jornal mural - O CATIVEIRO

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o cativeiro Florianópolis, 3 de novembro de 2011 w Ano 1 w Edição 1

o cativeiro

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Curso de Jornalismo da UFSC Atividade da disciplina Edição Professor Ricardo Barreto Edição, textos, planejamento e editoração eletrônica: Merlim Malacoski Serviços editoriais: El Espectador, El Tiempo, The Guadian, Zero Impressão: Gráfica Postmix Novembro de 2011

Livro-reportagem de García Márquez revela o horror dos sequestros no país dominado pela indústria das drogas “Sua dor, sua paciência e sua raiva me fizeram persistir nessa tarefa outonal, a mais difícil e triste da minha vida.” Este é um trecho do prefácio em que Gabriel García Márquez agradece aos reféns que lhe relataram o horror do cativeiro e aos familiares que compartilharam a angústia da espera e da perda. É a partir desses depoimentos que o escritor colombiano construiu “Notícias de um sequestro”, um livro-reportagem que conta não somente a história de dez pessoas em poder do narcotráfico, mas também o cenário de caos e violência da Colômbia no início da década de 1990. A ideia inicial do livro surgiu em 1993, do pedido da jornalista Maruja Pachón e de seu marido Alberto Villamizar para que García Márquez escrevesse sobre o período em que ela tinha sido refém do Cartel de Medellín três anos antes. Foram necessários mais três anos para que a

obra estivesse concluída, e embora o sequestro de Maruja seja o fio condutor e o ponto de partida da narrativa, o autor dedicou igual atenção aos nove outros sequestros que aconteceram em paralelo no país. Entre eles, o de Marina Montoya, irmã do político Gérman Montoya e o da jornalista Diana Turbay, filha do ex presidente da Colômbia Júlio César Turbay, que tiveram os desfechos mais trágicos do livro. A primeira foi executada com seis tiros no rosto, a ponto de seu cadáver não ser reconhecido e acabar na vala comum dos indigentes. A segunda foi morta durante uma operação de resgate com uma bala explosiva que fraturou a coluna e se fragmentou dentro do corpo de Diana, um tiro que nunca se soube se veio dos narcotraficantes ou da própria policia. García Márquez considerou uma “experiência humana inesquecível e dilacerante” as entrevistas com famílias das duas reféns mortas, e em respeito a elas é que os trechos mais sombrios da história recebem o tratamento mais humano da narrativa. Com a mesma riqueza de detalhes que descreve a ação da policia, o autor pormenoriza momentos aparentemente menores, como a última página que Diana escreveu em seu diário; e a certeza feroz que sua mãe

Editora Record

Colômbia é refém do tráfico e do medo

Capa simplista de uma obra complexa teve de sua morte, mesmo quando todos afirmavam o contrário. O jogo entre o literário e o jornalístico está presente nas 318 páginas de “Notícia de um sequestro”, mas fica claro que García Márquez deixa de lado a linguagem barroca, característica do Realismo Fantástico que marcou suas obras de ficção e lhe rendeu o Nobel de Literatura de 1982. O que permanece é seu jeito próprio de contar histórias, que aliado à linguagem enxuta que imprime a esse livro, contribui para que a narrativa flua rapidamente. Em alguns momentos, porém, essa fluidez se torna excessiva, e o lei-

Nas Américas, a Colômbia é o país onde mais jornalistas foram assassinados nos últimos anos. Dados da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) revelam 129 mortes no período de 1987 a 2011. O relato de García Márquez se passa no auge dessa violência, só entre 1989 e 1991 foram mortos 32 jornalistas no país. Nos últimos anos os assassinatos diminuíram, mas cresce o numero de crimes que prescreveram sem julgamento. Nem todos os casos de violência são cometidos pelo narcotráfico, mas a atuação de grupos como o Cartel de Medellín foi responsável por engrossar essas estatísticas. Dos dez sequestros relatados no livro, oito foram de jornalistas. O primeiro sequestro foi o de Diana Turbay, diretora do telejornal Criptón e da revista Hoy x Hoy e filha do ex-presidente Julio Cesar Turbay. Junto com ela foram capturados cinco membros de sua equipe de TV: a editora Azucena Liévano, o redator Juan Vitta, os cinegrafistas Richard Becerra e Orlando Acevedo e o jornalista alemão Hero Buss. Os sequestrados foram divididos em dois grupos e depois libertados um a um. Diana Turbay foi assassinada na manhã de 25 de janeiro de 1991 durante uma ação fracassada da polí-

Arquivo - El Espectador

Jornalistas são as principais vítimas

Diana Turbay: morta durante resgate cia colombiana. Na ocasião, Richard Becerra era o único que ainda estava com ela no cativeiro de uma fazenda da região de Antioquia. Na manhã anterior a morte de Diana, o corpo de uma mulher de sessenta anos foi encontrado em um terreno baldio ao norte de Bogotá, com seis tiros no rosto e na cabeça. Só depois de algumas semanas é que se soube que o cadáver era de Marina Montoya. Ela era a única dos sequestrados que não era jornalista, nem moeda de troca nas negociações Tinha sido sequestrada quatro meses antes, para ser executada, como vingança pelo governo não ter cumprido os acordos que seu irmão German Montoya, tinha feito com os narcotraficantes quando foi conselheiro do governo de Virgilio Barco. Marina Montoya dividiu o cati-

veiro com Maruja Pachón de Villamizar e sua cunhada e assistente pessoal, Beatriz Villamizar Guerrero., sequestradas por seu parentesco com figuras notáveis da política colombiana. Maruja, jornalista e diretora de uma empresa estatal de fomento cinematográfico era esposa do deputado Alberto Villamizar; e cunhada de Luiz Carlos Galán, assassinado pelos extraditáveis em 1989 quando era candidato a presidência. Beatriz que era irmã de Alberto Villamizar foi solta logo depois da morte de Marina. Maruja só foi libertada em 20 de maio de 1991. O sequestro mais longo foi o de Francisco Santos, também conhecido como Pacho. O chefe de redação do El tiempo ficou 244 dias em poder dos extraditáveis, e foi o último a ser libertado, algumas horas depois de Maruja foi solta. Pacho era o único refém de um cativeiro na periferia de Bogotá, onde tinha acesso a televisão e jornais, mas dormia acorrentado à grade de sua cama. Depois de sua libertação, Francisco Santos criou a fundação País Libre, em defesa das pessoas que tinham passado por uma situação semelhante a dele. Entre 2002 e 2010 ocupou a vice-presidência da Colômbia, ao lado de Álvaro Uribe.

tor, sobretudo o não-colombiano, se perde entre datas e nomes que não ficam devidamente explícitos no texto. A divisão de “Notícia de um sequestro” se dá em onze capítulos e um epílogo, mas essa organização é comprometida pelo fato de nenhum desses capítulos ter título e pela inexistência de um índice. Tal modelo é recorrente e aceitável nas obras fictícias de García Márquez, mas se torna inviável em um livro jornalístico. A nominação dos capítulos e a criação de um sumário poderiam tornar mais evidente ao leitor, a preocupação constante que o autor tem, ao longo de todo livro, em mesclar a rotina no cativeiro com as informações históricas acerca da situação da Colômbia no período em que ocorreram os sequestros. Tal contexto era marcado pelo poder do traficante Pablo Escobar, que detinha uma das maiores fortunas do mundo e comandava o Cartel de Medellín. Escobar tinha ordenado os sequestros no intuito de garantir que não fosse aprovada a lei que possibilitava que os narcotraficantes fossem extraditados para os Estados Unidos, onde as penas eram substancialmente maiores. As jogadas políticas e os personagens são retratados por García Márquez de um modo ambíguo e

complexo. Assim, o mesmo Pablo Escobar que personifica a face do mal também recebe em alguns momentos a aura de figura lendária das periferias de Medelín; já a mão de ferro do presidente César Gaviria por vezes vacila e revela um governante passivo diante do caos de seu país. Merece destaque o tratamento dado aos “carcereiros” dos cativeiros, cuja individualidade é revelada: enquanto alguns são bandidos cruéis, outros não passam de adolescentes recrutados pelo narcotráfico. A situação é tão dúbia que alguns guardiões se sentem tão prisioneiros quanto os reféns e desenvolvem uma relação humana com eles, mas ao mesmo tempo não hesitariam em matá-los simplesmente por não ter nada a perder. Esta postura narrativa é um retrato de uma sociedade onde os abusos da policia e atitude “robin hoodiana” dos traficantes dividia a opinião publica e confundia os papéis de heróis e vilões. Isso não representa uma complacência de García Márquez para com os seqüestradores, mas uma profunda preocupação do autor em não deixar que seu país esqueça o passado, e ele deixa isso claro ao dedicar “Notícia de um sequestro” “a todos os colombianos – inocentes e culpados – na esperança de que nunca mais este livro nos aconteça”

Livro é proibido no Irã após ser citado por preso politico A história contada por Garcia Marquez em 1997 ganhou destaque do outro lado do mundo recentemente, provando que a denúncia contra atentados aos direitos humanos é uma linguagem universal. Em setembro, Mir Hossein Mousavi, ex primeiro ministro do Irã e líder da oposição, deu uma declaração dizendo que “se você quer saber sobre minha situação em cativeiro, leia ‘Noticia de um sequestro’ de Gabriel García Márquez”. Mousavi e o também oposicionista Mehdi Karroubi estão em prisão domicialiar e praticamente sem contato com o mundo exterior desde fevereiro. Os dois foram presos após incentivarem os protestos de milhares de pessoas contra o governo de Ahmadinejad e a favor da democracia nos países árabes. Segundo o jornal britânico The Guardian, após a declaração de Mousavi os exemplares de ‘Noticia de um sequestro’ se esgotaram nas livrarias de Teerã. No jornal iraniano Shargh o livro liderou a lista dos mais vendidos durante uma

semana. Mas o que não se sabe é se o sumiço do livro nas prateleiras das livrarias da capital iraniana se deu realmente pelas vendas, ou se foi resultado da acão do governo, que proibiu a venda de “Notícia de um sequestro” no país. No entanto, a declaração do oposicionista já tinha se espalhado pela internet, onde partidários de Mousavi criaram comunidades de discussão e disponibilizaram para download versões traduzidas do livro de Garcia Marquéz. Mousavi e Karroubi continuam presos e, se em setembro rápidas visitas aos filhos eram permitidas, atualmente o regime é de isolamento total. O relator especial da ONU para os direitos humanos no Irã Ahmed Shaheed demonstrou a preocupação com a situação dos presos políticos do país durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em outubro. Enquanto isso, o governo de Ahmadinejad nega que os lideres da oposição estão sob regime de prisão e afirma que “as ações do governo são para seu próprio bem”.

A dor se tornou insuportável, mas ela estava tranquila e lúcida, e sabia que ia morrer


o cativeiro

Curso de Jornalismo da UFSC Atividade da disciplina Edição Professor Ricardo Barreto Edição, textos, planejamento e editoração eletrônica: Merlim Malacoski Serviços editoriais: El Espectador, El Tiempo, The Guadian, Zero Impressão: Gráfica Postmix Novembro de 2011

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Alfredo Estrella

o cativeiro

Terrorismo derruba lei de extradição Presidente não resiste à pressão e fracassa na tentaviva de tornar jurídica a guerra contra os cartéis A motivação dos sequestros de 1990 era clara. Os narcotraficantes usariam os reféns como pressão para que o governo revogasse a Lei da Extradição. Assinada em 1979, pelo então presidente Turbay Ayala e aplicada pela primeira vez em 1984, a lei permitia que colombianos acusados de prática do narcotráfico fossem julgados e condenados nos Estados Unidos. Esse tinha se tornado o maior pesadelo do chefe do cartel de Medelín Pablo Escobar e de seus homens, que conscientes de sua situação, se autodenominavam “extraditáveis”. O poder dos extraditáveis na política colombiana se dava tanto nas negociações quanto no terrorismo. Além dos inúmeros subornos e dos políticos ligados ao grupo, os narcotraficantes tinham sido respon-

sáveis pelo assassinato de quatro candidatos a presidência antes da campanha de 1990. O ultimo deles tinha sido Luis Carlos Galán, fundador do Novo Liberalismo, que foi metralhado em praça pública por ter impedido que Pablo Escobar se infiltrasse no seu partido. César Gaviria, chefe de campanha de Galán, acabou sendo eleito presidente, e com menos de um mês de mandato, já teve que enfrentar a questão da extradição e dos sequestros. O novo presidente tinha conseguido que o conselho de ministros da Colômbia aprovasse o decreto de sitio 2047, cuja proposta era de que quem se entregasse e confessasse os crimes seria poupado da extradição, e se colaborasse com a justiça também teria direito a redução da pena. Tratava-se de uma tentativa de tor-

nar jurídica a guerra contra o narcoterrorismo. A ideia de encontrar uma forma de fazê-los confessar os crimes em troca de garantia de segurança era essencial num sistema judicial frágil como o que a Colômbia possuía. Por um lado, os narcotraficantes não se entregavam porque não tinham garantia de proteção para as famílias; por outro, o Estado não tinha provas para condená-los. Mas o decreto 2047 não agradou os extraditáveis, que exigiam a garantia da não-extradição incondicional, independente de confissão, em troca da libertação dos reféns. Enquanto os extraditáveis se negavam a entregar-se ou moderar a violência, crescia o numero de casos de abusos da força policial. A Colômbia estava presa em um circulo de caos e medo. Nos dois primeiros meses de 1991, só em Medelín, ocorreram mil e

Arquivo - El Tiempo

Nascido na periferia de Antioquia, Pablo Escobar Gaviria, passou de ladrão de carros a maior traficante de drogas do mundo em poucos anos. Liderou o cartel de Medelín durante a década de 1980 e inícios dos anos 90. No auge de seu domínio, a organização criminosa era responsável por 80% da cocaína exportada para os Estados Unidos; e Escobar era o sétimo homem mais rico do mundo, segundo a revista Forbes. Para sustentar o império das drogas, “El Patrón”, como era chamado, criou a política “ou dinheiro ou chumbo”, em que ou as autoridades aceitavam seu suborno, ou eram mortas pelo cartel. Também ordenou atentados contra políticos e ataques a bomba, que mataram centenas de civis. Mas para muitos, o “rei da cocaína” era tido como herói. Escobar foi responsável pela construção de casas para a população pobre da periferia

“El Patrón” construiu própria prisão

de Medellín e pelo financiamento de estádios de futebol. Ações que lhe renderam votos e o levaram à suplência do Congresso em 1982. Depois de garantir, através de sequestros, que não fosse extraditado, Escobar se entregou a polícia em 1991 e foi preso em um cárcere construído por ele mesmo, que se transformou num refúgio luxuoso e seguro contra os cartéis inimigos. Morto pela polícia em 1993, Escobar se tornou uma figura mítica na Colômbia, e foi a representação maior de um problema que assolou o país durante décadas: o narcotráfico. As organizações criminosas ligadas ao trafico de droga ganharam força na Colômbia na década de 1970. O cartel de Cali foi o primeiro desses grupos, mas logo ganhou um rival, o cartel de Medellín. Ambos começaram com o envio pequenas quantidades de cocaína para os Estados Unidos e cresceram até estabelecerem uma rede de produção, transporte e distribuição que atingia proporção internacional. Os dois cartéis viveram numa guerra constante pelo controle do mercado da cocaína, que resultou num aumento assustador nos níveis de violência das regiões de Cali e Medellín, na profissionalização de bandidos e assassinos de aluguel e no crescimento dos casos de lavagem de dinheiro e corrupção na Colômbia. O cartel de Medelín foi extinto com a morte de Escobar, e o grupo de Cali também se dissolveu anos depois, criando grupos pequenos, os “cartelitos”, menos poderosos, mas mais difíceis de serem encontrados.

AFP

Violência e poder marcam a figura mítica de Pablo Escobar

duzentos assassinatos, uma média de vinte por dia. Mas a posição do presidente Gaviria em não ceder às exigências dos extraditáveis só mudou após a morte de duas das reféns. Depois do assassinato da jornalista Diana Turbay ter causado indignação da população contra a polícia, o governo finalmente promulgou o decreto 303, que eliminava os obstáculos que impediam que os narcotraficantes se entregassem. Com uma serie de exigências ao governo, o chefe do cartel de Medelín, só se rendeu depois de um mês da libertação do ultimo sequestrado. No dia 19 de junho de 1991, poucas horas antes de Pablo Escobar se entregar a policia, a Assembleia Nacional Constituinte derrotou a posição do governo, aprovando a não-extradição de cidadãos colombianos.

Ingrid Betancourt: seu resgate em 2008 mostrou enfraquecimento das FARC

Governo de Uribe reduziu ação de guerrilheiros e paramilitares No dia 2 de fevereiro de 2008 o exército colombiano resgatou a franco-colombiana Ingrid Betancourt, exsenadora e ex-candidata a presidência, que estava há seis anos em poder das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Os militares conseguiram libertar quinze reféns depois de terem se infiltrado na guerrilha. A ação ganhou repercussão nacional e representou uma expressiva vitória do então presidente Álvaro Uribe na luta contra as FARC. Criada na década de 1960, as FARC nasceram de uma motivação política que pregavam a implantação do socialismo na Colômbia. Ao longo de sua história, a militância marxista foi de ser o objetivo único do grupo, e a guerrilha foi assumindo posturas e estratégias, como o uso de reféns em negociações políticas e o trafico de cocaína para financiamento de armas. Características que pertenciam os cartéis de narcotráfico, de quem eram inimigos. Com enfraquecimento e extinção desses cartéis na década de 1990, guerrilhas como as FARC, que já atuavam em paralelo, passaram

a dominar a produção e o trafico de cocaína no país. Para combater o avanço das guerrilhas marxistas, surgem, em 1997, os grupos paramilitares de extrema direita, que mais tarde se unificariam na AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia). Financiados por proprietários de terras e por vezes pelo próprio governo, os paramilitares se transformam em uma organização tão ou mais violenta que as FARC. Em 2002, Álvaro Uribe assumiu a presidência propondo que as guerrilhas fossem combatidas militarmente. Sob o então presidente pesam as acusações de envolvimento com o narcotráfico na década de 1990 e com Pablo Escobar, de quem teria sido amigo pessoal. Em seu governo, Uribe iniciou um processo de desmobilização dos grupos paramilitares, e com o apoio dos Estados unidos, passou a tratar as FARC como grupo terrorista – classificação rejeitada por diversos países, inclusive o Brasil. Atualmente o poder das FARC está enfraquecido e o grupo tem 93% de rejeição do povo colombiano.

Gabo: militância pró-socialismo

Um repórter crítico e preocupado com a América Latina Aos dezenove anos Gabriel Garcia Marquez deixou de lado o curso de Direito para seguir aquela que chamaria mais tarde de “a melhor profissão do mundo”, o jornalismo. Gabo reconhece que a experiência em jornais colombianos como El Universal, El Heraldo e El Espectador foi fundamental para seu trabalho como escritor: “a ficção ajudou meu jornalismo, porque deu a ele valor literário. O jornalismo ajudou minha ficção, porque me manteve em relação íntima com a realidade”. Foi a realidade do povo latino-americano que marcou o trabalho de Gabo tanto como repórter quanto escritor. “La soledad de America Latina”, seu discurso de aceitação do Nobel de Literatura de 1982, mostra não somente a preocupação social, mas também o viés político sempre presente em Garcia Marquez, que ao longo da carreira entrevistou figuras dos mais variados perfis, como Hugo Chaves, Bill Clinton e Mihail Gorbachov. A militância socialista trouxe problemas para Gabo. Em 1960, o jornalista teve que deixar os Estados Unidos – onde trabalhava na agência cubana La Prensa – devido a sua posição favorável a Fidel Castro, seu amigo pessoal. Em 1981 pediu exílio ao México depois do presidente da Colômbia Turbay Ayala o acusar de envolvimento com a guerrilha. Preocupado com a formação de qualidade, com a ética e a boa história no jornalismo, Gabriel Garcia Marquez criou em 1994, juntamente com seu irmão Jaime, a Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), que oferece oficinas, bolsas e prêmios aos jornalistas da América Latina. Recentemente a editora Record publicou no Brasil a “Obra jornalística de Gabriel Garcia Marquez”, dividida em cinco livros, organizados por temas e épocas: “Textos caribenhos”, “Textos andinos”, “Da Europa e da América”, “Reportagens políticas” e “Crônicas”.

Os extrditáveis preferiam um túmulo na Colômbia a uma cela nos Estados Unidos

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