[Projeto] Revista Campeões - Edição 01 (Janeiro 2021)

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CAMPEÕES EDIÇÃO N.1 - JANEIRO 2021

TUDO SOBRE O GRANDE ÍDOLO

+ PÔSTER TÓQUIO 2021 OS MELHORES DO FUTEBOL EM 2020 SÉRIE ORIGENS : LEWANDOWSKI

R$20,00

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JAN 21 1 LEWANDOWSKI CONQUISTA O “THE BEST FIFA”, NEYMAR É 9º


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28 Ayrton Senna especial

ÍNDICE Está é uma publicação criada como recurso para as aulas de Diagramação de Revistas

6 Os melhores do futebol em 2020

Foto de Capa: T.A.S

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Textos: Redação Goal Redação GE Rodrigo França Marcelo Courrege Renata Heilborn Diagramação: MHGomMg Studio

Neymar fora do top 3

86 Os desafios das Olímpiadas de Tóquio

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OS MELHORES DE 2020

os melhores do mundo

Lewandowski e o presidente da FIFA Gianni Infantino

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NO TOPO A

temporada 2019-20 de Robert Lewandowski foi sensacional e, como resultado, o polonês está aumentando sua coleção de prêmios individuais. O atacante do Bayern de Munique venceu a concorrência de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, mas não acredita estar no nível dos dois. Além do título da Bundesliga e da Liga dos Campeões pelo Bayern de Munique, Lewandowski teve sua incrível temporada reconhecida por premiações individuais, como o The Best, da Fifa, e o Goal 50, entregue anualmente pela Goal. Tais honrarias estiveram diversas vezes nas mãos de Messi e Ronaldo, mas não desta vez. Após dominarem as premiações de Melhor do Mundo por mais de uma década, juntos a estrela do Barcelona e o craque da Juventus venceram as eleições da Bola de Ouro 11 vezes. Neste ano, por conta da pandemia de Covid-19, a France Football não entregou o prêmio, mas o favoritismo era de Lewa. Apesar da temporada estrondosa, de sua importância no Bayern e do favoritismo a ganhar todos os prêmios, Lewa, em entrevista à própria France Football, descartou qualquer comparação entre ele e a dupla. "Messi e Ronaldo estão sentados na mesma mesa, no topo, há muito tempo, e isso é o que os torna incomparáveis. Não consigo me imaginar ao lado deles neste ponto de vista", disse o atacante polonês.

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O atacante, que mostra um imenso carisma ao postar fotos e vídeos cuidando dos prêmios que ganhou como se fossem pessoas, ainda brincou com a história das mesas: "Não estando na mesma mesa que Messi e Ronaldo, acho que posso convidá-los a comer na minha". Mas, apesar de todas as brincadeiras

e comparações, o polonês reconheceu seus bons números - na temporada passada, por exemplo, foram 55 gols marcados em 47 jogos disputados e, em 202021, chegou aos 20 tentos em 18 partidas. "Se você pegar os números deste ano e até os anteriores, eu acho que sou muito bom em termos de desempenho e de gols marcados", disse Lewa. Mas, apesar de todas as brincadeiras e comparações, o polonês reconheceu seus bons números - na temporada passada, por exemplo, foram 55 gols marcados em 47 jogos disputados e, em 2020-21, chegou aos 20 tentos em 18 partidas. "Se você pegar os números deste ano e até os anteriores, eu acho que sou muito bom em termos de desempenho e de gols marcados", disse Lewa. Com 32 anos, o atacante provavelmente já passou pelo seu auge físico, mas não deixe que isso o impeça de nada e trabalha que a idade não seja um empecilho em seu futuro. "Tenho um desejo de progredir e isso é ainda mais importante porque sei que meu tempo é limitado". Mas tudo isso é fruto de trabalho e, como ele mesmo disse, não acontece da noite para o dia: "Obviamente, o progresso não é instantâneo. O problema é que muitas pessoas querem que o que você faz em trabalho invisível seja visto imediatamente. A paciência é uma virtude importante, tanto no futebol como na vida", ressaltou o atacante.

Lewa em ação pela Liga dos Campeões

O artilheiro em ação na Liga dos Campeões

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INFOS

ALTURA 1,84 m

NOME: Robert Lewandowski NASCIMENTO: 21/08/1988 LOCAL: VARSÓVIA, POLÔNIA NACIONALIDADE: POLACO PÉ: DESTRO

CLUBES ZNICZ PRUSKÓW

LECH POZNAN

BORUSSIA

BAYERN

PRINCIPAIS PRÊMIOS:

674 JOGOS

- The Best FIFA Men's Player : 2020 - UEFA Men's Player of the Year : 2019 - 2020

456 GOLS

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LUC1 A lateral-direita inglesa Lucy Bronze, do Manchester Sarina City, Wiegman, foi técnica eleita nesta quinta-feira a melhor jogadora do mundo da seleção na pre-feminina da miação do Fifa The Best, a cerimônia que consagrou Holanda os principais nomes do futebol na temporada 2019/2020. Bronze, que conquistou o prêmio por suas atuações pelo Lyon, onde jogou até agosto, superou na eleição a atacante dinamarquesa Pernille Harder, ex-Wolfsburg, hoje no Chelsea, e a zagueira francesa Wendie Renard, do Lyon. Também foram premiadas na cerimônia a francesa Sarah Bouhaddi, eleita a melhor goleira do mundo, e a holandesa Sarina Wiegman, da seleção da Holanda, escolhida como a melhor treinadora. A Fifa também anunciou a seleção da temporada no feminino, eleita pelo sindicato mundial de jogadores profissionais (FIFPro): Christiane Endler (PSG), Lucy Bronze (Manchester City); Wendie Renard (Lyon) e Millie Bright (Chelsea); Tobin Heath (Manchester United); Veronica Boquete (Milan), Barbara Bonansea (Juventus) e Megan Rapinoe (OL Reign); Delphine Cascarino (Lyon), Vivianne Miedema (Arsenal) e Pernille Harder (Chelsea). Lucy Bronze, de 29 anos, jogou por três temporadas no Lyon e conquistou todos os títulos possíveis com a equipe em 2020: campeã francesa, da Copa da França, da Supercopa da França e, no fim de agosto, da Liga dos Campeões da Uefa. Em seguida, ela acertou seu retorno ao Manchester City, onde atuou de 2014 a 2017. Ano passado, ela ficou em terceiro lugar na eleição da Fifa The Best.

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Lucy no prêmio "FIFA The Best"

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FICHA NOME: Lucia Roberta Toguh Bronze Nascimento: Berwick-uopn-Tweed Altura : 1,71 m Posição: Lateral Direita Clubes: Sunderland (2007 - 2010), Everton (2010 - 2012), Liverpool (2012 - 2014), Manchester City (2014 - 2017), Olympique Lyonnais (2017 - 2020), Manchester City (desde 2020) Jogos: 231 Clubes: 25

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DE NOVO...

The Best: Neymar recebe votos de Tite, Messi, Gustavo Gómez e outros nomes surpreendentes e fica em 9.º

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NEYMAR

TENTE OUTRA VEZ A Fifa premiou o atacante Robert Lewandowski como o melhor jogador do mundo da última temporada. O polonês venceu Messi, Cristiano Ronaldo e conquistou o prêmio. Já o brasileiro Neymar ocupou apenas a 9.ª posição. E chamou atenção os votos recebeidos pelo craque do Paris Saint-Germain. Ao todo, o atacante recebeu sete votos e somou 16 pontos. Os votos de Messi, antigo companheiro de Barcelona, Thiago Silva, ex-companheiro de PSG e seleção brasileira, Tite, treinador do jogador no Brasil, foram alguns que Neymar recebeu. Já os outros quatro chamaram atenção. Neymar foi colocado como melhor do mundo por Gustavo Gomez, zagueiro do Palmeiras e capitão do Paraguai, Jong Ilgwan, capitão da Coreia do Norte, Charles Akunnor, técnico da Gana e Márcio Maximo Barcellos, técnico da Guiana. Em 9.º na colocação final, Neymar ficou

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atrás, além dos três primeiros, Mané, De Bruyne, Salah, Mbappé e Thiago Alcântara. O atacante brasileiro só esteve entre os três primeiros em duas oportunidades. Em 2015 e 2017.

Neymar e Mbappé ajudaram a levar o PSG a final da Liga dos Campeões


RESULTADOS Após ausência em trio final do The Best, Neymar ironiza: "Partiu basquete" Veja abaixo a colocação de Neymar, ano a ano, na Fora do trio final para o prêmio The Best da Em seu primeiro post, o atacante do PSG usa premiação. Fifa, de melhor jogador do mundo, Neymar usou as redes sociais para se manifestar. E com ironia. O atacante do PSG fez posts sim2011: 10º ples no seu perfil no Twitter nos quais, em tom 13º de 2012: brincadeira, diz que vai desistir do futebol.

2013: 5º 2014: 7º " Já que3º não deu certo no fute2015: 2016: 4ºbasquete. Já desisti bol, partiu 3º Virei GAMER." do2017: basquete. 2018: Fora do Top 10 2019: Fora do Top 10 2020: 9º — Neymar, após ficar fora do trio final do The Best

um emoji que simboliza uma bola de tênis. A impressão que dá é que ele talvez tenha errado na escolha da imagem, que deveria ser uma bola de futebol. Neymar estava entre os 11 nomeados pela entidade para concorrer ao prêmio de melhor jogador do mundo. A escolha da lista inicial é feita por um painel de ex-jogadores e treinadores do Fifa Legends. A partir desse grupo, a votação se inicia com quatro colégios eleitorais: capitães e treinadores das seleções nacionais, jornalistas dos países afiliados à Fifa e o público, que vota na internet. Cada grupo votante tem 25% de peso na escolha do melhor do mundo, e Messi, Cristiano Ronaldo e Lewandowski foram os mais votados.

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NEYMAR

Neymar também ficou fora do trio final do prêmio de melhor jogador da última temporada europeia, que contou com Lewandowski, Neuer e De Bruyne como finalistas. O brasileiro terminou na quarta posição, e o polonês do Bayern, favorito também ao The Best, foi o vencedor. Havia a expectativa para que Neymar estivesse ao menos entre os três melhores jogadores do mundo em 2020. Ele liderou o PSG na reta final da Champions, e o time parisiense chegou à sua primeira final da competição. O camisa 10 do Paris fez 19 gols e 11 assistências em 27 jogos na última temporada, com ótima média de participação direta de 1,11 gol/jogo (um a cada 79 minutos). Lewandowski, o provável vencedor do The Best, fez 55 gols e nove assistências em 47 jogos na última temporada. A média de participação direta para gol por jogo sobe para 1,36. Para facilitar as contas, oatacante do Bayern participou de um gol a cada 64 minutos em 2019/20.

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ORIGENS - LEWANDOWSKI DO BERÇO DE ATLETA AO TOPO DO MUNDO

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s trilhos rumo ao sucesso no futebol quase nunca seguem uma linha reta, um caminho perfeito. Foi assim na vida de Robert Lewandowski, melhor jogador polonês de todos os tempos, e eleito pela FIFA esta semana como o melhor jogador do mundo. O melhor, o ‘'The best’’, isso costuma ser uma questão de gosto, mas os números da última temporada deixaram os eleitores da FIFA sem opção. Foram oito gols pela seleção da Polônia e impressionantes cinquenta e cinco gols com o Bayern de Munique. Média superior a um por jogo. Campeão alemão, da Copa, da Supercopa da Alemanha, e pela primeira vez na carreira, aos 32 anos, levou para casa o troféu da

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Liga dos Campeões da Europa. - O Lewandowski é uma lenda do Bayern ainda em atividade, um dos mais importantes jogadores do mundo para o seu clube, como foram há alguns anos Cristiano Ronaldo e Messi - disse Lothar Mathaus, campeão do mundo com a Alemanha Ocidental em 1990 e o primeiro alemão eleito como o melhor do mundo pela FIFA. Quase uma unanimidade, Lewandowski nem sempre esteve no topo. A realidade de ser um jogador de futebol profissional parecia distante para o menino de 9 anos, nascido em Varsóvia, capital da Polônia.


Estádio do Znicz Prusków, onde Lewandowski iniciou sua remontada

O pequeno Robert Lewandowski (o último da esquerda para direita na parte debaixo), com seu pai e seus companheiros de time

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ORIGENS

- O jeito que ele se mexia no campo… Havia alguma coisa naquele garoto. Ele era bem diferente. Tinha talvez 30 por cento dos músculos que tem hoje. Eu me lembro de falar na transmissão: se esse garoto fizer tudo certo, ele vai jogar na seleção. Mas nunca pensei que ele seria por exemplo o maior artilheiro da historia da Polônia -

explicou Maciej Iwanski, comentarista do canal polonês TVP Sport que acompanha os passos de Lewandowski desde 2007. Na infância, ninguém melhor para traçar o destino de um futuro astro do esporte do que dois pais atletas: Krzysztof Lewandowski, um jogador de futebol na juventude que virou judoca de alto rendimento, e Iwona Lewandowska, jogadora da Associação Acadêmica Esportiva Varsóvia, time da primeira divisão do vôlei polonês. Foram os pais que fizeram Lewandowski se apaixonar por esporte, e experimentar cada um deles. - Ele tinha um levantamento lindo no vôlei, mas o dom dele era para jogar futebol. Ele era maravilhoso nadando, jogando basquete, tênis, handball. Todos os esportes para ele eram fáceis de fazer. Mas ele se apaixonou pelo futebol - completou Iwona Lewandowska. Esporte era prioridade na casa dos Lewandowsvkis. Após se aposentarem do tatame e das quadras, o casal Krysztof e Iwona se tornaram professores de educação física, e se mudaram para Leszno, cidade com apenas 10 mil habitantes a 40 minutos de Varsóvia. Na escola pública Stefan Batorego, as quadras e os campos eram território de aulas dos pais e do show dos filhos.

O ESPORTE SEMPRE ESTEVE PRESENTE NA FAMÍLIA LEWANDOWSKI Lewandowski em ação quando defendia o Znicz Pruszków

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Robert com a irmã Mylena, que também foi atleta

- Só no vôlei eu era melhor que ele, mas ainda assim ele era muito bom. Até jogou no time do colégio. Eu estou sempre dizendo que ele pegou os melhores genes dos nossos pais…Infelizmente A melhor combinação eu acho - completa aos risos a irmã Milena Lewandowska. Foi no Varsóvia que ele atravessou a infância, driblou os primeiros anos da adolescência e chamou a atenção do clube mais popular da Polônia: O Léguia Varsóvia. Mas uma lesão e uma dúvida sobre o corpo do atacante fizeram o Léguia dispensar o Lewandowski. - Eles achavam ele baixo, mesmo com 1,85 de altura. O Léguia cometeu um erro enorme. Naquela época o time adulto jogava com apenas um atacante e eles tinham uns jogadores em quem acreditavam mais. O Lewandowski era a quarta, quinta escolha - pontuou Maciej. O golpe mais duro veio na mesma época. Robert Lewandowski perdeu a maior referência, o pai Krysztof, vítima de um acidente vascular cerebral. Foi nesse momento que a mãe Iwona teve que superar o luto para ser a rede de apoio dos filhos. - Eu entrei em depressão. E eu tive medo de que tudo acabasse ali, principalmente pelo que acon-

teceu com o Robert nessa época do Léguia Varsóvia. Eu me lembro de estar fora daquele estádio, esperando o Robert, com a cabeça baixa, e uma carta de dispensa na mão. O mundo desabou. Mas eu tinha o espírito de lutadora em mim, mesmo sozinha uma determinação e um pensamento: Não posso decepcionar o meu marido que também sacrificou a vida dele pelas crianças. E, acima de tudo, eu tentei a todo custo estar presente para que Robert não ficasse sozinho.

Foi a mãe que fez Robert Lewandowski dar dois passos atrás para avançar na depois. Ela convenceu o filho a jogar no pequeno Znicz Pruszkow, na região metropolitana de Varsóvia, time da terceira divisão polonesa.

Iwona e Krysztof com os filhos Mylena e Robert Lewandowski

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ORIGENS

- Ficava a uns 20, 30 minutos de Varsóvia, ninguém tinha carteira de motorista, e a gente tinha que pedir para os nossos pais pra nos levarem lá. Foi assim que tudo começou - explicou Mark Kalit, um dos melhores amigos de Lewandowski. Quem também é peça chave para a carreira de Robert decolar é Anna Lewandowska, mulher do melhor jogador do mundo. Youtuber, personal trainner, ex-atleta, celebridade na Polônia, e mãe de duas meninas, Anna é a responsável por mudar radicalmente a alimentação do marido. - Às vezes a gente corta a carne. Nada de lactose, porque ele não se sente bem. Eliminamos farinha de trigo, o açúcar refinado. Você não vai achar nada que se pareça com fast food na nossa cozinha avisou Anna. Um jogador que no meio da loucura de treinos, voos, jogos no mais alto nível, paternidade, ainda arranjou tempo para se formar em educação física numa universidade polonesa. - Tudo o que eu tô fazendo agora e que fiz nos últimos anos, o trabalho não apenas no gramado, mas na

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Lewandowski com a mãe Iwona (acima) e com a esposa Anna(a esquerda) academia também, a parte física, é pra que eu consiga jogar mais tempo no topo garante o camisa nove do Bayern de Munique. Um país que foi tantas vezes oprimido pelos vizinhos mais poderosos, traumatizado por guerras que mexeram com a autoestima de um povo. Agora, todos os garotos poloneses sabem que o maior palco do esporte mais popular do mundo também tem espaço para eles. E, aí, usar aquela frase surrada, tantas vezes repetida, faz até sentido. Ela funciona: Siga os seus sonhos.

- Mais jovem, eu tinha que acompanhar os jogadores de outros países. Então, eu tento mostrar para esses garotos que não importa de onde você vem, qual a sua aparência, você pode fazer grandes coisas - afirma Robert Lewandowski.


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enna era um homem de valores muito claros, seguindo firmemente os ensinamentos de dona Neyde, sua mãe, na aplicação dos mesmos no esporte e na vida. Tudo começava com dedicação: horas e horas a fio cuidando dos seus carros, entendendo como a máquina funcionava e buscando uma maneira de se conectar plenamente com ela, de modo a se tornarem um só. Então, a determinação. Foram muitos os obstáculos que o atleta encontrou em seu percurso sinuoso até o sucesso. Seu mérito estava exatamente em não aceitar qualquer resultado, o que nos leva a superação. Para Senna, tudo era possível. Apesar dos seus concorrentes representarem ameaças reais, sua maior competição era consigo mesmo, em uma maneira clara de comprovar que sempre pode se chegar mais longe. E, por fim, a perfeição. Não bastava ganhar, era necessário ganhar segundo seu plano, no seu melhor tempo, na sua melhor performance. Senna era essa pessoa determinada ao ponto de contagiar o seu redor, um foco que percorria a sua veia e acelerava a batida do seu coração a cada curva perigosa que fazia, inspirando assim muitos brasileiros de que nenhum sonho é absurdo o suficiente para não ser alcançado.

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UM HERÓI PARA C N

o esporte mais global e veloz do mundo, um piloto é considerado o mais rápido de todos os tempos: Ayrton Senna. Seus expressivos números ajudam a explicar porque o piloto ganhou status de mito do esporte: foram três títulos mundiais de F1, 41 vitórias, 65 poles e 80 pódios entre 1984 e 1994. Mas Senna é mais do que isso: o brasileiro foi o responsável por alguns dos momentos mais mágicos da principal categoria do automobilismo mundial. Ayrton estabeleceu um novo patamar de excelência no esporte. Sua supremacia era evidenciada em três situações onde o desafio de guiar acima dos 300 km/h é ainda mais intenso: na chuva, na execução de voltas perfeitas nas poles e nos circuitos de rua – em

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Mônaco, o brasileiro é até hoje o recordista de vitórias. Em conquistas como a da primeira vitória em casa, no GP Brasil de 1991, quando lutou nas voltas finais apenas com a sexta marcha, e no GP do Japão de 1988 ao cair para 17o e ainda conseguir ultrapassar todos adversários para conquistar seu primeiro título. Senna foi além de tudo isso. Ayrton foi um incansável esportista na busca de ultrapassar seus próprios limites e, com ele na pista, tudo podia acontecer. Sua fé em Deus, seu coração preocupado com tudo e todos, além de sua tradicional garra e determinação, tornaram Senna diferente. Os pilotos de F1 vivem de superar limites, mas Ayrton fez mais: sempre foi em busca de fazer o seu melhor nas pistas


CHAMAR DE NOSSO e também fora delas. O grande ideal de Ayrton Senna quando começou a correr de kart era ser um grande campeão de Fórmula 1. Sua carreira foi sempre direcionada para isso. E conseguiu. Mas não era apenas o automobilismo a principal preocupação do piloto. O homem simples, sincero e amigo virava o empresário perfeccionista, objetivo e exigente quando tratava dos seus assuntos profissionais. E foi apoiado nessas qualidades naturais de empresário que Ayrton Senna participou, diretamente, no desenvolvimento e concretização de dois sonhos que viu realizar: a marca Senna, que é um referencial em produtos de alta tecnologia, e o personagem infantil Senninha, inspirado

em seus valores pessoais. Tinha, acima de qualquer outra coisa, grande amor pelas crianças. Rodeado por elas, sempre abria um sorriso puro de satisfação. Fazer algo que aumentasse a oportunidade dos jovens era um sonhos e uma meta a ser cumprida depois que conquistou as pistas do mundo inteiro. Foi assim que nasceu o Instituto Ayrton Senna, para cumprir os ideais traçados por seu mentor.

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Ao vestir o macacão, Ayrton Senna e o carro tornavam-se uma só entidade indissociável que sentia cada reação da pista e executava manobras inacreditáveis. Alguns disseram que era um homem sem medo. A verdade é que o piloto encontrava no equilíbrio perfeito entre habilidade e fé os caminhos para correr como nenhum outro adversário poderia prever. Superava qualquer dificuldade em busca das vitórias. A imagem deste brasileiro, considerado um dos maiores esportistas da história, é reconhecida nos quatro cantos do mundo, seja por seu talento e sua determinação excepcionais, ou por desempenho quase mágico. É um mito do automobilismo mundial, contanto com uma história de sucesso que inclui 41 vitórias, 65 pole positions e 3 campeonatos mundiais na Fórmula 1.

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Em uma marca impressionante, Senna estabeleceu uma era sem precedentes de conquistas na F1 entre 1988 e 1991 – três títulos mundiais e um vice. Não foi fácil. Ayrton passou por cima de muitas dificuldades, como a disputa intensa contra grandes rivais como: Alain Prost e Nigel Mansell, além das desavenças com a organização da F1, chefiada na época pelo francês Jean-Marie Balestre. Contudo, em seus três títulos, brilhou a parceria histórica do brasileiro com a McLaren Honda, sendo que suas três conquistas (1988, 1990 e 1991) ainda foram sacramentadas em solo japonês, em Suzuka, palco onde conquistou muitos fãs.


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REI DA

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o contrário do que muitos pensam, no início da carreira Ayrton Senna não era um exímio piloto em condições de chuva. Foi justamente por causa da dificuldade em sua primeira corrida de kart em solo molhado que o piloto resolveu aprimorar repetidamente a pilotagem no traçado úmido. Quando as primeiras gotas de chuva começavam a cair, Ayrton preparava o seu equipamento e partia rumo ao Kartódromo de Interlagos, que hoje tem o nome em sua homenagem: Kartódromo Ayrton Senna.

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CHUVA

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SEGREDOS DA PISTA MOLHADA

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aderência ao solo é fundamental em um carro de F-1 e, por isso mesmo, é um dos itens mais verificados em um carro antes, durante e depois de uma corrida. Os ajustes devem balancear bem velocidade, estabilidade e desgaste dos pneus para que o conjunto seja vencedor. Quando a pista está molhada ou suja, sem a camada de borracha deixada pelos pneus de todos que passam por ela, a aderência naturalmente diminui. Nestas condições, há uma espécie de trilho obrigatório na pista, onde se encontrará mais aderência – no kart, por exemplo, o traçado de chuva é “invertido” em relação ao de pista seca, justamente para que o piloto saia da trajetória normal (com mais borracha) para escorregar menos. No caso de chuva torrencial, os pilotos precisam tomar ainda mais cuidado para andar no limite, desviando de zebras e faixas de sinalização, levando mais tempo nas curvas, exatamente para diminuir os riscos de escorregar para fora da pista. As freadas são um pouco mais longas, mas os pontos de retomada de aceleração podem ser os mesmos.

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Tais condições afetam todos os pilotos e, nestes casos, os mais experientes levam alguma vantagem por já possuir experiência com pistas e pneus para andar sob adversidades como estas. “Resta a cada um aproveitar bem a sua experiência e seus dotes pessoais, que nesses casos são bastante evidenciados.” A chuva também ajudava a equilibrar as forças entre equipes, e isso ficou evidenciado justamente na primeira corrida do piloto brasileiro nestas condições na F-1: o GP de Mônaco de 1984. Fazendo sua temporada de estreia pela mediana equipe Toleman, Senna se destacou de forma


impressionante, saindo da 12ª colocação no apertado circuito de rua de Mônaco para ultrapassar seus rivais, incluindo uma ultrapassagem por fora sobre o então bicampeão mundial Niki Lauda (que terminaria o ano como tricampeão). Não fosse a polêmica interrupção da prova na 32ª volta, esta poderia ser a primeira vitória do brasileiro, que acabou ficando em segundo, atrás de Alain Prost. Mas o primeiro triunfo de Senna veio poucos GPs a seguir – e, não por coincidência, na chuva também. A prova em Estoril foi somente a primeira de grandes vitórias do brasileiro embaixo d´água. As vitórias nesta condição, além do GP de Portugal em 1985, foram: Bélgica 1985, Inglaterra 1988, Alemanha 1988, Japão 1988, Bélgica 1989, Canadá 1990, Brasil 1991, San Marino 1991, Austrália 1991, Brasil 1993, Europa 1993 e Japão 1993. Mesmo após os números apontarem um bom retrospecto de Ayrton na pista molhada, ele dizia não preferir corridas com tempestades d´água. O fato é que, nos últimos anos de sua carreira, uma corrida com asfalto escorregadio nivelava os carros e o favoritismo das Williams diminuía. Com isso, o talento de Ayrton ficava ainda mais visível nas pistas.

VITÓRIAS DE SENNA NA CHUVA

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PORTUGAL 1985 BÉLGICA 1985 INGLATERRA 1988 ALEMANHA 1988 JAPÃO 1988 BÉLGICA 1989 CANADÁ 1990 BRASIL 1991 SAN MARINO 1991 AUSTRÁLIA 1991 BRASIL 1993 EUROPA 1993 JAPÃO 1993

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MOMENTOS

Os melhores momentos da carreira de Ayrton Senna campeĂľes

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10 GRANDES MOMENTOS DE AYRTON SENNA Corrida dos Campeões 1984, Nürburgring QUANDO SENNA DEU SEU CARTÃO DE VISITAS PARA O MUNDO DA FÓRMULA 1

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ara celebrar a abertura do novo circuito de Nürburgring, com um traçado de 5.148 metros ao lado do gigante e lendário traçado de Nordschleife (de mais de 20 quilômetros), a Mercedes-Benz convidou vários pilotos renomados para a disputa de uma prova comemorativa a bordo de seu sedã 190. Na prova disputada no dia 12 de maio de 1984, nove campeões mundiais da época e outras várias estrelas estavam presentes no grid da “Race of Champions”, como foi batizada a corrida: Niki Lauda, Keke Rosberg, James Hunt, Denny Hulme, Jody Scheckter, Jack Brabham, Phil Hill, John Surtees, Alan Jones, Stirling Moss, Alain Prost, Carlos Reutemann, John Watson, Jacques Laffite, Elio de Angelis etc. Entre eles, um

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jovem estreante na F-1: Ayrton Senna. Alguns convidados não puderam participar, como Juan Manuel Fangio, que na época já estava com 72 anos, e Emerson Fittipaldi e Mario Andretti, que estavam em uma época atarefada de suas carreiras, já que estavam em treinos para as 500 Milhas de Indianápolis. Esses pilotos foram substituídos por outros, e assim, contendo bom relacionamento na Mercedes, Senna conseguiu a vaga de Fittipaldi. A grande maioria dos pilotos tratava essa corrida como comemorativa, mas Senna pensava que era a chance do mundo saber quem ele era a bordo de carros idênticos contra pilotos já renomados internacionalmente. Era um modo de apresentar seu cartão de visitas à Fórmula 1.


A corrida foi disputada no dia 12 de maio, no fim de semana seguinte do Grande Prêmio de San Marino, quarta etapa da temporada de 1984 da Fórmula 1. Senna era piloto da Toleman na época e já havia marcado um ponto naquele ano, em seu segundo GP, na África do Sul. Esse evento foi onde Senna realmente conheceu Alain Prost, já que a Mercedes perguntou se Prost poderia pegar Senna no Aeroporto de Frankfurt e dar uma carona até a pista. Foi a primeira vez que os dois passaram horas conversando. “A primeira vez que eu realmente conheci, e falei com ele, foi em 84. Era um evento da Mercedes na Alemanha, onde fizemos uma pequena corrida em Nürburgring com um novo modelo da Mercedes, onde alguns pilotos e ex-pilotos de Fórmula 1 participaram. Alguém da Mercedes me perguntou se eu podia esperar Ayrton aeroporto, pois seu voo chegaria 15 minutos depois do meu e tínhamos somente um carro para ir até a pista. Essa foi a primeira vez que nós conversamos. Nosso papo durou cerca de três horas. Foi muito bom. Ficamos muito próximos, porque o Ayrton não conhecia ninguém lá. Ele estava sempre perto de mim durante os primeiros dias”, relembro Prost em entrevista à revista “Top Gear”. Prost cravou a pole position daquela prova à frente de Senna e Reutemann. Mais de 100 mil espectadores estavam em Nürburgring para esta corrida de reinauguração.

Na primeira das 12 voltas, debaixo de uma leve garoa, Senna tratou de passar o francês e abrir da concorrência para não mais ser ameaçado. O jovem de 24 anos fez uma prova impecável e teve no pódio a companhia de Niki Lauda, o segundo colocado (e que viria a ser o campeão daquela temporada), e o argentino Carlos Reutemann, em terceiro. Após a corrida, John Surtees ficou tão impressionado com o talento de Senna que disse a seu ex-chefe, Enzo Ferrari, que era esse o piloto que eles teriam que ter.

Informações da Corrida Nürburgring

12/05/1984 2º Lugar

1º Lugar 2'13''540

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GP de Mônaco 1984

SHOW E PRIMEIRO PÓDIO

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temporada de estreia na Fórmula 1 já era digna de nota: Ayrton Senna pontuara nos GPs da África do Sul e da Bélgica com o seu Toleman. Foram dois sextos lugares, sendo que o primeiro deles, em Kyalami, foi conquistado apenas em sua segunda prova na categoria. Estes bons resultados davam confiança para o brasileiro iniciar a construção de seu nome já no ano de estreia, em 1984, mas o que estava para acontecer nas ruas de Monte Carlo, contudo, chegaria a outras proporções. A corrida cravaria pela primeira vez o nome de Ayrton Senna entre os grandes pilotos da categoria. Após a classificação, Senna sentou-se na mureta dos improvisados boxes de Monte Carlo e começou a examinar o grid de largada: “Bem, este número um dia ainda vai me dar sorte”. O número era o 13, de sua 13a colocação,

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como já tinha acontecido antes na África do Sul e na França. A primeira fila foi composta por Alain Prost da McLaren e Nigel Mansell da Lotus. A segunda fila tinha as Ferrari de Rene Arnoux e Michele Alboreto. Na terceira largaram Derek Warwick e Patrick Tambay, ambos da Renault. A direção de prova decidiu adiar o início da largada em 45 minutos devido ao temporal que caía em Monte Carlo. A prova foi iniciada ainda sob forte chuva, palco perfeito para o primeiro show de Ayrton Senna em uma prova de Fórmula 1. Logo após a largada, Ayrton começou a ganhar posições. Completou a primeira volta no nono lugar e, na volta 10, ele já era o sétimo colocado. Na parte da frente, o duelo era entre Prost e Mansell. O britânico tomou a liderança na volta


8 e abriu uma vantagem tranquila para o rival. A partir daí, Ayrton iniciou o seu grande show. O brasileiro entrou na zona de pontuação após Michele Alboreto enfrentar problemas. Na sequência, o caminho parecia mais complicado para ultrapassar o campeão mundial de 1982, Keke Rosberg. Ayrton, no entanto, partiu para cima e ultrapassou com classe o finlandês. Na 14a volta, Arnoux também não resistiu a pressão de Ayrton, que era muito mais rápido que os concorrentes e a esta altura já era focado pelas câmeras de televisão, sendo o protagonista de uma corrida mesmo tendo pouquíssima experiência na F-1 e sendo um novato nas ruas de Monte Carlo. Logo depois, na volta 16, o líder da prova, Mansell, mostrou como eram difíceis as condições para manter um F-1 na pista: o britânico perdeu o controle de sua Lotus e encontrou o guard-rail na subida para a Curva do Casino. Com isso, Senna já estava na posição de pódio, em terceiro. Prost retomava a liderança, com Lauda em segundo, fazendo a dobradinha da equipe dominante daquele ano (a McLaren), e Senna em terceiro. O público não parecia acreditar na aula que Ayrton dava na pista molhada em Monte Carlo. O brasileiro diminuía vertiginosamente sua diferença para Lauda, e, no início da volta 19, na curva Saint Devote, fez uma brilhante ultrapassagem por fora. Ninguém acreditava que uma Toleman poderia vencer tão facilmente a McLaren, carro que havia vencido quatro das cinco provas realizadas naquela temporada. Depois de derrotar um a um, Senna agora tinha outra missão: colar no líder Alain Prost, da McLaren. E foi exatamente isso que Senna fez em Monte Carlo.Um desempenho assombroso: Ayrton

desfilava em uma pista onde todos os outros pilotos se mantinham com dificuldades. O domínio era tamanho, que na volta 24, Senna fez a volta mais rápida da prova, com 1min54s334, a primeira dele na carreira. Na 31ª volta, quando já se preparava para assumir a ponta da prova, um balde de água fria: a corrida foi encerrada devido às condições da pista pelo diretor de prova Jacky Ickx, com Prost em primeiro, Senna em segundo e Stefan Bellof em terceiro – o piloto alemão seria desclassificado depois, com irregularidades em seu carro, deixando Arnoux em terceiro. Foi o primeiro pódio de Senna na F-1 – foram 80 ao longo da carreira. Para o campeonato, somente a metade dos pontos daquela segunda colocação foram computados. Apenas um detalhe, já que o mundo olharia com mais atenção para o talentoso piloto brasileiro a partir de então.

Informações da Corrida Monte Carlo

03/06/1984 13º Lugar

2º Lugar 1'54''334

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GP de Portugal 1985 A PRIMEIRA VITÓRIA

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pós a estreia pela Lotus no Grande Prêmio do Brasil, em Jacarepaguá, “boas” condições climáticas esperavam por Ayrton Senna em Portugal. Boas, claro, para um piloto bom em pista molhada como o brasileiro. Foi em Estoril onde o piloto brasileiro conquistou a sua primeira vitória na Fórmula 1 – e um triunfo que não poderia ser mais completo. Ainda nos treinos classificatórios, Senna começou o roteiro que virou quase um script definitivo para suas conquistas na F-1: estabeleceu uma pole position espetacular, meio segundo à frente de Alain Prost que era certamente um dos favoritos ao primeiro lugar com sua equilibrada McLaren, que no ano anterior, em 1984, havia sido campeã de construtores e fez a dobradinha entre os pilotos, com Niki Lauda campeão e o francês vice. Com sua Lotus 97T, Senna cravou a marca de 1min21s007. Era a sua primeira pole na catego-

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ria, evento que iria se repetir outras 64 vezes, marca que ajudou o brasileiro a construir sua reputação como o piloto mais rápido da F-1 de todos os tempos. Quando começou a corrida, Ayrton Senna não deu chances a ninguém e venceu de ponta a ponta, abrindo uma sólida vantagem desde o começo, marcando também a volta mais rápida. Só faltou colocar uma volta no segundo colocado, o que, neste caso, não se trata de mera figura de linguagem. Afinal, o italiano Michele Alboreto levou sua Ferrari ao segundo posto a exatos um minuto e dois segundos de Senna, uma eternidade em se tratando de F-1. O terceiro colocado, Patrick Tambay, com Renault, levou uma volta e a partir do quinto colocado, o inglês Nigel Mansell, com a Williams, todos tinham pelo menos duas voltas de desvantagem em relação ao brasileiro.


“Perdi as vezes em que estive a ponto de quase bater em outro carro. As condições da pista estavam muito perigosas. Dez vezes pior do que o ano passado. Hoje é um dia muito feliz para mim, tive muita sorte de poder segurar o carro em linha reta”, disse Ayrton Senna em entrevista à Folha de S. Paulo no dia 21 de abril de 1985, após a corrida.

Com o resultado, Senna iria para nove pontos no campeonato e empatava com a Alain Prost, da McLaren, na vice-liderança. Michele Alboreto, da Ferrari, era o primeiro com 12 pontos. Foi também o primeiro triunfo da tradicional equipe Lotus em três anos. A última vitória havia sido no GP da Áustria de 1982 (com o italiano Elio de Angelis), e a penúltima fora em 1978 (com o norte-ameriSob um temporal que levou 13 dos 26 pilotos cano Mario Andretti), mostrando que Senna que largaram a cometer rodadas espetacula- foi o principal responsável por levar novamenres, o impressionante desempenho do piloto te o tradicional time ao topo do pódio nos três brasileiro levou a publicação inglesa Motoring anos seguintes (1985 a 1987). News a escrever que “Senna deslizava, navegando seguro como um experiente timoneiro numa pista cheia de armadilhas, enquanto outros pilotos veteranos naufragaram na aquaplanagem”. Informações da Corrida Depois do show em Mônaco, em 1984, o Grande Prêmio de Portugal consagrou enfim Estoril o Ayrton Senna da Chuva, o melhor piloto da história da Fórmula 1 em pista molhada. 21/04/1985 1º Lugar

1º Lugar 1'44''121

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GP do Japão 1988 O PRIMEIRO TÍTULO

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á para entender a reverência que o público japonês tem com Ayrton Senna: foi lá que o piloto deu alguns de seus maiores espetáculos, especialmente no GP de 1988. Foi a primeira decisão de título entre o brasileiro e Alain Prost, ambos equipados com suas impressionantes McLaren e o motor Honda V6 turbo. O domínio da equipe inglesa era tamanho naquela temporada que até hoje a formação do time em 1988 é considerado o melhor de todos os tempos na F-1 – um verdadeiro “dreamteam”. Não por acaso, apenas em uma etapa do ano a McLaren não venceu (em Monza, após Senna perder uma vitória ao levar um toque de um retardatário na chicane).

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Antes da corrida de Suzuka, Ayrton havia vencido sete vezes no ano, enquanto Prost tinha ficado com outras seis conquistas. A matemática era simples: se Ayrton vencesse, ele era campeão. Caso isto não acontecesse, o campeonato seria decidido duas semanas depois, na prova final da temporada em Adelaide, na Austrália. Senna, claro, queria garantir o título já no Japão e desde os primeiros treinos já mostrava que buscaria a vitória. Na primeira sessão livre, foi 1s6 mais rápido que Prost. No treino classificatório, Senna estabeleceu um novo recorde na F-1: foi a 12ª pole do brasileiro no ano, feito que nenhum outro piloto na história havia conseguido em uma mesma temporada.


A diferença não foi tão grande quanto no treino livre, mostrando que Prost seria um duro adversário naquela prova em Suzuka, ficando a três décimos de segundo do brasileiro. A primeira fila, assim, tinha um retrato fiel da temporada: Senna em primeiro, com Prost em segundo. Quando as luzes verdes acenderam, um susto para o brasileiro: o carro não anda e o piloto Ayrton levanta os braços sinalizando o problema na esperança de não levar nenhum toque dos mais de 20 pilotos que estariam atrás dele. Por sorte Senna fica intacto e o grid de largada estava localizado numa descida e o piloto fez com que o carro “pegasse no tranco”. Nesta altura Ayrton ja tinha perdido 16 posições. Prost acelerou, tomou a liderança e tudo parecia perdido para os fans do piloto. Parecia. Ayrton Senna partiu tão determinado para a recuperação que já na primeira volta ultrapassou oito carros e partiu no encalço de Alain Prost, o líder com pinta de campeão. Na segunda volta, Ayrton passou Ricardo Patrese e Alessandro Nannini, subindo para sexto. Na terceira, passou Thierry Boutsen e, na freada da chicane, deixou Michele Alboreto para trás, na quarta volta. Mesmo estando ainda 12 segundos atrás do líder Prost, Senna mostrava estar determinado a vencer a corrida e o campeonato. No final da décima volta, o brasileiro ultrapassou a Ferrari de Gerhard Berger e assumiu o terceiro lugar. Entre ele e Prost agora só existia o carro de Ivan Capelli, da equipe March. O problema para Ayrton era que o italiano ainda estava mais de dez segundos à frente do brasileiro. Senna buscava a aproximação mesmo debaixo de uma leve garoa.. Prost e Cappelli se atrapalharam e perderam segundos preciosos nas disputas com os retardatários. Ayrton, cirúrgico, tirava diferença volta a volta de forma impressionante e encostou nos líderes na 19o volta. Na volta seguinte, deixou Cappelli para trás e apareceu estampado no retrovisor de Prost. A chuva neste momento dá uma trégua em Suzuka – parecia até que ela veio apenas para proporcionar o embate histórico entre os dois maiores rivais da F-1. Agora, as condições seriam idênticas, sem a já conhecida vantagem

de Senna correndo no piso molhado. Por diversas voltas, Senna perseguiu Prost – era uma corrida à parte dos dois pilotos da McLaren. Na 28ª das 51 voltas, aconteceu o inacreditável. O brasileiro chegou voando em Prost. Ayrton armou o bote antes da entrada da reta dos boxes para consumar a sua 15ª e mais espetacular ultrapassagem na corrida. Prost ainda espremeu Senna no muro da reta dos boxes, mas era impossível conter a manobra: o brasileiro assume a liderança, algo que parecia impossível após o problema na largada. O francês tentou alcançar o brasileiro até o final da prova, mas Senna não deu espaço para nenhuma tentativa e ainda abriu uma considerável vantagem: Prost terminou 13 segundos atrás do novo campeão mundial. A corrida de Ayrton Senna no Grande Prêmio do Japão, além de tida como uma das mais brilhantes de sua carreira, é considerada como uma das mais espetaculares da história da Fórmula 1. Valeu o título, que ele pensou estar perdido na largada. Mais do que uma vitória atemporal do novo campeão mundial, foi uma obra de arte. Um roteiro digno de cinema – e com final feliz para Senna.

Informações da Corrida Suzuka

30/10/1988 1º Lugar

1º Lugar 1'46''326

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GP do Brasil 1991

MAGIA COM 6.ª MARCHA

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yrton Senna completou 31 anos na antevéspera da corrida, mas não quis festa. Seu maior presente seria a primeira vitória no Grande Prêmio do Brasil, ainda mais em Interlagos, uma pista que ajudou a redesenhar e que até hoje ostenta uma curva em sua homenagem. Dormiu cedo e sonhou. Sonhou que corria sozinho e era cada vez mais veloz. Acordou sorrindo e voltou a dormir. O sonho voltou, e agora ele reconhecia as curvas de Interlagos a bordo de sua potente McLaren. Nos treinos, Ayrton Senna assistiu à evolução das velozes Williams, que dariam trabalho du-

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rante a temporada com a dupla Nigel Mansell e Riccardo Patrese. Mas foi mais competente que o time inglês e conquistou a pole position. Largou confiante no domingo. Estudou cada movimento que faria na corrida para vencer pela primeira vez em Interlagos. Chegou à 65a volta sem sustos. De repente, a terceira marcha escapou. O piloto brasileiro tentou engatar então a quarta e ela não entrou. A caixa de câmbio estava quebrando. Não, não poderia acabar assim. Sentiu um frio na barriga. Não lembrava depois se rezou ou se soltou um palavrão na hora. As placas na reta dos boxes informa-


ram que faltavam seis voltas, e Ayrton Sen- biu ao lugar mais alto do pódio diante da festa na mantinha sete segundos de vantagem geral. Juntou todas as forças que lhe restavam para Patrese. Respirou fundo e pensou: para levantar pela primeira vez o troféu no Brasil.

“Vai

dar,

vai

dar” “Se esse era o preço de

Percorreu mais duas voltas e viu a vantagem diminuir para quatro segundos. Para piorar, perdeu também a quinta marcha. Foi quando não olhou mais para as placas e acelerou, apenas acelerou com o que tinha.

“Só voltei à realidade quando vi a bandeirada. Aí senti um imenso prazer em viver, em estar em Interlagos, na minha terra e vendo a minha gente feliz. Não foi a maior vitória da minha vida, mas foi a mais sacrificada.” Seu esforço foi tão grande que o piloto, exaurido, não conseguia sair do carro. Escoltado, su-

ganhar no Brasil, foi barato. Valeu!”

Informações da Corrida Interlagos

24/03/1991 1º Lugar

1º Lugar 1'20''841

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GP de Mônaco 1992 LEÃO DOMADO

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sina da temporada continuava também em Mônaco. Nigel Mansell havia vencido todas as corridas saindo da pole position e Ayrton Senna, por mais que lutasse, não conseguia andar mais rápido que as Williams nos treinos. Com seu FW14b “de outro planeta”, o inglês virou a marca de 1min19s495, incríveis 1s1 mais rápido Ayrton, que largou em terceiro. Senna não estava exatamente feliz com a posição, mas tinha um plano para superar Patrese na largada e, valendo-se de sua experiência de quatro vitórias anteriores no circuito de Monte Carlo, pressionar o líder Mansell. Sua estratégia era fazer uma saída rápida, dan-

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do um pulo à frente de Patrese. Em posição de pista, mesmo saindo de terceiro, levava a vantagem de ficar por dentro na primeira curva do traçado, a “Saint Devote”. Na luz verde, o brasileiro executou seu plano: mesmo sem uma grande largada, conseguiu superar o italiano da Williams por causa de seu preferência na pista. “Para ser bem sincero, poderia ter ultrapassado também o Mansell na freada. O que me faltou mais ousadia. Não acreditei que eles fossem brecar tão antes da curva e só me empenhei em vencer o Patrese.”


Na sequência da corrida, Ayrton Senna teve dois comportamentos distintos durante a prova. No começo, foi frio o suficiente para poupar os pneus, atitude que poderia fazer a diferença no sinuoso circuito de Mônaco. Levou o carro com extrema atenção. “Eu gritava: preste atenção, olha a concentração, não se distraia, idiota.” Ayrton só passou aperto quando viu o Footwork de Michele Alboreto atravessado na curva Mirabeau. Ali o brasileiro teve que se virar para não perder ainda mais tempo para Mansell, que começava a desgarrar. Senna teve que parar, engatar a primeira marcha e, com isso, perdeu 10 segundos na manobra. Menos mal que já tinha aberto tempo suficiente para Patrese para manter a segunda colocação. Mas, no fim, o circuito que é tão especial para a carreira de Ayrton Senna teria mais uma de suas reviravoltas, comuns nos GPs de F-1. Tudo parecia se encaminhar para mais uma vitória de Mansell, mas tudo mudou quando o inglês teve uma porca solta de uma de suas rodas. Com isso, foi obrigado a diminuir muito a velocidade e entrar nos pits para troca de pneus.

Com o problema, Senna, mesmo estando bem atrás, assumiu a ponta da prova e já pensava: “Ah, vou correr para vencer”. As últimas voltas da corrida foram das mais emocionantes da história do GP de Mônaco, com final espetacular. O brasileiro teve que segurar a Williams muito superior a sua McLaren – e ainda por cima de pneus novos. Senna teve que fechar a porta, mudar traçados, fazer o possível e o impossível, sempre com Mansell colado em seu aerofólio traseiro e, com a proeza de conseguir aparecer “em seus dois retrovisores”, como mais tarde o brasileiro diria. Senna conseguiu superar toda a pressão e venceu pela quinta vez no Principado, igualando a marca de Graham Hill que já perdurava por 22 anos. Riccardo Patrese foi o terceiro, Michael Schumacher o quarto, Martin Brundle o quinto e Bertrand Gachot, da modesta Larrousse, fechou a zona de pontuação.

Informações da Corrida Mônaco

31/05/1992 3º Lugar

1º Lugar 1'23''470

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GP do Brasil 1993

FOI PARA A GALERA!!!

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yrton Senna quase não participou do Grande Prêmio do Brasil de 1993 por desentendimentos na assinatura do contrato com sua equipe, a McLaren. Sorte da equipe que houve um acerto. Senna corria em parceria com a McLaren pela centésima vez na F1. “Quando Deus quer ninguém muda o destino” Ayrton Senna tinha uma dura missão naquele fim de semana. A classificação apontava uma grande superioridade dos carros da Williams. Alain Prost e Damon Hill cravaram quase dois segundos de diferença para o piloto

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da McLaren, que largaria em terceiro. A esperança dos brasileiros era uma grande reviravolta do tempo: uma forte chuva estava para chegar. Com a chuva, as chances de Senna aumentariam diante da força das Williams. Com toda a água que caiu em Interlagos naquele ano, aconteceu de tudo: houve nove acidentes, três colisões (uma delas entre Alain Prost e Christian Fittipaldi), troca de pneus de chuva para slick e a primeira entrada do Pace car (por oito voltas) depois de oficialmente instituído na F1. Ayrton Senna ainda sofreu uma punição por uma manobra arriscada e perdeu mais de 10 segundos nos boxes. Quando a chuva parou e


a pista começou a secar, o piloto brasileiro ultrapassou Damon Hill e segurou sua McLaren até a bandeirada final. Mas não sem antes rezar para que o motor não apagasse nas últimas voltas, quando a luz que acusa a pressão do óleo acendeu no painel. O carro parou 50 metros depois da linha de chegada. Os outros pilotos também pararam para observar a festa da torcida brasileira, que invadiu completamente a pista do circuito. Após o piloto cruzar a linha de chegada, o fiscal de prova Marcelo Krause entregou a bandeira do Brasil para Senna, que desfilou com ela em sua McLaren.

Informações da Corrida Interlagos

28/03/1993 3º Lugar

1º Lugar 1'20''187

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GP da Europa 1993 A VOLTA PERFEITA

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yrton Senna guardava boas recordações da pista de Donington Park. Foi ali que o piloto testou a Williams em 1983, sua primeira experiência com um carro de Fórmula 1. Poucos imaginavam que a pista com poucos pontos de ultrapassagem, localizada na pequena cidade de Castle Donington, na Inglaterra, teria naquele 11 de abril um domingo de Páscoa inesquecível para os fãs do esporte. Apesar de Donington ter recebido inúmeras corridas de F-3 Inglesa e de outras categorias, aquela era a primeira (e única vez) que o circuito receberia a F-1. Senna vinha de um vitória especial no Brasil conquistada duas semanas antes do início da F-1 na Europa. Assim como havia acontecido

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em Interlagos, a chuva seria uma grande aliada do brasileiro para conseguir equilibrar a disputa com as poderosas Williams. No sábado, Alain Prost e Damon Hill mostraram que seria bem complicado para Senna vencer em condições normais. O francês fez a pole, com o inglês em segundo. A jovem revelação Michael Schumacher, que havia estreado na categoria em 1991, abria a segunda fila, com Ayrton em quarto lugar. O domingo amanheceu com chuva, acompanhado de nevoeiro e temperaturas amenas – típico cenário do clima inglês. A largada e a primeira volta costumam ser o grande momento de emoção em muitas corridas da F-1, mas o GP em Donington Park veria algo histórico. Prost e Hill mantiveram


as primeiras colocações. Senna foi bloqueado por Schumacher e Karl Wendlinger aproveitou, passando os dois e, assim, deixando o brasileiro em quinto. Foi aí que começou o show que seria conhecida como “a melhor volta de F-1 de todos os tempos” feita por um piloto: Ayrton arriscou e, buscando um traçado diferente na pista molhada, conseguiu tomar a frente de Schumacher e retomar a quarta posição. A ultrapassagem sobre Wendlinger foi feita quase na sequência, apenas uma curva depois. O brasileiro fez uma tomada completamente por fora, deixando o adversário sem nenhuma reação para defender a posição na freada. Na saída da curva, Senna já estava colado em Hill e dessa vez fez a manobra por dentro. Prost parecia muito longe para o brasileiro buscar a liderança ainda na primeira volta, mas ele foi à caça do francês, e na curva mais lenta do circuito (hairpin), aproveitou para frear mais tarde e surpreender o seu arquirrival. Confira a própria análise de Senna para a primeira volta, considerada pelos especialistas como a melhor volta da história da Fórmula 1:

quei entre a cruz e a espada. Afinal, é arriscado ser rápido com pneus de seco no asfalto úmido. Mas se diminuísse o ritmo os pneus perderiam pressão e temperatura e o carro ficaria sem aderência”, disse Senna. A tática da McLaren nos pit stops estava sempre um passo à frente da Williams. Ayrton fez quatro pit stops, enquanto Prost entrou sete vezes nos boxes, e viu até seu companheiro Damon Hill roubar-lhe a segunda posição. Uma das entradas de Ayrton no box ficou marcada por outro momento histórico . O brasileiro entrou voando no pit na volta 57 e, como não havia limite de velocidade dentro do box naquela época, acabou fazendo a melhor volta da prova. Pode parecer estranho, mas o fato é que no circuito de Donington a curva de entrada dos boxes é menor do que a curva que leva à reta principal e só Ayrton descobriu isso. O corte de caminho fez Senna cravar 1min18s029, sendo que a volta mais rápida anterior havia sido feita em 1min20s413.

“Ainda tive problemas nos pit stops. No terceiro, uma roda traseira direita travou e “Chovia muito. Larguei em quarto, mas a a parada me pareceu uma eternidade. No primeira volta foi um tiro psicológico na instante de voltar a colocar pneus de chuva, concorrência. Fui espremido pelo Schu- o rádio não funcionou, não me ouviram, enmacher, tive que colocar duas rodas fora trei e passei direto pelos boxes, sem efetuda pista, passei o alemão antes da pri- ar a troca. E, para aumentar o suspense, fui meira curva e mergulhei à caça de Damon avisado que tinha problemas de consumo. Hill. Passei o inglês na freada. A próxima Mas como meu tanque vazou no grid e não vítima era Prost. Esperei as curvas du- houve tempo para reparar, ele ficou selado, plas do S e como ele freou antes do nor- o que impossibilitaria reabastecer. Como mal, abriu uma brecha por onde me meti”. a gasolina estava no limite mudei o estilo de pilotar: trocava as marchas em rotações Quem também teve um início dos sonhos foi mais baixas, aliviava o pé antes das entraRubens Barrichello. O principal estreante do das das curvas e freava com menos ímpeano largou em 12° lugar e finalizou a volta ini- to. Ufa! Foi assim que cheguei vitorioso e cial na quarta posição. exausto no final das 76 voltas, uma à frente Mas o show de Ayrton não se limitaria apenas de Prost”, diz Senna. à primeira volta. As voltas seguintes foram marcadas por Com a vitória, Senna aumentava a vantagem um tempo instável no céu. Ayrton come- na liderança do campeonato. Ele tinha 26 ponçou a voar com os pneus slicks. Prost não tos contra 14 de Prost e liderava o Mundial dateve a mesma sorte e, exatamente quan- quele ano com duas de suas melhores vitórias do colocou os pneus para pista seca, vol- na F-1: o GP Brasil de 1993 e o GP da Europa tou a chover no circuito de Donington Park. de 1993. “Com 18 voltas, a pista secou e todos pararam para colocar os pneus slick. Resolvi pisar fundo para fugir da Williams, mas ficampeões

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Informações da Corrida Donington Park

11/04/1993 4º Lugar

1º Lugar 1'18''029

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GP de Mônaco 1993 O NOVO MISTER MÔNACO

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ice-líder do campeonato de 1993, Ayrton Senna estava apenas dois pontos atrás do líder Alain Prost (34 x 32), que pilotava pela Williams, que havia dominado a temporada de 1992 com Nigel Mansell e seguia com um conjunto superior aos demais times. Era com este contexto que a Fórmula 1 desembarcava em Mônaco, onde somente os dois tricampeões mundiais da época tinham triunfado nos últimos nove anos. Eram cinco vitórias do brasileiro (1987, 1989, 1990, 1991 e 1992) e quatro do francês (1984, 1985, 1986, 1988). “Correr em Mônaco é diferente. Suas estreitas ruas são um desafio constante para o piloto. É

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preciso raspar os pneus nos guard-rails para ser rápido. Não se pode perder a concentração nenhum segundo. Enfim, é um grande desafio para os pilotos. Eu, particularmente, gosto muito de correr aqui. Fui o primeiro brasileiro a conquistar uma vitória em Mônaco e venci as quatro últimas. É uma emoção muito grande, que gostaria de repetir este ano”, disse Senna em entrevista à imprensa brasileira ainda no início da semana do GP de Mônaco de 1993. Apesar da confiança antes dos treinos começarem, o brasileiro sabia que a missão naquele ano seria ainda mais difícil, principalmente pelo bom desempenho do carros da Williams. Na primeira sessão de treinos,


que no Principado é realizada na quinta-feira, Senna sofreu uma luxação no dedão da mão esquerda, o que atrapalhou seu próprio rendimento nos treinos livres: o brasileiro ficou apenas com o quinto tempo, depois de sofrer um acidente com sua McLaren chocando-se com força nos guard-rails. “O que aconteceu foi o seguinte: eu tinha dado apenas seis voltas, a pista estava seca e o carro rendia bem. No final da reta dos boxes, eu vinha com toda a potência, sexta marcha aproximadamente 270 km/h, a traseira do carro tocou no chão, bem em cima de uma ondulação. Eu tenho a impressão que as rodas traseiras perderam o contato com o solo e o carro deu uma guinada de 90 graus para a direita e entrou no guard-rail, um impacto bem forte. Depois disso, ele ricocheteou e bateu do outro lado da pista e, uma terceira vez novamente no lado direito. Foram três impactos frontais a toda velocidade, porque, no ritmo que eu vinha, não deu para frear. Eu bati praticamente acelerando”, contou o piloto em entrevista aos jornalistas brasileiros. Durante as duas sessões de treinos livres, o fisioterapeuta da equipe, o austríaco Joseph Leberer, aplicou gelo, fez massagens e usou pomadas a base de cortisona para aliviar o inchaço. Ayrton faria de tudo para se recuperar para a sessão que definiria o grid de largada no sábado. No treino classificatório, Senna conseguiu melhorar seu desempenho e, mesmo rodando na saída do túnel na sua tentativa final, ficou com o terceiro lugar no grid.Alain Prost, o pole position, e Michael Schumacher (Benetton) dominaram a primeira fila. Hill ficaria ao lado de Senna na segunda fila para as 78 voltas da prova em Monte Carlo. Antes da corrida, a imprensa avisou a Damon Hill que Ayrton Senna poderia vencer pela sexta vez e tirar de seu pai, Graham Hill, a coroa de “Rei de Mônaco” – ambos com cinco vitórias em Monte Carlo. O piloto da Williams apenas ouviu e certamente não acreditava que o recorde que já durava 24 anos seria batido em sua frente. Afinal, não parecia uma tarefa fácil para o brasileiro, que largaria em terceiro. Na largada, Senna manteve a posição, assim como os outros ponteiros. Os comissários detectaram que Prost queimou a largada e o

francês teve que cumprir uma penalização de 10 segundos. O azar do francês continuou na saída dos boxes. O motor da Williams falhou e ele somente conseguiu voltar depois que tinha levado uma volta de Schumacher, o novo líder. O alemão conseguia abrir uma boa vantagem para Senna, que nitidamente preferia poupar seu equipamento para não correr riscos, já que o segundo lugar o traria novamente para a liderança do campeonato. Na volta 33, Schumacher teve uma falha no sistema hidráulico e em seu motor Ford, deixando a liderança livre para Senna. O tricampeão tinha vantagem de 16 segundos para Damon Hill e aproveitou para pisar fundo e ampliar a vantagem e realizar sua troca de pneus na volta 51. Ayrton ainda voltou na liderança com folga e, graças ao incidente envolvendo Hill e Berger na volta 70, cruzou a linha de chegada com 52 segundos de vantagem o inglês. Berger acabou sendo obrigado a abandonar por causa da colisão e o pódio foi completado pela Ferrari de Jean Alesi. No final da corrida, Senna fez questão de dizer que teve um prazer especial em ultrapassar Prost duas vezes, além de colocar uma volta de vantagem sobre o rival. O francês aproveitou os problemas dos adversários e terminou em quarto, com Christian Fittipaldi conseguindo um ótimo quinto lugar com a Minardi. Martin Brundle completou a zona de pontuação com o sexto lugar. “Ainda apertei o ritmo para evitar surpresas”

No pódio, Ayrton Senna ficou feliz com a elegância de Damon Hill, o segundo colocado, que o felicitou:

“Parabéns, Rei de Mônaco. Se meu pai fosse vivo, certamente viria cumprimentá-lo” campeões

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Informações da Corrida Monte Carlo

23/05/1993 3º Lugar

1º Lugar 1'23''737

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GP da Austrália 1993 FIM DE UMA ERA

De 1987 a 1993, o GP da Austrália encerrou a tem-

porada como se fosse uma espécie de corrida para cumprir tabela em termos de campeonato, já que em todos esses anos o título já havia sido definido. Em 1993, apesar do grande domínio das Williams e do tetra já assegurado por Alain Prost, a corrida em Adelaide tinha um gosto bem mais especial que nos anos anteriores. Ayrton Senna se despedia da equipe McLaren e Prost se aposentava da Fórmula 1. Estava marcado o último duelo entre eles, que deixaria um grande vazio para muitos fãs do automobilismo. Quem também se despedia da F-1 era Riccardo Patrese. O italiano era, naquela época, o piloto com o maior número de largadas, 256, e competiu durante 17 temporadas, recorde que foi que-

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brado em 2008 por Rubens Barrichello. Havia um clima de saudade no box da McLaren, mas só Jo Ramirez, coordenador técnico do time, viu as lágrimas nos olhos de Ayrton Senna antes da última largada do brasileiro pelo time inglês. Ramirez gritou no ouvido de Senna que o piloto já havia feito demais pela escuderia desde 1988. Era tricampeão, com 34 vitórias pela McLaren, mas aquele seria um triunfo muito especial para todos. Não apenas pela despedida: se vencesse, a equipe deixaria a Ferrari para trás e se tornaria a mais vitoriosa da Fórmula 1, com 104 triunfos. No treino de classificação, como de costume, Ayrton Senna foi o mais rápido – embora aquela tenha sido uma temporada mais uma vez marcada pelo forte rendimento dos carros da Williams.


pela McLaren, com 46 poles e 447 pontos conquistados dentro da equipe inglesa. No pódio com seus rivais da Williams, Senna agarrou a mão esquerda de Prost e a ergueu, demonstrando um grande respeito pelo seu A largada foi a parte mais dramática da prova maior rival. A multidão aplaudiu, sabendo que para os pilotos: foi abortada duas vezes, porque aquilo simbolizava o fim de uma era na Fórmula a Tyrrell de Ukyo Katayama e a Jordan de Eddie 1. Irvine tiveram problemas de motor. Após a corrida, Ayrton compareceu a um show da cantora Tina Tuner, que dedicou à música “Me concentrei muito na largada final, de- “Simply the Best” para o brasileiro. Ayrton subiu pois das duas abortadas. Eu tinha um olho ao palco bem mais tímido do que quando subia no Prost, ao meu lado, e outro no retro- ao pódio. Senna foi muito aplaudido por todos os visor, atento ao Damon Hill, que largaria presentes. logo atrás de mim. Afinal, era a minha úni- “Sou uma fã, uma grande fã dele. É o melhor”, ca pole da temporada e eu não queria errar” declarou Tina Tuner enquanto abraçava o tricampeão mundial de Fórmula 1. E não errou. Partiu na frente e começou seu último show nas ruas de Adelaide. Nas primeiras voltas, Senna seguia à frente de Informações da Corrida Prost, com Hill e Schumacher logo atrás. O alemão da Benetton teve problemas na volta 20 e teve que abandonar a prova mais cedo. À mediAdelaide da que a corrida prosseguia, a liderança de Senna era cada vez maior. Senna só deixou a ponta quando parou para 07/11/1993 trocar pneus na 23ª volta, retomando-a na 29ª, e cruzou a bandeirada, conquistando a sua 41ª vitória nos 158 Grandes Prêmios disputados até 1º Lugar ali. Foi a última vitória de Senna na carreira, a 35ª O brasileiro marcou sua pole de número 62 da carreira, batendo Prost por 436 milésimos. Damon Hill (Williams) e Michael Schumacher (Benetton) formaram a segunda fila.

1º Lugar 1'16''128

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NÚM3R05 As estatísticas de Ayrton em 10 temporadas na Fórmula 1

161 GPs DISPUTADOS

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65 POLES

41 VITÓRIAS


2982 VOLTAS NA LIDERANÇA

19 VOLTAS MAIS RÁPIDAS

3 TÍTULOS MUNDIAIS

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HOMENAGENS E RECONHECIMENTO

Lewis Hamilton homenageando Ayrton em 2017 no GP do Canadá

Estátua em Donington Park

Mural em Phoenix , Arizona

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Mural de Eduardo Kobra no circuito de Ă?mola

Revista Autosport, onde Senna foi eleito o maior piloto de todos os tempos

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Michael Schumacher

Sylvester Stallone

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Mural de Eduardo Kobra em São Paulo

Senna com o pentacampeão Juan Manuel Fangio

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LISTA DE PRÊMIOS DE AYRTON SENNA - Troféu da Ford Brasil em 1982 pelas conquistas dos campeonatos inglês e europeu da Fórmula Ford 2000. - Revista Placar (Esportista do Ano) - 1985 - Troféu "Piaggio Vespa" Pole Position atribuído ao piloto mais veloz da temporada de 1985. - Troféu Casco D'oro (Capacete de Ouro) - Revista Autosprint - 1988, 1990 e 1991 - Dois Troféus de Prata (1989 e 1993) e um de Bronze (1987) - Revista Autosprint - Melhor Piloto da Temporada - 1989 (Júri composto por 10 jornalistas do mundo inteiro da revista Autosprint) - Autosport (International Racing Driver Award) - 1988, 1990 e 1991 - L'Équipe (Campeão dos Campeões) - 1990 - Melhor piloto, pela revista inglesa "Autosport", da temporada de 1990. - Esportista Latino-americano do Ano (Associated Press) - 1990 e 1991 - Troféu Graham Hill - 1992 (conquistado após a quinta vitória no GP de Mônaco) - Prêmio Capacete de Ouro - Categoria "Hors Concours" - 1997 (Prêmio póstumo)

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ELEIÇÕES E PESQUISAS 2015 - Pesquisa realizada em 194 países pela "Grand Prix Drivers Association" e o site "Motorsport.com", elege Senna o melhor piloto de todos os tempos. O resultado revelou que a maioria das pessoas interrogadas eram da Grã-Bretanha, seguidas dos franceses, com os alemães aparecendo em quinto lugar e os brasileiros apenas em décimo. 2013 - Melhor piloto da Fórmula 1 em votação no portal IG. Melhor piloto da Fórmula 1 em votação no site do jornal italiano Corriere della Sera. 2012 - Eleito o melhor piloto da história da McLaren. 2012 - Melhor piloto de todos os tempos em votação por especialistas da BBC. 2011 - Melhor piloto da Fórmula 1 em votação do site "F1 Fanatic". 2010 - Melhor piloto de todos os tempos pelo site alemão "Motor und Sport". 2010 - Melhor piloto da história da Fórmula 1 pelo jornal alemão "Bild am Sonntag". 2010 - Melhor piloto da história da Fórmula 1 pela revista Autosprint. 2010 - Maior atleta brasileiro pela revista ESPN, excetuando Pelé. 2009 - Melhor piloto da história da Fórmula 1 pela revista Autosport. 2008 - Um dos três maiores nomes da Fórmula 1 (os outros dois são Jim Clark e Stirling Moss) por Alan Henry (jornalista especializado em Fórmula 1). 2008 - Um dos cinco maiores pilotos do automobilismo no site da ESPN americana. 2007 - Escolhido o "piloto mais rápido da Fórmula 1" em eleição da revista inglesa F1 Racing.

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2004 - Pesquisa da revista "F1 Racing" feita por voto popular colocou Senna como o melhor piloto de todos os tempos. 2004 - Pesquisa feita pela revista "F1 Racing" com 77 pessoas, entre jornalistas especializados, membros de equipes de Fórmula 1 e pilotos, apontou Senna em primeiro lugar como o melhor piloto de todos os tempos. 2004 - Pesquisa feita pela revista Autosport com jornalistas especializados, membros de equipes de Fórmula 1 e pilotos, apontou Senna em primeiro lugar como o melhor piloto de todos os tempos. 2004 - Pesquisa feita com mais de 23 mil votos pelo site especializado em automobilismo e motociclismo Crash.net, mostrou Senna em primeiro lugar como o melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. 2001 - Pesquisa feita com mais de 7 mil leitores pela revista italiana de automobilismo "Autosprint", elegeu Senna o melhor piloto da história. 1991 - Pesquisa realizada pelo jornal Estado de S. Paulo com 195 jornalistas de todo o brasil, apontou Senna como o melhor esportista do ano com 65% dos votos no masculino e 44% dos votos no geral. 1991 - Pesquisa realizada pelo Jornal O Globo em novembro de 1991, mostrou Senna como o maior ídolo do esporte brasileiro com quase 40% dos votos, seguido de Hortência com pouco mais de 7%. 1990 - Pesquisa realizada pelo jornal Estado de S. Paulo com jornalistas de todo o Brasil elegeu o piloto brasileiro como o principal nome do esporte brasileiro no ano com 145 votos. 1988 - Pesquisa realizada pela "Agência MPM" em agosto de 1988, apontou Senna como o maior nome do esporte brasileiro com 71% dos votos, seguido de Oscar Schmidt com 44%. 1988 - Primeiro título mundial de Ayrton Senna é considerado o fato esportivo do ano na América Latina, segundo a Associated Press. 1985 - Pesquisa feita pela revista italiana "Autosprint", apontou Ayrton Senna como o melhor e o mais popular piloto da temporada. 1984 - Foi eleito a revelação da temporada, segundo revistas especializadas.

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yrton era um grande apaixonado pela pureza das crianças. Quando perto delas, seu rosto demonstrava a mais clara sensação de paz de espírito, representada pelo largo sorriso que estampava no rosto. Mudar a realidade dos jovens, trazendo-os para mais perto dos seus sonhos era uma meta que estipulou para si. Depois de sua morte, foi comunicado que grande parte da sua herança foi destinada a ações para ajudar crianças e jovens em situação de pobreza. E é exatamente desse sonho sem tempo para ser concretizado, que nasce o Instituto Ayrton Senna, cumprindo com os ideais outrora traçados pelo seu mentor e hoje comandado firmemente pelas mãos de Viviane Senna, irmã do piloto.

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SENNINHA O automobilismo era a grande paixão de Senna, mas não sua única preocupação. O cara simples, amigo e sincero, se transformava em um profissional sério e bastante determinado quando se tratava de suas responsabilidades. Usando do seu caráter como plataforma, conseguiu concretizar o desenvolvimento de outros dois grandes sonhos de sua vida: a criação da marca Senna, um enorme referencial em produtos de alta tecnologia, e o personagem infantil Senninha, inspirado diretamente nos seus valores pessoais. Em 1993 foi lançada também a marca Ayrton Senna, usada em itens de memorabília, como as miniaturas dos carros utilizados pelo piloto na F1, até videogames.

HERÓI NO CORAÇÃO BRASILEIRO Símbolo maior do patriotismo, Senna é um marco na vida dos brasileiros que vivenciaram suas vitórias. Mesmo sabendo que a bandeirada final seria a favor do nosso piloto, todos acordavam, ligavam as suas televisões e assistiam ansiosos pelo balançar da flâmula verde e amarela na volta final. Sua morte foi um dos baques mais sofridos por toda nação. Quase não há quem não se lembre do que estava fazendo quando a triste notícia percorreu a imprensa. Apegando-se a um pranto disfarçado, o Brasil assistiu silenciosamente a sua trágica despedida e a última exibição do capacete amarelo e azul que tanto nos orgulhou. Apesar da dor e da saudade, Ayrton deixou em nossos corações a marca sincera de um homem que lutou pelos seus sonhos e honrou a sua pátria até o último segundo de sua existência. campeões

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FRASES DE AYRTON SENNA

"Ele (Deus) é o dono de tudo. Devo a Ele a oportunidade que tive de chegar onde cheguei. Muitas pessoas têm essa capacidade, mas não têm a oportunidade. Ele a deu prá mim, não sei porque. Só sei que não posso desperdiçá-la."

"No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz." "O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação."

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"Para mim, a mulher não é para exibir, é para dar atenção e para amar."

"Uma maneira de preservar sua própria imagem é não deixar que o mundo invada sua casa. Foi um modo que encontrei de preservar ao máximo meus valores."

"Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá."


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TRICAMPEÃO 82

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RUMO A

Jogos de Tóquio devem ter cartilha, controle rígido de acesso e testagem em massa para impedir contágio pelo novo coronavírus

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TÓQUIO

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Olimpíada mais restrita da história vamos viver como as outras" A contagem regressiva para as Olimpíadas de Tóquio recomeçou em março de 2020. Na ocasião, pela primeira vez na história, uma edição dos Jogos foi adiada. Agora remarcado, o megaevento esportivo tem instalações prontas e calendário definido, mas enumera pendências por

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causa da pandemia do novo coronavírus. A maior delas diz respeito à operação olímpica. Em uma competição cuja maior marca é a conexão entre todo o mundo, por ora o mandamento é manter o distanciamento. O Japão pretende liberar a primeira vacina em fevereiro e

começar sua campanha de imunização em março. Mas os dirigentes do COI (Comitê Olímpico Internacional), do comitê organizador e autoridades locais sabem que cada país vive um estágio na pandemia, e que a vacina não vai chegar a todos simultaneamente.

Por isso, durante o segundo semestre de 2020 foram feitas simulações de controle de segurança e acesso às instalações - a intenção era garantir um alto grau de proteção aos envolvidos mesmo sem vacina ou fármaco contra a Covid. As ligas japonesas de futebol e beisebol


Estádio Nacional de Tóquio

desafia organizadores e atletas: "Não

também serviram de laboratório para saber se é possível organizar eventos com algum público. No ensaio local, os campeonatos chegaram ao fim sem registros de surtos da doença entre os espectadores. Criou-se um novo jeito de assistir ao esporte, com reações mais contidas, sem gritos e com distância do próximo. Os estrangeiros precisam incorporar esses expedientes para poder torcer nos Jogos Olímpicos. E, além disso, manter hábitos e cuidados sanitários como uso da máscara, higienização das mãos e evitar aglomerações. Esse ambiente de restrições será um desafio para todos os envolvidos no evento.

- É importante o momento de relaxamento, de congraçamento, de confraternização, isso faz parte do ambiente dos Jogos. Mas, se isso não é possível, vamos nos concentrar no que estamos indo lá fazer. Que é representar bem o Brasil, que é competir no seu esporte, naquilo que você é profissional, aquilo a que você se dedica, e buscar fazer o melhor afirmou Jorge Bichara, diretor de esportes do COB (Comitê Olímpico do Brasil). O COB manteve as oito bases de aclimatação e treinamento no Japão. E essas bases, que foram definidas no início do ciclo olímpico, ganharam anda mais importância depois que o

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COI determinou que o tempo de permanência na Vila Olímpica deverá ser encurtado. - De repente, a gente vai ter os horários específicos. Tal país vai poder descer para o refeitório e outro país não. Eu acredito que isso vai ser bem restrito. E não é o que um atleta espera de uma Olimpíada, que é um evento global, que é o maior evento esportivo da história do planeta - disse o velocista Paulo André, atleta mais rápido do atletismo do país na atualidade. A capacidade de adaptação a um ambiente novo e diferente será um desafio a mais para os participantes. Os organizadores admitem até punições a quem desobedecer regras de convívio. - Eu acho que os atletas têm que ter essa consciência de que é a situação. Se for esse o caso, não vão viver essa Olimpíada como foram as outras. Mas, entre ter uma Olimpíada com restrições e não ter uma Olimpíada, acho que todo atleta vai preferir ter a Olimpíada. Ir lá, representar o país e lutar por uma medalha que é a coisa mais linda que tem - afirmou Robert Scheidt, maior medalhista olímpico brasileiro em todos os tempos (cinco, das quais duas de ouro). Além de treino, alimentação e sono, cada atleta terá de passar por testes para detecção de Covid-19 constantes na sua rotina em Tóquio.

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- A gente já está meio que praticando isso, porque o tour [Liga Mundial de Surfe] começou. E tem que fazer o teste todo dia da competição. A gente tem que fazer o teste PCR, que demora uns dois dias [para sair o resultado]. Tipo, tem essas coisas já acontecendo. A gente já tá acostumando com esse tipo de vida dentro da pandemia. Então eu acho que vai ser uma coisa mais ou menos normal - comentou Tatiana Weston-Webb, brasileira que vai disputar o surfe, modalidade que estreia em Jogos. Será um novo normal que possibilite que a chama olímpica permaneça acesa. - Sem dúvida é um ambiente diferente, é um momento da humanidade diferente. Então a tendência é que você tenha Jogos que carreguem todo esse momento emocional. E será um encontro do mundo novamente - observou Bichara.


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