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Especial Saúde
A polimedicação e o uso não racional do medicamento é uma questão que tem vindo a preocupar cada vez mais os profissionais de saúde.
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Como podemos definir?
A polimedicação define-se habitualmente como o uso de múltiplos fármacos por um doente. O número mínimo de medicamentos necessários para definir a polimedicação é variável, geralmente entre 5 e 10 medicamentos.
Envelhecimento e Fármacos
Com o aumento crescente da população idosa, assiste-se de igual modo ao aparecimento de diversas patologias crónico-degenerativas e a alterações do processo de senescência (envelhecimento dos tecidos do organismo). Esta tendência realça o desafio cada vez maior de no tratamento destes doentes gerir múltiplas comorbilidades e a polimedicação.
Patologias crónicas comummente associadas ao envelhecimento, como a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, a fibrilação auricular ou a demência potenciam a polimedicação, com consequente aumento do risco de efeitos adversos, interações medicamentosas e hospitalização.
Embora a polimedicação se refira mais frequentemente aos fármacos de prescrição médica, é importante considerar também os medicamentos de venda livre, suplementos, produtos Os idosos correm maior risco de ocorrência de efeitos adversos devido a alterações de ervanária ou outros.
metabólicas e à diminuição da eliminação de fármacos associadas ao envelhecimento.
Por outro lado, a polimedicação aumenta a possibilidade de prescrição em cascata. Esta ocorre quando um efeito adverso a um determinado medicamento é confundido com um novo sintoma e conduz à prescrição de um novo fármaco. Além disso, a toma de múltiplos medicamentos pode motivar problemas de adesão à terapêutica, principalmente no
A incorreta adesão à indivíduo idoso com compromisso visual ou cognitivo.
terapêutica tem consequên-
cias graves não só para a Com o avanço da idade, verificam-se várias complicações que tornam o processo mais qualidade de vida do doente, delicado, através da diminuição da acuidade visual e auditiva, bem como frequentemente a cognitiva. Este processo inviabiliza a perceção correta da informação e em muito contribui como também a nível socioeconómico, aumentando para erros de medicação, o que condiciona com frequência a eficácia terapêutica. o número de hospitalizações, morbilidade e mortalidade dos doentes
Principais tipos de uso irracional de medicamentos:
1. Uso abusivo sem monitorização;
2. Falta de comunicação entre paciente e médico, muitas vezes propositada;
3. Uso inadequado de medicamentos antimicrobianos, frequentemente em doses incorretas ou para infeções não-bacterianas.
4. Uso excessivo de injetáveis em casos em que seriam mais adequadas formas farmacêuticas orais;
5. Prescrição em desacordo com as diretrizes clínicas;
6. Automedicação inadequada, frequentemente com medicamento sujeito a prescrição médica.
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Principais problemas da polimedicação:
1. Reações adversas;
2. Efeitos secundários desnecessários;
3. Alteração dos resultados da terapêutica;
4. Instabilidade postural;
5. Ocorrência de quedas;
6. Perda de capacidades mentais, nomeadamente a orientação e a memória;
7. Sedação excessiva;
8. Alterações de humor;
9. Alterações gastrointestinais;
10. Perturbações sexuais;
11.Custos desnecessários para o doente e para o sistema de saúde.
Papel do Farmacêutico
Em muitas zonas do território nacional, as farmácias são a única estrutura de saúde disponível capaz de prestar cuidados de proximidade, sendo nestes locais o farmacêutico o único profissional capaz de evitar deslocações desnecessárias a outros serviços de saúde perante transtornos de saúde menores, através da dispensa e aconselhamento sobre o uso correto de medicamentos não sujeitos a receita médica e medicamentos de venda exclusiva em farmácia.
O seu papel passa por:
• Obter adequada história médica e da terapêutica; • Relacionar cada medicação prescrita com uma situação patológica; • Identificar medicação para tratamento de efeitos secundários; • Aplicar intervenções que aumentem a adesão à terapêutica; • Reconciliação da terapêutica; • Prevenção; • Revisão regular da medicação; • Simplificação dos regimes posológicos; • Dispositivos de auxílio; • Ferramentas informáticas com alertas; • Envolvimento do doente (informação, educação e comunicação do risco); • Formulários e listas de fármacos inapropriados no idoso; • Comunicação com outros profissionais.
Preparação Individualizada de Medicação (PIM). Maior facilidade e eficácia na administração de medicamentos.
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O serviço de preparação individualizada de medicação (PIM) vem ao encontro desta preocupação, sendo já uma prática corrente em diversas farmácias. É um método útil na gestão da terapêutica em doentes idosos e polimedicados, permitindo maior facilidade e eficácia na administração do medicamento certo, no dia e hora certos. O PIM permite não só melhorar a qualidade de vida do doente, como auxiliar familiares e cuidadores.
Esta também é uma missão de todos nós. Com a devida ajuda, a polimedicação não tem de ser um problema!
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