SINTRA SAUDร VEL
sin tra
OUTONO 2015
#1
sau dรก vel
Índice 3
EDITORIAL
Editorial
6
PREFÁCIO
Literacia na Saúde
7
ARTIGO
Somos melhores?
10
CRÓNICA
Ter um Médico de Família
12
ARTIGO
Consequências do Tabagismo
16
ARTIGO
Parar de Fumar
19
ARTIGO
Tosse
20
ARTIGO
O meu filho ressona. Será normal?
22
ARTIGO
Nariz Limpinho
32
RECEITA
Receita Saudável
34
ARTIGO
Quebra Mitos
24
FOTO-REPORTAGEM
Ar Puro em Sintra
35
ARTIGO
Atualidades em Saúde
37
CARTOON
Dona Eugénia
39
CRÓNICA
Sala de Espera
43
INFORMAÇÃO
Gripe
EDIÇÃO-GERAL Mário Machado Cruz DIREÇÃO EDITORIAL Bertínia Oliveira, Paulo Faria de Sousa, Susana Medeiros, Vânia M. Duarte AUTORES Mário Machado Cruz, Luís Pisco, Paulo Faria de Sousa, Susana Medeiros, Ana Rita Domingues, Délia Pacheco, Vânia M. Duarte, Ana Pinheiro, Maria José Verdasca, António Vaz Carneiro, Maria Ana Sobral, Pedro Gomes de Sena DIREÇÃO DE DESIGN Miguel Cruz ILUSTRAÇÃO Gonçalo Moleiro, Carlos Tomaz FOTOGRAFIA Joe Chucker, Paulo Faria de Sousa, William Brawley, André Catarino, Maria Ana Sobral, Inês Tavares, Mnomono, Vera Kratochvil, Rozenn Leard, James Gathany, Silvana Ciardullo, Lígia Faria de Sousa TIPOS DE LETRA Open Sans, Regular, Playfair Display, Gentium Book Basic IMPRESSÃO Planimagem Publicidade, Lda. TIRAGEM 7 500 PERIODICIDADE Trimestral PARCERIA ACES Sintra
EDITORIAL
Editorial Texto por Mário
Machado Cruz
Médico, USF AlphaMouro
Em Sintra, um dos municípios mais populosos e plenos de desafios sociais de Portugal, existem poucos meios de aproximação dos cidadãos à informação sobre saúde e temas relacionados. A desinformação promovida por vários canais de televisão ou revistas é contraproducente e faz com que os cidadãos não tenham acesso a informação isenta de interesses comerciais. Mas, hoje, tenho o enorme prazer de vos apresentar a revista Sintra Saudável. Queremos ultrapassar estas barreiras e criar um espaço credível, isento de influências comerciais, com o propósito de informar a população, criar oportunidades de melhoria da qualidade de vida dos sintrenses e fomentar a participação da população, autarquia e dos profissionais de saúde num espaço comum. Este projeto surge aqui sob a forma de uma revista de distribuição gratuita com um alcance alargado por via da disponibilização nas salas de espera das unidades de saúde locais. É um projecto que vive do espírito de missão da equipa editorial, dos autores dos artigos e que tem imenso a agradecer ao esforço do Miguel Cruz no design e do Gonçalo Moleiro na ilustração. O objetivo é criar uma revista que verse sobre assuntos que ajudem à capacitação do leitor para pegar na sua saúde e na sua vida e torná-la melhor. Uma revista que, ao mesmo tempo, divulgue o que melhor se faz no concelho, permitindo aliar o bem-estar ao conceito tradicional de saúde.
Nesta primeira edição, temos a honra de contar com a participação do Dr. Luís Pisco, médico de família e Vice-Presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo que nos brinda com uma reflexão sobre a literacia e a sua importância como forma de melhorar a saúde da população. Seguem-se alguns artigos sobre a Medicina Geral e Familiar, como especialidade médica. Os artigos seguintes versam sobre o tabagismo e alguns problemas respiratórios e, como contraste, temos ainda uma original foto-reportagem da Dra. Maria Ana Sobral sobre belos pontos de passeio do concelho de Sintra. Temos ainda as secções de receitas saudáveis e de atualidades em saúde. Lá mais para o fim, o Prof. Doutor António Vaz Carneiro inaugura a sua rubrica do Quebra-Mitos, com o mito “Laranja de manhã é ouro, à tarde prata e á noite mata”. Este primeiro número encerra com uma inspirada crónica do Dr. Pedro Gomes de Sena. No entanto, o encerramento deste número é apenas o início de um projeto continuado de partilha entre os profissionais de saúde e a população.
Quero, em nome da equipa editorial, pedir-vos a vós, leitores, para participarem com críticas, sugestões, textos, fotografias, ou quaisquer outras formas que achem relevantes, para o nosso e-mail sintrasaudavel@gmail.com, ou através do nosso facebook: www.facebook.com/sintrasaudavel.
3 / Editorial
Fotografia por Joe
Chucker
PREFÁCIO
Literacia na Saúde Texto por Luís
Pisco
Médico, Vice-Presidente da ARSLVT
A literacia para a saúde é cada vez mais reconhecida como um determinante crucial para a saúde. Portugal integrou um recente estudo europeu sobre esta matéria, o Projecto HEALIT4EU, cujo relatório final foi divulgado este ano. Nesse estudo a literacia para a saúde foi definida como a capacidade para ler, filtrar e compreender a informação, de modo a apoiar as decisões individuais de saúde. Isto implica que a literacia para a saúde capacita a pessoa para emitir julgamentos e tomar decisões na esfera da sua saúde, em matérias de prevenção de doenças e promoção de saúde, de modo a manter a sua qualidade de vida, ao longo de todo o ciclo vital. As questões culturais e os fatores sociais, a par das interações com os sistemas educativo e de saúde acabam por ser determinantes quer no nível de literacia em saúde quer na despesa em saúde.
6 / Literacia na Saúde
De um ponto de vista teórico existe consenso acerca da associação entre níveis de literacia e resultados em saúde, na realidade existe alguma dificuldade em obter evidências e estabelecer relações de causa e efeito. A literacia em saúde tem sido estudada e definida como uma competência individual mas cada vez mais se atribui relevância ao apoio social nomeadamente parceiros, cônjuges, famílias, comunidade e ao contexto, por exemplo o sistema de saúde, no qual o indivíduo utiliza aquela competência. Não restam dúvidas que se trata de um conceito multidimensional que é também condicionado, pela vontade de cada um para gerir a sua própria saúde. Para que seja aceite que quanto mais baixo o nível de literacia para a saúde, mais baixo o nível de saúde individual e maior a utilização dos serviços de saúde, mais estudos terão de ser elaborados de modo a aumentar o rigor científico das análises, abordar questões de custo-benefício, aconselhar intervenções orientadas para a criação de competências críticas e não apenas para aumentar o conhecimento individual dos doentes. A literacia para a saúde tem sido vista como um recurso fundamental para fazer face ao envelhecimento populacional. À medida a que a população vai envelhecendo e convivendo com multipatologias crónicas, a literacia para a saúde surge como um recurso decisional capaz de ajudar a fazer escolhas que levem a uma vida mais saudável, melhor utilização dos serviços, mais eficaz comunicação com os profissionais de saúde e melhor gestão das próprias condições patológicas, incrementando a adesão terapêutica, com fortes impactos positivos sobre as despesas de saúde. Fundamental para a prevenção e promoção, a literacia para a saúde é muito importante no contexto de um envelhecimento activo e saudável, contribuindo assim para a sustentabilidade do sistema de saúde. Não restam pois dúvidas sobre a importância desta nova publicação para os cidadãos estando os seus promotores e o ACES de Sintra de parabéns pela iniciativa.
ARTIGO
Somos melhores? Texto e fotografia por Paulo
Faria de Sousa
Médico, USF AlphaMouro
Alguma vez pensou: “isto nunca aconteceria no estrangeiro”? Ou “lá fora é que a Saúde funciona bem”? Há quem defenda que faz parte da cultura portuguesa a autocrítica e desvalorização da produção nacional. Por outro lado, existem provas inegáveis da qualidade dos portugueses em várias áreas. Os sistemas de saúde são complexos e muito diversificados. Não é possível afirmar que um seja melhor do que outro em termos absolutos. Ainda assim, existem áreas fortes em cada país, tal como potenciais áreas a melhorar. Com este texto vamos descobrir o que os médicos de família e os cuidados prestados pelas equipas das unidades de saúde em Portugal têm de bom, e até de melhor do que vários países estrangeiros. Começando pela formação dos médicos, o funcionamento das unidades de saúde, as pessoas que podem usufruir destas e por fim olhando para o Serviço Nacional de Saúde. Esta descrição resulta da consulta de bibliografia e de relatos individuais de médicos com experiência de trabalho em países estrangeiros. Os especialistas em Medicina Geral e Familiar e a sua formação Como se faz um bom médico? Não existem receitas perfeitas, e a fórmula ideal ainda não foi descoberta. Mas a portuguesa parece dar um produto de boa qualidade, muito requisitado por outros países. Após 6 anos de formação para se tornarem médicos, trabalham durante um ano em vários serviços clínicos, naquilo que se designa por Internato do Ano Comum. Neste ano,
7 / Somos melhores?
em que são considerados médicos generalistas, adquirem competências fundamentais para a futura prestação mais especializada de cuidados de saúde. Após esse ano, ingressam numa especialização de 4 anos para se tornarem especialistas em Medicina Geral e Familiar, vulgarmente chamados médicos de família. Durante este período de 4 anos treinam várias competências com vista a tornarem-se médicos de excelência em diferentes valências: clínicos perspicazes e humanos, com bases científicas muito sólidas. Outros países têm sistemas semelhantes, mas com menos tempo para a especialidade: no Canadá, França e Brasil a especialização dura apenas 2 anos. Não sendo linear que mais tempo de treino faz melhores médicos de família, a abrangência e complexidade da Medicina Geral e Familiar faz com que os países que mais investem nela apostem cada vez mais em períodos mais longos, sendo o maior de 5 anos. Prestação de serviços em continuidade - do nascimento à morte Um dos fatores em que os médicos de família mais se diferenciam é na sua abrangência. São médicos que cuidam das pessoas desde o nascimento até à morte. Começam por vigiar a gravidez, garantindo a saúde da mãe e do bebé. Depois vigiam as crianças enquanto crescem certificando-se da sua saúde e intervindo quando necessário. Durante a idade adulta, seguem as mulheres em consultas de planeamento familiar, ajudando -as a decidir quando constituir familia e vigiando a sua saúde ginecológica.
ARTIGO
Quando a idade avança e surgem problemas de saúde como a hipertensão arterial ou doenças como a diabetes, encarregam-se de orientar cuidados e promover a redução das suas complicações através do seu controlo. Estão disponíveis para qualquer pessoa com um problema recente ou agudo, desde uma gripe até a um corte num dedo que necessite de sutura. Resolvem problemas com os recursos que têm, em articulação com os enfermeiros de família e, quando não podem, mobilizam recursos hospitalares ou da comunidade. Na fase final da vida, quando a fragilidade ou a doença impedem as pessoas de se deslocar, garantem apoio domiciliário. São, desta forma, médicos que apoiam a família nas suas várias fases da vida. Não tratam apenas as doenças, mas promovem a saúde. Em países como Suíça ou Reino Unido o seguimento das crianças e grávidas é feito por outros profissionais. Médicos portugueses que se encontram lá fora referem ser um dos pontos fortes do nosso sistema de saúde. As unidades e o trabalho em equipa Uma das áreas onde Portugal se destaca é no trabalho em equipa. Pode parecer pouco importante, mas ter médicos que trabalham de forma integrada com enfermeiros e outros profissionais é essencial para uma melhor assistência aos cidadãos. Em muitas regiões do mundo os médicos trabalham isolados, com pouco contacto com outros profissionais. Isto também se verifica cá, mas existe um esforço nacional para que cada vez haja mais equipas. O próprio modelo organizativo das Unidades de Saúde Familiar (USF) está pensado para promover isto mesmo. Na Associação Nacional das USF este tema é dos mais discutidos e promovidos. Afinal de contas, os cidadãos não são vistos apenas pelo médico. Começam no secretariado clínico, passando pela enfermagem, e pelo médico de família que os consulta. Todos ganham se estes profissionais estiverem em sintonia e se se articularem com outros, como por exemplo psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e assistentes sociais.
8 / Somos melhores?
A duração da consulta Em Portugal, os médicos de família querem ser mais do que técnicos de saúde. Querem ser aliados na saúde dos cidadãos. Não querem apenas passar receitas e exames, querem escutar. Sabem que apenas assim se pode compreender o que é importante para os cidadãos que os procuram, e ajudá-los verdadeiramente. Mas não é fácil. Sentem o bater do relógio, e a cada 15 a 20 minutos começa outra consulta, ou um novo atraso. Quinze ou mesmo vinte minutos não chegam para consultas complexas e exigentes, mas ainda assim é melhor que os tempos estipulados noutros países: 10 minutos no Reino Unido e Holanda. Os computadores Todos os processos clínicos nos Cuidados de Saúde Primários estão informatizados. Em muitos outros países esta transição não está completa. Os registos no computador, apesar de ser um elemento estranho e que não poucas vezes atrasa a consulta, possibilitam várias coisas boas: • Melhor comunicação entre o hospital e a unidade de saúde; • Melhor registo clínico, facilitando a busca de informações de consulta anteriores; • Prescrição eletrónica de receituário e de exames complementares de diagnóstico (mais rápidas e sem o problema da ilegibilidade da letra de médico). Para além de facilitar o trabalho dos profissionais, tem ainda vantagens importantes para os cidadãos: permite agendar consultas ou fazer pedido de receituário crónico sem sair de casa (on-line), e anuncia-se que em breve haverá desmaterialização de receitas. Mas o mais importante de tudo isto é a potencialidade que estes sistemas têm de reduzir o erro médico e tornarem-se amigos e protectores de utentes e profissionais. Portugal continua a avançar na modernização e encontra-se em fase mais avançada que outros países como por exemplo Canadá e França.
ARTIGO
Onde nos posicionamos a nível europeu? O nosso Sistema inteiro (SNS) Olhando para o nosso sistema de uma forma global, e da perspectiva dos utilizadores, o Índice Europeu de Saúde dos Consumidores de 2014 classificou Portugal no 13º Lugar com 722 pontos de um máximo de 1000, três posições acima do estudo de 2013. Esta subida é ainda mais impressionante tendo em conta o período de crise em que o país se encontra. Portugal está à frente do Reino Unido e logo após a Suécia, ultrapassando ainda os 670 pontos da Espanha e os 648 da Itália. Neste relatório são combinadas várias estatísticas públicas, sondagens a pacientes e pesquisa independente conduzida pela empresa Health Consumer Powerhouse Ltd, uma empresa privada sediada na Suécia, medindo o desempenho da assistência médica na Europa e no Canadá. O futuro (áreas de melhoria) Apesar de tantos pontos fortes que distinguem os portugueses pela excelência, boa organização e trabalho árduo, existem áreas a melhorar. Talvez a mais relevante seja a falta de médicos de família, que tanto se faz sentir no concelho de Sintra. Não se pretende com este artigo fazer esquecer as falhas do nosso sistema, mas lembrar que nenhum é perfeito. E o nosso, apesar de todas as dificuldades e barreiras, pelo engenho e arte dos seus profissionais, continua a melhorar.
9 / Somos melhores?
Em Portugal, os médicos de família querem ser mais do que técnicos de saúde. Querem ser aliados na saúde dos cidadãos.
CRÓNICA
Ter um Médico de Família Texto por Susana Medeiros Médica, USF AlphaMouro
Ilustração por Gonçalo
Moleiro
A agitação do dia anterior não me saía da cabeça. O turbilhão de acontecimentos retirou-me o sono e a angústia no futuro assolavame. De facto não era a minha experiência de vida mais avassaladora, mas por muitos acontecimentos que nos surjam nunca estamos preparados para a perda! Eram 9h00 da manhã quando acordámos. O sol brilhava e nada fazia adivinhar que o dia pudesse ser tempestuoso. Até então sempre fomos saudáveis… ou enfim, lá íamos fazendo aquelas coisas que todos fazem: umas gorduras a mais aqui e ali, a falta de tempo para o exercício físico (ou talvez mesmo a preguiça para o fazer!) e por muito que a nossa Médica de Família aconselhasse não conseguíamos mudar. Chamou-nos a atenção por quantas dúzias de vezes, mas achamos que o mal nunca nos bate à porta. E o Carlos, bem… sempre o vício do cigarro! Por mais que eu própria lhe dissesse… que teimoso! Depois do pequeno almoço arranjei-me para ir às compras. Escrevi uma pequena lista do que faltava e fui buscar a carteira. Fiquei aterrada! Dei com ele pálido… acho que os meus olhos o viram mesmo transparente. - O que tens, homem? - Nada, podes ir à tua vida. Isto já passa. (disse-mo em voz sumida e respirando entre cada palavra) - Tu não estás bem. Dói-te alguma coisa? - É aqui no peito. Já passa. - Vou chamar um Médico. - Não vais nada. Pára com isso. Já vai passar. E assim ficamos neste impasse por uns quantos minutos. Confesso que me pareceu por umas horas. De olhos fixos nele parecia-me que cada vez estava pior. É certo que ele por vezes tem dores assim. Mas nunca o tinha visto daquela maneira. E porquê esta mania dos homens que não precisam de ir ao médico? Sentia-me cada vez mais impotente e a perceber que o Carlos não estava bem. As ideias não me surgiam. Não via como ajudá-lo.
10 / Ter um Médico de Família
CRÓNICA
Foi então que sugeri: - Vamos à nossa Unidade de Saúde ver se a nossa Médica de Família lá está. De certeza que ela sabe como te ajudar! Apesar de fugir dos Médicos sei que o Carlos tem um grande respeito e genuína admiração pela nossa Médica de Família. Ela já nos conhece há muitos anos. Sempre foi um apoio para nós. Cuidou dos pais do Carlos até ao fim, viu os nossos filhos de pequenos, e quando o Carlos ficou desempregado foi a sua salvação, pois ficou tão em baixo que achei francamente que ele não ia tolerar o baque de ficar sem emprego. Ele aceitou a sugestão. Chegamos à Unidade em menos de 5 minutos. Aflita, fui junto da receção pedir auxílio. - O meu marido está com uma dor no peito. Ajude-me por favor. – disse eu em tom desespero à secretaria que me atendeu. Vi-a pegar no telefone e informar a Médica. A resposta que não compreendi surgiu do outro lado do auscultador. Assim que desligou disse-me: - Pode ir já com o marido para a sala de tratamentos. A Enfermeira vai já avaliar e a Drª já vai ter convosco. Peguei no Carlos, que me parecia cada vez mais abatido, e dirigi-o para onde me indicaram. Imaginei 1h de espera! Mas nem 5 minutos esperamos de facto. A Enfermeira e a Drª rapidamente compreenderam o que se passava e, em menos de nada, o Carlos estava a fazer medicação. A Médica achou melhor chamar a Urgência para levarem o Carlos para o Hospital. E ele lá partiu junto dos Paramédicos, suado, pálido e agarrado ao peito. As primeiras horas já passaram e o cardiologista diz que o Carlos está bem. Se tivesse demorado mais um pouco talvez não se salvasse. Olho para o relógio. São agora 6h30 da manhã. Revejo esta história e imagino como tudo poderia ter sido. Não tenho sono. Não consigo estar mais na cama. Vou arranjar-me. Quero ir ao hospital ver como está hoje o Carlos. Não! Vou primeiro à Unidade de Saúde. Tenho de dizer à minha Médica o que se passou. Alguém que nos aconselha na saúde e nos orienta na doença, que sabe reconhecer o que é realmente emergente do que pode esperar, que sabe quando nos referenciar a outro prestador de cuidados de saúde, que nos conhece desde sempre e por isso mesmo quase que basta olhar para nós para perceber que não estamos bem e que entende todo o nosso contexto… essa pessoa tem de saber o excelente trabalho que faz e o quanto nos ajuda. Salto da cama e tomo um duche! O sol brilha novamente. Abro a janela e uma suave brisa beija-me a face. Sinto-me mais calma agora. Sei que tenho alguém que me ajuda na minha saúde. E sei que vai tentar ajudar o Carlos a deixar o terrível vício do tabaco que o ia matando. Sinto-me um pouco mais confiante porque tenho uma Médica de Família disponível para nos apoiar.
11 / Ter um Médico de Família
A Enfermeira e a Doutora rapidamente compreenderam o que se passava e, em menos de nada, o Carlos estava a fazer medicação.
ARTIGO
Consequências do Tabagismo Texto por Ana
Rita Domingues
Médica, USF AlphaMouro
Sabemos que fumar faz mal. Mas o que realmente acontece quando fumamos? “Fumar mata”, “Fumar provoca cancro pulmonar mortal”, “Fumar prejudica gravemente a sua saúde e a dos que o rodeiam” – são algumas das mensagens com as quais os fumadores são confrontados diariamente nos seus maços de tabaco. Mas conhece efetivamente quais são as consequências do tabagismo? O consumo de tabaco é atualmente responsável por cerca de 5 milhões de mortes anuais, sendo a primeira causa de morbilidade e mortalidade evitáveis nos países desenvolvidos. Para além da nicotina – uma substância psicoativa, com capacidade para induzir dependência física e psicológica, por processos semelhantes aos da heroína ou da cocaína -, existem no tabaco mais de 4500 substâncias químicas nocivas para o nosso organismo. Sabe-se desde a década de 60 que existe uma relação causal entre o consumo de tabaco e algumas formas de cancro no homem - nomeadamente pulmão e laringe – contudo, evidências científicas mais recentes demonstram que o tabagismo afeta praticamente todos os órgãos do nosso corpo.
O consumo de tabaco aumenta o risco de todos os tipos de cancro do pulmão e estima-se que, nos países industrializados, o consumo de tabaco seja responsável por cerca de 90% dos cancros do pulmão no homem e 70% na mulher. Para além disso, o tabaco está ainda associado a casos de cancro noutras localizações, designadamente, cavidade oral, faringe, laringe, esófago, pâncreas, estômago, bem como bexiga, rim, colo do útero, leucemia mielóide aguda e dados recentes sugerem ainda associação com cancro do fígado e do cólon e reto. A exposição ao fumo do tabaco está também associada a outros tipos de patologias e condições, nomeadamente, doenças respiratórias (como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crónica), doenças cardiovasculares (aumentando o risco de morte súbita por enfarte cardíaco e a incidência de acidentes vasculares cerebrais), diabetes, comprometimento do sistema imunitário (com diminuição das defesas e aumento do risco de infeções), efeitos na saúde reprodutiva (com diminuição da fertilidade em ambos os sexos e disfunção erétil nos homens), efeitos durante a gravidez (limitação do crescimento do feto, baixo peso ao nascer, aumento do risco de gravidez ectópica, parto prematuro e aborto), entre outros.
12 / Consequências do Tabagismo
Na adolescência, a exposição à nicotina pode causar efeitos adversos no desenvolvimento cerebral. A inalação do fumo expirado para a atmosfera pelos fumadores ativos é denominada tabagismo passivo; as pessoas que estão próximas de indivíduos fumadores, especialmente em ambientes fechados, inalam mais de 400 substâncias que podem prejudicar a saúde e estão, também elas, suscetíveis aos efeitos nocivos do tabaco - os adultos têm uma maior probabilidade de vir a sofrer de cancro do pulmão, doenças cardiovasculares (como o AVC), bem como diversas patologias respiratórias; nas grávidas, pode haver limitação do crescimento do feto; e nas crianças, existe maior probabilidade de terem problemas respiratórios (ou agravamento de doenças pré-existentes, como a asma) e doença do ouvido médio, bem como síndrome de morte súbita infantil. É importante não esquecer que não existe um limiar seguro de exposição ao tabaco e que quanto mais cedo deixar de fumar, maiores serão os benefícios e a recuperação de anos de vida perdidos.
Fotografia por Joe
Chucker
Fotografia por Joe
Chucker
ARTIGO
Parar de Fumar Texto por Mário
Machado Cruz
Médico, USF AlphaMouro Fotografias por André
Catarino
Fuma e quer deixar de fumar? Fique a saber como e quais os benefícios. Praticamente todas as pessoas sabem que fumar “faz mal à saúde”, pois a informação está disponível de forma acessível. No entanto, não é suficiente para que toda a gente deixe de fumar. E o que é certo é que o número de fumadores permanece elevado, com cerca de 1 em cada 5 portugueses com mais de 15 anos de idade a ser fumador. E, entre os adolescentes e as mulheres, o consumo tem mesmo vindo a subir. Porque é que isto acontece? Será que o conhecimento dos riscos não é suficiente para que o comportamento mude? Será que a dependência induzida pela nicotina é assim tão difícil de superar? Crenças, ligações sociais, ansiedade, prazer, etc. Provavelmente, não existirá uma única razão e as causas são mais complexas do que aparentam. Quando se deixa de fumar, existe a oportunidade de experimentar vários benefícios, como os representados na página seguinte e os seguintes: poupança económica significativa (um fumador que fume cerca de 1 maço de cigarros por dia, gasta cerca de €1500 por ano), recuperação de paladar e olfacto, melhorias estéticas e da auto-estima, entre outros. Diminui também o risco de úlcera gástrica, doença arterial periférica, cancro do colo do útero e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Deixar de fumar na gravidez também reduz o risco de ter um filho com baixo peso ao nascer. 15% dos portugueses são ex-fumadores. Dos fumadores, 45% já tentou deixar de fumar, pelo menos uma vez ao longo da vida. Embora a maioria das pessoas deixe de fumar sem necessitar de ajuda, a recaída (voltar a fumar depois de se ter deixado) é muito frequente e, normalmente um fumador precisa de várias tentativas para conseguir deixar de fumar definitivamente.
16 / Parar de Fumar
É claro que as estatísticas valem o que valem e o leitor estará provavelmente a pensar que conhece alguém que deixou à primeira tentativa... Ou que já tentou vinte vezes e nunca conseguiu... Talvez lhe interesse mais as opções que existem para deixar de fumar. Todas as estratégias são válidas, desde que funcionem. Como a nicotina induz dependência física, quando se deixa de fumar, tem de se lidar com a síndrome de abstinência (irritabilidade, ansiedade, depressão, inquietação, mal-estar físico, dores de cabeça, alterações do sono, entre outros sintomas). Este pode ser o maior obstáculo a que se consiga deixar de fumar com sucesso, sem voltar a recair. Nas pessoas que têm alguma dificuldade em deixar de fumar de um momento para o outro (a maioria), normalmente ajuda ter um plano para que a cessação tabágica possa ter maior sucesso. Passa por tentar reduzir os fatores de stress e equilibrando com atividades promotoras de uma redução da ansiedade, como por exemplo, a atividade física. Pode ajudar substituir o cigarro por outra atividade que faça utilizar as mãos ou a boca, como brincar com esferográficas ou mascar pastilhas elásticas, por exemplo. Numa fase transitória, nas primeiras semanas, pode ajudar não passar pelos sítios onde habitualmente se fuma, como alguns cafés ou outros espaços. Para contornar a dificuldade em passar por um processo destes sozinho, pode ajudar contar a várias pessoas que se vai deixar de fumar a partir de determinado dia e pedir-lhes ajuda para manter a decisão. Muitos fumadores têm alguma dificuldade em controlar o que comem, como resposta a alguma ansiedade transitória que surja após deixar-se de fumar, o que pode representar um desafio no controlo do peso. No entanto, o benefício de deixar de fumar para a saúde é bem maior do que o risco do aumento de peso. Aqui, mais uma vez, a atividade física pode ajudar a controlar a ansiedade e o aumento do peso. É fundamental que, antes de tudo, exista a decisão de deixar de fumar, caso contrário, passa-se pelas dificuldades sem ter o devido sucesso, pois a recaída
ARTIGO
invariavelmente acontecerá. Após a decisão, todos os métodos que aumentem a probabilidade de se conseguir atingir o objetivo de parar de fumar são para ser ponderados e, eventualmente, utilizados. Para isto, algumas pessoas poderão sentir a necessidade de recorrer a ajuda médica. Os médicos melhor preparados para ajudar nestas situações são, habitualmente, os médicos de família. O aconselhamento e apoio médico pode ajudar a aumentar a probabilidade de sucesso, quando um utente quer deixar de fumar. Paralelamente, existem algumas estratégias farmacológicas que podem ajudar, permitindo um período de transição mais tranquilo, com menos sintomas de abstinência. A mais conhecida é a terapêutica de substituição de nicotina, que consiste na utilização de adesivos, pastilhas ou gomas de nicotina que, de forma controlada pelo médico, pode permitir um desmame progressivo, permitindo uma paragem súbita do ato de fumar. Existem ainda outros medicamentos que demonstraram eficácia quando utilizados para deixar de fumar, mas estes terão de ser sempre manuseados com o apoio personalizado de um médico. A utilização destes fármacos demonstrou ser eficaz no aumento da taxa de sucesso na cessação tabágica. Existem outras estratégias como a acupunctura, a homeopatia, hipnose, cigarros eletrónicos ou outras que, até hoje, falharam em demonstrar cientificamente eficácia inequívoca na cessação tabágica. Os cigarros eletrónicos, que, frequentemente, anunciam ser uma opção saudável para fumadores e não fumadores, e que aquilo que se inala é apenas vapor de água e nicotina, estão longe de terem demonstrado segurança a longo prazo para os seus utilizadores. O líquido que os constitui contém inúmeros produtos químicos, alguns deles, conhecidos cancerígenos, e o vapor não é vapor de água. Além disso, falharam em demonstrar que as quantidades de nicotina que dizem administrar são efetivamente as que administram, podendo inclusivamente passar a tomar mais nicotina do que a anteriormente utilizada, aumentado a dependência. Como tal, é uma opção com muitos mais pontos de interrogação do que certezas. Provavelmente, a melhor opção para deixar de fumar é, se sentir que necessita de algum apoio, o procurar junto do seu médico de família ou, nalguns casos, recorrer às consultas de apoio intensivo para cessação tabágica do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Sintra, que funcionam na Unidade de Saúde Familiar Natividade (Mem Martins) e Unidade de Saúde Familiar Flor de Lótus (Cacém).
17 / Parar de Fumar
Os benefícios da cessação tabágica em números: • • •
• • • •
•
20 minutos depois, o ritmo cardíaco baixa; 12 horas depois, o nível de monóxido de carbono no sangue regressa aos valores normais; 2 semanas a 3 meses depois, o risco de ocorrência de enfarte agudo do miocárdio desce e a função pulmonar aumenta; 1 a 9 meses depois, a ocorrência de tosse e falta de ar diminuem; 1 ano depois, o risco de doença cardíaca coronária é metade do de um fumador; 5 anos depois, o risco de acidente vascular cerebral (AVC) iguala o de um não fumador; 10 anos depois, o risco de cancro do pulmão é cerca de metade do de um fumador. O risco de cancro da boca, faringe, esófago, bexiga, rim e pâncreas também diminui. 15 anos depois, o risco de doença cardíaca coronária é igual ao de um não-fumador.
Fotografia por Mnomono
ARTIGO
Tosse Texto por Délia
Pacheco
Médica, USF AlphaMouro
Tossir pode ser desgastante. Aprenda a lidar com este sintoma. A Tosse é algo que nos acontece por várias razões, que nos irrita e tira horas de sono. Vamos então tentar perceber o que é, porque aparece e o que podemos fazer para a aliviar; neste ponto é importante percebermos quando pedir ajuda. O que é e porque aparece? A tosse constitui uma resposta fisiológica do organismo, por isso mesmo necessária, e resulta da irritação das vias aéreas. É devida a uma contração espasmódica, repentina e normalmente repetitiva da cavidade torácica. A tosse provoca libertação violenta de ar dos pulmões e visa expelir elementos nocivos como poeiras, bactérias, vírus, fungos e secreções várias. Os vários tipos •
•
Segundo o tempo de duração pode ser aguda de aparecimento repentino associada a infeções respiratórias (ex: gripes ou constipações) e que passa em poucos dias ou semanas; ou crónica mais arrastada e relacionada com múltiplos fatores Pode ser seca - irritativa ou produtiva - que liberta secreções (expetoração).
O que fazer para controlar a tosse? • •
• •
•
• •
Dormir com almofada mais alta; Aumentar a ingestão de líquidos para ajudar a acalmar a irritação e a fluidificar as secreções; Aplicar soro nasal, com efeito semelhante ao anterior; Os xaropes caseiros, como o xarope de cenoura, de gengibre ou o de mel e limão, podem aliviar a tosse; Os xaropes adquiridos em farmácias, devem ser utilizados de forma cuidadosa e adequada, existindo dois tipos: Xaropes antitússicos para a tosse seca e irritativa, Xaropes mucolíticos, que fluidificam as secreções.
O que causa a tosse? Tendo causas várias, a tosse pode resultar de uma infeção respiratória como a gripe ou constipação, pode ser sintoma de alergia, de irritação provocada por fatores externos (poluição, fumo de tabaco), de doença pulmonar obstrutiva crónica ou de refluxo gastro-esofágico (quando o ácido gástrico sobe pelo esófago, podendo irritar o trato respiratório/ a garganta).
19 / Tosse
O uso inadequado de um xarope pode acarretar consequências graves, ou mesmo prolongar a duração da tosse e aumentar as secreções. Os xaropes apenas devem ser administrados caso a tosse persista. É então altura para recorrer ao médico, principalmente se associado à tosse surgir febre ou falta de ar.
ARTIGO
O meu filho ressona. Será normal? Texto por Vânia
M. Duarte
Médica, UCSP Tapada das Mercês Fotografia por Vera
Kratochvil
O ressonar é um sintoma frequente que afeta cerca de 1015% das crianças. Corresponde a um som produzido pela vibração do ar ao passar pela faringe, quando existe um aumento da resistência das vias aéreas à passagem do ar durante o sono. Se a sua criança ressona habitualmente (3 ou mais vezes por semana), este sintoma não deve ser desvalorizado, devendo ser comunicado ao seu médico de família.
O ressonar é um sintoma frequente. Se a sua criança ressona habitualmente, não o deve desvalorizar.
Porque ressona? A principal causa do ressonar na criança é o aumento do tamanho dos adenóides e amígdalas, cujo crescimento é maior entre os 3 e os 10 anos de idade. Outros fatores que também contribuem são a obesidade (porque se acumula gordura nos tecidos do pescoço e faringe), o refluxo gastro esofágico (passagem do ácido do estômago para o esófago), a rinite alérgica (por obstrução nasal) e alterações da anatomia da face (como desvio do septo nasal, face longa e palato alto, queixo recuado, língua grande). Quando a criança cresce, crescem também as vias aéreas e os ossos, tornando-se o ressonar menos frequente com a idade.
20 / O meu filho ressona. Será normal?
O que devo estar atento para informar o meu médico? Para além do ressonar, deverá estar atento a outros sinais: • • •
• • • • • • •
Períodos de pausas na respiração (apneias) Respiração predominantemente pela boca Esforço respiratório (utilização dos músculos entre as costelas e acima das clavículas para respirar, fazendo “covinhas” nestas regiões; levantar as asas do nariz ao respirar) Sono agitado Enurese noturna (fazer xixi na cama em idades superiores aos 5 anos) Dificuldade em levantar-se da cama de manhã Dor de cabeça matinal e falta de apetite Sonolência excessiva durante o dia Irritabilidade Hiperatividade e dificuldades em aprender na escola
As crianças que ressonam sofrem mais de pesadelos, sonambulismo e enurese noturna. Se não existirem períodos de apneia, damos o nome de “Ressonar Primário”. Esta é uma situação benigna, que no entanto pode ser responsável por alterações do sono com consequente repercussão no comportamento da criança. Caso existam períodos de apneia, associados a múltiplos despertares durante a noite, coloca-se a hipótese de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS).
ARTIGO
Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
Como tratar?
A SAOS é um tema comummente abordado na comunicação social, mas predominantemente na idade adulta. A verdade é que também ocorre na criança, sendo que um quinto das crianças que ressonam sofrem de SAOS. Corresponde a uma obstrução da passagem do ar nas vias aéreas superiores, com consequente diminuição do oxigénio e aumento do dióxido de carbono no organismo. Estas alterações respiratórias conduzem a pequenos despertares e a sono não reparador. A sonolência diurna é um sintoma mais frequente no adulto, mas também surge em idade pediátrica, principalmente na adolescência. Na criança mais pequena predomina a hiperatividade e o défice de atenção, em vez do excesso de sono. Ao serem tratadas as causas respiratórias também melhoram as alterações do comportamento.
O tratamento varia consoante a causa encontrada. É importante que as crianças com excesso de peso pratiquem exercício físico e tenham cuidados com a alimentação, de forma a reduzirem o seu peso. Outra medida importante é evitar estar em espaços com fumo de tabaco. Se os pais forem fumadores, é muito importante que não fumem em locais frequentados habitualmente pela criança, nomeadamente dentro de casa ou do carro. No caso de refluxo esofágico é importante fazer a medicação prescrita pelo seu médico e adotar medidas gerais anti-refluxo, nomeadamente elevação da cabeceira à noite, refeições pouco pesadas à noite, não se deitar logo após o jantar, evitar o chá, chocolate, citrinos.
Porque é importante fazer o diagnóstico de SAOS?
Lembre-se…
O sono é fundamental para o crescimento, desenvolvimento e capacidade de aprendizagem da criança. A SAOS, ao comprometer o sono, está também a comprometer essas funções. Para além disso, os períodos de apneia estão associados a um aumento do risco de hipertensão arterial e diabetes no futuro.
21 / O meu filho ressona. Será normal?
Se a sua criança ressona habitualmente não considere que isso seja normal. Deve ser investigado pois pode comprometer o seu desenvolvimento e crescimento.
ARTIGO
Nariz Limpinho Texto por Ana
Pinheiro
Enfermeira, UCSP Tapada das Mercês Ilustrações por Carlos Tomaz
Narizes, ora entupidos, ora a pingar, são uma constante nos dias frios. Manter as crianças com os narizes limpos é um desafio dos pais. Com o início do Outono e a chegada dos dias frios chegam também as constipações, gripes e os problemas respiratórios. Nesta altura do ano, todos os cuidados são poucos para proteger os mais pequeninos. Por serem mais frágeis e terem uma imunidade menos resistente estão mais propensos a contrair este tipo de doenças. A obstrução nasal é um problema muitas vezes desvalorizado. Afeta pessoas de todas as idades, mas com maior gravidade os bebés durante os primeiros meses de vida, prejudicando a sua alimentação e sono. Dos 0 aos 6 meses de idade Os bebés pequenos apenas conseguem respirar pelo nariz. Como passam muito tempo deitados, as secreções acumulam-se e podem obstruir os pequeninos orifícios do nariz. Também não têm a capacidade de deitar as secreções fora, pelo que têm que ser os pais a fazer essa tarefa. Para que o nariz esteja sempre limpinho deve: • Manter o bebé bem hidratado • Não vestir o bebé com roupa muito quente • Evitar grandes diferenças de temperatura • Fazer a desobstrução nasal No final da página seguinte encontra-se explicada como deve ser feita a limpeza do nariz do seu bebé. Se conseguir respirar corretamente o bebé vai alimentar-se e dormir melhor, assim como melhorar a sua resposta imunitária contra vírus e bactérias.
22 / Nariz Limpinho
ARTIGO
Após os 6 meses de idade Depois dos 6 meses os bebés já têm uma capacidade maior de expelir as secreções. Nas crianças mais velhas é importante ensinar-lhes a assoarem-se. Uma boa forma é mostrar que é possível deitar ar fora pela boca e pelo nariz. Seguidamente pedimos para deitarem todo o ar fora com a boca fechada. Elas vão perceber que assoar o nariz é fácil e natural. A sua colaboração é fundamental para uma limpeza eficaz. É também muito importante ensinar hábitos de higiene adequados como: • Manter hidratação • Limpar o nariz com lenços limpos, de preferência descartáveis • Não usar os braços como lenço • Assoar o nariz • Não engolir as secreções • Fazer uma boa limpeza do nariz antes de dormir Nariz limpinho para um bom soninho é importante e deve acompanhar-nos durante toda a nossa vida!
Procedimento 1. Coloque o bebé deitado de barriga para cima, e vire a cabeça de lado 2. Seguidamente coloque o soro na narina, que está virada para cima (tente colocar o soro na inspiração, para que seja possível humedecer as estruturas internas). As secreções humedecidas aumentam de volume e tornam-se mais pesadas podendo ser expelidas para fora através da expiração ou da tosse, ou ser engolidas para o estômago e eliminadas posteriormente pelas fezes 3. Repetir o mesmo procedimento na outra narina 4. Por vezes pode ser necessário o uso de aspiradores nasais, adequados à idade do bebé. Quando fazer a limpeza? Deve tentar manter o nariz do seu bebé sempre o mais limpo possível. Não existe limite máximo para o número de vezes que o pode fazer, mas existem dois momentos em que esta limpeza é fundamental: antes de comer e antes de dormir.
23 / Nariz Limpinho
Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
Texto por Mário
Machado Cruz
Médico, USF AlphaMouro Fotografias por Maria
Ana Sobral
O concelho onde vive oferece espaços onde pode praticar uma vida mais saudável. O concelho de Sintra é muito rico em imagens fantásticas, que nos são oferecidas pela serra de Sintra, pelas praias, pelos monumentos, pela vila, entre outras maravilhas. No entanto, em grande extensão do concelho, existe uma área urbanizada de forma bastante desorganizada, com uma estética caótica e uma densidade populacional elevadíssima. Os desafios inerentes a esta realidade são enormes e a forma de os ultrapassar é pouco clara. Um dos desencantos da população relaciona-se com a falta de espaços de lazer ou do seu aproveitamento inadequado, com consequente desmotivação dos habitantes. É típico ouvir dizer que algumas freguesias do concelho são “dormitórios”, onde as pessoas que trabalham em Lisboa vão dormir e acordam para ir trabalhar no dia seguinte. A degradação dos espaços existentes e a falta de cuidado com a limpeza e segurança vão criando uma sensação de falta de pertença, que urge mudar. Talvez parte dessa mudança possa ser conseguida se começarmos por conhecer os espaços verdes e de lazer que existem no concelho. Fugindo um pouco ao óbvio (vila de Sintra), a Dr.ª Maria Ana Sobral fez um périplo por alguns dos parques e jardins que o concelho tem a oferecer à sua população.
FOTO-REPORTAGEM
Podemos começar, de forma algo aleatória, por Queluz que nos dá duas ofertas agradáveis: a Matinha de Queluz e o Parque Urbano Felício Loureiro.
A Matinha de Queluz, é um pequeno espaço florestal murado (situado junto ao IC19) com algum potencial.
25 / Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
O Parque Urbano Felício Loureiro, próximo do Palácio Nacional de Queluz, é uma opção inserida num meio mais urbano, mas com excelentes condições para lazer e para a prática de exercício físico ao ar livre.
26 / Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
Na Agualva, uma das รกreas mais extensamente urbanizadas do concelho, encontra um espaรงo verde e cuidado no Jardim da Anta. Possui um parque infantil, um anfiteatro ao ar livre e a casa da Marioneta.
27 / Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
Mira Sintra tem também uma bela opção, bem cuidada, de fácil acesso: o Parque Urbano de Mira Sintra. Este oferece aos seus visitantes alguns momentos de lazer com o seu circuito de manutenção e o parque infantil, entre outros equipamentos desportivos.
28 / Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
Em Massamá, o Parque Urbano Salgueiro Maia oferece aos residentes alguns equipamentos para lazer, atividade física, um parque infantil e um anfiteatro ao ar livre.
29 / Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
Em Monte Abraão existe o Parque 25 de Abril, mais um espaço bem cuidado, preparado para várias atividades de lazer, com o seu circuito de manutenção, os campos de mini-golfe e o parque infantil.
30 / Ar Puro em Sintra
FOTO-REPORTAGEM
Na Rinchoa, outra das zonas extensamente urbanizada do concelho, foi recentemente inaugurado o Parque Urbano da Ribeira de Fitares, bem preparado para a marcha ou corrida, ou mesmo para andar de bicicleta. É um espaço agradável e com potencial, em que ainda se prevê a futura existência de mais equipamentos.
31 / Ar Puro em Sintra
RECEITA
Receita Saudável Texto por Maria
José Verdasca
Médica, USF AlphaMouro Fotografias por Inês
Tavares
Lasanha de Beringela • • • • • • • • •
2 Beringelas grandes 4 Tomates grandes e maduros 2 Cebolas grandes 6 Folhas de lasanha 100 g queijo Emmenthal ralado (ou Parmesão) 120 g de queijo de Burgos (ou mozarela fresca) 100 g de azeitonas pretas 5 C. de sopa de azeite Sal e pimenta
Cortar as beringelas em rodelas com 0,5 cm os tomates e as cebolas em recipientes diferentes. Colocar as beringelas em tabuleiro forrado com papel de alumínio, polvilhar com pouco sal e salpicar com 3 colheres de azeite, para ir ao forno, durante 25 minutos. Colocar as rodelas de cebola numa frigideira larga com azeite, em chama moderada e colocar o tomate por cima dando ligeira fritura de forma a não desmanchar as rodelas. Ir retirando a cebola para não a deixar queimar, substituindo por mais cebola e colocando o tomate por cima, retirando -o à medida que vai ficando cozinhado, sem o desfazer. No fim destes preparados, colocar a folha de lasanha no pirex untado com azeite, cobrir com rodelas de tomate, a cebola, a beringela e o queijo de Burgos aos quadrados e as azeitonas picadas. Repetir o procedimento até terminar as folhas de lasanha. Cobrir com queijo ralado e quadrados de queijo de Burgos. Colocar no forno cerca de 30 minutos a 180°C.
32 / Receita Saudável
ARTIGO
Quebra Mitos Texto por António Vaz
Carneiro
Médico, Professor na FMUL Ilustração por Gonçalo
Moleiro
“A laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata!”. A frase acima pretende afirmar que, se decidirmos comer laranjas, então a parte da manhã será a altura em que ela será mais benéfica, diminuindo ao longo do dia o seu efeito positivo, sendo mesmo perigosa a partir do pôr-do-sol… A origem desta frase é desconhecida, mas parece ter a sua origem no século XIX, estando hoje absolutamente disseminada. Esta ideia tem sido passada de geração em geração, condicionando de facto as horas de ingestão desta fruta.
“A laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata!”
O problema é que isto é um mito em saúde
E a vitamina C?
Uma pesquisa da literatura biomédica sobre este tema não identifica qualquer estudo científico que tenha analisado esta questão, pelo que nada podemos afirmar com segurança sobre o tema. Uma coisa é certa: fisiologicamente falando, não faz qualquer sentido pretender que a altura do dia em que se come laranjas influencia o seu efeito sobre o organismo. É claro que existem pessoas que apresentam azia quando comem laranjas, muitas delas mais frequentemente com estômago vazio. Daí poderem achar que comer à noite lhes faz mais mal do que de dia (com o estômago cheio). Mas isso nada nos diz sobre os efeitos globais no organismo.
Este componente das laranjas vem sempre a talho de foice quando se fala em dietas equilibradas e é a justificação maior para a ingestão de laranjas. A vitamina C faz parte – juntamente com as vitaminas A e E – do grupo das chamadas vitaminas antioxidantes e têm-lhe sido atribuídas as mais variadas propriedades benéficas. No entanto a evidência científica contraria de maneira muito clara esta prática: a suplementação preventiva dietética de vitamina C é não só inútil, como potencialmente prejudicial, já que não existe evidência científica que ela proteja contra o risco de cancro (J Natl Cancer Ins 2009;101:14-23), ou que seja útil para a prevenção da doença coronária (JAMA 2008;300:2123-33), do acidente vascular cerebral (Ann Intern Med 1999;130:963-70) ou da vulgar constipação (Cochrane Database Syst Rev 2013, DOI:10.1002/14651858.CD000980.pub4). Em resumo, a laranja é uma fruta excelente e pode comê-la à vontade, independentemente das horas a que o faz!
E que benefícios poderá haver em ingerir laranjas? Uma dieta rica em frutas e vegetais é recomendável como parte de um esquema de prevenção do risco cardiovascular (como parte da chamada dieta mediterrânica), pelo que as laranjas são um componente importante da dieta.
34 / Quebra Mitos
ARTIGO
Atualidades em Saúde Texto por Paulo
Faria de Sousa
Médico, USF AlphaMouro Fotografia por Silvana
Ciardullo
Foto-montagem por Lígia
Faria de Sousa
O que há de novo, interessante e relevante em saúde. Ciência complexa tornada simples. Centros de Investigação Clínica em Lisboa
Vacina Malária
A investigação médica responde às perguntas que médicos e doentes precisam. A investigação não aumenta apenas o conhecimento, mas também promove a atualização dos clínicos, melhorando os cuidados prestados. Também o ensino da medicina está intimamente ligado à investigação, não fossem as faculdades o local de eleição para ambos. Assim sendo, é com muito agrado que tivemos conhecimento de dois novos centros de investigação clínica em Lisboa. O Centro de Investigação Clínica (CIC), localizado no Hospital de Santa Maria (HSM), pretende alinhar esforços com o HSM, a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e o Instituto de Medicina Molecular para testar novos medicamentos. Tem como objetivo diversificar o leque de tratamentos com respostas inovadoras em áreas diversas, com especial foco na Oncologia. Por sua vez, o Centro Médico Universitário de Lisboa (CMUL), criado pelo Centro Hospitalar de Lisboa Central e pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, pretende adquirir conhecimentos que possam ser transpostos para a prática clínica com benefício para os utentes. Por outro lado, a parceria entre a faculdade e os vários hospitais quer melhorar o nível de ensino pré e pósgraduado. Na Sintra Saudável ficaremos atentos aos resultados destas iniciativas.
Demorou 30 anos para desenvolver a Mosquirix, também conhecida por RTS,S, ou vacina contra a malária. A malária é das doenças que mais crianças mata em África. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 2013 perderam a vida cerca de 562 mil crianças devido a esta doença, causada por um parasita que é transmitido pela picada de um mosquito. E é apenas para estas que a vacina foi aprovada, ou seja, crianças que vivem nestas áreas e não para os adultos ou viajantes. A eficácia da vacina está longe do ideal. Nos estudos realizados, a vacina demonstrou ter melhor proteção em crianças dos 5 aos 17 meses que receberam 3 doses com um mês de intervalo e outro reforço aos 20 meses, conseguindose assim uma redução de um terço de crianças infetadas ao longo de quatro anos. Perante estes resultados, a OMS vai ponderar se apoia a recomendação da vacina para as crianças africanas. Independentemente do avanço extraordinário desta vacina, a rede mosquiteira continua a ser mais eficaz na prevenção/proteção da malária, pelo que as medidas gerais (proteção com a rede mosquiteira, uso de roupa de manga comprida, uso de repelente, etc.) devem ser prioritárias.
35 / Atualidades em Saúde
ARTIGO
Efeitos da Mamografia nas mortes por cancro da mama O que é um rastreio? É um procedimento diagnóstico que se utiliza em pessoas saudáveis para diminuir a probabilidade de estas morrerem ou sofrerem da doença rastreada. Para alcançar este efeito, o rastreio tenta identificar uma condição ou doença, na esperança que o tratamento atual possa beneficiar esta pessoa impedindo-a de sofrer ou morrer devido à condição detetada. Quando existem queixas sugestivas de cancro da mama, a mamografia é utilizada como método diagnóstico. Se a mulher está saudável, sem sintomas, e faz uma mamografia, está a realizar um rastreio. Este rastreio do cancro da mama, tem por objetivo detetar cancro precoce e tratá-lo antes que cause mais problemas. No entanto, como em diversas coisas na vida e em medicina, não é assim tão simples. Infelizmente, a mamografia não nos tem dado provas irrefutáveis de ser ótima a impedir mortes por cancro da mama. Não deixa de detetar cancros, claro está. O estudo que vos relatamos de seguida foi realizado nos EUA e publicado no jornal JAMA. Os autores levantaram dados locais das percentagens de rastreio de cancro da mama, dignósticos de cancro da mama e mortalidade por cancro da mama. O estudo englobou dados de cerca de 16 milhões de mulheres com mais de 40 anos desde 2000 até 2010. O raciocinio é simples: OBJETIVO MAIOR %
MAIOR %
MENOR %
RASTREIO
DETEÇÃO DE CANCRO DA MAMA
MORTALIDADE POR CANCRO DA MAMA
Parece lógico, quanto mais cancro da mama encontramos precocemente, mais depressa tratamos as mulheres e elas morrerão menos. Mas a realidade parece ser outra. O que os autores encontraram foi que maiores taxas de rastreio estavam associadas a mais cancro da mama encontrados (até aqui tudo bem), mas com mortalidades por cancro da mama semelhantes. REALIDADE MAIOR %
MAIOR %
IGUAL %
RASTREIO
DETEÇÃO DE CANCRO DA MAMA
MORTALIDADE POR CANCRO DA MAMA
36 / Atualidades em Saúde
Ora, se procuramos cancro em mulheres saudáveis, encontramos mais, e depois morrem tantas pessoas por cancro da mama como se não o tivéssemos feito, que vantagem teve este procedimento? Pouca, de acordo com estes resultados. Os autores concluem que estes resultados apontam para um caso de “sobrediagnóstico” disseminado. Isto é, o diagnóstico de uma condição que nunca traria malefício ao seu portador, caso não tivesse sido encontrada. Apesar destas questões, a mamografia é um exame de rastreio que até à data continua a ser recomendado por comités científicos e pela Direção Geral de Saúde, pelo que deverá ser oferecido a todas as mulheres com mais de 50 anos, de acordo com a sua situação clínica. É também dever dos médicos e dos utentes conversar sobre estes assuntos de forma esclarecida e informada para que cada mulher possa decidir livremente e à luz da melhor evidência atual (com toda a incerteza que esta engloba), seja participar, ou não, neste rastreio. Para mais informações, contacte-nos ou fale com o seu médico de família.
CARTOON
Dona Eugénia Cartoon por Miguel
Cruz
37 / Dona Eugénia
Fotografia por Rozenn Leard
CRÓNICA
Sala de Espera Texto por Pedro
Gomes de Sena
Médico, Hospital Beatriz Ângelo e Hospital da Luz
As duas mulheres aguardavam sozinhas na sala, em silêncio. Haviam chegado com poucos minutos de intervalo, o suficiente para que a primeira, velha, já estivesse acomodada a entreter o tempo com o seu croché, quando a segunda, nova, muito menos hábil na arte das rendas, entrou. Cruzaram olhares desplicentes, daqueles que tornam as pessoas invisíveis, inexistentes. A velha, de saúde débil, transbordava a expectativa de mostrar as análises à sôdotora, pelos olhares arregalados, as pernas inquietas, os dedos nervosos na agulha, que denunciavam os seus mais actuais e profundos medos: o açúcar, a diabetes, a tiróide, os triglicéridos, o colesterol, ai o colesterol, Deus abençoe aquela margarina da televisão! A nova, ainda segura da sua imortalidade, disfarçava o enfado por mais uma consulta inquiridora do baixo-ventre folheando uma revista de mexericos e outras variedades. O tempo foi passando com o folhear da revista a entrecortar, espaçadamente, o dedilhar ágil da agulha; desenhava, lentamente, o esboço de uma botinha azul. Subitamente, e finalmente, a percepção em ambas da presença uma da outra. Esgrimiram olhares curiosos, avaliando-se mutuamente. A desconfiança inicial deu lugar ao nervoso miudinho de quem sabe que pode ser escutado, de quem quer aliviar o peso das maleitas repartindo-o com o outro. Depois de largos minutos num crescendo de suspense, a nova, impaciente, quebrou o gelo. – Nunca mais somos chamadas! A velha, calmamente, e enquanto puxava mais fio do carretel, retorquiu. – Ai, menina, não se apoquente, a sôdotora é sempre assim. Já cheguei a esperar mais de uma hora sentada nesta cadeira. Não me diga que está atrasada para o trabalho… – disse, parando pela primeira vez a agulha. - Antes fosse, minha senhora. Acabei o curso há mais de um ano e ainda estou à procura de emprego. O melhor que consegui foi um daqueles estágios de escravidão em que trabalhamos de borla ou pagamos para trabalhar – terminou a frase com um revirar de olhos.
39 / Sala de Espera
- Olhe, menina, sei o que é isso. O meu filho ficou desempregado há pouco tempo e a minha nora também não consegue trabalho. Mudaram-se os dois para minha casa e eu e o meu marido é que os temos ajudado. Andam a pensar emigrar… - Sentia-se a amargura na voz. - É o que o Governo nos manda fazer. Lembra-se daquele ministro gordinho, com um ar muito solícito, atarefado… Como é que se chamava? - Era o Relvas. Mas, sabe, também tínhamos muita emigração no meu tempo. Os meus primos foram para França – a mão brandia a agulha furiosamente – Tiveram que atravessar a pé e às escondidas a fronteira com Espanha. - Pois, mas agora vamos às claras, de avião a jacto e com o canudo no bolso. - É uma miséria, menina… desemprego, emigração, aumento de impostos, diminuição de salários, pobreza, doença, infelicidade… O que nos resta? Calaram-se as duas. A sala de novo em silêncio. Afastaram o olhar para, segundos depois, cruzarem-no de novo, agora cúmplice, empático. O infortúnio tornara-se a matriz comum, o elo de ligação entre as duas gerações. A nova, reparando nos movimentos da mão da velha, sentiu o assomo de uma recordação tão viva e tangível como aquela sala. - A minha avó também fazia croché. Tentou ensinar-me, mas nunca consegui perceber esses gestos complicados com a mão. - Ah, é mais simples do que parece, menina. O dedo já está treinado, faz tudo sozinho – disse, largando uma gargalhada franca. - A minha nora está grávida e o menino vai viver connosco, claro. E vai precisar de roupinha… A jovem preparava-se para perguntar o nome à senhora quando o altifalante balbuciou um nome imperceptível, mas familiar o suficiente para que se levantasse de um salto. Dirigiu-se a ela e trocaram uns apressados e atabalhoados “muito prazer” e “tenho que ir”, desaparecendo logo de seguida no corredor para os consultórios. Na sala, o dedilhar da agulha continuou a dar forma à botinha azul.
Fotografia por Joe
Chucker
Fotografia por Joe
Chucker
INFORMAÇÃO
Gripe Fotografia por James
Gathany
Tem sintomas de gripe? Febre, tosse, dores musculares, falta de ar, entre outros.
1 2 3
Se tiver febre, pode tomar paracetamol. (Não dê ácido acetilsalicílico às crianças).
Em caso de persistência dos sintomas da gripe, ligue para a Linha Saúde 24: 808 24 24 24
Poderá consultar o seu médico assistente no seu horário habitual de consulta. Caso não seja possível, pode fazê-lo nos Locais de Atendimento Complementar. Locais de Atendimento Complementar (AC) Horário:
PROTEJA-SE! Siga as recomendações da Direção-Geral de Saúde www.dgs.pt
Não esquecer a vacina contra a gripe!
43 / Gripe
Dias Úteis
Sábado
AC Algueirão - UCSP Algueirão Estrada de Mem Martins, nº 247, Mem Martins
20:00 - 24:00
9:00 - 14:00
AC Monte Abraão - UCSP Belas Av. da Liberdade, lotes 36/37, Monte-Abraão
20:00 - 24:00
9:00 - 14:00
AC Cacém - UCSP Agualva Rua Afonso de Albuquerque, nº 14, Agualva
20:00 - 24:00
9:00 - 14:00
AC Rio de Mouro - UCSP Rio de Mouro Av. Infante D. Henrique, nº 39/41, Rio de Mouro
9:00 - 14:00
AC Sintra - UCSP Sintra Rua Dr. Alfredo Costa, nº 34, 2º, Sintra
9:00 - 14:00
ISSN 2183-6957
s
s