos, mas que a empresa encontrou evidências insuficientes de que piora a Covid-19 por meio da sua própria avaliação dos dados científicos disponíveis. A empresa analisou vários estudos recentes da China que chegaram a conclusões conflitantes sobre se os pacientes com hipertensão arterial Covid-19 se saem pior do que outros pacientes, disse ele. A Novartis não emitiu nenhuma orientação para clínicos ou pacientes e se opõe aos cientistas que estudam o assunto, disse o porta-voz Eric Althoff. Pesquisadores e médicos geralmente concordam que pessoas com hipertensão grave ou insuficiência cardíaca devem continuar a tomar os medicamentos devido aos altos riscos de parar. O debate centra-se em como aconselhar os muitos pacientes com condições mais leves que tomam os medicamentos. Dois campos surgiram um pedindo nenhuma acção a me-

nos que as drogas se mostrem perigosas, o outro por alguns limites de uso até que se mostre seguro. O Centro de Medicina Baseada em Evidências da Universidade de Oxford, na Inglaterra, recomendou que os médicos considerem retirar os medicamentos em pacientes com hipertensão leve se eles estiverem num grupo de alto risco, como médicos, e substituílos por medicamentos alternativos para baixar a pressão arterial. O New England Journal of Medicine (NEJM) adoptou o rumo oposto, destacando o potencial dos medicamentos no combate ao coronavírus e recomendando que os pacientes continuem a tomar os medicamentos até que se saiba mais sobre os riscos. Vários dos cientistas que o criaram em parceria fizeram uma extensa pesquisa apoiada pela indústria sobre medicamentos anti-hipertensivos. CONFLITOS DE INTERESSE O Dr. Kevin Kavanagh, fundador da Health Watch USA, uma organização de defesa de pacientes, questionou se os cientistas financiados pela indústria farmacêutica deveriam aconselhar os clínicos, considerando os altos riscos. “Você precisa considerar voltar atrás e deixar que outras pessoas sem um conflito de interesses tentem fazer uma ligação”, disse Kavanagh. A sua organização recomenda que os médicos evitem temporariamente colocar novos pacientes nos remédios e avise os que estão actualmente sob eles a tomar precauções extremas para evitar a exposição ao vírus. O Dr. Scott David Solomon, coautor do artigo da NEJM, realiza pesquisas financiadas pelo sector, mas disse que não tem influência sobre a sua posição. “Não há apenas evidências convincentes de que devemos interromper esses medicamentos, mas há motivos para pensar que isso pode realmente causar danos”, disse Solomon, director de cardiologia não invasiva do Brigham and Women’s Hospital em Boston. A falta de consenso deixa os médicos a navegar na questão paciente por paciente. Alexander, da Johns Hopkins, está a tentar encontrar um equilíbrio na sua própria prática. Pacientes com problemas mais graves de pressão sanguínea


O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

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Militares iranianos são ordenados a atacar navios e tropas dos EUA que ameaçarem Irão

DR

A declaração do chefe da diplomacia iraniano vem após o aumento das tensões no golfo Pérsico, alimentadas pelas manobras militares dos EUA e seus aliados na região, ameaçando Teerão.

Os iranianos tomam medidas no sentido inverso ao dos americanos

A

s forças dos EUA provocaram marinheiros iranianos no golfo Pérsico e não tem motivo para estarem presentes a sete mil milhas (11,3 mil quilómetros) longe de casa, escreveu Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irão. Num tweet, o ministro exortou o presidente norte-americano a focar nas necessidades dos EUA em meio à pandemia do coronavírus, ao invés de se intrometer nas questões do golfo Pérsico.

O Irão repetidamente condenou a presença dos EUA na região, considerando-a “ilegal”, além de ter demonstrado intenção de fortalecer as suas defesas. “Nós ordenamos a nossas forças navais que ataquem embarcações e tropas militares norteamericanas se navios ou tropas da Marinha terrorista dos Estados Unidos ameaçarem a segurança de embarcações civis ou militares”, declarou Hossein Salami, comandante do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmi-

ca ao canal IRINN. O Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica anunciou que ocorreram dois episódios de provocações, de interceptações realizadas por navios norte-americanos, em 6 e 7 de Abril, contra embarcações iranianas. Para o Irão, a versão apresentada por Washington é “hollywoodiana”. O recente aumento das tensões entre os dois países sucedeu após a Marinha dos EUA ter acusado forças iranianas de comportamento “perigoso e perturbador” contra grandes embarcações norte-americanas durante exercícios. Os Estados Unidos têm conduzido manobras no golfo Pérsico desde Março, com o navio anfíbio de assalto USS Bataan e outras embarcações enviadas à região no começo de Abril. Na Quarta-feira (22), o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou ter instruído a Marinha dos EUA a “atacar e destruir” quaisquer embarcações iranianas que se aproximarem ou hostilizarem navios de guerra estadunidenses no golfo Pérsico.

Parte continental chinesa relata 10 novos casos confirmados de Covid-19

A

autoridade sanitária chinesa anunciou, nesta Quinta-feira, que 10 novos casos confirmados da Covid-19 foram relatados na parte continental chinesa na Quarta-feira, dos quais seis foram importados. Os outros quatro novos casos foram de transmissões locais, informou a Comissão Nacional de Saúde num relatório diário, observando que três casos foram relatados na província de Heilongjiang e o outro na província de Guangdong. Nenhuma morte ou caso suspeito foi reportado na Quarta-feira na parte continental da China. Segundo a comissão, 56 pessoas re-

ceberam alta hospitalar após recuperação, na Quarta-feira, enquanto o número de casos graves caiu em 15 para 63. Até Quarta-feira, a parte continental havia registado ao todo 1.616 casos importados. Entre os quais, 823 tiveram alta dos hospitais após recuperação e 793 estavam em tratamento, com 37 em condições severas, informou a comissão. Nenhuma morte foi relatada entre esses casos importados, acrescentou. Os casos confirmados na parte continental haviam atingido 82.798 até Quarta-feira, incluindo 959 pacientes ainda em tratamen-

to e 77.207 pessoas que receberam alta após a recuperação. Ao todo, 4.632 pessoas morreram da doença, afirmou. A comissão disse que 20 pessoas, incluindo 16 do exterior, ainda estavam sob suspeita de estarem infectadas com o vírus. Acrescentou que 8.429 contatos próximos continuavam em observação médica. Na Quarta-feira, 824 pessoas receberam alta da observação médica. Também no mesmo dia, 27 novos casos assintomáticos, incluindo um do exterior, foram relatados na parte continental. Três casos domésticos assintomáticos foram

Além da medicina convencional, os chineses contam com a tradição

Medicina chinesa tradicional é efectiva no tratamento de pacientes da Covid-19 em Wuhan, diz funcionário

A

medicina tradicional chinesa (MTC) tem desempenhado um papel efetivo no tratamento dos pacientes da Covid-19 em Wuhan, cidade severamente afectada pela epidemia no centro da China, disse, nesta Quinta-feira, Qi Wensheng, especialista médico, numa conferência de imprensa. A primeira equipa de médicos de MTC enviados a Wuhan para a assistência combinou a MTC e as medicinas ocidentais para curar 132 pacientes, reduzindo efectivamente a mortalidade e o uso de tratamento com hormónios em comparação com as

Número de mortos por coronavírus na Espanha sobe para 22.157

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Ministério da Saúde da Espanha anunciou, nesta Quinta-feira, que 440 pessoas morreram por causa do coronavírus nas últimas 24 horas, o que levou o total de óbitos no país a 22.157. O dado diário foi ligeiramente maior do que na véspera, quando 435 pessoas morreram. O número de casos diagnosticados subiu para 213.024, contra 208.389 um dia antes.

outras unidades, disse Qi, médico do Hospital Guang’anmen em Beijing sob a Academia Chinesa de Ciências Médicas Chinesas. Alguns pacientes hospitalizados no Hospital Jinyintan de Wuhan solicitaram voluntariamente o tratamento com MTC, depois de se familiarizar com isso, disse Qi. A MTC tem diferentes ênfases para o tratamento das etapas inicial, média e avançada dos pacientes da Covid-19. A diferenciação de síndromes precisa de ajuste de tratamento em meio às mudanças de condições dos pacientes, disse Qi.

Mortos pelo coronavírus no Irão sobem para 5.481

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número de mortos pelo surto do novo coronavírus no Irão aumentou em 90 nas últimas 24 horas, para 5.481, disse o porta-voz do Ministério da Saúde, Kianush Jahanpur, em pronunciamento na TV estatal nesta Quintafeira. O número de casos diagnosticados do novo coronavírus no Irão atingiu 87.026, disse ele.


DESPORTO

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Nacional de basquetebol pode ser disputado à portas fechadas

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A prova nacional da bola ao cesto tem pernas para continuar no próximo mês, mas, a portas fechadas devido à pandemia que assola o mundo, segundo uma fonte na Federação Angolana de Basquetebol (FAB) DR

“Os nossos dirigentes têm que ler mais”

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presidente do Conselho Jurisdicional da Federação Angolana de Futebol (FAF), Sérgio Raimundo, em declarações à Rádio Cinco, afirmou que os dirigentes desportivos têm que ler mais. O responsável fez estas declarações no âmbito do recuo que a FAF fez em relação à decisão de que os clubes devem votar no pleito eleitoral referente ao ciclo olímpico 2020/2024. “Os nossos dirigentes não gostam de estudar. Eles têm que ler mais”, adiantou o presidente do Conselho Jurisdicional à Rádio Cinco, ontem. Sérgio Raimundo alegou que

os dirigentes desportivos devem conhecer melhor as leis para discutirem melhor nas assembleias da FAF. O dirigente desportivo fez saber que os dirigentes são obrigados a ler bem os estatutos para discutirem melhor a questão de quem deve ou não votar. Sérgio Raimundo adiantou que as decisões não emanam da FAF, mas sim da Assembleia-geral, órgão com membros definidos pelos estatutos. Por isso, é importante ler bem os estatutos para não se incorrer em erros e se pensar que a FAF quer aproveitar-se de determinadas coisas. DR

Mário Silva

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Campeonato Nacional sénior masculino de basquetebol pode prosseguir no próximo mês, mas à portas fechadas, devido às medidas de prevenção para evitar a propagação do novo Coronavírus “Covid-19”. A prova cumpre um período de suspensão face ao Estado de Emergência decretado pelo Presidente da República, João Lourenço, para combater a pandemia supracitada que assola o mundo. Segundo uma fonte ligada à comissão de gestão da Federação Angolana da modalidade, são negociações que estão a decorrer, por intermédio das novas tecnologias, entre o órgão reitor e os clubes.

Mesmo que as duas partes cheguem a um acordo para disputar as últimas jornadas da quarta volta do Campeonato Nacional, a nossa fonte assegura que tudo vai depender da “luz verde” das autoridades sanitárias. A fonte disse que a fase do título é que será o grande problema, porque é neste período que as equipas procuram arrecadar alguma receita com a venda de

A maior prova de basquetebol angolano é liderada pelo Petro de Luanda, com 40 pontos, ao passo que o 1º de Agosto e o Interclube seguem nas posições seguintes

bilhetes. Por isso, a fonte acredita que as partes envolvidas vão tentar negociar com as autoridades sanitárias para colocar nos pavilhões mais de 50 adeptos. Por outro lado, a fonte garantiu que todos os treinadores que orientam equipas do Nacional elaboram treinos específicos de modo que os atletas possam realizar sessão de treinos em casa. Assim, a fonte ligada à FAB assegurou que os jogadores não perdem a forma desportiva. A maior prova de basquetebol angolano é liderada pelo Petro de Luanda, com 40 pontos, ao passo que o 1º de Agosto e o Interclube seguem nas posições seguintes. Petro de Luanda, 1º de Agosto, Interclube e Atlético Sport Aviação (ASA) são equipas que fizeram algum investimento para conquistar o título que está em posse dos tricolores orientados por Lazare Andingono.

Wayne Rooney luta contra corte salarial de 50 por cento

C

ontratado pelo Derby County em Janeiro, Wayne Rooney foi o escolhido pelo balneário do clube para reunir-se com o director geral do clube, Stephen Pearce, para evitar corte salarial devido à pandemia de Covid-19. A Direcção dos Rams (assim é conhecido o clube que milita no segundo escalão do fute-

bol inglês) pretende cortar 50 por cento do salário de cada jogador do plantel a partir da próxima semana. Porém, segundo noticia o diário britânico The Sun, os jogadores recusaram tal percentagem, tendo definido Wayne Rooney como seu porta-voz, com o intuito de ver a percentagem reduzida no máximo em 25 por cento.


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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

DR

Libolo corta salários de Março e Abril

A

direcção do Recreativo do Libolo do Cuanza-Sul cortou, na ordem de 30 e 50 por cento, os salários dos atletas da equipa de futebol que participa no Girabola 2019/2020. Os jogadores foram surpreendidos com esta medida, pelo facto de não terem sido avisados e, isto, está a gerar polémica no seio do grupo. As razões prendem-se com a Covid-19, pandemia que continua a alterar a ordem mundial nos tempos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pela paragem que se observa, os jogadores não têm outra alternativa senão observar as medidas de-

cretadas pela direcção. Posto isso, os atletas queixaram à Associação Nacional de Futebolistas de Angola (ANFA), órgão que defende os atletas neste sector. Os jogadores alegam que a direcção não paga os ordenados há

Posto isto, os atletas queixaram na Associação Nacional de Futebolistas de Angola (ANFA), órgão que defende os atletas neste sector

sete meses, por isso a direcção não devia tomar a medida em questão. Mas, a ANFA admite a possibilidade de voltar a falar com a direcção libolense, no sentido de rever a ficha salarial de todos os atletas. A formação do Cuanza-Sul já deu cartas no Campeonato Nacional, aliás, já conquistou vários troféus na prova doméstica. Nos últimos tempos, tem estado aquém do que já deu aos seus adeptos nos últimos tempos, uma vez que as condições financeiras não têm sido as mesmas.

Basquetebol: Voigt ganha USD 20 mil por mês DR

O

técnico, orientou a Selecção Nacional sénior masculina de basquetebol, William Voigt, seleccionador nacional sénior masculino, reclama da Federação Angolana de Basquetebol (FAB) o valor de USD 20 mil por mês, estabelecido no contrato de trabalho celebrado em 2017. Deste valor, correspondente a USD 240 mil ano, não se incluem impostos, tratando-se, por isso, de receita líquida, de acordo com o Jornal de Angola na sua edição desta Quinta-feira. Os encargos com os impostos, refere o contrato assina-

do pelo presidente demissionário, Hélder Martins da Cruz “Maneda”, são da responsabilidade da Federação. No documento lê-se que os valores descritos devem ser líquidos, livres de todos os impostos angolanos e pagos em dólares americanos, numa conta domiciliada nos Estados Unidos, indicada pelo treinador. O vínculo de três anos, em vigor desde 1 de Outubro de 2017 com término a 1 de Agosto de 2020, após os Jogos Olímpicos de Tóquio (Japão), adiados para 2021 devido à propagação da Covid-19, obriga a entidade emprega-

EURO-2020 mantém designação DR

O

comité executivo da UEFA, reunido ontem, decidiu que o Euro-2020, adiado para o próximo ano devido à pandemia de Covid-19, irá manter a mesma designação. Em comunicado, aquele órgão explica que a decisão, tomada após «ponderada análise interna» e depois de auscultados vários parceiros, “permite à UEFA manter a visão original do torneio para assinalar o 60.º aniversário do Campeonato da Europa da UEFA (1960– 2020)”. A designação original do Europeu servirá igualmente “para recordar

como toda a família do futebol se uniu para responder às circunstâncias extraordinárias da pandemia do COVID-19 e o período difícil que a Europa e o Mundo viveram em 2020”, visando ao mesmo tempo o objectivo de «não gerar quantidades adicionais de desperdício”. “Aquando do anúncio do adiamento do torneio, já tinha sido produzido muito material com grafismo específico. Uma mudança do nome do evento significaria a destruição desse material e a produção de outro”, sustenta o comité o executivo.

dora a pagar o salário no primeiro dia de cada mês. Lavrados documentalmente estão também os prémios. Em caso de conquista do Campeonato Africano das Nações “Afrobasket’2021”, seriam pagos USD 50 mil .Após a primeira fase, o valor é de USD 2500 por vitória. No Campeonato do Mundo, terminar em oitavo lugar valeria para o norte-americano a soma de USD mil dólares. Se terminasse nas três primeiras posições no Mundial e entre as quatro nas Olimpíadas de Tóquio, o total seria de USD 50 mil.

Dono doW arriors leiloa anel

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eter Guber, co-proprietário dos Warriors, colocou o seu anel de campeão de 2014/2015 a leilão no site All In Challenge. A totalidade da receita será entregue às instituições Feeding America, Meals On Wheels, World Central Kitchen e No Kid Hungry. A base de licitação começou nos €46 mil e a uma semana de terminar vai em 65 mil euros. “Sei quanta necessidade existe neste país. E quantas pessoas estão a sofrer (...) Por isso quero dar-lhes o meu anel de campeão, aquele pelo qual me esforcei para ganhar, desejava tanto e finalmente consegui-o. Quero dar-lhes algo que é tão importante para mim”, justificou o também presidente executivo de Golden State. Fabricado em ouro de 14 quilates, o anel contem outros seis quilates de diamantes e safiras, num total de mais de 250 pedras.


TEMPO

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O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Fonte: INAMET Das 18 horas do dia 22 às 18 horas do dia 23 de Abril de 2020

PREVISÃo Do TEMPo *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES Válida de 24 a 26 de Abril de 2020 Ê Ê

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGOA E GEOFÍSICA - CENTRO NACIONAL DE PREVISÃO DE TEMPO (CNPT)Ê

Ê

PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES, válida de 24 à 26 de Março de 2020Ê Data 24/04/2020

CIDADE

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LUANDA

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CABINDA

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SUMBE

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CAXITO

Data 25/04/2020

Estado do Tempo

Data 26/04/2020 Mín

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Estado do Tempo

Parcialmente nublado/ chuva fraca

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Parcialmente nublado/ chuva fraca

Parcialmente nublado/ chuva fraca

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Nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

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Céu nublado/ chuva moderada e trovoada

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Parcialmente nublado/ chuva fraca com trovoada

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Céu nublado/ chuva fraca a moderada

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Céu nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

MBANZA CONGO

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UIGE

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Estado do Tempo

NDALATANDO

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Céu nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

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Nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

MALANJE

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Nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

DUNDO

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Céu nublado/ chuva moderada e trovoada

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Nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

SAURIMO

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Céu nublado/ chuva moderada e trovoada

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Nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

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Nublado/ chuva moderada a forte e trovoada

BENGUELA

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Céu parcial nublado/ chuva fraca

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Céu parcial nublado/ chuva fraca

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Céu Pouco nublado

HUAMBO

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Parcialmente nublado/ chuva fraca com trovoada

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Céu parcial nublado/ chuva fraca

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Céu parcial nublado/ chuva fraca

CUITO

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Céu Pouco nublado

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Céu Pouco nublado

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Céu Pouco nublado

LUENA

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Céu parcial nublado

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Céu Pouco nublado

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Céu Pouco nublado

LUBANGO

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Céu parcial nublado/ chuva fraca

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Céu parcial nublado/ chuva fraca

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MENONGUE

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Céu Pouco nublado

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Céu Pouco nublado

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Céu Pouco nublado

MOÇÂMEDES

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Céu Pouco nublado/ neblina matinal

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Céu Pouco nublado/ neblina matinal

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Céu Pouco nublado/ neblina matinal

ONDJIVA

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Céu Pouco nublado ou limpo

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Céu Pouco nublado ou limpo

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Céu Pouco nublado ou limpo

O Meteorologista: Domingos Nsoko Pedro e Maria do Nascimento

Luanda, 23 de Abril de 2020

REGIÃO NORTE: Províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Lunda-Sul: Céu parcialmente nublado em quase toda a região, com períodos de muito nublado durante a noite e madrugada nas províncias do Zaire, Uíge, Malanje, luanda, lunda-Norte e lunda-Sul. Períodos de ocorrência de chuva moderada a forte, acompanhada, por vezes, de trovoada, em alguns municípios das províncias do Zaire, Uíge, lunda-Norte, Malanje e Cuanza-Norte, e chuva fraca com tendência a moderada acompanhada, por vezes, de trovoada, em alguns municípios das províncias de luanda, Bengo, Cuanza-Sul, lunda-Sul e Cabinda. REGIÃO CENTRO: Províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico Céu parcialmente nublado na província de Benguela, nublado nas províncias do huambo, Bié e Moxico. Períodos de céu muito nublado pela madrugada nas províncias do huambo e Bié. Períodos de ocorrência de chuva fraca em alguns municípios das províncias de Benguela e huambo. REGIÃO SUL: Províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango: Céu pouco nublado ou limpo em quase toda a região, tornando-se parcialmente nublado durante a noite nas províncias do Namibe e huíla. Períodos de ocorrência de chuvisco ou chuva fraca em alguns municípios da província da huíla e neblina ou nevoeiro matinal em alguns municípios da província do Namibe.

Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, Rua 21 de Janeiro – Tel.: 949320641 – Luanda. Site: http://www.inamet.gov.ao; emails: geral@inamet.gov.ao / geral.inamet@angola-portal.ao

TEMPO NO MAR

Fonte: INAMET

3. DESCRIÇÃO SINÓPTICA DAS 18:00 UTC DO DIA 23/04/2020 ÀS 18:00 UTC DO DIA 24/04/2020

BolETIM METEoRolÓGICo PARA A NAVEGAÇÃo MARÍTIMA

o Anticiclone de Santa helena, com sua pressão central de 1025hPa, desloca-se para leste, influenciando o padrão e a intensidade do vento durante as próximas 24 horas. Assim, prevê-se ondas máximas de entre 1.3 e 2.0 metros na regiões marítimas de Cabinda a Benguela e 2.4 metros para a região marítma do Namibe. Prevê-se visibilidade inferior a 5 km devido à possibilidade de ocorrência de chuva, acompanhada, por vezes, de trovoada, na região marítima do Namibe.

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIA 23 DE ABRIL DE 2020: INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA - INAMET

Centro Nacional de Previsão do Tempo Circulação Sul-Sudeste moderada entre os paralelos 4°S e 18°S (Cabinda ao Namibe).

BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA

2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ ÀS 18:00 TU DO DIA 24 DE ABRIL DE 2020:

CARTA DO VENTO MÁXIMO E DA ALTURA DA ONDA MÁXIMA PREVISTA

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIA 23 DE ABRIL DE 2020: Circulação de Sul-Sudeste moderada entre os paralelos 4°S a 18°S (Cabinda à Namibe). 2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 24 DE ABRIL 2020: NÃO HÁ AVISO.

NÃO HÁ AVISO.

REGIÃO

ESTADO DO TEMPO

VENTO

(ATÉ 200 MILHAS DA COSTA)

os contornos a cores indicam a altura máxima da ondulação e os contornos em tom cinza indicam os possíveis incrementos das vagas devido à influência do vento local.

ALTURA DA ONDA (METROS)

ESTADO DO MAR

DIRECÇÃO FORÇA (KT)

Cabinda (4°S – 6°S)

Chuva Trovoada

Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul (6°S – 12°S) Benguela (12°S – 14°S)

Chuvisco

Parcialmente Nublado

Namibe (14°S – 18S)

Parcialmente Nublado

VISIBILIDADE HORIZONTAL (KM)

SulSudeste

Até 12

Até 1.5

Agitado

Fraca (Inferior a 5 km)

SulSudeste

3 a 15

1.3 à 1.9

Agitado

Fraca (Inferior a 7 km)

SulSudeste

Até 15

Até 2.0

Agitado

SulSudeste

Até 22

Até 2.4

Agitado

Moderada a boa (Superior a 5 km)

Moderada a boa (Superior a 5 km)


CLASSIFICADOS emprego

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

imobiliário

31

diversos

Maria Teixeira, Jornalista do Jornal OPAÍS


ÚLTIMA

32

O PAÍS Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

‘Todas as regras são ignoradas’: agentes de saúde dos EUA denunciam descaso no combate à Covid-19 Agentes de saúde dos EUA contam como a falta crónica de equipamentos médicos e de planeamento estratégico comprometem a reposta dos EUA à propagação da ovid-19 DR

A

Sputnik conversou com agentes de saúde dos EUA que confirmam os dados divulgados pela Comissão de Fiscalização do Congresso dos EUA que estima que 90% do stock nacional de equipamentos de protecção pessoal (EPI) já foram utilizados. Uma enfermeira da cidade de Cleveland, Ohio, contou que os agentes de saúde estão a trabalhar “com as mãos atadas”. A falta de EPI faz com que os agentes trabalhem com o medo constante de serem infectados pelo novo coronavírus. “Temos vários membros da nossa equipa da área de UTI neo-natal que testaram positivo. É estranho, porque não sabemos como eles podem ter sido infectados”, contou a enfermeira. “Estamos a usar máscaras cirúrgicas comuns durante o nosso turno de 12 horas. Estamos quase sem lenços humedecidos, por isso eu uso lenços com cloro e álcool em spray para me proteger. Luvas, máscaras e protectores faciais que

temos que usar para interagir com os pacientes estão quase a acabar.” A enfermeira, que conversou com a Sputnik na condição de anonimato, diz ter medo de ser despedida por falar com a imprensa. Mas, como ela e os seus colegas têm muito medo de ser infectados, a pressão psicológica do trabalho está cada vez mais insustentável. “Eu fico a me perguntar se é realmente seguro. Você não pode dizer a um paciente que a enfermeira que está a cuidar do filho dele pode ter sido exposta [ao novo coronavírus]”, disse. “O meu maior medo é adoecer, porque nem sempre vou saber que estou doente, e posso acabar por infectar pacientes e colegas.” Quando o turno da enfermeira acaba, ela deixa as suas roupas do lado de fora da casa, com medo de que o vírus entre também. “Todo o sistema de saúde está sob pressão. Eles dizem que os EUA têm o melhor sistema de saúde do mundo, mas isso não é verdade”, desabafou. “Há três meses, vimos como a pandemia se espalhou na China. O governo federal [dos EUA] sabia e não fez nada. O planeamento

foi terrível.”Ela conta que os estados norte-americanos estão a tentar obter equipamentos, mas o governo federal faz ofertas melhores e fica com as mercadorias. “Eles precisam delinear um plano. Eu sinto que eles não estão a levar a questão à sério.” O relatório do Congresso dos EUA informou que o Departamento de Saúde e Recursos Humanos fez a sua última encomenda de respiradores N95, máscaras cirúrgicas, protectores faciais e luvas no início de Abril. O restante das reservas está a ser reservado para agentes de saúde do sistema federal e não deve ser redistribuído aos Estados, informou o relatório. Uma enfermeira aposentada que vive no Oeste dos EUA contou como a pandemia está a afectar a sua categoria. “Quando coisas assim acontecem, todas as regras são ignoradas. É como pedir a um agente policial ir combater o crime sem um colete à prova de balas”, disse. A enfermeira, que é veterana da Força Aérea dos EUA, afirmou que as consequências de enviar agentes de saúde sem protecção para a linha da frente são duradouras. “O sistema de saúde não se vai recuperar. As pessoas terão sintomas por anos, como aconteceu com o agente laranja”, lembrou. A Organização Nacional de Médicos e Enfermeiros dos EUA está a mobilizar-se para solicitar melhores condições de trabalho durante a pandemia. A União Nacional das Enfermeiras (NNU, na sigla em inglês), o maior sindicato da categoria nos EUA, já havia alertado às autoridades sobre os riscos que os agentes de saúde estão a correr. A NNU reagiu contra a decisão do Centro de Controlo de Doenças de diminuir o padrão de protecção dos agentes de saúde, permitindo aos hospitais que os seus funcionários usem cachecóis ou mesmo bandanas para se proteger durante o atendimento aos pacientes. Os EUA são o país mais afectado pela Covid-19 mundialmente, com mais de 842 mil casos.

O que saber sobre o Coronavírus…

“O

álcool ou qualquer mistura com álcool a mais de 65% dissolve qualquer gordura, sobretudo a camada lipídica externa que protege o vírus”. “Qualquer mistura com uma parte de cloro e cinco partes de água dissolve directamente a proteína, desintegrando o vírus”. “o vírus não é um organismo vivo, mas sim uma molécula de proteína (ARN) coberta por uma camada protectora de lípido (gordura), que ao ser absorvida pelas células das mucosas ocular, nasal ou bucal, alteram o código genético delas (mudam) e as convertem em células agressoras multiplicadoras”. “o vírus conserva-se muito estável em ambientes frios, húmidos e escuros”. “Nenhum bactericida serve! o vírus não é um organismo vivo como a bactéria, e se não está vivo não se pode matar com antibióticos, os vírus são desintegrados. Daí que a solução está em romper a sua cadeia de propagação e mutação”. “o vírus não atravessa a pele sã”. “o calor muda o estado da matéria da gordura da camada protectora do vírus, por isso é bom usar água a mais de 25 graus centígrados para lavar as mãos, a roupa e locais em que nos encontremos”.

“Não sacudam! Esfreguem as superfícies com álcool, cloro (lixívia), água oxigenada ou detergente! o vírus agarrado a uma superfície se desintegra algum tempo segundo a matéria de que é feita esta superfície. 3 horas (tela porosa), 4 horas (cobre e madeira), 24 horas (cartão), 42 horas (metal) e 72 horas (plástico). Se se sacudir o vírus volta a flutuar no ar e pode alojar-se no nariz”. “Como o vírus não é um ser vivo senão uma molécula de proteína, não se mata, mas se desintegra. o tempo de desintegração depende da temperatura, humidade e tipo de material onde repousa”. “A água oxigenada dissolve a proteína do vírus, isto ajuda muito depois do uso de sabão, álcool ou cloro para atacar o vírus, mas há que usá-la pura e se se usar na pele a pode ferir”. “o vírus é muito frágil, o único que o protege é uma camada externa muito fina de gordura, por isso é que qualquer tipo de sabão é o melhor remédio, porque a espuma corta a gordura (há que esfregar-se por 20 segundos no máximo e fazer muita espuma. Ao dissolver a camada de gordura se dispersa e desintegra por si”. UMA RECoMENDAÇÃo VAlIoSA Use a mão não dominante para abrir as portas em casa, escritório, transporte, banhos, etc., já que é muito difícil que venha a tocar o rosto com essa mão. Na Coreia do Sul foi muito difundida esta iniciativa.


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