COVIVER
CO VIVER Qualificação das Indústrias Matarazzo Felipe Dias Menezes Orientadora: Andréa Tourinho
Em memória das minhas avós, dona Maria e dona Raimunda.
DEDICO À você, Miguel, que, graças ao seu fôlego, me inspira a questionar a realidade e propor um novo mundo de possibilidades para seu futuro, o qual pretendo construir a partir da minha arquitetura.
AGRADEÇO A todos aqueles que na arte do ensinar me fizeram chegar até aqui. Aos meus pais, George e Viviane, e ao meu irmão, Vinicius, por todo incentivo desde o início, por todo amor e carinho e por proporcionarem a realização de um sonho, me fazendo evoluir como ser humano. Aos meus familiares, que alegram a minha vida. Em especial ao meu padrinho, Júnior, e às minhas madrinhas, Patrícia e Valéria, que sempre acreditaram no meu potencial para que eu me torne a melhor versão de mim. À minha tia, Geane, que acreditou na minha arquitetura. Ao CAAU São Judas e ao IAB-SP, pelos ensinamentos, a convivência, e a visão de um mundo melhor a partir da arquitetura. A todos os amigos que acompanharam de forma mais ou menos próxima este trabalho. À Jéssica Rabaneda, ao João Gabriel, à Júlia Narvas e à Júlia Quesada, que durante esses anos me proporcionaram momentos de alegria e motivação. Ao meu namorado, Giovanni Talon, que sempre me apoiou e soube entender minha ausência por decorrência dos estudos e trabalhos. Ao Rafael Orlandini, pelo compartilhamento de ideias, ideais e felicidades, além da ajuda essencial na reta final. Especialmente às minhas amigas que carrego no coração e na vida, à Amanda Ferreira, à Gabriela de Assis e à Vitória Melo pelas conversas, companheirismo e sufoco compartilhados ao longo da trajetória da universidade, principalmente durante o desenvolvimento desse trabalho. À Fayne Rafaela, amiga mais que especial, que todas as manhãs me incentivou, me apoiou e me ajudou a fazer o melhor trabalho da minha vida. À minha orientadora, Andréa Tourinho que acreditou em mim diante da complexidade da proposta e muito contribuiu para a minha evolução durante o processo. E aos meus colegas de orientação, pela ajuda e risadas durante esse ano intenso. Por fim, a todos que tornaram esse trabalho mais “nós” do que “eu”, e assim, em sua essência, mais humano.
“A arte de viver é simplesmente a arte de conviver... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!” Mário Quintana
HABITUAR
PROJETAR
AFEIÇOAR
VISITAR
RELACIONAR
SUMÁRIO
1
HABITUAR
1.1. Problemática 1.2. Objetivo 1.3. Localização
3
2
14 14 15
AFEIÇOAR
2.1. Cronologia 2.2. Fábricas Reunidas Pamplona 2.3. Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo 2.4. O processo de abandono 2.5. O processo de demolição
VISITAR
3.1. Morfologia Urbana 45 3.2. Legislação 50
4 5
RELACIONAR
4.1. Referências proje54 tuais PROJETAR
5.1. Conviver 5.2. Conscientizar 5.3. Viver 5.3.1. Estudo Colaborativo 5.3.2. Habitar 5.3.2.a. Na favela 5.3.2.b. Em altas densidades 5.3.3. Projeto
60 64 68 72 81 81 85 87
6
REFERENCIAR
6.1. Referências 107 6.2. Índice de figu- 108 ras
26 32 34 37 40
Para criarmos um co viver precisamos nos habituar ao lugar, nos afeiçoando ao território que visitaremos, em seguida analisar existências que nos ajudem a conectar relações para um projeto
HABITUAR
fig. 1 escoramento da fachada com chaminĂŠ ao fundo, 2019 fonte: foto do autor
HABITUAR
De acordo com os problemas enfrentados no dia a dia da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a proposta deste trabalho busca enfrentar a questão da habitação considerando a concentração de pessoas em pequenas áreas de moradia, com baixas condições de habitabilidade. Busca, desta forma, enfrentar a necessidade de construção de habitação social e o abandono ou subutilização de grandes espaços antes industriais, na criação de uma proposta urbanística e arquitetônica que qualifique a vida de parte dos moradores daquela região, e consequentemente, revitalize a área de projeto. Para enfrentar essas questões, escolheu-se a antiga área das indústrias Matarazzo no município de São Caetano do Sul (SCS), na RMSP, em grande parte sem uso no presente. O terreno possui área suficiente para uma operação urbana feita pela prefeitura: são cerca de 300.000 m². Partindo de uma inquietação pessoal, minha motivação para este projeto é suprir as necessidades da população e, também, sugerir intervenções relacionadas às propostas no Plano Diretor Estratégico da cidade de São Caetano do Sul (20162025), estabelecendo diretrizes programáticas para toda área escolhida. O projeto será realizado em duas escalas: uma proposta urbanística para o conjunto da área e o desenvolvimento de um projeto arquitetônico relativo ao detalhamento de uma das propostas: a de habitação social.
Depois de 100 anos, a memória abrirá espaço para ser vivida. A ideia de um masterplan para qualificação dessa gleba faz parte das diretrizes da proposta, pois a área possui grande potencial qualificativo. Para isso, propõe-se a implantação do seguinte programa: a ampliação do Museu Municipal de São Caetano do Sul, a criação de conjuntos habitacionais de uso misto, uma escola de tecnologia integrada a um parque (previsto na gestão de 2007), a ampliação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, a inclusão, no projeto proposto, da igreja e do galpão existentes, um espaço para eventos, a criação de um lago artificial/piscinão, dentre outras diversas possibilidades.
13
PROBLEMÁTICA
14
Baseado no urbanismo rodoviarista de Prestes Maia¹, o desenvolvimento da metrópole negou seus rios e córregos, que atualmente são vistos como os maiores vilões nos dias de chuva, gerando problemas sociais devido às enchentes. Como requalificar e revitalizar uma área degradada pela saída e demolição de um antigo espaço industrial, a partir de uma proposta de inserção de equipamentos públicos e habitações ligadas à malha urbana já existente para suprir a necessidade de um urbanismo sustentável que traga melhoria na qualidade de vida da população? Pretende-se, com este trabalho, demonstrar que a presença de um parque atrelado a diversos equipamentos podem, sim, responder à essas problemáticas enfrentadas no dia a dia do paulista, fazendo com que um bom planejamento traga uma melhora das relações humanas com a paisagem construída.
Será possível resgatar a identidade dos nossos rios e córregos? OBJETIVO Qualificar a vida urbana do bairro Fundação, situado em São Caetano do Sul, em que se localiza o terreno da antiga fábrica Matarazzo, com a implementação de tecido residencial e equipamentos urbanos que produzam uma nova dinâmica urbana e contribuam para preservar a memória de suas origens e formação, passando, assim, a ser reconhecido como um novo pólo residencial, cultural e de lazer da cidade. fig. 2 escalas fonte: elaborado pelo autor
1. Francisco Prestes Maia foi prefeito da cidade de São Paulo entre 1938 à 1945, depois entre 1961 à 1965.
ESCALA DE MAPEAMENTO (MACRO) ESCALA DE DIRETRIZES (MESO) ESCALA DE INTERVENÇÃO (MICRO)
LOCALIZAÇÃO
Em um vale alagadiço no limite entre os municípios de São Caetano do Sul e a capital do Estado, São Paulo, encontra-se o bairro da Fundação, cercado pelo Rio Tamanduateí e a Estrada de Ferro São Paulo Railway Company (SPR). Faz jus ao seu nome, sendo o bairro dos fundadores, onde diversas indústrias se instalaram ao longo dos últimos 100 anos e construíram a força cultural e financeira que a região possui atualmente.
15
É, também, um dos bairros mais afetados pelas enchentes recorrentes na Av. do Estado, que cerca o Rio Tamanduateí. Seus moradores sentem a necessidade de auxílio da prefeitura para qualificar a vida no bairro, que atualmente passa pelo abandono de algumas indústrias, deixando vastos terrenos desocupados, e, em grande parte, com solo contaminado. Nesse contexto, se insere o conjunto das antigas Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, que foi escolhido para implantação do projeto.
As enchentes causadas pela negação dos rios nos permitirá criar um novo cenário para a cidade? Apesar da prefeitura prometer a implementação do “Parque Fundação”² na área escolhida, ultimamente sua atuação tem focado o investimento imobiliário para as classes média-alta e alta, construindo, no município, a partir de parcerias público-privadas, grandes empreendimentos que não trazem uma solução para o lazer da população do bairro, e sim para os investimentos privados.
2. Criação de um parque onde localizava-se as Indústrias Reunidas Francico Matarazzo. Promessa feita pela prefeito José Auricchio Júnior em 2010.
fig. 3 região metropolitana de são paulo
Com a linha férrea (Brás - Rio Grande da Serra) seguindo o Rio Tamanduateí, a industrialização da cidade de São Paulo se expandiu até o ABC Paulista (fig. 4), no século XX, onde se encontra a cidade de São Caetano do Sul (fig. 5). Consequentemente, a urbanização também se expandiu, gerando uma intensa conurbação entre as cidades pertencentes ao ABC e a capital, São Paulo. fig. 4 são paulo + grande abc fonte: elaborado pelo autor
São Paulo
Grande ABC
fig. 5 grande abc fonte: elaborado pelo autor São Caetano do Sul
Diadema
legenda
Santo André
Ribeirão Pires
limites municipais são caetano do sul
Rio Grande da Serra
São Bernardo do Campo
N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
Mauá
17
Atualmente, São Caetano do Sul possui 160.275 habitantes³ espalhados pelos seus poucos 15,3 quilômetros quadrados, sendo o segundo menor município do Estado.
18
fig. 9 município de são caetano do sul
A cidade também possui o maior IDH4 do país, sendo considerado um dos melhores municípios para se viver, por conta da sua segurança e sua forte economia.
fig. 6 espaço verde chico mendes fonte: acervo da prefeitura de são caetano do sul 3. População estimada IBGE 2018; 4. Índice de Desenvolvimento Humano, uma medida importante concebida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico de uma população. legenda limites municipais área de intervenção áreas verdes
fig. 7 general motors brazil fonte: acervo da chevrolet
fig. 8 park shopping são caetano do sul fonte: acervo da multiplan
N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
SÃO LUCAS
IPIRAN GA
VILA PRUDENTE
SACOMÃ
CENTRO
SANTO ANDRÉ SÃO BERNARDO DO CAMPO
Se nt id o Br ás
Sen
tid
o R io
Gra
nde
da
Ser
ra
Igreja Matriz Sagrada Família
Parque de Diversão
Prefeitura Municipal
Hospital Central São Caetano do Sul
Fundação Pró Memória
fig. 10 mapa escala bairro
O entorno imediato do terreno encontra-se em uma área de fácil acesso a equipamentos culturais e de ensino, estando a 10 minutos de caminhada da estação de São Caetano da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e onde acontece a tradicional festa italiana, organizada pela histórica Igreja São Caetano, com seus mais de 130 anos. Mas também é carente de equipamentos públicos e área verde, sendo bastante afetada pelos galpões industriais abandonados.
fig. 11 museu histórico municipal fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
legenda limites municipais área de intervenção linha cptm ensino marcos e cultura hospitais delegacias encontro dos rios detran hipermercados terminais de ônibus estação cptm his ocupações
N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
fig. 12 fundação pró-memória fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
21
22
Fragmentado por elementos como a linha férrea, linhas de fig. 15 alta tensão, a Avenida Guido Aliberti e o Ribeirão dos mapa área de intervenção Meninos, o terreno traz algumas dificuldades projetuais. Já o fato de fazer divisa com os distritos paulistanos da Vila Prudente, Ipiranga e Sacomã, no município de São Paulo, confere à área uma diversidade significativa de usos e de público. Isto possibilita que a implantação de um conjunto de atividades e equipamentos urbanos atrelados ao tecido urbano existente se faça eficaz para a qualificação de todo o conjunto e seu entorno.
fig. 13 acumulo de lixo nas fachadas, 2019 fonte: foto do autor
legenda limites municipais área de intervenção linha cptm his ocupações rios e córregos
fig. 14 vista interna do terreno, 2019 fonte: foto do autor
N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
u
me
o ol
rt
Ba
o
de
e rt
R.
Sã
Ri
o
Ta
ma
Fo
nd
ua
te
í
Av.
dos
Est
ado
s
R. Gu am ir an ga o
ria R. Ma
id
nt
Se
mpl no Pa
ona
R. Maximiliano Lorenzini
Av.
Gui d
o A li
ber
ti
ás
Br
R. 28 de Julho .
R. Rio Branco
Av on
dos ego
ls
Wi
Córr
te
en
Meni
id
es
nos
Pr
Se
nt
id
o
Ri
o
Gr
an
de
da
Se
rr
Av. Co nselhe
iro An tonio
Prado
a
AFEIÇOAR
CRONOLOGIA
26
16 71
18 77
Fernão Dias Paes Leme arremata território em Santo André, doa aos padres locais, os Beneditinhos, que nomeiam como “Fazenda São Caetano”, onde cultivavam arroz, feijão e mandioca; O desenvolvimento da fazenda entra em recesso com a expulsão dos jesuítas pelos portugueses;
19 01 Com o crescimento político-administrativo, São Caetano é considerado como Distrito Fiscal em 1901; A agricultura predominava nesses primeiros anos de fundação, e posteriormente, demonstra interesse na exploração de terras, quando se dá o surgimento de diversas olarias e fábricas de cerâmica; Em pouco tempo São Caetano se torna um importante centro fabril, principalmente pelo surgimento das Fábricas Reunidas Pamplona - Fábrica de Sabão e Velas de Pamplona, Sobrinho e Cia;
Apenas em 1877 o desenvolvimento é retomado; Município é fundado em 1877 por colonizadores italianos, que formaram o Núcleo Colonial - Império Brasileiro;
19 12 O grupo Matarazzo arrenda as quatro fábricas da antiga Pamplona, de sabões e óleos vegetais;
19 13 19 15
Início das atividades da fábrica de pregos;
Ermelino Matarazzo inicia a implantação em São Caetano do primeiro núcleo fechado de fábricas do grupo Matarazzo; Se torna Distrito de Paz em 1916, de São Bernardo do Campo, posteriormente, de Santo André;
19 22 Início das operações da Fábrica de Curtumes;
19 30
19 24 Antigos pavilhões da Pamplona são demolidos para montagem da Fábrica de Rayon;
19 48 Inaugurada a Fábrica de Soda Cáustica;
19 54 Inaugurada a Fábrica de Acetileno; 1955 - Inaugurada a Fábrica de Carbureto de Cálcio;
É montada a Fábrica de Papel, Papelão e Celulose; 1935 - É fundada a Cerâmica Matarazzo – Louças Cláudia; 1936 - Começa a funcionar a Fábrica de Ácidos; 1939 - É inaugurada a I.M.Ê – Indústria Matarazzo de Energia –, primeira refinaria de petróleo do Estado de São Paulo; O município de São Caetano do Sul foi homologado em 24 de outubro de 1948, pelo governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros;
19 61 Inaugurada a Fábrica de Ácido Sulfúrico;
19 77 Desativadas as Fábricas de Rayon e Sulfureto;
27
19 95 Direção da Fábrica Cerâmica assumida pelos operários; 1997 - Festa Italiana de São Caetano utiliza parte do terreno;
19 81 Fechadas as Fábricas de Cloro e B.H.C; 1982 - Fechada a Fábrica de Soda Cáustica;
28
fig. 16 indústrias reunidas francisco matarazzo - destaque dos remanescentes, 1912 fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
30
fig. 17 azulejo com o brasĂŁo das indĂşstrias reunidas francisco matarazzo, 2012 fonte: foto de douglas nascimento
AFEIÇOAR
A cidade de São Caetano do Sul se desenvolveu ao longo de uma linha férrea, que alimentava a capital, São Paulo. Por estar localizada às margens do Rio Tamanduateí, o desenvolvimento da cidade se deu por meio da industrialização no Estado de São Paulo, tornando-se um dos pólos industriais mais importantes do país. Essa industrialização trouxe à cidade uma forte economia, que até os dias atuais possui uma boa administração e o maior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Os vazios urbanos deixados pelo abandono das indústrias não cumprem com a função social da propriedade. Isso faz com que a demanda por espaços públicos sejam ainda maiores na cidade.
O Ribeirão dos Meninos evidencia a segregação entre as cidades. De um lado lotes industriais vazios, do outro, ocupações irregulares.
fig. 18 urbanização de sp 1924 fonte: prefeitura de são paulo
fig. 19 núcleo são caetano, 1924 fonte: prefeitura de são paulo
31
FÁBRICAS REUNIDAS PAMPLONA
32
A indicação da antiga Fábrica de Sabão e Sobrinho, administrada pela família Pamplona5, aparece pela primeira vez no registro de impostos de São Bernardo do Campo em 1896, da qual fazia parte um dos maiores contribuintes do ainda Distrito de São Caetano. Popularmente conhecida como “Pamplona”, a antiga fábrica, que ocupava apenas 40.000m² dos cerca de 300.000m² de toda a gleba, contava com cerca de 30 a 40 funcionários, produzindo, a todo vapor, sabão, velas, graxas e óleos lubrificantes. A influência dessa produção levou, por meio de legislações e loteamentos, benefícios para o município e reconhecimento para a família, sendo um deles, a denominação das ruas Mariano Pamplona e Heloísa Pamplona, sancionado em 15 de julho de 1912 - Lei 120 -, que permanecem assim até hoje. Em 1910, a Pamplona ainda recolhia os impostos no Distrito, porém já começava a sofrer o assédio das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, que tinha como objetivo construir um conjunto de indústrias fechadas para consolidar o já crescente império da família, que iniciava a sua expansão pelo país todo. 5. Fundada em 1876, com sede inicial na capital do Estado de São Paulo.
Já em 1912, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) arrendam a Fábrica Pamplona e iniciam suas atividades, firmando-se como um dos maiores contribuintes para o desenvolvimento do até então Distrito de São Caetano.
fig. 20 vista da fazenda tijucuçu com as chaminés da fábrica pamplona ao fundo, 1905 fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
33
A ata de venda da Pamplona foi aprovada em assembléia e assinada pelos seguintes acionistas: Armando Leal Pamplona, Nicola Puglisi Carbone, Fernando Maggi, José Luiz Flaquer, Maria de Ascensão Coelho, Serafim Constantino, Laurestino de Azevedo, Francisco Cuocco e Mariano Paim Pamplona Sobrinho. Assim terminava a história de uma das primeiras indústrias de São Caetano, que ficou gravada na memória da primeira geração de brasileiros, descendentes dos colonizadores italianos de 1877. (RAÍZES 25, 2002, p. 9)
INDÚSTRIAS REUNIDAS FRANCISCO MATARAZZO
34
As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, fundada em 1891, sendo o maior grupo empresarial da América Latina, arrematam em 1912 as antigas Fábricas Pamplona a fim de desenvolver o crescimento do seu império, escolhendo este ponto estratégico por sua localização privilegiada, na divisa de São Paulo e próximo à linha férrea São Paulo Railway6. Após o arremate, as fábricas começaram a ser inauguradas, e com isso, o poder político da família Pamplona começa a decair, tendo que vender suas máquinas, terrenos e, consequentemente, perdendo concessões, tudo para a Família Matarazzo, que acabava de se firmar como a nova grande família de São Caetano do Sul.
O legado deixado pelas IRFM não foi nem um pouco positivo. Negligência, contaminação do solo, degradação e transformação de uma região conhecida por sua forte industrialização e economia.
6. Administrada pela São Paulo Railway Company, Limited, foi a primeira ferrovia do Estado de São Paulo, ligando as cidades do planalto paulista (Estação Jundiaí) ao litoral (Estação Valongo/ Santos).
Seu poder perdurou por cerca de 45 anos, sendo uma das maiores indústrias do país. Trabalhavam cerca de 10 mil funcionários durante seu período de maior atividade, entre as décadas de 1960 e 1970. Sua grandiosidade se consolidava em uma extrema importância para o crescimento e desenvolvimento do Distrito; se tornou parte importante e fundamental da história da cidade de São Caetano do Sul, mas também deixou vestígios de destruição socioambiental, gerando problemas que perduram até hoje, como a inutilização de uma área de 30 hectares e contaminação do solo e de águas subterrâneas.
35
fig. 21 indústrias reunidas francisco matarazzo, 1940 fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
fig. 22 indústrias reunidas francisco matarazzo, 1940 fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
fig. 23 indústrias reunidas francisco matarazzo, 1960 fonte: acervo da fundação pró-memória de são caetano do sul
fig. 24 agrupamento das unidades segundo processo produtivo fonte: conam, 2008
36
O PROCESSO DE ABANDONO
O plano desenvolvimentista econômico do Brasil na década de 1930 resultou na criação de diversas indústrias, entre elas as Indústrias Reunidas Matarazzo (IRFM) em 1932, que de início produzia tecidos de fibras de viscose Rayon7.
37
A pressão das multinacionais provocou a desativação do complexo industrial em 1987, por não possuir técnicas avançadas em administração. Essa desativação das IRFM não obedeceram os critérios que priorizam a saúde da população e a qualidade do solo e seus recursos naturais (MARCOVITCH, 2012).
fig. 25 galpões abandonados voltados para a linha férrea, 2009 fonte: são paulo antiga
fig. 26 galpão abandonado, 2009 fonte: são paulo antiga
7. Rayon é o nome da seda artificial, fibrada de celulose regenerada normalmente.
Ri
o
Ta
ma
nd
ua
te
í
38
1A Av
.
do
s
Es
ta
1B
o
id
nt
Se ás
Br
2A 2B
2C .
Av te en
id es
Pr Ri o de
an
Gr
Córre g
o
id
nt
Se
o dos Menin o
s
n so
l Wi
ÁREA DA PREFEITURA da a
rr
Se
Av. Gu ido
Aliber t
i
fig. 27 subáreas - investigação da cetesb fonte: elaborado pelo autor com base no google earth e investigação da cetesb
do
s
Somente dez anos depois, entre agosto de 1995 e março de 1997, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) juntamente com a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) investigaram o terreno. Foi constatada a presença de diversos contaminantes no solo, inclusive os mais perigosos, como o Mercúrio e o Hexaclorociclohexano (HCH). Por esse motivo foi confirmado um plano de intervenção da área para inviabilizar o acesso e aprofundar as investigações. Como mostra o trabalho de Gustavo Freitas (2012), para facilitar o entendimento da região, as áreas foram divididas em três (fig. 27); Subáreas 1A e 1B; Subáreas 2A, 2B e 2C e Área da Prefeitura, ao sul. Após as investigações, declarou-se que todos os riscos de contaminações nas subáreas 1A e 1B tinham sido examinados. Nas amostras retiradas do solo e da água constam a ausência de anomalias, portanto não acarreta em risco direto à saúde humana. Através das declarações de análise feitas pela Consultoria Ambiental (CONAM) pode-se concluir que não há risco para a realização de projetos imobiliários na região das Subáreas 1A e 1B. Quanto às subáreas 2A, 2B e 2C, que demonstram maior risco à população, deverão ser tomadas medidas institucionais para viabilizar o local, como impossibilitar a escavação do solo e o uso da água fluviais (FREITAS, 2012). Embora seja questionável a ocupação de áreas contaminadas para uso residencial, é uma das alternativas do poder público para a reutilização de espaços antes industriais. Destaca-se, também, a necessidade de organização de Associações de Moradores para utilização dessas áreas, que podem vir a absorver um grande número de famílias e de equipamentos urbanos, desde que os estudos para descontaminação do solo sejam feitos e aplicados antes de futuras intervenções (MOREIRA, 2019).
fig. 28 galpão abandonado, 2009 fonte: são paulo antiga
39
O PROCESSO DE DEMOLIÇÃO
40
Abandonado desde 1987, o complexo fabril contribuiu para a desvalorização do seu entorno, pois as construções foram completamente abandonadas, sua maioria sem estado mínimo de conservação, deixando um legado negativo para o lugar. Em 18 de setembro de 2010 iniciou-se o processo de demolição do que restava do antigo Império Matarazzo em São Caetano. À princípio, a intenção do governo era preservar o edifício da antiga indústria, no entanto, seu estado de conservação fez com que tal objetivo se tornasse inviável, segundo a prefeitura. Sem alterações do estado de demolição, restaram as fachadas da R. Mariano Pamplona e da Praça Comendador Ermelino Matarazzo, além de duas chaminés do antigo complexo.
“A Matarazzo não se especializou em nada e foi engolida pelas empresas estrangeiras e a indústria automobilística por volta da década de 1980”. (CALÍCIO, 2010) O prefeito José Auricchio Júnior garantiu, então, que todo o processo fosse filmado e fotografado antes da demolição, para que futuramente, na implantação do “Parque Fundação” atrelado à escola de educação ambiental, sejam apresentados para que as crianças conheçam a história de industrialização do município.
fig. 29 subáreas - prefeito josé auricchio júnior na demolição das indústrias matarazzo, 2010 fonte: prefeitura de são caetano do sul
41
fig. 30 portĂŁo prĂłximo a igreja, 2019 fonte: foto do autor
fig. 31 fachada da rua mariano pamplona, 2019 fonte: foto do autor
fig. 32 fachada da rua mariano pamplona, 2019 fonte: foto do autor
fig. 33 fachada escorada em estrutura metĂĄlica, 2019 fonte: foto do autor
VISITAR
44
fig. 34 vista interna do terreno, 2019 fonte: foto do autor
VISITAR
O bairro da Fundação, território de estudo no qual o terreno se encontra, possui um imenso potencial para requalificação da área. Sua localização e entorno possuem uma grande importância no contexto histórico, como um dos lugares mais carregados de memória na cidade de São Caetano do Sul.
A urbanização de São Caetano do Sul ignorou a afetividade e relevância do Fundação, tornando-o um território esquecido pelo poder público. MORFOLOGIA URBANA
O território se encontra em uma área de vale, possuindo um relevo quase plano. A retificação do Rio Tamanduateí e do Ribeirão dos Meninos potencializou a área alagável de ambos os cursos d’água, fazendo com que sejam constantemente afetadas. Por estar localizado às margens da linha férrea, o bairro possui uma característica industrial em suas construções: as áreas residenciais estão localizadas ao redor dessas indústrias, que ocupam a maior parte dos setores norte e leste do terreno. O gabarito baixo, em sua maioria até três pavimentos, dá continuidade à característica horizontal do bairro, mantendo as relações humanas entre edifício e pessoa. O tráfego, apesar de ser intenso nas Avenidas Guido Aliberti e Presidente Kennedy, tem movimentação lenta devido aos baixos limites de velocidade, o que resulta em um ambiente social mais silencioso e seguro para os pedestres. O abandono das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, porém, deixou uma grande área vazia, sujeita a ações ilícitas e que geram desconforto para a população. Com isso, a proposta deste trabalho pretende abordar essas questões de forma que qualifique a vida dessa população, em que uma alta densidade ainda mantenha a escala humana da cidade (GEHL, 2010).
45
fig. 35 mapa de cheios e vazios cheios vazios linha fĂŠrrea rios e cĂłrregos fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
fig. 36 mapa de topografia linha fĂŠrrea rios e cĂłrregos N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
fig. 37 mapa de fluxos via primária via segundária via terciária linha férrea
rios e córregos
fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
fig. 38 mapa de uso e ocupação do solo residencial indústria comercial rios e córregos institucional linha férrea serviço arborização N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
LEGISLAÇÃO
50
Plano Diretor Estratégico (PDE) O terreno está inserido em uma Zona de Expansão Demográfica (Z6), segundo as divisões das macrozonas e das zonas propostas pela Lei de Zoneamento da Cidade de São Caetano do Sul, de 27 de outubro de 2010. Este zoneamento estratégico da prefeitura propõe um adensamento da área junto à requalificações para levar vitalidade ao que hoje são só ruínas espalhadas pelos seus 300.000m². O 14ª artigo da Lei de Zoneamento Estratégico estabelece as exigências e restrições para a área. Sendo assim, o projeto proposto deve seguir respeitosamente com as proposições da referida lei. O município de São Caetano do Sul se divide em cinco macrozonas, indicadas na fig. 40, anexo à lei, que se definem de acordo com as problemáticas existentes em suas regiões. A área de intervenção proposta se encontra na Macrozona de Desenvolvimento Estratégico (MDE), que, segundo o PDE (São Caetano do Sul, 2016/2025), é definida por:
CAP II artigo 5º parágrafo 3 - A Macrozona de Desenvolvimento Estratégico será formada pelos imóveis com frente para a Av. do Estado, Av. Guido Aliberti e demais áreas destacadas no Mapa de Macrozoneamento.
Segundo o texto da lei, a MDE se encontra em uma área de exceção, podendo ser objeto de Operações Urbanas Consorciadas através de lei específica, não seguindo as legislações vigentes.
51
fig. 39 divis천es de macronozas, 2010 fonte: prefeitura de s찾o caetano do sul
fig. 40 divis천es de macrozonas, 2016 fonte: prefeitura de s찾o caetano do sul
RELACIONAR
1
1
54
2
3
34
5
6 fig. 41 moodboard de referĂŞncias projetuais fonte: elaborado pelo autor
7
8
55 8
9
11 10 12
13
9
14 7
PROJETAR
58
fig. 42 empena viva - parque minhocĂŁo, 2015 fonte: nitsche arquitetos
PROJETAR
A partir de análises da região, da gleba - objeto deste trabalho -, e de seu entorno, os dados foram absorvidos para proposição de projeto consistente na proposta de implementação de um masterplan que visa à organização geral da nova ocupação definida a partir das seguintes premissas: necessidade de aumento da densidade populacional de uma área desocupada ou, mesmo, subutilizada em alguns trechos; ampliação da oferta de equipamentos públicos na região, propiciando a vivência cotidiana desse lugar, hoje desprovido de dinâmica urbana. Para essa proposta de requalificação, o masterplan propõe a implantação de conjuntos habitacionais de uso misto, uma escola de tecnologia e a criação de um parque municipal. Além disso, busca-se também criar extensões de equipamentos já existentes na cidade, como o Museu Municipal e a Universidade Municipal.
Gehl (2010) aponta que o planejamento de cidades modernas se limita apenas à escala macro, acabando por tornar as composições urbanísticas belíssimas quando vistas de cima e uma catástrofe ao nível do pedestre. Como diretriz projetual, o projeto busca incluir vestígios das Indústrias Matarazzo, como um galpão, a antiga Paróquia São Caetano, as fachadas e as chaminés, ali remanescentes, como parte importante na construção desse novo complexo, para, assim, projetar sem ignorar a memória que ali se consolidou, buscando revitalizar e requalificar o vazio, onde o novo transmita um contraste com o preexistente. A proposta contempla, então, duas escalas de intervenção: a do masterplan para toda a área e a escala de projeto arquitetônico, com inserção urbana, do bairro residencial proposto.
59
CONVIVER
60
O espaço de convivência busca restaurar, em uma escala projetual, a dimensão humana, que tem sido, reiteradamente, tratada com indiferença no planejamento urbano. A proposta deste trabalho é oferecer as condições para que o território incentive as pessoas a participarem ativamente da cidade, valorizando as relações interpessoais e as redes de sociabilidade.
O ser humano é um ser social, sendo de sua natureza o estado de convivência. Em contrapartida a valorização imobiliária dos edifícios monofuncionais, que contribuem para que as pessoas neguem cada vez mais os espaços públicos, este projeto busca a convivência entre a população, o ambiente urbano e os futuros equipamentos urbanos. Esta ideia parte de um conceito apresentado por Jan Gehl (2010), em Cidades Para Pessoas, que busca, em torno dos sentidos humanos, a construção de espaços públicos, onde as pessoas possam exercitar as sensações, as percepções e a sua experimentação. Visando à valorização dos sentidos humanos, esse espaço de convivência se sustenta em três grandes pilares: o Conviver, o Conscientizar e o Viver, que pretendem, assim como os verbos de ação, ser espaços ativos, em que se realizem atividades que instiguem os seus usuários a experimentá-los e deles usufruir. PROPOSTAS - Parque Municipal; - Expansão do Museu Municipal; - Biblioteca; - Mirante; - Horta urbana; - Alargamento do Ribeirão dos Meninos; - Espaço para eventos; - Ampliação e criação de pontes; - Habitação; - Unidade Básica de Saúde (UBS); - Creche; - Extensão da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS); - Escola Tecnológica Ambiental.
descansar
viver
brincar
relembrar
cultura aprender aquietar
ensinar fig. 43 estudo coviver acessos a intervir a manter a demolir fonte: elaborado pelo autor com base do
bolhas coviver rios e córregos linha fÊrrea arborização N google earth
DESCANSAR
62
Criação de um parque referencial na cidade, que agrupe os equipamentos urbanos propostos pelo masterplan, fortalecendo o desenvolvimento ambiental e cultural da cidade. Admitindo a natureza como força projetual e de constante transformação, a inclusão das ruínas deixadas por uma indústria abandonada ajuda a fortalecer a memória cultural e afetiva do território e permitem que o projeto possua características próprias do seu espaço. Sua implantação foi pensada para valorização dos remanescentes urbanos para uma sustentabilidade nas futuras gerações, enfatizando os elementos do local.
PROGRAMA
fig. 44 estudo deck do lago fonte: croqui do autor
playground marquise
MASSA ARBÓREA
pista de caminhada ciclovia
DECK
pista de skate bosques pomar horta urbana bicicletário
ACENTUAR TOPOGRAFIA
estacionamento
fig. 45 estudo de intervenção nas fachadas fonte: croqui do autor
COBERTURA BANCO
fig. 46 estudo de intervenção nas fachadas fonte: croqui do autor MANTER
ABRIR “BURACOS“ NA FACHADA
BANCO
PASSAGEM
ponto de interesse
fig. 47 estudo conviver acessos deck equipamentos cooper fonte: elaborado pelo autor com base do
bolhas coviver rios e cĂłrregos linha fĂŠrrea relacionar N google earth
CONSCIENTIZAR
64
As relações humanas devem ser conscientes do território e de suas preexistências, seja incorporando-as ou negando-as na implantação dos futuros equipamentos urbanos que ajudam a lidar com o contexto onde se encontra a intervenção. A preservação da memória social deve ser tão importante quanto a preservação material das ruínas de uma indústria abandonada. Um território em que seja prazeroso crescer e evoluir como ser humano, onde as relações socioespaciais estejam amplamente ligadas à memória de um bairro que deu origem à cidade. Um lugar que permita criar relações humanas quando possível, mas que também permita a paz individual de cada um. UNIVERSIDADE
fig. 48 estudo do mirante fonte: croqui do autor
área do terreno 11.345,09m² área a construir 5.300m² ESCOLA TECNOLÓGICA AMBIENTAL área do terreno 4.946,89m² área a construir 3.125m² MUSEU MUNICIPAL
RAMPAS
MIRANTE
área do terreno 2.283m² área a construir 1.430m² BIBLIOTECA MUNICIPAL área do terreno 1.575m² área a construir 600m² MIRANTE
descansar
viver
relembrar
ensinar aquietar
ponto de interesse
aprender
fig. 49 estudo conscientizar acessos equipamentos relacionar ĂĄrea de interesse
bolhas coviver rios e cĂłrregos linha fĂŠrrea
fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
ENSINAR - APRENDER
66
Causando o menor impacto ambiental possível, a implantação da extensão da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e da futura Escola Tecnológica Ambiental pretendem trazer ao território ganhos sociais e de convivência. Buscando conscientizar seus atuais frequentadores da importância de preservação do espaço e manutenção do mesmo, enquanto que, para isso, coexistem com os novos usuários do masterplan proposto para todo o território.
RELEMBRAR - AQUIETAR Um momento de contemplação do território evidencia os equipamentos que ajudam a preservar e revisitar o passado, tanto físico quanto imaterial. Um passado que continua no presente. A implantação da extensão do Museu Municipal de São Caetano do Sul permite esse afeiçoamento ao passado, mas também ao presente. O mirante, estruturado em uma das chaminés existentes, nos ajuda a compreender como os remanescentes urbanos são importantes para o desenvolvimento da cidade. Por fim, a proposta de uma Biblioteca Municipal que ajude a suprir as necessidades de uma população pouco apta à leitura, para que, assim, valorize o espaço vivido.
fig. 50 estudo conectar fonte: croqui do autor
GRANDE ÁREA VERDE
ensinar - aprender
CONECTAR
relembrar - aquietar
HORTA URBANA
mirante
habitação
museu escola biblioteca ponto de interesse
sombra
horta urbana
universidade
estacionamento
fig. 51 estudo conscientizar ampliado acessos novo acesso área de interesse rios e córregos relacionar linha férrea horta urbana barreira N fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
VIVER
68
Inspirado pelos conceitos de “A Walking City” do grupo Archigram8 e das práticas do escritório chileno Elemental, liderado pelo arquiteto vencedor do Prêmio Pritzker9, Alejandro Aravena, o projeto pretende trabalhar com habitação flexível, em diferentes tempos, com uma arquitetura que está sempre em constante movimento e transformação; criando a “utopia” de um plano a longo prazo, sem prazo. Não existe um prazo definido para o final das construções, já que a ideia é a inserção de extensões ou novas habitações conforme a necessidade do morador. Inicialmente o projeto começa com a reintegração de posse de algumas áreas atualmente ocupadas por habitações irregulares, tanto em São Caetano do Sul quanto em São Paulo, buscando atender à população que vive precariamente nessa área na divisa entre os municípios.
PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO
1ª
REINTEGRAÇÃO DE POSSE
3ª
8. Archigram foi um grupo de arquitetos ingleses formado em 1961; 9. Prêmio internacional, conhecido como “Nobel da Arquitetura”.
2ª
IMPLANTAÇÃO SISTEMA VIÁRIO EDIFÍCIOS QUADRAS
fig. 52 diagrama processo de implantação fonte: elaborado pelo autor
IMPLANTAÇÃO HABITAÇÃO EQUIPAMENTOS
relacionar
viver relacionar brincar
relacionar
fig. 53 estudo viver acessos futuro habitações relacionar área de interesse
habitações (futuro)
bolhas coviver rios e córregos linha férrea
fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
Entrelaçando as ideias de complemento e constante movimento da cidade, a inclusão de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e uma Creche, a proposta de inserção de novos equipamentos urbanos busca responder às problemáticas apresentadas anteriormente, que a própria gleba nos traz. Assim, a vida em comunidade pode ser melhor aproveitada. 70
Já a proposta arquitetônica traz um gabarito baixo, permitindo que as pessoas sejam mais importantes que o skyline, para isso, as habitações são pensadas para que sejam modulares e que permitam a constante implementação de novos módulos ao longo do tempo, gerando, assim, um projeto atemporal, que não possui um “final” e que não pretende estipular ou prever qual será o seu futuro.
PROGRAMA
PLAYGROUND PRAÇAS
QUADRAS
ÁREAS COMUNS
CRECHE ESTACIONAMENTO
CONVIVÊNCIA
FLEXIBILIDADE COMÉRCIO
LAZER
UBS
HABITAÇÃO
AUTOCONSTRUÇÃO
SOCIABILIDADE
fig. 54 diagrama programa fonte: elaborado pelo autor
viver viver
viver relacionar viver
viver creche viver
ubs
relacionar
fig. 55 estudo viver ampliado acessos futuro habitações relacionar área de interesse
expansão futura das habitações
bolhas viver rios e córregos linha férrea
fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
ESTUDO COLABORATIVO
72
Inspirado em mapas colaborativos10, que realizo desde 2016, e um estudo realizado pelo grupo de pesquisa “Morar de Outras Maneiras - MOM”, da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (EA-UFMG), busco, por meio de uma pesquisa com diversas pessoas, compreender as diferentes perspectivas de vivência que a população possui. O estudo foi realizado com 28 pessoas de diferentes cidades, classes sociais, idades e áreas de atuação. Foi entregue uma folha de papel (física ou digital) com um cubo desenhado (aparecem apenas 3 faces) e consistia em responder -de forma livre- a essas três perguntas:
SE ESSE CUBO FOSSE A SUA CASA, COMO SERIA? O QUE SERIA ESSENCIAL PARA VIVER DENTRO DELE? E SE TIVESSE A CHANCE DE MODIFICÁ-LO? Com o objetivo de explorar as diferentes perspectivas resultantes do estudo colaborativo, buscou-se compreender o olhar para além da arquitetura e do urbanismo, que serviram como base projetual.
10. Mapas elaborados com a ajuda de diversas pessoas, com ou sem conhecimento.
Às vezes a casa cresce, se estende. É preciso maior elasticidade do devaneio, um devaneio menos desenhado a fim de habitá-la. [...] Quanto mais simples é a casa, mais ela trabalha minha imaginação de habitante. Ela não é apenas uma “representação”. Suas linhas são fortes. O abrigo é fortificante. Quer ser habitada simplesmente com a grande segurança que a simplicidade dá. [...] A casa, mais ainda que a paisagem, é um “estado de alma”. Mesmo reproduzida em seu aspecto exterior, fala de uma intimidade. (BACHELARD, 2005, p. 66)
73
fig. 56 projeto “casa ideal�, 2019 fonte: acervo do autor
74
fig. 57 projeto “casa ideal�, 2019 Marcos Boscolo, 22 anos fonte: acervo do autor
O fundamental seria um espaço que não sufoque, que deixe respirar – não literalmente mas metaforicamente, um ambiente que não me aprisione no interior das paredes. Partindo disso, minha casa teria janelas amplas, portas de vidro e o mínimo de parede possível para permitir que a estrutura pare em pé: uma casa de vidro com cortinas o suficiente para proporcionar acolhimento quando desejado. [...] Com a permissão de fazer modificações, a casa ainda seria um cubo, mas uma estrutura construída em cima de seu desmonte. fig. 58 projeto “casa ideal”, 2019 Rafael Orlandini, 24 anos fonte: acervo do autor
A entrada seria pelo lado esquerdo: três quadrantes de área comum, de convivência, de interação. O quadrante superior abrigaria a cozinha, sempre interligada com o restante da casa. No inferior, o banheiro. Apesar da inconveniência de estar de frente para onde as comidas são preparadas, nessa nova casa esse espaço íntimo receberia maior atenção – é aqui que muitas vezes pensamos no cuidado com o corpo, que acaba refletindo no cuidado com a mente; o espaço ampliado permite esse conforto, esse momento para si, essa qualidade de vida. O quadrante restante, da direita, seria o quarto. Apesar de ainda manter uma dimensão menor do que o restante da casa, seu local é privilegiado e permite uma visão quase completa de todo o restante – mantendo a lógica da casa quando era um cubo tridimensional. Ainda mais: a amplitude que se vislumbra ao sair do cômodo seria única, com um olhar que atravessa a residência e já te mostra que, apesar do abrigo que sua casa representa, não há nada que impeça de sair para a vida lá fora. A entrada é tão livre quanto a saída, o movimento é permitido, necessário e fundamental. (Rafael, 24 anos)
75
fig. 59 projeto “casa ideal”, 2019 Marcos Boscolo, 22 anos fonte: acervo do autor
76
fig. 61 projeto “casa ideal”, 2019 Giovanni Talon, 21 anos fonte: acervo do autor
fig. 62 projeto “casa ideal”, 2019 Jéssica Rabaneda, 22 anos fonte: acervo do autor
fig. 60 projeto “casa ideal”, 2019 Gleice Araújo, 55 anos fonte: acervo do autor
fig. 63 projeto “casa ideal”, 2019 João Gabriel, 22 anos fonte: acervo do autor
fig. 64 projeto “casa ideal”, 2019 Marina Lima, 7 anos fonte: acervo do autor
77
Objetivo é morar em um lugar que eu me sinta bem com tudo e comigo. A arte e genialidade se fazem mais que importantes, tanto quanto o conforto, praticidade e conceito. A natureza deve ser parte importante da moradia. (João, 22 anos)
fig. 65 projeto “casa ideal”, 2019 Laura Colaço, 8 anos fonte: acervo do autor
...a garagi (sic) porque aonde que o carro fica... (Marina, 7 anos)
78
fig. 66 projeto “casa ideal”, 2019 Júlia Quesada, 22 anos fonte: acervo do autor
É possível enxergar diferentes pontos importantes para concepção projetual de um lugar mais completo. A necessidade de grandes áreas livres para contemplação e calmaria contempla a natureza como parte importante na integração de forma complementar à habitação, trazendo ao lugar uma nova harmonia entre a paisagem natural e a construída, valorizando as vistas e gerando uma melhora na qualidade de vida de seus habitantes. Em um primeiro momento, o complexo habitacional não possuiria estacionamento, porém, após análises do estudo colaborativo, foi constatado uma grande necessidade de sua criação. Esse olhar além do projeto arquitetônico demonstrou que a população participante do estudo, em sua maior parte, ainda pensa no automóvel como parte essencial da vida. Conclui-se que o estudo apontou diferentes sensações e perspectivas sobre o habitar. Usando-as para construir espaços mais confortáveis, adaptáveis e agradáveis para que o lugar faça com que as pessoas se sintam em casa, para além do espaço de suas habitações. fig. 67 quadrinhos ácidos em: casas, 2014 fonte: charge de pedro leite
79
80
fig. 68 grotinho de paraisĂłpolis - construindo espaços de convĂvio, 2015 fonte: boldarini arquitetos associados
HABITAR
O vínculo entre o habitar e o lugar sempre foi de extrema importância emocional para quem procura um espaço para construir sua família. Criar raízes nos tornam mais humanos e nos ajudam a valorizar o espaço em que vivemos.
NA FAVELA Seguindo as transformações sociais e econômicas do fim do século XIX, as habitações populares começaram a lidar com problemas alarmantes que precarizavam a qualidade de vida em meados do século XX, já em uma São Paulo industrializada. Enquanto São Paulo transformava sua paisagem urbana, construindo largas avenidas, fábricas, estradas de ferro, armazéns, lojas etc, o contingente operário desprezado pela industrialização crescia cada vez mais, gerando uma segregação socioespacial. Com isso, começa a surgir uma segregação espacial periférica, que acompanhava as transformações e o crescimento da base industrial, assentada sob a forma de moradia em favelas (BONDUKI, 2000).
A favela é a nossa cidade. Nos termos de Gonçalves (2013), é um regime de produção do espaço urbano, é também a forma preponderante de moradia dos trabalhadores, na qual o Estado tem papel fundamental, ainda que as aparências forjem exatamente a ideia de ausência do mesmo. Essas favelas são uma resposta à crise habitacional que São Paulo enfrentou - e ainda enfrenta - no início dos anos 1920. A “solução” a essa crise seria o loteamento periférico - lote próprio - onde havia pouca ou nenhuma infraestrutura, e a autoconstrução que possibilitou aos trabalhadores de baixa renda a materialização do sonho da casa própria, embora muito precária. Criando então uma autogestão desordenada (BONDUKI, 2000). Um dos maiores exemplos de autogestão realizado na cidade
81
82
de São Paulo foi o programa de mutirões, uma política pública criada na prefeitura de Luiza Erundina (1989-1992), que tinha como objetivo garantir a moradia da população na periferia e até mesmo na grande cidade, desenvolvendo ações junto aos movimentos sociais e à comunidade, tornando-os sujeitos de seu próprio destino. Esse projeto foi reconhecido na Conferência Mundial de Habitação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2006, como um método eficaz de levar o acesso a propriedade (BONDUKI, 2016). Mesmo sendo um projeto de qualidade e baixo custo não foi dada sua continuidade por conta de pressões de empreiteiras sobre os governos locais e foi totalmente abandonado com a entrada de Paulo Maluf em 1993. Nas favelas ao redor do mundo, especialmente em São Paulo, em sua maioria, a autogestão tem como objetivo a criação de uma rede de solidariedade que responde às questões junto ao poder público, ajuda nas solicitações dos moradores e trabalha em conjunto para que as moradias possuam todos os direitos reservados pela Constituição, integrando-os à sociedade civil. fig. 69 hiperverticalização, 2019 fonte: cotidiano, folha de são paulo
A favela pode ser definida como uma construção viva, sempre em constante movimento, adaptação e mudança. Os problemas de superlotação são resolvidos com mais construções, seja horizontal ou vertical, o que resultou, atualmente, em favelas hiperverticalizadas, atingindo-se a altura de 5 a 6 pavimentos em cada construção, sendo que as lajes são batidas já esperando o próximo “puxadinho”.
fig. 70 paraisópolis, 2019 fonte: foto de liliana oliveira e intervenção do autor
83
fig. 71 paraisĂłpolis, 2019 fonte: foto de liliana oliveira
84
fig. 72 exposição “densidade”, 2013 fonte: foto de jorge taboada, x bienal
de arquitetura de são paulo
EM ALTAS DENSIDADES
O desenho urbano permite equacionar soluções que viabilizem uma vida sustentável a partir de métodos urbanísticos que satisfaçam a comunidade onde se insere um projeto. Segundo Adam Frampton (2012, s.p.): “a densidade - desvinculada da verticalização - é um atributo cada vez mais crucial para a sustentabilidade das cidades em um mundo superpovoado. Com um gabarito médio de sete andares, por exemplo, Paris é a cidade mais densa da Europa”, tendo uma densidade de aproximadamente 203,13 habitantes por hectare, sendo também um exemplo de cidade com maior quantidade de áreas verdes por km², cerca de 2200 hectares dedicados a espaços públicos como parques, jardins e praças.
Como reabilitar uma cidade desprovida de sustentabilidade a partir de dois parâmetros urbanísticos: o desenho urbano e a densidade? fig. 73 densidade - consequências fonte: elaborado pelo autor com base em SILVA, G.; SILVA, S.; NOME, 2016
DENSIDADE LÍQUIDA
CONSEQUÊNCIAS
100hab/ha
Aparecem problemas com ruídos e perda de intimidadade
300hab/ha
Perde-se o sentido de intimidade nos espaços verdes
600hab/ha
Aparecem dificuldades para arranjar espaço de estacionamento e recreio
1.500hab/ha ou mais
O espaço público congestiona-se totalmente
Durante muitas décadas, acreditava-se que a ideia de uma habitação unifamiliar em grandes lotes com uma densidade ocupacional baixa aumentava a qualidade de vida da população. Porém, esse conceito de cidade espraiada produz um custo elevado muito alto e exerce impactos profundos na sociedade à longo prazo. Com o aumento das populações urbanas e a necessidade de infraestrutura para essas moradias ficando cada vez mais difícil, entende-se que o futuro do urbanismo é a incorporação de altas densidades com espaços cada vez menores, buscando enfrentar todas as problemáticas apresentadas (fig. 73), para que, assim, consigamos dar uma melhor qualidade de vida para os moradores.
85
[...] para o mercado da construção de hoje, o custo do hectare urbanizado pouco depende da capacidade das redes de infraestrutura, assim, para uma ocupação de 75 habitantes/ha este custo é de US$ 250 mil aproximadamente, mas para uma ocupação de 600 pessoas/ha é de US$ 320 mil em média, ou seja, quando o número de habitantes por hectare aumenta em 800%, o custo de urbanização acresce apenas 30%. (SILVA, G.; SILVA, S.; NOME, 2016)
86
fig. 74 densidade x qualidade fonte: elaborado pelo autor
PARAISÓPOLIS 1200HAB/HA SÃO CAETANO DO SUL 99,72HAB/HA REPÚBLICA 186,10HAB/HA
PARIS 203,2HAB/HA
DENSIDADE X QUALIDADE
SANTA CECÍLIA 163,31HAB/HA SÃO PAULO 78HAB/HA
fig. 75 residencial parque novo santo amaro v, são paulo, 2012 fonte: foto de leonardo finotti (vigliecca e associados)
PROJETO
O modo de vida sustentável contemporâneo deve seguir o desenvolvimento da sociedade, seja na composição familiar, nas formas de deslocamento, nas demandas culturais e sociais, nos avanços tecnológicos e em diversos outros temas recorrentes nas discussões urbanas.
87
Para atender a esse desenvolvimento, a arquitetura deve se desvincular de gostos e aspirações individuais, adaptando-se às constantes mudanças da sociedade. Sendo assim, a arquitetura deve ser adaptável, flexível, leve e até mesmo efêmera, dando autonomia e participação de seus moradores na construção, tornando-se um projeto de concepção pública, não apenas de um arquiteto: “Essa autonomia torna-se essencial para a sobrevivência do sistema arquitetônico uma vez que possibilita sua contínua transformação para atender às constantes transformações do modo de vida e demandas sociais” (JANUÁRIO e PRATSCHKE, 2006). Um sistema arquitetônico deve ser autônomo, ou seja, deve saber se conduzir e adaptar-se, sem a necessidade de se realizar um novo projeto para que este continue atendendo seu objetivo. (Ashby apud JANUÁRIO, 2006) fig. 76: densidade em ocupação fonte: elaborado pelo autor
TRADICIONAL 115hab/ha
MODERNO 256hab/ha
PERIMETRAL 288hab/ha
LAMINARES 320hab/ha
PROPOSTA 417hab/ha
88
O arquiteto holandês Frans van der Werf já defendia a ideia do “faça você mesmo” em meados dos anos 70, sendo um dos pioneiros do desenho adaptável, que privilegia uma arquitetura mais flexível. Fez projetos pensados em conjunto com os futuros moradores, pensando amplamente nas possibilidades de adaptação e flexibilização dos espaços, sendo inteiramente pensados para se expandir, sem necessariamente pensar em como essa expansão se dará em futuro distante ou não (JANUÁRIO e PRATSCHKE, 2006).
fig. 77 “molenvliet”, papendrecht - holanda, 1978 fonte: foundation for architectural research
Pode-se entender que essa arquitetura, conhecida como implementacional, sempre foi uma dificuldade, pois nos trazem problemas vinculados à drenagem, estabilidade do solo, circulação de veículos e pedestres em questões habitacionais.
fig. 78 poder da autoconstrução fonte: elaborado pelo autor
89
90
fig. 79 paraisĂłpolis, 2019 fonte: foto de liliana oliveira
Analisando em especial algumas imagens de Paraisópolis, pode-se perceber que, apesar de questões de insalubridade, a organização espacial é notável, de forma a que cada habitação seja funcional de acordo com a necessidade dos seus moradores. Essas questões de ampliações são comuns, pois, uma vez que a família se enraíza emocionalmente no espaço, ela cresce. Esses princípios estruturais de uma favela são determinantes do futuro complexo habitacional, em que o direito de construir e o direito de passagem determinam a sua morfologia, sendo um tecido urbano mutável e que segue a necessidade de seus moradores.
fig. 80 paraisópolis, 2019 fonte: foto de liliana oliveira
91
92
A partir dessa premissa predominante no urbanismo do lote como origem e modelo organizador, busca-se a desconstrução desse pensamento para que assim a construção conforme o tecido urbano, onde o lote é fruto da habitação, não a habitação do lote. É necessário criar uma heterogeneidade, pois, segundo Valladares (2005), o espaço se dá “a partir de sua diversidade, do que eles têm e do que são, não daquilo que lhes falta”. Propõe-se a inclusão dessa lógica organizacional das favelas, principalmente quanto à funcionalidade da autogestão, mas pensando sempre na qualidade de vida e satisfação urbanística, a partir de estreitas relações com a natureza, cultura e memória do território onde está inserido. A ideia é trazer a cidade contemporânea vista nos ideais de Frans van der Werf, nos anos 70, aperfeiçoados por arquitetos da atualidade, como Alejandro Aravena, para a utopia de um projeto inspirado nessas lógicas de diferentes experiências e perspectivas ao redor do mundo. fig. 81 organização espacial de favelas fonte: elaborado pelo autor
Sendo assim, a conceituação do projeto se dá por meio de diretrizes e construções iniciais - já pensadas em suas possíveis flexibilizações -, da qual os moradores (atuais e futuros) poderão dar continuidade a esse projeto inicial, seja customizando ou até mesmo construindo. Trazendo a ideia de espaços que possam atender diferentes funções em diferentes tempos, sem uma previsão concreta de como se dará essa transformação que deve seguir diretrizes programáticas da proposta inicial. O projeto pretende demonstrar apenas algumas das infinitas possibilidades de transformação dessa comunidade caminhante.
iano Lo renzi
ni
93
R. Mariano Pamplona
Av. Guido Aliberti
R. Maxi mil
implantação das unidades habitacionais esc. 1/750 habitações espaço de convivência playground fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
fig. 82 cubo expansivo fonte: elaborado pelo autor
94
De modo a minimizar a forma, o cubo foi escolhido tanto para a pesquisa de necessidades quanto para o projeto: por possuir diversas faces e diferentes maneiras de se apresentar arquitetonicamente; por criar uma analogia com a forma simples das construções nas favelas; e, também, por permitir um padrão construtivo menos complexo e de fácil adaptação e complementação. Construindo uma malha estrutural invisível ao longo da área escolhida, tornando a implantação das habitações modular. Essa malha possui 5mx5m, onde as habitações são implantadas com blocos estruturais, tornando muito mais fácil as possíveis extensões e adaptações dos módulos habitacionais.
IMPLANTAÇÃO DAS HABITAÇÕES fig. 83 diagrama de implantação fonte: elaborado pelo autor
95
IMPLANTAÇÃO FINAL
MALHA ESTRUTURAL
5X5m, usuais de 2,5m
EQUIPAMENTOS
espaços de convivência (raio de 15m)
espaços de playground (raio de 30m)
quadra poliesportiva (raio de 100m)
HABITAÇÕES
habitações 25m² 50m² 75m²
fig. 84 tipologias fonte: elaborado pelo autor
25M²
50M²
50M²
96
fig. 85 3D geral das unidades habitacionais fonte: elaborado pelo autor
75M²
75M²
fig. 86 3D geral das unidades habitacionais fonte: elaborado pelo autor
97
AS QUADRAS 98
Para realização deste trabalho, buscou-se detalhar uma quadra que se constituirá como diretriz projetual para toda área previamente definida como habitacional, sendo assim, o estudo especifica todas as condicionantes para implantação do projeto na Quadra 1, que, consequentemente, deve ser seguida, em seus princípios reguladores, nas outras 5 quadras. As quadras possuem uma área total de 15.137,17m², não incluso o sistema viário. - - - - - -
Quadra Quadra Quadra Quadra Quadra Quadra
1 2 3 4 5 6
-
2.659,89m² 3.320,81m² 3.076,65m² 1.243,28m² 3.243,82m² 1.592,72m²
QUADRA 1 Os espaços livres permitem a coexistência entre os diversos usos, articulando o público e o privado, permitindo que a comunidade se aproprie desses espaços, para, assim, desenvolver atividades coletivas, com uma articulação entre os equipamentos urbanos do parque.
fig. 87 livre + comércio. fonte: elaborado pelo autor
O espaço a ser construído dialoga com o tecido urbano das mais diversas formas, sendo assim, a implantação de comércios traz ao projeto uma maior vivacidade e utilização desses espaços de forma mais dinâmica, em que parte da população resolve seus próprios problemas para manter a moradia. A localização desses espaços comerciais - inicialmente pretende incentivar o comércio e economia local da própria gleba, seja por uma sorveteria, um mercadinho ou até mesmo um hortifruti, tendo em vista que são áreas flexíveis e mutáveis assim como as habitações.
Av. Guido Al iberti
R. Maxi mil
iano Lo renzi
ni
5
6
99
R. Mariano Pamplona
4
3
2
1
implantação - destaque quadra 1
esc. 1/750
habitações espaço de convivência playground fonte: elaborado pelo autor com base do google earth
N
Dentro das diversas possibilidades de expansões que o projeto pode proporcionar, decidiu-se por abordar 3 diferentes tempos do mesmo, chamados de: Início, Intermediário e Final. Busca-se, assim, demonstrar na forma projetual a implantação das ideias e diretrizes para fim de exemplificar os conceitos apresentados durante este trabalho. 100
fig. 88 pavimento x tempo fonte: elaborado pelo autor
INÍCIO 1
POSSIBILIDADES 2
TÉRREO A
A1
A2
1º PAV B
B1
B2
2º PAV C
C1
C2
N
DENSIDADES uh = unidade habitacional; hab = habitantes; ha = hectare;
Início: 28uh x 3,6hab = 100,8hab / 0,27ha = 378,97hab/ha Intermediário: 38uh x 3,6hab = 136,8hab / 0,27ha = 506,7hab/ha Final: 47uh x 3,6hab = 169,2hab / 0,27ha = 626,67hab/ha * 3,6hab é uma média para cálculo de densidade estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
INTERMEDIÁRIO 3
POSSIBILIDADES 4
FINAL 5
A3
A4
A5
B3
B4
B5
C3
C4
C5
101
O EFEITO TETRIS
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
102
fig. 89 efeito tetris fonte: elaborado pelo autor
INTERMEDIÁRIO 506,70hab/ha
FINAL 626,67hab/ha
* Essas são apenas algumas das possibilidades
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
INÍCIO 378,97hab/ha
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
103
DIRETRIZES
104
fig. 90 diretrizes projetuais fonte: elaborado pelo autor com base em NISIDA, 2019
CONDICIONANTES
RELAÇÃO DE VIZINHANÇA DISPONIBILIDADE DE TERRA RECURSOS MATERIAIS ESTÁGIO DE CONSOLIDAÇÃO FLEXIBILIDADE DAS HABITAÇÕES SOCIABILIDADE
ATORES
VIZINHOS TÉCNICOS MUNICIPAIS LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS LOTEADOR/BARRAQUEIRO ASSOCIAÇÃO DE MORADORES
NORMAS DE USO DO SOLO REGRAS CONSTRUTIVAS
- Malha construtiva de 5x5m, usuais de 2,5 ou 5m - Consolidação construtiva: distância entre habitações de 2,5 a 5m - Abertura de janelas devem prever novas habitações - Altura das construções não devem ultrapassar 3 pavimentos (9 metros) (Inicialmente pensada para até 3 pavimentos, podendo chegar a uma hiperverticalização - que deve ser estudada e consentida por toda comunidade - conforme o passar dos anos.)
NORMAS DE CONFORMAÇÃO DE VIAS
- Origens e traçados para estacionamento pré determinados, podendo perder seu espaço para uma futura habitação - As vias poderão servir como estacionamento - Automóvel tende a perder sua necessidade ao passar dos anos
- Escadas externas devem seguir padrão predefinido - A fachada da R. Mariano Pamplona será mantida, podendo receber novas aberturas - As lajes devem ser acessíveis quando possível
- Não existe hierarquia de usos - Usos comunitários, não existe lote
INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS
- Piso permeável drenante em toda quadra, exceto em áreas definidas para vegetação - Utilização e ocupação compulsória
REGRAS DE OCUPAÇÃO DE TERRA
- A cor das fachadas seguirá a escolha de cada morador de sua respectiva habitação, sendo livre a escolha de cores - Autoconstrução é essencial e imprescindível
105
- Concessão de uso para a moradia
NORMAS PARA ÁREAS LIVRES - Padrão de ocupação: casas de no mínimo 5x5m (25m²), implantadas dentro da malha estrutural prevista - Quintais comunitários - Áreas non aedificandi - Táticas coletivas de ocupações - Adição até o limite
- Áreas comuns com raio de influência 15m (não mutáveis) - Áreas de playground com raio de influência de 30m (preferencialmente centro de quadra)
ÍNDICE DE FIGURAS
[1] Escoramento da fachada com chaminé ao fundo, 2019. Fonte: foto do autor. [2] Escalas. Fonte: elaborado pelo autor [3] Região metropolitana de São Paulo. Fonte: elaborado pelo autor com base no Google Earth. [4] São Paulo + Grande ABC. Fonte: elaborado pelo autor com base no QGIS. [5] Grande ABC. Fonte: elaborado pelo autor com base no QGIS. [6] Espaço Verde Chico Mendes. Fonte: Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.saocaetanodosul.sp.gov.br>. Acesso em: 28 abr. 2019. [7] General Motors Brasil. Fonte: Chevrolet Brasil. Disponível em: <https://www.chevrolet.com.br/>. Acesso em: 28 abr. 2019. [8] ParkShopping São Caetano, 2017. Fonte: Multiplan. Disponível em: <http://multiplan.com.br/>. Acesso em: 28 abr. 2019. [9] Município de São Caetano do Sul. Fonte: elaborado pelo autor com base no Google Earth. [10] Mapa escala bairro. Fonte: elaborado pelo autor com base no Google Earth. [11] Museu Histórico Municipal. Fonte: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2019. [12] Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Fonte: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2019. [13] Acumulo de lixo nas fachadas, 2019. Fonte: foto do autor. [14] Vista interna do terreno, 2019. Fonte: foto do autor. [15] Mapa da área de intervenção. Fonte: elaborado pelo autor com base no Google Earth. [16] Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo - destaque dos remanescentes, 1912. Fonte: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2019. [17] Azulejo com o brasão das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, 2012. Fonte: São Paulo Antiga fotografia por Douglas Nascimento. Disponível em: <http://www.saopauloantiga.com.br/irfm-sao-caetano-do-sul/>. Acesso em: 02 mai. 2019. [18] Urbanização de São Paulo, 1924. Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento de São Paulo. Disponível em: <http://smul.prefeitura.sp.gov.br/>. Acesso em: 13 mar. 2019. [19] Núcleo de São Caetano do Sul, 1924. Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento de São Paulo. Disponível em: <http://smul.prefeitura.sp.gov.br/>. Acesso em: 13 mar. 2019. [20] Vista da Fazenda Tijucuçu com as chaminés da Fábrica Pamplona ao fundo, 1905. Fonte: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2019. [21], [22] Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, 1940. Fonte: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2019. [23] Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, 1960. Fonte: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Acesso em: 16 abr. 2019. [24] Agrupamento das unidades segundo processo produtivo, 2008. Fonte: Investigação Ambiental Complementar, 2008 - CONAM. Disponível em: <https://www.seesp.org.br/site/images/ecosp2012/gustavo_freitas.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2019. [25], [26] Galpões abandonados voltados para linha férrea, 2009. Fonte: São Paulo Antiga. Disponível em: <http://www.saopauloantiga.com.br/irfm-sao-caetano-do-sul/>. Acesso em: 19 mai. 2019. [27] Subáreas, investigação da CETESB. Fonte: elaborado pelo autor com base no Google Earth e Investigação da CETESB. Disponível em: <https://www.seesp.org.br/site/images/ecosp2012/gustavo_freitas.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2019. [28] Galpão abandonado, 2009. Fonte: São Paulo Antiga. Disponível em <http://www.saopauloantiga.com.br/ irfm-sao-caetano-do-sul/>. Acesso em: 02 mai. 2019. [29] Prefeito José Arucchio Junior na demolição das Indústrias Matarazzo, 2010. Fonte: Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.saocaetanodosul.sp.gov.br>. Acesso em: 14 abr. 2019. [30] Portão próximo a igreja, 2019. Fonte: foto do autor. [31], [32] Fachada da Rua Mariano Pamplona, 2019. Fonte: foto do autor. [33] Fachada escorada em estrutura metálica, 2019. Fonte: foto do autor. [34] Vista interna do terreno, 2019. Fonte: foto do autor. [35] Mapa cheios e vazios, 2019. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de
107
108
São Caetano do Sul. [36] Mapa de topografia, 2019. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [37] Mapa de fluxos, 2019. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [38] Mapa de uso e ocupação do solo, 2019. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [39] Divisões de macrozonas, 2010. Fonte: Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.saocaetanodosul.sp.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2019. [40] Divisões de macrozonas, 2016. Fonte: Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.saocaetanodosul.sp.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2019. [41] Moodboard de referências projetuais, 2019. Fonte: elaborado pelo autor. ______ . [1] Centro de visitantes do Monastério de Villers. Fonte: Archdaily - fotos de François Lichtle. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/802865/centro-de-visitantes-do-monasterio-de-villers-binario-architectes>. Acesso em: 14 mar. 2019. ______ . [2] OUTROS BAIRROS, Cabo Verde, 2018. Fonte: Archdaily - foto de Diogo Bento. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/923403/outros-bairros-iniciativa-reabilita-um-assentamento-precario-em-cabo-verde?ad_medium=gallery>. Acesso em: 04 nov. 2019. ______ . [3] Brincreto, Paraisópolis, 2018. Fonte: Archdaily - foto de Coletivo LUB. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/909826/brincreto-a-iniciativa-que-transformou-um-terreno-vazio-em-paraisopolis-em-um-espaco-de-brincar>. Acesso em: 04 nov. 2019. ______ . [4] Vila “SOS Children”, Djibouti, 2014. Fonte: Urko Sanchez Archtects - fotos de Javier Callejas. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/783739/vila-sos-children-em-djibouti-urko-sanchez-architects?ad_medium=gallery>. Acesso em: 04 nov. 2019. ______ . [5] Jardim Vicentina, 2010. Fonte: foto de Leonardo Finotti (Vigliecca e Associados). Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/vicentina>. Acesso em: 01 nov. 2019. ______ . [6] Novo e velho armazém de farinha de Rotermann. Fonte: Archdaily - foto de Reio Avaste. Disponível em: <https://www.archdaily.com/330863/rotermanns-old-and-new-flour-storage-hga>. Acesso em: 17 mar. 2019. ______ . [7] Quinta Monroy, México, 2003. Fonte: ELEMENTAL - fotos de Cristobal Palma. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-28605/quinta-monroy-elemental>. Acesso em: 04 nov. 2019. ______ . [8] Casa na Rua das Terras 8. Fonte: Archdaily - fotos de Francisco Nogueira. Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/782307/casa-na-rua-das-terras-8-colectivo-cais>. Acesso em: 17 mar. 2019. ______ . [9] Exposição “Densidade”, 2013. Fonte: foto de Jorge Taboada, X Bienal de Arquitetura de São Paulo. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-156608/exposicao-densidade-conversa-com-o-fotografo-mexicano-jorge-taboada>. Acesso em: 01 nov. 2019. ______ . [10] Rocinha, Rio de Janeiro, 2017. Fonte: Archdaily - foto de Via Visual Hunt / CC BY-NC-SA. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/925627/corticos-eram-melhores-que-as-favelas?ad_medium=gallery>. Acesso em: 04 nov. 2019. ______ . [11] Las Anacuas, México, 2017. Fonte: ELEMENTAL - fotos de ARKRAFT Studio. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/872581/projeto-de-ampliacao-de-uma-das-residencias-incrementais-do-elemental?ad_medium=gallery>. Acesso em: 04 nov. 2019. ______ . [12] Residencial Parque Novo Santo Amaro V, São Paulo, 2012. Fonte: foto de Leonardo Finotti (Vigliecca e Associados). Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca-and-associados>. Acesso em: 01 nov. 2019. ______ . [13] Grotinho de Paraisópolis - construindo espaços de convívio, 2015. Fonte: Boldarini Arquitetos Associados. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/760744/grotinho-de-paraisopolis-construindo-espacos-de-convivio-boldarini-arquitetos-associados>. Acesso em: 01 nov. 2019. ______ . [14] Plano Diretor Sócio-Espacial da Rocinha, 2018. Fonte: Mayerhofer e Toledo. Disponível em: <http://www.mtarquitetura.com.br/>. Acesso em: 04 nov. 2019. [42] Empena viva - Parque Minhocão, 2015. Fonte: Nitsche Arquitetos. Disponível em: <http://www.nitsche. com.br/>. Acesso em: 01 nov. 2019. [43] Estudo Coviver. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [44] Estudo deck do lago. Fonte: croqui elaborado pelo autor. [45], [46] Estudo de intervenção nas fachadas. Fonte: croqui elaborado pelo autor. [47] Estudo Conviver. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [48] Estudo do Mirante. Fonte: croqui elaborado pelo autor. [49] Estudo Conscientizar. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [50] Estudo Conectar. Fonte: croqui elaborado pelo autor. [51] Estudo Conscientizar ampliado. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [52] Diagrama processo de implantação. Fonte: elaborado pelo autor. [53] Estudo Viver. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul.
[54] Diagrama programa. Fonte: elaborado pelo autor. [55] Estudo Viver ampliado. Fonte: elaborado pelo autor com base em cartografias da Prefeitura de São Caetano do Sul. [56], [57], [58], [59], [60], [61], [62], [63], [64], [65], [66] Estudo colaborativo “casa ideal”. Fonte: acervo do autor. [67] Quadrinhos ácidos em: casas, 2014. Fonte: charge de Pedro Leite. [68] Grotinho de Paraisópolis - construindo espaços de convívio, 2015. Fonte: Boldarini Arquitetos Associados. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/760744/grotinho-de-paraisopolis-construindo-espacos-de-convivio-boldarini-arquitetos-associados>. Acesso em: 01 nov. 2019. [69] Hiperverticalização, 2019. Fonte: Cotidiano, Folha de São Paulo. [70], [71] Paraisópolis. Fonte: fotos de Liliana Oliveira. [72] Exposição “Densidade”, 2013. Fonte: foto de Jorge Taboada, X Bienal de Arquitetura de São Paulo. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-156608/exposicao-densidade-conversa-com-o-fotografo-mexicano-jorge-taboada>. Acesso em: 01 nov. 2019. [73] Densidade - consequências. Fonte: elaborado pelo autor com base em SILVA, G.; SILVA, S.; NOME, 2016. [74] Densidade X qualidade. Fonte: elaborado pelo autor. [75] Residencial Parque Novo Santo Amaro V, São Paulo, 2012. Fonte: foto de Leonardo Finotti (Vigliecca e Associados). Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca-and-associados>. Acesso em: 01 nov. 2019. [76] Densidade em ocupação. Fonte: elaborado pelo autor. [77] “Molenvliet”, Papendrecht - Holanda, 1978. Fonte: Foundation for Architectural Research. Disponível em: <http://thematicdesign.org/open-building-experience-1-molenvliet-papendrecht-1978-2/>. Acesso em: 01 nov. 2019. [78] Poder da autoconstrução. Fonte: elaborado pelo autor. [79], [80] Paraisópolis. Fonte: fotos de Liliana Oliveira. [81] Organização espacial de favelas. Fonte: elaborado pelo autor. [82] Cubo expansivo. Fonte: elaborado pelo autor. [83] Diagrama de implantação. Fonte: elaborado pelo autor. [84] Tipologias. Fonte: elaborado pelo autor. [85], [86] 3D geral das unidades habitacionais. Fonte: elaborado pelo autor. [87] Livre + comércio. Fonte: elaborado pelo autor. [88] Tabela de plantas. Fonte: elaborado pelo autor. [89] O efeito Tetris. Fonte: elaborado pelo autor. [90] Diretrizes projetuais. Fonte: elaborado pelo autor com base em NISIDA, 2019.
109
REFERÊNCIAS AMORE, Caio Santo; LEITÃO, Karina. Introdução: Favela de Nome, cidade de fato. In: FERREIRA, Lara; OLIVEIRA, Paula; IACOVINI, Victor (org.). Dimensões do intervir em favelas: desafios e perspectivas. 1ª. ed. [S. l.]: Peabiru TCA / Coletivo Lab Laje, 2019. p. 17-19. BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2005. BONDUKI, Nabil Georges. Autogestão na habitação como política de Estado. [S. l.], 6 dez. 2016. Disponível em: >https://www.cartacapital.com.br/sociedade/autogestao-na-habitacao-como-politica-de-estado/>. Acesso em: 11 out. 2019. BONDUKI, Nabil Georges. Habitar São Paulo: Reflexões Sobre a Gestão Urbana. São Paulo: Estação Liberdade, 2000. BRANDI, Cesari. Teoria da restauração. 1ª. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. BRASIL. Decreto-lei n° 120, de 15 de julho de 1912. Lex: coletânea de legislação: edição municipal, São Caetano do Sul, v. 1, 1912. DEJTIAR, Fabian. Gehl: O paradoxo de planejar a informalidade, 2018. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/890237/gehl-o-paradoxo-de-planejar-a-informalidade>. Acesso em: 10 mai. 2019. FUNDAÇÃO PRÓ MEMÓRIA DE SÃO CAETANO DO SUL. História dos Bairros. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/ HistoriaBairros/List>. Acesso em: 14 abr. 2019. ______ . Raízes, edições 25 e 41. São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.fpm.org.br/>. Acesso em:
22 mar. 2019. FRAMPTON, Adam. Exposição “densidade”. Centro Cultural São Paulo, São Paulo, nov/2013. GEHL, Jan. Cidade para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.
110
GERALDO, Tatiana Zamoner. Regularização Fundiária da Favela Jardim Jaqueline: Um olhar pela atuação e experiência da Defensoria Pública de São Paulo. In: FERREIRA, Lara; OLIVEIRA, Paula; IACOVINI, Victor (org.). Dimensões do intervir em favelas: desafios e perspectivas. 1ª. ed. [S. l.]: Peabiru TCA / Coletivo Lab Laje, 2019. p. 131-140. GOMES, Paulo; ALENCAR, Vagner de. Hiperverticalização chega a favelas de São Paulo, onde lajes se sobrepõem: Em ocupações irregulares, prédios de até cinco andares sem aval técnico se tornam comuns. Folha de São Paulo, São Paulo, 7 set. 2019. Caderno Cotidiano, p. B1-B2. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Sustentabilidade e inovação na habitação popular: O Desafio de Propor Modelos Eficientes de Moradia. [S. l.]: Secretaria de Habitação de São Paulo, 2010. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3ª. ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2011. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011. MOREIRA, Felipe de Freitas. Desafios da Provisão Habitacional em Favelas: O Caso de Heliópolis. In: FERREIRA, Lara; OLIVEIRA, Paula; IACOVINI, Victor (org.). Dimensões do intervir em favelas: desafios e perspectivas. 1ª. ed. [S. l.]: Peabiru TCA / Coletivo Lab Laje, 2019. p. 149-155. NISIDA, Vitor Coelho. A Autorregulação nos Territórios Autoconstruídos. In: FERREIRA, Lara; OLIVEIRA, Paula; IACOVINI, Victor (org.). Dimensões do intervir em favelas: desafios e perspectivas. 1ª. ed. [S. l.]: Peabiru TCA / Coletivo Lab Laje, 2019. p. 119-126. OLIVEIRA, Nielmar de. IBGE divulga grade estatística e atlas digital do Brasil. Rio de Janeiro, 16 mar. 2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-03/ibge-divulga-grade-estatistica-e-atlas-digital-do-brasil>. Acesso em: 11 out. 2019. PEREIRA, Diogo Duarte Alves. Uma habitação transportável e flexível: Archigram como ponto de partida. 2012. Dissertação (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, 2013. PEREIRA, Márcio da Costa. Mutabilidade e habitação de interesse social: precedentes e certificação. 2012. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2012. PINTO, Matheus Graciosi ; DENALDI, Rosana. O Tratamento da Precariedade da unidade Habitacional: O Caso da Favela Tamarutaca. In: FERREIRA, Lara; OLIVEIRA, Paula; IACOVINI, Victor (org.). Dimensões do intervir em favelas: desafios e perspectivas. 1ª. ed. [S. l.]: Peabiru TCA / Coletivo Lab Laje, 2019. p. 157-164. PREFEITURA DE SÃO CAETANO DO SUL. A Cidade. Disponível em: <http://www.saocaetanodosul.sp.gov.br/>. Acesso em: 04 mar. 2019. QUINTELLA, Sérgio. O dono do pedaço: Principal liderança de Paraisópolis, Gilson Rodrigues quer transformar a favela em polo de negócios. Veja São Paulo, São Paulo, p. 12-18, 18 set. 2019. SÃO CAETANO DIGITAL. História de São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.saocaetanodigital.com.br/ projetos/voce-sabia/historia-da-cidade/ Acesso em: 13 mai. 2019>. SÃO PAULO ANTIGA. IRFM - São Caetano do Sul. Disponível em: <http://www.saopauloantiga.com.br/irfm-sao-caetano-do-sul/ Acesso em: 17 mar. 2019>. SILVA, Geovany Jessé Alexandre da; SILVA, Samira Elias; NOME, Carlos Alejandro. Densidade, dispersão e forma urbana: dimensões e limites da sustentabilidade habitacional. [S. l.], 16 fev. 2016. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5957>. Acesso em: 11 out. 2019. SILVA, Ana Amélia. Ubanização de favelas: duas experiências em construção. São Paulo: Instituto Pólis, 1994. 120p. (Publicação Pólis, 15)
111
ILUSTRAÇÕES
capa e verso [Felipe Menezes] p. 8, 10-11, 24-25, 42-43, 52-53, 56-57, 106 [Felipe Menezes] 3D tipologias: modelagem [Felipe Menezes], pós produção [Kassio Massa]
COVIVER