As Sete Palavras de Jesus na Cruz

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Pe. JosĂŠ Maria da Silva Ribeiro

As 7 palavras de Jesus na Cruz

Editora A Partilha 2011


Apresentação É com grande alegria que apresento ao Povo de Deus este singelo livreto contendo o Sermão das Sete Palavras de Jesus na Cruz, proferido pelo Padre José Maria da Silva Ribeiro, sacerdote da Arquidiocese de Belém. De posse destes escritos podemos meditar sobre o significado profundo de cada Palavra de Jesus na Cruz, como prova do seu amor incondicional pela humanidade: “Jesus nos salvou morrendo”. Neste 125º “Sermão das Sete Palavras” destaca-se a simplicidade, eloquência, o conteúdo e a praticidade do pregador. Só temos a agradecer pelo esforço e a dedicação com que tudo foi preparado para proporcionar aos fiéis um momento forte de espiritualidade, a partir da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A todos que têm a oportunidade de refletir sobre as sete últimas palavras de Jesus na Cruz, que seja um forte momento de revisão de vida. Aprendamos, antes de tudo a amar. Esta foi a grande lição deixada pelo Mestre do Amor. Dom Vicente Joaquim Zico Arcebispo Emérito de Belém do Pará


Sumário Introdução

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Primeira Palavra

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Segunda Palavra

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Terceira Palavra

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Quarta Palavra

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Quinta Palavra

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Sexta Palavra

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Sétima Palavra

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Referências Bibliográfica

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Introdução Ocorre um dia, uma vez ao ano, em que o centro da liturgia da Igreja e sua culminância não são a eucaristia, mas a cruz; ou seja, não sacramento, mas o que ele significa. É a Sexta-feira Santa. Neste dia a missa não é celebrada, mas apenas se contempla e adora o Crucificado. Neste dia, uma graça toda particular envolve a Igreja. É o dia em que “refulge o mistério da cruz”, como canta um venerável hino litúrgico. O processo contra Jesus Cristo, que o sinédrio iniciou como religioso, diante da autoridade romana, transformou-se em processo político: Jesus Cristo foi colocado diante de Pilatos, porque se havia declarado Rei dos Judeus. Isso abalou a segurança de Pilatos, responsável pela garantia da instituição imperial. Se ele, como governador da Judeia, não executasse Jesus Cristo, se daria mal com o imperador. Afinal, tanto Rei como Messias e Cristo significam o Ungido de Deus. São João evangelista centraliza a narrativa da paixão de Jesus, no seu Evangelho, na realeza de Jesus. Jesus se apresenta como Rei de outro mundo. Não de outro planeta, mas do

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mundo diferente daquele, em que a religião exercia a função política de abençoar as estruturas injustas. Os poderosos da época concluíram que, antes de ele ser ameaça ao império romano, o era ao sistema sacrílego que oprimia o povo judeu. Concluíram que Jesus Cristo era uma alternativa que não interessava a eles. Na verdade, o império romano nada ganhou com a morte de Jesus Cristo. O Sinédrio pensou ter ganhado a parada. Não demorou muito, porém, percebeu que havia entrado numa fria! O vitorioso é o Ressuscitado! O que garantiu a remissão de nossos pecados não foi o tipo de morte, mas a entrega de Jesus, o modo pelo qual ele se colocou disponível, inclusive, para a salvação de seus algozes. A maneira como Jesus Cristo foi morto não é, de forma alguma, pecado do povo pobre, mas é o momento supremo do julgamento do mundo perverso que lança imensa parcela da população na pobreza e miséria. Se nós temos milhões de brasileiros com menos de 18 anos vivendo em famílias com renda menor que meio salário mínimo por pessoa, o Evangelho tem que conduzir ao questionamento. Se milhões de crianças entre cinco e quatorze anos precisam trabalhar para completar a iníqua renda familiar, o Evangelho não pode se calar. Diante da alta concentração de renda pela falta de justiça social, calar é amordaçar o Evangelho. O julgamento do mundo é diante da miséria do povo. A situação escandalosa está em desacordo com o Evangelho. Não é o que Deus deseja! A ressurreição do Senhor é a grande proposta para que o novo milênio seja sem exclusões. A morte na cruz significa o fracasso total do crucificado. Ele perdia toda a credibilidade, ninguém mais

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acreditava Nele! Mostrava que o próprio Deus rejeitava a pessoa crucificada. A cruz era o desprezo total, para sempre. A cruz era o castigo mais vergonhoso da época. Era total o vexame que recaía sobre o condenado e sua família. Por isso o Sinédrio escolheu a cruz para o sacrifício de Jesus Cristo, manifestando publicamente a profundeza do ódio contra Ele, e a recusa ao Seu projeto. No entanto, no caso de Jesus Cristo, a proposta continuou, apesar da cruz. Porque a cruz foi iluminada por um fato tão sensacional, que mudou tudo. Se antes da Ressurreição ninguém iria cometer a loucura de continuar falando Dele, a Ressurreição recuperou tudo o que a morte de cruz havia destruído. A Ressurreição é o grande trunfo dos discípulos de Jesus Cristo! Depois da Ressurreição, a cruz lembra a palavra-chave do seu próprio significado: Deus entregou seu Filho único como prova de amor. A cruz é a mostra concreta de até onde pode chegar o amor! Para salvar a humanidade, Deus usou da maior expressão de seu amor: dar a vida por quem Ele ama! Se o vexame da cruz simboliza o ódio e a recusa do Sinédrio, da parte de Jesus, a cruz supera o tamanho da vergonha pelo gigantismo do amor! Nada disso combina com a condenação do mundo. Tudo aponta para se compreender a cruz como símbolo de amor. A morte foi vencida. Vale, agora e para sempre, o amor! A dor do povo e o sofrimento dos injustiçados têm, na cruz, a segurança de que o amor vencerá. Na cruz, Jesus Cristo deixou sete belíssimos ensinamentos que agora iremos refletir. O primeiro deles é sobre o perdão; o segundo versa sobre a confiança que devemos ter em um dia estar com Ele no paraíso; o

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terceiro é sobre a entrega de sua Mãe à humanidade; o quarto é um verdadeiro desabafo de alguém que, humanamente está no limite de suas forças, e, portanto, questiona-se sobre o abandono de Deus; no quinto Ele demonstra a sede que sente, não só de água, mas de justiça e de paz; no sexto ele dá por encerrada a sua missão entre os homens; e no sétimo, entregou-se totalmente nas mãos do Pai, como prova do seu amor incondicional pela humanidade e de fidelidade ao Pai. O Autor

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“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). A missão essencial do cristianismo é o perdão. A Igreja, que se reconhece como santa e pecadora, precisa, ela própria, antes que todos, do perdão. Quem se acostuma a sentir o que significa receber perdão aprende a também dar o perdão. Dar o perdão é a atitude que abre sempre nova chance ao que erra. Chance de refazer a vida e retomar o caminho. É o evangelho mais autêntico! O Coração de Jesus é o símbolo do amor de Deus Pai que nos perdoa para que aprendamos a perdoar. Falamos que é preciso perdoar “do fundo do nosso coração”. De fato, não serve perdão distribuído só “pelas beiradas”, pois o perdão é dado por quem ama. O amor é algo lá do fundo do coração. É o mais íntimo, onde eu sou mais eu, onde somente Deus e eu penetramos. No mais profundo é onde a gente é mais a gente mesmo! A partir desse lugar tão secreto deve se oferecer o amor! O especialíssimo amor do Pai se revela na forma hu-

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1ª Palavra


mana do coração. Coração que perdoa. E mais: exige que nós também perdoemos. Perdoemos para que sejamos perdoados. A condição para ser perdoado não é pedir, mas é dar o perdão: “Não sereis perdoados, se cada um não perdoar, de coração, ao seu irmão” (Mt 18,35). No contexto bíblico, o coração é sede e fonte das decisões. Logo, perdoar é uma decisão pessoal. Em nosso contexto, coração é símbolo do melhor de mim. Logo, perdoar é oferecer o perdão com o melhor de mim! O papel da vítima de qualquer agressão é buscar a salvação do agressor. A tarefa da vitima é salvar seu agressor! Jesus Cristo fez isso. Ele foi a grande vítima, na cruz. Mas não se vingou de ninguém! Jesus Cristo se fez a salvação de todos! Aliás, a própria agressão de que ele foi vítima tornou-se a salvação dos que o agrediram. Todos nós fomos salvos da agressão que cometemos contra Ele. Porque, Jesus Cristo, como vítima, se fez nosso salvador! Para que nós façamos o mesmo uns com os outros. No relacionamento humano existe limite para tudo. Não para o perdão. São Pedro tentou calcular o perdão: o máximo seria perdoar sete vezes. Porém, o Mestre do Amor descartou qualquer hipótese de enquadrar o perdão nos limites humanos: perdão se dá “setenta vezes sete vezes”. É a linguagem simbólica dos números, que joga com o 7 e o 10 – perfeitos – para dizer, perdoar sempre! Muitos apresentam dificuldades em aceitar o perdão dos pecados por intermédio do padre confessor. Dizem: - “só Deus perdoa pecados; como é que o padre se arroga a função de perdoar?” Ora, não é só Deus que perdoa pecados: toda pessoa tem o poder de perdoar pecados. Não só o poder, mas o dever de perdoar. As ofensas que me fazem são pecados que eu devo perdoar! A mão do padre é instrumento das mãos divinas de Cristo no Calvário.

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Estamos presos a uma engrenagem de injustiça e de culpabilidade se pensarmos que a vingança é a única reação possível à injustiça recebida. Jesus mostrou-nos que é possível romper essa engrenagem, isto é, podemos fazer com que o amor seja mais forte que a ofensa e a ira; podemos dialogar com aquele que cometeu injustiça conosco, podemos dar-lhe uma oportunidade e dá-la também a nós mesmos. O perdão é tido como muito difícil! A convivência entre pessoas é difícil. No entanto, o perdão foi dado como maneira de “refazer” o relacionamento ferido por alguma grosseria. Deus nos proporciona o que só Ele sabe fazer: Deus deseja que, pelo perdão, façamos o mesmo que Ele faz. O perdão restaura as relações humanas. O perdão é a chance de recomeçar! O mundo de hoje pede por “tolerância zero”. O Evangelho propõe o perdão sempre. Que fique claro, porém: tolerância zero para o pecado; perdão setenta vezes sete vezes, para o pecador. Além disso, Jesus Cristo ensinou, na oração do “Pai nosso”, que Deus perdoa assim como nós perdoamos. Que Deus nos perdoe assim como nós aprendemos e sabemos que deve ser o perdão. Que nós perdoemos da forma como Deus perdoa! A Igreja Católica admite que os malfeitores sejam julgados pelos crimes que cometeram. Porém, querer que paguem, é vingança. Os criminosos devem ser recolhidos para que possam recuperar-se da maldade. Uma certeza nos acompanha: nós temos como recuperar qualquer pessoa criminosa, pela proposta do Evangelho. A nós, que somos vítimas de criminosos, o Evangelho ensina a dar o perdão. Dar o perdão significa oferecer chance de conversão. Quem é condenado a pagar pelo


crime não se regenera. O perdão dado e o Evangelho proposto são os caminhos de Deus para a conversão. Como será o perdão para um político, para um empresário, por altos e sofisticados roubos? Perdoar os grandes ladrões é uma atitude evangélica. Também para eles, o perdão abrirá novos caminhos para novas perspectivas de vida. Como? A primeira atitude dessas pessoas é reconhecerem seu erro e converterem-se da vida de pecado. A conversão é visibilidade através da renúncia ao pecado. Eles precisam devolver o que roubaram. Se ficarem com os bens roubados, permanecem no pecado. Não é possível contar com o perdão e continuar com o fruto do pecado. Para acontecer o perdão é absolutamente necessária a transformação, isto é, corrigir-se do pecado, para começar vida nova. A atitude mais bonita do Evangelho é para as pessoas que nos fazem o mal, que nos agridem, nos perseguem. Para essas pessoas, o mais lindo perdão! O diferencial do cristão está em oferecer o perdão! Essa maravilha, não é para darmos aos amigos. A gente não abraça o amigo no aniversário, e lhe oferece de presente o perdão... A sublimidade do perdão está reservada para os inimigos (Mt 5,44): “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” É a nossa contribuição original para a humanidade construir a cultura da paz!

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