Meiô 22 - 001

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Construção da crise do petróleo | Pág. 4 Imigrantes latinos e o bullying nas escolas | Pág. 5

A exclusão da feminista periférica | Pág. 8 (Des)governo Alckmin | Pág. 16 Oscar 2016 | Pág. 12

Entrevista com Tobi Maier sobre o preço da arte | Pág. 10 Novos caminhos da industria do entretenimento | Pág. 13

Ed. 001 Acesse www.meio22.com.br


Meiô. No meio de nós. Eu, você, nós. Tudo no mesmo meio. Nós. Somos um jornal colaborativo cultural iniciado dentro do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, indo para o mundo. A cultura é o que nos move, a alma das nossas megalópoles, o fogo que move nossos redatores todos os meses para fazer nossas queridas edições. Sem preconceitos, sem distinções, sem exclusões. Somos de todos, todos são de nós. Meio. Formado pela jornalista Carolina Farias e pelos internacionalistas Felipe Alves, Juliana Florentino e Manuela Errera, temos como princípio a alma coletiva. Do povo, feito por quem tem sentimento pelo povo, obra de quem usa essa alma em palavras, fotos, desenhos. Transmitimos ao leitor nossa alma coletiva, colaborativa. O que é o Meiô 22? É você, sou eu, somos nós. Todos aqueles que possuem o espirito, a alma, a cidade, o campo, a cultura. Resultado de quem possui tais sentidos e por você, que lê, entende, interage e nos move. Fabricio Zanin Stéphanie Nitoli Tobi Maier Ilos Schuler Mc Carol

Agradecimentos Especiais Henrique Franco Stanlley Vinicius

Mergulho em Technicolor NICOLE KOUTS

Bemvindo!

Mc Issa Paz Isabela Barnaba Kinder Bueno Thiago Russo Flávio Galindo entrevista destacada

O preço da arte Entrevista com Tobi Maier MANUELA ERRERA

Construção da crise do petróleo FELIPE ALVES

Oscar 2016 ISABELLA JARRUSSO

Imigrantes latinos e o bullying nas escolas DEJANANE SILVA

Novos caminhos da indústria do entretenimento ISABELA GUSMAN

matéria de capa

O negro universitário na cidade de São Paulo ROGERIO TINEU

O carnaval de todo dia ITALO HIGOR

A exclusão da feminista periférica CAROLINA FARIAS

! Soy loco por ti, America! BRUNO JACOB

Geração “nem-nem” cresce na América Latina e chega a 20% JULIANA FLORENTINO

(Des)governo Alckmin LUIZA KORMANN


Por Nicole Kouts

Mergulho em Technicolor


Construção da crise do petróleo Por Felipe Alves Na década de 1990, o mercado do petróleo se reformulou. A União Soviética havia acabado e as enormes reservas de hidrocarbonetos agora estavam nos planos das companhias internacionais de petróleo (CIP). A crise asiática de 1998 jogou o preço do barril de petróleo para a casa dos US$11. Diante desse cenário, grandes fusões entre as CIP ocorreram, com o propósito de aumentar a escala de produção e combater as dificuldades do alto custo ante o baixo preço. A economia retomou fôlego na virada do milênio, como esperado. Entretanto, o que surpreendeu foi a larga escala de crescimento de países emergentes como China, Índia, Brasil e Rússia, que demandaram cada vez mais commodities para financiar sua expansão, impulsionando o preço do petróleo à faixa dos US$70 em 2006. Instabilidades políticas no Iraque, na Nigéria e na Venezuela aumentaram a tensão no mercado, colaborando também para a subida dos preços.

O otimismo econômico aliado ao Relações Internacionais

forte crescimento da demanda incentivou investimentos das CIP em produção e procura de novas reservas, o que foi visto com bons olhos pelos especuladores. O ambiente positivo animou investidores, que cada vez mais procuraram pelos ativos financeiros do petróleo. O ânimo elevou a cotação a US$140 em junho de 2008, um valor assustador para os países importadores – e um paraíso para os exportadores. O colapso financeiro de 2008 derrubou a cotação até US$40, em janeiro de 2009 – valor mais baixo em mais de quatro anos. Após a estabilização, a commodity retomou força – diante da confiança que permanecia nos emergentes – e chegou aos US$110 em abril de 2011. O petróleo se manteve estável entre US$100 e US$90 até junho de 2014, quando os sinais da crise atual ficaram evidentes. O crescimento mundial mostrou-se debilitado, diminuindo as expectativas dos investidores. Os Estados Unidos aumentaram a oferta global com um intenso acréscimo na produção do óleo de xisto. Recentemente, uma forte e inesperada ampliação nos estoques americanos de gasolina também pressionou o preço para baixo.

Para estabilizar o mercado será necessária refinada diplomacia, haja vista que nenhum produtor pretende diminuir sua produção para reduzir a oferta global e correr o risco de perder participação de mercado. A ótica do jogo de xadrez tridimensional de Joseph Nye elucida a complexidade dessas negociações. No tabuleiro superior desse xadrez está o poder político. O que importa para Estados Unidos, Rússia e Arábia Saudita – principalmente para estes três países – são os ganhos relativos, importantes para a manutenção do status quo dos países e até expansão política, no caso russo. No tabuleiro médio encontra-se a dimensão econômica, fundamentada nas receitas do petróleo, na segurança energética e no market share. No último tabuleiro, uma complexa rede de agentes internacionais interage com os outros dois níveis – e nesse caso falamos principalmente das CIP. Apesar da crise do petróleo poder ser explicada por fatores econômicos, sua resolução passa imprescindivelmente pela diplomacia internacional.


Imigrantes latinos e o bullying nas escolas Por Dejanane Silva Nos últimos 10 anos temos observado um grande aumento do número de imigrantes na cidade de São Paulo, boa parte originária dos vizinhos Peru, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Dentre os principais motivos da imigração estão as ofertas de emprego e a melhor qualidade vida que estes povos almejam para si

e vossas famílias. Em todo caso, a imigração em geral sempre vem acompanhada de certa dificuldade. Apesar da aproximação territorial, a língua é uma barreira a ser enfrentada, assim como as diferenças culturais e, posteriormente, a aceitação desses imigrantes na sociedade.

outro e fazer com que o outro me reconheça sem fazer juízo de valor? Temos visto frequentemente nos meios de comunicação vários casos de intolerância com os imigrantes vindos da América hispânica. Estes casos de intolerância são ainda mais frequentes nas escolas da capital paulista e, recentemente, tanto os bolivianos quanto os peInteração e assimilação são as bar- ruanos têm sido alvo de bullying e reiras mais complicadas de ser- perseguição. em quebradas. Como lidar com o

Foto: Gerardo Lazzari Em depoimento ao site Bolívia Cultural, a antropóloga Simone Toji, que trabalha com comunidades latinas em São Paulo, relata que a integração de filhos de bolivianos ou a de brasileiros filhos de bolivianos é de responsabilidade da escola e que, infelizmente, os professores não estão preparados para lidar com esta inserção. Dentre um dos motivos está a falta de ensinamento nas escolas de questões relacionadas à imigração e suas causas, o que leva a uma certa intolerância por parte dos estudantes.

Dos casos de bullying que são relatados pelos imigrantes, além dos abusos físicos e de coerção, também são comumente observados os abusos psicológicos. A integração e a inserção desses imigrantes na sociedade tornam-se ainda mais difíceis e dolorosas quando estes se sentem invisíveis aos olhos da população.

dos. Embora seja um trabalho lento, é essencial sua aplicação - bem como o treinamento dos profissionais que estão habituados a lidar com estes problemas no cotidiano. As comunidades bolivianas e peruanas trabalham para que haja uma inserção desses imigrantes evitando uma distinção entre os estudantes. Todavia, a escola ainda é a principal instituUma das melhores formas de ição que deve dar foco e atenção combater a intolerância é a partir às dificuldades e intolerâncias da exposição aos estudantes nas provindas de outros estudantes escolas das causas e motivos da contra os alunos imigrantes ou filimigração – principalmente quan- hos de estrangeiros. do estes imigrantes são refugia-


O negro universitário na cidade de São Paulo Por Rogerio Tineu Modelos: Henrique Franco e Stanlley Silva Nas cidades brasileiras, em particular na cidade de São Paulo, existe uma relação direta entre local de moradia, renda e nível de escolaridade do negro (pretos e pardos de acordo com os critérios do IBGE). Os dados censitários de 2010 da cidade de São Paulo - organizados e publicados no relatório Igualdade Racial em São Paulo: Avanços e Desafios da Secretaria Municipal da Promoção da Igualdade Racial - evidenciam que os bairros com melhor infraestrutura urbana, oferta de empregos e oportunidades (os chamados bairros ricos) são compostos quase que exclusivamente por moradores brancos. Exemplos são os bairros que compõem as subprefeituras de Pinheiros, com 7,3% de moradores negros e a Vila Mariana, com 7,9%. Já nos bairros que compõe a subprefeitura de Parelheiros (extremo sul da cidade) a população de negros é de 57,1%. Outro exemplo é a Cidade Tiradentes (extremo leste) com 55,4% de negros em sua população. E as diferenças não param por aí. Dentro da subprefeitura de Pinheiros existe diferença na renda

Matéria de capa

por domicílio mesmo quando se mantém o nível de emprego e escolaridade. Nos domicílios em que o chefe de família é branco a renda média é de R$ 17.737,14, enquanto no domicílio chefiado pelo negro a renda média é de R$ 9.228,74. Já em Parelheiros a renda média do domicílio chefiado por branco é R$ 2.254,87 e do negro é R$ 1.780,76.

por mulheres brancas tem rendimento 2,3 vezes maior do que os chefiados por mulheres negras, R$5.643,66 e R$2.484,12 respectivamente. O jovem negro ao tomar para si o espaço da universidade intensifica os seus laços internos e tem a possibilidade de construir pontes para fora de sua comunidade de baixa renda. O ensino de forma geral, o de nível superior em particular, classifica-se como uma das condições para a redução das consequências da segregação, pois aumenta a sociabilidade interracial e interclasses e as possibilidades de diminuição da desigualdade social por inserir o negro no mercado de trabalho de maneira competitiva disputando os cargos profissionais mais bem remunerados e, o convívio entre brancos e negros de maneira mais igualitária, reforça os vínculos e laços sociais não só na universidade e no ambiente de trabalho, mas servindo como uma espiral positiva que se projeta por toda a sociedade invadindo as gerações futuras.

De forma global para o município de São Paulo, os domicílios chefiados por homens negros apresentam rendimento domiciliar 2,6 vezes menor que os chefiados por homens brancos, R$3.180,81 e R$8.225,23 respectivamente. Para as mulheres o padrão se repete: os domicílios chefiados Houve uma evolução significati


va do acesso do jovem negro de 18 a 24 anos na universidade. Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE) para o Brasil apontam que em 1993 apenas 1,5% dos jovens negros estavam na universidade contra 7,7% dos jovens brancos. Em 2002 a proporção salta para 3,8% de negros e 15% de brancos. Já em 2013 as proporções são ainda maiores, mas mesmo assim a desigualdade permanece, pois 40,7% dos jovens negros de 18 a 24 estão matriculados no ensino superior e o número de jovens brancos chega a 69,4% desse grupo. O relatório da Secretaria Municipal da Promoção da Igualdade Racial compara os dados dos censos do IBGE de 2000 e 2010 relativos à evolução do nível escolar dos indivíduos com idade entre 18 e 39 anos e evidencia uma melhora no nível de escolaridade do brasileiro, principalmente do negro. No ano de 2000 tinha ensino superior completo 12,4% dos brancos e em 2010 24.%. No caso da população negra a evolução é ainda melhor em termos percentuais, em 2000 era 2,2% e 2010 6,6%. O número de negros com formação de nível superior triplicou em dez anos, um número ainda tímido em relação ao total dessa população. Com a ampliação desse novo quadro é esperado encontrar áreas de atrito no campo social e do trabalho já que o jovem negro universitário vai, aos poucos, chegando a lugares e postos ocupados eminentemente por brancos. As manifestações racistas verbais ou escritas são proferidas com frequência. Normalmente dizem: “Nos dias de hoje eles não sabem mais qual é o seu lugar.” Ou de forma imperativa: “Ponha-se no seu lugar.” Foram nesse tom as

pichações realizadas em duas importantes universidades paulistas ou, ainda, os ataques realizados a profissionais da mídia em seus perfis das redes sociais no ano de 2015.

cidadão e lutar contra quem se opõe a essa nova realidade que vem se consolidando a partir da constituição cidadã de 1988. Os jovens negros com boa formação, bem sucedidos profissionalmente valorizam sua ancesEm meio a esse turbilhão de mu- tralidade e demonstram orgulho à danças, esse novo jovem negro, sua cultura com forte sentimento estudante e profissional não pode de pertencimento à cidade toda e se deixar intimidar. Deve se fazer não apenas à periferia. respeitar, exigir seus direitos de


A exclusão da feminista periférica O movimento feminista ganha espaço entre a nova geração de jovens, que crescem ao lado da compreensão: homens e mulheres devem ter os mesmos direitos. Porém, na periferia as mulheres sempre foram protagonistas, porque forçadas a isso.

Em citações exclusivas Mc Carol, Mc Issa Paz, Larissa Kinder e Isabela Barnaba, mulheres que cresceram nesta realidade nos fazem refletir sobre o real significado do feminismo e como ele está sendo discutido.

“Já ouvi os manos dizerem que o feminismo é coisa de patricinha, que na quebrada não tem machismo, mas são os mesmos caras que silenciam as mina, passam pano pra agressor.” MC ISSA PAZ Um monte de mina branca, classe média alta lutando por uma “igualdade” que elas NÃO enxergam. Feminismo hoje em dia, pra maioria das meninas, é o que eu chamo de LIBERTAÇÃO SEXUAL! ISABELLA BARNABA Loira e elite apanhando: coitaaada! Mulher pobre apanhando: bem feito! Por que não largou o cara? É puta. KINDER BUENO É um absurdo a mulher ganhar menos por ser mulher, mas sei também que alguns cargos de trabalho braçal, os homens são mais aptos. Feminismo é o que? Uma gangue? Facção? Eu não quero fazer parte de uma gangue... MC CAROL Cultura

Por Carolina Farias Foto: Fabricio Zanin Modelo: Stéphanie Nitoli

Acesse www.meio22.com.br para ler as entrevistas na íntegra.


Nem

nem nem Nem Nem Nem

Geração “nem-nem” cresce na América

Latina e chega a 20%

Por Juliana Florentino O relatório do Banco Mundial “Fora da escola e fora do trabalho: Risco e oportunidades para os ‘nemnem’ na América Latina” divulgado em janeiro mostra que aproximadamente 20 milhões de jovens latino-americanos entre 15 e 24 anos fazem parte do grupo conhecido como “nem-nem” – nem estudam e nem trabalham. Segundo o estudo, quase 60% dos “nem-nem” provém de famílias de baixa renda, que são consideradas as mais vulneráveis e, portanto, as mais suscetíveis ao desemprego e à baixa escolaridade. O documento mostra também que ser um “nemnem” pode significar a obtenção de menores salários e oportunidades durante toda a vida, além de prejudicar o crescimento e desenvolvimento socioeconômico dos países da região. O número de jovens “nem-nem” do sexo masculino cresceu 1,8 milhão desde 1992, porém, as mulheres ainda são maioria e apontam como

principal motivo do abandono à escola e do desemprego a gravidez na adolescência e a necessidade de assumir responsabilidades domésticas e familiares ainda muito jovens.

década, a região não conseguiu diminuir o índice de forma expressiva.

Como alternativa a esse cenário, observa-se um fluxo migratório crescente de jovens de países latiO maior percentual de jovens no-americanos para países eco“nem-nem” localiza-se na América nomicamente mais desenvolvidos, Central, em Honduras e El Salva- como os Estados Unidos. dor – ambos com 25%. Apesar de alarmantes, os números encon- Como consequência dessa imitram-se próximos da média glob- gração, a xenofobia e o racismo al de 23% e são menores quando são extremamente presentes no comparados a outras regiões do cotidiano dos imigrantes. O ideglobo, como o sul da Ásia, o Ori- al de “american dream” ainda é ente Médio e a África subsaariana. bastante presente para muitos No Brasil, o número de “nem-nem” jovens de baixa renda que sonham chega a quase 7 milhões de jovens com a obtenção de melhores oporque se concentram, em sua maio- tunidades. Thiago Russo, psicanaria, no Nordeste do país. lista formado pela Universidade de São Paulo e com foco de pesquisa O Banco Mundial recomendou à em estudos de literatura judaico e região políticas que propõem evitar afro-americana, reitera que a buso abandono escolar e proporcionar ca de um sonho tão presente no emprego aos jovens que já saíram imaginário coletivo - ignorando asda escola, e classificou o problema pectos reais da realidade daquele dos “nem-nem” como persistente, país para onde migram - mostra o uma vez que, mesmo com o bom enfraquecimento das utopias latidesempenho econômico na última no-americanas e o esvaziamento da participação política desses jovens em seus países de origem. O Brasil ainda possui muitos jovens na condição de “nem-nem”, mas conseguiu retirar 546 mil pessoas dessa categoria de 2013 para 2014 e deve intensificar os esforços para combater esse agravante social no país.


O preço da arte Entrevista com o crítico e curador Tobi Maier Por Manuela Errera Fotos: Ilos Schuler Diante da dificuldade de caracterizar a relação entre o mercado e a arte, o Meiô 22 convidou Tobi Maier para expor seu pensamento acerca do assunto. Para Tobi, estas questões possuem certo sincretismo e a validação de uma obra se apoia estritamente em sua própria carga simbólica.

Meiô 22 - Como você define a relação do valor mercadológico da obra de arte com o trabalho empregado nela? Maier - É uma pergunta impossível de responder. Quando você vê um Marcel Duchamp se apropriando de um Pissoir (mictório), isso era um gesto conceitual, não se pode comparar o valor do pissoir com o valor da obra hoje em dia. Um gesto pode ser materialmente muito fraco, mas ideologicamente muito forte, então não tem uma correspondência entre o material de uma obra e o seu

Entrevista de destaque

valor. Isso é o bonito da arte.

Meiô 22 - Artistas relativamente jovens, como Andreas Gursky superam clássicos como Walker Evans em termos de maiores preços alcançados em leilão. Como você encara essa supervalorização de trabalhos situados no mercado da arte contemporânea? Maier - Penso que Gursky tem desenvolvido ao longo dos anos uma linguagem que atinge um sentimento contemporâneo e é tão espetacular. As imagens que ele traz ao mercado talvez dialoguem melhor com o universo que paira a vida contemporânea e com o imaginário dos colecionadores mais jovens. Uma imagem glossy em alta definição do Gursky, um supermercado enorme ou um clube de música eletrônica apela para o status quo de um jovem colecionador e o que ele quer colocar na parede da sua sala.

Em sua opinião, quem cria

a reputação de um artista e define o valor de sua obra? É uma mistura. Se um artista realmente sabe articular entre as obras que produz ou através de seu discurso, essa energia produzida por ele se coloca no meio de outras energias. Ele terá essa possibilidade de trabalhar com instituições, com galerias e ser vendido para colecionadores. Esse interesse em conjunto faz o artista e o seu trabalho amadurecer, ser visto.

Ronaldo Entler afirmou que em 2012 houve um aumento significativo no número de galerias no Brasil, hoje o cenário é diferente. Se a arte é um campo que não participa da crise, como caracterizar o encolhimento das feiras de arte internacional, como foi o caso da SP-Arte? Abriram muitas galerias, mas também fecharam, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. Agora é tempo de crise, obviamente quando se tem o mercado menos ativo, isso também é refletido no panorama das feiras de arte. Nestes casos, existem menos compradores, menos galerias, e as que se mantém e têm


menos interesse em participar de eventos. A feira continua existindo, o encolhimento é devido à menos galerias existentes no mercado e um interesse menor das estrangeiras em participar. Existem reportagens conflituosas, você lê na edição brasileira Le Monde Diplomatique que há uma certa estabilidade dentro do mercado brasileiro. É uma coisa também que é muito difícil de afirmar, porque as pessoas não falam sobre isso, tem um certo silêncio. Eu considero a crise também como oportunidade. Novos modelos de expor tem surgido dela.

Qual é a principal diferença entre o mercado nacional para o internacional?

Galerias de cada pais tem o seu mercado domestico e participem num discurso internacional que trará mais visibilidade para os artistas que representam. Este cenário internacional inclui colaborações com outras galerias, curadores de instituições internacionais, críticos e revistas internacionais tanto como colecionadores que vem de fora para o Brasil. Os museus o hemisfério norte tem um poder de aquisição

superior dos museus do Brasil, o que faz muitas obras de artistas consagradas do Brasil sair do pais.

O conceito de fetichismo nos faz notar uma perda do valor de uso nas artes liberais. Na sua opinião, existe um colecionismo “sustentável”? Quem paga tanto dinheiro, quem se interessa por essas obras também tenta entender o universo no qual essa obra foi criada. Acredito que há uma conexão entre sentido conceitual e o valor da obra.

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Mas existe a oferta e a demanda, quando se tem maturidade estabelecida dentro do mercado, se pode pedir mais para suas obras. Existem casos como o de Carmen Herrera e Alto Bispo do Rosário, que foram reconhecidos muito tarde em vida ou até postumamente. São casos muito específicos, não podemos generalizar. Essa é uma falha do meio acadêmico, não se pode caracterizar o mercado, porque realmente não existe um padrão, não tem como definir.


Oscar 2016: Os surpreendentes filmes indicados na maior categoria da noite Por Isabella Jarrusso Como todo começo de ano, chegou a hora de conhecer os novos filmes que poderão ser consagrados no meio cinematográfico. É a época em que as principais premiações deste meio acontecem em Hollywood, sendo a principal e mais famosa, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, mais conhecido como The Oscar. O filme O Regresso (2015) lidera o Oscar 2016, com 12 indicações, e aparenta ser o longa-metragem com mais chances de ganhar como “Melhor Filme”. Os outros indicados na mesma categoria são fortes concorrentes, mas como a Academia sempre surpreende, minhas outras apostas são: Spotlight (Tom McCarthy, 2016) ou Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller, 2015). Confira um resumo dos indicados para Melhor Filme: O REGRESSO – Outra vez, Alejandro González Iñárritu, diretor do filme vencedor do Oscar 2015, Birdman, tem seu filme como grande aposta para vencer a categoria de Melhor Filme. O Regresso (2015) é desafiador. Com uma atuação magistral de Leonardo Dicaprio e uma direção fotográfica eletrizante, produzida em cores frias.

PERDIDO EM MARTE- O diretor Ridley Scott mostrou seu outCultura

ro lado com Perdido em Marte (2014), um Sci-Fi divertido e intrigante sobre um astronauta (Matt Damon) que tenta sair de um planeta desconhecido. Um ótimo filme, mas que mesmo assim parece não ter uma boa chance de conquistar o Oscar. MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA - O filme é uma mistura de ação com um western moderno. Mesmo o protagonista Max (Tom Hardy) é totalmente ofuscado pelo poder feminino de Furiosa (Charlize Theron). O filme ainda é visto com uma das maiores surpresas do Oscar 2016, por ser o filme arrasa-quarteirão que obteve 10 indicações ao prêmio.

A GRANDE APOSTA - Mais um que surpreendeu ao estar na indicação de “Melhor Filme”, o longa A Grande Aposta (Adam McKay, 2015). O que chama a atenção no filme é a maneira que o principal tema é abordado: Crise de 2008. O filme é uma boa maneira de compreender a crise, quase um informativo, mas com grande toque de sarcasmo e comédia.

O QUARTO DE JACK – O longa-metragem O Quarto de Jack (2015), dirigido por Lenny Abrahamson é um filme com uma história tocante. O que chama a atenção são as atuações magnificas de Brie Larson e o jovem Jacob Tremblay. Na trama, conhecemos a história de Jack (Jacob Tremblay), um menino de cinco anos, que mora com a sua mãe Joy (Brie Larson) em um quarto de 10 metros quadrados. Ao decorrer do filme, é possível entender a história dos dois e se emocionar com as dificuldades passadas por mãe e filho. PONTE DOS ESPIÕES - O famoso diretor Steven Spielberg, volta com mais um grande filme, Ponte Dos Espiões (2015), que é estrelado por Tom Hanks. O filme é interessante, pois a historia acontece durante a Guerra Fria, e o que logo se espera é um filme mostrando os EUA como mocinho vs. outros países como vilões, mas há um equilíbrio no filme, que não toma partido e apresenta as duas faces dos países narrados. BROOKLYN - O longa independente britânico Brooklyn (John Crowley,2016) é um filme que chama atenção por ser um drama leve. A personagem irlandesa Eilis Lacey (Saoirse Ronan), se muda para EUA, no bairro do Brooklyn, em busca de melhores oportunidades. O interessante é a transformação da personagem durante todo o filme e o resultado de suas escolhas. Mesmo que muito elogiado, o filme trilha como um dos mais fracos na disputa da estatueta.

SPOTLIGHT: SEGREDOS REVELADOS – Pode surpreender ao ganhar a categoria de “Melhor Filme”. O longa-metragem apresenta dramas de investigação jornalística, traz fatos reais sobre a Igreja Católica, como por exemplo o abuso oculto de menores praticado por sacerdotes. Um filme com grande elenco, que demonstrou química e equilíbrio de protagonismo. Acesse www.meio22.com.br para ver os thrailers.


Novos caminhos da indústria do entretenimento Por Isabela Gusman Em meio ao século XXI, as mudanças ocorrem rapidamente e cabe às pessoas e às indústrias acompanharem-nas para não serem deixadas para trás. O mundo se torna cada vez mais digital, exigindo de setores tradicionais uma reestruturação em busca de sobrevivência neste novo mercado. Em decorrência do largo crescimento do uso de tablets, smartphones e aplicativos, uma nova área lucrativa desponta no mercado: o e-commerce e, consequentemente, a venda de produtos digitais. Uma das vertentes mais significativas desse setor são as editoras de livros, que acabam perdendo espaço para os e-books e para as plataformas digitais de publicação online. As editoras, então, iniciam uma busca incessante para que seus produtos físicos não sejam superados pelos livros digitais, mais baratos, versáteis e de fácil acesso. Com esse objetivo em mente, o mercado editorial traz novas formas de atrair o público, através do lançamento de plataformas digitais complementares aos livros físicos – como o Kindle (da Amazon), uma espécie de tablet utilizado exclusivamente para leitura, que permite o armazenamento de milhares de e-books e torna a leitura mais confortável do que a realizada em um notebook, por exemplo. De acordo com Flávio Galindo, que já publicou dois romances em e-books, “o mercado digital surgiu como uma nova oportunidade de publicação e contribuiu para o aumento do número de autores independentes – que possuem a vantagem de não depender das editoras que, além de reter suas obras, pa-

gam valores menores por unidades vendidas”. Dentre outras vantagens proporcionadas pela publicação digital, Flávio menciona a oportunidade de divulgação livre de sua obra, bem como a disposição de capítulos, promoções e banners: “de vez em quando você ainda consegue promover eventos através de plataformas digitais pela internet”. Flávio destaca duas plataformas de publicações digitais: a KDP da Amazon e o Wattpad –ambas oferecem benefícios como lucros de até 70% em direitos autorais e a facilidade de publicar livros em menos de 24 horas. Mesmo com a ascensão do mercado digital, o setor editorial prossegue em ininterrupto crescimento no Brasil. Os eventos literários se intensificam e a procura é cada dia maior, principalmente de jovens que nasceram na era digital. E é o que notamos com o Flávio que, mesmo sendo um adorador das plataformas digitais, relata sua paixão pelo livro físico: “ler o que está em suas mãos é muito mais gostoso do que ler algo digital, mas ambos são benéficos e trazem como foco o incentivo à leitura em todos os formatos”. Em vista disso, a indústria digital expande a cada dia seus horizontes e seus lucros, enquanto as empresas mais tradicionais, apesar dos novos investimentos, sofrem perdas significativas. Mas será que esse setor está realmente fadado ao desaparecimento ou será continuamente sustentado por uma pequena parcela da sociedade mais tradicional brasileira? A resposta parece incerta.


Soy loco por ti, America!

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O Meiô 22 abre espaço a cinco álbuns latinos contemporâneos que valem uma audição. Por Bruno Jacob

Algo Sucede (Julieta Venegas): a cantora mexicana fez sucesso no Brasil em parcerias com Lenine e Marisa Monte. Lançado no segundo semestre de 2015, Algo Sucede traz uma Venegas mais biográfica, sem perder a pungência de canções políticas como Explosión. Destaque para balada melancólica Uma Respuesta, e para niña que sonhava horizontes mais distantes ao lado de seu rádio na primeira música, com leve batida eletrônica.

Bailar em la Cueva (Jorge Drexler): quem escuta a canção-título do álbum lançado em

2014 pode se iludir sobre uma trajetória puramente dançante. Há ritmos cadenciados, mas reflexões como a bem-humorada Todo Cae, em tom circense, e a história sem meias palavras de Bolívia tornam Bailar en la Cueva um álbum notável.

Habla Tu Espejo (El Cuarteto de Nos): arranjos “neo-funk” à la Jota Quest,

letras sagazes como as de Ed Motta, e vocais que lembram os Titãs fazem do álbum uma boa surpresa pop-rock. Pegue o lencinho para No Llora e caia na pista com El Aprendiz, sem desatentar ao enredo bem construído de 21 de Septiembre.

Loucura Total (Fito Paez e Moska): o título entrega boa parte do conceito. Em um “road álbum” que parece ter sido feito no momento, sem muitas pretensões, os dois amigos entregam seu pop delicioso a serviço de um bate-papo informal. Impossible Escribir Sobre Nada e Adiós a las Cosas se sobressaem.

Hasta La Raíz (Natalia Lafourcade): integrante da banda que acompanha Julieta Ven-

egas, a cantora entrega um álbum folk, simpático e feliz, bom para ouvir enquanto o sol cai - pense no som de Tiê. A canção título, Para qué Sufrir e Palomas Blancas são de um romantismo irresistível. Dicas do Meiô Acesse www.meio22.com.br para ouvir.

Dicas musicais do Meiô

Foto: Gabriel Brambatti

Foto: Gabriel Brambatti

Mustache E Os Apaches

Pedro Luis

Mato seco

Local: Sesc Belenzinho Rua Alameda Cleveland, 564610 - Campos Elíseos. 26/02 - 21 hrs R$15,00 meia R$30,00 inteira

Local: Sesc Bom Retiro Rua Alameda Cleveland, 564610 - Campos Elíseos. 26/02 - 21 hrs R$15,00 meia 27/02 - 20 hrs R$30,00 inteira

Local: Sesc Santo Amaro Rua Rua Amador Bueno, 505 Santo Amaro. 26/02 - 21 hrs R$15,00 meia 27/02 - 20 hrs R$30,00 inteira


O carnaval de todo dia Por Italo Higor Vi um carnaval repleto de cores. O som transbordava alegria, e os gritos eufóricos dos foliões cortavam o ar. Nele as danças, a luz e as cores enchiam meus olhos de uma multidão única, feita inteiramente por desiguais, que no fim se pareciam só por serem tão singulares. Lá era carnaval todo dia e tudo era festa e folia. Quando peguei o metrô, ninguém me olhou torto por estar usando uma saia. Também não falaram nada do garoto ao meu lado, que se vestia como uma “popstar” - acharam sua fantasia ótima. Descobri que lá as pessoas viviam livres de preceitos e conceitos, criados só pra nos ferir. Nas ruas, todos usavam arcos coloridos e essas coisas sem sentido, afinal, todos queriam ser um modelo exclusivo. Mas a melhor parte foi ver como ser diferente é ser normal por lá, pois não havia melhor nem pior, apenas o que somos. E foi tudo foi tão real! Ou ao menos pareceu… Passado o deslumbre me perguntei: Por que não é carnaval todo dia? Dá pra seguir em frente sem se importar com o que o outro faz? Ou com a forma de se vestir? Qual a necessidade de julgar e... “...RES PASSAGEIROS, DESEMBARQUEM PELO LADO DIREITO DO TREM.” Acho que é a ultima parada. A realidade está aqui, e só voltei quando percebi todos me encarando novamente. Só pelo meu corte de cabelo. Por que não é carnaval todo dia?

Dicas do Meiô

Do arquivo de um correspondente estrangeiro – Luciano Carneiro Local: Instituto Moreira Salles Rua Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis. De terça a sexta, das 13h às 19h

Ocupação Person Local: Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149, Bela Vista. De terça a sexta 9h às 20h Sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Waltercio Caldas - O atelier transparente Local: Instituto de Arte Contemporânea (IAC) - Rua Dr. Álvaro Alvim, 90, Vila Mariana. De terça a sexta das 10h às 18h Sábado das 10h às 16h


Foto: Tiago Queiroz/AE Por Luiza Kormann Em 2014 Alckmin foi reeleito no primeiro turno. Era a melhor opção, diziam. Os outros candidatos não convenceram, diziam. É, foi Geraldo Alckmin quem convenceu, mesmo tendo se envolvido no Escândalo Nossa Caixa, no Caso Alstom e no cartel do metrô. Mesmo assim o tucano “convenceu” a população. A grande mídia brasileira carregada de interesses – esses interesses atrelados ao PSDB – mais desinforma que informa, e acaba por formar uma população passiva, manipulada, e isso ajudou. Mas nesse segundo mandato a população está abrindo os olhos.

(Des)governo Alckmin

ma menos democrática possível e os alunos responderam. O despertar da população aconteceu nesse episódio: ocupações. As ocupações escolares foram um movimento profundamente inspirador. Os jovens reivindicando seus direitos de forma organizada e altamente politizada, demonstrada em como eles cuidaram de seus espaços, dividiram-se em tarefas, organizaram aulas, seminários e palestras. Todos levantaram essa bandeira. Não era fácil conseguir dar Começando pela crise hídrica. O uma aula em uma ocupação e as agendas estavam lotadas. Quem não racionamento de água foi reali- gostou disso? dade na periferia, que teve que engolir o senhor governador afir- Alckmin respondeu com a mesma força que responde a qualquer manmando veementemente que não ifestação que não lhe convenha, que lhe fira a imagem. Mandou seus existia racionamento, silenciando soldados maus pagos e despreparados. A Polícia Militar atacou com a verdade que aquelas famílias a força de uma polícia que mata mais que todas as polícias dos Estaestavam vivendo. E dessa vez o dos Unidos juntas. E esse foi o estopim: pais, professores, a população inimigo tinha rosto, estava nos como um todo não aceitou. No Carnaval 2016 da capital do Estado ainjornais. O escândalo não parou da se ouvia em bloquinhos “Ocupar e Resistir!”. O episódio marcou e de crescer: Alckmin afirmava não será esquecido. que choveria sim, por Deus ser brasileiro. Vimos ser exposto o Pode ser considerado democrático um governo que trata manifesdescaso do governo com a ma- tações tão relevantes quanto essas com violência? Ao repreender nutenção do sistema hídrico, cuja com policiais abusivos, abusados e violentos, repreende a liberdade taxa de vazamentos gira em torno de discordar e de expressar, rompe com as liberdades individuais e de 40%. A população passou a li- com os ideais liberais – que estão diretamente conectados com os dar com o problema, sendo que a ideais democráticos – e, portanto, torna-se autoritário e antidemomesma consome 8% da água, en- crático. quanto a taxa de consumo industrial é de 40%. A Sabesp continuou com os prêmios a 500 consumidores especiais como shoppings, empresas, condomínios de luxo. Quanto mais eles usavam, menos pagavam. Até esse ponto, a imprensa brasileira continuou colocando panos quentes no tucano, até a chamada reorganização das escolas estaduais. A decisão foi feita da forOpinião


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