Condições de vida

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PREFEITUR A DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO | INSTITUTO PEREIR A PA SSOS

JUNHO 2013



PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Eduardo Paes - Prefeito

SECRETARIA MUNICIPAL DA CASA CIVIL Pedro Paulo Carvalho Teixeira - Secretário

INSTITUTO PEREIRA PASSOS Eduarda LaRocque - Presidente Daniela Goes - Chefe de Gabinete DIRETORIA DE PESQUISA Sergio Guimarães Ferreira - Diretor DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Maína Celidonio - Diretora COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL Isabel Werneck - Coordenadora


Equipe Técnica

DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ANÁLISE ECONÔMICA

Katcha Poloponsky - Gerente Camille Bemerguy Mariana Carvalho Camila Ferraz ESTATÍSTICA

Marcelo Pessoa - Gerente Roberta Tomas Felipe Russo Roberto Padovani Antônio Carneiro Leandro Rocha ESTAGIÁRIOS

Rodrigo Reis Ana Resende Renan Curvo

COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL ASSESSORIA

Bruno Cardoso JORNALISTA EXTERNA

Débora Thomé PROJETO GRÁFICO

Cláudio Novaes

INSTITUTO PEREIRA PASSOS Rua Gago Coutinho, 52 22221-070 | Rio de Janeiro, RJ http://www.rio.rj.gov.br/ipp CADERNOS DO RIO © 2013 - INSTITUTOS PEREIRA PASSOS - Direitos reservados


Apresentação A melhor forma de transformar uma realidade é conhecê-la nos seus detalhes. Com esse objetivo, o Instituto Pereira Passos (IPP) - órgão ligado à Casa Civil da Prefeitura do Rio de Janeiro - desenvolveu uma pesquisa extensa, minuciosa, em um trabalho de quase dois anos de duração, cujos dados começam a ser conhecidos agora. Deste esforço de compilação e seleção de informações, resultaram os dez “Cadernos do Rio”, um retrato aprimorado da cidade, com temas diretamente relacionados aos principais interesses de seus habitantes. Os dados utilizados foram extraídos do Censo Demográfico do IBGE de 2010 pela equipe do IPP. A pesquisa permitiu um mapeamento inédito do município pelo grau de regionalização de seus índices. Essas informações fornecem subsídios em abundância para o desenvolvimento de políticas públicas com grande potencial de sucesso, além de auxiliar diretamente em possíveis ajustes do planejamento estratégico. Foram traçados perfis de bairros e Regiões de Planejamento, contemplando os seguintes assuntos: Favela e Bairros Formais, Mercado de Trabalho, Educação, Demografia, Deficiência, Religião, Migração, Juventude, Renda e Consumo de Bens e Condições de Vida. Uma grande notícia que estes “Cadernos do Rio” nos trazem é que o Planejamento Estratégico da Prefeitura, coordenado pela Casa Civil, já se encontra na direção e no sentido corretos, aplicando políticas eficazes justamente nas áreas de maior carência. O detalhamento por regiões geográficas da cidade ajudará a aprimorar a regionalização das políticas, diminuindo a desigualdade dentro do Rio, herdada, sobretudo, de outras gestões. Ao fazer este retrato, combinado com a análise de diversos especialistas com opiniões distintas, o IPP fortalece o seu papel como um canal permanente de pesquisa, reflexão e diálogo entre a Prefeitura e a sociedade, fortalecendo a transparência e trazendo novos temas e propostas, os quais unem essas duas pontas fundamentais para o êxito das políticas públicas.


Objetivo dos Cadernos Em linhas específicas, os cadernos permitem: - Entender as mudanças na cidade entre 2000 e 2010, ano do último Censo; - Comparar a dinâmica da cidade com a de outras capitais, bem como com o Brasil; -Identificar as diferenças intramunicipais da cidade do Rio, mostrando as diferentes realidades vividas pelos próprios cariocas; - Ter uma visão detalhada de cada dimensão da realidade social: demografia, renda e consumo, educação, condições de vida, religião, deficiência, migração, mercado de trabalho; - Ter uma visão multidimensional de dois temas-chave para a cidade nos próximos anos: a) Diferenças entre as favelas e os bairros formais – o estudo foi feito com base em um recorte territorial que aborda questões de demografia, educação, condições de vida e renda. b) Juventude - recorte etário que permite identificar as principais características da população jovem de 15 a 24 anos. Reúne dados de demografia, renda, mercado de trabalho e educação.

Estudo representa um instrumento inédito para a cidade do Rio de Janeiro O Censo é a única pesquisa que permite olhar a cidade em suas partes, por bairros, Regiões de Planejamento e Regiões Administrativas. Numa cidade tão desigual como Rio, ou São Paulo, olhar as partes em separado, aumentando o grau de detalhamento, é mais fidedigno para as análises que acompanhar as médias. O bairro de Santa Cruz, por exemplo, é completamente diferente de Ipanema no que diz respeito à renda; já a Barra da Tijuca em nada se parece com Ipanema quanto aos aspectos demográficos. Além disso, favelas da Zona Sul são completamente distintas, em diversos aspectos, dos bairros chamados formais; por exemplo, são diferentes os índices de analfabetismo infantil, renda e escolaridade média da força de trabalho. Infelizmente, só se consegue fazer essa análise territorializada de dez em dez anos. Assim, este estudo, acaba se apresentando como um retrato refletindo o passado, não representando uma análise da realidade atual, que já se apresenta com o impacto das transformações recentes por que a cidade está passando. O Rio de Janeiro que saltou do Censo de 2010


mostra muito mais a situação herdada pelo Prefeito Eduardo Paes, do que os efeitos de políticas por ele implementadas, já que um ano e meio de administração é muito pouco para surtir efeitos estruturais. Os dados do Censo mostram, ex post, que a grande maioria das políticas aplicadas por essa gestão foi acertada, atacando corretamente os desafios apresentados pelo Censo de 2010. Principalmente, há a sinalização de que os investimentos de porte foram feitos nas áreas mais carentes da cidade, a saber, a Zona Oeste e a Zona Norte. Uma análise dos efeitos das políticas da atual administração só será possível com os dados do censo de 2020, ou se implantarmos uma pesquisa domiciliar que os reproduza por volta de 2015. É importante ressaltar que a cidade passa por um momento de crescimento econômico, investimento e grandes intervenções urbanísticas. Logo, precisamos refletir sobre o espaço urbano em que vivemos e sobre o que queremos e estamos construindo. Todas as informações deste estudo irão incitar diálogos e debates nas instâncias públicas, na sociedade civil, gestores e academia sobre temas fundamentais para o município como, por exemplo, as perspectivas para os jovens de hoje.



Este texto sobre condições de vida, que compõe a série “Cadernos do Rio”, apresenta uma análise sobre pontos como o custo de vida na cidade e o acesso aos serviços públicos.

DESTAQUES • No Rio, 73,6% dos domicílios são próprios e 21,8%, alugados. Na RP Santa Cruz, 84,7% dos domicílios são próprios. • Enquanto na RP Ramos a média de residentes por dormitório fica em 2,06; na Tijuca e na Zona Sul, ela cai para 1,47. A cidade tem, em média, 1,78 pessoas por dormitório. •

66% dos domicílios têm apenas um banheiro.

• 90,9% dos domicílios têm seus dejetos lançados à rede geral de esgotos ou em via pluvial; 4% têm fossa séptica. • 11,2% dos domicílios têm medidor de energia elétrica compartilhado ou não têm medidor. • 38,1% dos domicílios dos bairros de Manguinhos e 33% do Complexo do Alemão têm energia sem medidor elétrico. • 14,2% dos domicílios têm lixo coletado via caçamba no Município do Rio de Janeiro. No Brasil, são 7,2%. Na Região de Planejamento de Inhaúma, são 26,9%

Entre os muitos aspectos contemplados pelo Censo do IBGE, estão também aqueles relacionados à forma como os habitantes da cidade vivem: como são suas casas, como usufruem dos serviços disponíveis. Esses dados funcionam como sinalizadores para o desenvolvimento de políticas públicas que possam melhorar a vida dos cidadãos. Assim sendo, as Condições de Vida do morador do Rio de Janeiro são o quinto tema da série “Cadernos do Rio”, do Instituto Pereira Passos (IPP), com dados compilados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE.

Donos de casa Na Cidade do Rio, a proporção de domicílios próprios é praticamente idêntica à do Brasil e bem semelhante a das demais capitais do Sudeste. No Rio, 73,6% dos domicílios são próprios, 21,8% alugados e 3,9% cedidos. No Brasil são 73,5% próprios; 18% alugados e 7,8% cedidos. 9 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO | INSTITUTO PEREIRA PASSOS


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Já olhando apenas para dentro do município, não existe uma correlação determinante quanto à renda e à condição de ocupação, pelo menos no que diz respeito ao corte por Regiões de Planejamento (RP). De um modo geral, áreas de menor renda tendem a apresentar proporcionalmente mais domicílios próprios que alugados. Na Cidade do Rio de Janeiro, a maior taxa de domicílios próprios encontra-se em Santa Cruz, com 84,7%. Ela é seguida pela de Guaratiba, onde 81,4% dos domicílios são próprios. O Centro – talvez por causa das salas comerciais – e a Zona Sul – provavelmente devido ao fator renda – são as de maiores percentuais de domicílios alugados: 33,5% e 29,1%, respectivamente.

Os desafios da moradia adequada O número médio de cômodos no domicílio é de 5,58 no Rio de Janeiro; ele está bem próximo aos 5,47 de São Paulo. Mas é menor tanto quando comparado aos 6,72 de Belo Horizonte (MG), quanto aos 6,74 de Vitória (ES). Nesse caso, sim, há uma correlação clara entre número de cômodos e a renda da Região de Planejamento. Por exemplo, a RP que registra, em média, mais cômodos segundo os dados do Censo, é a da Barra da Tijuca: são 7,04. As da Tijuca e da Zona Sul vêm em seguida, com 6,79 e 6,61. Os de mais baixo número de cômodos são os domicílios de Ramos que têm, em média, 4,84 cômodos. Fazendo a conta de como as pessoas ocupam esses espaços, o Rio de Janeiro, mais uma vez junto a São Paulo, tem mais moradores por dormitório que Vitória e Belo Horizonte. Na cidade fluminense, são, em média, 1,78 pessoas por dormitório e, em São Paulo, são 1,87 pessoas. Já em Vitória são, em média, 1,52 e, em Belo Horizonte, 1,54. A variação é maior, porém, no comparativo intracidade, ou seja, quando observadas as médias das diferentes Regiões de Planejamento. Enquanto na RP Ramos a média por dormitório fica em 2,06; na Tijuca e na Zona Sul, ela cai para 1,47. Tanto Andrea Pulici, pesquisadora do Observatório Imobiliário e de Políticas do Solo Ippur/UFRJ, quanto Simone Cynamon Cohen, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, chamam a atenção para este aspecto: o tamanho de alguns domicílios na cidade em áreas carentes de infraestrutura adequada; residências essas que acabam abrigando um grande número de pessoas. “Nas favelas, comparativamente, há bem menos cômodos nas casas, muitas moradias são precárias. Além disso, várias não têm passagem adequada de ar ou entrada de luz do sol, o que gera uma série de consequências para a saúde dessas pessoas. Tudo isso é reflexo de décadas de ausência de uma política habitacional adequada”, afirma Andrea Pulici. Simone Cynamon enfatiza que o aspecto “habitação” vai além de apenas uma política de moradia: envolve todo o entorno. Quanto às residências, destaca que “domicílios construídos com menos de 50m2 não são adequados para famílias que tenham quatro ou cinco pessoas. É necessário pensar não apenas no número de dormitórios, de cômodos, mas também levar em conta aspectos às vezes negligenciados, tais como o tamanho dos banheiros, ventilação, iluminação. Isso normalmente é menos tratado, mas é fundamental para uma habitação saudável”. De acordo com os dados do Censo, praticamente 100% dos domicílios é de alvenaria, sendo que 7,2% são sem revestimento. Essa não é a medida mais precisa para se dizer qual a qualidade 10 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO | INSTITUTO PEREIRA PASSOS


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dessas residências, mas ela dá um bom sinal de que o problema da moradia de péssima qualidade – em termos da casa em si – foi reduzido. Contudo ele ainda está concentrado em alguns espaços da cidade. Na RP Guaratiba, por exemplo, 17,9% das casas de alvenaria não têm revestimento. Na de Santa Cruz, são 14,32% e, em Inhaúma, 11,3%.

Quem tem casa quer banheiro Quase todos os domicílios do Rio de Janeiro possuem banheiro de uso exclusivo: são 99,5%, enquanto, no Brasil, são 93,7%. Tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Paulo, quando comparados com as demais capitais do Sudeste, o que se nota é uma média menor do número de banheiros na residência tal e qual ocorre no número de cômodos: 66%, a grande maioria, dos domicílios do Rio de Janeiro têm apenas um banheiro; já em Vitória, 49,7% têm um, 29,7%, têm dois e 19,1% têm três banheiros. Enquanto no Brasil os sem banheiro ou sanitário de uso exclusivo chegam a 6,1%; esse grupo praticamente inexiste na Cidade do Rio de Janeiro. No município, acompanhando a renda, os maiores índices de presença de dois banheiros ou mais no domicílio são encontrados nas RPs da Tijuca (66,2%), da Barra da Tijuca (65,2%) e da Zona Sul (61,1%). Em todas as demais Regiões de Planejamento, mais da metade, pelo menos, dos domicílios, têm somente um banheiro ou sanitário de uso exclusivo. No caso das RPs de Ramos, Inhaúma, Penha, Santa Cruz e Pavuna mais de 80% dos domicílios possuem apenas um banheiro. O gráfico abaixo ilustra com clareza o aspecto renda influindo nessa característica dos domicílios.

Gráfico 1: Distribuição de domicílios por quantidade de banheiros ou sanitários de uso exclusivo: Regiões de Planejamento, 2010

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Saneamento: dos enormes desafios da infraestrutura Considerando o esgotamento sanitário, a quase totalidade dos domicílios do Rio de Janeiro o tem de forma considerada “adequada”. Segundo a definição do IBGE, o esgotamento é considerado adequado quando ligado a uma rede geral de esgoto (oficial ou não), a uma rede pluvial ou a uma fossa séptica. E é inadequado quando o esgoto do banheiro ou do sanitário é lançado em fossa rudimentar, vala, rio, lago ou mar etc. Os dejetos que são lançados via rede geral de esgotos ou pluvial (90,9%) e os de fossa séptica (4%) alcançam os 94,9% no Rio de Janeiro. No Brasil, porém, os domicílios com esgotamento sanitário considerado adequado são 67,2%. “O acesso ao saneamento adequado no país é muito baixo para o nível de renda. Vejamos o caso do Rio de Janeiro: ter fossa séptica em uma área urbana não é algo que se esperaria. Internacionalmente, a fossa não seria considerada um esgotamento adequado em uma cidade desse porte, onde todos os domicílios devem estar conectados à rede geral de esgoto.”, diz o professor Rodrigo Soares, do Departamento de Economia da PUC-Rio. O tema do esgotamento sanitário é, segundo os três especialistas entrevistados, o que traz maiores desafios entre os aspectos relativos às condições de vida aqui selecionados. Isso porque, de acordo com eles, a despeito dos bons índices do IBGE, o sistema de esgotamento na Cidade do Rio de Janeiro ainda se encontra bastante precário. E tê-lo falho significa também aumentar a situação vulnerável de habitação, bem como a incidência de doenças que atingem, sobretudo, as crianças. Andrea Pulici argumenta que a questão, atualmente, está mais relacionada à qualidade do esgotamento sanitário e do fornecimento de água que se tem. “O maior problema é que, muitas vezes, esse esgoto não é tratado, é jogado in natura, causando o assoreamento nos afluentes. Esses rios recebem o esgoto e é justamente deles que se tira água para o abastecimento.”

A água, o esgoto e a Zona Oeste De acordo com as respostas coletadas pelos recenseadores do IBGE, o esgotamento sanitário é feito de forma considerada adequada em boa parte da cidade, independentemente de fatores tais como renda ou morar em área de favela. A grande diferença se dá regionalmente, na Zona Oeste, onde deixa de haver tal universalidade. Tanto a RP de Jacarepaguá, quanto as de Barra da Tijuca, Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba estão abaixo da média da cidade. Em Guaratiba, são 67,4% dos domicílios com esgotamento sanitário adequado. Em Santa Cruz, são 84%. E na Barra, o terceiro pior, são 88,9%. “A cidade, em vários momentos, cresce para onde não existe infraestrutura. O mercado imobiliário vai primeiro e depois se pensa nisso. É importante combinar as políticas habitacionais com as políticas de infraestrutura.”, defende Andrea Pulici, do Ippur. Para Simone Cynamon o problema ultrapassa a Zona Oeste. “A cidade é um sistema, então, ainda que o maior problema de saneamento seja realmente na Zona Oeste, ele vai se refletir em outras regiões tanto no aspecto saúde quanto no meio ambiente. É preciso haver uma política social integrada, que veja a cidade como um todo.” 12 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO | INSTITUTO PEREIRA PASSOS


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Esgotamento precário acaba significando uma ameaça à saúde. Isso porque, em caso de chuvas fortes, com enchentes, a mistura do esgoto com a água pluvial, pode dar origem a uma série de doenças, tais como hepatite, cólera, leptospirose, verminoses. No caso do abastecimento de água, ele é feito pela Rede Geral, ou seja, de maneira considerada correta, em 98,4% da cidade, de acordo com o levantamento do Censo. As demais formas são inexpressivas. O índice é o menor entre as capitais do Sudeste, mais baixo que os 99,5% de São Paulo, os 99,7% de Belo Horizonte e os de 99,2% Vitória. Mas é melhor que o Brasil, cuja taxa de abastecimento via rede geral é de 82,7%. É bom ressaltar que é mesmo esperado que uma cidade, área urbana, apresente melhores fornecimentos de serviço, sobretudo se comparada às áreas rurais. O economista Rodrigo Soares, há alguns anos, começou a pesquisar os fatores que tinham maior impacto para reduzir aspectos negativos que prejudicassem o bom desenvolvimento de um país. Seus estudos para o Brasil em geral indicaram que o acesso à água de boa qualidade é um item ainda mais importante que ter um esgotamento sanitário adequado: “É difícil generalizar, sobretudo fazendo uma comparação com o Rio de Janeiro, que é uma metrópole. Mas, no Brasil, a água é muito importante, ainda mais no meio rural ou no Nordeste. Em uma pesquisa, identificamos que o acesso à água limpa poderia, em um primeiro momento, minimizar os impactos negativos mais até que o esgotamento.” Algumas décadas atrás, parte dos estudiosos considerava que o crescimento econômico por si só traria consigo outros benefícios a reboque. Isso porque o próprio aumento de renda das famílias, por exemplo, faria com que as crianças ficassem mais bem nutridas, seria possível pagar médicos, mais crianças estariam em boas escolas. A renda seria, portanto, a força motriz das demais transformações. No entanto, recentemente, começou a ficar mais claro para os pesquisadores que o processo poderia ser o inverso: as melhorias de infraestrutura com impacto na saúde tinham potencial para gerar crescimento para os países e, ainda mais importante, trazer bem estar para a população. “Ocorreram ganhos enormes com a purificação de água, por exemplo. Só com essa mudança, alguns países aumentaram em até 15 anos a expectativa de vida.”, destaca o professor da PUC. Um antigo trabalho seu concluiu que “melhorias em educação, acesso a água e saneamento são importantes aspectos no que diz respeito às mudanças na expectativa de vida [dos países] não relacionadas com a renda”. Rodrigo vai além. Segundo ele, “Uma criança que cresça sem acesso a esgotamento sanitário ou água tratada vai apresentar uma incidência muito maior de infecções que podem até levar, em casos mais graves, à morte. E mesmo as crianças que sobrevivem nessas condições acabam sofrendo sequelas de longo prazo. A infância é um momento essencial para o desenvolvimento cognitivo. Os impactos dos problemas de saúde são de longo prazo para o indivíduo e alguns prejuízos são irreversíveis.”.

Da água para a energia Tanto no caso do fornecimento de água quanto no de energia elétrica, os dados do Censo do IBGE apontam para a universalidade desses serviços. Porém, no caso do segundo, a questão está no fato de que uma parte razoável advém do fornecimento de energia sem medidor ou com medidor compartilhado, o que sugere que pode haver algum tipo de furto de energia. Na Cidade do Rio de Janeiro, 5,3% dos domicílios têm medidor de uso comum e 5,8% declararam não ter medidor, 13 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO | INSTITUTO PEREIRA PASSOS


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alcançando 11,2% dos domicílios. Já os que possuem energia elétrica de companhia distribuidora com medidor de uso exclusivo são a maioria: 87,5%. No corte por Regiões de Planejamento, Guaratiba e Inhaúma são as que aparecem com maior percentual de domicílios de energia sem medidor. São 15,2% dos domicílios da RP Guaratiba e 12,8% da RP Inhaúma. Indo ao detalhe, na separação por bairros, aparecem números bastante eloquentes: 38,1% dos domicílios de Manguinhos – ou seja, mais de um terço – não possuem medidor; são 33% no Complexo do Alemão e 15,8% em Parada de Lucas. “Uma das explicações para a energia sem medidor, mais comum nas áreas de favela, está na baixa formalização dos serviços nestes locais. Isso dá o contexto. Ficaram anos vivendo na informalidade, então ainda hoje alguns têm uma relação informal com a prestação de serviços”, acredita Andrea Pulici, que trabalha diretamente pesquisando o mercado imobiliário nas favelas, ao avaliar o assunto.

A coleta e a caçamba A propósito, outro tema que está diretamente relacionado à situação precária de urbanização em que vivem as favelas é a questão da coleta de lixo. No Município do Rio de Janeiro, ela apresenta aspectos bastante específicos devido à constituição urbana. Na maioria das favelas, a coleta não tem como ser feita pelo caminhão de lixo, porque o veículo não consegue entrar nas vielas, existentes na maioria delas. Assim sendo, 14,2% dos domicílios têm lixo coletado via caçamba na cidade. Esse percentual é relativamente alto. Só para se ter uma base de comparação, São Paulo tem percentual de 4,7%, e o Brasil, de 7,2%. Na cidade, 85,1% são coletados via serviço de limpeza (a coleta adequada, que reúne o serviço de limpeza e a via caçamba alcança, portanto, 99,3%). No Brasil, são 87,4% com coleta de lixo adequada. Essa grande variação no uso da caçamba aparece de forma mais acentuada em Inhaúma, RP com grande presença de favelas, com uma taxa de 26,9% de coleta via caçamba; seguida de Jacarepaguá (20,9%), Centro (21,1%) e Barra da Tijuca (19,3%). Curiosamente, a Zona Sul também registra uma taxa alta de coleta via caçamba: 19,1%, índice igual a da RP da Penha. “A coleta seletiva é, sem dúvida, melhor que a caçamba. Mas as caçambas podem, sim, servir como uma solução adequada, desde que se tenha em mente que são uma solução temporária”, avalia Simone Cynamon. Segundo ela, o problema da caçamba é que o recolhimento é feito poucas vezes por semana e, neste tempo que o lixo permanece ali, a sujeira acumulada não apenas traz problemas de odor, como também atrai ratos, grandes transmissores de doenças. Uma das soluções, acredita a pesquisadora, seria estimular serviços tais como o dos catadores, com vistas à reciclagem. Coleta inadequada propriamente dita (isto é: lixo queimado ou enterrado na propriedade, jogado em terreno baldio, logradouro, em rio, lago ou mar) pode ser verificada nos bairros de Manguinhos, onde 10% não tem lixo recolhido de forma adequada. São também 6,1% no Complexo do Alemão e 5,7% no Jacarezinho. 14 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO | INSTITUTO PEREIRA PASSOS


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Mesmo com todos esses desafios e carências que se apresentam para a cidade no tocante ao desenvolvimento de políticas públicas que garantam melhores condições de vida, não se pode negar que o privilégio de morar no Rio de Janeiro custa caro. Já em 2010, ano do Censo – portanto antes da explosão mais recente no valor dos imóveis –, a média de valor dos alugueis na Cidade do Rio de Janeiro (R$ 599) era superior a das demais capitais do Sudeste, e quase o dobro da do Brasil (R$ 325,87). Na Zona Sul e na Barra da Tijuca, os alugueis custavam o quádruplo da média brasileira, atingindo, em média, o valor de R$ 1.254,35 e R$ 1.209,54, respectivamente. Por sua vez, em Santa Cruz (R$ 278,42), Guaratiba (R$ 311,07), Pavuna (R$ 321,08) e Ramos (R$ 326,03), as duas primeiras, áreas mais rurais e as duas últimas, Regiões de Planejamento com grande presença de favelas, os valores dos alugueis eram os menores da cidade, perto da média brasileira. Entretanto há que se reforçar que esses valores já sofreram aumentos ainda mais expressivos nos últimos tempos, acompanhando as grandes altas do mercado imobiliário carioca nos últimos dois anos.

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