Jornal OPaís edição 1887 de 03/07/2020

Page 1

Covid-19 mata dois, infecta 24 e permanece sem fonte de contágio em 49 Em Foco: Mais dois angolanos morreram por Covid-19 e 24 novos infectados foram detectados nas últimas 24 horas, dos quais seis sem vínculo epidemiológico definido, elevando a cifra para 49 casos. No entanto, 97 pessoas estão recuperadas, disse o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda. P. 2

opaís

Director: José Kaliengue www.opaís.co.ao e-mail: info@opaís.co.ao @jornalopaís facebook/opaís.angola @jornalopais

O diário da Nova Angola

Edição n.º 1887 Sexta-feira, 03/07/2020 Preço: 40 Kz

dr

Sindicato dos bancários insurge-se contra despedimentos no BPC Em carta aberta endereçada ao PCA do BPC e levada ao conhecimento dos accionistas, o Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola invoca a pandemia da Covid-19 como razão para se adiar o despedimento. P. 19

“Terrorismo em Moçambique já afecta psicologicamente toda a região” entrevista. Calton Cadeado é moçambicano, professor de Estudos de Defesa e Segurança, analista político e de política externa. Em entrevista a “OPAÍS”, aborda a questão do terrorismo em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, e as implicações na SADC. P. 22 af_bai_nahora_imprensa_276x42,733mm_empresa.pdf

2

18/11/19

15:05

Polícia acusada de impedir conferência de imprensa do PRA-JA Servir Angola

Jorge Semedo pode “trocar” a música pelo desporto

A Polícia Nacional, na Huíla, está a ser acusada de ter interrompido, ontem, na cidade do Lubango, uma conferência de imprensa do projecto político PRAJA Servir Angola. P. 9

O músico Jorge Semedo, candidato único à presidência da equipa sénior masculina de hóquei em patins da Académica de Luanda, pode ser amanhã eleito para o ciclo olímpico 2020/2024. P. 26


EM FOCO

2

O PAÍS Sexta-feira,03 de Julho de 2020

ACTUALIZAÇÃO COVID-19 Diária sobre o Coronavírus A partir do Centro de Imprensa Aníbal de Melo

Covid-19 mata dois, infecta 24 e permanece sem fonte de contágio em 49 Mais dois angolanos morreram por Covid-19 e 24 foram infectados foram detectados nas últimas 24 horas, dos quais seis sem vínculo epidemiológico, elevando a cifra para 49 casos. No entanto, 97 pessoas estão recuperados, disse, ontem, em Luanda, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda

Maria Teixeira

O

s casos de morte por Covid-19 têm aumentado todos os dias desde o início desta semana que está prestes a terminar. Só está semana foram registadas as mortes de sete pessoas, das quais duas ontem, somando já 7 o total. Angola está há três dias consecutivos a registar mortes, tendo já um total de sete mortos. Entretanto, ontem, com mais duas pessoas que morreram, chegouse ao total de 17 óbitos. Em relação às duas pessoas que morreram, Franco Mufinda esclareceu que o primeiro se trata de um cidadão angolano de 67 anos de idade que esteve internado há poucos dias na Clínica Girassol, em estado crítico. O mesmo tinha outras doenças de base, como a hipertensão arterial e diabetes. Já o segundo cidadão, igualmente angolano, de 54 anos de idade, morreu no Hospital Militar. Por ser uma pessoa com diabetes, de acordo com o secretário, teve assistência médica logo à entrada, mas, infelizmente, teve a morte. O governante, que falava no habitual balanço diário sobre a pandemia no país, no CIAM, em Luanda, esclareceu que dos 24 casos positivos, 18 são de transmissão local, relacionados com casos já existentes, e seis sem


O PAÍS

Sexta-feira,03 de Julho de 2020

vínculo epidemiológico. Entretanto, disse que as idades dos contagiados variam dos 10 aos 69 anos, dos quais 15 são do sexo feminino e nove do sexo masculino. Em Luanda, o epicentro da doença, os municípios mais afectado são os da Maianga, Belas, Samba, Talatona e Ingombota. Assim sendo, a estatística aponta para 49 casos positivos sem vínculo epidemiológico. “Apelamos uma vez mais à revisão da nossa conduta no cumprimento das medidas de prevenção, o uso da máscara, a lavagem frequente das mãos, o distanciamento físico ou até social”, apelou Mufinda. Acrescentou de seguida: “a não violação das cercas sanitárias e, sobretudo, o acatamento das medidas contidas no Decreto sobre

Nambi Wanderley

3

Calamidade Pública”. Reiterou, por outro lado, a necessidade de se repensar as condutas e atitudes de risco que expõem cada vez mais as pessoas, “uma vez que esta doença mata. Infelizmente, há tês três dias consecutivos que se vai reportando óbitos”. “E chamamos aqui a consciência de cada um para revisão destas medidas, das nossas atitudes, e evitar a exposição. Vamos rever o cumprimento das medidas de prevenção que são atitudes menores”, alertou. Angola com 315 infectados com Covid-19 Com estes casos, o país tem um total de 315 infectados, dos quais 229 foram contaminados dentro do território nacional. Os dados da Comissão Multissectorial de Prevenção e Combate à Covid-19 apontam que 17 pessoas perderam a vida, 97 conseguiram recuperar e há 201 que estão activos e a beneficiar de assistência médica. O Centro Integrado de Segurança Pública (CISP) recebeu, nas últimas 24 horas, 102 chamadas, das quais três denúncias de violação do estado de calamidade e 98 relacionadas com pedidos de informação sobre a Covid-19. Em relação ao laboratório, Franco Mufinda fez saber que o país tem um cumulativo, até a data presente, de 26.567 amostras recebidas, das quais 315 positivas, 20.265 negativas, sendo que as restantes encontram-se em processamento.

Mais de 400 amostras processadas em 24 horas “Nas últimas 24 horas conseguimos processar 436 amostras, sendo 24 positivas”, frisou. Por outro lado, Franco Mufinda disse que se encontram a observar a quarentena institucional em todo o país 1.322 pessoas, sendo que 49 pessoas receberam alta nas últimas 24horas, das quais 38 na província em Luanda, quatro em cada uma das províncias de Malanje e Huíla, ao passo que no Bié, Huambo e Moxico foi uma em cada.

Fez saber que os casos suspeitos investigados são 515, enquanto os contactos sob investigação são 2.215 pessoas. O secretário de Estado para a Saúde Pública disse que ontem deram início a um trabalho de comunicação que visa a educação das comunidades com a inclusão de lideranças juvenis no seio das comunidades na província de Luanda. Com essa actividade, pretendem massificar a divulgação de mensagens curtas e concisas para levar as pessoas a prevenir-se cada vez mais da contaminação por Covid-19. Entre as actividades realiza-

ANÚNCIO DE VAGA A Universidade Internacional do Cuanza, criada pelo Decreto Presidencial número 61/20 publicado no Diário da República Série I, de 3 de março de 2020, inicia um processo selectivo para contratação de seu Secretário Geral. Imprescindível: - Formação universitária relacionada directamente com as áreas de Direito e/ou Administração do Estado. Qualificação positiva à menção de Doutor em Direito ou Advocacia. - Competência comprovada em formação, responsabilidade e compromisso com o trabalho, pois actuará como Ministro de Fé nos processos acadêmicos e administrativos da Universidade, assessorando o reitorado e aos decanatos, em todas as funções que a este lhe compete. - Competência e experiência em processos administrativos universitários ou na Administração Geral das universidades de Angola. - Capacidade comprovada em liderança na direção e incentivo do trabalho em equipa nos sectores de Admissão de Alunos, Secretaria Acadêmica e Registro Universitário (expedientes de alunos, títulos e diplomas). Envie a sua candidatura E-mail: info@unic.co.ao Telemóveis: 932 884 895 / 993 908 786 www.unic.co.ao

uma vez que esta doença mata. Infelizmente há tês três dias consecutivos que se vai reportando óbitos”

das noutras províncias no âmbito da prevenção e combate à Covid-19, disse que prosseguem as formações em matérias de prevenção, a distribuição dos materiais de bio-segurança e equipamentos hospitalares. Franco Mufinda salientou que a prevenção da Covid-19 é de responsabilidade individual e colectiva. De recordar que o novo Coronavírus (SARS-CoV), responsável pela pandemia da Covid-19, surgiu na China em Dezembro em 2019. O surto espalhou-se pelo mundo e já vitimou centenas de milhares de pessoas.

Cuito, aos 28 de junho de 2020


4 destaques política. PÁG. 8 Governo de Benguela diz que não vai tolerar incumprimentos no PIIM

SOCIEDADE. PÁG. 10 Supostos assassinos contam como mataram o comandante do posto da Polícia da Boa-Fé

o editorial

O PAÍS

hoje: os números do dia

4

A grande pressão

S

e a principal promessa de João Lourenço candidato a Presidente da República foi a criação de quinhentos mil postos de trabalho, esta promete ser o seu maior problema enquanto Presidente da República. Maior do que a Covid-19 até agora. cartaz. PÁG. 14SADIA apoia autores e artistas que estão desde Março sem rentabilizar com cartões de compras

Economia. PÁG. 18 Navio pesqueiro

apreendido com 800 toneladas de carapau

Entrevista. PÁG. 22 “Terrorismo em Moçambique já afecta psicologicamente toda a região”

Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

É que João Lourenço herdou um país já em profunda crise económica à qual se veio juntar a Covid-19 com o seu séquito de consequências nefastas. Sendo uma delas o desemprego. Empresas fecham e mais gente vai para casa. Na verdade, com o comportamento da economia angolana até ao eclodir da pandemia, dificilmente a situação seria diferente. Entretanto, e porque muitas empresas fecham e o PIIM não absorve toda a mão-de-obra disponível, nem as obras que eventualmente venham a ser lançadas proximamente, os concursos para ingresso na função pública são a saída, demasiado estreita, mas é para aí que estão virados os olhos de mais do que quinhentos mil. Todos os concursos serão polémicos. Cada vez mais.

28

Joy Phumaphi secretária executiva da Aliança de Líderes Africanos Contra a Malária, sobre os efeitos da Covid-19

Mil milhões 677 milhões 004 mil e 367 kwanzas é o valor remanescente dos 100 mil milhões aprovados para compra de títulos públicos às empresas, pelo Banco Nacional de Angola (BNA).

560

Jovens serão formados no país para sensibilização da população sobre informação e riscos da Covid-19, numa iniciativa do Ministério da Juventude e Desporto, em parceria com o Ministério da Saúde

5987

“ o que foi dito “ Foram feitos progressos significativos, com 93 milhões de casos de malária e 500 mil mortes evitadas todos os anos, mas o progresso estagnou.

Escolas de sete salas de aulas cada, com capacidade para dois mil e 900 alunos, estão a ser erguidas no município da Baíafarta, 27 quilómetros a Sul da cidade de Benguela, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).

Amostras de cidadãos suspeitos de Covid-19 aguardam pelos resultados de despiste ou confirmação de casos positivos, numa altura em que o país regista um total de 315 infectados pelo novo Coronavírus.

Recebemos muitos pedidos de outros países, mas eu preciso dizer uma coisa: é um curso para aprender sobre ninjas, não para se tornar um.” É essencial que as autoridades de saúde teGenichi Mitsuhashi O primeiro mestre em estudos nham a confiança dos ninjas, formado na Universidade neozelandeses” Mie, no Japão

Jacinda Ardern Primeira-ministra da Nova Zelância, sobre a saída do Governo do ministro da Saúde, David Clark, por ter furado o confinamento para um passeio na praia


O PAÍS

Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

5 e assim... José Kaliengue Director

Hoje no online de O PAÍS leia a entrevista com o cientista político Sérgio Dundão e compreenda mais sobre os principais problemas políticos que afligem o país

Piim, pam, pum

T

www.opais.co.ao Myanmar: A forte chuva que caiu no Norte de Myanmar, antiga Birmânia, provocou um deslizamento de terra numa mina de Jade. 113 Pessoas perderam a vida. (DR)

o que vai acontecer Sociedade As crianças do orfanato da missão Católica da Hanga, da Congregação das Irmãs de São José Cluny, no município do Bailundo (Huambo), recebem hoje, Sexta-feira, bens diversos de primeira necessidade, numa iniciativa do Governo local. Entre os bens, entregues pelo vice-governador da província para o sector Político, Social e Económico, José Cornélio, constam roupa usada, com realce para casacos, e farinha de milho (fuba), com vista a mitigar as dificuldades que os petizes enfrentam, sobretudo do ponto de vista de agasalhos e alimentação nesta época de Cacimbo.

Sociedade A cidade de Caxito continua sem água nas torneiras, por se cumprir mais um dia da paralisação dos trabalhadores da Empresa Pública de Águas e Saneamento do Bengo (EPAS), por tempo indeterminado, devido à falta de pagamento de sete meses de salário. Com isso, a cidade de Caxito encontra-se privada do abastecimento de água potável desde Segundafeira (29 de Junho). Os trabalhadores da EPAS Bengo exigem o pagamento do salário acumulado de sete meses, assim como equipamentos de protecção individual e a assinatura de contratos.

Pandemia A província da Huíla, através da Faculdade de Medicina da Universidade Mandume Ya Ndemufayo, recebe, nesta Sexta-feira, materiais diversos de prevenção e combate à Covid-19, com realce para reagentes para a viabilização de testes de SARS-CoV-2. A doação insere-se num projecto apoiado pela República de Portugal, contemplando igualmente equipamentos de protecção individual e aparelho PCR-RT, a ser instalado no laboratório da referida intituição académica, reporta uma nota citada pela Angop ontem.

O documento do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação refere que o equipamento em causa terá capacidade para 120 testes/dia, com os resultados a serem conhecidos 24 horas depois, através de um processo local, que exclui o envio de a Pandemia O Ministério da Saúde apresenta hoje em conferência de imprensa o estado actual do novo Coronavírus (Covid-19), na sede do CIAM, em Luanda, a partir das 19 horas.

oda a gente sabe o que é o pim, pam, pum, basta ter sido criança. Bem, estas crianças de agora já não sei não, mas não por culpa delas, e sim por culpa dos pais, dos adultos de agora, que já não as ensinam a brincar. Os ricos estão muito ocupados a comprar-lhes telefones, computadores e óculos de realidade virtual. Os pobres, ou não têm disposição, ou estão na luta pela refeição do dia seguinte. E há ainda os inconscientes, que perderam alma e não valorizam a importância da brincadeira para a formação de uma pessoa saudável e equilibrada. E nisto de brincadeiras, num país sério se admite que as conferências de imprensa sobre a Covid-19 não tenham um calendário estabelecido e dependam da vontade do Governo? Já não lhes bastava responderem apenas a perguntas “convenientes” como vimos nas últimas? Aqui nos brincam, mas brincam tão mal que fica feio para uma democracia. Ou seja, mandam-nos às favas. Não aos jornalistas, ao povo, que tem muitas dúvidas para as quais gostaria de obter respostas. Se é que este país ainda é de todos, né? Mas uma meninice com boas brincadeiras teria educado melhor certas pessoas para a democracia, para perguntas e respostas, para valorizar os ouros também. Os números sobem todos os dias e simplesmente não há explicações a dar. Mas sabemos que com crianças não há meias medidas, não sabe brincar, acaba sozinho. E as crianças decidem isso votando. Já agora, que uns se dão de muito sérios, piim, pam, pum, vamos ver quem será mais sério na execução do PIIM, lá em cima há um copo com veneno, (perdão, dinheiro), quem pegar... bem, se calhar não vai passar nada, aqui já é hábito. O mesmo hábito de prometerem que empreiteiro que falhar vai pagar. Em Benguela repetiram a promessa. “Não vamos tolerar empreiteiro que...”. afinal em Benguela alguém aprendeu a brincar em criança. E continua... piim, pam, pum... és mesmo tu! saudades da infâmcia, era tão divertido.

E também... Dia Internacional Sem Sacos de Plástico - 3 de Julho O objectivo da data é chamar a atenção para a produção e para o consumo excessivo de sacos plásticos a nível mundial, propondo-se alternativas para resolver este sério problema ambiental. Estima-se que um cidadão na Europa consome cerca de 500 sacos plástico por ano, que acabam no lixo ao fim de meia hora de utilização, ou então no meio-ambiente, criando-se vastas ilhas de lixo plástico nos oceanos (80% da poluição marinha). Como os animais confundem o plástico com alimentos, eles acabam por morrer pela ingestão de plástico.


6 Media Nova, S.A Presidente do Conselho de Administração Filipe Correia de Sá Administradores Executivos Luís Gomes Paulo Kénia Camotim Propriedade : Socijornal Depósito Legal: Nº 244/2008 Contribuinte: 5417015059 Nº registo estatístico: 48058

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

no tempo do kaparandanda

Director Geral de Publicações: José Kaliengue jose.kaliengue@opais.co.ao

opaís

Director: José Kaliengue Sub-Director: Daniel Costa, daniel.costa@opais.co.ao Chefe de Redacção: Eugénio Mateus, eugenio.mateus@opais.co.ao Editorias : Política: Ireneu Mujoco ireneu.mujoco@opais.co.ao (Editor) Sociedade: Paulo Sérgio paulo.sergio@opais.co.ao (Editor) Romão Brandão romao.brandao@opais.co.ao (Sub-editor) Economia André Mussamo andre.mussamo@opais.co.ao (Editor) Desporto: Sebastião Félix sebastiao.felix@opais.co.ao (Editor) Mário Silva mario.silva@opais.co.ao (Sub-editor) Cartaz: Jorge Fernandes jorge.silva@medianova.co.ao (Sub-editor) Redacção: Alberto Bambi, Augusto Nunes, Miguel Kitari, Domingos Bento, Neusa Filipe, Milton Manaça, Antónia Gonçalo, Maria Teixeira, Patrícia Oliveira, Stela Cambamba, Zuleide de Carvalho (Benguela), Brenda Sambo, Maria Custódia e Adjelson Coimbra. Arte: Ladislau Bernardo (Coordenador) Valério Vunda (Coordenador adjunto), Annette Fernandes, Nelson da Silva e Francisco da Silva. Fotografia: Carlos Moco (Editor), Daniel Miguel (Sub-editor), Pedro Nicodemos, Jacinto Figueiredo, Carlos Augusto, Virgílio Pinto, Lito Cahongolo (repórteres fotográficos), Rosa Gaspar e Yuri dos Santos (Assistentes de Departamento) Agências: Angop, AFP, Reuters, Getty Images

Assistentes de Redacção: Antónia Correia, Rosa Gaspar, Sílvia Henriques Impressão e acabamento: DAMER, S. A. Luanda Sul, Edifício Damer Distribuição: Media Nova Distribuição Tel: +244 943028039 Distribuidora@medianova.co.ao pontodevenda@medianova.co.ao Assinaturas: Bruno Pedro Tel: +244 945 501 040 Bruno.Pedro@medianova.co.ao Online: Venâncio Rodrigues (Editor) Isabel Dalla e Ana Gomes Sítio Online: www.opais.co.ao Contactos: info@opais.co.ao Tel: 914 718 634 -222 003 268 Fax: 222 007 754 Sede: Condomínio ALPHA, TalatonaLuanda. Tel: 222 009 444 República de Angola

Comercial e Marketing: Senda Costa 922682440 email: comercial@medianova.co.ao Tiragem: 15 000 exemplares

1850

03 de Julho de - Nasce, em Lisboa, o compositor Alfredo Keil, autor da música de “a Portuguesa”, Hino Nacional Português.

03 de Julho de 928 - A primeira

transmissão de TV a cores é feita em Londres por J.L. Baird.

03 de Julho de

1987

- Klaus Barbie, conhecido como “o Carniceiro de Lyon” pelos crimes cometidos como chefe da Gestapo nesta cidade francesa, durante a Segunda Guerra Mundial, é condenado a prisão perpétua.

carta do leitor

Mais vale respirar do que ter partes Caro director Mas assim mesmo só agora é que os angolanos decidiram que devem fazer exercícios físicos? Então a COvid-19 está fazer bem. Não sei em Luanda, mas aqui em Benguela, está uma confusão. Querem fazer exercícios todos juntos e onde não devem. Na estrada, nos jardins, até os que não comeram nada querem fazer exercícios, sem saber que o exercício pode fortalecer mais também enfraquecer o Organismo. Em Luanda, como não estou lá, não sei se é montagem, mas aquilo de toso se juntarem numa ponte para fazer exercícios é o quê? A ponte para o céu? Cuidado, nem todos irão para o céu. É preciso ter juízo. Exercício pode-se fazer mesmo em casa, basta trinta minutos, não é preciso mais. Basta um espa-

dr

ço de dois por dois. Mas espaço é para profissionais, se é só pata condicionar o corpo ou para ficar em dia, para as mulheres, não é preciso ir para a rua mostrar as partes. Mas também tanta preocupação para

quê? Se o Covid te apanha, minha irmã, lá no fundo da terra não vai servir para nada. Depois de uns meses já és só osso, os bichos vão comer as partes. O melhor é se pouparem, não se misturarem, depois vi-

rá o bom tempo, mas só para aquém sobreviver. O importante não é o físico, é respirar. Isidora Madeira Bengueça

Escreva para o Jornal OPAÍS através do e-mail info@opais.co.ao ou ligue para estes contactos Tel: 222 003 268 Fax: 222 007 754


NÃO COMPRE MOEDA ESTRANGEIRA NA RUA! O RECURSO AO MERCADO INFORMAL PARA A NEGOCIAÇÃO DE MOEDA É ILEGAL E ACARRETA RISCOS: Existem muitas notas falsas em circulação no mundo inteiro. Não há garantia de que as notas da moeda estrangeira que comprar sejam autênticas. Não terá um recibo de compra para apresentação às autoridades, de forma a confirmar a legalidade da posse e da origem da moeda estrangeira, podendo vir a ser apreendida. O seu dinheiro poderá ser associado a recursos provenientes de tráfico de drogas, armas e outras actividades ilícitas, ficando sujeito às sanções aplicáveis.

RECORRA SEMPRE AOS BANCOS COMERCIAIS E CASAS DE CÂMBIO AUTORIZADAS PARA A AQUISIÇÃO DE MOEDA ESTRANGEIRA Para mais informações consulte www.bna.ao ou contacte +244 222 679 226


POLÍTICA

8

O PAÍS

Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Governo de Benguela diz que não vai tolerar incumprimentos no PIIM O vice-governador provincial para o sector técnico e infra-estruturas, Leopoldo Muhongo, avisa que não se vão tolerar incumprimentos dos empreiteiros que executam obras inscritas no Plano Integrado de Intervenção nos Municípios e espera que estes sejam fiéis aos prazos contratuais

Constantino Eduardo, em Benguela

D

e acordo com Leopoldo Muhongo, da parte do Estado estão a ser asseguradas as condições orçamentais. À semelhança do que acontece um pouco pelo país, o vice-governador afirma que não há nenhuma obra em Benguela inscrita no PIIM que tenha arrancado sem a competente garantia orçamental, desta feita, na ordem dos 10 por cento. Falando à imprensa, depois de ter efetuado visitas de avaliação das empreitadas em curso no município da Baía-Farta, o vice de Rui Falcão no Governo de Benguela realça que as quatro novas escolas de 7 salas cada, que se erguem no município, deverão absorver, já em 2021, mais de 2000 alunos.

A província de Benguela, gabou-se Leopoldo, tem dado ao país alguma demonstração de transparência na adjudicação de empreitadas. Desde o momento em que uma construtora vence o concurso público, se obriga a cumprir os prazos contratuais e, neste particular, o Governo Provincial, garante, não vai tolerar nenhuma tentativa de desrespeito ao estabelecido nos acordos firmados entre as partes. “Naturalmente que aquelas pessoas que incumprirem vão ser responsabilizadas. O Estado, seguramente, não vai sair a perder disto”, garante. De acordo com Leopoldo, os indicadores que o Governo tem até agora são positivos, embora ressalte preocupações relacionadas, fundamentalmente, com ... “mais técnicos da obra, competência dos próprios técni-

cos que estão a acompanhar. Aí, sim, constitui uma preocupação particular(...), havendo uma desarticulação entre o empreiteiro e o fiscal’, considera. Entretanto, fontes d’ OPAÍS ligadas ao Gabinete de Infra-estruturas do Governo lamentam o facto de algumas administrações municipais não terem cumprido alguns pareceres técnicos emitidos por especialistas. As fontes esclarecem que o Gabinete Provincial de Infraestruturas não aprovou a colocação de uma escola na povoação Saco, arredores da comuna do Chamume. Do estudo de viabilidade feito no local, disse uma fonte, sob anonimato, concluiu-se que a infra-estrutura fica muito distante da população e devia ter sido instalada mais próximo das pessoas, o que vai obrigar a que muitas destas

percorram longas distâncias. “E aqui o único transporte é o burro”. A fonte manifestou receio em relação a alguns aspectos técnicos em determinadas empreitadas na Baía-Farta que, no seu ponto de vista, não terão sido acauteladas, argumentando, porém, que devia haver compatibilidade entre as vigas de sapato e os pilares de furação, a julgar pela salubridade que caracteriza o solo e o subsolo da Baía-Farta. Engenheiro de construção no Governo de Benguela, a fonte identifica um pendor político bastante significativo em algumas obras inscritas no PIIM e que, do ponto de vista de qualidade, ficam muito aquém do desejado. Quem discorda da narrativa da fonte que temos vindo citar é o vice-Leopoldo.

Questionado pelo OPAÍS, o governante esclarece que, por aquilo que constatou, a componente qualidade está devidamente acautelada, embora apontasse falha inspectiva na obra de construção de 7 salas de aula na comuna do Dombe, povoação do Calundo, orçada em 83 milhões de kwanzas. “Encontrámos também muitos elementos positivos do ponto de vista de garantir maior durabilidade das próprias empreitadas”, disse. A província de Benguela tem inscritos 62 projectos no PIIM, suportados por um orçamento global na ordem dos 11. 446.924.592 (onze mil milhões quatro cento e quarenta e seis milhões e novecentos e vinte e quatro mil e quinhentos e noventa e dois kwanzas).


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

9 PEDRO NICODEMOS

Polícia acusada de impedir conferência de imprensa do PRAJA Servir Angola A Polícia Nacional na Huíla está a ser acusada de ter interrompido, ontem, na cidade do Lubango, uma conferência de imprensa do projecto político PRA-JA Servir Angola

A

João Katombela, na Huíla acusação foi feita pelo coordenador deste projecto na Huíla, Serafim Simeão, cujo acto serviria para informar aos seus membros sobre o actual momento que atravessa este projecto político. Em declarações à imprensa, informou que a referida conferência de imprensa teria decorrido no largo 1º de Maio, e conta-

ria com a participação de todos os meios de comunicação social sedidos na província da Huíla. Explicou que para o uso deste espaço público recentemente reinaugurado, a sua organização política dirigiu à Administração Municipal do Lubango uma nota a comunicar a realização desta actividade. “Este é um local público, nós não solicitamos, mas demos a conhecer, como regem as normas administrativas e a Administração Municipal tomou conhecimento e, logo, vimos fazer aqui uma conferência de imprensa, com um tempo de 30 mi-

nutos, e a Polícia impediu-nos de realizar a actividade, alegando cumprir ordens superiores”, denunciou. Questionado sobre as razões da escolha do local para a realização da aludida conferência de imprensa, Serafim Simeão respondeu que a escolha do espaço visou observar as normas de prevenção da propagação da Covid-19. “A razão primordial foi que primeiro queríamos cumprir com as obrigações que visam o cumprimento das normas sobre o distanciamento social que se exige em função da Covid-19, já que estamos num espaço aberto e próximo da nossa sede”, explicou. Sobre o assunto, OPAÍS contactou o administrador adjunto do Lubango para a área Técnica, Orlando Brás, que se recusou a falar sobre o assunto.

Manifestações À margem da abortada conferência de imprensa, Serafim Simeão anunciou que caso o Tribunal Constitucional não reconheça o PRA-JA Servir Angola e transformá-lo em partido político, na província da Huíla os membros prometem fazer manifestações por tempo indeterminado. Segundo o político, que já foi secretário executivo da CASACE nesta província, a manifestação servirá como forma de pressionar o tribunal para reconhecer este projecto político liderado por Abel Chivukuvuku. Serafim Simeão fez saber que esta é “uma posição tida como plano B”, acrescentando que se o Tribunal Constitucional voltar a chumbar administrativamente o PRAJA Servir Angola, a manifestação será inevitável. Assinaturas recolhidas A nível da província da Huíla, de acordo com a fonte, foram recolhidas mais de mil assinaturas e autenticadas pelos serviços locais de notariado. “Nós tivemos assinaturas reconhecidas pelo Notário. São

mais de 1000 e o director dos Serviços Notariais confirmou através de um jornal, na semana passada, a autenticidade das mesmas”, sustentou a fonte deste jornal. Segundo a fonte, “esta é uma das informações que nós queríamos passar na conferência, mas fomos impedidos de o fazer, temos todos os instrumentos legais a nosso favor, com destaque para a Constituição”. Assegurou que já passam 35 dias desde que o PRA-JA Servir Angola interpôs recurso ao Tribunal Constitucional, mas até ao momento nenhuma luz se vislumbra no fundo do túnel. Para a fonte, este recurso está a ser aguardado com muita expectativa pelos membros em Angola e também na diáspora, pois determinará os objectivos que os seus mentores e seguidores perseguem, segundo ainda Serafim Simeão. Este projecto político já recebeu três chumbos do Tribunal Constitucional, sob a alegação de apresentar parte da documentação “não conforme” dos seus membros, segundo o órgão jurisdicional.


sociedade

10

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Supostos assassinos contam como mataram o comandante do posto da Polícia da Boa-Fé Dois supostos assassinos do inspectorchefe António Faustino Luamba, de 44 anos, comandante do Posto de Polícia do bairro da Boa-Fé, município de Viana, em Luanda, contam, num vídeo que se tornou viral nas redes sociais como cometeram este crime

O

cidadão trajado de camisola vermelha, aparentemente algemado, no interior de uma viatura, conta como ocorreu o confronto com o oficial da Polícia Nacional, conforme constatou OPAÍS no referido vídeo amador. Um dos supostos assassinos contou que estavam na rua quando viram duas pessoas a passarem, não sabiam que uma delas era o líder da equipa encarregue de assegurar a ordem e tranquilidade no bairro da Boa-Fé. Lhes ordenaram que parassem, com o propósito de lhes surripiarem os bens que transportavam. “Não sabia que era o comandante. Se agarramos”, contou o jovem. Segundo o suposto assassino, António Luamba resistiu, mas com desarmado no decorrer da briga. Em resposta, o seu comparsa Perci, outro presumível marginal, efectuou o disparo contra o mais alto responsável da Polícia Nacional naquele bairro. O acusado diz também que acabou sendo atingido por um dos disparos direccionados ao seu adversário, o oficial da Polícia. De seguida, meteram-se em fuga, apropriando-se dos bens materiais que a vítima transportava, incluindo uma pasta contendo o uniforme da corporação. Em posse de Perci, outro marginal que também foi detido, os agentes da Ordem encontraram a pistola, o uniforme e o telemóvel do malogrado. Perci tentou ludibriar os agentes alegando que o telemó-

vel era seu, porém, acabou por ser descoberto pois nele se encontrava guardado o contacto de um dos efectivos que participaram na sua detenção. Ele e os seus colegas de crime, que se encontram sob custódia da Polícia, declararam que trabalham como mecânico (Perci), acti-

vidades que conciliavam com a vida de crime. “Quem matou o comandante? Quem matou o comandante?” Questionou insistentemente a voz de um dos agentes que se encontravam na viatura. Os supostos marginais, em silêncio, procuravam ganhar coragem para assumir o crime que abalou fortemente a esfera policial na capital do país. “É o Perci, chefe”, respondeu um deles. De seguida, o agente da Polícia que estava a fazer a filmagem orientou um dos seus colegas que escondesse o rosto, pois mudaria a câmara em direcção ao rosto de Perci. “Perci mataste o comandante por que?” questionou o agente. O suposto marginal, de tronco

nu, atribuiu a culpa ao seu comparsa que o apontou como o autor dos tiros. “Ele é que me mandou disparar, chefe. Nunca matei pessoa antes. Fiz o tiro para o chefe lhe largar (ao outro marginal)”, frisou. De acordo com o presumível prevaricador, o tiro atingiu os dois, designadamente, o seu comparsa e o comandante António Luamba. “Você matou o nosso comandante! Tens noção do que acabaste de fazer?” Perci respondeu ser a primeira vez que tirava a vida de alguém. Jurou que o telemóvel do malogrado era seu. Cinco marginais contra dois polícias O Serviço de Investigação Cri-

DR

minal (SIC) de Luanda deteve, no total, cinco indivíduos, com idades compreendidas entre os 26 e os 53 anos, sobre os quais recaem fortes suspeitas de serem os autores deste crime. Os mesmos são mais conhecidos por Perci, Saraiva, Da Beleza, Zandu e Pausado. Conforme noticiou ontem OPAÍS, o SIC esclareceu que a detenção dos suspeitos ocorreu por volta das 5 horas de ontem, no decurso dos trabalhos de combate aos crimes considerados violentos. O “quinteto mortífero”, como está a ser designado, está a ser acusado pela prática dos crimes de associação de malfeitores, roubo qualificado e homicídio voluntário por disparo de arma de fogo. De acordo com um comunicado de imprensa do SIC, a que este jornal teve acesso, os marginais assassinaram António Luamba, por volta das 19h45 de Segunda-feira, 29. “Quando a vítima, em cumprimento de uma missão de serviço de patrulhamento na zona limítrofe entre Viana e Cacuaco, deparou-se com a acção dos marginais num assalto a pacatos cidadãos na via pública, no bairro Belo Monte”, diz o documento. Os marginais estavam munidos de armas de fogo do tipo pistola, modelo Barack e AKM (de cano serrado) e no momento em que praticavam as suas acções, aperceberam-se da presença de uma patrulha policial e abriram fogo, atingindo mortalmente a vítima na região lombar e fugiram. Explica que em resposta, os agentes da Ordem que integravam a patrulha responderam na mesma proporção e atingiram o antebraço de um dos presumíveis marginais, que responde pelo nome de “Zandu”, enfermeiro de profissão. No decorrer das investigações, foram apreendidas duas armas de fogo em posse do mesmo, dos tipos Pistola e AKM, utilizadas na acção e uma motorizada de marca Lingkente, de côr preta, que servia de apoio às suas acções ilícitas.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Estado de Emergência duplica taxa de prevalência do VIH/SIDA no Bengo

A

taxa de prevalência do VIH/SIDA na província do Bengo nos primeiros seis meses de 2020 subiu para 4.5 por cento, contra 2.4 por cento em igual período em 2019, em consequência do período em estado de emergência que o país viveu. O médico Davin Kungatikila Videl, responsável do Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária (CATV) nesta província, disse que no 1º semestre do ano foram notificados 225 novos casos de VIH em 4.953 testes, que resultaram em nove mortes. Ao passo que no ano passado foram efectuados oito mil testes que resultaram em 201 casos positivos e 22 óbitos. Davin Kungatikila Videl explicou, em entrevista a Angop, que enquanto vigorou o estado de emergência no país, muitos cidadãos de outras províncias ficaram retidos no Bengo, onde aproveitaram para fazer o teste do VIH/SIDA e com isso aumentaram as cifras. Explicou ainda que o aumento de casos está relacionado também ao facto de este ano estarem a ser feitos mais testes do que no ano passado, em que houve uma ruptura no stock de reagentes. Realçou o facto de haver mais mulheres infectadas (sem adiantar os números) por serem estas as que mais testam, sobretudo durante a gravidez, revelando haver ainda resistência de alguns homens a fazer o teste do VIH/SIDA. Apontou o Dande como o município do Bengo com maior número de casos (devido à proximidade com a província de Luanda, já que grande parte dos testes é feito por pessoas provenientes da província de Luanda), seguida dos municípios do Ambriz e de Nambuangongo. Neste momento, o Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária provincial do Bengo faz o acompanhamento médico a mais de mil pacientes portadores do VIH/SIDA.

11

“Queremos trabalhar, não queremos ser bandidos” DR

Este apelo foi feito por cerca de 100 candidatos no concurso público de admissão de profissionais no sector da saúde realizado recentemente em todo país e que não foram admitidos, apesar de terem tido nota positiva, o que os levou a enfatizar que “com positiva não se reprova”

João Katombela, na Huíla

D

urante uma vigília de protesto realizada na Quarta-feira, na praça 1º de Maio, na cidade do Lubango, enfermeiros manifestaram-se descontentes por, alegadamente, não terem sido admitidos mesmo tirando notas positivas nos exames de acesso à função pública. Era cerca de uma centena o número de jovens que reclamam por recorrecção das provas, alegando que houve injustiça durante o processo de correcção. Entre as injustiças apontadas pelos enfermeiros não admitidos na província da Huíla consta ainda a alegada violação ao Decre-

to Presidencial 12/16, de 15 de Janeiro, que estabelece uma quota nos concursos públicos para as pessoas com deficiência. António Júlio, portador de uma deficiência nos membros inferiores, disse que na realização do exame de acesso teve uma nota positiva mas, mesmo assim, não foi admitido, o que considera uma grave violação ao diploma legal que prevê a atribuição de vagas para pessoas com deficiência. “O Decreto Presidencial 12/16, de 15 de Janeiro, fala sobre a reserva de vagas para as pessoas com deficiência. Eu tive uma nota que me possibilita ser aprovado, mas mesmo sendo uma pessoa com deficiência não fui admitido, por isso, pedimos que se faça justiça enquadrando todos os que

tiveram notas positivas”, disse. Por seu lado, António Jamba, outro candidato a preencher uma vaga no município da Cacula, província da Huíla, disse que teve 14, 80 valores mas foi preterido em favor de pessoas com notas inferiores, razão que o levou a juntar-se aos contestatários que aventam a possibilidade de ter ocorrido tráfico de influência durante todo o processo. “O que nós queremos neste momento é que todos os que tiveram notas positivas sejam enquadrados. Nós verificamos as listas finais e constatamos que houve pessoas com até 10 valores que foram admitidas, mas os que tiveram 13 não foram”, frisou. O nosso interlocutor revelou que já pediram formalmente esclarecimentos sobre o que esteve na base da selecção de candidatos com notas inferiores, porém, não obtiveram até ao momento qualquer resposta da entidade competente. Disse ainda ser pretensão de todos eles realizarem actividades do género repudiando a exclusão de candidatos com notas altas. Na esperança de obter mais informações a respeito, a nossa equipa de reportagem contactou o Gabinete Província da Saúde na Huíla, do qual foi informada que por se tratar de um concurso de âmbito nacional qualquer reclamação deverá ser apresentada ao Ministério da Saúde. O sector da Saúde na Huíla dispõe de 4.169 técnicos, entre enfermeiros, médicos, pessoal de apoio e administrativo e para reforçar este número, o Ministério da Saúde disponibilizou 395 vagas na província no último concurso público. A cifra foi distribuída em 84 vagas para médicos, 35 para enfermeiros de 3ª classe, 130 para técnicos médios de enfermagem de 3ª, 27 para técnicos superiores de diagnóstico terapêutico de 2ª, 86 técnicos de diagnóstico terapêutico, entre superiores e médios, bem como nove para motoristas de ambulância.


12

sociedade

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

DR

INADEC apreende cerca de 20 toneladas de produtos impróprios para o consumo O Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC) apreendeu durante o mês de Junho, em todo o país, cerca de 20 toneladas de produtos expirados, mal conservados e impróprios para o consumo humano, segundo a chefe de departamento de formação e divulgação de práticas comerciais e serviços em Luanda, Joana Tomás

Stela Cambamba

D

os produtos apreendidos destacamse dois mil quilos de rolão de milho, 25 mil e 674 kg de farinha de milho de origem argentina, 12 mil e 350 kg de farinha de trigo, 60 caixas de massa alimentar do tipo macarrão de marca Primavera, 32 sacos de açúcar Crystal, de 50 kg e 30 sacos de leite em pó completo Bela Vida de 25 kg. Ainda no âmbito da fiscalização dos mercados, foram também apreendidas 31 kg de peixes piazete congelado, bem como mil e 280 kg de costeletas de porco de origem no Canadá, e 79 garrafas de gás butano cheias e 26 vazias, por especu-

lação de preços. Segundo Joana Tomás, no âmbito do apoio ao consumidor, o INADEC restituiu aos consumidores cerca de 50 milhões de Kwanzas e em sede de mediação mais de 72 conflitos de consumo durante o mês de Junho. Houve a entrega de um imóvel avaliado em 30 milhões e 710 mil e 450 Kwanzas a uma consumidora que reclamava da imobiliária Imogestin, SA, a composição de um acordo em torno do contrato de compra, bem como a venda de um imóvel na modalidade de renda resolúvel, equivalente a 268 mil dólares, à favor da utente que reclamava da imobiliária Urbanização Kutotolola.

Call center regista em três dias mais de 700 chamadas Joana Tomás realçou que em três dias de funcionamento o serviço de call center registou 734 chamadas, das quais 188 reclamações, 86 denúncias, 380 pedidos de informação, um elogio e 79 mensagens pelo WhatsApp. Dados estatísticos apontam 71% para a província de Luanda, cinco para Benguela, quatro para Huíla, sendo os 29% distribuídos pelas demais províncias, com excepção do Cuando Cubango que não registou qualquer chamada. A chefe do departamento de formação e divulgação de práticas comerciais e serviços em Luanda lembrou que o call center, com o n.º 126, é uma linha grátis e extensiva a todas as províncias do país, com atendimento das oito às 18 horas com várias opções de atendimento. Foi criada com o objectivo de garantir mais comodidade e maior celeridade na resolução das reclamações e denúncias, bem como prestar informações e apoio jurídico entre outros motivos de interesse dos consumidores. O INADEC tem em funcionamento desde o passado dia 23 do mês de Junho. Entretanto, ainda no que concerne ao apoio ao consumidor, o INADEC registou, no período em referência, 241 reclamações pelos canais habituais, resolveu 141, e encontram-se em fase de resolução 169, dos quais 69 transitaram do período anterior. No domínio do acompanhamento e controlo do mercado de consumo, o departamento de estudo do mercado e os serviços provinciais do INADEC realizaram 525 visitas de constatação, tendo registado 270 infracções, 46 denúncias, 27 apreensões, três descelagens, 10 acções de inutilização de produtos caducados e impróprios para o consumo. Suspendeu temporariamente a actividade em dois estabelecimentos comerciais, expediu 214 notificações, realizou 70 acções de aconselhamento e 108 acções de sensibilização, como resultado de algumas medidas de profilaxia do mercado de consumo e por estar em causa a saúde e segurança dos consumidores. INADEC relembra a todos os fornecedores, que a produção e comercialização de produtos em condições que ameaçam a saúde dos consumidores e impróprios para o consumo em nada beneficia a sua actividade. Pelo facto, aconselha que devem agir com honestidade e pensar na qualidade, tendo em conta que cliente satisfeito, é garantia de retorno ao seu estabelecimento.


13

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

O QUE É O CORONAVÍRUS E COMO ME POSSO PROTEGER? O novo Coronavírus, intitulado COVID-19, é de uma família de vírus conhecidos por causarem infecção que pode ser semelhante a uma gripe comum ou apresentar-se como doença mais grave, como pneumonia

F

oi identificado pela primeira vez em Janeiro de 2020 na cidade de Wuhan, na China. Este novo agente nunca tinha sido previamente identificado em seres humanos, tendo causado um surto na aludida cidade que se espalhou rapidamente a vários países do mundo. A Organização Mundial da Saúde decretou (OMS) que o mundo está diante de uma pandemia.

COMO ME POSSO PROTEGER?

Tendo sido reportados já 315 casos em Angola, com 17 mortes, estão indicadas medidas específicas de protecção, mas há questões práticas que se deve ter em conta para reduzir a exposição e transmissão da doença: 1. Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto directo com pessoas doentes;

2. Evitar contacto desprotegido com animais domésticos ou selvagens; 3. Adoptar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo); 4. Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir.

QUAIS OS SINAIS E SINTOMAS?

As pessoas infetadas podem apresentar sinais e sintomas de infecção respiratória aguda 2.Tosse como: 1. Febre 3. Dificuldade respiratória

Em casos mais graves pode levar a pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos e eventual morte.

EXISTE TRATAMENTO? Não existe vacina. Sendo um novo vírus, estão em curso as investigações para o seu desenvolvimento. O tratamento para a infecção por este novo Coronavírus é dirigido aos sinais e sintomas apresentados


cartaz seu suplemento diário de lazer e cultura

SADIA apoia autores e artistas que estão desde Março sem rentabilizar com cartões de compras A SADIA A iniciativa, que arranca este mês, será desenvolvida através do projecto “Fundo Cultura”, e tem como objectivo apoiar entre mil autores e 4 mil artistas com dificuldades financeiras, por dependerem de shows e outros eventos culturais para rentabilizar

Antónia Gonçalo

A

Sociedade Angolana de Direito do Autor (SADIA) arranca a 8 deste mês com o projecto “Fundo Cultura”, visando apoiar autores e artistas que se encontram desde o passado mês de Março sem rentabilizar, com um cartão de compras para aquisição de bens alimentares de primeira necessidade, cujo valor varia de 25 a 50 mil Kwanzas. Para iniciar o projecto, a SADIA conta com uma verba correspondente a 10 milhões de Kwanzas, para apoiar entre mil autores e 4

mil artistas, que dependiam de shows e outros eventos culturais, mas que nesta fase dominada pela pandemia da Covid-19 estão sem rentabilizar por falta de trabalhos. A responsável da área de comunicação da SADIA, Jaqueline Pereira, em conversa com OPAÍS, afirmou que para se ter acesso ao cartão, que também é denominado “Cartão Arte”, os mesmos terão de provar, de facto, que desde Março até à data presente não participaram em nenhum evento, que lhes tenha retribuído algum rendimento. Avançou, igualmente, que os mesmos vão preencher um formulário que estará disponível no website da referida instituição,

www.sadia.ao, declarando que estão com problemas financeiros, um procedimento que dará acesso ao cartão, que os permitirá fazer compras em dois supermercados já identificados. “Vamos fazer uma investigação, para tentar perceber se o que estão a dizer corresponde ou não à realidade. Além disso, o próprio cartão tem um regulamento associado, que esclarece, que, para beneficiar, o indivíduo não pode ter participado em nenhum evento desde Março até à data, em que lhe tenha sido atribuído algum provento”, explicou. Quando ao valor de compras, Jaqueline Pereira justificou que varia de 25 a 50 mil Kwanzas, e a

sua disponibilidade será baseada no agregado familiar dos mesmos, e estão expressos no formulário e no regulamento de utilização do cartão. Continuidade do projecto Já em relação aos artistas enfermos, cujo estado de saúde inspira alguns cuidados, e permaneçam sem actividades associadas a dificuldades financeiras, depois desta fase, de três meses, Jaqueline referiu que a SADIA irá definir outras linhas de acção para que estes sejam acudidos de tais situações. A responsável adiantou que a continuidade do projecto dependerá ainda dos apoios da socie-

A Sociedade Angolana de Direitos de Autor (SADIA), tem como função, licenciar e administrar a utilização das obras dos seus associados, titulares de direitos de autor. Um procedimento com enfoque na cobrança dos devidos direitos de execução correspondentes a cada utilização ou utilizações. “ Licenciamos os utilizadores de todas e quaisquer obras: emissoras de televisão e rádio, locais onde a música é transmitida em público como restaurantes, discotecas, promotores de eventos e centros comerciais”. A SADIA conta já hoje com alta tecnologia e vai investir em inovação de negócios, buscando a melhoria contínua dos serviços que presta.

dade civil, que queira participar e patrocinar a causa. “O projecto não sobrevive sozinho! Portanto, vai depender também das ajudas. Vamos começar sem o apoio de uma marca conhecida. Logicamente que, ao andar do projecto, a nossa intenção é que os bancos, seguradoras, supermercados e outras empresas particulares, e colectivas se associem a esta causa”, apelou. O cartão em questão é resultado do projecto desenvolvido no âmbito da sua responsabilidade social e cultural, dividido em três fases, onde cada uma representa um mês. Neste caso particular, o cartão será carregado automaticamente durante os próximos três meses. O fundo de 10 milhões de Kwanzas terá três embaixadores, que se responsabilizarão pela gestão e aplicação do mesmo nos próximos dois anos com a fiscalização da SADIA.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

15

Vice-Presidente da República visita Academia Angolana de Letras

O

Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, efectuou na manhã desta Quinta-feira, uma visita de cortesia à Academia Angolana de Letras, durante a qual pôde conhecer as instalações de trabalho e interagir com os órgãos directivos desta associação de carácter cultural e científico.

Os principais desafios e metas da Academia Angolana de Letras foram temas de um breve encontro em que participaram, além do elenco directivo liderado pelo escritor Paulo de Carvalho, representantes do Governo da Província de Luanda, da Administração do Distrito urbano da Ingombota e altos funcionários dos Ór-

gãos de Apoio ao Vice-Presidente da República. Constituída em Abril de 2016, a Academia Angolana de Letras tem como objecto a promoção do estudo e a investigação da literatura angolana, da língua portuguesa e demais línguas nacionais, e disciplinas correlacionadas.

Angola quer reforçar cooperação cultural ambiental e turística com EUA

A

ministra da Cultura, Turismo e Ambiente, Adjany Costa, abordou, nesta Quinta-feira, a cooperação nos domínios da cultura, turismo e ambiente com a embaixadora dos Estados Unidos da América, Nina Maria Fite. Durante a audiência, as duas entidades abordaram questões relacionadas com o apoio dos EUA, bem como o seu ponto de situação. Segundo a ministra Adjany Cos-

ta, as prioridades do sector assentam na valorização da cultura e na criação, no domínio ambiental, de estratégias abrangentes que permitam trazer a natureza de volta para centros populosos. A diplomata americana, Nina Maria Fite, manifestou a disponibilidade para apoiar, no âmbito do processo de conservação do património cultural, turístico e ambiental e na difusão de informações sobre a História de Angola.

A comédia humana pelos olhos de Elia Suleiman

M

emórias soltas que resultaram num filme. O Paraíso, provavelmente segue a lógica do que tem sido a obra espaçada do realizador palestiniano Elia Suleiman: uma colecção de fragmentos de vida ou ideias escritas em post-its amarelos dispostos simetricamente numa parede. Vemos, a certa altura, uma imagem assim - espécie de transparência do processo criativo - tal como já se via no seu Intervenção Divina (2002). E parece estar tudo contido na magia desses lembretes que organizam o mundo à volta de uma personagem (quase) muda, dividida entre uma existência de observador passivo e o seu copo de arak. Alinhando-se na estirpe de cineastas que criaram uma versão de si próprios para o grande ecrã, Elia Suleiman, 10 anos depois da

sua anterior longa-metragem, O Tempo que Resta, volta a invadir o enquadramento na aparência de um Sr. Hulot com grandes olhos tristes à Buster Keaton. Começamos por segui-lo na pacatez do dia-a-dia em Nazaré, cidade natal do realizador sexagenário, e depois a sua presença transferese para os centros urbanos de Paris e Nova Iorque, retornando, por fim, a casa. Este trajecto geográfico, aparentemente desprovido de razão de ser, terá afinal um ténue fio condutor na procura de financiamento para um filme que, como lhe chegam a atirar à cara, “não é suficientemente palestiniano”. Suleiman, que carrega uma identidade e herança histórica na pele, quer agora olhar o mundo para lá do conflito israelo-árabe. E o que encontra? Ora ruas desertas (fantasmas inopinados do nosso confinamento recente) ora acções

policiais absurdas, que se misturam com as coreografias da grande comédia humana - não será uma anotação menor aquele momento em que damos com o nome da antiga livraria parisiense L”Humaine Comédie a insinuar-se como letreiro por cima da cabeça do herói solitário. No título O Paraíso, provavelmente está contido o discurso humorístico do filme. A globalização dos gestos de policiamento neoliberal faz com que as situações caricatas já não se distingam pelo seu contexto, mas respondam à simetria do cinema de Suleiman, que tanto se delicia com um desfile de esbeltas mulheres de saia curta (ao som de I Put a Spell on You), como assiste a uma parada militar. Tudo isto é o dito paraíso em que vivemos. A fantasia, essa, surge ilustrada por uma mulher-anjo com a bandeira da Palestina pin-

tada no peito, a percorrer o Central Park perseguida por agentes da Polícia. É mais uma das sequências do filme que estaria num post-it com uma memória semelhante, aqui reproduzida com um toque onírico. Suleiman, “a perfect stranger”, cidadão do mundo, só usa a voz

uma vez para responder à curiosidade de um taxista afro-americano que lhe pergunta de onde vem. “Nazaré” e “palestiniano” são as únicas palavras que lhe saem da boca ao longo de toda a fita, como que a assinalar a melancolia discreta do flâneur estrangeiro ou do ser exótico de B.I. não autorizado.


16

cartaz

O PAÍS

Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Suzy Menkes deixa Vogue International depois de seis anos como editora É um nome incontornável do jornalismo de moda. Suzy Menkes tem saída anunciada da Vogue International, depois de seis anos como editora. A empresa sofre os efeitos da pandemia

S

CINEMA

FESTIVAIS

da publicação e traduzidos em 15 idiomas. Escreveu também para a T Magazine, do The New York Times. A empresa em questão enfrenta agora o impacto da pandemia, marcado pela retracção do investimento publicitário e pelos cortes nos orçamentos de marcas e designers. Em Maio, só nos Estados Unidos, a Condé Nast dispensou uma centena de funcionários, já depois das reduções salariais anunciadas em Abril. Em Abril de 2018, Suzy Menkes trouxe a sua Condé Nast Luxury Conference até Lisboa, e com ela nomes como Giambattista Valli, Maria Grazia Chiuri, Felipe Oliveira Baptista e Christian Louboutin. “A questão é: ninguém tem de levar uma vida miserável só porque faz roupa para os outros.

uzy Menkes está de saída da Vogue, segundo um comunicado divulgado esta Quarta-feira à tarde pela empresa que detém a publicação, a Condé Nast International. Aos 76 anos, e no cargo de editora da Vogue Internacional desde 2014, a veterana do jornalismo de moda tem saída marcada para Outubro, depois da temporada de desfiles de primavera-verão 2021. “Aproveitei cada momento como editora na Vogue Internacional e orgulho-me de tudo o que conquistei na empresa. A actual situação global proporcionou-me, como a todos nós, um momento de pausa e reflexão. Está na altura de partir para uma nova aventura, que aguardo ansiosamente”, afirmou a jornalista britânica em declarações ao Business of Fashion.

À semelhança de outros vultos da indústria, Menkes já fez saber que continuará a produzir conteúdos sobre moda. No comunicado que emitiu esta Quarta-feira, a Condé Nast International, proprietária de títulos como a Vogue, a GQ, a Vanity Fair e a The New Yorker, referiu ainda que a edição do próximo ano da Condé Nast Luxury Conference, organizada por Menkes há cinco anos, será cancelada, na sequência da saída da editora, mas também da pandemia de Covid-19. Suzy Menkes está entre as mais respeitadas vozes do sector. Durante 26 anos, foi editora de moda do International Herald Tribune, cargo que deixou para integrar a equipa internacional da Vogue. Os seus textos, na maioria críticas de colecções, são publicados online e em 21 edições

EVENTOS

BANDA DESENHADA MÚSICA

Filme de Afonso e Bernardo Rapazote em competição em Cannes

Bienal de São Paulo adiada para 2021

Paredes de Coura volta em Agosto de 2021 com Pixies e Idles

Amadora BD não se realiza este ano “nos moldes habituais”

“Terra Irada” conta história da difusão do ‘rap crioulo’ na cultura portuguesa

O filme “Corte”, dos realizadores Afonso Rapazote e Bernardo Rapazote, está integrado no programa Cinéfondation, uma das competições do Festival de Cannes, em França, foi hoje anunciado. Criado em 1998, o Cinéfondation é uma secção dedicada a novos talentos, a curtas e médias-metragens feitas em contexto de escola de cinema, e, este ano, entre as obras seleccionadas, está o filme “Corte”, dos irmãos Afonso e Bernardo Rapazote, produzido pela Escola Superior de Teatro e Cinema. A narrativa de “Corte”, ficção escrita, dirigida e interpretada pelos realizadores, irmãos gémeos, passa-se numa “corte desequilibrada pela longa ausência do rei”, onde o príncipe herdeiro é assassinado.

A Fundação Bienal de São Paulo, que realiza uma das mostras de artes plásticas mais importantes do Brasil, anunciou esta Quarta-feira que adiará a sua 34.ª edição para 2021, entre os dias 4 de Setembro e 5 de Dezembro, quando será realizada a exposição colectiva. O presidente da Fundação Bienal São Paulo, José Olímpio da Veiga Pereira, confirmou que a edição actual da mostra, que lançou as suas actividades públicas em Fevereiro de 2020, se vai estender até ao final do próximo ano. Estamos aqui para anunciar duas coisas. A primeira é que decidimos adiar a 34.ª Bienal de São Paulo para 2021. Como consequência deste adiamento nós vamos mudar os anos da Bienal em São Paulo”, declarou Veiga Pereira.

O Festival Paredes de Coura vai voltar a acontecer nos dias 18, 19, 20 e 21 de Agosto do próximo ano, tendo anunciado, esta Quarta-feira, confirmações como Pixies, Idles, Jarvis Cocker ou Badbadnotgood. Em comunicado, a organização revelou também os nomes de Princess Nokia, Slowthai, Floating Points, Alex G, Beabadoobee, Mall Grab, Viagra Boys, Woods, Tommy Cash, Squid e Haai. Os passes gerais vão poder ser comprados a partir de Quintafeira, com um valor de 110 euros. Quem tinha comprado bilhete para a edição de 2020 de Paredes de Coura e quiser ir ao evento em 2021 terá de trocar a entrada.

O AmadoraBD - Festival de Banda Desenhada da Amadora, que se realiza naquele concelho desde 1989, não irá realizar-se “nos moldes habituais” em 2020, devido à pandemia da Covid-10, anunciou ontem a autarquia local. A Câmara da Amadora lembra que o AmadoraBD, “um dos maiores acontecimentos no panorama cultural e artístico nacional no âmbito da banda desenhada”, acolhe anualmente “mais de 30.000 visitantes, aos quais oferece a oportunidade de usufruir de um núcleo de exposições variado, de uma programação paralela diversificada, de uma área comercial consolidada e de sessões de autógrafos e apresentações com autores e agentes especializados.

A difusão do rap crioulo, de origem cabo-verdiana, no tecido da Cultura portuguesa, proveniente de bairros da Grande Lisboa e Margem Sul, está no centro do programa “Terra Irada”, que será apresentado em Lisboa, no Domingo. Nesse dia, às 16 horas , está prevista a primeira actuação do programa “Terra Irada”, integrado nas escolhas do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), acto que assinala a data da independência de Cabo-Verde, proclamada em 5 de Julho de 1975. A sessão é dividida em dois momentos: inclui uma conversa com os artistas Primero G, Ghoya, Né Jah e Mynda Guevara, moderada por Ana Garcia de Mascarenhas, seguida de actuações.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

João Rosa Santos

17

José Manuel Diogo dr

A coisa premiada

C

Nguami maka!...

N

este tempo, de quarentena institucional, domiciliar ou epidemiológica, é só saber gerir, bué de bocas, aqui e acolá, é só ouvir, verdade ou mentira, o oficial é que vale a pena, conversa fiada, não se mete lá, nguami maka, não quero problemas. Se vizinho têm cara de pau, problema é dele, se não quer fazer amor com a parente, é só faz de conta, beijo não dá jeito, zongolar é desculpa de mau pagador, fofocar não dá emprego, boato mata temperatura, estraga ambiente, pode provocar violência doméstica. Boca miúda virou trombone, biscato a xixilar, corona acantonou tudo e todos, de fofuchos ou fofuchas, quase nada se sabe do paradeiro, nada de novos apetites, quarentar, não dá prazer, nguami maka, não quero problemas. Da vida fácil ou de aventuras, só

restam saudades, tudo a evaporar, tudo a emagrecer, virgular já não tem espaço, se abusa vão te focar, e publicar nas redes sociais, melhor mesmo, é ficar nas calmas, ficar no lugar, passado não é presente. Bem ou mal, a pandemia está a destapar carecas, algo algum, com ou sem pacto, a podar excessos, sexta-feira já não é dia do homem, todos os dias são iguais, da mulher ou do homem, desculpa perdeu razão, nguami maka, não quero problemas, a cerca tá rija, quem viola, julgamento sumário, prá cadeia! Não quero mbora problemas, nguami maka, só estou a sonecar, a zuelar, o que ouço e vejo, o que se mujimba e se fofoca, são conversas do dia-a-dia, que acontecem todos os dias, no kimbo ou na cidade, ma urbanidade ou na periferia, cada um com o seu conto, cada qual com o seu ponto, somente o bom senso, pode evi-

tar tragédias. Na maka da vizinha não se mete lá, nguami maka, não quero problemas, com nada nem com ninguém, na minha trincheira, estou mbora só vigilante, binóculo sempre atento, de dia ou de noite, a controlar, cazucuta não pode passar, ninguém está acima da lei. Neste novo tempo que estamos com ele, é bom descomplicar, cumprir e fazer cumprir, pensar na família, saber andar no essencial, ter o juízo no lugar, ficar só em casa, lavar as mãos com sabão, observar o distanciamento social, usar álcool-gel, todo resto, é só saber esperar. Nguami maka, não quero problemas, obedecer só, nada de vias de facto, cada um como cada alguém, a responsabilidade é individual e colectiva, consciência em primeiro lugar, afinal o bem comum deve ser partilhado e preservado.

ada coisa é uma coisa em si mesma, antes de ser comparada; disse o homem ao outro homem, de pé os dois na parada — por isso não importa muito o que os outros pensam dela, se é negra ou amarela, direita ou recortada. Se dela tu não gostares, ninguém mais a aprecia, meu querido camarada. O sol a pino fazia ainda maiores os calores de Julho e os companheiros de armas, desamparados de qualquer brisa, ventinho ou arzito, começavam a derreter. — Não é bem assim, Mané, dizia o outro, o suor lhe entrando nos olhos diretamente da testa como uma descarga emergencial — Tu sabes bem que as coisas valem por si próprias e por elas mesmas e não precisam de rimas nem poemas, nem estilos de metáfora. As armas não se medem aos palmos. Era num infernamento dos diabos, até parecia que o Deus criador esquecera todos os aquecedores ligados, que os camaradas trocavam estes acesos argumentos sobre a natureza vernáculícia da verdade adivinhada sobre a bela coisa armada de cada camarada. — Estás na lona do discernimento Marcolinho, retorquiu ou outro que agora já sabemos que se chama Mané, com a voz bem rebaixada pela brasa da parada — Não entendes nada de nada, capixes camarada! Sem

a ciência do comparado a beleza não vale nem um trocado. Para ser Deus toda a gente sabe não basta ser o senhor de todas as coisas, é preciso haver outro que lhe chame mesmo isso! Deus sem Meu Deus, adeus. Desinganazambi! Canícula vernácula castigo. Aquelas conversas já jaziam sem sentido, mas ninguém estava disposto a bancar a velhaca. Doesse a quem doesse ninguém apontava o dedo. E mesmo em baixo da sombra paliada da tribuna até o sargento Isidoro ia perdendo o decoro, desabotoando a farda ensopada pelo suor. Era um calor maior que a devoção à Senhora da Muxima. — Não carecia... Mané! Uma desnecessidade! Só mesmo um mano maluco se poderia lembrar de publicar as armas da companhia nos feicibú da interné. José estava primeiro da fila, exemplo dado a todos. A coleção cibernética das coisas de toda a gente, tinha chegado aos ouvidos de Justino, o tenente, por todos mais conhecido como “Cara sem frente”, resultado da explosão infeliz que lhe custou a coisa toda, a face e o nariz. Por causa da brincadeira de comparar o armamento, os bravos do pelotão ardiam agora ao relento. Dois dias na internet de votação transcorrida deram um castigo certo e uma vitória torcida. A arma mais linda, mais bonita e premiada, era mesmo a que o Zézinho exibia na parada.


Economia

18

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Navio pesqueiro apreendido com 800 toneladas de carapau Um navio pesqueiro de grande porte, de

fabrico russo, foi apreendido ontem, Quintafeira, na baía do Lobito, província de Benguela, com 1250 toneladas de peixe diverso, entre as quais 800 de carapau, cuja captura está proibida no período entre Junho e Agosto

O

navio “Olutorsky”, licenciado pelas autoridades angolanas para a actividade de pesca por arrasto pelágico, escalou o Porto do Lobito para fazer a baldeação do pescado, a fim de ser transportado por um outro, para

Luanda. Segundo o director provincial da Agricultura e Pescas, José Gomes da Silva, a tripulação cometeu duas infracções: a primeira relacionada com a captura do carapau no período de veda, de 1 de Junho a 31 de Agosto, e a segunda por fal-

sificação de dados, pois os documentos faziam referência a captura de peixe “cavala”. Questionado sobre os passos subsequentes, o director confirmou a tramitação do processo de apreensão e o destino do pescado dependerá da decisão do Governo Provincial. O navio, navegando sob bandeira camaronesa, tem 104,50 metros de comprimento e um calado de 16 metros e trás a bordo 90 tripulantes, entre russos e ucranianos. Por sua vez, o responsável do Centro Regional de Fiscalização Pesqueira e Aquicultura, Anjo da Costa, revelou ser a primeira vez que acontece este ano a apreensão, no Lobito, de um navio pesqueiro da-

quela envergadura. Segundo ele, o armador corre o risco de pagar pelas duas infracções, uma multa que pode rondar acima dos 20 milhões de Kwanzas. “Temos apreendido, com frequência, embarcações artesanais por diversas infracções. Neste momento, temos sete embarcações sob nossa custódia”, garantiu o responsável do Centro Pesqueiro. Em nota tornada pública pelo Gabinete de Comunicação Social, o Governo da Província de Benguela considera o ocorrido um “saque nos mares de Angola” perpetrado por um navio de nacionalidade ucraniana que servia

para a captura do pescado e um outro transportador. Na nota, as autoridades da província reiteram que “o pescado da espécie carapau está impedido pelo Ministério das Pescas e do Mar para os meses de Junho, Julho e Agosto. Observando a pausa biológica imposta pelo Executivo angolano”. Segundo o Governo de Benguela, trata-se de um navio de origem ucraniana que fazia-se portar com uma bandeira da república dos Camarões. O comandante em exercício da Polícia Fiscal, José Cassanje, refere que o pescado destinava-se à comercialização, razão pela qual se fez-se apreensão.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

19

Sindicato dos bancários insurge-se contra despedimento de trabalhadores do BPC daniel miguel/arquivo

Em carta aberta endereçada ao presidente do Conselho de Administração e levada a co-

nhecimento dos acionista, o Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola (SNEBA) invoca a pandemia da Covid-19 como razão de sobra para se adiar o despedimento assim como propõe alternativas André Mussamo

O

Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola “insta” a gestão da maior instituição bancária pública a ponderar a situação socioeconómica e sanitária do país e o impacto emocional e psicológico nos trabalhadores na decisão de encerramento de agências e des-

pedimento de empregados. “A direcção do SNEBA, apôs ter tomado contacto com o conteúdo do programa de benefícios para os trabalhadores a serem despedidos, entende colocar preocupações que devem ser tomadas em conta”, refere na sua missiva enumerando a seguir o “qualificador profissional, o perfil técnico e o tempo de serviço” como factores que devem ser tomados em consideração.

Entende que, não é justo tratar o trabalhador com 20 anos de serviço e o trabalhador com 3 anos de serviço na mesma forma, pese embora, “a componente pecuniária, segundo a lei o venha a destrinçar”. O SNEBA entende que deve ser “considerado o perfil e o qualificador profissional dos trabalhadores” ao invés daquilo que chama de “política de terra queimada”.

O sindicato manifesta “estranheza” diante do facto do Conselho de Administração do BPC ter feito a comunicação ao colectivo de trabalhadores de forma “intempestiva e inoportuna”. “Comunicar ao empregado com quem se trabalhou durante muito tempo e contribuiu para o progresso do banco, na Sexta-feira e convidá-lo a sair na Segundafeira, não é a forma mais cordial de se tratar um trabalhador”, re-

fere na sua missiva datada de 29 de Junho de 2020. O SNEBA “apela ao bom senso dos accionista e do Conselho de Administração do banco, na efectivação do programa”, referindo que seria “patriótico” se a medida fosse temporizada, tendo em conta o contexto socioeconómico que o país vive, associado a pandemia que mais estrangulamento tem causado na vida do cidadão. O sindicado refere a alta taxa de desemprego (31,8 por cento) para acrescentar que se quer agravá-la (a taxa) com o ingresso de mais 1000 e seiscentos trabalhadores do BPC, constituídos na sua maioria por jovens na faixa etária dos 25 aos 35 anos de idade, “idade activa”, citando como exemplo concreto a saída dos primeiros 192 desde o dia 29 de Junho de 2020, em resultado do encerramento de 54 agências. O sindicato, ao invés de “despedimento” propõe que sejam exploradas nuances que possam reduzir os custos operacionais do banco, nomeadamente: averiguar a possibilidade de alocação do pessoal nas agências onde haja vaga, criação de bolsas de talentos e monitores, que deverão imediatamente absolver parte do capital humano existente, com a devida requalificação e superação, reconversão da força considerada excedentária para empresas comparticipadas do banco, dentre outras opções. O Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola “coloca-se ao dispor do Conselho de Administração, para eventuais contactos e diálogo, salvaguardando sempre os interesses da maioria”. A Carta Aberta endereçada ao presidente do Conselho de Administração foi igualmente enviada a conhecimento da Presidência da República, Ministério das Finanças, Instituto Nacional da Segurança Social e Caixa de Segurança Social das Forças Armadas sob o título “Despedimento e Encerramento de Agências no PBC”.


Mercados

20

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

ANÁLISE DIÁRIA /01 DE JULHO DE 2020

O montante de divisas a ser comercializado pelo BNA durante o mês de Julho deverá fixar-se em 350 milhões USD Aprevisão avançada pelo BNA reflecte uma manutenção face ao montante disponibilizado no mês anterior, com efeitos sobre a evolução da taxa de câmbio. Destaca-se que a liquidação deverá ocorrer dois dias após o leilão ESPAÇO ANGOLA

A

liquidez cedida aos bancos comerciais pelo BNA situou-se em 11.020,78 milhões KZ. O nível apurado ao longo da última semana (22-26 de Julho) representa uma redução de 88% face ao período anterior, o que poderá sugerir melhoria da liquidez de alguns bancos

ESPAÇO INTERNACIONAL ALEMANHA • As vendas a retalho aumentaram 13,9% em Maio. O registo representa um aumento mensal de 20,4 p.p., suportado pelo incremento das vendas de roupas e sapatos, móveis e acessórios, e alimentos e tabaco, reflexo da moderação das condições de isolamento social.

MERCADOS Petrolífero Brent: +2,14% (42,03 USD/barril). A divulgação da redução da produção de crude da OPEP, em Junho, favoreceu a cotação do crude.

Cambial EUR: +0,15% (1,1251 USD). O aumento das vendas a retalho contribuiu para a apreciação do euro.


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

21 daniel miguel/arquivo

Há cada vez menos prevenção contra o ciberataque nas iniciativas de negócio em Angola DR

Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo

A constatação é da consultora Ernst & Young Global Limited (EY)

e vem expressa num estudo tornado público ontem

A

pesar do crescimento generalizado de ciberataques, apenas um terço das organizações nacionais, afirmam que a função de cibersegurança é parte activa nas fases de planeamento de uma nova iniciativa de negócio. A conclusão é da consultora Ernst & Young Global Limited (EY) e vem expressa na vigésima segunda edição do EY Global Information Security Survey (GISS) realizada em final de 2019, onde sondou líderes de 1300 organizações de vários países, incluindo Angola. O estudo revela que a temática de cibersegurança é considerada à posteriori pelas empresas nacionais, apesar do crescente número de ataques exponenciados, recentemente, pela Covid-19. As organizações nacionais falham ao não considerar riscos de cibersegurança nas fases iniciais das

recentes iniciativas digitais apesar dos “agentes maliciosos internos” serem motivo conhecido, e mais comum do ciberataque em Angola. O especialista EY na área de cibersegurança, Sérgio Martins, alerta que “nos próximos meses, os grupos de activistas vão aumentar os ataques, em função da reacção das organizações à pandemia do Covid-19”. Quase três quartos (71%) das empresas, afirmam que a relação entre a cibersegurança e o marketing é, no melhor dos casos, escassa, senão inexistente, enquanto que 86% referem uma relação neutra, enquanto mais de metade (67%) apontam relações tensas com o departamento financeiro, do qual dependem para autorização de orçamento. No entanto, e apesar do risco acrescido, apenas 33% das iniciativas de negócio suportadas por tecnologias, afirmaram incluir as equipas de segurança desde o iní-

cio dos projectos. Sérgio Martins acrescenta que “a gestão de topo, as direcções, os CISOs e líderes da organização, devem colaborar para posicionar a cibersegurança no centro da transformação e inovação dos negócios”, tendo sempre presente que, perante a pandemia, esta colaboração é ainda mais sensível, uma vez que “estamos a viver uma grande e forte aceleração da digitalização das empresas, assim como uma activa adaptação a novos métodos de trabalho, nomeadamente o tele-trabalho, que arcam riscos acrescidos”, termina. Em jeito de conclusão do estudo, os especialistas EY aconselham que “a relação de confiança entre departamentos deve ser construída, de forma transversal, durante o processo de transformação digital das empresas”. Segundo o estudo, o trabalho deve começar ao nível da gestão de topo, tudo para que a cibersegurança seja instituída como um activador chave de valor acrescentado.

Estratégia de exploração de hidrocarbonetos junta especialistas

O

Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET) e a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) reuniram na manhã de ontem, 2 de Julho, em Luanda, dezenas de especialistas para análise da Estratégia de Exploração de hidrocarbonetos no período de 2020-2025. Presidido pelo Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, o encontro teve a coordenação da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG), na pessoa do seu Presidente do Conselho de Administração, Paulino Jerónimo, assim como contou com apresentações de Adriano Sebastião e Hermenegildo Gomes da direcção de Exploração. O certame, o primeiro do género, buscou encontrar consensos na procura da melhor forma

de explorar os hidrocarbonetos no território nacional com o intuito de atenuar o actual declínio da produção. O debate foi em torno de um documento que visa expandir o conhecimento global das potencialidades do país em termos de ocorrência de hidrocarbonetos ao longo do onshore (bacias interiores) e offshore (plataforma marítima). Terminadas as discussões e recolhidas as contribuições dos geocientistas, o documento será remetido à apreciação e aprovação do Conselho de Ministros. “A ideia era ter a Estratégia já aprovada nesta fase, mas a situação da pandemia da Covid-19, entre outros, levou-nos a este atraso”, justificou o ministro Diamantino Azevedo, acrescentando que, “trabalha-se para que até 15 de Julho seja dada a entrada (do documento) no Secretariado do Conselho de Ministros”.


Grande Entrevista

22

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

“Terrorismo em Moçambique já afecta psicologicamente toda a região” Calton Cadeado é professor de Estudos de Defesa e Segurança, em Moçambique, analista e comentador político e de política externa. Nesta entrevista a OPAÍS aborda, sobretudo, a questão do terrorismo em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique. Não acredita que tenha base religiosa, nem que derive de uma postura de Estado da Tanzânia, mas afirma que o Estado moçambicano tardou a reagir a avisos da Inteligência de há pelo menos cinco anos e que as ligações umbilicais com partidos políticos dificulta a cooperação dos serviços de inteligência na região

A

té que ponto a situação do terrorismo que eclodiu em Moçambique, com reivindicações do Estado Islâmico, pode afectar toda a região da África Austral?

entrevista de José Kaliengue fotos de DR

Eu acho que a região toda já está afectada. Psicologicamente, este assunto está a preocupar toda a região. Do ponto de vista da segurança já há um sentido, um interesse de todos. A prova disto é que as instituições que lidam com questões de segurança, estou a falar concretamente do Órgão de Po-


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

23

A SADC vai perguntar: se a prespectiva é “problemas locais, soluções locais”, porquê que Moçambique correu primeiro para ir buscar uma solução na Rússia? Significa que não confia nas capacidades da África Austral?

lítica e Segurança da SADC, já há um tempo que vem insistindo para Moçambique dizer um pouco mais em relação a este assunto, de forma concreta e ligada a questões do terrorismo. Mas o Governo moçambicano vem adiando, porque não tinha ainda muita informação que pudesse ligar ao terrorismo. Mas é sabido que as instituições de segurança da SADC já estavam a reunirse. Estou a falar do ponto de vista institucional. É um problema que está a preocupar os Estados ao nível bilateral. Já se sabe que a Tanzânia e Moçambique têm estado a conversar des-

de o princípio, quer no âmbito das polícias, quer nos serviços de inteligência e não sei das forças armadas. Já se sabe também que a África do Sul vem fazendo pressão sobre Moçambique para tomar posições mais arrojadas. Isto do ponto de vista bilateral. O Zimbabwe nem tanto. A Namíbia e o Botswana nem tanto. Isto é perceptível por causa da distância geográfica que existe entre Moçambique e os outros países. De Angola também não se sabe muito de pressão em relação a este assunto. A única coisa que se sabe é um discurso do Pre-

sidente João Lourenço no ano passado, se não estou equivocado, em que ele já falava sobre este assunto como uma questão de terrorismo em Cabo Delgado. Então, já se sente este problema ao nível das lideranças políticas e nas forças de defesa e segurança. Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António, dizia, depois de uma reunião com os seus homólogos da SADC, que faltava Moçambique dizer o que é que pretende. Há na SADC capacidade para responder em conjunto a um proble-

Neste momento, seria um risco político e de segurança extremamente grave para a Tanzânia financiar ou patrocinar este grupo. Porque uma vez financiados estes grupos, não há garantias nenhumas de que a Tanzânia consiga controlá-los

ma desta natureza? Há uma coisa que é muito importante dizer: a SADC tem um pacto de defesa mútua, este é um primeiro ponto. Ao nível da SADC há uma sensibilidade política segundo a qual para problemas locais, soluções locais. Isto é muito bom. Ao nível da SADC há uma tentativa de fazer valorizar o Órgão de Política de Defesa e Segurança. Mas sabe-se que há também resistências dos países em chamar os outros para uma intervenção com militares, sobretudo, robusta, que signifique a presença de forças. Isto é paradoxal, e digo-o porque num passado recente, por exemplo em Moçambique, nós tivemos presença das Forças Armadas do Zimbabwe e das Forças Armadas da Tanzânia que ajudaram o Governo de Moçambique a combater a RENAMO, tínhamos uma presença militar forte aqui em Moçambique. Mas temos, também na história da SADC o problema que foi a intervenção da África do Sul no Lesotho. Tivemos também o problema que foi a intervenção de Angola, Namíbia e da África do Sul na República Democrática do Congo. Então, entre exemplos de intervenção e exemplos de resistência à intervenção, a SADC encontra-se neste dilema, nesta meia paralisia. Isto diminui as capacidades de intervenção. Porque em primeiro vem a vontade política, depois é que vem a mobilização das capacidades materiais. Este é o grande dilema. E Moçambique, nos tempos que correm, aprofundou mais as dificuldades de materialização desta cooperação. Digo-o porque ao mesmo tempo que Moçambique falava com os países da SADC, bilateral e multilateralmente, avançou para uma acção de facto de intervenção de forças estrangeiras de lá longe de Moçambique, de fora da SADC. Do ponto de vista político, Moçambique deveria correr primeiro para a África Austral, mas correu primeiro para os russos para ir buscar uma solução que nem era uma solução Estatal. Então, a SADC vai perguntar: se a prespectiva é “problemas locais, soluções locais”, porquê que Moçambique correu primeiro para ir buscar uma solução na Rússia? Significa que não confia nas capacidades da África Austral? É uma incógnita... Mas este assunto é polémico mesmo em Moçambique, há uma grande discussão pelo facto de o Estado moçambicano ter optado pelos chamados mercenários para resolver a questão de Cabo Delgado...


24

Grande Entrevista

Sem dúvidas, e isso vai ser um elemento de discussão na próxima reunião da SADC em Agosto. Eu não tenho dúvida de que esta vai ser uma pergunta embaraçosa para o Estado moçambicano. Porquê ir primeiro lá para longe quando a abordagem, o paradigma, a teoria é problemas locais, soluções locais. Será sinal de alguma desconfiança, por exemplo, em relação ao vizinho do Norte, a Tanzânia, já que estes grupos, aparentemente operam a partir da Tanzânia? Não creio que devamos problematizar a questão da Tanzânia, percebo a zanga que existe na sociedade civil, sobretudo, e a desconfiança que existe em relação à Tanzânia, porque, de facto, estes grupos... ou este grupo, porque ainda não sei se é um ou se são vários grupos... a sociedade está com medo por causa desta penetrabilidade que é feita a partir da Tanzânia, mas eu acho que temos de tomar muito cuidado com esta ansiedade, esta forma de colocar o assunto. E digo porquê. Porque neste momento seria um risco político e de segurança extremamente grave para a Tanzânia financiar ou patrocinar este grupo. Porque uma vez financiados estes grupos, não há garantias nenhumas de que a Tanzânia consiga controlá-los e mais dia, menos dia, a Tanzânia passa a ser alvo de ataques directos no seu território. É arriscado para qualquer Governo patrocinar este tipo de grupos de desestabilização. Quanto mais não seja quando estes grupos actuam pertinho, se não dentro das suas fronteiras. É um risco. Além disso, a Tanzânia tem o problema da vizinhança com o Quénia lá para cima, que também sofre ataques terroristas do Al Shabab. Então, se a Tanzânia patrocina actos terroristas ou o terrorismo em Moçambique, a Tanzânia co-

re o risco de ser alvo de terrorismo pelo Sul, através de Moçambique, mas também sabe que pode ser alvo de terrorismo pelo Norte por via das fronteiras com o Quénia. Aliás, a Tanzânia tem uma experiência negativa de um ataque terrorista sofrido em 1998. Então, pelo Sul e pelo morte a Tanzânia tem focos de ameaça de terrorismo. Além disso, a Tanzânia tem um problema de disputa fronteiriça com o Malawi. Logo, neste momento, criar muitas frentes de possível instabilidade e de insegurança me parece, politicamente e do ponto de vista estratégico, irracional. Não acredito que a Tanzânia queira correr este risco. Algumas pessoas dizem que a Tanzânia está a fazer isto porque está a competir com Moçambique depois da descoberta das reservas de gás natural, mas se for por aí, o mercado do gás, a Tanzânia estará a competir também com o Qatar, isto significaria que o Qatar também teria interesses em desestabilizar a Tanzânia e Moçambique. Mas agora Moçambique e a Tanzânia vão também competir com o Chipre, descobriu-se lá reservas de gás altamente lucrativas, então, é preciso relativizar isto. O último ponto que eu acho que deve merecer atenção é que as pessoas dizem que são tanzanianos que vêm da Tanzânia para Moçambique. Não há dúvidas. Há tanzanianos, há inclusive ugandeses. Falase da sua presença aqui. Mas não nos esqueçamos que Moçambique e a Tanzânia têm uma história de migração milenar. Há a probabilidade de algumas pessoas que vêm da Tanzânia serem moçambicanos que para lá migraram há muito tempo. É preciso ter conhecimento da identidades desses grupos para associarmos o Governo tanzaniano a isso. E há muita cooperação entre o Governo e as Forças Armadas da Tanzânia e o lado moçambicano.

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Então, entre governos a relação é pacífica? Não há problemas

Há evidências de que alguns militares, em Cabo Delgado, sobretudo jovens, que foram formados com dinheiro público, desertaram das forças armadas e se juntaram a estes grupos”

Os que operam no Norte usam o nome Estado Islâmico, usam Al Suna e outros nomes, todos como tentativa de se identificar com o terrorismo internacional. Nunca usaram uma terminologia que os aproximasse à RENAMO. Isto solidifica a distância que existe entre eles.

Até há pouco tempo Moçambique lidou com a questão da RENAMO, alcançada a paz com Ossufo Momade, que entrou para o Parlamento, entretanto há uma facção da RENAMO, de Mariano Nhongo, que diz que não o aceita como líder e vai continuar a luta armada, há a possibilidade de uma aliança entre esta facção da RENAMO e os grupos do Norte? Parece-me que é forçada, esta ligação. Basta olhar para a distância geográfica que existe entre onde actua a RENAMO, a facção dissidente que mantém o nome de RENAMO (Junta Militar da RENAMO), enquanto que o grupo que actua no Norte não tem esta afiliação à RENAMO... Este grupo tem alguma organização? Um nome, uma estrutura, um líder, uma base principal? O que é este grupo? Fala-se até de interesses de oficiais moçambicanos nestas acções... Nisso já não há segredo, o chefe de Estado (Filipe Nyusi) já disse claramente que há elites domésticas e internacionais que alimentam estes grupos, quer no Centro, onde actua a Junta Militar da RENAMO, a ala dissidente da Renamo, quer aos que actuam no Norte de Cabo Delgado, que estão associados ao terrorismo internacional. O Presidente da República já disse que há elites, só não disse quem são estas elites. Há evidências de que alguns militares, em Cabo Delgado, sobretudo jovens, que foram formados com dinheiro público, desertaram das forças armadas e se juntaram a estes grupos. Como e porquê? Ainda é difícil de dizer, é um assunto que é preciso aprofundar. Mas sabe-se disso. Em relação à violência no Centro, que é da Junta Militar da RENAMO, há um conflito interno, dentro da RENAMO, de sucessão na liderança do partido que acabou degenerando nessa fissura e que faz eco por via militar. Mas o foco deste grupo não é a violência no Norte, porque nem sequer têm uma presença militar forte no Norte, o seu foco de actuação é na zona centro, onde têm uma base social e até logística para operar. Há uma distância muito grande entre a RENAMO e os que estão a operar no Norte. Os que operam no Norte usam o nome Estado Islâmico, usam Al Suna e outros nomes, todos como tentativa de se identificar com o terrorismo internacional. Nunca usaram uma terminologia que os

aproximasse à RENAMO. Isto solidifica a distância que existe entre eles. Esta ameaça do Estado Islâmico pode conduzir mais rapidamente a uma aproximação entre o Governo moçambicano e a Junta Militar da RENAMO? Pelo menos a facção política está próxima do Governo. Não nos esqueçamos de que o Governo está neste momento num processo de desmobilização, de reintegração com a liderança legal, oficial, política da RENAMO. Neste sentido, o Governo e a RENAMO, estão, do ponto de vista do discurso, solidários e cooperativos no combate ao terrorismo no Norte, mas não se pode dizer o mesmo em relação ao grupo dissidente da RENAMO. O surgimento rápido destes grupos no Norte ou grupo, e a forma ousada como actuam, significa ter havido falhas da inteligência moçambicana, ou é sinal de revolta pelo desamparo da população do Norte? Todas estas hipóteses não devem ser ignoradas, mas posso lhe dizer, com muita segurança, que os serviços de inteligência já tinham alertado o Governo moçambicano para a possibilidade de ocorrência de instabilidade e violência. Este alerta tem quanto tempo? Isto vai para aí uns quatro a cinco anos. Houve sinais de alerta. Digo em que contexto isto apareceu... aliás, tem mais do que cinco anos, a partir do momento em que se começou a notar uma imigração para a zona Norte, acelerada, e quem conhece o Norte, Cabo Delgado, Nampula, sabe que tem uma presença muito forte de migrantes. Quando se começou a notar a entrada facilitada e até descontrolada de migrantes, os serviços de inteligência fizeram pesquisas e alertaram o Estado para a possibilidade de ocorrência de acções de instabilidade que pudessem pôr em perigo o Estado moçambicano, mas não foram tomadas acções a tempo e horas, não sei porquê, e é isso que tem que ser avaliado. Olhando para os nomes assumidos por estes grupos, pode-se antever a possibilidade de conflitos étnicos e inter-religiosos, há esta possibilidade em Moçambique? Falar de conflito inter-religioso em Moçambique é algo muito forçado. Nós não temos exemplos de luta política violenta entre muçulmanos e católicos ou cristãos, do pon-


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

to de vista violento, é muito forçado, tanto é que vai reparar que o grupo que actua em Cabo Delgado não faz acções directamente contra instituições religiosas, as suas acções são, primeiro, contra as instituições estatais. E só depois é que fazem, uma ou outra vez, acções para a destruição de igrejas, por exemplo cristãs, na tentativa de procurar forçar a ideia de existência de um conflito inter-religioso. Mas não existe. Há várias plataformas de comunicação inter-religiosa, em Moçambique, que mostram que é difícil mobilizar para uma guerra entre religiões. Mas não é menos verdade que existem reclamações de descontentamento de alguns grupos da ala religiosa muçulmana que por causa de um alegado tratamento injusto, ou diferenciado, que se dizem “enteados” quando se trata da postura do Estado. O exemplo mais sonante é quando os religiosos da comunidade muçulmana dizem que o Estado moçambicano dá mais atenção à comunidade católica, por exemplo, quando declara o dia 25 de Dezembro como Dia da família e é feriado e os muçulmanos não têm o mesmo tratamento. Recuando, também se diz que durante o processo para a paz em Moçambique os muçulmanos não estiveram com tanta presença quanto os cristãos. Mais para o passado, os cristão dizem que a hostilização à religião pelo Estado moçambicano foi mais em relação aos cristãos do que aos muçulmanos. Enfim, há toda uma narrativa, mas que não encontra muito eco na sociedade. Se existe, está escondida. Já do ponto de vista étnico, existem conflitos, mas não violentos. É preciso discernir, há conflitos religiosos não violentos, conflitos étnicos não violentos, aliás, prefiro falar de mobilização étnica, lóbis étnicos, do que de violência étnico-política, porque há diferenças entre conflito étno-político e violência étno-política. Agora, voltando à Região Austral, se estes grupos estabelecerem uma base, o facto de Moçambique ter optado por mercenários e a SADC não estar a agir de forma militar unida, poderá revelar algum receio de retaliação aos Estados da SADC? Ou seja há a possibilidade de este grupo se ter disseminado noutros países e estar à espera de sinais para agir? Veja só uma coisa interessante, mas primeiro quero partilhar uma experiencia que tive na Nigéria, quando um taxistas virou-se para mim e disse: ‘Calton presta atenção ao facto de em quase todos os países

25

de África onde há terrorismo, esse terrorismo actua na zona Norte, onde há maioria de população islâmica’. Ele deu o exemplo da própria Nigéria, dizia que há muitos muçulmanos no Norte da Nigéria. No Ghana não há terrorismo a actuar, mas tens muita população na zona Norte. No Sudão, com muita população na zona Norte, muçulmana. Falava da Tanzânia, que é toda ele muçulmana, quase. E falava de Moçambique, dizendo que Moçambique também tem população maioritariamente muçulmana no Norte. Este é um dado que eu acho importante para fazer o mapeamento de toda a África, tirando os casos onde há um país todo ele muçulmano. Este é um primeiro ponto. O segundo ponto, que acho importante, é que quando falamos de terrorismo é preciso destrinçar duas coisas: o terrorismo actua, ao nível global, usando alguns países como ponto de financiamento, mas usa outros países para serem alvos de acções violentas. E há um terceiro caso em que combina as duas coisas. Por exemplo, aqui, os grupos terroristas usam Moçambique como um ponto de financiamento, mas também estão a atacar, Moçambique é ponto de financiamento e alvo do terrorismo. Os outros países da SADC, até prova em contrário, podem estar a funcionar como pontos de financiamento e não necessariamente como alvos de acções violentas. Então, o grande receio é o alastramento de acções violentas. Mas há uma percepção de que está a haver uma presença de grupos terroristas para a busca de financiamento para acções terroristas. O que é que eles reivindicam, exactamente em Moçambique? Agora já se sabe que é uma reivindicação que ataca o Estado, mas quando eles começaram, eles fizeram um ataque contra uma esquadra que retirou alguns membros deste grupo que estavam detidos, aliás, deixe-me fazer um recuo para as hipóteses que levantou lá atrás. Eu falava de acção tardia do Estado, é bem verdade que se diga que o Estado agiu, mas agiu tardiamente. Por exemplo, o Estado deteve algumas pessoas, e quando este grupo fez o primeiro ataque, a intenção primeira foi de ir libertar estas pessoas, os companheiros de grupo. Isto significa que o Estado agiu, mas agiu tardiamente. E quando agiu, não agiu na perspectiva de ameaça política, agiu na perspectiva do crime normal, comum. Foi esta a primeira abordagem. Por outro la-

do, o Estado não quis agir em força por causa do medo da perda de apoio político em momentos eleitorais. Não nos esqueçamos que o Norte de Moçambique é a zona onde você tem a maioria da população eleitoral. Em Nampula, sobretudo, se você atacar a população muçulmana corre o risco de perder as eleições. Esta foi uma abordagem que retardou, ou diminuiu a acção do Estado em força contra estes grupos. Deu para perceber.... Agora, ao nível da SADC, para mim está claro que há esta possibilidade e todos reconhecem que os seus Estados podem estar a ser usados como pontos de financiamento. Não é por acaso que Angola endureceu as medidas de controlo contra o branqueamento de capitais. Ao fazer isso, a intenção não é só contra o branqueamento de capitais, mas é também controlar os mecanismos de circulação de dinheiros que possam financiar esses grupos. A Tanzânia endureceu, a África do Sul... Todos os Estados endureceram porque têm consciência de que estes grupos podem estar a usá-los. A África do Sul já teve alegações de que havia grupos que estavam a gerar dinheiro para locais pouco claros, pouco lícitos, e endureceu as medidas. Enquanto pontos de financiamento há esta sensibilidade, mas enquanto alvos, alguns podem estar a beneficiar-se do facto de não terem muita população muçulmana na sua zona Norte. A SADC tem o mecanismo político de cooperação na área de defesa e segurança, tem uma força de alerta que não foi activada nestes caso, o senhor é professor também de Relações Internacionais, como avalia o facto de haver poucas notícias de cooperação efectiva dos serviços de inteligência? Podem estar a pesar as particularidades de cada pais, o facto de não haver uma política de migração comum, tal como a circulação e comércio livres não estão totalmente estabelecidos, o que precisaria de um mecanismo integrado de inteligência, para além dos exercícios militares comuns. Haverá alguma desconfiança entre os Estados? Infelizmente nós confiamos desconfiando. Este é um dado interessante que temos que reconhecer. Os nossos serviços de inteligência, vamos ser justos, eles comunicam. E muitas vezes do ponto de vista multilateral, se calhar mais do que do ponto de vista bi-

Calton presta atenção ao facto de em quase todos os países de África onde há terrorismo, esse terrorismo actua na zona Norte, onde há maioria de população islâmica”

Do que sei dos serviços de inteligência de Angola, há uma relação umbilical entre o partido e os serviços de inteligência, também em Moçambique há uma relação umbilical, na Tanzânia também há. É difícil falar de uma abertura muito forte para a cooperação a ter de partir de informação sensível.

lateral, salvo em questões em que existam ameaças iminentes. Por exemplo, quando foi da preparação do Mundial de futebol da África do Sul, houve uma comunicação muito forte entre Moçambique e a África do Sul em matéria de inteligência, eles estiveram aqui e a nossa inteligência também esteve na África do Sul. Aquando da Operação Rachel aqui em Moçambique, para o controlo de circulação de armas, do roubo de viaturas da África do Sul, houve muita cooperação de inteligência policial e até de segurança do Estado. Quer-me parecer, e espero não estar a ser injusto com eles, que a cooperação é mais circunstancial e em função de casos específicos e não numa base permanente de troca de informação sensível. Isto pode denunciar a existência de uma certa desconfiança entre estas instituições muito sensíveis em cada Estado e também pode significar um certo interesse de não expor as fragilidades de cada um dos Estados. Mas isto é paradoxal e até incompreensível, porque desde que aconteceu o ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, houve uma mobilização global para chamar a atenção para a importância de os serviços de inteligência cooperarem mais na prevenção de problemas que possam pôr em causa a segurança dos Estados, mas aqui ainda temos muito caminho por andar. Não estará na base disto as diferenças políticas dos Estados, os diferentes níveis de democratização, ou a politização, ou partidarização de cada um dos Estados? É isso. Sem dúvidas. Por isso é que os serviços de inteligência têm a tendência de proteger-se, não se expor muito, para não expor as vulnerabilidades dos governos para os quais eles trabalham. Enquanto houver este forte sentido de partidarização das instituições do Estado, e isto não é só de Moçambique, é inclusive de Angola, da Tanzânia. Do que sei, por exemplo dos serviços de inteligência de Angola, há uma relação umbilical entre o partido e os serviços de inteligência, o que eu sei também de Moçambique, há uma relação umbilical, na Tanzânia também há. Então, é difícil falar de uma abertura muito forte para a cooperação a ter de partir de informação sensível. O receio é que se fizer isso estará a expor as fragilidades do país, estará a expor as fragilidades do partido com que têm uma relação umbilical.


desporto

28

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Relva da Tundavala terá cara nova em Setembro

dr

O ar do tapete verde do palco onde desfilaram grandes artistas do futebol africano, no CAN2010, terá um novo rosto daqui a três meses, segundo o órgão que rege o desporto na província da Huíla

A

re c up eraç ão da relva do Estádio da Tundavala, no Lubango, iniciada há uma semana, estará concluída em três meses, afirmou nesta Quarta-feira, o director do Gabinete provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos na Huíla, Osvaldo Lunda. Esse trabalho, segundo o gestor, passa por queimar a erva daninha, pela melhoria da terra, entre outros tratamentos obrigatórios.

Em declarações à imprensa, o responsável disse que serão, igualmente, reparados os aspersores, será feito o nivelamento e compactação do piso, seguindo-se o processo de recuperação da relva em 90 dias. Informou que as sementes

para a relva, aprovadas pela Federação Internacional da modalidade, foram adquiridas na Namíbia, as mesmas usadas para os estádios que albergaram o Campeonato do Mundo em 2010, na África do Sul.

Osvaldo Lunda adiantou que os trabalhos decorrem sob tutela do Ministério da Juventude e Desportos, órgão que vai assegurar a manutenção da infra-estrutura. Construído em 2009, o Estádio Nacional da Tundavala

custou USD 69 milhões. Tem capacidade para albergar 21 mil e 40 espectadores. Foi palco de alguns jogos da selecção nacional referentes ao grupo D do Campeonato Africano das Nações, que Angola acolheu em 2010.

Jorge Semedo pode “trocar” a música pelo desporto Mário Silva

O

cantor Jorge Semedo, candidato único à presidência da equipa sénior masculina de hóquei em patins da Académica de Luanda, pode ser amanhã eleito presidente dos estudantes no pleito eleitoral, tendo em vista o ciclo 2020/2024, no Pavilhão do Dream Space, em Luanda, às 14:00. Segundo uma fonte de “OPAÍS”, o irmão da cantora Yola Semedo reuniu consenso dos sócios do clube para

DR

substituir no cadeirão máximo da equipa Toy Adão. A mesma fonte revelou que o cantor terá como objectivo para os próximos quatro anos restruturar, unir a família da Académica de Luanda, apostar no trabalho da formação para dar resultado a longo prazo. Para o seu primeiro mandato, terá de formar uma equipa forte e capaz de conquistar o Campeonato Nacional e a Taça de Angola, segunda maior competição do calendário da Federação Angolana de Patinagem (FAP).


O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

29 daniel miguel/arquivo

Nápoles garante dupla de reforços por 105 milhões de euros

D

e acordo com o Le10Sport, o Nápoles fechou, na passada Quarta-feira, junto do Lille, duas contratações para a próxima temporada. O avançado nigeriano Victor Osimhen, de 21 anos, e o defesacentral brasileiro Gabriel Magalhães, de 22, vão trocar o conjunto francês pelo Nápoles, que, aponta o referido portal, vai pagar 105 milhões de euros: 80 por Osimhen, marcador de 18 golos nesta época, e 25 pelo defesa. Os detalhes da milionária operação estão já alinhavados e o anúncio oficial deverá acontecer em breve.

FAA lamenta a morte do antigo secretário-geral da Associação de Luanda Mário Silva

A

Federação Angolana de Atletismo (FAA) lamentou a morte do antigo praticante da modalidade e secretário-geral da Associação Provincial de Luanda, Amadeu Júnior, vítima de doença. De acordo com o documento a que “OPAÍs” teve acesso, a

direcção cessante da FAA, encabeçada por Bernardo João, endereça à família do malogrado muita força, coragem e os mais profundos sentimentos de pesar. A nota explicou que Amadeu Júnior foi antigo praticante de atletismo nas especialidades de meio fundo e fundo dos anos 80, representando o grupo do CPPA, actual Interclube. O mesmo dedicou-se ao dirigismo desportivo, tendo ocupa-

do o cargo de secretário-geral da Associação Provincial de Atletismo de Luanda nos anos 90. Amadeu Júnior não poupou esforços na angariação de patrocínio, dando outro cariz à modalidade ao nível da cidade capital. Amadeu Júnior esteve sempre ocupado no seu gabinete de trabalho com reuniões metodológicas e técnicas para que as corridas na pista do Estádio Municipal dos Coqueiros, na baixa de Luan-

Roland Garros vai jogar-se com público em condições especiais

A

edição deste ano de Roland Garros, que foi adiada para de 21 de Setembro a 11 de Outubro, vai jogar-se com público. A organização do torneio parisiense explicou, esta Quintafeira, os contornos com que serão vendidos os bilhetes, e que tudo está a ser levado a cabo em colaboração com as autoridades de saúde. Haverá acesso à maioria dos courts, mas para os courts principais haverá regras mais restritas, com capacidade de ocupação a 60 por

cento. Quem reservar bilhete só conhecerá o seu lugar a meio de Setembro. Nestes estádios maiores, em cada fila haverá um lugar vago entre cada grupo de cadeiras, num máximo de 4 lugares seguidos. Para os associados da Federação, os bilhetes estarão disponíveis dia 9, para o público em geral, a 16 de Julho. Se a situação da pandemia tiver melhorias consideráveis até Setembro, a capacidade permitida poderá ser aumentada.

da, fosse uma realidade, e, posteriormente no Campo do OlímpÁfrica, no município “satélite” de Viana. Na reorganização do conselho de juízes e cronometristas, Amadeu Júnior foi um dos mentores e participou de forma activa nas actividades preconizadas pela comissão organizadora, na qual destacam-se a sua presença em todas as competições em que foi convocado.


classificados emprego

28

O PAÍS

Quinta-feira,02 de Julho, de 2020

imobiliário

Urbanização Vila do Cacuaco

Terrenos bem localizados de 20x30 no Kifica, Patriota e Jardim de Rosas Tel. 925 891 389 ou 992 491 973

12 Hectares bem localizados a beira-mar, isto é antes da Barra do Kwanza

Tel. 925 891 389 ou 992 491 973

diversos



TEMPO

30

O PAÍS

Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES VÁLIDA DE 03 A 05 DE JULHO DE 2020

Fonte: INAMET

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGOA E GEOFÍSICA - CENTRO NACIONAL DE PREVISÃO DE TEMPO (CNPT)

Das 18 horas do dia 02 às 18 horas do dia 03 de julho de 2020 REGIÃO NORTE: Províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Lunda-Sul:

PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES, válida de 03 à 05 de julho de 2020 Data 03 / 06 / 2020

Data 04 / 06 / 2020

Data 05 / 07 / 2020

CIDADE Mín

Máx

Estado do Tempo

Mín

Máx

Estado do Tempo

LUANDA

Mín 19

Máx 28

Céu parcialmente nublado, Neblina matinal.

Estado do Tempo

19

30

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

20

29

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

CABINDA

20

28

Céu nublado, Neblina matinal.

20

28

Céu nublado, Neblina matinal.

20

28

Céu nublado, Neblina matinal.

SUMBE

21

27

Céu parcialmente nublado, Neblina matinal.

21

28

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

21

27

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

CAXITO

20

32

Céu parcialmente nublado, Neblina matinal.

20

32

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

21

31

MBANZA CONGO

18

29

Céu nublado, Neblina matinal.

18

29

Céu nublado, Neblina matinal.

18

29

UIGE

15

29

Céu parcialmente nublado, Neblina matinal.

15

29

Céu nublado, Neblina matinal.

15

29

Céu nublado, Neblina matinal.

NDALATANDO

14

31

Céu pouco nublado, Neblina matinal.

14

31

Pouco nublado, Neblina matinal.

14

30

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

MALANJE

12

29

Céu pouco nublado, Neblina matinal.

12

30

Pouco nublado, Neblina matinal.

11

29

Parcialmente nublado.

DUNDO

19

32

Céu parcialmente nublado.

18

33

Parcialmente nublado.

17

32

Céu parcialmente nublado.

SAURIMO

15

30

Céu pouco nublado.

15

30

Parcialmente nublado.

14

29

Céu parcialmente nublado.

BENGUELA

18

28

Céu pouco nublado, Neblina matinal

18

30

Pouco nublado, Neblina matinal.

17

29

Parcialmente nublado, Neblina matinal.

HUAMBO

06

25

Céu pouco nublado.

04

24

Geralmente limpo.

03

24

Geralmente limpo.

CUITO

07

25

Céu pouco nublado.

06

25

Geralmente limpo.

04

26

Geralmente limpo.

LUENA

08

27

Céu pouco nublado.

07

27

Geralmente limpo.

06

27

Geralmente limpo.

LUBANGO

10

25

Geralmente limpo.

09

25

Geralmente limpo.

07

25

Geralmente limpo.

MENONGUE

05

24

Geralmente limpo.

06

27

Geralmente limpo.

05

26

Geralmente limpo.

MOÇÂMEDES

14

29

Céu pouco nublado a limpo.

16

29

Parcialmente nublado.

14

29

Parcialmente nublado.

ONDJIVA

09

28

Geralmente limpo.

08

27

Geralmente limpo.

08

28

Geralmente limpo.

Céu parcialmente nublado, apresentando-se nublado durante a madrugada e manhã. Possibilidade de ocorrência de neblina matinal em alguns municípios das províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Luanda, Bengo, Cuanza Norte, Cuanza Sul e Malanje. REGIÃO CENTRO: Províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico Céu geralmente limpo, apresentando-se pouco nublado durante a madrugada e manhã. Possibilidade de ocorrência de neblina matinal em alguns municípios da província de benguela. REGIÃO SUL: Províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango: Céu geralmente limpo.

Parcialmente nublado, Neblina matinal. Céu nublado, Neblina matinal.

Os Meteorologistas: José Cachimbuandungue e Lutuima Domingues

Luanda, 02 de julho de 2020

Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, Rua 21 de Janeiro – Tel.: 949320641 – Luanda. Site: http://www.inamet.gov.ao; emails: geral@inamet.gov.ao / geral.inamet@angola-portal.ao

TEMPO no mar

Fonte: INAMET

BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA

3. DESCRIÇÃO SINÓPTICA DAS 18:00 TU DO DIA 02/07/2020 ÀS 18:00 TU DO DIA 03/07/2020.

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIA 02 DE JULHO DE 2020:

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA – INAMET

Circulação fraca à moderada de sul/sudoeste entre os paralelos Centro Nacional de Previsão do Tempo 4°S e 14°S (Cabinda à Benguela), e circulação forte de sudoeste entre os paralelos 14°S e 18°S (Namibe). METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA 2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉBOLETIM AS 18:00 TU DO DIA 03 DE JULHO DE 2020:

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIA 02 DE JULHO DE 2020: Circulação fraca à moderada de sul/sudoeste entre os paralelos 4°S e 14°S (Cabinda à Benguela), e circulação forte de sudoeste entre os paralelos 14°S e 18°S (Namibe). 2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 03 DE JULHO DE 2020: REGIÃO

ESTADO DO TEMPO

VENTO

(ATÉ 200 MILHAS DA COSTA)

ALTURA DA ONDA (METROS)

ESTADO DO MAR

VISIBILIDADE HORIZONTAL (KM)

Até 1.6

Agitado

Moderada (Superior a 6)

Até 1.6

Agitado

Moderada (Superior a 6)

DIRECÇÃO FORÇA (KT)

Cabinda (4°S – 6°S)

Nublado pela madruga

Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul (6°S – 12°S) Benguela (12°S – 14°S)

Nublado pela madruga Nublado pela madruga

Namibe (14°S – 18°S)

Geralmente limpo

Sul/ Sudoeste Sul/ Sudoeste

Até 08

Até 14

Sul/ Sudoeste

Até 16

Até 1.7

Agitado

Moderada à boa (Superior a 8)

Sudoeste

Até 19

Até 2.1

Agitado

Boa (Superior a 9)

O anticiclone de Santa Helena com a pressão central de 1025hPa, se deslocará para o sudeste do continente africano, influenciando o padrão e a intensidade do vento nas próximas 24 horas. Assim, prevê-se estado do mar agitado para as regiões marítimas de Cabinda à Namibe, com ondas máximas entre 1.6 e 2.1 metros de altura.

4. CARTA DO VENTO MÁXIMO E DA ALTURA DA ONDA MÁXIMA PREVISTA

Os contornos a cores indicam a altura máxima da ondulação e os contornos em tom cinza indicam os possíveis incrementos das vagas devido à influência do vento local.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

31

Ricardo VITA

Que importância tem realmente o movimento “Black Lives Matter”?

N

a minha memória de observador da história das lutas pelos direitos civis dos Negros, não me lembro bem de um momento como o que estamos a viver agora com o movimento “Black Lives Matter” (BLM). As abolições da escravatura, que ocorreram em momentos diferentes, graças às lutas determinadas e geracionais de Africanos escravizados, não geraram tal adesão ou uma revolta mundial multi-racial, associada a uma tomada de consciência visível nos países ocidentais. Por exemplo, a escravatura no mundo árabe não foi realmente afectada por essas abolições. Também creio que as guerras pelas independências não mobilizaram tanto. Além da retumbante Conferência de Bandung (realizada na Indonésia entre 18 de Abril de 1955 e 24 de Abril de 1955), no fim da qual os representantes de vinte e nove países recém descolonizados da África, Ásia e do Médio Oriente decidiram a política de nãoalinhamento com nenhum dos dois blocos da Guerra Fria (Estados Unidos x URSS), não houve realmente uma tomada de consciência popular mundial contra a colonização. Essa falta de mobilização popular até permitiu que Salazar, o ditador fascista português, mentisse para a ONU durante décadas, remendando várias estratégias para evitar a descolonização. O seu país até teve tempo de esvaziar as suas prisões para despejar todos os seus criminosos nas colónias africanas, dando-lhes uma instrução clara: copular com mulheres negras para permitir que Portugal usasse esse simulacro de colonização suave e pacífica e, portanto, supostamente mais bela que as outras, para não

descolonizar. Os mov i mentos de descolonização não tiveram o impacto do “Black Lives Matter”. E mesmo que a luta contra o Apartheid e a mobilização para a libertação de Mandela tenham mobilizado muita gente pelo mundo, especialmente no Ocidente, também estávamos longe de uma revolução. Até diria que era uma boa maneira de comprar uma boa consciência e de afirmar que não éramos racistas. Já que podíamos dizer - como hoje - “eu não sou racista! “, da mesma maneira que um homem nascido num mundo machista, como o nosso, diria sem pestanejar: “ Não sou machista, sei disso!”, porque só ele sabe como fez para não o ser e como a voz da mulher, a vítima que sabe melhor, não conta. Obama também mobilizou amplamente a nível internacional pela utopia de um mundo pósracial, esboçado, apesar de tudo, pelo espectro de um primeiro presidente negro nos Estados Unidos, que ele incarnou bem durante a sua primeira campanha para a eleição presidencial de 2008. Mas, novamente, foi apenas uma ideia “cool”de ser pró-Obama e nada mais. Aliás, foi muito bom que ele era candidato nos Estados Unidos, porque a mudança é bemvinda, desde que esteja longe do nosso país. Contentou-se então em fabricarnosoutrospaísesocidentais alguns anúncios cosméticos e de marketing que mascaravam mal a hipocrisia e o medo. E mesmo assim, queriam afirmar que não eram racistas, que eram generosos e que estavam também abertos à diversidade. Portanto, Obama foi outro simulacro, apesar da força do símbolo que ele ainda representa. O BLM é único e inédito no seu género. Mobilizou os quatro cantos

do mundo em uníssono para propor uma luta contra o racismo que os negros sofrem por toda a parte. Soube capitalizar sobre todas as lutas anteriores e criar outra narrativa de luta adaptada ao século XXI. É, portanto, o primeiro movimento a ser capaz de oferecer verdadeiras promessas de esperança na luta contra o racismo e a saber estabelecer que não ser racista já não é suficiente, que se deve agir contra o racismo. George Floyd foi o catalisador mundial do movimento, mas este começou em 2013 com a absolvição do caso de George Zimmerman, o assassino branco do adolescente afro-americano de 17 anos Trayvon Martin em Fevereiro de 2012 em Sanford, Flórida. Esse caso marcou o início de uma longa série de assassinatos de Afro-americanos nos Estados Unidos. A mulher negra sempre esteve na vanguarda de todas as nossas lutas, mas as culturas religiosas estrangeiras que nos foram impostas - o cristianismo e o islamismo em primeiro lugar - sempre minimizaram o seu lugar no pódio da glória e do reconhecimento. O movimento “BlackLivesMatter”,impulsionado por três mulheres negras, também pretende remediar esse erro. Primeiro, foi Alicia Garza, uma activista negra americana, que em 13 de Julho de 2013 publicou na sua página Facebook um texto sobre a absolvição de Zimmerman e que terminava da forma seguinte: “Black people. I love you. I love us. Our lives matter”(Povo negro. Amo-te. Amo-nos. As nossas vidas importam). Outra mulher americana, Patrisse Cullors, respondeu-lhe escrevendo o seguinte: “Black Lives Matter” e o hashtag #BlackLives Matter nasceu aí. Mas o movimento tomou a sua forma militante com a chegada

de Opal Tometi, outra mulher americana de origem nigeriana e líder de outro grupo de direitos dos imigrantes, que trouxe a sua experiência do campo. Foi assim que o BLM passou de um hashtag, usado nas redes sociais desde 2013, a um movimento planetário oficial de defesa dos direitos civis, desde 2015. E tem, desde então, denunciado casos de assassinatos de negros. Se o BLM se descreve como um movimento de “intervenção política e ideológica num mundo em que os Negros são sistematicamente os alvos da morte”, representa muito mais do que isso. O movimento tornou possível distinguir as noções de não-racismo e anti-racismo. O primeiro é um refúgio passivo e geralmente hipócrita, o segundo é activo e engajado na acção. Se antes os brancos de todo o mundo costumavam dizer a torto e a direito que não eram racistas, agora têm que o provar. Devem, acima de tudo, aceitar aprender com as vítimas o que é racismo, porque cabe à vítima expressar o seu sofrimento e não o contrário. O BLM, portanto, permite que os negros se reapropriem a sua história, que era uma prerrogativa dos brancos. Quer desconstruir a narrativa da dominação branca questionando-a com impetuosidade e humanidade. A intenção é educar os negros de todo o mundo que têm um desejo partilhado de justiça para agirem juntos contra a supremacia branca. É, portanto, um movimento de afirmação da humanidade dos negros, dos seus contributos no mundo e da sua resistência diante de uma opressão assassina que os domina há séculos. Em suma, trata-se de um movimento que veio criticar o conceito de Branco e Preto, inventado pelos

brancos para estabelecer a sua supremacia. Por exemplo, graças ao BLM, os brancos começam, finalmente, a entender que o seu progresso não se deve apenas ao seu génio. Também têm percebido que o seu olhar sobre o Negro é fruto da herança da escravatura e do colonialismo. Começam a entender que o que chamam de “comunitarismo” entre pessoas não-brancas é o que sempre fizeram entre eles há séculos; nas escolas, na administração, nas empresas e nas suas relações com países não-brancos. Finalmente, entendem que o medo ou choque que os encontros ou as reuniões entre negros criam neles e a estigmatização que suscitam é simplesmente o vestígio da escravatura e do colonialismo, que impediam encontros entre negros. Enquanto isso, as reuniões entre brancos sempre foram normalizadas e isso não os surpreende. Então entenderam que isso é chamado de “Privilégio Branco”. O BLM já começou a dar frutos, falaremos sobre isso novamente. E espero que os Negros de todo o mundo, inclusive nos países árabes, possam finalmente libertar-se, para criar uma humanidade maior com a grande comunidade humana. E quando em Angola entendermos mais profundamente o que está a acontecer, o Primeiro-ministro de Portugal não usará mais calças jeans quando ele for lá em viagem oficial. E os Assimilados e lusotropicalistas, que estão pouco a pouco a emergir do seu sonho de assimilação lusitana, porque já começaram a entender (até que enfim!) em que lado da história devem estar, continuarão a defender as nossas línguas nacionais com maior sinceridade, como fazem alegremente com a sua língua preferida: o Português. Ricardo Vita é Pan-africanista, afro-optimista radicado em Paris, França. É colunista do diário Público (Portugal), cofundador do instituto République et Diversité que promove a diversidade em França e é empresário.


Última 32

O PAÍS Sexta-feira, 03 de Julho de 2020

Taxas de Câmbio dos Bancos Comerciais Sexta-Feira, 03 de Julho de 2020

Taxa de Câmbio Actual Compra

Venda

BANCOS COMERCIAIS

USD/KZ

EUR/KZ

USD/KZ

EUR/KZ

Finibanco Angola - (FNB)

559,986

632,000

619,984

699,714

Banco de Crédito do Sul - (BCS)

572,509

640,981

609,768

682,696

Banco Comercial do Huambo - (BCH)

582,944

653,335

609,046

682,589

Banco Keve - (BKEVE)

567,861

636,431

605,525

682,760

Banco de Poupança e Crédito - (BPC)

567,861

636,431

604,366

677,344

Banco BAI Microfinanças - (BMF)

576,846

645,721

604,315

676,469

Standard Bank Angola - (SBA)

572,509

640,981

603,138

675,273

Banco Valor - (BVB)

558,583

629,460

601,506

677,830

Banco Comércio e Indústria - (BCI)

566,578

634,340

601,341

673,261

VTB África - (VTB)

565,700

638,449

601,170

678,481

Banco de Investimento Rural - (BIR)

572,509

640,981

600,346

672,147

Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA)

576,559

648,127

599,122

682,923

Banco Económico - (BE)

578,120

647,263

598,472

670,049

Banco de Fomento Angola - (BFA)

572,509

640,981

598,272

669,825

Banco Yetu - (YETU)

574,411

648,079

597,445

676,031

Banco BIC - (BIC)

568,215

636,174

596,554

669,825

Banco Caixa Angola - (BCGA)

578,234

647,391

595,638

666,877

Standard Chartered Bank Angola - (SCBA)

549,780

615,534

595,581

665,574

Banco Prestígio - (BPG)

549,609

615,342

595,409

666,620

Banco Sol - (BSOL)

566,784

634,571

595,409

666,620

Banco Comercial Angolano - (BCA)

570,864

642,222

593,814

668,040

Banco de Negócios Internacional - (BNI)

559,986

700,571

593,128

742,033

Banco Millenium Atlântico - (ATL)

569,646

637,776

589,684

660,210

Banco da China Limitada - Sucursal - (BOCLB)

555,334

621,752

589,684

660,210

Banco Angolano de Investimentos - (BAI)

577,377

651,628

589,160

664,926

Banco Kwanza Invest - (BKI)

558,557

630,388

582,842

657,796

Taxa Média dos Bancos Comerciais

568,072

640,266

598,874

675,620 Fonte: BNA

Caso necessite de moeda estrangeira, dirija-se sempre aos bancos comerciais ou às casas de câmbio autorizadas. Não realize operações de compra ou venda de moeda estrangeira na rua/mercado informal, pois tal acarreta muitos riscos e é ilegal.

O que saber sobre o Coronavírus…

“O

álcool ou qualquer mistura com álcool a mais de 65% dissolve qualquer gordura, sobretudo a camada lipídica externa que protege o vírus”. “Qualquer mistura com uma parte de cloro e cinco partes de água dissolve directamente a proteína, desintegrando o vírus”. “O vírus não é um organismo vivo, mas sim uma molécula de proteína (ARN) coberta por uma camada protectora de lípido (gordura), que ao ser absorvida pelas células das mucosas ocular, nasal ou bucal, alteram o código genético delas (mudam) e as convertem em células agressoras multiplicadoras”. “O vírus conserva-se muito estável em ambientes frios, húmidos e escuros”. “Nenhum bactericida serve! O vírus não é um organismo vivo como a bactéria, e se não está vivo não se pode matar com antibióticos, os vírus são desintegrados. Daí que a solução está em romper a sua cadeia de propagação e mutação”. “O vírus não atravessa a pele sã”. “O calor muda o estado da matéria da gordura da camada protectora do vírus, por isso é bom usar água a mais de 25 graus centígrados para lavar as mãos, a roupa e locais em que nos encontre-

mos”. “Não sacudam! Esfreguem as superfícies com álcool, cloro (lixívia), água oxigenada ou detergente! O vírus agarrado a uma superfície se desintegra algum tempo segundo a matéria de que é feita esta superfície. 3 horas (tela porosa), 4 horas (cobre e madeira), 24 horas (cartão), 42 horas (metal) e 72 horas (plástico). Se se sacudir o vírus volta a flutuar no ar e pode alojar-se no nariz”. “Como o vírus não é um ser vivo senão uma molécula de proteína, não se mata, mas se desintegra. O tempo de desintegração depende da temperatura, humidade e tipo de material onde repousa”. “A água oxigenada dissolve a proteína do vírus, isto ajuda muito depois do uso de sabão, álcool ou cloro para atacar o vírus, mas há que usá-la pura e se se usar na pele a pode ferir”. “O vírus é muito frágil, o único que o protege é uma camada externa muito fina de gordura, por isso é que qualquer tipo de sabão é o melhor remédio, porque a espuma corta a gordura (há que esfregar-se por 20 segundos no máximo e fazer muita espuma. Ao dissolver a camada de gordura se dispersa e desintegra por si”. UMA RECOMENDAÇÃO VALIOSA Use a mão não dominante para abrir as portas em casa, escritório, transporte, banhos, etc., já que é muito difícil que venha a tocar o rosto com essa mão. Na Coreia do Sul foi muito difundida esta iniciativa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.