Grupo Renascença - Relatório de Estágio

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Licenciatura em Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia

Relatório de Estágio

Orientadora: Ana Isabel Reis Aluno: Adriano Cerqueira Ljcc06007


Agradecimentos Agradeço a Teresa Almeida, Sérgio Costa, José Bastos, Pedro Mesquita, André Rodrigues e Raul Santos pelo acompanhamento e pela ajuda prestada ao longo do estágio. A Catarina Santos, Letícia Amorim, Pedro Rios e Sílvio Vieira pelo convívio e pela partilha das suas experiências como antigos alunos de Jornalismo e Ciências da Comunicação. A Alcindo Carvalho, Paulo Teixeira, José Luís e a

Zélia

Valente

pela

paciência

e

disponibilidade demonstrada durante os três meses de passagem pela RR. À Dona Adelina e ao Sr. José pelas óptimas refeições e pela simpatia e bom ambiente que traziam à hora de almoço. A Pedro Leal e a Carmo da Fonseca pelos conselhos

e

pela

ajuda

prestada

na

adaptação ao estágio. E à minha coordenadora, Isabel Reis, por ser uma constante fonte de inspiração e pela prontidão em esclarecer todas as dúvidas e em ouvir os ocasionais lamentos que surgiram ao

longo

Renascença.

destes

três

meses

na

Rádio


Índice Índice................................................................................................................................................... 3 Introdução .......................................................................................................................................... 4 I – Grupo Renascença...................................................................................................................... 6 Rádio Renascença ........................................................................................................................ 6 II – Organização interna e modo de funcionamento................................................................. 9 III – Trabalho Efectuado................................................................................................................13 Tabela 1: Género das peças realizadas .........................................................................13 Tabela 2: Natureza das peças realizadas ......................................................................13 Tabela 3: Temas das Notícias.............................................................................................13 Gráfico: Temas das Notícias (%)........................................................................................14 Desemprego e despedimentos: Caso Imperconser e Yazaki Saltano .........................18 Do Vídeo ao Papel ...............................................................................................................19 Economia de temas................................................................................................................20 IV – Reflexão ..................................................................................................................................21 Trabalho na Redacção vs. Reportagem no terreno ............................................................21 Relação com as fontes...............................................................................................................22 Articulação com o Curso ...........................................................................................................23 V – Conclusão..................................................................................................................................26 VI – Bibliografia .............................................................................................................................27 Anexos ..............................................................................................................................................28


Introdução Este relatório tem como objectivo a descrição do estágio curricular realizado num período de três meses entre 3 de Março e 5 de Junho de 2009, na delegação do Grupo Renascença no Porto, sediado em Vila Nova de Gaia. Na primeira reunião foi decidido que o estágio iria ocorrer no horário da manhã, todos os dias úteis entre as oito da manhã e as três da tarde. A escolha recaiu sobre este horário por ser o principal período de actividade da delegação do Porto da Rádio Renascença (RR). Das onze da manhã às duas da tarde, a emissão do jornal nacional da RR é feita a partir dos estúdios do Porto, assim como o destaque do dia, emitido logo após a informação das doze horas, e a revista de imprensa internacional, emitida por volta das 9h30. Durante os restantes horários – Tarde (13h às 20h), Noite (16h – 0h) e Madrugada (0h – 8h) – a emissão passa para os estúdios de Lisboa, contudo costumam ficar alguns jornalistas na redacção do Porto para cobrir eventos noticiosos que ocorram fora do horário da manhã na região Norte ou para auxiliar a redacção de Lisboa, caso seja necessário. Desta forma, excepto por motivos de força maior que impedissem a presença do estagiário durante o período da manhã, os restantes horários foram desaconselhados. É também durante o horário da manhã que se realizam as principais emissões dos noticiários da delegação da Rádio SIM no Porto, nomeadamente no período entre as onze da manhã e as três da tarde. Foi decidido logo de início que a maioria das peças realizadas durante o estágio curricular estariam sob a responsabilidade de Teresa Almeida, editora da Rádio SIM, cabendo ao estagiário a organização de contactos, recolha de depoimentos e autónoma edição de som e texto, sujeitos a posterior avaliação por parte do editor da Rádio SIM, efectuando as alterações necessárias para a peça poder ir para o ar. Nos três meses de duração do estágio a edição da Rádio SIM coube a Teresa Almeida, e na sua ausência, os jornalistas André Rodrigues e Cristina Branco tomaram o lugar de editores da Rádio SIM. Para além das peças realizadas para a Rádio SIM, o estágio também incluiu uma colaboração com a Rádio Renascença, no acompanhamento de jornalistas (Cristina Branco, Henrique Cunha e Pedro Mesquita), na cobertura de conferências de imprensa e eventos de natureza similar, no contacto com fontes e na recolha de declarações. A par das colaborações com a Rádio SIM e RR, era também habitual a colaboração com o Página 1. As principais funções cumpridas ao serviço do Página 1 foram desde a transcrição de declarações e registos sonoros emitidos na Rádio Renascença, passando


pela escrita de versões para imprensa de peças de rádio realizadas pelo estagiário, à colaboração em reportagens vídeo. Numa fase inicial, o papel do estagiário limitava-se à observação do trabalho dos restantes jornalistas, compreensão das diversas actividades do dia-a-dia na redacção e observação do trabalho jornalístico no terreno. Embora pontualmente fosse solicitado para ajudar algum jornalista quer na edição de registos sonoros, quer na recolha dos mesmos, – por ausência de pessoal ou devido às peripécias do tempo – na maioria das vezes, era solicitada ao estagiário a elaboração de uma peça para emissão num determinado noticiário do período da manhã, quer da Rádio SIM, quer, ocasionalmente, da Rádio Renascença, sendo que a edição do texto e do som recaía sob a responsabilidade do estagiário. Nos casos em que era necessário o estagiário deslocar-se para fora da redacção, este teria que requisitar o equipamento e o dinheiro necessário para o transporte. Ao regressar à redacção, o estagiário devia apresentar o equipamento em bom estado e os recibos que comprovassem o total do dinheiro gasto na deslocação, assim como o devido troco. Os gastos eram registados pela secretária de redacção, Zélia Valente, e assinados pelo jornalista que requisitou o serviço ao estagiário. Ao longo deste relatório serão abordados os diversos aspectos que envolveram o estágio curricular no Grupo Renascença, com enfoque na organização da redacção e nas notícias e acontecimentos que envolveram os três meses de estadia na delegação da RR no Porto. O principal objectivo deste relatório passa pela reflexão sobre o trabalho realizado ao longo do estágio e pelas mais-valias curriculares e profissionais que este período de três meses ofereceu.


I – Grupo Renascença Rádio Renascença A Rádio Renascença iniciou a actividade em 5 de Julho de 1936 com experiências regulares em onda curta em instalações na Charneca do Lumiar, com o objectivo de “fornecer notícias sobre a Igreja e promover a expansão da sua doutrina em todos os meios sociais portugueses” (Rodriguéz, 1996: 390). Mas foi a 1 de Janeiro de 1937 que se iniciaram as emissões diárias em onda média e curta com os emissores de Lisboa. Um mês depois do início das emissões diárias, os estúdios da Rua Capelo ficaram prontos e a RR instalou-se nesse local onde ainda hoje permanece. Em 10 de Abril de 1938 foi então oficializada a RR como membro da Acção Católica Portuguesa e o Padre Lopes da Cruz assumiu o cargo de direcção da Renascença1. “Para além da vontade de chegar a todos os portugueses, a Rádio Renascença tinha uma outra razão de ser: Uma Emissora Católica tem de ser, antes de mais, uma boa rádio; fazer também o que as outras fazem mas sempre à luz dos princípios doutrinários da Igreja”2 A RR sempre foi considerada uma emissora popular que nunca escondeu a ligação com a Igreja. Um dos episódios mais marcantes da sua História aconteceu durante o PREC (Período Revolucionário Em Curso), quando a 7 de Novembro de 1975 as instalações da Emissora Católica foram ocupadas e os emissores da Buraca foram destruídos. Contudo, em Dezembro desse mesmo ano, o controlo da Rádio Renascença foi devolvido à Igreja Católica e as emissões normais retomaram em Janeiro de 1976. Em Agosto de 1981 inaugurou as emissões regulares em onda curta para o Brasil e em Janeiro de 1987 foi pioneira nas emissões regulares em FM, dando início às emissões da RFM, durante vinte e quatro horas, e cobrindo todo o território continental português (Rodriguéz, 1996: 390). Além destes canais, a RR emite também programação de âmbito regional em OM e FM a partir de estúdios próprios, instalados sucessivamente em diversas cidades,

1 Historial da Rádio Renascença. (2008). Retirado em 23 de Junho de 2009, de Grupo Renascença, Endereço na Internet: http://www.rr.pt/grupoRR/historial.aspx; 2 Idem;


na sua maioria sedes de Dioceses, como Évora, Braga, Lisboa, Chaves, Porto, Viseu, Leiria e Elvas.3 Em 1980 a Rádio Renascença inicia o projecto da criação de uma televisão da Igreja. Ao ser-lhe recusada esta possibilidade pelo Governo da altura, inicia o processo de criação da TVI, cujo alvará de licenciamento foi concedido. No início de 1991, o governo de Cavaco Silva lançou as bases para a criação de dois novos canais privados, que acabaram por ser concedidos ao grupo TVI da Rádio Renascença e da Igreja, e à SIC – Sociedade de Comunicações Independente, que pertence ao grupo jornalístico de Pinto Balsemão (Rodriguéz, 1996: 389). Nos anos 90 a RR já liderava as audiências de rádio, e assim decidiu apostar na emissão por satélite para todo o território português, resto da Europa e um pouco por todo o mundo, de forma a chegar aos emigrantes portugueses. Em 2000, o Grupo Renascença, através dos seus 3 canais (Rádio Renascença, RFM e MEGA FM), detém a liderança absoluta da audiência nacional de rádio. “A Emissora Católica Portuguesa continua a ser a preferida pelos portugueses com mais de 45 anos, enquanto a RFM lidera as audiências junto das pessoas entre os 15 e os 44 anos. Por seu lado, a MEGA FM, detém na região da Grande Lisboa a liderança do grupo etário dos 15 aos 24 anos, e também entre os estudantes. No seu conjunto, o Grupo Renascença tem mais audiência do que o total das restantes rádios nacionais e regionais. Mais de 3 milhões de portugueses escutam regularmente as suas emissões, que se distribuem por mais de 122 horas diárias de programação, dos 2 canais nacionais (RR e RFM), cada um deles emitindo 24 horas por dia, dos seus sete Estúdios Regionais (Braga, Porto, Viseu, Fátima, Leiria, Elvas e Évora) e das 3 rádios da MEGA FM (Lisboa, Porto e Coimbra), para o que dispõe de 60 emissores, espalhados por todo o território continental português.”4 Para além da RR, o Grupo Renascença detém ainda a RFM, – rádio de formato musical com informação, criada em 1 de Janeiro de 1987, dirigida particularmente às classes média-alta e alta e a um grupo etário entre os 25 e os 45 anos – a MEGA FM, – cuja primeira emissão se realizou em 7 de Setembro de 1998, na região da Grande Lisboa, é uma rádio eminentemente musical, feita por jovens e dirigida aos jovens, entre os 15 e os 25 anos, com emissões a partir de Coimbra e do Porto – a recém-criada 3 Historial da Rádio Renascença. (2008). Retirado em 23 de Junho de 2009, de Grupo Renascença, Endereço na Internet: http://www.rr.pt/grupoRR/historial.aspx; 4 Idem.


Rádio SIM e o jornal online Página 1. A Renascença não deixa de lado as novas tecnologias através de uma aposta forte no seu sítio na Internet, recentemente renovado de forma a proporcionar um serviço mais “user friendly”. Para além de proporcionar emissões online de todos os canais do Grupo Renascença, a RR tem vindo a apostar em reportagens vídeo e multimédia, culminando com o início das emissões da WebTV – prevista para entrar em funcionamento até ao final de 2009, já com uma emissão experimental em 7 de Junho de 2009, aquando da cobertura das eleições europeias. A Rádio Renascença é uma sociedade por quotas, com Capital Social de € 7,5 Milhões e pertence 60% ao Patriarcado de Lisboa e 40% à Conferência Episcopal Portuguesa. No primeiro trimestre de 2009 o Grupo Renascença foi o líder das audiências de rádio, com um share total de 40,8 %, dividido pelas suas quatro emissoras. A RFM foi a emissora mais ouvida a nível nacional com 23,6 % da audiência, seguida pela Rádio Renascença que alcançou um share total de 14,4 %. A MEGA FM permanece como a terceira rádio do grupo, com 2,3 % de audiência, já a Rádio SIM registou 0,6 %.5

Retirado em 23 de Junho de 2009, de Marktest - Bareme Rádio, Endereço na Internet: http://www.marktest.pt/produtos_servicos/Bareme_Radio/default.asp?c=1014&n=1994 5


II – Organização interna e modo de funcionamento Para além de servir a Rádio Renascença, os estúdios do Porto incluem ainda as redacções da Rádio SIM, Mega FM, Página 1 e até à data deste relatório encontram-se em processo de finalização os estúdios da WebTV do Grupo Renascença, cujas emissões deverão ter início até ao final do ano corrente. A redacção do Página 1, jornal gratuito de edição online do Grupo Renascença, também é responsável pela produção de conteúdos multimédia (vídeos, infográficos, fotogalerias e reportagens multimédia) para o sítio na Internet da Rádio Renascença – http://www.rr.pt. As várias redacções da Renascença Porto, com a excepção da Mega FM, encontram-se concentradas numa única sala, estando cada equipa separada pelos seus postos de trabalho. A redacção da Rádio Renascença é composta por José Bastos, principal editor e responsável pela revista de imprensa internacional, Sérgio Costa, Henrique Cunha, Pedro Mesquita e Carolina Duarte. Por diversas vezes a edição dos noticiários da manhã e do destaque do meio-dia é delegada para Sérgio Costa ou Henrique Cunha, caso o José Bastos não possa estar presente. Pedro Mesquita fica também responsável pela revista de imprensa internacional na ausência de José Bastos, sendo que essa tarefa também costuma recair sobre ele, mesmo quando o José Bastos se encontra a editar. Já Carolina Duarte e Henrique Cunha são habitualmente destacados para reportagens de exterior. A Carolina Duarte é habitualmente destacada para assuntos de Política e de Justiça, enquanto Henrique Cunha trabalha mais em assuntos de Economia. A direcção é composta por Pedro Leal, director adjunto de informação, que apenas se encontra no Porto às segundas e sextas-feiras, ocupando o resto do tempo em Lisboa, e por Joaquim Carmo da Fonseca, director do Centro de Produção Norte. Como assistente religioso e assídua presença na redacção, encontra-se o Padre Jorge Duarte. As manhãs para a redacção da Rádio Renascença começam às sete, mas apenas por volta das oito horas tem início a reunião para decidir o tema do destaque do meiodia e a organização das temáticas abordadas ao longo dos noticiários do período da manhã. A primeira hora de trabalho é então dedicada à revista de imprensa diária, à organização da agenda e à leitura de telexes, sempre com atenção às emissões dos noticiários de Lisboa. Em caso de programação de agenda ou de algum evento de última hora, são delegados jornalistas para se deslocarem ao local, caindo essa tarefa sobre Henrique


Cunha, Carolina Duarte ou Pedro Mesquita. A Renascença possuiu ainda colaboradores e jornalistas espalhados por várias delegações regionais (Algarve, Chaves, Braga, Viseu, Leiria, Elvas, Évora, etc.) que caso seja necessário são chamados a cobrir algum acontecimento nas suas regiões ou a colaborar com os noticiários ao produzirem reportagens que encaixem numa determinada temática. Como por exemplo, a quando do início da época balnear, a RR contactou António Trota, correspondente no Algarve, para se deslocar a Portimão e fazer uma reportagem sobre a preparação dos nadadores-salvadores e do ISN (Instituto de Socorros a Náufragos) para o início da nova época balnear. A reunião para decidir o tema do destaque do meio-dia é feita em ambiente informal na própria redacção. Na maioria das vezes o tema já foi decidido anteriormente e é facilmente encontrada uma decisão unânime. Contudo, por vezes surgem dois ou mais temas de igual importância o que torna a decisão mais difícil, acabando por ser escolhido aquele cujos intervenientes se mostrem mais propícios a prestar declarações. Em caso de dúvida é requisitada a ajuda da redacção de Lisboa, mas na maioria das vezes a decisão cabe à redacção do Porto. Assim que é escolhido o tema a abordar no destaque do meio-dia, Sérgio Costa comunica a escolha à redacção de Lisboa e comenta com eles a forma como será abordado o tema. Terminada a reunião são delegadas tarefas específicas a cada jornalista. Muitas vezes é pedido ao estagiário para assistir na recolha de declarações e edição do respectivo registo sonoro. O texto da notícia é elaborado pelo jornalista que requisitou a ajuda do estagiário, contudo, por vezes é o próprio que elabora o texto, sendo este alvo de avaliação posterior por parte do jornalista. A versão final da notícia cabe ao editor designado para o dia em questão. Para a emissão do noticiário o editor desloca-se para a cabina principal, onde é auxiliado por outro jornalista e por Alcindo Carvalho, técnico da cabina, responsável por colocar os registos sonoros no ar. Os sons usados na emissão são catalogados numa lista segundo a ordem de cada notícia e cabe ao técnico colocá-los no ar. Os noticiários da RR funcionam com um tempo fixo há volta dos sete minutos, com a excepção do destaque do meio-dia que tem a duração de nove minutos, este tempo pode ser alterado por motivos de força maior, mas tal é raro acontecer. Assim que termina o tempo do noticiário, a emissão regressa para os animadores nos estúdios de Lisboa. Este tempo fixo obriga, por vezes, que certas peças não sejam emitidas, a decisão é feita na hora, com o editor a comunicar ao técnico para “deitar abaixo” um determinado som, enquanto outro registo sonoro está no ar. Durante o noticiário o técnico faz o ponto de situação ao referir o tempo restante, se é necessário retirar alguma peça do


alinhamento ou se ocorre algum problema técnico que obrigue o editor a ganhar tempo enquanto se espera que o problema seja resolvido. Nessas ocasiões o editor recorre à informação auxiliar que tem em sua posse, no entanto, a experiência acaba por ser o factor principal na forma como a situação é resolvida. Na eventualidade de sobrar tempo no noticiário – algo raro mas que pode acontecer – o editor tem sempre à sua disposição algumas breves, por vezes sugeridas pela Rádio SIM, para encher os segundos restantes. Também é habitual o editor aproveitar a oportunidade para promover junto dos ouvintes alguma reportagem multimédia exibida no sítio na Internet da Renascença. A rotina da Rádio SIM é muito similar à da Rádio Renascença. A equipa é constituída por Teresa Almeida, editora, pelos repórteres André Rodrigues e Cristina Branco e pelo técnico Paulo Teixeira. A Rádio SIM é uma rádio de âmbito regional dedicada aos idosos, por isso o alinhamento noticioso inclui notícias de natureza local, com enfoque em temáticas como a saúde, segurança social e políticas autárquicas. O nível de partilha e colaboração entre ambas as rádios é muito vasto, quanto mais não seja por ambas partilharem o mesmo posto de trabalho, sem qualquer separação física entre elas. É comum uma notícia coberta pela Rádio SIM acabar no noticiário da RR, ou vice-versa. Também é costume a colaboração entre repórteres e correspondentes de ambas as rádios. O dia da Rádio SIM tem início por volta das oito horas, quando começam a ser delegadas as diversas tarefas entre os vários jornalistas e correspondentes. Devido à natureza regional desta rádio, são muitas vezes requisitadas reportagens aos repórteres das várias delegações regionais da RR. Os noticiários da Rádio SIM contam também com uma larga colaboração dos estagiários, cabendo a eles a cobertura de eventos de agenda, o contacto com as fontes e a elaboração de peças. É na Rádio SIM que o estagiário sente a maior liberdade, estando apenas impedido de dar voz às reportagens. Os noticiários editados por Teresa Almeida ocorrem de uma forma muito semelhante aos de José Bastos, embora decorram num estúdio secundário, visto as emissões dos noticiários da RR e da Rádio SIM serem em simultâneo. Enquanto para a RR a cabina do técnico encontra-se separada do estúdio principal, a Rádio SIM emite a partir de uma cabina mista, com o técnico Paulo Teixeira a contactar directamente com a editora. Os noticiários da Rádio SIM a partir dos estúdios do Porto têm início às onze horas e terminam às três da tarde. A rotina no Página 1 é feita a um ritmo mais calmo que o das rádios. A equipa começa a juntar-se na redacção por volta das nove, mas apenas às dez é que costumam estar todos presentes. A equipa é formada por Raul Santos, Hugo Monteiro, Letícia


Amorim, Catarina Santos e Pedro Rios. O Página 1 tem um forte conteúdo noticioso baseado nas notícias emitidas pela Renascença nesse dia, contudo também produzem conteúdos próprios, sem esquecer os conteúdos multimédia disponíveis no sítio da RR criados pela equipa do Página 1. Existe uma directa colaboração entre a rádio e o jornal, já que o destaque do meio-dia é extensamente desenvolvido na edição impressa. Contudo, o Página 1 também produz o seu próprio conteúdo, com destaque para a efeméride do dia, agendada com alguma antecipação, mas que normalmente acaba por apenas ser finalizada no dia programado para a sua publicação. Como exemplo, o dia 18 de Maio de 2009 marcava mais um aniversário da morte de Ian Curtis, vocalista da banda britânica Joy Division, e para marcar a ocasião Pedro Rios elaborou uma peça sobre o artista que foi publicada nesse mesmo dia. A redacção principal do Grupo Renascença conta ainda com a secção de desporto responsável pela emissão do programa de informação desportiva “Bola Branca”. A equipa é composta por Pedro Azevedo, Sílvio Vieira, Trindade Guedes e Joaquim Vieira. A equipa do Bola Branca é também responsável pela emissão dos relatos de futebol. A revista de imprensa diária é o principal factor no processo de escolha e elaboração das notícias a serem abordadas. Os takes da Lusa e da Reuters também fazem o seu papel, à medida que surgem notícias de última hora. O acesso aos telexes é feito através de um programa chamado Radar NET. Algumas notícias também surgem através de contactos externos, quer através de colaboradores, quer através de gabinetes de imprensa de entidades interessadas. O processo de elaboração das notícias é todo feito no programa Mar4Schedule. Este programa funciona através do servidor principal da RR e é acessível através de qualquer computador da redacção das rádios. O Mar4Schedule é usado para a gravação de sons nas cabinas com acesso telefónico, para edição dos mesmos, escrita dos textos e criação de listas para a emissão dos registos sonoros em antena. Uma ferramenta útil para facilitar o trabalho do jornalista. Em todos os aspectos o ambiente na redacção é de uma alegre camaradagem apenas interrompida por uma eventual discussão motivada pelo stress do tempo. A delegação do Grupo Renascença no Porto apresenta um bom ambiente de trabalho sem esquecer a seriedade do jornalismo que produz.


III – Trabalho Efectuado Tabela 1: Género das peças realizadas Género Notícia Pequena Reportagem Total

Número 44 20 64

Tabela 2: Natureza das peças realizadas Natureza Peça de Redacção Acompanhamento de Jornalista Vox Pop Cobertura de Conferência Reportagem Vídeo Notícia de Imprensa Total

Número 45 4 3 10 1 1 64

Tabela 3: Temas das Notícias Tema Ambiente Casos do Dia Ciência Cultura Desporto Economia Educação Efeméride Local Meteorologia Política Saúde Sociedade Total

Número 2 5 1 6 1 22 5 1 5 8 1 4 3 64


Gráfico: Temas das Notícias (%)

Saúde 6%

Sociedade 5%

Política 2%

Ambiente 3%

Casos do Dia 8% Ciência 2% Cultura 9%

Meteorologia 12%

Ambiente Casos do Dia Ciência Cultura

Desporto 2%

Desporto Economia Educação Efeméride Local

Local 8%

Meteorologia Política Saúde

Efeméride 2% Educação 8%

Sociedade

Economia 33%

Após uma fase inicial de adaptação ao ambiente e às rotinas da redacção tem início o estágio propriamente dito. Os dois primeiros dias serviram para conhecer as pessoas com quem iríamos trabalhar ao longo dos três meses seguintes e para me familiarizar com as instalações e com o sistema informático. A cada estagiário é atribuído um login de acesso à rede de computadores da Renascença e é revelada a password que permite trabalhar no servidor do Mar4Schedule. O Mar4Schedule é, no fundo, a principal ferramenta ao serviço de um jornalista da RR, e o período de adaptação ao mesmo é um processo lento que apenas através da prática é possível concretizar. Alcindo Carvalho foi o responsável por ensinar a usar o programa para gravar chamadas, editar os registos sonoros e criar o texto das notícias. Apesar dos seus métodos pouco ortodoxos a sua ajuda foi fulcral para a compreensão do programa. Ao terceiro dia teve início a atribuição de trabalhos. O estagiário devia todas as manhãs fazer uma revista de imprensa em busca de algum tema que pudesse interessar quer à Rádio SIM, quer à Renascença, contudo, na maioria das vezes as tarefas do estagiário eram definidas pelos editores o que deixava a possibilidade de elaboração de temas auto-propostos para dias menos agitados. Como o trabalho tinha que ser dividido entre dois estagiários, nem sempre ambos tinham a mesma carga de trabalho, embora os editores procurassem sempre uma distribuição equitativa das tarefas. No terceiro dia, a outra estagiária teve a primeira saída em reportagem a acompanhar a jornalista Cristina Branco ao Tribunal de Valongo, ansioso por começar a


trabalhar perguntei à Teresa Almeida, que editava a Rádio SIM naquele dia, se havia alguma notícia para eu desenvolver, e assim ela atribuiu-me uma peça sobre o atraso no acerto dos preços dos combustíveis por parte da Galp. Para comentar a notícia contactei com Augusto Cymbrom, na altura Presidente da ANAREC (Associação de Revendedores de Combustíveis) que mais tarde veio a ser substituído no cargo por Virgílio Constantino, após eleições na associação, outro assunto que mais tarde também fiquei encarregue de desenvolver. No dia seguinte tive a primeira saída em reportagem, desta feita para acompanhar a jornalista Cristina Branco num vox pop sobre o Aeroporto Sá Carneiro e numa conferência de imprensa da PJ sobre a apreensão de um milhão de dólares em notas falsificadas. Quando um jornalista sai em reportagem há todo um processo de preparação prévio para ter todo o equipamento que necessita. A secretária de redacção, Zélia Valente, prepara todos as manhãs as bolsas de reportagem. Elas contêm um gravador, um microfone da RR e outro suplente, um cabo para ligar o micro ao gravador e outro cabo de “line in” para ligar o gravador a uma mesa de mistura, caso seja necessário, um tripé e um pacote de pilhas suplentes. O jornalista também requisita um telemóvel, e ao fazê-lo indica ao editor o respectivo número, caso seja necessário contactá-lo. O uso dos carros da Renascença também é sujeito a requisição prévia, tendo que ser feita na secretaria da entrada. Para além dos documentos, chave e cartão da Galp para encher o depósito, o jornalista leva também um livro onde regista a quilometragem e as horas em que usou o carro. Embora os carros tenham seguro, o pagamento de eventuais multas cabe ao jornalista. Já aos estagiários não lhes é permitido conduzir os carros da Renascença, sendo que quando saem em reportagem têm que usar transportes públicos, com todos os gastos em deslocações a serem cobertos pela RR. Ver a Cristina Branco a trabalhar ajudou a compreender todo esse processo e também o modo de funcionamento do gravador. O mais interessante do acompanhamento de jornalistas no terreno é a forma e a rapidez com que eles escrevem o texto da notícia e seleccionam os registos sonoros no local para depois ligarem para a redacção e gravarem directamente a peça já com os sons intercalados, tudo isto através de telemóvel. Observar o Alcindo Carvalho a tratar os sons e a recebê-los na sua cabina também não fica atrás. Muitas vezes os jornalistas ligam poucos minutos antes do noticiário ir para o ar, mas as peças ficam sempre prontas para serem lançadas a tempo. A gravação de peças por telemóvel apenas é usada caso o jornalista não consiga chegar à redacção a tempo de gravar a peça e cortar ele próprio os sons. É


comum também ser-lhe pedido um directo no local, todo ele feito através de telemóvel. Nessas ocasiões é comum a peça propriamente dita apenas sair no noticiário seguinte já devidamente tratada na redacção. Tive a oportunidade de acompanhar o trabalho de Cristina Branco, Henrique Cunha e Pedro Mesquita no terreno. Acompanhei o Henrique Cunha na cobertura de um seminário sobre arrendamento que contou com a presença do Secretário de Estado da Administração Local, nesse caso o Henrique Cunha aproveitou as notas do seminário para fazer uma notícia de antecipação sobre os assuntos que iam ser debatidos. A reportagem propriamente dita acabou por ser feita na redacção já que ainda havia tempo para voltarmos logo após as principais intervenções. Nesse dia também aprendi todo o processo de procura pela mesa de mistura para retirar o som da conferência, assim também como o que fazer quando não existe uma mesa preparada, como foi o caso. Nesta situação, foi necessário socorrer do tripé e montar o gravador no palanque em que os convidados iam discursar. Esta experiência acabou por ser útil em outros serviços. Esta foi a minha segunda saída a acompanhar um jornalista e a primeira vez em que me senti mal preparado. Desconhecia totalmente o tema, e tive que pedir ajuda ao Henrique na selecção dos sons e na construção da minha peça. No final ele corrigiu bastante o meu texto, o que me levou a procurar informar-me melhor sobre temas de política e economia que dominava pior, e, felizmente, esse sentimento de pouco à vontade não se repetiu. Antes deste episódio, no quarto dia de estágio, tive a primeira saída sozinho. José Bastos pediu-me para ir à sede da Federação de Associações de Pais do Concelho do Porto (FECAP) cobrir a conferência sobre a performance de Margarida Moreira, Presidente da DREN (Direcção Regional de Educação do Norte). Após me ensinarem a usar o gravador e explicarem como tinha que fazer para pedir o dinheiro para os transportes, saí da redacção com a bolsa de equipamento, sem me esquecer do bloco e da caneta, ferramentas indispensáveis que me acompanharam ao longo do estágio. Confesso ter sentido algum nervosismo pela responsabilidade que me tinham incumbido, ainda tão no início do estágio. Rapidamente a ansiedade desvaneceu, muito por causa das indicações que me deram para chegar ao local se terem mostrado completamente inúteis. Vi-me perdido na zona do Heroísmo à procura da sede da FECAP, tive a sorte de encontrar uma senhora que conhecia a rua, mas tal não me impediu de chegar com meia hora de atraso à conferência. Felizmente, esta ainda não tinha começado. Como um azar nunca vem só, o meu gravador ficou sem bateria perto do final da conferência, contudo já tinha gravado tudo o que pretendia. De regresso à redacção tive que me habituar a passar os sons do gravador para o computador, quanto ao processo de


edição, correu normalmente, visto já ter alguma prática com peças feitas nos dias anteriores. Com este incidente aprendi a verificar a bateria do gravador antes de sair, e a sair da redacção com alguma antecedência, contudo, não deixaram de surgir outros problemas técnicos e logísticos. Um dos principais problemas ocorreu por três vezes, duas das quais a envolver Luís Filipe Menezes, Presidente da Câmara de Gaia. A primeira aconteceu a quando da inauguração do novo edifício da Gaiurb. Nessa ocasião liguei o gravador à mesa através do cabo do microfone o que fez com que o som ficasse saturado, o procedimento correcto seria ligar o gravador à mesa com o cabo “line in”, algo que apenas aprendi mais tarde com a ajuda de um técnico de som, noutra conferência de Luís Filipe Menezes. Dessa vez, tratava-se da assinatura do protocolo da Câmara de Gaia com o projecto Condomínio da Terra. Fui enviado a pedido de Sérgio Costa, não só para cobrir a conferência mas para questionar o exlíder do PSD sobre as declarações de Manuela Ferreira Leite sobre o futuro do PSD. No entanto, o microfone não funcionava, isto por que, e só vim a descobrir meses mais tarde, o gravador estava em modo linha e não em modo micro, tive que recorrer ao bloco de notas e pedi ainda ajuda a um jornalista do Porto Canal para, se fosse necessário, mais tarde me fornecer o som. Chegado à redacção expliquei o que se passou a Sérgio Costa que disse para esquecer a situação, já que a resposta de Luís Filipe Menezes foi simplesmente “não ouvi as declarações de Ferreira Leite, por isso não posso comentar”. Não se pode contar apenas com a sorte, e não tardou a chegar o dia que iria confirmar essa afirmação. No dia 27 de Março, no final de uma semana completa de serviços fora da redacção, calhou-me, a pedido de Pedro Mesquita, a cobertura da assinatura de contractos de arrendamento na sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD). À parte de uma confusão inicial com o assessor que não esperava a presença de uma rádio no evento, tudo correu bem, ou assim pensei. Chegado à redacção reparei que o gravador tinha apenas captado estática, contei ao Pedro Mesquita o que se passou e ele apenas disse: “Deixa estar, acontece.” Fiquei algo abalado, então fui arrumar o equipamento enquanto pensava no que podia ter corrido mal. Voltei a ligar o gravador ao PC e descobri que embora a entrevista não tivesse sido gravada, o som da conferência estava bom. Voltei a falar com o Pedro Mesquita que, como estava próximo do noticiário do meio-dia, pediu-me para cortar rapidamente os sons mais importantes, assim o fiz, e a peça acabou por ser emitida no destaque. Estes exemplos foram a excepção à regra, mas permitiram ganhar um maior respeito pela tecnologia e pela arte da preparação de uma saída em reportagem.


A peça de maior responsabilidade que me foi atribuída foi a cobertura da assinatura do protocolo de investimento para as exportações das Pequenas e Médias Empresas, que contava com a presença do Ministro da Economia, Manuel Pinho. Sérgio Costa delegou-me esse serviço com o pedido que colocasse duas perguntas ao Ministro, se já havia alguma decisão sobre o futuro da Qimonda e outra sobre o previsto aumento do preço dos combustíveis. A conferência correu normalmente e no fim Manuel Pinho fez a habitual conversa à Imprensa. Apesar de estar na companhia de alguns jornalistas conhecidos da RTP, SIC e Antena 1, lidei com a situação como se se tratasse de outra conferência de Luís Filipe Menezes. A última questão coube a mim. Questionei o Ministro sobre o aumento do preço dos combustíveis, ao qual ele disse: "Vocês só falam de coisas negativas!" e recusou-se a responder, deixando a ideia que não estava preparado para falar sobre aquele assunto. Os assessores encaminharam-no para fora da sala e terminou a conferência. Liguei para o Sérgio Costa a contar o que se tinha sucedido e qual tinha sido a resposta do Ministro à questão da Qimonda. O Sérgio pediu-me então para contactar com o Alcindo Carvalho e pedir para ele gravar o som através de telemóvel. Assim fiz. Tive que encontrar um local sossegado, seleccionar o registo sonoro directamente do gravador e pedir ao Alcindo para iniciar a gravação. Ainda tive vontade de dizer “1, 2, 3, grava” mas resisti e apenas disse “aqui vai”. Foi a primeira vez desde o início do estágio que me senti como um verdadeiro repórter de rádio. Chegado à redacção, tratei o som para poder ser emitido posteriormente e fiz uma peça sobre a assinatura do protocolo para a Rádio SIM.

Desemprego e despedimentos: Caso Imperconser e Yazaki Saltano Como natural de Ovar vivi de perto o processo de deslocalização da Yazaki Saltano e os despedimentos de centenas dos seus trabalhadores. No dia em que li no Jornal de Notícias uma notícia sobre o lay-off de cerca de cinquenta trabalhadores da Yazaki Saltano de Ovar, não pude deixar de pedir à Teresa Almeida se podia fazer a cobertura da notícia. Ela aceitou. Como já tinha feito por motivos curriculares uma reportagem sobre o futuro de incerteza que os trabalhadores da fábrica de Ovar viviam, usei os contactos dessa altura para fazer a peça. Não é fácil manter a distância quando se trata de um assunto que nos atinge tão perto de “casa”, mas a imparcialidade nunca esteve em questão. Outro caso que acompanhei do início ao fim foi o processo de lay-off da Imperconser, empresa de conservas de Vila do Conde. Por mero acaso foi-me atribuída essa peça no início de Abril, no dia em que o Tribunal do Comércio de Gaia


supostamente iria decidir sobre a continuidade ou não da empresa. Contactei com José Lapa, delegado sindical da empresa, para saber o que se poderia passar naquele dia e fazer uma peça de antecipação. André Rodrigues, que naquele dia editava a Rádio SIM, pediu-me para ir ao Tribunal do Comércio ver qual a decisão da Assembleia de Credores e talvez fazer um vox pop entre os empregados da Imperconser. A decisão acabou por ser adiada, e por isso André Rodrigues sugeriu que ignorasse o vox pop e que me concentrasse na notícia sobre o adiamento da decisão. À medida que o processo ia evoluindo o acompanhamento da situação ou me era delegado, ou pediam-me para fornecer os contactos ao jornalista que ficasse encarregue da peça nesse dia. Cheguei a fazer mais duas notícias sobre a Imperconser, uma a 18 de Maio a quando da possível decisão final sobre o processo e outra a 2 de Junho quando já era certo que a empresa iria fechar por os credores não terem conseguido chegar a acordo. Acompanhei de perto a situação dos 170 trabalhadores e cheguei a conhecer José Lapa pessoalmente na primeira intervenção no Tribunal do Comércio de Gaia. Imperconser e Yazaki Saltano são apenas dois exemplos de várias empresas que fecharam ou entraram em processo de lay-off nos três meses de duração do estágio. Durante o mês de Maio a Renascença promoveu uma série de reportagens multimédia protagonizadas por André Rodrigues e Catarina Santos, chamadas “Por um Fio – Histórias de vida no limite da esperança”. Por pedido de André Rodrigues, ao cobrir uma manifestação de jovens desempregados recolhi os contactos de alguns deles para usar na reportagem, prestando um pequeno contributo numa peça sobre uma temática que acompanhei de perto ao longo do estágio.

Do Vídeo ao Papel Embora preferisse ter explorado mais extensamente a componente de multimédia da Renascença, apenas contribui em duas notícias. A notícia que escrevi para o Página 1 foi uma peça da secção de Cultura sobre a quarta edição do Festa na Baixo do Porto. Após cobrir a conferência de apresentação do evento para a Rádio SIM, Raul Santos, director do Página 1, pediu-me para fazer uma versão para o jornal da mesma notícia. De vez em quando, a pedido de Raul Santos, transcrevi algumas declarações para o Página 1 e corrigi algumas páginas, mas esta foi a única peça que escrevi por inteiro e em que pude assinar o meu nome.


Na vertente de vídeo, acompanhei Letícia Amorim num vox pop sobre as Eleições Europeias. Eu fiquei encarregue de encontrar as pessoas e fazer as perguntas, enquanto ela filmava. Este vox pop fez parte de uma reportagem vídeo conjunta com os estúdios de Lisboa, cabendo à delegação do Porto apenas a captura das imagens, já que toda a edição da peça foi realizada em Lisboa.

Economia de temas No total das 64 notícias elaboradas ao longo do estágio, Economia foi a temática mais abordada. Já Ciência, Cultura e Desporto, temas em que me sinto mais à vontade, representaram uma pequena fatia do “bolo”. O estatuto editorial da Rádio Renascença e as circunstâncias da actualidade foram os principais responsáveis por este facto. Contudo, apesar do predomínio de assuntos de economia, foi possível explorar uma vasta panóplia de temas ao longo do estágio, sem nunca esquecer o rigor jornalístico e sempre que possível, consoante a notícia, ter liberdade na abordagem e dar lugar à criatividade.


IV – Reflexão “Não sabemos se no século XXII haverá ainda rádio e, se houver (!), como será, ficámos foi a saber o que dela pensam alguns dos profissionais de ontem. (…) É tão bom ler em voz alta e ter quem nos oiça. Ponham a rádio mais alta.”6

Trabalho na Redacção vs. Reportagem no terreno O dia-a-dia na redacção da Renascença Porto pode ser muito parecido com o ambiente que se vive num escritório de uma qualquer empresa, até que surja algo para interromper a rotina. Um exemplo recente foi o desaparecimento do avião da Air France. Os primeiros takes da Reuters surgiram pouco antes do meio-dia o que obrigou a um grande alvoroço na redacção. Enquanto o Sérgio Costa preparava o texto da breve sobre o incidente que ia abrir o noticiário, os restantes procuravam informação adicional, numa luta contra o tempo para dar a notícia em primeira-mão. Contudo, dias como este são raros. A rotina divide-se entre dias em que a agenda dita desde cedo a ordem dos noticiários, e dias em que é preciso ter olho para encontrar temas suficientes para preencher os espaços informativos. Consoante a situação há quase sempre trabalho para manter o estagiário ocupado, quando tal não se verifica resta a capacidade deste em propor temas ou então tem pela frente sete horas de navegação por sítios noticiosos online em busca de alguma novidade que interesse aos editores. Os dias passados na redacção resumem-se a uma revista dos jornais diários, atribuição de tarefas, contacto telefónico com as fontes, edição dos registos sonoros e dos textos de acompanhamento das notícias, com um olhar sempre atento ao Radar NET para ver o que a Reuters e a Lusa estão a divulgar. A rotina em ambiente fechado pode tornar-se desgastante, e como se trata do turno da manhã as poucas horas de sono da noite anterior cedo começam a pesar, o que obriga a um esforço psicológico extra que consome as energias necessárias para encarar o resto do dia. Cada notícia e cada novo contacto trazem uma abordagem diferente que ajuda a quebrar essa rotina, mas quando as temáticas e os contactos se repetem, como no

6

Excerto do prefácio do livro “Colóquios sobre Rádio” da Sociedade Portuguesa de Autores


caso das peças de informação meteorológica, o sentimento de desmotivação é acentuado. A solução passa pela quebra de rotina que apenas as saídas em reportagem podem proporcionar. Sair em reportagem aumenta a sensação de stress. A pressão de chegar a tempo de montar a peça para sair no próximo noticiário e os problemas técnicos que podem acontecer são os principais responsáveis. Mas ao mesmo tempo sair da redacção permite ao jornalista trabalhar em directo contacto com os intervenientes das notícias, dá-lhe liberdade para ser criativo e pode levá-lo a conhecer novas pessoas e novos lugares. O Vox Pop é de certa forma o melhor mecanismo para combater o stress da rotina. Apesar de exigir maior tempo de montagem e de possuir pouco valor notícia, ouvir a opinião das pessoas pode ser uma experiência agradável. Entre os discursos dos mais eruditos, àqueles que mal conseguem juntar duas ideias, passando por os que nos ignoram totalmente e os que nos tratam como amigos de longa data, os vox pops são uma verdadeira lição de humildade e uma oportunidade para o jornalista abrir um fórum de discussão público sobre um assunto actual. Um serviço de redacção pode ter tanta ou mais importância que um serviço no exterior, contudo, intercalar entre os dois permite a criação de um ambiente de trabalho mais saudável.

Relação com as fontes “A fonte pode definir-se como agente que o jornalista observa e entrevista, no sentido de fornecimento de informação e sugestão noticiosa (Gans, 1979: 80).” No dia-a-dia do trabalho como jornalista não há processo mais desgastante que o contacto com as fontes. Na maioria dos casos as pessoas contactadas mostram-se completamente disponíveis a prestar declarações e respondem cordialmente. Contudo, não é raro encontrar alguém que se recusa a falar, que não atende o telefone ou cujo gabinete de comunicação obriga a diversas burocracias que dificultam, ou mesmo impedem o contacto. Um dos principais exemplos foi a tentativa de contactar o director da Administração de Saúde do Norte (ASN) que para além de não disponibilizar um contacto directo, forçava o estagiário a lidar com um gabinete de comunicação que se recusava a colaborar. Curiosamente, foi muito mais simples entrar em contacto com o


Bastonário da Ordem dos Médicos para comentar uma notícia sobre as reformas por invalidez na administração pública, que a ASN para comentar a falta de médicos de família em Lousada. Por uma ocasião foi exigida a total confidencialidade de uma informação. Para saber qual o nível de preparação do Aeroporto Francisco Sá Carneiro contra a Gripe A, a fonte contactada explicou o que se estava a passar, contudo, devido ao seu posto não permitiu que a conversa fosse gravada. A informação foi emitida como parte de uma peça maior sem qualquer referência directa à fonte. Outra situação caricata aconteceu durante a assinatura de contractos de arrendamento na sede da CGD. O assessor não estava à espera de rádios, e por isso não permitiu que o estagiário assistisse à cerimónia, pelo menos numa fase inicial. Após verificar com os responsáveis da CGD acabou por permitir a presença da RR mostrando-se totalmente disponível para assistir no que fosse preciso daí para diante. São circunstâncias do seu trabalho, mas tal não justificou o exagero de uma abordagem tão desnecessária, digna de tempos anteriores a Abril de 1974. Para finalizar o jogo entre jornalista e fonte, não pode ficar de fora o caso Albenture. A Albenture é uma empresa luso-espanhola especializada em criar ambientes ideais de trabalho para os funcionários dentro das empresas, através de planos de férias, serviços de infantário e de limpeza doméstica. Em tempos abalados por notícias de desemprego e de situações de emprego precário era interessante divulgar o caso de uma empresa que torna os trabalhadores mais felizes com o seu emprego. O representante da empresa mostrou-se completamente disponível em falar do projecto e a peça foi para o ar sem qualquer problema. Mas como qualquer empresa, também a Albenture gosta de se aproveitar de um momento de publicidade gratuita. Durante semanas ligaram para a redacção a pedir a versão áudio da peça sobre a empresa e continuaram a insistir até alguém a fornecer. As fontes podem ser o principal aliado do jornalista, assim como o pior inimigo. Com a experiência aprende-se as regras do jogo e as subtilezas da eterna valsa entre o jornalista e a fonte.

Articulação com o Curso Os três anos do curso permitiram criar as bases necessárias para encarar o estágio com naturalidade e profissionalismo. As aulas de rádio forneceram as bases teórico-práticas e a Jornalismo Porto Rádio (JPR) ajudou a ganhar experiência no contacto com as fontes, com as peripécias


da gestão do equipamento no terreno e no desenvolvimento de uma abordagem e métodos próprios consoante as circunstâncias de cada notícia, reportagem ou entrevista. No entanto o curso carece de um plano curricular mais especializado, muito devido às mudanças provocadas pelo processo de Bolonha. A principal crítica recai sobre o plano curricular do ramo de Jornalismo, no 3.º ano. Se já não bastasse um semestre ser pouco tempo, o plano curricular apenas abrange uma disciplina de jornalismo puro (Ateliers de Jornalismo) que apenas disponibiliza uma hora e meia a cada duas semanas para cada vertente. Para resolver esta situação existem três caminhos possíveis: 1)

Passar a Licenciatura para regime de Mestrado Integrado, com os

três últimos anos dedicados à especialização na área específica. A isto aliar a abertura de mais cadeiras práticas de jornalismo, atribuindo a cada vertente uma disciplina própria; 2)

Adoptar o método implementado pelo curso de Ciências da

Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, que exige que os estudantes escolham o ramo que querem seguir ao longo do curso no primeiro ano, fazendo o seu próprio plano curricular através de módulos com uma vertente obrigatória e outra opcional; 3)

Aumentar o número de créditos e de carga horária atribuída à

disciplina de Ateliers de Jornalismo, ou avançar com a criação de disciplinas práticas de jornalismo específicas para cada vertente, mantendo a licenciatura com o regime de três anos que actualmente possui. No aspecto tecnológico, a licenciatura deve manter a aposta em programas como o Adobe Audition que, embora não possa fazer todas as tarefas de um sistema como o Mar4Schedule, é uma boa plataforma para a edição e tratamento de som, não muito diferente dos programas usados pelas empresas de rádio. Qualquer forma de ensino apenas pode ter sucesso quando complementada com a experiência real na profissão. O estágio dá a conhecer o verdadeiro ambiente de uma redacção, permite o primeiro contacto com a tirania do tempo e fornece uma experiência verdadeira que nenhum livro alguma vez poderá explicar. O curso tem os seus pontos positivos e pontos negativos, mas em conjunto com a JPR e o JPN acaba por ser uma boa ponte entre o ensino e o mercado de trabalho. Cabe também a cada aluno aproveitar as ferramentas ao seu dispor para evoluir como jornalista ao longo do curso e não se limitar a aguardar pelo estágio. Além da JPR e do JPN, não posso deixar de lado a importância das passagens pelos jornais universitários,


À Letra e JUP, e pelo periódico regional Praça Pública, na minha rápida adaptação às rotinas da Rádio Renascença. O jornalismo limita o poder criativo e não permite dar largo à imaginação, são circunstâncias de uma área que se rege pela exactidão do que informa, pela eficácia da comunicação e pela necessidade de dar a notícia no imediato. Pessoalmente sinto necessidade em libertar a minha criatividade e por isso a simples rotina de redacção acaba por ser uma metafórica “prisão de pensamento” que traz consigo um forte desgaste. Grande parte do jornalismo que é feito hoje em dia vive à base da “reconstrução” de takes de agências, são poucos os media que apostam em jornalismo de investigação, e mesmo esses apenas o fazem esporadicamente. A velha noção romântica do jornalista no terreno à procura da notícia, contra tudo e contra todos para defender aqueles cujas vozes eram oprimidas, há muito que desapareceu. A tirania do tempo, a proliferação de gabinetes de comunicação que enchem de notícias as redacções, e a competição por audiências entre os vários órgãos de comunicação social, forçaram o jornalismo a adaptar-se ao mercado e a pôr de lado alguns dos valores que fizerem dele o principal defensor do direito à liberdade de expressão. Nada disto é novidade e já tinha aceite este conceito antes de ingressar no curso. Para o jornalismo recuperar o respeito que em tempos já teve precisa ele próprio de se reinventar. As novas tecnologias, vistas como ameaças à actividade, podem vir a ser importantes aliados em todo esse processo. O jornalismo de investigação não pode ficar de fora da agenda dos media, é necessário reforçá-lo. É preciso resistir ao sensacionalismo e apostar em conteúdos de qualidade; incidir sobre temas como a cultura e a ciência, convidar especialistas nessas áreas a interagir com a redacção e a acompanhar o trabalho dos jornalistas para criar conteúdos de interesse público que primam pela exactidão do que informam. Há que saber respeitar o público, pois ao fornecermos conteúdos de qualidade eles acabarão por os aceitar e por responder de forma positiva. Nunca é tarde demais para se melhorar. Numa nota mais pessoal, simplesmente não sei qual o meu futuro no jornalismo, ou se alguma vez terei a oportunidade para o exercer profissionalmente. Como jornalista não me sinto bem num só meio, mas sim a explorar um pouco de cada vertente. Contudo, a única exigência que faço é poder libertar a minha criatividade e divulgar os temas que passam ao lado da agenda dos media. O futuro é um caminho que se faz sem estradas nem direcções definidas, o meu ainda está por encontrar.


V – Conclusão Os três meses de estágio na Rádio Renascença proporcionaram um primeiro contacto com o trabalho de um órgão de comunicação social de nível nacional. Esta foi uma experiência bastante positiva não só por ter a oportunidade de ver em primeiramão as peripécias do dia-a-dia de uma redacção da dimensão da RR, mas também pela oportunidade de conviver de perto com alguns dos maiores nomes do jornalismo português. O bom ambiente vivido ao longo destes três meses e a rápida adaptação às rotinas da RR em muito se deveram ao bem-estar e simpatia de toda a equipa da Renascença Porto que acolheram abertamente os estagiários e que os trataram como verdadeiros colegas. Das principais lições aprendidas ao longo deste período é de salientar a habituação a uma rotina de trabalho diário que obrigava a um cumprimento de horários e a uma constante disponibilidade para trabalhar, algo que apenas se reconhece quando se faz parte da equipa de um media de grande dimensão. A experiência já obtida a nível curricular e a nível do jornalismo regional também tiveram o seu papel no processo de adaptação à nova realidade do estágio, mas nada me poderia ter preparado para sentir o peso da responsabilidade de representar um órgão da dimensão da Renascença. A aprendizagem sobre o funcionamento da redacção de uma emissora nacional, a experiência no contacto com fontes de cargos importantes da sociedade portuguesa, todos os desenlaces das reportagens no terreno e as formas de lidar com o stress do tempo, que parece ser sempre escasso, contribuíram para um maior crescimento como jornalista e como profissional. O jornalismo é uma profissão que exige um vasto conhecimento sobre vários temas e uma constante atenção aos desenvolvimentos da actualidade. A teoria é importante para se saber como construir uma notícia, mas é através da prática que se desenvolve o “olho” que permite retirar o que há de mais importante num acontecimento e criar uma peça de qualidade. O tempo passado na Renascença pode ser descrito como um momento de claridade que ajudou a compreender a realidade do jornalismo.


VI – Bibliografia 1ª vaga de 2009 do Bareme Rádio disponível. (2009) Retirado em 23 de Junho de 2009, de Marktest - Bareme Rádio, Endereço na Internet: http://www.marktest.pt/produtos_servicos/Bareme_Radio/default.asp?c=1014&n=199 4 Gans, H., Deciding What’s News: a Study of CBS Evening News, NBC Nightly News, Newsweek and Time. (1979), Nova Iorque, Pantheon Books, p. 80 in TRAQUINA, Nelson, SANTOS, Rogério, et al., O Jornalismo Português em Análise de Casos. (2001), Lisboa, Editorial Caminho, p. 95 Historial da Rádio Renascença. (2008). Retirado em 23 de Junho de 2009, de Grupo Renascença, Endereço na Internet: http://www.rr.pt/grupoRR/historial.aspx MIGUEL, António; MAIA, Matos; et al. Colóquios sobre Rádio. (1996), Publicações Dom Quixote, Lisboa, p. 10 REAL, Hugo, Página 1 nasce para captar públicos online, in Meios&Publicidade, 2 de Março de 2007, http://www.meiosepublicidade.pt/2007/03/02/P_gina_1_nasce_para_captar_p_bic Renascença lança rádio para o público sénior, in SOL, 30 de Setembro de 2008, http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=111320 RODRIGUÉZ, Alberto Pena, História do Jornalismo Português. (1996) in QUINTERO, Alejandro Pizarroso, História da Imprensa, Planeta Editora, ISBN 972 731-045-1, pp. 351 – 406


Anexos O Vox Pop: “Europa”, o que é isso? Pode ser visto em: http://www.rr.pt/multimedia_video.aspx?fid=169&FileID=28389 A versão final impressa da notícia “Festa” está de volta à Baixa encontra-se na página 13 da edição de 20 de Maio de 2009 do periódico Página 1, disponível em anexo. Nota: Algumas peças apenas possuem a versão original porque o editor do dia em questão não disponibilizou as versões editadas. Isto acontece por motivos técnicos, visto alguns editores usarem um sistema diferente do Mar4Schedule para organização dos seus textos.


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