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10Os Shows
10 Os Shows
Sei que esse tema não é exclusivo da era digital, mas se tornou ainda mais importante do que já era. Hoje as únicas formas de se conseguir atingir algum público com sucesso são a internet e os shows. Sendo que esse segundo caminho é o único que vai realmente conquistar fãs. Portanto, banda que não toca ao vivo não vai conseguir criar uma carreira.
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Que artista?
Para saber que show você vai fazer, tem que saber primeiro que tipo de artista você é.
Você tem material próprio? Que tipo de composição? Mais folk, mais rock, samba, progressivo?
Não é uma banda, nem um compositor? Você é um intérprete ou faz cover – quase cópia do original?
Tudo isso tem que ser definido antes, porque mudar a imagem que você cria para um artista é mais difícil que a criação em si. Se uma
banda de pagode resolver fazer rock progressivo, vai perder o público antigo e nunca vai descer pela garganta dos roqueiros.
Há um caso de um grande compositor de uma banda de muito sucesso que partiu para a carreira solo. Como as coisas não estavam andando na velocidade que ele queria, resolveu se tornar um artista “popular”. Fez bastante sucesso, mas se arrependeu do caminho. Quis voltar ao rock e foi atirado para o limbo – perdeu a credibilidade. Não que tenha perdido o talento, mas perdeu a confiança do público. Afinal, você quer acreditar que o artista faz o que faz movido pelo amor à música. Quando parece que é “tudo por dinheiro” o público perde o interesse. Música é algo muito importante na vida das pessoas para ser tratada com desdém. A gente quer acreditar que a canção que a gente gosta foi escrita para ser a nossa trilha sonora.
Um trabalho baseado em arranjos mirabolantes não é adequado a um artista que quer fazer shows de violão e voz na maior parte do tempo. Nesse caso é necessário um repertório baseado em boas letras e melodias interessantes que se sustentem com pouco acompanhamento. Os super arranjos são mais adequados a bandas.
O Renato Russo, no meu livro – Letra, Música e Outras Conversas -, fala que bandas têm que criar um universo sonoro e lírico e não sair dele. No caso da Legião, por exemplo, a sonoridade da banda foi bastante parecida do começo ao fim e as letras giravam sobre os mesmos temas de ética, bondade, inadequação ao mundo, vontade de criar um mundo melhor, tudo regado a imagens bíblicas e literárias. O quinto disco pode ser mais pesado, o “Descobrimento do Brasil” mais leve, o “Quatro Estações” mais emocionado, mas a banda mantêm sua cara ao longo da carreira. Ele também dizia que o Renato Manfredini poderia envelhecer, mas que o Renato Russo teria sempre no máximo 27 anos. Não que ele fosse esconder a ida-
de, mas que ele queria manter a visão da banda sobre o mundo, não queria que a banda “amadurecesse” nos temas.
Artistas solo têm um pouco mais de liberdade, mas mesmo assim têm que ter alguma coerência. Eu venho mudando a embalagem do meu trabalho. O “Você sabe o que eu quero dizer” é mais brasileiro e percussivo, o “Áudio-retrato” e o “Ao Vivo” são mais minimalistas, o “Outro Futuro” é emoldurado por um quarteto de cordas e o novo trabalho tem uma banda. Mas o tipo de composição mantém a unidade.
Banda de cover
Banda de cover dificilmente deixa de ser banda de cover.
O público de uma banda de cover não vai ao show para ouvir novidades, mas para cantar junto as músicas que conhece e gosta. Uma banda com esse tipo de trabalho que toque sempre na mesma casa acaba criando público mais facilmente que uma outra com material próprio. Mas é um público que não está nem aí para o lado autoral de quem está no palco. É como ir a uma boate, só que com música ao vivo. Pode, no máximo, ser condescendente e aceitar umas duas canções próprias. É como se o DJ da boate começasse a tocar um monte de músicas que você não conhece. Uma ou outra, vá lá. Mais que isso, você vai procurar outro lugar para dançar.
Para aqueles que não gostam de bandas cover por princípio – esse é o meu caso, por exemplo, com raríssimas exceções como a Rio Sound Machine, especializada em som dos anos 70 – a mudança vai sempre parecer estranha. Em alguns casos é melhor mudar o nome da banda, perder o público antigo e começar do zero. Foi assim com o Roupa Nova – ex-OS FAMKS – e com o Rádio Táxi. É claro que em
toda regra existem exceções, mas são muito poucas. O estilo de uma banda se define muito pelas suas limitações e “preconceitos”. Se eu só sei tocar samba não vou nem tentar o heavy metal, nem vou querer. Já uma banda da noite tem que saber tocar de tudo e não se “especializar” num determinado estilo - o que é muito ruim para uma banda autoral que quer criar uma cara e ter uma marca sonora.
Solo ou banda
O que é melhor? Bem, isso depende, como já disse acima, do tipo de trabalho que você faz. O tipo de música que eu fazia nos Heróis eu não poderia fazer como artista solo porque era muito baseado no coletivo, nos arranjos. Muitas músicas nasciam nos ensaios a partir das ideias que tínhamos enquanto estávamos levando som. Eu levava aquelas bases para casa e compunha inspirado em alguma levada ou riff. Muitas canções dos Heróis, para que eu possa tocar hoje em dia, têm que ser adaptadas.
Se a maior parte das canções são compostas por você e se adaptam melhor a um tratamento mais intimista, não faz sentido ter uma banda.
Em resumo, o que deve ser levado em conta é o que é melhor para as canções e não o lado mercadológico.
Uma banda é uma opção mais divertida se a turma é legal e quer o mesmo que você. E pode ser um inferno se você não se der muito bem com um ou mais integrantes e se os objetivos artísticos não forem parecidos.
Sei lá, mil coisas... Não é fácil. Decide aí, porque eu não posso decidir por você.