METÁSTASE BENIGNA
uma intervenção urbana na região da Rua 25 de Março
Milena Meira Fernandes
CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Centro Universitário Belas Artes, sob orientação de Denise Xavier
METÁSTASE BENIGNA
uma intervenção urbana na região da Rua 25 de Março
Milena Meira Fernandes metástase benigna
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AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais Celso Carlos Fernandes e Marta Cristiane Iachstet Fernandes por todo apoio e carinho durante toda minha vida, assim como minhas irmãs Mabely e Mayara Meira Fernandes. Vocês são a minha base. À minha orientadora, uma arquiteta excepcional e que admiro muito. Muito obrigada! Aos meus queridos amigos da faculdade por toda troca, ensinamento e por fazer dessa jornada algo leve, mesmo quando tenso. Aos meus colegas de trabalho, por todos os ensinamentos. Ao Erik Babaeghian Piaskowy pela paciência e companheirismo sempre.
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Sem vocês, nada disso seria possível.
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01.AMADO, Jorge. Capitães da Areia, São Paulo. Companhia de Bolso, 1937
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“Pedro Bala com o braço passado ombro de Professor. De onde estão podem ver o Mercado e o cais dos saveiros e mesmo o velho trapiche onde dormem. Pedro Bala se recosta no muro da ladeira e diz a Professor: -Tu devia fazer uma pintura disto... É porreta. A fisionomia do Professor se fecha: -Quê? -Tem vez que me topo pensando.... -E professor mira o cais lá embaixo, os saveiros parecendo brinquedos, os homens miúdos carregando sacos nas costas. Continua com a vos áspera como se alguém o tivesse batido: -Eu penso fazer um dia um bocado de pintura daqui... -Tu tem jeito. Se tu tivesse andado pela escola... -...mas nunca pode ser um troço alegre não...(Professor parece não ter ouvido a interrupção de Pedro Bala. Agora está com os olhos longe e parece mais fraco.) -Por quê? – Pedro Bala espantado. -Tu não vê que tudo é mesmo uma beleza? Tudo alegre...Pedro Bala apontou os telhados da Cidade Baixa: -Tem mais cores que o arco-íris... -É mesmo... Mas tu espia os homens, tá tudo triste. Não tou falando dos rico. Tu sabe. Fala dos outros, dos das docas, do mercado. Tu sabe... Tudo com cara de fome, eu nem sei dizer. É um troço que sinto...” AMADO, 1937, p.132
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SUMÁRIO
iNTRODUÇÃO 11 BRAINSTORM 13 Vazios Urbanos Urbanidade Caminhabilidade x Topografia ORGANISMO: CENTRO 33 Várzea do Carmo Parque Dom Pedro Rua 25 de Março LEITURA URBANA 45 Mapas Legislação Estudos de Caso Diagnóstico PROJETO 80 Masterplan Metástase Benigna Classificação Viária Ladeiras
INTRODUÇÃO Levando como premissa de existência o projeto de Requalificação do Parque Dom Pedro II, que em resumo supera as barreiras criadas pelo Plano Radial Concêntrico – avenidas e viadutos- e o rio canalizado Tamanduateí, e conecta as regiões do Centro e Leste da cidade de São Paulo. Historicamente, ao observar a relação dos homens com o crescimento da urbe, seus rios e planos voltados ao automóvel, demonstram a dificuldade em superar as barreiras naturais impostas pelo entorno, assim como a falta de interesse na promoção a vida pública. Este trabalho busca dar continuidade ao projeto mencionado, a fim de estabelecer novas conexões. Por sua vez, entre cidades alta e baixa da região Central. Contribuindo com medidas de superação de cotas de nível, através das quatro operações mencionadas no livro de Angelo Bucci, “Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes”, que seriam: mirar, transpor, invadir e infiltrar. O projeto urbano localiza-se na região que configura o nó Rua 25 de Março e imediações. Uma área que exala
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vitalidade, porém clama por requalificação. A condição topográfica acidentada cria uma condição de barreira entre o que há acima da colina histórica e abaixo da antiga Várzea do Carmo, desfavorecendo a interação e conexão entre áreas. A necessidade de pensar conexões mais confortáveis ao pedestre é um fato, porém a passagem pode se tornar mais interessante quando há infraestrutura que desperte o desejo de permanência no local. Além de favorecer a heterogeneidade de usos, em área onde a monofuncionalidade é presente e desvantajosa... Portanto, a área como um geral, enfrenta situação de insegurança, seja pelo movimento intenso sem ordenação ou pela falta de movimento. E necessita de infraestrutura para despertar o desejo de permanência em todos os períodos, além de diversificação de uso, porém sem perder as raízes que transformam a área em uma potência econômica e turística para a cidade de São Paulo.
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BRAINSTORM
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VAZIOS URBANOS O conceito de Vazios Urbanos é um reflexo da velocidade rápida com o que acontecem as dinâmicas no tecido urbano, e acabam por gerar áreas ociosas, abandonadas, residuais e exclusas do contexto geral que se encontra. Áreas estas que poderiam ser utilizadas a favor da sociedade como espaços públicos de qualidade, já que é uma carência na realidade em que os apartamentos cada vez vêm diminuindo mais a metragem quadrada por unidade. No intuito de entender essa característica contemporânea de cidade, três autores apoiarão o conceito. Ignasi Solà-Morales (2003), Massimo Cacciari (2009) e Zygmund Bauman (2000).
Figura 01 – Foto de Cristiano Mascaro. Faróis no Parque Dom Pedro
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VAZIOS URBANOS Bauman (2000), afirma que a sociedade se assemelha quanto à forma, aos líquidos, por que estes não aguentam permanecer sob a mesma configuração por muito tempo. E faz uma analogia ao tempo moderno como uma temperatura elevada. Perante os fenômenos da física, líquido em ambiente de alta temperatura, é incapaz de condensar. Ele deseja com isso, dizer que a sociedade impulsionada pela progressão que o modernismo propõe, tende a ser algo mutável. Isso pode ser notado pelos efeitos da globalização, no trabalho, na configuração familiar e relações sociais. Associando esse fato à arquitetura, entram os autores Solà-Morales (2003) e Massimo Cacciari (2009), ao mencionarem a necessidade de se pensar primeiramente na flexibilidade e adaptabilidade que ela poderá exercer, e deixar de lado o seu vínculo ao tempo para acompanhar suas mudanças, e é ai que mora o desafio, pois a arquitetura é constiuda de substâncias em formato sólido e não líquidos.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Polônia: Jorge Zahar, 2000.
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Figura 02 – Foto de Tuca Vieira. Avenida Paulista, 2004.
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VAZIOS URBANOS Cacciari (2009) classifica uma cidade contemporânea a partir do momento em que as delimitações de espaço deixam de existir, a partir do momento onde tudo se mescla. Não é à toa que cidades como Barcelona, Paris, Nova York, Roma e São Paulo, por exemplo, são sucessos turísticos. Pois são cidades onde a cada virada de esquina, há uma surpresa, um café inesperado, um edifício histórico. Oposto ao que Brasília representa, pois apesar de todo o planejamento e organização, acaba por ser um tanto quanto monótona. A sua configuração, a torna inflexível perante a contemporaneidade. Dai surge o termo usado pelo autor: “cidade-território”, por deixar de se tratar de uma cidade com limites bem estabelecidos, para pedaços de territórios que se unem através de espaços urbanos que a sociedade usufrui.
CACCIARI, Massimo. A Cidade. Barcelona: Gustavo Gili, 2009.
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Figura 03 – Foto Flagrante de Romullo Baratto, 2018
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VAZIOS URBANOS Solà-Morales (2003), apoia-se ao que Bauman (2002) concretiza em respeito ao individualismo do cidadão - conquistado após anos de subordinação á grandes grupos considerados como sólidos para falar das relações de convivência em grupo na urbe, onde há a necessidade de respeito ao próximo e compartilhamento. São pensamentos opostos, e acabam por entrar em conflito quando se encontram. É então dever da cidade de se moldar á micro escala do cidadão e seus pensamentos, rápidos e voláteis. É dever permitir que pessoas se encontrem, troquem experiências, e após isto, sigam com suas vidas pessoais, apenas como o registro na memória, e já ansiando novas experiências. Portanto, território que não acompanhem essa nova mentalidade contemporânea, acabam por se tornar inóspitos e não aceitos, os chamados Vazios Urbanos.
SOLÁ-MORALES, Ignasi. Territórios. Barcelona: Gustavo Gili, 2003.
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Figura 04 – Foto CCSP
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URBANIDADE Perante a insaciável curiosidade de entender a sociedade contemporânea que vive nas cidades urbanas em pleno ano de 2020. E no intuito de dar continuidade a semente plantada pelo conceito de Vazios Urbanos. Três novos autores surgirão a partir de agora, dentro de uma segunda categoria: a Urbanidade. O conceito de urbanidade tem a ver com a vida nas cidades e com o comportamento adequado a esse ambiente. A expressão é sinônima de civilidade, o que reforça a ideia da maneira correta de se portar no ambiente civil. A ligação histórica entre o morar na cidade e adotar determinado comportamento se revela no adjetivo “urbano”, que se refere tanto a quem vive na cidade como a quem se comporta de maneira cortês, afável, “civilizada”. (Calliari, 2014, p. 8)
Calliari (2016), reforça a ideia de que cidade é palco, onde estranhos se encontram. em sua abordagem perante os espaços públicos, recorre a história, para poder entender em que momento a cidade se encontra atualmente. Os espaços públicos segundo ele, são uma resposta ao desejo da fruição em um ambiente. Além disso, esclarece como seria esse encontro entre individualidade do cidadão e o convívio social em espaços públicos. A civilidade tem um papel importante para a manutenção da própria individualidade. Ao conviver com os diferentes, um indivíduo ganha capacidade de compreensão sobre si mesmo. A convivência com a alteridade em graus variados de intimidade faz com que o habitante da cidade tenha que representar papéis que permitam o intercâmbio e trocam de determinadas regras. O papel é o “comportamento apropriado a algumas situações, mas não a outras”. É ele que garante a verossimilhança em público: adotar um comportamento comum que todos concordam ser adequado.
CALLIARI, Mauro. Espaço público e Urbanidade em São Paulo: Bei, 2016.
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Em relação ao que foi dito a respeito de inexistência de limites na “cidade-território” declarada por Cacciari (2003), Raquel Rolnik (1988), já previa que para isto ocorrer plenamente, algumas características herdadas historicamente, deveriam ser deixadas de lado para evitar que algumas regiões da cidade de São Paulo se tornassem repletas de Espaços Vazios, e passassem a adquirir a então Urbanidade. E abordando uma segregação baseada na desigualdade social existente que a seguinte reflexão é feita:
Hertzberger (1999) com a consciência da importância do espaço público e o privado dentro da malha urbana, compila em seu livro, estratégias executivas para deixar a arquitetura um ambiente mais saudável em relação ao seu entorno e espaço público.
“Em algumas cidades brasileiras a crise da escravidão e a expansão do trabalho livre – isto é, o final do século XIX – vão marcar este impulso segregador. Em São Paulo, por exemplo, esta é a história dos Campos Elísio, Higienópolis e depois Avenida Paulista, obras da burguesia paulistana enriquecida com o capital gerado pelo trabalho nos cafezais. Esta é também a história do Brás, da Barra Funda, da Lapa, bairros de mulatos e imigrantes, trabalhadores assalariados da cidade.” ROLNIK, 1988, p.47
“Há um sentimento crescente de que o mundo para além de nossa porta é hostil (...) No entanto se esse for nosso ponto de partida para o planejamento urbano isso seria fatal.” HERTZBERGER, 1999, p. 35
ROLNIK, Raquel. O que é Cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988.
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CAMINHABILIDADE X TOPOGRAFIA A segregação de uma cidade pode se mostrar de diversas formas. Social, através da desigualdade financeira. Comportamental, quando observado uma tendência individualista na sociedade contemporânea e a convivência em espaços públicos ser conflituosa. Arquitetônico, e a relação entre espaços públicos e privados. Físico, quando barreiras naturais ou não, provocam a exclusão entre áreas. Ao pensar na topografia acidentada do centro de São Paulo e seus rios, fica evidente as barreiras naturais formadas. E o desafio que é a fruição do cidadão na urbe nestas condições. Para refletir sobre este aspecto, o estudo recorre à reflexão sobre, a Caminhabilidade e a Topografia.
Figura 05 – Reflexão da autora sobre o lilvro de Bucci
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BUCCI, Angelo. São Paulo, Razões De Arquitetura. São Paulo: Romano Guerra, 2005.
Bucci (2010) refere-se a malha estrutural da cidade conduzida pelos dois eixos cartesianos, vertical e horizontal. Através de um percurso pelas áreas do Centro Velho, com início no Mercado Municipal, até o Centro Novo, findando na Praça da República, ele mostra como essas estruturas apesar de opostas, podem ser complementares. A espessura que o solo dessas áreas se encontra, é o cenário perfeito para a abordagem dos quatro elementos ou ações operadoras para um projeto de conexão urbana, onde o privilegiado é o passeio pedonal. Esses quatro itens, se resumem em: Mirar (a partir o mirante cegado), fazendo uma sugestão de intervenção aos térreos dos edifícios bancários na Rua Boa Vista. Transposição de nível (a partir da consideração de cidade vertical) Invasão aérea (desde o patamar de terra firme sobre a várzea), como é o exemplo do Viaduto do Chá Infiltração subterrânea (da várzea sob o patamar de terra firme), exemplificando a Galeria Prestes Maia.
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Estas intervenções são estratégias que fazem com que a fruição seja acessível durante o percurso apesar de sua topografia. E mostram como as possibilidades de intervenção podem ser infinitas quando combinadas.
“Como operações, elas não se fecham. Ao contrário, elas se desdobram para inúmeros projetos possíveis. As operações são respostas práticas, lançadas como formas abertas, à provocação constante do ambiente urbano à imaginação do arquiteto. Elas são a sua maneira de reagir à vivência da “cidade”.” BUCCI, 2005, p.129
Figura 06 – Seção transversal Desenho Angelo Bucci (Ilustração p. 127)
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Figura 07 – Fotografia de Nelson Kon. Centro Velho, Anhangabaú e Centro Novo
Figura 08 – Fotografia de Nelson Kon. Centro, Tamanduateí e Leste 31
ORGANISMO: CENTRO
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ORGANISMO: CENTRO Tratando-se da região do Centro Velho de São Paulo, é inevitável não mencionar que o triângulo histórico, marcado pelos largos São Francisco, São Bento e Praça da Sé, conta com mais de 460 anos de existência e é o local de maior concentração de história por quilometro quadrado da cidade. A colina a que esse triângulo pertence é cercada por dois rios, o Tamanduateí e Anhangabaú. Á beira da Colina Piratininga e dos Rio Tamanduateí e Anhangabaú, nasce a vila de São Paulo de Piratininga, em 1554. Os altos das colinas antes ocupados por indígenas, são ocupados pelos jesuítas, como lugar estratégico, longe das enchentes do rio. O Rio Tamanduateí, ligava-se ao Rio Tietê e ao Ribeirão Anhangabaú, e através deles é que se transitavam para as mais diversas áreas. Hoje o Rio Tamanduateí, passa ao lado do Mercado Municipal, apesar de um dia já ter beirado a Rua 25 de Março. Esta rua possui o maior comércio popular da América Latina, característica herdada desde a época colonial, marcada pelo intenso comércio gerado pelo “Mercado dos Caipiras”. Em 1867, é inaugurada a ferrovia “São Paulo Railway”, a qual utilizou o Rio Tamanduateí como rota e ligava-se com o mar (Porto de Santos). Rios passam a ser vistos como obstáculos ao crescimento da capital.
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O Viaduto do Chá foi o primeiro símbolo de superação às barreiras que os rios impunham à expansão. Ele ligava o Centro Velho às novas construções à Oeste O esgoto gerado pelo água canalizada, era despejado nas várzeas dos Rios que cruzavam a cidade, como a Várzea do Carmo, e causava um grave problema sanitário. Novas reformas urbanas são feitas na década de 20. Os dois rios que dividiam a cidade, foram transformados em parques. O Parque Anhangabaú, sobre o riacho Anhangabaú e o Parque Dom Pedro II, às margens do rio Tamanduateí. As edificações contam com os mais variados temas, que demonstram importância econômica, política e cultural. No segmento de mercado financeiro, tem-se o BM&F Bovespas, além de sedes e agências de quase todos os bancos. No âmbito do poder público, são seis secretarias e cinco empresas do Governo do Estado, o Tribunal de Justiça e de Contas, Ministério Público, Ouvidoria do Município, e da Prefeitura Municipal contam-se com doze secretarias e duas empresas. Ao falar de bens culturais, a região conta com mais de duzentos e cinquenta bens tombados, o que demonstra o potencial turístico. ‘
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Figura 09 – Fotpgrafia de Tuca Vieira. São Paulo, 2010.
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VÁRZEA DO CARMO A região da Várzea do Carmo, por onde passa o rio Tamanduateí, localiza-se entre o centro antigo de São Paulo e o bairro Brás. Durante os séculos XVI e XVIII foi ocupada por imigrantes europeus, e sua característica principal era rural, devido as áreas alagadiças promoverem pastagem apropriada para os animais e o Rio Tamanduateí servir como fonte de alimento através da pesca, tranporte e abastecimento. As curvas do rio auxiliavam no desembarque de mercadorias oriundas das fazendas e porto de Santos, e umas destas curvas ficou conhecida como Porto Geral, onde hoje simbolicamente pela proximidade, é o nome de uma das ladeiras que desembocam na rua 25 de Março. Pode-se dizer que é uma região que marcou uma segregação tanto espacial como social, pois posteiormento, foi local onde as indústrias se instalaram e junto com elas os imigrantes vindos da Itália, Libano e Síria. Era tida como uma região não nobre, como se fosse os fundos da cidade, que tinha como consequência a insalubridade causada pelo alagamento do Rio Tamanduateí, já que o sistema de esgoto da cidade, desembocava no mesmo. Fica aqui explícito a relação vigente ao desenvolvimento dos bairros localizados ao Leste e Oeste de São Paulo. Sendo respectivamente, um local de instalação industrial e operária, e o outro repleto de terrenos saudáveis rumo a colina da Avenida Paulista.
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Figura 10 – Fotografia Guilherme Gaensly. Várzea do Mercado e Mercado Caipira,1890
Figura 11 – Fotografia Vincenzo Pastore, Movimento em frente ao Mercado Municipal Esquina da rua 25 de Março com General Carneiro, 1910
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PARQUE DOM PEDRO II A Várzea foi tida como obstáculo para o crescimento da cidade de São Paulo, e por volta dos anos 1850, o projeto de retificação do rio de Carlos Bresser, que acabariam com as 7 voltas do rio para se tornar uma rua chamada Rua de Baixo, já que ficava na parte baixa da cidade, e posteriormente ficará conhecida como Rua 25 de Março, em homenagem à data da primeira Constituição. O plano de Bresser, foi finalizado por João Theodoro, que além de transformar o rio em uma reta entre as regiões da Luz e Brás, foi o responsável pelo primeiro projeto urbano da cidade ao criar jardins e a Ilha dos Amores no seu entorno. No século XIX, o rio ainda é alagadiço e insalubre. As políticas de embelezamento da cidade são postas em confronto com esta questão. Até que planos para a criação de uma parque na área são colocados em discussão. Em 1922, é entregue à população um parque projetado por Joseph Antoine Bouvard, paisagista e urbanista de vias de Paris. Surge o Parque Dom Pedro II, substituindo a Várzea do Carmo. O parque foi um dos espaços públicos mais importantes da cidade de São Paulo. No ano de 1924 é concebido o Palácio das indústrias e em 1930 o Mercado Municipal.
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Na década de 50, o Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia é posto em prática. A ideia dele era tornar a cidade ideal para o passeio rodoviário. Tal plano acabou por afetar a região do Parque Dom Pedro II, devido às obras viárias - construção de 5 viadutos- que gerou áreas ociosas e que dificultou o acesso dos usuários entre a região Leste e Central da cidade de São Paulo, além de acabar com a potencial área pública que o parque oferecia à urbe. Consequentemente, é criado o terminal de ônibus e estação de metrô Dom Pedro II, transformando a área em local de passagem e não mais de lazer e permanência. O Terminal Parque Dom Pedro II é o mais movimentado da cidade. Em média, 79 mil passageiros passam por ele no dia, pois ele atende 72 linhas de ônibus em diversas regiões da cidade, principalmente a Zona Leste. Atualmente, passam pelo região do ex parque, mais de 400 mil pessoas por dia. A grande maioria dessas pessoas, são camelôs.
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RUA 25 DE MARÇO A rua 25 de Março, desde sua formação possui característica comercial, e hoje é considerado um dos maiores centros de compra a céu aberto da América Latina. Sempre muito movimentada – cerca de 400 mil pessoas por dia e mais de um milhão perto de datas comemorativas, como o Natal –, juntamente com outras ruas da região, como a Rua Comendador Abdo Schain, especializada no comércio de tecidos, a Rua Comendador Affonso Kherlakian, onde está localizada a Galeria Pagé, prédio com diversas lojas, que oferece, principalmente, artigos eletrônicos e a Ladeira Porto Geral, com muitas lojas de fantasia e acessórios, a 25 forma um enorme complexo comercial, com mais de 3.500 pontos de venda (SP Turismo, s.d.). Revelou uma ocupação majoritariamente imigrante, sendo presentes as culturas sírio-libanesa e chinesa. Com o passar do tempo, ela veio se reinventando, fortalecendo e atraindo pessoas em âmbito nacional.
Figura 12 – Fotografia de Hildegard Rosenthal. Ladeira Porto Geral, rua 25 de Março
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Figura 09 – Fotografia de Carolina Cunha.Centro de SP, Rua General Carneiro próximo ao Pátio do Colégio
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Figura 10 – Fotografia de Sérgio Brisola. Ladeira da Constituição, conexão Rua Florêncio de Abreu e 25 de Março.
Figura 11 – Fotografia de Huedes Régis. Ladeira Porto Geral, próxima a Rua 25 de Março.
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LEITURA URBANA
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LOCALIZAÇÃO DISTRITO: SÉ SUBPREFEITURA: SÉ ZONEAMENTO: ZC
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Através do mapa topográfico, fica evidente a relação entre Cidade “Alta” e “Baixa” desconexa. E o desafio que é ser pedestre, na região.
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É possível observar uma boa infraestrutura de meios não motorizados e motorizados. Área composta por 3 estações de metrô próximas, São Bento, Dom Pedro II e Sé. 3 terminais de ônibus, Bandeira, Dom Pedro II e Pedro Lessa. Estação cptm Luz. Observa-se também, que os famosos “calçadões do centro” que proprõem um percurso pedonal extenso na área é interrompido no momento em que se depara com a barreira topográfica formada pela encosta do Rio Tamanduateí.
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Área fundamental na história da fundação da cidade de São Paulo, com diversos edifícios históricos e iconicos. Observa-se que a cidade alta é marcada por edifícios que demonstram poder, como bancos e igrejas. Já os edifícios da cidade baixa represetam as trocas comerciais, como mercados e galerias. Diga-se de passagem, que ao observar o estado de conservação destes edifícios, observa-se áreas bem conservadas entre as Ruas Carlos de Souza Nazaré e Ladeira General Carneiro. E a má conservação de nos arredores do Parque Dom Pedro II
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Edifícios em sua maioria demonstram caráter homogêneo, a maioria apresenta 3 pavimentos.
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Circuito de importância econômica na cidade de São Paulo.
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Observa-se a relação que a topografia impõe às conexões, essa superação de cotas pode ser observada pelos viadutos e calçadões do centro. O mapa também evidência a importância conectiva que a área possui com o restantes da cidade, pela presença de avenidas de ligação entre regiões.
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LEGISLAÇÃO I. A região a ser trabalhada pertence ao bairro, distrito e subprefeitura da Sé, e conta com uma área de aproximadamente 470.350m². Seu contexto legal, com base de dados referente ao site Geosampa da Prefeitura de São Paulo, abrange áreas com as seguintes questões: • Zoneamento: ZC (Zona de Centralidade), majoritariamente, Zeis-5 e Zeis-3. Ou seja, almeja a quebra da homogeneidade comercial, para dar espaço para usos mistos ou de adensamento, e assim tornar possível a quebra da população flutuante existente atualmente. Pontualmente, áreas são indicadas como Zonas Especiais de Interesse Social 3 e 5, que complementam a intenção da zona citada anteriormente, porém com foco no adensamento populacional, utilizando-se respectivamente de áreas com imóveis ociosos e subutilizados. Devido a presença de ZEIS, devemos seguir os usos determinados no PDE 2014, as diretrizes são: -ZEIS-3: 60% p/ HIS 1 (min) 20% p/ HIS 1 ou HIS 2 20% p/HMP, R ou nR (max). -ZEIS-5: 40% p/ HIS 1 ou HIS 2 (min) 20% p/ HIS1, HIS 2 ou HMP 40%p/ HMP ou R /nR (max). • ZEPEC (Zonas Especiais de Preservação Cultural): Este tipo de zona encontra-se de modo intenso na área de estudo, por se tratar do marco zero da cidade, onde originou-se e atribuir alto valor histórico, por isso, há de se ater a todos os critérios de preservação histórica. Orgãos como Condephaat, Iphan e Conpresp, também são grandes aliados projetuais.
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• Zona de Uso: Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, ZPC-a (Zona de Centralidade Polar-a) II. De acordo com o Plano Diretor Estratégico (PDE), a Operação Urbana Centro, que engloba as regiões do “Centro Velho” - lugar de intervenção deste trabalho -, “Centro Novo”, Brás, Glicério, Bexiga, Santa Ifigênia e Vila Buarque. A Operação Urbana Centro foi criada com o objetivo de promover a melhoria e a revalorização da área central, para atrair investimentos imobiliários, turísticos e culturais e reverter o processo de deterioração do Centro. Abrange as regiões dos chamados Centro Velho e Centro Novo, bem como parte de bairros históricos como Glicério, Brás, Bexiga, Vila Buarque e Santa Ifigênia. Esta operação estabeleceu incentivos, mediante contrapartida financeira, à produção de novas edificações, à regularização de imóveis, à reconstrução e reforma das existentes para sua adequação a novos usos, e também estabeleceu condições especiais para a transferência de potencial construtivo de imóveis de interesse histórico. (SP Urbanismo, 2016, p.4) Por se tratar de uma área de Operação Urbana, o coeficiente de aproveitamento indicado pela operação é o que se sobressai em relação ao zoneamento.
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LEGISLAÇÃO III. A prefeitura de São Paulo, em parceria com a Fundação para pesquisa de Arquitetura e Ambiente (FUPAM), elaboraram um plano urbanístico para a requalificação do Parque Dom Pedro II. O projeto reorganiza a estrutura de conexões urbanas através de um intermodal, e possibilita novas caminhos pedonais que ligam a área central com a leste, para isso propõem caminhos subterrâneos aos carros. O rio Tamanduateí recebe tratamento d’água através de um projeto de drenagem que além de evitar alagamentos da área, possui qualidade paisagística, devolvendo a área vitalidade que antes existia. O programa também conta com a criação de um centro de compras que dá continuidade à rua 25 de Março, e a construção de um Sesc e Senac, promovendo interação com o Mercadão Municipal. De todas as propostas, a que está hoje em vigor é a construção do Sesc.
Qualificação do Habitat, da Mobilidade e do Meio Ambiente, além da preservação do patrimônio histórico. V. NBR 9050, Acessibilidade, a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos: Esta Norma visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos (ABNT NBR 9050, p.9
IV. PIU Central, abrange os terrenos do Brás, Belém, Pari, Bom Retiro e Santa Cecília, e Setor Metropolitano (distritos da República e Sé). O incentivo à habitação é o grande objetivo do Projeto. Com o intuito de atrair até 220 mil novos moradores para a região, as intervenções consideram, sobretudo, a necessidade de integração e qualificação do território, buscando dar suporte ao pretendido adensamento populacional e construtivo, à diversificação de atividades e ao fortalecimento da economia. As ações contemplam diferentes eixos, porém, interligados, como
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ESTUDO DE CASO -Projeto: 25 de Março -Autor: Vigliecca & Associados (Hector Vigliecca, Luciene Quel, Lilian Hun, Fábio Galvão, Ana Carolina Penna, Ana Carolina Poli, Paula Bartorelli, Ronald Werner Fiedler) -Local: São Paulo, SP -Data: 2001 Projeto pedido pela Prefeitura de São Paulo ao escritório, porém não implementado. O escritório acredita que a área seja consolidada, porém necessita de suporte físico para continuar a exercer sua potencialidade comercial. Para isso tais soluções foram criadas: Mudança viária através da eliminação do trânsito de passagem pela rua 25 de março, para a rua Carlos de Souza Nazareth e Avenida do Estado, cujo se encontram subutilizadas, visto que suas larguras não atingem a capacidade máxima de faixas de veículo. A rua 25 de Março recebe então a estrutura para
Figura 13 – Croqui Rua 25 de Março Autor: Autor: Vigliecca& Associados (2001)
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passagem de um Veículo Leve sobre Trilho (VLT). A ruas perpendiculares á 25 de março e Comendador Abdo Schahin são vistas como potenciais áreas de estar, complementadas por boxes de alimentação e praças sombreadas. Construção de um edifício garagem e um terminal de ônibus de turismo, táxi e carga e descarga, nas quadras ao lado do Mercado Municipal. Este edifício seria conectado á rua Florêncio de Abreu através um novo solo urbano semipúblico elevado. Este caminho conta com a utilização de pavimentos elevados dos edifícios da área que se encontram em desuso ou degradados. Para o comércio informal, é criado um boulevard com equipamentos como sanitários e postos policiais. O valor estético do boulevard é pensado de modo a adequação do caráter popular de comércio. A escolha deste projeto como estudo de caso se dá em função da possibilidade de desvio de trânsito e desafogamento de veículos na rua 25 de Março e das áreas de bem estar propostas nas ruas tangenciais a rua da 25 e Comendador Abdo Schahin. A ideia de uma paginação simples também é algo considerável, pois o entorno já é carregado de informação, e a ideia de organização se enfatiza. Tais propostas correspondem ao trabalho deste TFG. Figura 14 – Croqui passarela elevada e edifício garagem como elemento conector Autor: Autor: Vigliecca& Associados (2001)
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ESTUDO DE CASO -Projeto: Ladeira da Barroquinha -Autor: Metro Arquitetos Associados -Local: Salvador, BA -Data: 2013 Projeto no Centro Histórico de Salvador para a Praça do Cinema Glauber Rocha e para a Ladeira da Barroquinha. A praça situa-se no topo da ladeira possuindo caráter mirante para a Baía de Todos os Santos e Igreja da Barroquinha. O público alvo da ladeira são pessoas quer saem do terminal de ônibus em direção ao centro e compradores e comerciantes do comércio de couro artesanal ali presente. Portanto, o desenho da ladeira, visa ritmos de passagem, um rápido e outro lento. Contudo, ambos os desenhos se dão de forma confortável e acessível.
Figura 15 – Fotografia Ladeira da Barroquinha Autor: Ilana Bessler (2013)
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O desenho de fluxo rápido se dá ao lado do muro de contenção presente na paisagem, que anteriormente fora obstruído por barracas. Este é feito com o uso de rampas e degraus ritmados e espaçados. O desenho do fluxo lento encontra-se ao lado dos edifícios comerciais, que possibilita através da criação de platôs a extensão comercial para abrigar comércios de rua. Seus degraus foram dispostos na intenção de um caminho mais atento e por vezes têm caráter de banco. A paginação também é pensada em função dos fluxos, sendo o rápido algo de textura homogênea e plana, e o lento acompanhando o acabamento que o centro histórico leva, pedra portuguesa. A escolha deste projeto como estudo é pertinente ao considerar a semelhança morfológica, o contexto histórico e como criar diretrizes para um desenho de via com tais aspectos topográficos.
Figura 16 – Fotografia Ladeira da Barroquinha Autor: Ilana Bessler (2013)
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-Projeto: Centro Aberto -Local: São Paulo, SP -Autor: SP Urbanismo -Data: 2015 A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, organizou um workshop para trazer questões a serem melhoradas nos espaços públicos do Centro de São Paulo. A metodologia utilizada para desenvolvimento do é feita pelo escritório Gehl Architects. As soluções encontradas formam um “cardápio” de ferramentas que podem ser aplicadas de acordo com a necessidade de cada espaço tratado e estudado: A. B. C. D. E. F.
Bancos, vasos e balizadores Sinalização, iluminação e arte pública Atividades cotidianas Instalações e serviços públicos Intervenções lúdicas para todas as idades Sinalização Horizontal
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A. B. C. D. E. F.
Figura 17 – Fotografia Ladeira da Barroquinha Autor: SP Urbanismo (2015) A escolha deste projeto como estudo de caso se dá como a essência deste estudo, onde através de pequenas ou grandes intervenções espalhadas pela cidade como um ato de acupuntura urbana, consegue-se promover melhor qualidade de espaços públicos e convivência. Como metástases benignas a cidade.
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ESTUDO DE CASO -Projeto: Projeto de Requalificação do Parque Dom Pedro II -Autores: Una Arquitetos, H+F arquitetos, Metrópole Arquitetos e Lume -Local: São Paulo, SP -Data: 2011
Figura 18 – Criação de uma lagoa de retenção para as águas excedentes da chuva, evitando o alagamento do Rio Tamanduateí e estabelecendo uma relação de proximidade entre pessoas e rio.
metástase benigna
A região do Parque Dom Pedro II, com certeza é uma das cicatrizes que marcam a cidade de São Paulo. Região hoje depreciada e repleta de ambientes ociosos, recebe um novo projeto de requalificação extenso. Nele a conexão dos bairros da Sé e Brás se faz presente, além da organização dos modais de transporte ali existentes, O Terminal Parque Dom Pedro II, um dos mais movimentados da cidade, e o Expresso Tiradentes, que liga a Zona Leste e Centro de São Paulo e a estação de metrô Parque Dom Pedro II. Portanto, este TFG, será uma extensão de um projeto existente, mesmo que ainda em papeis. Como uma resposta a este cenário, onde as vistas de maior interesse não negarão o Leste. Um manifesto ao que ocorrera no passado. Além disso, é uma tentativa de recuperação ao nome que faz jus á rua da cota mais alta da implantação do projeto: Boa Vista. Onde em seus 400m não se pode desfrutar da paisagem devido ao emparedamento gerado pelos altos edifícios ali construídos, exceto à parte em que ela se torna viaduto, próxima ao Pátio do Colégio, que se percebe a situação topográfica situada.
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Figura 19- Estação Intermodal é criada para poder organizar os sistemas de transporte público ali existente, cujas são as estações de metrô e ônibos Dom Pedro II
Figura 21- Estação Intermodal é criada para poder organizar os sistemas de transporte público ali existente, cujas são as estações de metrô e ônibos Dom Pedro II
metástase benigna
Figura 20- Requalificação da parte Sul da Região da 25 de Março com a incrementação de edifícios de atividade comercial e habitacional, com intuito de gerar vitalidade diurna e noturna.
Figura 22- Conexão entre as regiões da Sé e Brás, com caminhos pedonais permitido pelo rebaixamento da Avenida do Estado e demolição dos viadutos que foram o motivo principal de sua depreciação.
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DIAGNÓSTICO A região da Rua 25 de Março conta é rica em vitalidade, porém clama por requalificação. A falta de espaço público para circulação pedonal, se torna um problema, pois as ruas conflitam entre veículos, pedestres e comerciantes ambulantes. A situação geográfica em que se encontra a área de estudo, enfatiza a inquietação em ali ser pedestre, e traz outras questões. Ela segrega o ambiente em dois momentos. “Cidade alta” e “Cidade baixa”. O primeiro, localiza-se acima da colina, onde a cidade de São Paulo originou-se, e é historicamente marcado com edificações que representam cultura e poder, como por exemplo, o Mosteiro de São Bento, o Páteo do Colégio, Banespa e o Centro Cultural Banco do Brasil. Já o segundo encontra-se a margem do Rio Tamanduateí, que é e sempre foi, um local enfatizado pelas trocas comerciais, o Mercado Municipal da Cantareira e Kinjo Yamato, e a própria Rua 25 de Março, são representações disto. Observa-se então, o desafio de conexão entre ambas as partes, mais precisamente, estabelecidos por uma encosta de 20 metros de altura. Portanto, não há atualmente formas confortáveis e acessíveis para dar continuidade ao fluxo intenso de pedestres que circula pela área diariamente. Esta circulação conecta pessoas não só ao centro comercial, mas também aos meios de transporte público que a região de entorno oferece, como as estações São Bento, Sé e Parque Dom Pedro II de metrô, estação Luz da CPTM, terminais Parque Dom Pedro II, Bandeira e Correio de ônibus.
metástase benigna
Nos anos 30, com o Plano Radial concêntrico, cicatrizes foram criadas na região do Parque Dom Pedro II através de viadutos como Diário Popular, 25 de Março e Antônio Nakashima, e avenidas como a do Estado e Rangel Pestana, que sobrepõem a região do parque e rio, e negam ao pedestre o seu acesso. O espaço público vem sendo colocado em segundo plano na região desde então. Como reflexo, diversos vazios urbanos foram criados e surtiram efeito de depreciação urbana das áreas próximas. Exemplos disso são: as quadras próximas ao Mercado Municipal Cantareira, assim como a região próxima ao terminal de ônibus Parque Dom Pedro II. Diferente da rua 25 de Março, que no trecho entre a Avenida Senador Queirós e Ladeira General Carneiro, que mantém a conservação em função a vitalidade que o comércio proporciona. Entretanto, tal vitalidade é presente apenas entre as 9 horas a.m e 18 horas p.m., decorrente da homogeneidade de uso e ocupação da área atualmente. Portanto, a área como um geral, enfrenta situação de insegurança, seja pelo movimento intenso sem ordenação ou pela falta de movimento. E necessita de infraestrutura para despertar o desejo de permanência em todos os períodos, além de diversificação de uso, porém sem perder as raízes que transformam a área em uma potência econômica e turística para a cidade de São Paulo.
PROJETO
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MASTERPLAN O projeto, acontece em três etapas: criação de módulos replicáveis que servem como infraestrutura para área; categorização das vias e seus desenhos; e edifícios como meio de quebra de homogeneidade de uso na área e transposição de cotas de nível. A categorização das vias tem como resposta o desenho de quatro modelos, que garantirão a organização entre pedestres, veículos e comerciantes ambulantes, melhorando o conforto para circulação na área:
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As ruas exclusivas para pedestres e comércio ambulante, constam no nivelamento da rua por completo. Ao longo da rua, módulos padronizados para comércio ambulante, são dispostos de forma estratégica com o fluxo intenso. Este modelo é pensado para as ruas 25 de março, Niazi Chohfi, Lucrécia Leme, e breve parte das ruas Comendador Afonso Kherlakian e Cavalheiro Basílio Jafet. As ruas compartilhadas, contam com o nivelamento do leito carroçável e calçadas, mas com sinalização onde o veículo deve circular e que o pedestre se mantenha em segurança. Este desenho destina-se ao restante das ruas Comendador Afonso Kherlakian e Cavalheiro Basílio Jafet, e ruas Augusto Severo, Florêncio de Abreu, Barão de Duprat, Jorge Azem, Praça Ragueb Chohfi, Parque Dom Pedro II, Bitencourt Rodrigues, Hércules Florence, Fernão Sáles e General Carneiro, no ponto onde deixar de ser ladeira. As ruas convencionais, devido á circulação intensa de carros, em função da transformação da rua 25 de março em exclusiva para pedestres e camelôs, contará apenas com o melhoramento das calçadas. As ladeiras, necessitarão de atenção especial e cada uma delas receberá um desenho específico. O objetivo que elas obtêm em comum é a possibilidade de uma circulação mais agradável, confortável e seguro, entre as áreas separadas pela encosta.
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Também são criadas áreas de estar, para que haja momentos de respiro em meio ao agito do contexto inserido. Tanto nas áreas de estar como nas vias exclusivas para pedestre e comércio, compartilhadas e em alguns momentos das ladeiras, serão dispostas pequenas intervenções modulares. Estas intervenções acontecem a partir de uma estrutura modular, de caráter flexível ao espaço. Nesta estrutura, poderão ser inseridos acessórios pensados para melhorar a infraestrutura da área e aumentar a margem de permanência das pessoas na área. Estes acessórios são: luminárias, lixeiras, bancos, prateleiras para exposição de mercadorias, placas fotovoltaicas, bebedouros, paraciclos e cachepôs. Tais intervenções formam o partido arquitetônico deste projeto e título. Metástase Benigna, pois acredita-se que a área é rica em vitalidade, apenas necessita de acupunturas urbanas espalhadas pelo organismo que é a área de intervenção, para dar infraestrutura e aumentar a permanência de pessoas não sazonal, e sim constante. Por fim, a metástase muda de escala e atinge o nível do edifício. Perante as legislações vigentes a diversificação do uso é sugerida, então edifícios com programas não comercial serão criados e por vezes ajudará a fazer a transposição de cotas de maneira acessível à todos.
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METÁSTASE BENIGNA Intervenções modulares acontecem a partir de uma estrutura modular, de caráter flexível ao espaço e topografia. Nesta estrutura, poderão ser inseridos acessórios pensados para melhorar a infraestrutura da área e aumentar a margem de permanência das pessoas na área. Estes acessórios são: luminárias, lixeiras, bancos, prateleiras para exposição de mercadorias, placas fotovoltaicas, bebedouros, paraciclos e cachepôs. Tais intervenções formam o partido arquitetônico deste projeto e título. “Metástase Benigna”, pois acredita-se que a área é rica em vitalidade, apenas necessita de acupunturas urbanas espalhadas pelo organismo que é a área de intervenção, para dar infraestrutura e aumentar a permanência de pessoas não sazonal, e sim constante.
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METÁSTASE BENIGNA: MÓDULO COMERCIAL
30
2,00
1
2,00 60
1
2,00
30
60 40
ABERTURA 180º
BANCO
35
40 67
PRATELEIRA PRATELEIRA
BANCO
PLANTA
1:50
FECHADO
PLACA FOTOVOLTÁICA PRATELEIRA PIVOTANTE
DOBRADIÇA
ARMÁRIO
54 54
CACHEPOT
10
18
30
10
30
40
54
40
40
30
ABERTURA 90º
54
3,00 2,90
30 20 30 20 30
59
54
7
5
MÓDULO COMERCIAL
BANCO
STEEL FRAME
FUNDAÇÃO
PERNA RETRÁTIL COM AJUSTE DE ALTURA
0
CORTE
metástase benigna
.50
PARACICLO
1
2m
1:50
93
2,90
7
1,82
1,70 7 3,50
Banheiros públicos são um fator determinando na permanência de pessoas no local. Posto isso, módulos foram criados para suprir esta demanda. Estas cabines têm o intuito de servir a todos sem discriminação,
1,42
1,82
METÁSTASE BENIGNA: MÓDULO BANHEIRO PÚBLICO
RESERVATÓRIO PARA COLETA DE ÁGUA DA CHUVA E ESGOTO
TROCADOR
6 17 6 RESER. ÁGUA CHUVA
6 13 7
95
3,00
CORTE
PAVIMENTO TÉRREO
CUBA
CLARABÓIA
1:50
TROCADOR
MÓDULO BANHEIRO
CHAPA PERFURADA PARA VENTILAÇÃO E CAPTURA DE ÁGUA
RESERVATÓRIO PARA COLETA DE ÁGUA
80
77 15
3,00
STEEL FRAME
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BARRAS ACESSIBILIDADE
FUNDAÇÃO
BACIA SANITÁRIA
0
CORTE
CORTE BANHO
RESERVATÓRIO PARA COLETA DE ESGOTO
.50
1
2m
1:50
95
metástase benigna GSPublisherVersion 0.10.100.4
METÁSTASE BENIGNA: ACESSÓRIOS MÓDULOS
PLACA FOTOVOLTÁICA ARMÁRIO PRATELEIRA
LED
CACHEPOT BANCO PARACICLO
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METÁSTASE BENIGNA: ACESSÓRIOS MÓDULOS
PLACA FOTVOLTÁICA
LIXEIRAS
LAVATÓRIO
BEBEDOURO
PARACICLO
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METÁSTASE BENIGNA: CONCEITO ILUMINAÇÃO
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BALIZADOR
POSTE
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CLASSIFICAÇÃO VIÁRIA
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
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Lynch (1980) em seu livro encaminha o leitor para uma melhor identificação da estrutura do espaço em que se situa na urbe. Fala da magnitude dos pontos nodais, bairros, limites e caminhos, para exercer tal tarefa. Este último tópico, caminhos, é o elemento em que gera mais memórias ao cidadão, de fato o caminhar traz uma percepção mais atenta aos detalhes. Itens que colaboram para a melhoria passeio são a largura das calçadas, tratamento com áreas verdes, continuidade, visibilidade perante outras partes da cidade, que possibilitem um visual amplo, e consequentemente ajuda na segurança das pessoas, e por fim apresentar origem e destino bem claros.
103
CONCEITO PISO DRENALTEC: PISO MACIÇO MASTER • variedade de cores • utilização de produtos recicláveis em sua composição • alta resistência ao atrito • variedade de dimensões de placa • fácil manutenção • alta aderência em rampas • pisos atérmicos
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DIAGRAMA GERAL REGIร O PATEO DO COLLEGIO
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IMPLANTAÇÃO GERAL LARGO PATEO DO COLLEGIO
RUA
BOA
VISTA
PATEO DO COLLEGIO
LAD EIR AG EN ERA LC AR NE IRO
ESC.: 1:1000
PRAÇA FERNANDO COSTA
metástase benigna RUA 25 DE MARÇO
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CIO
738
738
737
AMPLIAÇÃO LADEIRA GENERAL CARNEIRO • Valorização do potencial estético do Viaduto Boa Vista através da instalação de um cinema de rua. • Instalação de elevador urbano para superação de desnível entre Rua Boa Vista e Ladeira. • Intervenção em encosta do Pátio do Colégio através de bancos, sem alterar a morfologia do solo. A fim de preservar seu valor histórico e dar uso à área hoje cercada e sem acesso.
737
736
735 735
ESC.: 1:200
113
metástase benigna 734
DIAGRAMA LADEIRA GENERAL CARNEIRO
metรกstase benigna
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CORTE LADEIRA GENERAL CARNEIRO
metรกstase benigna
ESC.: 1:500
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AMPLIAÇÃO CORTE LADEIRA GENERAL CARNEIRO
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metรกstase benigna
121
0
73
CO
0
73
MÉ RC IO CO MÉ RC IO
0
73
CO MÉ RC IO
9
LAD
72
EIR AG EN
CO
ERA
MÉ
LC
9
RC
NE
IO
AR
72
9
IRO
72
CO
IMPLANTAÇÃO P R A Ç A FERNANDO COSTA
MÉ RC IO
8
72
28
7
CO MÉ RC IO
7 72
6
72
6
72
6
72
5
72
0
73
5
72
PRAÇA FERNANDO COSTA
ESC.: 1:500 RUA 25 DE MARÇO
metástase benigna
123
0
73
CO
0
73
MÉ RC IO CO MÉ RC IO
0
73
CO MÉ RC IO
9
LAD
72
EIR AG EN
CO
ERA
MÉ
LC
9
RC
NE
IO
AR
72
9
IRO
72
CO
T É R R E O P R A Ç A FERNANDO COSTA
MÉ RC IO
8
72
28
7
CO MÉ RC IO
7 72
6
72
6
72
6
72
5
72
5
72
PRAÇA FERNANDO COSTA
ESC.: 1:500 RUA 25 DE MARÇO
metástase benigna
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DIAGRAMA PRAÇA FERNANDO COSTA RECUPERAÇÃO DA VISTA PARA O LESTE ATRAVÉS DA CRIAÇÃO DE UM MIRANTE NA PRAÇA FERNANDO COSTA.
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DIAGRAMA EXPLODIDO GRID
VERDE
SERVIร O
FLUXO
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LADEIRAS PORTO GERAL E CONSTIUIÇÃO
PORTO GERAL • Criação de áreas de estar a partir da desapropriação de edifícios baixos, no intuito de criar vazios de qualidade e fornecer a infraestrutura que permita permanência para o público da área. • Resenho da Rua Varnhagen, para melhoria de espaço público. • Criação de edifício conector entre a rua Varnhagen e Largo do São Bento.
CONSTITUIÇÃO • Criação de passarela a partir da sugestão de varandas existentes em edifícios e desapropriação de edifício de esquina entre rua 25 de Março e Ladeira da Constituição, para fazer a transposição de cotas de modo acessível, além de proporcionar acesso a andares dos edifícios antes inutilizados.
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LADEIRA PORTO GERAL
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LADEIRA DA CONSTITUIÇÃO
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Referências AMADO, Jorge. Capitães da Areia. Rio de Janeiro: Companhia de Bolso, 1937. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Polônia: Jorge Zahar, 2000. BUCCI, Angelo. São Paulo, Razões De Arquitetura. São Paulo: Romano Guerra, 2010. CACCIARI, Massimo. A Cidade. Barcelona: Gustavo Gili, 2009. CALLIARI, Mauro. Espaços públicos de São Paulo: o resgate da urbanidade. 152. Mestrado – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. HERTZBERGER, HERMAN. Lições de Arquitetura. Amsterdam: Martins Fontes, 1999. KARSSENBERG, Hans. A cidade ao nível dos olhos: lições para os plinths. EdiPUCRS: 2015. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1980. ROLNIK, Raquel. O que é Cidade. São Paulo: Brasiliense, 1898. SOLÁ-MORALES, Ignasi. Territórios. Barcelona: Gustavo Gili, 2003.
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