Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas

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http://medicinavetdocoletivo.com.br Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição


Rita de Cassia Maria Garcia Néstor Calderón Daniel Friguglietti Brandespim

MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO: FUNDAMENTOS E PRÁTICAS 1ª edição

São Paulo Integrativa Vet – 2019


Ortografia: Este livro contempla as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, em vigor desde 2009. Capa: Pessoas formando a imagem de uma mão com um cão e um gato, simbolizando o envolvimento das pessoas em prol da proteção dos animais (Shutterstock/tail11)

2019 Todos os direitos reservados. Integrativa Vet São Paulo – Brasil

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

A responsabilidade de qualquer conduta prescrita é do profissional que a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução de qualquer procedimento médico-veterinário. Os editores não podem ser responsabilizados pelo abuso ou má aplicação do conteúdo compartilhado nessa obra.


O

rg an iz a dores

Rita de Cassia Maria Garcia Graduada em medicina veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) em 1988. Mestre em Epidemiologia Aplicada ao Controle de Zoonoses (1996) e doutora em Ciências Veterinárias pela USP (2009). Pós-doutorado também na USP, no Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho (2016). Especialização em saúde pública, patologia clínica e homeopatia, bem-estar animal e medicina de abrigos. Docente da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Membro da diretoria do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC) e da Associação Brasileira de Bem-estar Animal (ABBEA).

Néstor Calderón Graduado em medicina veterinária pela Universidade La Salle em 1988. Especialização (2001) e mestrado (2016) em Bioética pela Universidade El Bosque, na Colômbia. Pós-graduação (1998) em Medicina, Cirurgia e Zootecnia de cães e gatos na UNAM (México). Didática Universitária na Universidade de Bogotá (2003). Certificado em Bem-estar Animal (2007) no CEI (Inglaterra). Especializações: Etologia Clínica Veterinária e Bem-estar de pequenos animais (2009), Medicina Homeopática (1990), Acupuntura, Moxabustão e Medicina Tradicional Chinesa (1992), Medicina Veterinária Homeopática (1994), Acupuntura Veterinária para pequenos e grandes animais (2017) e Sintergética (2018). Coordenador Executivo do ITEC (Brasil) e vice-presidente da Associação Veterinária Latino-americana de Zoo-psiquiatria AVLZ.

Daniel Friguglietti Brandespim Graduado em medicina veterinária na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp/Jaboticabal) em 1994. Especialização em Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) em 1995. Mestre em 1998 e doutor em Medicina Veterinária Preventiva pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Jaboticabal) em 2003. Desde 2006, professor associado no Departamento de Medicina Veterinária, na área de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

A

grad ec im ento s

A Medicina Veterinária do Coletivo ganhou seu espaço graças a diversos profissionais dedicados a transformar paradigmas, promover a saúde coletiva e proteger seres em situações de vulnerabilidade. Agradecemos a todos vocês! Que esse livro seja mais uma ferramenta de grande utilidade para seguirmos almejando a saúde única. Gratidão!

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o l a b o ra do re s

Adilson Soares Economista, especialista em finanças, orçamento, administração e saúde pública, doutor em saúde coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professor de políticas de saúde e economia da saúde no Programa de Pós-graduação em Ciências da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo (SES/SP). Membro da Associação Brasileira de Economia da Saúde – ABrES e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO.

Adriana Maria Lopes Vieira Médica-veterinária formada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). Especialista em saúde pública. Especialista em administração de serviços de saúde. Mestra em epidemiologia aplicada às zoonoses pela FMVZ/USP. Atuação: vigilância e controle da raiva no Instituto Pasteur/SP e vigilância sanitária na Prefeitura de Guarulhos. Presidente da Comissão de Saúde Pública Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

Adriel Rocha Graduado em comunicação social com habilitação em produção de mídias digitais pelas Faculdades Essei, em 2010. Atuou na Seção de Defesa e Proteção Animal da Secretaria de Meio Ambiente, Prefeitura de Pinhais (PR) no período de 2016 a 2018. Fiscal ambiental no Departamento de Fiscalização da mesma Secretaria.

em zootecnia e doutora em ciência animal pela mesma instituição. Pós-doutorado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Perita e colaboradora técnica da CEDEF – Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna do Ministério público de Minas Gerais, conselheira e membro da comissão de Medicina Veterinária Legal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais (CRMV-MG) e presidente da comissão de bem-estar animal, no mesmo conselho.

Antônio Waldir Cunha da Silva Graduado em medicina veterinária em 1988 pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Mestrado em Ciências Veterinárias pela Escola de Veterinária da UFMG em 1995. Doutorado em Ciências Farmacêuticas – Produtos Naturais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Curitiba, em 2013. Professor de Patologia Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária da UFPR – Campus I-Curitiba.

Carla Maria Sássi de Miranda Bacharel em direito pelo Centro de Ensino Superior de Valença (RJ) – CESVA/FAA. Médica-veterinária graduada pela Univiçosa. Pós-graduada em clínica e cirurgia de animais silvestres e em gestão e análise ambiental. Responsável técnica da ONG ALPA, do programa de guarda responsável e controle populacional de cães e gatos “Quem Ama Castra” e do programa de combate e controle da esporotricose, todos em Conselheiro Lafaiete (MG). Vereadora de Conselheiro Lafaiete (MG) pelo PSB, eleita em 2016.

Alexander Welker Biondo Graduado em medicina veterinária (1993) e Residência em Laboratório Clínico Veterinário (1994) pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu). Mestrado em 1996 pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Residência em Patologia Clínica Veterinária (2002) e doutorado em Patologia Clínica Veterinária (2003) pela Universidade de Illinois, EUA. Pós-doutorado em Biologia Molecular pela Universidade da Califórnia, Davis (2011-12) e pós-doutorado em Microbiologia Médica na USP (2016-17). Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Ana Liz Ferreira Bastos Graduada em medicina veterinária em 1996 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestra 6

Caroline Constantino Médica-veterinária graduada em 2013 pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestra em Ciências Veterinárias pela UFPR em 2016. Especialista em Saúde da Família pela UFPR em 2018 (Residência Multiprofissional). Professora substituta do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR e doutoranda em Ciências Veterinárias pela mesma instituição.

Catalina Mejía Médica-veterinária pela Universidade de Antioquia (Colômbia). Mestrado em Etologia Clínica Veterinária pela Universidade Autônoma de Barcelona – Espanha (2005). Trabalhou como responsável pelo serviço de etologia e bem-estar no Centro de Bem-estar Animal

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“La Perla” - Medellín - Colômbia (2014 e 2015). É coordenadora e professora do Diplomado em Etologia Aplicada da Universidade CES (Medellín - Colômbia) desde 2010.

Celso Martins Pinto Médico-veterinário graduado pela FMVZ/USP em 1988. Aperfeiçoamento em Parasitologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP em 1989. Mestrado (1998) e doutorado (2004) em Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses pela FMVZ/USP. Professor de Parasitologia, Doenças Parasitárias e Manejo de Animais Silvestres da Universidade Santo Amaro (UNISA) e Universidade Metodista de São Paulo. Professor de Clínica e Conservação de Animais Silvestres da Universidade Anhembi Morumbi. Responsável pelo atendimento no Setor de Animais Silvestres das 3 Universidades.

Cintia Parolim Ferraz Graduada em medicina veterinária pela UFPR. Atualmente realiza especialização em Medicina Veterinária do Coletivo pelo Programa em Residência em Área Profissional da Saúde do Hospital Veterinário da UFPR.

Cristiane Sella Paranzini Médica-veterinária formada em 2004 pela UNOPAR, Arapongas (PR), mestra em Ciência Animal pela UEL, Londrina (PR) e doutora em Biotecnologia Animal pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ/Unesp-Botucatu). Trabalha com Medicina de Animais Selvagens, primatas não humanos (laboratório) e reprodução de pequenos animais. Durante a pós-graduação desenvolveu pesquisas com castração química com cloreto de cálcio e reprodução de aves.

Cybelle de Souza Graduação em medicina veterinária pela UFPR (1995), mestrado em Ciências Veterinárias pela UFPR (2000) e doutorado em Microbiologia Agropecuária pela UNESP (2008). Atividade atual: professora de Doenças Infecciosas dos Animais Domésticos, Departamento de Medicina Veterinária (UFPR) - campus Curitiba.

Daniel Carlos Coatti Rocha Médico-veterinário graduado em 2014 pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) com aprimoramento em patologia clínica (2014-2016) e residência em patologia veterinária na UFPR (2016-2018). Mestrando em ciência animal pela PUCPR (2018-2020) e médico-veterinário patologista no laboratório veterinário Próvita.

Daniel Hollmann Mingates Médico-veterinário graduado em 2006 pela Universidade Guarulhos (UNG). Especialização lato sensu em Vigilância Sanitária também pela UNG (2008). Atividade atual: analista em saúde médico-veterinário do núcleo de vigilância e controle de animais domésticos da divisão de vigilância de zoonoses de São Paulo.

Danielle Ferreira de Magalhães Soares Graduado em medicina veterinária pela UFMG (2003), mestrado em medicina veterinária pela UFMG (2005) e doutorado em ciência animal também pela UFMG (2008). Atualmente é professora adjunta no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG, área de saúde pública, planejamento em saúde, epidemiologia e conservação de animais silvestres, prevenção e controle de zoonoses, manejo populacional de cães e gatos e medicina veterinária do coletivo.

Dária Louise Barbosa Machado Graduada em Medicina Veterinária pela UFPR. Elaborou trabalhos científicos nas áreas de Toxicologia Reprodutiva - setor de Fisiologia da UFPR; Bem-estar e Comportamento Animal – Laboratório de Bem-estar Animal (LABEA – UFPR); e em Medicina Veterinária Legal. Também atuou como monitora da Disciplina de Medicina Veterinária Legal do curso de Medicina Veterinária (UFPR).

Elâne Rafaella Cordeiro Nunes Serafim Médica-veterinária graduada em 2010 na Unidade Acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), doutorado em 2018 na UFRPE em Ciência Animal Tropical. Especialista em Saúde Pública pela Universidade de Pernambuco (UPE). Atividade atual: vigilância em saúde dos municípios de Cupira-PE e Lagoa dos Gatos-PE.

Elisângela Batista Jornalista graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em Educação Humanitária pelo Institute for Humane Education (IHE) e pela Valparaiso University (EUA). Atividade atual: dedica-se, voluntariamente, a desenvolver um projeto de capacitação em educação humanitária para educadores brasileiros.

Elizabeth Suzanne MacGregor Graduação em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) - 1972. Curso Demografia - Centro de Estudos Políticos da América Latina – CEPAL 1972. Pós-graduação em Educação Ambiental na Faculdades Integradas AVM/Cândido Mendes (2013). Atividades no Brasil e exterior: ensino de geografia e

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inglês, mais de 20 no terceiro setor em organizações britânica e brasileira com foco em bem-estar animal e meio ambiente. Diretora de Educação do Fórum Animal (FNPDA).

Anestesiologia (2012) pela Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Doutor em Anestesiologia (2015) pela mesma instituição. Professor Adjunto do Departamento de Clínicas Veterinárias da UEL.

Fernando Ferreira

Haiuly Viana Gonçalves de Oliveira

Médico-veterinário pela FMVZ/USP (1992), mestrado em saúde pública (1995) e doutorado também em saúde pública (2000), ambos também pela FMVZ/USP. Atividade atual: professor titular da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em epidemiologia animal, atuando principalmente nos seguintes temas: epidemiologia, geoprocessamento e modelagem matemática.

Médica-veterinária formada pela FMVZ/USP, com especialização em Medicina Veterinária do Coletivo pela UFPR. Pós-graduanda em Medicina Veterinária Legal pelo Qualittas, Coordenadora Técnica do Fórum Nacional de Proteção Animal e auxiliar da Justiça do Estado de São Paulo na função de Perita Judicial nomeada.

Inajar Antonio Kurowski

Gabriela Nery Médica-veterinária graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2008, mestra em ciência animal pela Universidade de São Paulo (USP) em 2011, especialista em bem-estar animal em 2011, doutora em ciência animal nos trópicos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2015. Atividade atual: trabalha como terapeuta energética de animais e seus guardiões.

Gesika Maria da Silva Graduada em medicina veterinária, na Unidade Acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco, (UFRPE), especialista em saúde pública pela Universidade de Pernambuco (UPE), mestra em Ciência Animal Tropical pela UFRPE. Atualmente é apoiadora de Vigilância em Saúde, da V Gerência Regional de Saúde (V GERES) da Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Estado de Pernambuco e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal Tropical da UFRPE.

Gizeli Filius Assistente Social com pós-graduação em Questão Social na Perspectiva Interdisciplinar. Secretaria Municipal de Assistência Social de Pinhais (PR), Brasil.

Graziela Ribeiro da Cunha

Médico-veterinário graduado em 1986 pela UFPR. Especialização em Metodologia da Ciência pela Faculdade Espírita do Paraná em 1994. Mestrado Profissional em Gestão Ambiental pela Universidade Positivo em 2010. Perito Oficial Criminal do Estado do Paraná.

Ingrid Hammermeister Nezu Médica-veterinária graduada pela FMVZ/UNESP/Botucatu e finalizou seus estudos na École Nationale de Vétérinaire de Nantes no ano de 2015. Mestranda do programa de pós-graduação em Saúde Animal pela Universidade de Brasília (UnB) com foco em saúde pública. Atualmente trabalhando nas áreas de epidemiologia e vigilância em saúde ambiental.

Irvênia Luiza de Santis Prada Médica-veterinária graduada pela FMVZ/USP, onde galgou todos os degraus da carreira acadêmica e recebeu os títulos de professora titular e emérita. Assessora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. Autora dos livros Neuroanatomia funcional em medicina veterinária com correlações clínicas, A questão espiritual dos animais (12ª edição-2018) e A alma dos animais.

Ivyson da Silva Epifânio

Médica-veterinária (UFPR), especialista em Medicina Veterinária do Coletivo (UFPR) e mestra em Ciências Veterinárias (UFPR). Atividade atual: doutoranda em Ciências Veterinárias na UFPR, desenvolvendo uma pesquisa que investiga as principais zoonoses de cães em situação de acumulação. É membro efetivo do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC).

Médico-veterinário graduado na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Especialista em Vigilância em Saúde Ambiental – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atualmente residente (R2) do Programa de Residência em Área Profissional da Saúde – Medicina Veterinária na área de concentração em Saúde Pública, no Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.

Guilherme Schiess Cardoso

Janaina Hammerschmidt

Médico-veterinário graduado em 2007 pela UFMG. Especialização em Anestesiologia dos Aninais de Companhia pela UEL em 2010 (residência). Mestre em

Médica-veterinária graduada em 2009 pela UFPR. Especialização em Medicina Veterinária Legal. Mestrado (2012) e doutorado (2017) em Ciências Veterinárias

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pela UFPR em 2012 e 2017, respectivamente. Diretora da Associação Brasileira se Medicina Veterinária Legal (ABMVL) e membro da Comissão Estadual de Medicina Veterinária Legal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Paraná – CRMV-PR. Fiscal ambiental da Prefeitura de Pinhais (PR) com experiência em fiscalizações de maus-tratos contra animais.

João Henrique Araújo Virgens Médico-veterinário graduado em 2006 pela UFBA. Especialização em Educação a Distância pelo SENAC em 2010. Mestrado em Saúde Comunitária pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA em 2014. Doutorando no programa de pós-graduação em Saúde Coletiva do ISC-UFBA.

Jonas Lotufo Brant de Carvalho Possui graduação em Medicina Veterinária pela UEL (2000), mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2007) e doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2015). Professor da UnB no Departamento de Saúde Coletiva.

José Francisco Ghignatti Warth Médico-veterinário pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1979. Especializacão em Imunologia pela UFPR em 1998. Mestrado em microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/USP) em 1990. Doutorado em biotecnologia pela UFPR em 2001. Pós-doutorado em microbiologia na Universidade de Nottingham Trent-Inglaterra (2012). Especialista em microbiologia pela Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM). Professor associado da UFPR.

Gerente de Vigilância Ambiental em Conselheiro Lafaiete (MG).

Juliana Tozzi de Almeida Médica-veterinária pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), mestra em ciências veterinárias pela UFPR, na área de bem-estar animal, vinculada ao Laboratório de Bem-estar Animal (LABEA) e doutoranda em medicina veterinária preventiva e saúde animal pela FMVZ/USP.

Karyn Aparecida Rossa Médica-veterinária graduada em 2013 pela UEL. Pósgraduada em Acupuntura Veterinária pela Faculdade de Tecnologia IBRATE Curitiba em 2017. Mestra em Ciências Veterinárias, com ênfase em Saúde Única, pela UFPR em 2019. Atividade atual: clínica médica e acupuntura veterinária de animais de companhia.

Laiza Bonela Gomes Graduada médica-veterinária em 2014 pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Mestra em Ciência Animal (UFMG). Doutoranda em Ciência Animal (UFMG). Cursando de especialização em Medicina Veterinária Legal (Instituto Qualittas de pós-graduação). Presidente da Comissão Estadual de Medicina Veterinária Legal no CRMV-MG.

Larissa Rachel Wolf Graduada em medicina veterinária pela UFPR. Atualmente realiza mestrado em ciências veterinárias pela UFPR, nas áreas de Saúde Única e Medicina Veterinária Legal, trabalhando com a temática de maus-tratos a animais.

Larissa Simionato Barbieri Juan Camilo González Médico-veterinário pela Universidade de La Salle – Colômbia (2008). Mestrado em Etologia Clínica pela Universidade Autônoma de Barcelona – Espanha (2014). Professor de Etologia e Bem-estar Animal na Universidade de Ciências Aplicadas e Ambientais UDCA - Colômbia. Coordenador do Comportamento Animal e Enriquecimento Ambiental do Instituto Distrital de Proteção e Bem-estar Animal IDPYBA – Bogotá, Colômbia. Membro da Associação Veterinária LatinoAmericana de Zoopsiquiatria.

Juliana de Oliveira Villela Graduanda em medicina veterinária (2019) pela UNIPAC. Graduada em Comunicação Social (2005) pela UNIPAC. Pós-graduada em Administração e Marketing (2006) pela FUMEC. Membro Diretor da ALPA – Associação Lafaietense de Proteção Animal.

Médica-veterinária (UFRPE) e educadora licenciada em Ciências Agrícolas (UFRPE), mestranda em Ciência Animal Tropical (UFRPE), possui especialização em endocrinologia veterinária. Titular das Comissões de Ética (CEBEA) CRMV-PE e UNICAP. Participa de projetos e pesquisas que envolvem as áreas de Epidemiologia Veterinária, Medicina Veterinária Preventiva, Saúde Única, Saúde Coletiva e Educação Popular em Saúde.

Letícia Christine Felician Lima Médica-veterinária graduada em 2017 pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – Campus Botucatu. Atualmente, residente em Medicina Veterinária do Coletivo pela UFPR.

Letícia Kienen Languer Rolim Médica-veterinária graduada em 2018 pela UFPR. Participou de grupos de pesquisa em medicina veterinária

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do coletivo e medicina veterinária legal na UFPR. Atuou como médica veterinária no diagnóstico do Rio Doce (após o desastre de Mariana, MG). Atualmente trabalha com clínica médica e controle populacional de cães e gatos em Curitiba (PR).

Luana Oliveira Leite Médica-veterinária graduada em 2013 pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Mestra em Ciências Veterinárias em 2017 pela UFPR. Doutoranda em Ciências Veterinárias na UECE.

Lucas Belchior Souza de Oliveira Médico-veterinário graduado pela PUC Minas. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Biologia de Vertebrados pela PUC Minas. Pós-graduando (lato sensu) em Clínica Médica e Cirúrgica de Pets Exóticos e Animais Silvestres. Possui formação técnica em Meio Ambiente (CECON) e aperfeiçoamento em comportamento e bem-estar Animal pelo programa de graduação sanduíche Ciências sem Fronteiras pela University of Adelaide, Austrália. Atua como médico-veterinário volante no atendimento comportamental, medicina de animais silvestres, perícia em bem-estar animal e resgate de fauna.

Lucas Galdioli Médico-veterinário graduado em 2018 pela Universidade Federal do Paraná - UFPR. Especialização em Medicina Veterinária do Coletivo pelo programa em residência em área profissional da saúde do Hospital Veterinário da UFPR (2019-2021).

Mara Rita Rodrigues Massad Médica-veterinária graduada pela FMVZ/USP (1992), mestrado em Patologia Experimental pela Faculdade de Medicina da USP (2001), especialização em Medicina Veterinária Legal (2015) e doutorado em Patologia Animal (2018) pela Faculdade "Julio de Mesquita Filho" UNESP-Botucatu. Membra da Comissão de Ensino da ABMVL, Presidente da CMVL do CRMVSP e membra da CMVL do CFMV. Assistente técnica e perita judicial em processos judiciais relacionados à clínica e cirurgia de pequenos animais.

Marcus Vinícius Cardoso da Silva Graduado em Ciências Sociais pela UFPR (2006) e bacharel em Gestão Pública pelo Instituto Federal do Paraná - IFPR (2011). Especialização em Negociação Coletiva pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2009) e especialista em Políticas Públicas pelo Instituto Federal do Paraná (2014). Sociólogo da Prefeitura de Pinhais (PR). 10

Maria Isabel Mello Martins Médica-veterinária graduada em 1991 pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/Unesp/Jaboticabal). Especialização (Residência) em Reprodução Animal pela FCAV/UNESP/Jaboticabal em 1992. Mestra em Fisiopatologia da Reprodução pela UFSM (1995). Doutora em Biotecnologia da Reprodução Animal (2005) pela FMVZ/Unesp/Botucatu. Pós-doutorado em 2010 junto ao Centre d'Etude en Reproduction des Carnivores (CERCA) na Ecole Nationale Veterinaire D'Alfort, França. Professora associada da UEL.

Maria Vitoria Barros Duarte Caleme Assistente Social, graduada pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Curitiba e pós-graduada em gestão de projetos sociais. Atuação profissional na área social desde 1986 com ênfase em políticas públicas.

Mariana Menezes Bochio Graduada em 2008 pela UEL. Mestrado em Ciência Animal pela UEL em 2012. Médica-veterinária da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Maria Gabriela Melo Silva Graduanda em medicina veterinária pela UNIPAC Conselheiro Lafaiete (MG). Auxiliar veterinária no projeto “Quem Ama Castra” de Conselheiro Lafaiete (MG). Membro diretor e presidente da ALPA- Associação Lafaietense de Proteção aos Animais.

Mariângela Freitas de Almeida e Souza Médica-veterinária. Psicóloga. Certificada em Bemestar Animal pelo Cambridge E-learning Institute (Reino Unido). Doutora em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva pela UFRJ-PPGBIOS. Pós-graduanda em Direito dos Animais pela Faculdade Hélio Alonso. Presidente da Associação “Defensores dos Animais”. Membro do Corpo Técnico do Fórum Nacional de Proteção e Defesa dos Animais. Presidente da Comissão de Médicos-Veterinários de ONGs do CRMV-RJ.

Melinda Merck Proprietária da Veterinary Forensics Consulting em Austin (Texas-EUA). Presidente do Programa Forense Veterinário da NAVC VMX: Animal CSI. Atua no comitê de bem-estar animal da WSAVA e no Conselho Consultivo da Associação de Procuradoria de Crueldade Animal. Presidente do Conselho de Diretores da Associação Internacional de Ciências Forenses Veterinárias. Autora do livro Veterinary Forensics: Animal Cruelty Investigation. Membro da Academia Americana de Ciência Forense e membro da International Association of Blood Stain Analysts.

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Micheli Cristina Strapasson Ribeiro

Priscilla Costa Ciodaro de Souza

Serviço Social, graduada em 2007 pela PUCPR, especialização em Metodologia do Trabalho com Famílias pelas Faculdades Itecne Cascavel em 2012. Atividade atual: assistente social da Prefeitura Municipal de Pinhais (PR), com a função de Gerente de Serviços e Benefícios de Proteção Social Básica.

Cientista ambiental graduada pela UnB no ano de 2018, atua na área de saúde ambiental e epidemiologia com ênfase na prevenção e controle da transmissão de doenças vetoriais e no desenvolvimento de projetos nas áreas de saúde pública e ambiental. Experiência em coleta de dados em tempo real, construção e análise de banco de dados e geoprocessamento.

Mitika Kuribayashi Hagiwara Possui graduação em medicina veterinária pela FMVZ/USP (1965), mestrado em saúde pública pela USP (1974) e doutorado em saúde pública também pela USP (1979). Professora titular (aposentada) da FMVZ/USP. Atualmente é professor sênior da USP. É pesquisador responsável pelo grupo de pesquisa em patologia clínica veterinária na FMVZ/USP.

Renato Silva de Sousa Médico-veterinário graduado em 1995 pelo Centro de Ciências Agroveterinárias, na Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC). Mestrado em Medicina Veterinária - Patologia Animal pela UFSM em 1998. Atividade atual: professor de Patologia Geral Veterinária e Patologia Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, UFPR, Curitiba (PR).

Mone Martins Seixas Médica-veterinária, graduada em 2009 pela UFBA, mestra em Ciência Animal nos Trópicos (UFBA) em 2013. Especialista em Políticas e Gestão da Saúde, médica-veterinária da Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Minas Gerais.

Mônica Maria de Almeida Graduada em medicina veterinária em 2002 pela UNG, especialização em saúde pública pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Desde 2009, médica veterinária no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo.

Noeme Sousa Rocha Médica-veterinária pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Residência, mestrado, doutorado e Livre Docência pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FMB) e FMVZ, UNESP. Profa. graduação e pós-graduação, UNESP. Pesquisador CNPq com linha de pesquisa em carcinogênese e ciências forenses.

Rogerio Guimarães Frota Cordeiro Graduado em Direito pela Universidade Paulista (2005) e em Farmácia e Bioquímica pela UFPR (1980). Especializações em Direito Público (2009), Docência superior (2012), Direito e Processo do Trabalho (2014), Direito Processual Civil (2014) e em em Saúde Pública. Mestre (USP, 1991) e doutor em Saúde Pública (USP, 1994). Atualmente é diretor técnico do Centro de Apoio à Educação e Vigilância em Saúde.

Rosangela Ribeiro Gebara Medica-veterinária graduada pela FMVZ/USP em 1995. Especialista em bem-estar animal (2007). Especialista em Bioética pela USP (2009). Mestra em Ciência Animal pela FMVZ/USP (2015). Desde 2010, Gerente de Programas Veterinários da World Animal Protection Brasil, coordenando o programa de manejo humanitário de cães e gatos.

Roseana Tereza Diniz de Moura

Possui graduação em medicina veterinária (Universidad Nacional de Colombia, 2011), especialização em ciência de dados (Johns Hopkins University, 2015), doutorado em epidemiologia (2015) pela USP e pós-doutorado em saúde pública (2017) também pela USP. É professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (FMVZ/USP).

Graduada em medicina veterinária pela UFRPE (1987), mestrado pela University of Glasgow/UK (1993), doutorado em Ciência Veterinária pela UFRPE (2008), e pós-doutorado pela UPenn/USA (2011). Professora adjunta (UFRPE) lecionando a disciplina de Clínica Médica de Caninos e Felinos (1998), atuando nas áreas de comportamento animal (2008), medicina felina (2005) e medicina de abrigos (2000). Presidente da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (CEBEA) do CRMV/PE (2018).

Poliana Vicente de Souza

Sérvio Túlio Jacinto Reis

Médica-veterinária graduada em 2019 pela UFPR. Projeto de Iniciação Científica em 2015 e 2016 pela UFPR sobre a Teoria do Elo. Monitoria em 2016 pela UFPR na disciplina de Medicina Veterinária Legal.

Médico-veterinário graduado pela Universidade Federal de Viçosa - UFV (1997). Especialização em medicina Veterinária Legal pelo Inbrapec (2010) e mestre em Perícias Criminais Ambientais pela Universidade Federal

Oswaldo Santos Baquero

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de Santa Catarina - UFSC ( 2014). Doutor em patologia animal pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, UNESP-Botucatu (2018). Perito Criminal Federal.

Silvia do Amaral Rigon Nutricionista pela UFPR, especialista em Saúde Pública e mestre na área de Geografia Humana pela UFPR. Doutora em Ciências pela USP. É professora adjunta do Departamento de Nutrição na Área de Nutrição em Saúde Coletiva e colaboradora do Programa de Pós-graduação em Alimentação e Nutricão da UFPR. É integrante do Fórum Estadual de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná.

Telma Rocha Tavares Médica-veterinária graduada em 2007 pela UFV. Especialização em clínica e cirurgia de pequenos animais pela mesma instituição em 2008 e em oncologia veterinária pela Faculdade de Jaguariúna (FAJ)-Instituto Bioethicus, em 2011. Analista em saúde, atua no gabinete da Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico (COSAP) da Prefeitura do Município de São Paulo.

Thaíza Oliveira dos Santos Graduada em medicina veterinária (2014) pela UFRPE; participa de projetos de extensão e de pesquisa com enfoque nas áreas de medicina felina, medicina de abrigo, comportamento e bem-estar animal (2015).

Solange Aparecida Marconcin

Valéria Natascha Teixeira

Médica-veterinária graduada em 2005 pela UFPR. Mestrado em Ciências Veterinárias pela UFPR em 2008. Atividade atual: médica-veterinária da divisão de bemestar animal, secretaria de meio ambiente, prefeitura de Pinhais (PR).

Médica-veterinária, graduada em 1997 pela UFPR. Mestrado em Ciências Veterinárias pela UFPR. Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias pela UFPR. Professora de Parasitologia Veterinária, Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Clínica de Animais Selvagens na PUC-PR. Presidente da Comissão Estadual de Animais Selvagens do CRMV-PR. Presidente da Associação Paranaense de Medicina Veterinária de Animais Selvagens.

Stefany Monsalve Médica-veterinária pela Universidade Nacional da Colômbia – UNAL (2013). Mestrado em Ciências Veterinárias na UFPR (2017). Professora de Medicina Legal e Legislação na Fundación Universitaria Agraria de Colombia – Uniagraria. Membro da Associação Colombiana de Medicina Veterinária Legal e Ciências Forenses.

Stelio Pacca Loureiro Luna Graduação em medicina veterinária (1984), residência em anestesiologia veterinária (1985) e mestrado (1990) na FMVZ/Unesp/Botucatu, SP, onde é docente desde 1987. PhD pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, (1993). Livre docência em 2000 e desde 2008 é professor titular. Diplomado pelo European College of Veterinary Anaesthesiology and Analgesia, especialista em anestesiologia veterinária e em acupuntura veterinária. Tem certificação pela International Veterinary Acupuncture Society - EUA (2001).

Tália Missen Tremori Graduação em medicina veterinária e mestrado em Patologia Animal pela FMVZ/Unesp/Botucatu. Doutorado com dupla titulação em Medicina Veterinária (FMVZ/ Unesp/Botucatu) e programa de “Salud y Desarrollo em los Trópicos” (Universidad de Salamanca, Espanha). Especialização em Informática em Saúde (UNIFESP). Membro da Comissão Técnica de Medicina Veterinária Legal do CRMV-SP. Membro da “Asociación Iberoamericana de Medicina y Ciencias Veterinarias Forenses”. Perita médica-veterinária judicial e assistente técnica. 12

Vania de Fátima Plaza Nunes Médica-veterinária formada em 1983 pela FMVZ/ Unesp/Botucatu. Pós-graduada em vigilância ambiental, saúde animal, ecologia e educação ambiental. Especialização em saúde pública, bem-estar animal e comportamento animal. Atualmente é pós-graduanda em Medicina Veterinária Legal, diretora do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Aimal, membro do ITEC, Instituto Abolicionista Animal, ABBEA e ABMVL.

Veruska Maia da Costa Graduada em medicina veterinária em 2003 pela Faculdades Integradas (UPIS). Mestra em Medicina Veterinária e Preventiva pela FMVZ/Unesp (2008) e Especialista em Informática em Saúde (2019). Egressa do Programa de Treinamento em Epidemiologia de Campo aplicada ao Serviços do SUS (EPISUS) da Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde (2012). Consultora Técnica da Coordenação Geral de doenças Transmissíveis, Departamento de doenças Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde.

Vivien Midori Morikawa Graduada em medicina veterinária pela FMVZ/Unesp/ Botucatu (2001). Especialização em radiodiagnóstico Veterinário (2003). Mestrado e doutorado em ciências veterinárias pela UFPR, em Curitiba (PR) (2010-2014).

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição


Professora do Departamento de Saúde Coletiva, tutora do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UFPR, e coordenadora da Rede de Proteção Animal da Prefeitura Municipal de Curitiba. Participa como membro das comissões de saúde única e bem-estar animal do CRMV-PR.

Wêslley Natam Martins Almeida Médico-veterinário graduado pela Unidade Acadêmica de Garanhuns da UFRPE (2014), especialista em Saúde Pública pela UPE (2016), especialista em Educação na Saúde pelo Instituto Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz (2019). Atividade atual: professor-tutor no Curso de Avaliação em Saúde Aplicada à Vigilância (modalidade EAD) do Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco e mestrando do Programa de Ciência Animal Tropical da UFRPE.

Vicente de Paula Ataíde Junior Professor da UFPR. Doutor e mestre em Direito Processual Civil pela UFPR. Pós-doutorando em Direito pela UFBA. Pesquisador do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Direitos dos Animais, Meio Ambiente e Pós-humanismo (NIPEDA/UFBA) e do EKOA: Direito, Movimentos Sociais e Natureza da UFPR. Coordenador e professor do Curso de Especialização em Direito Animal (EAD), da ESMAFE-PR/ UNINTER. Juiz Federal titular da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Paraná.

Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha Médica-veterinária graduada em 2018 pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e mestranda em Ciências Veterinárias pela UFPR.

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

13


Medicina Veterinária

do Coletivo: fundamentos e práticas


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n di ce

SEÇÃO 1 – INTRODUÇÃO À MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5

Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo (MVC) – Rita de Cassia Maria Garcia, Adriana Maria Lopes Vieira, Néstor Calderón e Daniel Friguglietti Brandespim Medicina Veterinária do Coletivo: promovendo a saúde por meio da estratégia de saúde única – Rita de Cassia Maria Garcia, Daniel Friguglietti Brandespim e Néstor Caderón Medicina Veterinária do Coletivo: uma visão ética sobre os animais – Irvênia Luiza de Santis Prada Promoção da saúde: um dos pilares da Medicina Veterinária do Coletivo – Karyn Aparecida Rossa, Silvia do Amaral Rigon e Rita de Cassia Maria Garcia Uma Saúde para Todos. O que é Saúde Única? – Luana Oliveira Leite e Valeria Natascha Teixeira

20 30 34 39 47

SEÇÃO 2 – SAÚDE COLETIVA 2.

Saúde coletiva: uma breve introdução – Daniel Friguglietti Brandespim

Formação do médico veterinário para atuação na área de saúde coletiva – Daniel Friguglietti Brandespim e Gesika Maria da Silva 2.2.1 O médico-veterinário na Atenção Primária à Saúde – Wêslley Natam Martins Almeida, Ivyson da Silva Epifânio e Daniel Friguglietti Brandespim 2.2.2 Medicina veterinária preventiva e promoção da saúde única na atenção básica: atuação do médico veterinário no núcleo ampliado de saúde da família e atenção básica (Nasf-AB) – Caroline Constantino

57

2.1

2.3

Vigilância em saúde – Daniel Friguglietti Brandespim

2.3.1 Vigilância epidemiológica – Gesika Maria da Silva e Daniel Friguglietti Brandespim 2.3.2 Vigilância em zoonoses – Ingrid Hammermeister Nezu, Veruska Maia da Costa e Jonas Lotufo Brant de Carvalho 2.3.3 Vigilância e saúde ambiental – Elâne Rafaella Cordeiro Nunes Serafim e Daniel Friguglietti Brandespim 2.3.4 Animais: sentinelas da saúde única – Caroline Constantino

2.4

Saúde coletiva e as interações humano-animal – Rita de Cassia Maria Garcia

2.4.1 Vulnerabilidade, política de assistência social e maus-tratos aos animais: indicadores de uma relação intrínseca – Stefany Monsalve, Marcus Silva e Rita de Cassia Maria Garcia 2.4.2 Intersetorialidade no apoio de famílias multiespécies em situação de vulnerabilidade social – Stefany Monsalve, Maria Vitoria Barros Duarte Caleme, Micheli Cristina Strapasson Ribeiro, Gizeli Filius, Solange Aparecida Marconcin, Janaina Hammerschmidt, Luana Oliveira Leite e Rita de Cassia Maria Garcia 2.4.3 Teoria do Elo: a relação entre os maus-tratos aos animais e a violência interpessoal – Stefany Monsalve, Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha e Rita de Cassia Maria Garcia 2.4.4 Acumulação de animais – Graziela Ribeiro da Cunha e Alexander Welker Biondo

2.5

59 78 84 102 104 109 117 129 139 141

151

160 172

Manejo populacional de cães e gatos

2.5.1 O manejo populacional canino no Brasil: breve histórico e evolução técnica e ética – Mariângela Freitas de Almeida e Souza 2.5.2 Como iniciar um programa de manejo populacional de cães e gatos? – Rosangela Ribeiro Gebara 2.5.3 Dinâmica e manejo populacional – Oswaldo Santos Baquero e Fernando Ferreira 2.5.4 Epidemiologia e abandono animal – Haiuly Viana Gonçalves de Oliveira 2.5.5 Registro e identificação – Rosangela Ribeiro Gebara 2.5.6 Controle reprodutivo – Rita de Cassia Maria Garcia, Cristiane Sella Paranzini, Rosangela Ribeiro Gebara, Maria Isabel Mello Martins, Stelio Pacca Loureiro Luna e Guilherme Schiess Cardoso Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

179 187 194 200 209 218

15


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SEÇÃO 2 – SAÚDE COLETIVA 2.5.7 Guarda responsável de cães e gatos e educação humanitária – Vania de Fátima Plaza Nunes e Elizabeth Suzanne MacGregor 2.5.8 Manejo populacional de gatos ferais – Ana Liz Ferreira Bastos, Lucas Belchior Souza de Oliveira e Vania de Fátima Plaza Nunes 2.5.9 Cão comunitário: um sujeito de direito aliado ao manejo populacional de cães e à saúde única – Caroline Constantino e Juliana Tozzi de Almeida 2.5.10 Adoção de cães e gatos – Ana Liz Ferreira Bastos, Laiza Bonela Gomes e Vania de Fátima Plaza Nunes 2.5.11 Políticas de saúde no Brasil: o desafio da inserção de ações de manejo populacional de cães e gatos no SUS – Adilson Soares, Rogério Guimarães Frota Cordeiro, Adriana Maria Lopes Vieira e Rita de Cassia Maria Garcia 2.5.12 Aspectos jurídicos sobre o manejo populacional de cães e gatos – Vicente de Paula Ataíde Junior

236 240 246 257 265 271

SEÇÃO 3 – MEDICINA DE ABRIGOS 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9

Introdução à Medicina de Abrigos – Rita de Cassia Maria Garcia Vacinação de cães e de gatos em situações de abrigos – Mitika Kuribayashi Hagiwara Comportamento animal e bem-estar: problemas e soluções – Néstor Calderón, Catalina Mejia e Juan Camilo González Experiência bem sucedida no controle da cinomose em ambientes coletivos – Mônica Maria de Almeida, Daniel Hollmann Mingates e Mariana Menezes Bochio Doenças Infecciosas em abrigos para gatos – Cybelle de Souza e José Francisco Ghignatti Warth Diagnóstico situacional de abrigos – Letícia Christine Felician Lima e Rita de Cassia Maria Garcia Vivenciando recintos com gatos: experiências e propostas – Roseana Tereza Diniz de Moura, Larissa Simionato Barbieri e Thaíza Oliveira dos Santos Animais de grande porte em centros urbanos: uma experiência no município de São Paulo – Telma Rocha Tavares Medicina Veterinária de Desastres – Ana Liz Ferreira Bastos, Laiza Bonela Gomes e Vania de Fátima Plaza Nunes

274 287 290 309 314 319 329 348 357

SEÇÃO 4 – MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5

4.6

4.7 4.8

16

Medicina Veterinária Legal – Melinda Merck Notas sobre o Direito Animal brasileiro – Vicente de Paula Ataíde Junior Medicina Veterinária Legal no contexto da Medicina Veterinária do Coletivo – Mara Rita Rodrigues Massad Perícia médico-veterinária legal – Inajar Antonio Kurowski Documentos médico-legais veterinários – Sérvio Túlio Jacinto Reis Identificação e conduta em casos de traumas não-acidentais em animais domésticos – Lucas Galdioli, Cintia Parolim Ferraz, Larissa Rachel Wolf, Stefany Monsalve e Rita de Cassia Maria Garcia Patologia veterinária forense: avaliação externa e necropsia na identificação de maus-tratos em cães da região metropolitana de Curitiba - PR – Dária Louise Barbosa Machado, Daniel Carlos Coatti Rocha, Luana Oliveira Leite, Stefany Monsalve, Antônio Waldir Cunha da Silva, Renato Silva de Sousa e Rita de Cassia Maria Garcia Fiscalização municipal de maus-tratos contra animais – Janaina Hammerschmidt Sistema de gestão para controle de fiscalizações de maus-tratos – Adriel da Rocha, Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha e Rita de Cassia Maria Garcia Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

364 365 381 384 386 391

407 419 433


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SEÇÃO 5 – EXPERIÊNCIAS EM MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO 5.1 5.2

5.3 5.4 5.5 5.6 5.7

Medicina Veterinária do Coletivo: proposta de ensino nas universidades – Karyn Aparecida Rossa, Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha e Rita de Cassia Maria Garcia Ações direcionadas ao estudo e à prática da Medicina Veterinária do Coletivo na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais – Danielle Ferreira de Magalhães Soares O avanço da Medicina Legal Veterinária na FMVZ/Unesp de Botucatu – Noeme Sousa Rocha e Tália Missen Tremori Manejo populacional e sanitário de cães e gatos como instrumento das práticas em saúde única – Celso Martins Pinto Experiência da Rede de Proteção Animal de Curitiba no manejo populacional de cães e gatos – Vivien Morikawa Manejo populacional em Conselheiro Lafaiete (MG): Quem ama castra – Carla Maria Sássi de Miranda, Juliana de Oliveira Villela e Maria Gabriela Melo Silva Experiência de um centro de estudos ambientais – Ingrid Hammermeister Nezu, Priscilla Costa Ciodaro de Souza e Jonas Lotufo Brant de Carvalho

437 444 453 464 468 471 474

SEÇÃO 6 – EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA E CAPACITAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO 6.1 6.2 6.3

6.4

6.5

Educar é preciso: educação humanitária e a compaixão para com todos os seres – Elisângela Batista Programa educação ambiental humanitária em bem-estar animal – Elizabeth Suzanne MacGregor Guarda responsável de animais de companhia como estratégia de promoção da saúde única – Gabriela Nery, João Henrique Araujo Virgens, Mone Martins Seixas e Fernando Ferreira Teoria do Elo: experiência em capacitação de alunos, professores e profissionais da área – Poliana Vicente de Souza, Letícia Kienen Languer Rolim, Stefany Monsalve, Luana Oliveira Leite e Rita de Cassia Maria Garcia Curso de Medicina Veterinária do Coletivo e Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (Curso FOCA) – Rita de Cassia Maria Garcia, Néstor Caderón, Vania de Fátima Plaza Nunes, Laiza Bonela Gomes e Ana Liz Ferreira Bastos

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

478 483 487

496

504

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re f á ci o

ste livro, que tenho a alegria de saudar é um marco histórico e um feliz acontecimento. O fato de ser o primeiro livro no país sobre Medicina Veterinária do Coletivo garante o seu lugar na história brasileira e fala por si mesmo sobre sua importância. No entanto, é preciso destacar que ele enriquece muito o cenário acadêmico ao entrelaçar várias questões relevantes ao campo da saúde, a partir de uma perspectiva multidisciplinar e abrangente, o que proporciona um necessário e novo olhar sobre nossas interações com os animais. Na década de 90, qualquer pessoa sabia o significado da palavra “carrocinha”. Um termo no diminutivo que causava temor, pois carregava consigo a dor e o sofrimento gigantesco de milhares de animais e de pessoas que olhavam para aqueles animais destinados a uma morte dolorosa. A “carrocinha”, denominação utilizada para um veículo da prefeitura, presente em diversas cidades do país, que capturava animais nas ruas, especialmente cães, e os conduzia para a morte em câmaras de gás, já não existe mais ou é fato que não deve mais existir. A necessidade de mudar essa realidade foi certamente provocada pela indignação de algumas pessoas em lidar com esse cenário de matança em uma sociedade que se modificava lentamente. Dentre essas pessoas é preciso destacar um nome: Rita de Cassia Maria Garcia. Acompanhei sua trajetória, sou testemunha da sua obstinada dedicação, sua persistência em abolir essa prática e suas conquistas na participação do desenvolvimento de políticas no Brasil para enfrentamento da questão dos animais abandonados nas ruas. Médica-veterinária, especialmente comprometida com o manejo de população animal, além de uma formação voltada para o campo da saúde pública, Rita Garcia tem também uma enorme capacidade de liderança, de tal forma que não seria possível, pra qualquer um que o fizesse, falar da Medicina do Coletivo no Brasil sem citar o seu nome. Como precursora no campo da Medicina do Coletivo, ela esteve também muito bem acompanhada nessa jornada. Néstor Calderón, médico-veterinário colombiano, trouxe o conceito de medicina de abrigos para o Brasil, sempre esteve presente em nosso país, desde os primeiros eventos e congressos que abordavam a temática, para nos brindar com sua experiência e seu amplo conhecimento, com enorme generosidade. O nome de Daniel Friguglietti Brandespim, com uma formação rigorosa na área e um relevante papel na inserção do profissional médico-veterinário no sistema de saúde, completa esse trio da mais alta competência para a organização dessa obra, que conseguiu reunir importantes 18

protagonistas de diversas áreas relacionadas ao campo da saúde, mas que revelam em comum uma preocupação: os animais devem ser incluídos também como sujeitos no coletivo e não são apenas meros instrumentos de uso humano. A necessidade de repensar a saúde como saúde única, isto é, humana – animal – ambiental ratifica a necessidade de repensar toda a nossa relação com os animais. É nesta importante direção que esse livro nos conduz, mas seus atributos vão além disso. O primeiro deles é exatamente nos contar um pouco sobre o começo de toda essa história da Medicina Veterinária do Coletivo no Brasil e permitir ao leitor entender porque há aqui um “marco histórico”. Com a revisitação dessa história, registra-se também a importância da história política da proteção animal no Brasil, fundamental nesse processo de mudança social. Outro mérito do livro é a preocupação em abordar, tal como enuncia o título, “fundamentos e práticas”, isto é, os textos oferecem e problematizam conceitos e teorias, mas também oferecem instrumentos e experiências para a ação no campo da saúde pública e da educação em saúde. É sem dúvida um livro importante para a formação de estudantes em medicina veterinária, nesse momento em que a Medicina Veterinária do Coletivo emerge também como uma disciplina nos cursos universitários. Há uma lacuna de textos na área e todo esse material poderá ser muito bem aproveitado no ambiente acadêmico, por estudantes e profissionais, e mesmo fora dele. É certo que não faltarão leitores, profissionais ou não, ávidos por essas informações, comprometidos com a questão da saúde e dos animais, que são temas cada vez mais relevantes nas sociedades. Certamente outros países também poderão se beneficiar com esses ensinamentos. Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas é um livro necessário para nossa realidade, mas é também uma promessa de mudança para dias melhores em relação ao campo da saúde e um convite a reexaminar nossas responsabilidades éticas. Cumpre-me parabenizar aos organizadores e colaboradores pela grandiosidade da obra e desejar que essa leitura favoreça cada vez mais uma sociedade mais saudável e mais justa, uma sociedade em que vidas animais também importam.

Rita Leal Paixão Médica-veterinária e professora titular da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição


Vidas animais também importam

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

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SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

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Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo? Rita de Cassia Maria Garcia Adriana Maria Lopes Vieira Néstor Calderón Daniel Friguglietti Brandespim

esde a descoberta da presença do vírus da raiva na saliva de cães raivosos no século XIX por Louis Pasteur, os cães começaram a ser capturados e eliminados ao redor do mundo. Também surgiram as primeiras entidades de proteção aos animais e o início do alojamento e manutenção de grupos de cães: em locais públicos, para o controle da raiva; em locais privados ou do terceiro setor (ONGs), para a proteção dos animais. Afogamento, choque elétrico, câmaras de descompressão e morte por asfixia, pauladas, envenenamento e armas de fogo, foram métodos usados para a eliminação de cães errantes. Por exemplo, Nova York afogava os animais, Londres permitia a prática do tiro ao alvo em cães nas ruas. A falta de conhecimento e de políticas públicas para o manejo populacional, além da presença de zoonoses e aspectos socioculturais, fazem com que a eliminação de animais ainda ocorra em diversos países, nem sempre de forma humanitária. A partir da década de 30, nos Estados Unidos da América (EUA), iniciou-se informalmente o movimento No Kill (não matar), em defesa do fim da eutanásia de animais adotáveis, com o resgate de animais dos centros de controle animal e dos abrigos, por protetores individuais. Mas somente no início da década de 90 o movimento No Kill, com a missão de garantir um lar para todos cães e gatos adotáveis, ganhou força e visibilidade ao ser incluído como política institucional de uma das maiores entidades de proteção animal dos EUA, a San Francisco Society for the Prevention of Protection, Califórnia. Na época, o seu presidente, o visionário Richard Avanzino, reverteu uma política de eliminação de animais de mais de 100 anos, fazendo parceria com o centro público de controle animal de São Francisco a fim de oferecer uma chance para todos os animais adotáveis. Com o movimento No Kill aumentou também a participação dos médicos-veterinários nos abrigos. No Brasil, a captura e eliminação de animais “errantes”, ou seja, sem controle, aconteceu indiscriminadamente até os anos 90, como política de controle da raiva. O Ministério da Saúde preconizava a captura de no mínimo 30% da população canina estimada nas cidades1. Os profissionais que trabalhavam com a captura e eliminação não eram capacitados para o manejo dos animais, causando estresse e sofrimento e, em geral, não havia cuidados médico-veterinários para estes animais que, por vezes, eram mantidos por curtos períodos (3 a 5 dias) nos canis públicos e, então mortos. 20

A captura e eliminação de cães pelos órgãos públicos responsáveis pelo controle e prevenção das zoonoses tinha o enfoque na proteção da saúde humana. Não eram dispensados cuidados aos animais capturados até o dia da sua eliminação. A eliminação era a primeira opção para controlar a raiva e, posteriormente, para o controle da “superpopulação” dos animais. Essa ação não demandava expertise de médicos-veterinários, pois qualquer sinal de doença era a sentença de morte para os animais. Os conflitos entre os órgãos que praticavam a captura e eliminação de animais e os protetores de animais sempre foram históricos, além do conflito entre médicos-veterinários clínicos de pequenos animais e as atividades realizadas para o controle de zoonoses, que também sempre foram comuns. No Brasil, não era exigido que os médicos-veterinários que atuassem na área de saúde pública, em serviços de controle de zoonoses, conhecessem as doenças dos animais, estudassem etologia para um bom manejo e diminuição do estresse, ou desenvolvessem protocolos para a prevenção de doenças. A data da morte dos animais era certa! Animais doentes, feridos ou com fratura exposta não recebiam tratamento algum, apenas alimento e água durante a espera para o dia da morte. No Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, o dia que os animais eram capturados e adentravam os canis era chamado de dia 1. Eles permaneciam três dias aguardando resgate pelo proprietário. Na manhã do dia 4, eles eram eliminados coletivamente em câmaras de descompressão. Somente em 1999 esse método foi substituído pela eutanásia com barbitúricos, demanda gerada e custeada, inicialmente, pelo movimento de proteção animal. No Brasil, em meados da década de 90, as autoridades de saúde pública passaram a se preocupar com a eliminação de animais sadios devido à pressão da sociedade civil organizada. Santana e Oliveira (2008)2 dividem esses momentos históricos em duas etapas: “etapa da captura e eliminação de animais” e “etapa da prevenção ao abandono”. A “etapa da captura e eliminação” decorreu de uma primeira abordagem da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO) em 1973, por meio do 6º Relatório do Comitê de Especialistas em Raiva da WHO3. Em 1984, a WHO reconhecia quatro métodos práticos para o controle canino e felino: a) confinamento de animais com proprietário; b) captura e remoção; c) controle do habitat, e d) controle reprodutivo4. Em 1990, WHO e World Society for Protection

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição


Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

Conferência Pet Respect no Brasil: https://www.worldanimalprotection.org.br/quem-somos/historia

a

b WSPA. WORLD SOCIETY FOR THE PROTECTION OF ANIMAL. Controle animal. In: Congresso PET RESPECT. 1., 2005, São Paulo. c

Figura 1 – Imagens de execução de campanha de ação de controle reprodutivo em Taboão da Serra (SP), em 1996, sendo a primeira prefeitura de que se tem registro no Brasil a realizar esse tipo de ação em prol do controle populacional de cães e gatos

(modalidade gratuita ou a baixo custo), o registro e a identificação (gratuito) de animais, educação, participação social e cuidados à saúde animale. A primeira Prefeitura a realizar essas ações na América Latina foi Rosario, na Argentina, que iniciou as atividades de manejo populacional de cães e gatos em 1993. Em 1995 foi realizado um mutirão de castração com médicos-veterinários da Prefeitura de Taboão da Serra e de clínicas particulares no bairro Tijuco Preto, Vargem Grande, com apoio de simpatizantes, empresários e protetores independentes. Nesse mutirão, talvez o primeiro

ARCA Brasil: http://arcabrasil.org.br/

Informação fornecida por GARCIA, R. C. M. na palestra “Controle populacional de cães e gatos em Taboão da Serra” durante o III Congresso Brasileiro e II Internacional de Proteção e Bem-estar Animal da ARCA Brasil, Associação Humanitária de Proteção e Bem-estar Animal. Embu, 2000.

d

Garcia RCM, Ciampi MA. Relatório técnico – campanha de controle das populações de cães e gatos no município de Taboão da Serra, São Paulo, Brasil. Arca Brasil – Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal e prefeitura de Taboão da Serra, 1996. e

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

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SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

of Animals (WSPA, atualmente World Animal Protection - WAP)5 ofereceram, em um guia específico, diretrizes para a execução de planejamento de ações com vistas ao equilíbrio populacional canino, sendo recomendadas como ações para o controle animal, posteriormente incluídas no 8º Relatório do Comitê de Especialistas em Raiva da WHO5: restrição de movimentos, controle do habitat e controle reprodutivo, além de ações para o registro e identificação, educação e envolvimento da comunidade. Apesar de todos esses documentos, a saúde pública veterinária se mantinha fiel à eliminação dos animais errantes. As organizações não governamentais (ONGs) desempenharam papel de fundamental importância na mudança do paradigma do controle populacional de cães e gatos, promovendo a discussão a respeito do controle ético, em que os animais de estimação são inseridos no conceito de “coletividade” para o desenvolvimento das ações de promoção da saúde6,7. Em 1995, a I Conferência Internacional Pet Respect, organizada pela WSPA em São Pauloa, em parceria com a WHO, trouxe pela primeira vez para o país a metodologia do manejo humanitário de populações de cães e gatos, preconizada pela WHO, e o conceito de guarda responsável. Um dos frutos do projeto foi a incorporação dessa nova metodologia, incluindo os programas de esterilização e de educação em guarda responsável em Taboão da Serra, São Paulob. Nesse mesmo ano, a Prefeitura de Taboão da Serra iniciou a implantação de programa de manejo populacional de cães e gatos (MPCG) com o apoio da WSPA (atual WAP). Em 1995, a Prefeitura de Taboão da Serra em parceria com a ONG ARCA Brasilc, iniciaram a implantação de um programa de MPCG e, em 1996, a execução das ações para o controle reprodutivo canino e felino com envolvimento de diferentes setores da sociedaded, sob a coordenação da Dra. Rita de Cassia Maria Garcia então, médica-veterinária da Prefeitura de Taboão da Serra, e do Sr. Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil (Figura 1). Foi a primeira prefeitura de que se tem registro no Brasil a desenvolver ações para o manejo populacional canino e felino e que incluía o controle reprodutivo realizado pelo órgão público


SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

no Brasil, foram castrados 23 animais. O primeiro mutirão de castração realizado por prefeitura ocorreu em maio de 1996, em uma escola da rede pública de Taboão da Serra (SP). Os mutirões aconteciam duas vezes por semestre, castravam de 100 a 200 animais por dia, com a participação de médicos-veterinários voluntários, professores, alunos e residentes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), além do apoio da própria comunidade. Em Osasco (SP), uma ONG com apoio de médicos-veterinários da prefeitura, organizou um mutirão para castração de 90 animais, em 1996. A partir de 1997, após a capacitação da médica-veterinária da prefeitura de Taboão da Serra (SP), junto à clínica Birth Animal Control em Los Angeles, com o Dr. Mackie, a cidade começa a realizar cirurgias de castração minimamente invasivas, incluíndo filhotes a partir de 60 dias de idade ou com 1 kg de peso. Mas em Santa Maria (RS), a Dra. Marlene Nascimento já realizava a gonadectomia antes da puberdade desde o início da década de 90. Em Santa Maria (RS), após a participação da Dra. Marlene Nascimento na Conferência Pet Respect, esterilizações cirúrgicas a preços reduzidos e antes da puberdade fizeram parte da iniciativa do Club Amigo dos Animais e médicos-veterinários clínicos de pequenos animais, a partir de 1996. Ainda naquele ano, Itapecerica da Serra (SP), o Dr. Werner Payne, médico-veterinário autônomo, iniciou mutirões de esterilização cirúrgica em sua clínica e, a partir de 1997, ao lado da Associação de Proteção aos Animais de Itapecerica da Serra (APAIS), realizou as esterilizações em fêmeas com acesso lateral (flanco). A partir de 2000, é aberto o Centro de Controle da Natalidade Animal (CCNA) em Itapecerica da Serra (SP), pelo Dr. Werner Payne, e o Centro de Planejamento de Natalidade Animal (CPNA) em São Paulo (SP), pela empresária e protetora de animais Debbie Hirst, com capacidade para atendimento de grande quantidade de esterilizações e a baixo custo. Um ônibus equipado para o transporte dos animais de áreas carentes até o centro também fazia parte do CPNA. Esse ônibus foi utilizado pela Secretaria de Estado de São Paulo em 2003/2004 como apoio para o controle reprodutivo de cães e gatos ferais do Complexo Hospitalar do Juquery, em Franco da Rocha. Em 1997 a Prefeitura de Guarulhos (SP), por meio do Centro de Controle de Zoonoses, sob a coordenação da Dra. Adriana Maria Lopes Vieira, iniciou o controle reprodutivo na cidade, entre outras estratégias. Nesse mesmo ano, a Prefeitura de Jundiaí (SP), por meio do Setor de Controle de Zoonoses, sob a coordenação da Dra. Vania Plaza Nunes, também iniciou ações para o manejo populacional de cães e gatos. Em 1999, com o primeiro ônibus adaptado para a realização de esterilizações cirúrgicas da Associação In22

ternacional do Animal (AILA)f, adaptado em Santa Maria (RS), sob a responsabilidade técnica da Dra. Marlene Nascimento e com o Dr. Werner Payne, iniciou as castrações em unidade móvel. A segunda unidade móvel foi da Sociedade União Internacional de Proteção aos Animais, SUIPA, do Rio de Janeiro, RJ, inserido no Programa de Assistência Veterinária Móvel (PAVEM). E a terceira foi a Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sendo a primeira de uma instituição de ensino superior (IES), utilizada em projetos de extensão junto às prefeituras parceiras da região metropolitana de Curitiba. A UMEES foi criada e organizada inicialmente pelos professores Felipe Wouk e Alexander Biondo, e pelo médico-veterinário do Hospital Veterinário da UFPR, Dr. Rogerio Robis8. Paralelamente aos mutirões, a Prefeitura de Taboão da Serra (SP), possuía outros dois sistemas para a castração dos animais, um local público, gratuito, que funcionava uma vez na semana e castrava de 30 a 50 animais por dia; e outro em parceria com as clínicas veterinárias da cidade, que recebiam materiais e medicamentos da prefeitura para realizar as cirurgias de esterilização a preços reduzidos. Além da participação no controle reprodutivo, as clínicas registravam e identificavam os animais castrados; enviavam relatórios mensais dos animais vacinados contra a raiva; e encaminhavam os cadáveres de animais que morriam com sinais neurológicos, auxiliando dessa forma, a vigilância epidemiológica do programa de controle da raiva. Os médicos-veterinários clínicos também ofereciam palestras para as escolas do seu bairro, criando um vínculo com a comunidade. O registro era realizado por meio de um cadastro do proprietário com os dados do(s) seu(s) animal(is), mantido em banco de dados na Secretaria da Saúde. Para a identificação dos cães, era doada a coleira de nylon com plaqueta em metal, com o número do registro. Para os gatos, a coleira era elástica, para evitar acidentes. O registro e a identificação eram feitos tanto em posto fixo diariamente, como durante as campanhas de vacinação contra a raiva. O atendimento a denúncias de maus-tratos aos animais de estimação foi implantado em Taboão da Serra (SP), em 1995. Trabalhos intersetoriais com o Conselho Tutelar e o Ministério Público tiveram início, tanto para a prevenção dos maus-tratos aos animais, quanto para a identificação e prevenção de crianças abusadas. As mudanças realizadas pela prefeitura de Taboão da Serra (SP), promoveram a inserção do tema de manejo populacional de cães e gatos (MPCG) em eventos do Instituto Pasteur de São Paulo e do Ministério da Saúde. No entanto, o Ministério da Saúde adotou o Aliança Internacional do Animal (AILA): http://www.aila.org.br

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Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

dovenosa de barbitúricos e, posteriormente, também contou com uma equipe de funcionários da prefeitura de Taboão da Serra (SP). A bióloga Sonia Fonseca, presidente do Fórum Nacional de Proteção Animal, arrecadou fundos para a aquisição dos fármacos. O movimento de proteção e defesa animal não apenas arcou com as despesas, mas colocou em prática a eutanásia humanitária dos animaish. Uma Ação Civil Públicai foi o segundo passo da operação para desmonte das câmaras de descompressão, e o primeiro passo inédito e histórico para a implantação de um programa permanente de manejo populacional de cães e gatos na cidade. A prefeitura era obrigada a cumprir a decisão judicial com os quesitos impostos por uma liminar, paralisando as câmaras, reformando os canis e gatis, praticando ações para a melhoria do bemestar animal e iniciando estratégia para o controle reprodutivo. Enquanto o movimento obteve, por decisão judicial a liminar para a paralização definitiva das câmaras de descompressão, foi aprovada a Lei Municipal 13.131/2001 do Vereador Roberto Trípoli que disciplinou a criação, propriedade, posse, guarda, uso e transporte de cães e gatos no Município de São Paulo. Em 2001, assumia a Secretaria da Saúde, o Dr. Eduardo Jorge Sobrinho, responsável pela implantação do Programa Saúde Animal no município, que contemplava estratégias para o manejo populacional de cães e gatos na cidade e parcerias com as entidades de proteção animal para a castração, educação e registro e identificação. Também foi construída a sala de cirurgia para realização de esterilização cirúrgica de cães e gatos no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo (CCZ/SP), provavelmente a primeira em órgão público, em funcionamento até os dias atuais. Em 2000 o Instituto Pasteur de São Paulo, referência para o controle da raiva no Brasil e órgão responsável pelo controle da raiva no estado de São Paulo, lançou o Manual Técnico “Controle de populações de animais de estimação”. Naquele período, a raiva canina estava em situação epidemiológica favorável em São Paulo e, com a esperança da consolidação do seu controle e assumindo a importância das atividades voltadas para o manejo das populações de cães e gatos, recomenda métodos de controle de populações de animais de estimação indicando as responsabilidades dos tutores e do governo 9. Nesse documento, não houve o reconhecimento da importância do poder público, em oferecer o

Relatório: Módulo Eutanásia do Programa Integrado de Reestruturação do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo. São Paulo, dezembro 2000.120p.

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Cabral VB. O Projeto piloto de eutanásia por método injetável e de reestruturação do Centro de Controle de Zoonoses do Município de São Paulo; o ato de desobediência civil. Escola Superior do Ministério Publico. São Paulo, 2003 94p.

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Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/31/lei-cria-politica-de-controle-de-natalidade-de-caes-e-gatos g

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SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

posicionamento que a realização do controle reprodutivo de cães e gatos não fazia parte das ações de saúde pública, sendo considerado, “apenas”, como uma ação para a proteção dos animais. Essa postura, na época, impossibilitou a implantação de uma política nacional e um direcionamento aos estados e municípios, no que se refere ao manejo populacional de cães e gatos, como programas de apoio às ações de prevenção e controle de zoonoses, prevenção de violência doméstica, dentre outros. As pactuações para a captura e eliminação de cães sem controle entre a União, Estados e Municípios permitiam financiamentos para o programa de profilaxia da raiva humana, no entanto, pactuações para o registro e identificação de animais ou controle reprodutivo nunca foram realizadas. A eliminação de animais era aceita, porém, ações para promover a guarda responsável nunca fizeram parte das pactuações. Infelizmente, até este momento (março de 2019), não existe no Brasil uma política pública nacional efetiva para o MPCG, embora existam mais cães e gatos nas famílias brasileiras do que crianças até 14 anos de idade. Apesar da existência da Lei 13.426/2017, que cria uma política nacional de controle de natalidade de cães e gatos, os artigos referentes ao financiamento das ações foram vetadosg. Caso o financiamento fosse definido com utilização de recursos da União, com certeza mais municípios avançariam em relação ao MPCG, principalmente quanto à prevenção do abandono animal e das zoonoses transmitidas pelos animais de estimação (veja Capítulo 2.5.11 – Políticas de saúde no Brasil: o desafio da inserção de ações de manejo populacional de cães e gatos no SUS). As mudanças no Brasil foram também marcadas por novas práticas adotadas pelo Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo que era referência para o Ministério da Saúde e órgão colaborador da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS). Em 1999 a Sra. Ângela Caruso, membro do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e Presidente da ONG Quintal de São Francisco, representante do movimento de defesa e proteção animal no Conselho de Proteção e Defesa Animal (CPDA), liderou a paralisação das câmaras de descompressão como método de eliminação dos cães, ao lado de outros militantes da causa animal, como Miriam Abud (Associação de Proteção e Amparo aos Animais – APAA), Sandra Marelli (in memorian, Clube das Pulgas), João Vicente (União Internacional de Proteção Animal- UIPA), com apoio fundamental do ambientalista Roberto Trípoli. O Dr. Werner Payne, médico-veterinário parceiro dos militantes, foi o responsável pela implantação do novo método para eliminação de cães e gatos, a eutanásia por meio da administração por via en-


SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

controle reprodutivo gratuito ou a baixo custo, deixando sob responsabilidade do guardião, não apenas a decisão, mas a responsabilidade de optar pelo controle reprodutivo de seu animal. Em 2003, no Rio de Janeiro, RJ, a WSPA e OPAS reuniram “experts” em MPCG da América Latina (Figura 2) na Reunión Latinoamericana de Expertos en Tenencia Responsable de Mascotas y Control de Poblaciones. Ressaltaram a importância da socialização e melhor entendimento do comportamento canino para diminuir agressões e melhorar o vínculo do animal no seio familiar; também concluíram que a aceitação de animais sadios para a eutanásia era antagônica à construção da guarda responsável em uma sociedade. Dessa forma, a mudança de paradigma para o manejo de cães e gatos pelos órgãos públicos seria inevitável. Os CCZs no Brasil aceitavam indiscriminadamente animais sadios para eutanásia. Isso começaria a mudar 10. No último documento da WHO sobre o assunto (2005) 11, três métodos para o controle da população canina são indicados como base para ações de equilíbrio populacional: restrição de movimentos, controle de habitat e controle de reprodução. Reconhece, também, a importância dos programas “Animal Birth Control” (ABC) j Programas “Animal Birth Control” (ABC) de recolhimento, castração, vacinação e devolução ao local de origem de animais abandonados aceitos pela comunidade.

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para o controle reprodutivo de animais de rua abandonados, com a finalidade de diminuir a renovação populacional e o consequente número de animais suscetíveis para a raiva e limitar os aspectos do comportamento do macho canino (brigas e dispersão). O número de cidades que implantavam as estratégias para o manejo populacional de cães e gatos foi crescendo em todo o Brasil. Apesar disso, o Ministério da Saúde continuava alheio às iniciativas. Em 2005, a Organização Mundial de Saúde Animal, que sucedeu a antiga Organização Internacional de Epizootias (OIE) organizou um grupo de trabalho para discutir o manejo de cães de rua pelos países membros, com a participação da WSPA (Inglaterra e Kenia), ITEC (Dra. Rita de Cassia Maria Garcia) e entidades da Eurásia. Outros grupos de trabalho desenvolveram o tema e em 2011, a Organização Internacional de Epizootias (OIE) publicou um capítulo especifico sobre o manejo de cães em situação de rua no Código de Animais Terrestres 12. Também em 2011, a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), após uma consulta pública internacional no ano anterior sobre o manejo de cães em áreas urbanas, realizou um encontro de especialistas, também com a participação da representante brasileira, Dra. Rita de Cassia Maria Garcia, o que gerou o documento “Dog Population Management” 30. Com tantas mudanças e inovações na área do manejo de cães e gatos, os profissionais que trabalhavam

Figura 2 – Especialistas em manejo populacional de cães e gatos reunidos em 2003, no Rio de Janeiro (RJ), reunidos pela OPAS e pela WSPA (atual WAP). Entre outros assuntos debatidos, foi um marco para o fim da eliminação de animais sadios em centros de controle de zoonoses 24

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Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

Gatos”, sob coordenação da médica-veterinária Adriana M. L. Vieira, com apoio da prefeitura de Botucatu e Associação Paulista de Auxílio aos Animais, cujo objetivo era capacitar médicos-veterinários que atuavam na área de saúde pública de prefeituras do Estado de São Paulo em técnicas de esterilização cirúrgica minimamente invasivas, com abordagem de temas relacionados aos aspectos éticos e legais em programas de controle populacional, programas de controle de zoonoses e de populações de cães e gatos e o Sistema Único de Saúde, o elo entre a crueldade com o animais e a violência doméstica, dentre outros. Em 2006, o Estado de São Paulo criou uma política pública de MPCG, orientando os municípios quanto as estratégias a serem implantadas e indicando o recolhimento seletivo e políticas diferenciadas para animais comunitários 15, conforme orientações da WHO (2005) 11. Nesse mesmo ano, o Estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei n. 4.808k, proíbe a eliminação de animais como método de controle populacional e marca o início do movimento No Kill (Não Matar) brasileiro. Inaugurase, portanto, a terceira etapa dos momentos históricos do Brasil l, a de “Respeito à Vida”, imposta legalmente, mas que traz em seu bojo a ética do cuidado. No ano de 2008, o Estado de São Paulo também aderiu ao movimento por meio da Lei Estadual n. 12.916, proposta pelo então Deputado e protetor de animais Feliciano Filho, proibindo a eliminação de animais sadios pelos municípios do estado de São Paulo. Nesse momento, o CCZ de São Paulo, referência para o Ministério da Saúde e órgão colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde, encontrava-se lotado, e precisaria mudar suas políticas internas para a implantação da medicina de abrigos e reintroduzir na sociedade os animais que não representassem risco. Efetivava-se, na prática, uma mudança radical na área de saúde pública veterinária, onde os animais teriam o direito legal de serem recuperados, ressocializados e reintroduzidos na sociedade por meio da adoção. Uma nova era que ia além da prevenção do abandono, uma era de respeito aos animais. O movimento de respeito à vida se estende para quase um terço da nação brasileira, por meio da proibição legal da eliminação de animais saudáveis para o controle populacional: Mato Grosso do Sul (Lei n. 10740/2008), Rio Grande do Sul (Lei n. 13.193/2009), Pernambuco (Lei n. 14.139/2010), Paraná (Lei n.

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contLei.nsf/c8aa0900025feef60 32564ec0060dfff/6628191723549496832571a8005e8896

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Santana e Oliveira (2008) sugeriram dividir os momentos históricos em duas etapas: “etapa da captura e eliminação de animais” e “etapa da prevenção ao abandono”. Aqui sugerimos acrescentar uma terceira etapa, “etapa de respeito à vida”, proibindo a eliminação de animais sadios, um movimento “No Kill” brasileiro. l

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SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

anteriormente na área de saúde pública, precisavam ser capacitados para a implantação de programas de manejo populacional de cães e gatos. As demandas sociais, políticas, econômicas, culturais, demandavam um novo perfil para atuação na saúde pública veterinária. O perfil de sanitarista, com enfoque apenas na proteção da saúde das pessoas, não cabia mais. Um olhar holístico para os humanos, animais e meio ambiente era necessário. Um olhar para o bem-estar único. Em 2004 nascia a primeira organização não governamental com o objetivo de capacitar e auxiliar os municípios a implantarem e implementarem as ações de manejo populacional de cães e gatos, o Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC). O ITEC reuniu profissionais de várias áreas, principalmente de saúde pública veterinária, para multiplicar os novos conceitos do manejo populacional de cães e gatos e prevenir a eliminação de animais sadios. O primeiro curso de capacitação, denominado Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (Curso FOCA), hoje denominado Curso de Medicina Veterinária do Coletivo e Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (veja Capítulo 6.5 – Curso de Medicina Veterinária do Coletivo e Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal), resultante de uma parceria entre o ITEC e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, ocorreu em 2005. Até 2018, foram realizados 39 cursos em diferentes cidades e estados do Brasil, capacitando mais de 1.500 profissionais de saúde, meio ambiente e educação, entre outras áreas14. Ainda em 2005, a Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SES-SP), realizou o “Workshop Eutanásia: A Ética e a Saúde no Limite da Vida e da Morte”, com a participação de médicos-veterinários, assistentes sociais, psicólogos, médicos, dentre outros, sob coordenação da médica-veterinária Adriana M. L. Vieira, com apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV/SP), Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV/RJ), Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Instituto Nina Rosa (INR), Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC), Humane Society of United States (HSUS) e World Society for the Protection of Animals (WSPA). O evento teve como objetivos: reconhecer os riscos para a saúde mental e tecer recomendações visando ao bem-estar do trabalhador; definir protocolos para eutanásia visando ao bem-estar no manejo de cada espécie (desde o recolhimento do animal até o final da eutanásia); protocolos de eutanásia de cães e gatos e de equídeos na saúde pública. Posteriormente, a CCD/SES-SP em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP campus Botucatu (SP), realizam o I Curso “Capacitação de Médicos-Veterinários para Realização de Novas Técnicas de Esterilização Cirúrgica em Cães e


SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

17422/2012), Minas Gerais (Lei n. 21970, 2016), Alagoas (Lei n. 7979/2018), Paraíba (Lei n. 11140/2018). Um novo paradigma para a saúde pública veterinária é legalmente imposto, fazendo com que as ações nesses estados se centrassem na prevenção ao abandono, e não mais na eliminação dos animais. Em 23 de maio de 2014, por meio da Portaria n. 1.138, o Ministério da Saúde define as ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, de relevância para a saúde pública. Muitos municípios brasileiros optaram por realizar as ações de MPCG em outras pastas, como por exemplo, órgãos de meio ambiente ou de defesa, de proteção ou de bem-estar animal. Independente de o programa de MPCG estar ligado à secretaria de meio ambiente ou à secretaria de saúde, ele envolve diversas secretarias e setores e, principalmente, a pasta de saúde. Manejar populações de cães e gatos diz respeito direto à prevenção e controle de zoonoses, e portanto, relaciona-se em primeiro lugar à saúde pública. Caso esteja em outra pasta, a secretaria da saúde deve fazer parte do comitê gestor do programa de MPCG, bem como criar um fluxo de compartilhamento de dados, participar do monitoramento e avaliação do impacto das ações e discutir sobre as áreas prioritárias e situação epidemiológica do município. O abandono de cães e gatos traz prejuízos para a saúde humana, animal e meio ambiente, devendo ser considerado um agravo à saúde. Necessita, portanto, da implantação de uma vigilância epidemiológica para o abandono animal (veja Capítulo 2.5.4 – Epidemiologia do abandono animal). Apesar de já existirem abrigos que mantinham cães e gatos, a exigência de novas políticas internas para os CCZs, demandou novos conhecimentos, sendo um marco para a Medicina de Abrigos no Brasil. Os CCZs que mantinham anteriormente os animais por poucos dias, agora tinham que mantê-los com saúde física, por longos períodos, e promovendo bons níveis de bemestar animal. Nos abrigos, médicos-veterinários clínicos de pequenos animais auxiliavam no tratamento dos cães e gatos mantidos, aplicando o conhecimento da clínica médica individual de forma coletiva, mas novas abordagens, conhecimentos e práticas eram necessárias para prevenir doenças, diminuir os gastos, diminuir o período de manutenção dos animais no coletivo antes da sua adoção. A lógica da clínica médica centrada no individuo precisava ser repensada para o coletivo. Os médicosveterinários, em geral, não estavam preparados para cuidar dos animais no coletivo e nem para enfrentar um outro problema criado pelo movimento de respeito à vida, ou seja, quanto mais tempo o animal permanecia no abrigo, maior era o risco do seu adoecimento. Os problemas relacionados com a arquitetura, desinfecção de canis e gatis, temperatura e ventilação e introdução de 26

programas preventivos, não faziam parte do rol de conhecimento dos profissionais, seria então necessário uma formação em medicina de abrigos sendo, portanto, exigido um novo perfil de profissional para trabalhar na área de saúde pública veterinária, que fosse além do perfil de sanitarista, como por exemplo, conhecer todos os aspectos que envolvessem a manutenção de animais no coletivo por um período mais longo. Antes, em geral, os animais eram mortos no quarto dia de manutenção, agora, esse animal precisaria ser cuidado antes de ser inserido novamente na sociedade por meio da adoção, e sem representar riscos para outros animais ou para o ser humano. A WSPA desenvolveu Oficinas e Workshops de Gerenciamento dos Abrigos pela América Latina com a coordenação da Elizabeth McGregor da oficina regional do Brasil e Luis Carlos Sarmiento da oficina Regional da Colômbia. A primeira vez que o assunto sobre medicina de abrigos foi introduzido no Brasil, ocorreu por meio do Prof. Néstor Calderón em 2006 m e o primeiro curso de Medicina Veterinária do Coletivo com enfoque na Medicina de Abrigos ocorreu em 2008 no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, realizado pelo ITEC em parceria com o CCZ/SP e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, sob a coordenação do Prof. Néstor Calderón. Em 2009 foi publicado o primeiro artigo da área, com o titulo “Medicina Veterinária do Coletivo: um novo desafio para os veterinários” 16 e em 2013, lançado o Guia Prático para o Manejo de Cães em Canis, fruto de vivências no Centro de Controle de Zoonoses de Guarulhos, contando com a experiência em Medicina de Abrigos do Dr. Eduardo Rodrigues, médico-veterinário desse CCZ e do ITEC. O Guia foi desenvolvido por pós-graduandos do Laboratório de Epidemiologia e Bioestatística da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, sob a coordenação da Dra. Gina Polo, membros do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal e de prefeituras17. Em 2016 foi publicado o Caderno Técnico “Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo: Aspectos do Manejo Populacional de Cães e Gatos”, produzido pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação da Profa. Dra. Danielle Ferreira de Magalhães Soares, e pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG), sob a presidência do Prof. Nivaldo da Silva18. Também em 2016 foi produzido o “Guia Técnico para a construção de manutenção de abrigos e canis” pelo CRMV do Paraná 19, além da produção pelo ITEC de outros materiais para apoio das atividades em abrigos: o vídeo “Introdução ao Manejo

Durante o Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal, Curso FOCA, no Brasil

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Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

controle reprodutivo cirúrgico (2008) com atualização em 2016 p, Guidelines for Standards of Care in Animal Shelters (2010)q. Em 2002 é publicado o primeiro livro da área, Shelter Medicina for Veterinarians and Staff 23; em 2013 a segunda edição24; o Infectious Disease Management in Animal Shelter25 em 2009. Em relação à participação do primeiro setor, uma empresa de ração apoiou ações educativas em Taboão da Serra (SP), em 1996, porém, preferiu o anonimato por temer que o controle reprodutivo não fosse muito bem aceito pelos tutores e que a ações pudessem “diminuir o número de animais que consumiam o produto”. Em 2008, a Pedigree iniciou um projeto relacionado com o MPCG, mais especificamente com a adoção, “Programa Pedigree Adotar é Tudo de Bom”, com apoio às ações de ONGs em relação à promoção da adoção de cães e gatos. Dos grandes patrocinadores das Conferências de MVC organizadas pelo ITEC participaram: Merial (2011), Total Ração (2012) e a Premier, como patrocinadora oficial da Conferência de 2019 em João Pessoa. Em 2014, a Special Dog desenvolve projeto de MPCG na cidade onde se situa a fábrica de ração, demonstrando a reponsabilidade social para a prevenção do abandono de animais. Em 2017, o Instituto Premier iniciou projeto pioneiro com abrigos de cães e gatos para a melhoria do nível de bem-estar dos animais mantidos nesses locais, o Projeto Alimentando Sonhos, relacionado com a medicina de abrigosr. Em 2018, publica em português um dos principais guias internacionais para a medicina de abrigos: Diretrizes sobre os Padrões de Cuidados em Abrigos de Animais26, da Association of Shelter Veterinarians (Associação de Veterinários de Abrigos)s. Nesse mesmo ano inicia parceria com o Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal doParaná (UFPR), na área de Medicina de Abrigos, envolvendo os residentes de Medicina Veterinária do Coletivo para atuarem nos abrigos cadastrados em São Paulo e no Paraná com o objetivo de melhorar o nível de bem-estar dos animais, diminuir as taxas de mortalidade e morbidade e aumentar as taxas de adoção. A San Francisco Society for the Prevention of Cruelty to Animals (SF SPCA) The Association of Shelter Veterinarians 2016 Veterinary Medical Care Guidelines for Spay-Neuter Programs. Special Report. Disponível em: http://avmajournals.avma.org/doi/ pdf/10.2460/javma.249.2.165. Acesso em 30/3/2019.

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Guidelines for standards of care in animal shelters. Disponível em: https://www.sheltervet.org/assets/docs/shelterstandards-oct2011-wforward.pdf Acesso em 30/3/2019

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Alimentando Sonhos, Instituto Premier: https://youtu.be/Jx5hX4xcF14; https://youtu.be/DQLWAm2c3nM; https://youtu.be/GviCDXa6Fww

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https://vetpol.co.uk/34032-wsava-shelter-medicineworkshop-aims-to-enhance-shelter-medicine-practice

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UFPR abre residência em Medicina veterinária do coletivo. Revista Clínica Veterinária, Ano XVI, n.92, maio/junho, 2011, p.22.

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Diretrizes sobre os Padrões de Cuidados em Abrigos de Animais : http://premierpet.com.br/shelter_medicine.pdf

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SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

Etológico”20 com questões básicas para o manejo de cães mantidos no coletivo; e o “Guia de Manejo Etológico” trazendo de forma simples e prática como conter cães e gatos, sob a coordenação da Dra. Evelyn Nestori Chiozzotto, da prefeitura de Votorantin e membro do ITEC21. Em 2010 a primeira orientação para abrigos foi publicada no Brasil22. A primeira Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo ocorreu em 2010, na Universidade de São Paulo; em 2011 no mesmo local; 2012 e 2013 em Curitiba, organizada pela UFPR e ITEC; 2014 e 2015 em Belo Horizonte, em parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ITEC; 2016 e 2017 em Porto Alegre, organizada pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRitter) e ITEC, e em 2019 em João Pessoa, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e ITEC, e apoio do CRMVPB. O comitê de bem-estar animal (Animal Wellness and Welfare Committee – AWWC) da World Small Animal Veterinary Associtation (WSAVA) tem desenvolvido o tema de Medicina de Abrigos em seus congressos mundiais, relacionando o tema às políticas relacionadas com UM MUNDO UM BEM-ESTAR n. Em 2011 nascia a primeira disciplina de Medicina Veterinária do Coletivo no Brasil, na UFPR, coordenada pelo Prof. Alexander W. Biondo com auxílio do Prof. Fabiano Montiani. A residência em Medicina Veterinária do Coletivo na UFPR, em parceria com a prefeitura de São José dos Pinhais (PR) também iniciou em 2011o com a coordenação do Prof. Alexander Biondo. Atualmente a residência conta com 10 vagas na área MVC com atuação em municípios parceiros. Também na UFPR, com o empenho do Prof. Alexander Biondo, foram abertas as primeiras vagas para docência em Medicina Veterinária do Coletivo em 2013/2014. A Universidade Estadual do Ceará (UECE) inicia disciplina de MVC em 2019 sob a coordenação do Prof. Claudio Henrique Couto do Carmo. Em 2001, nos Estados Unidos da América (EUA), nascia a Association of Shelter Veterinarians (ASV), ao mesmo tempo em que tem início a primeira residência na área da Universidade da California em Davis. Mas a primeira disciplina na área começou em 1999, na Cornell University. Em 2005, a ASV começa a petição para o reconhecimento da área pela American Veterinary Medical Association (AVMA) como especialidade, e a área passa a ser reconhecida somente em 2014, tendo seu primeiro exame para especialistas em 2015. Durante esse período, a ASV publica diversos documentos sobre o


SEÇÃO 1: Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo

Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

esteve sempre na vanguarda para o bem-estar dos animais, com uma proposta de todos os cães e gatos adotáveis encontrarem um lar. Em 2012, a SF SPCA criou a Vision 2020, um plano de ação para acabar com o abandono animal em São Francisco ate 2020. Focando no resgate, prevenção e educação, São Francisco está a caminho de ser a primeira cidade americana a colocar um fim no abandono. Uma central telefônica para receber chamadas de tutores que queiram abandonar seus animais devido questões médicas, financeiras ou comportamentos indesejados centraliza e mapeia as solicitações, analisando os dados e tentando encontrar soluções para cada caso. Hoje os funcionários já conseguem saber quem está ligando, de onde estão ligando. Com esse suporte, a SF SPCA é capaz de prover aconselhamentos e participar ativamente no encontro de soluções, mantendo mais de 350 animais em fase processo de abandono fora dos abrigos. Talvez um grande caminho a ser seguido. Criar uma central de recebimento desse tipo de pedidos, o que permitirá prever quais famílias pretendem abandonar seus animais, analisar e oferecer alternativas para o não abandono, manter o animal junto à família. Seria o inicio da vigilância epidemiológica do abandono animal. Iniciativa semelhante ocorreu no Instituto Nina Rosa – Projeto de Amor à Vida. O Instituto recebia telefonemas de problemas relacionados com os animais, inclusive de famílias que não poderiam ficar mais com seus animais, e com orientação, atenção e proatividade, realizava orientações, oferecia alternativas para a solução do problema. Mas acima de tudo, valorizava a vida animal, sensibilizando as pessoas para manterem seus animais junto à família. Esse projeto iniciou de maneira informal com a Nina Rosa em 1994, sendo depois um serviço oferecido pelo Instituto: Serviço de Atendimento Telefônico para a Valorização da Vida Animal (SATVVA) 18. A Medicina Veterinária do Coletivo nasce então, de uma demanda para práticas intersetoriais, interprofissionais para a construção de uma melhor qualidade de vida para seres humanos, animais e o ambiente que eles habitam, em ressonância com uma evolução de ética social das comunidades relacionado com o status moral/legal dos animais, as novas formas de relacionamento humano-animal-ambiente e o fortalecimento de novos paradigmas na medicina veterinária, principalmente na saúde pública, inserindo os conceitos e práticas nas comunidades e territórios, de uma Saúde Única, termo derivado da One Health. Para o desenvolvimento da área de MVC, é imprescindível que os profissionais conheçam as estratégias que os países da América Latina praticam referente ao MPCG e demais interações humano-animal-ambiente; monitorar e avaliar o impacto das ações; conhecer e interligar os grupos, universidades e institutos que desenvolvem ações extensionistas e 28

realizam pesquisas na área, além da construção de uma rede para o fortalecimento de atividades formativas acadêmicas e de capacitação dos profissionais em atuação na área de saúde pública, animal e ambiental, inserindo desta forma no Brasil, a MVC nas práticas da Saúde Única. Referências 1-Brasil, Ministério da Saúde. Programa Nacional de Profilaxia da Raiva 1973. 69 p. 2-Santana LR, Oliveira TP. Guarda responsável e dignidade dos animais. 2008. Salvador, Relatório Ministério Público. 41 p. Disponível em: <https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/104196/guarda_responsavel_dignidade_san tana.pdf>. Acesso em: 30/30/2019. 3-WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Expert Committee on Rabies. WHO Technical Report Series, n. 523, Sixth Report, Geneva, 1973. 55 p. 4-WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Expert Committee on Rabies. WHO Technical Report Series, n. 709, Seventh Report, Geneva, 1984. 104 p. 5-WHO; WSPA. WORLD HELTH ORGANIZATION; WORLD SOCIETY FOR THE PROTECTION OF ANIMALS. Guidelines for dog population management. Ginebra: WHO; WSPA, 1990. 116 p. WHO 1992 6-Garcia RCM. Características das famílias participantes do Mutirão do Parque Pinheiros. Relatório. Prefeitura de Taboão da Serra, 1997, 4 p. 7-Garcia RCM. A influência do movimento de proteção, defesa e bem-estar animal na política pública de controle ético das populações de cães e gatos na cidade de São Paulo. Trabalho apresentado em forma de pôster. In: II CONGRESSO INTERNACIONAL DE BEM-ESTAR ANIMAL, 2007, Rio de Janeiro. [Anais...], 2007. p. 6365. 8-Wouk AFPF, Robes RR, Biondo AW. Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES): ensinando medicina veterinária e cidadania. Revista Clinica Veterinária, Ano XV, n.89, novembro/dezembro, 2010. 9-Instituto Pasteur. Controle de populações de animais de estimação, São Paulo, Instituto Pasteur, 2000, 44p. Disponível em: <http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_06.pdf>. Acesso em: 30/3/2019. 10-WSPA; PAHO. WORLD SOCIETY FOR THE PROTECTION OF ANIMAL; Pan-AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Recomendaciones In: REUNIÓN LATINOAMERICANA DE EXPERTOS EM TENENCIA RESPONSABLE DE MASCOTAS Y CONTROL DE POBLACIONES, 1., Anais… Rio de Janeiro. 2003, 13 p. 11-WHO. World Health Organization. WHO Expert consultation on rabies. Geneva: (First Report Technical Report Series, 931, 2005. 12-OIE. Organização Internacional de Epizootias. Control de las poblaciones de perros vagabundos. Capitulo 7.7. Código Sanitario para los Animales Terrestres. Disponível

Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição


Capítulo 1.1 – Como nasceu a Medicina Veterinária do Coletivo?

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Medicina Veterinária do Coletivo: fundamentos e práticas – 1ª edição

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16-Garcia RCM, Calderón N. 2009. Medicina Veterinária do Coletivo: um novo desafio para os veterinários.Clínica Veterinária (São Paulo), v. 82, p. 28-30, 2009.

19-CRMV-PR. Conselho Regional de Medicina Veterinária e Zootecnia do Estado do Paraná. Guia Técnico para construção e manutenção de abrigos e canis. 2016. 35p. Disponível em: <https://www.crmv-pr.org.br/uploads/publicacao/arquivos/Guia-Canil-e-Abrigo.pdf>. Acesso em: 30/3/2019.











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