Antonino Oliveira Viana
Maria...
Quem ĂŠ esta mulher?
Editora A Partilha Uberlândia - 2012
Antonino Oliveira Viana
Prefácio
Antonino Oliveira Viana é fruto de uma família profundamente cristã, educado no amor a Deus e ao próximo. Conheci-o em tempos de juventude, pois fomos colegas de ano, no querido Seminário da Prainha, nos últimos anos do Seminário Menor e no Curso de Filosofia. Com seus pais e com os padres da Congregação da Missão, nossos formadores, aprendeu a amar Nossa Senhora, a tê-la como Mãe e a ser seu filho. Antonino, que mora na Bahia há muitos anos, passando por Fortaleza em visita aos seus familiares, irmãos e irmãs que aqui residem, convidou-me para ler esta obra de sua autoria sobre Maria Santíssima e fazer o prefácio. Seu pedido muito me honrou. “Maria... Quem é esta mulher? ” Não é uma simples obra de devoção mariana, nem, apenas, um canto de louvores a Nossa Senhora. É mais, muito mais. O autor o demonstra pela quantidade e precisão das citações, extraídas de inúmeras obras de autores valiosos, “clássicos” da Mariologia, que estudou profundamente antes de escrever o livro. Com certeza, levou bastante tempo para fazê-lo, pois as citações revelam que fez pesquisa exaustiva e apurada na Sagrada Escritura, nos evangelhos apócrifos, nos Padres da Igreja (Patrística), em obras de muitos santos, no magistério da Igreja expresso em encíclicas e nos documentos dos concílios ecumênicos, desde os primeiros séculos até os tempos atuais. Nos três primeiros capítulos debruçou-se o autor sobre as Sagradas Escrituras, buscando extrair delas referências proféticas à mulher agraciada por Deus, obra prima da criação; passagens reveladoras da mãe silenciosa e humilde, serva e educadora do Senhor; da mãe intercessora, da mãe companheira na missão evangelizadora do Filho, da mãe sofredora 5
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no caminho da cruz, ao pé da cruz e na descida da cruz. O autor procurou descobrir, nos textos bíblicos e nos evangelhos apócrifos, afirmações que apontam para as virtudes de Maria, para os dons do Espírito Santo presentes nela em plenitude, para os sinais da bem-aventurança indicados por Jesus no Sermão da Montanha e que se encaixam nela perfeitamente. Os estudantes de teologia, especialmente na disciplina de Mariologia, encontrarão, sobretudo no quarto capítulo, uma pesquisa apurada e uma reflexão sensata sobre as afirmações de fé que a Igreja faz sobre Maria: Imaculada conceição, plenitude da graça de Deus, maternidade virginal de Jesus, maternidade divina em Jesus, mãe da Igreja e da humanidade por Jesus, assunção, intercessão. Este livro certamente terá lugar nas estantes dos alunos e nas bibliotecas dos Seminários e Institutos de teologia. Os devotos todos de Nossa Senhora poderão descobrir, nos quatro últimos capítulos, que Maria está na caminhada conosco, como mãe pressurosa, pronta a nos proteger, a nos socorrer, a nos ensinar, a nos educar. Ela é a mãe da Igreja, é a mãe da humanidade inteira, de todas as gerações. Como seu Filho, quer que todas as pessoas sejam salvas, por isso se faz presente na nossa história, mostrando, nos lugares mais diversos, através de pessoas bem simples, o caminho da paz, da felicidade, do Reino de Deus, que Jesus veio instaurar. Esta é uma obra que se destina, com toda a certeza, a ajudar muitos irmãos na fé a conhecerem a reflexão teológica que, ao longo desses dois milênios de cristianismo, tem sido realizada sobre Maria, sobre seu papel na história da salvação, como mãe de Jesus, mãe da Igreja, mãe de Deus. Muitos agentes de pastoral terão, nestas páginas, fundamentos para a devoção mariana, para o amor que os católicos têm a Nossa Senhora, para a catequese, para os que buscam uma formação mais profunda. Servirá certamente como subsídio para palestras e conferências sobre a Mãe de Deus, nas comunidades eclesiais. A mãe de Jesus foi a primeira discípula missionária. Espero que este livro, levando-nos a nós, leitores, a um conhe6
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cimento maior de Maria, revigore em nós o compromisso de, tendo-a como Mãe, companheira e intercessora, sermos também discípulos missionários de seu filho querido, Jesus, no trabalho de evangelização, na obra da formação de um novo povo, o povo de Deus, na construção permanente do Reino de Deus, missão que nos foi dada por Jesus ressuscitado. Miguel Arcanjo Fernandes Brandão Professor da Universidade Estadual do Ceará (aposentado) e da Faculdade Católica de Fortaleza
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Apresentação
Há, na literatura, sobretudo cristã, inúmeras obras sobre a pessoa de Maria Santíssima, a Mãe de Jesus. Aparece mais uma, mas que não deixa de ser singular e focada para ilustrar, dentre todas as mulheres da Bíblia, que Maria é a mais importante e a mais destacada. Na simplicidade dos argumentos e na objetividade da clareza, o autor consegue cativar o leitor a querer prosseguir a sua leitura no interesse de perceber melhor quem é “Aquela Mulher” tão ilustre de que nos fala a Escritura Sagrada. Pouco a pouco, percebendo mais ainda, o leitor vai se admirando da grandeza de alguém importante, e que os escritos, de maneira tão perspicaz, ilustram a “honra do nosso povo”, ela, Maria, a Mãe de nosso Deus. Com avidez pude ler fazendo desta leitura um alimento espiritual de cada dia, e, no entanto, estava como observador teológico. Nunca é demais poder desfrutar das riquezas de uma leitura impregnada de deleites daquela que é um “Jardim só conhecido de Jesus”, por isso aconselho o leitor a fazer destas páginas uma das suas leituras diárias. Queira a Mãe abençoar ao filho que se dedicou a escrever e aos filhos que vão saborear os seus frutos. Pe. Ângelo Magno Carmo Lopes Pároco de Sant’Ana do Rio Vermelho
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Ofereço este trabalho a todas as pessoas que me rodeiam e estimam, porque, direta ou indiretamente, me ajudaram a enfrentar este trabalho, em especial a minha esposa Reinilda, por ter me suportado e compreendido as muitas vezes que me isolei, debruçado sobre livros no estudo de pesquisas interessantes. Dedico-o igualmente aos meus estimados filhos Estanislau, Regina Coeli, Cristianne, Patrícia, Ana Paula e meus irmãos Maria José e Raimundo, que me estimularam e incentivaram a continuação deste trabalho.
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Introdução
Este trabalho foi elaborado com intenção única de oferecer subsídio às pessoas que se dedicam a propagar as maravilhas da mãe de Jesus. Foram vários meses de pesquisas, buscando e anotando relatos sobre cada assunto. Muitos fatos não foram gravados e infelizmente se perderam em minha memória, mas, de qualquer forma, acho que guardei os mais interessantes, que apresentavam um realce mais feliz e eficaz na dissertação de cada assunto. Invocando sempre o Espírito Santo e pedindo a graça de uma inteligência penetrante (Ap 17,9), estudei com afinco cada passagem das Sagradas Escrituras que me ofereciam uma resposta mais convincente para esclarecer o assunto focado. Agradeço a Deus e à Santíssima Virgem, porque me ofereceram paciência suficiente para me aprofundar em cada pesquisa, a fim de enriquecer as afirmativas anunciadas. Invoco aqui as graças de Deus, carreadas através da nossa mãe Maria Santíssima, às pessoas que se derem à leitura deste livro. Cada leitor receba de Deus as graças espirituais suficientes para usufruir e compreender os ensinamentos aqui apresentados, aceite inclusive o amor que fluir em seu coração pela nossa querida mãe, Maria Santíssima, tornando-se seu fiel devoto. O amor de Maria nos enche de alegria e nos consola. Tomara que eu consiga despertar no coração de cada leitor o amor à Maria e às belezas que ela encerra. Se tivermos em conta o carinho que Deus Pai dispensou na criação desta mãe, compreenderemos o quanto ela merece o nosso louvor e o nosso bem querer, porque ela é mãe MEDIANEIRA E MISERICORDIOSA. Lembremo-nos de que ela primeiro recebe o nosso coração e apresenta-o depois a seu filho Jesus. 11
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Com as bênçãos de Deus e da Virgem Maria, aproveite cada leitor, ao máximo, esta leitura. Antonino Oliveira Viana o autor
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Sumário
1. A todos Deus amou, mas a uma mulher em especial 2. As Escrituas e a Tradição 3. A mulher plena de Graça 4. As verdades da Fé 5. Maria, mãe da humanidade e mãe da Igreja 6. A mãe que se preocupa e protege 7. A mãe que aconselha e orienta 8. A mãe que ensina
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A todos Deus amou, mas a uma mulher em especial
A criação por excelência
Deus criou o homem e a mulher com o maior carinho e realizou com isto a sua maior obra, e os fez para que vivessem um para o outro, de forma que a vida de um completasse a vida do outro, mas Deus criou também uma pessoa especial com uma perfeição imensurável, uma pureza, beleza e brancura tão perfeitas que os raios do Sol passam pelo seu corpo como se fosse uma vidraça, assim anunciou o poeta: “Maria Santíssima é como uma vidraça, os raios do Sol batem e ultrapassam e ela não se estilhaça”, e as Sagradas Escrituras falam: “O Senhor me criou, como primícias de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra” (Pv 8,22). “Quem é esta que surge como aurora, bela como a lua, brilhante como o Sol, temível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6,10). Foi desta forma que Deus criou a mulher que estava destinada a esmagar a cabeça da serpente. Ela teria que ser um vaso puríssimo, sem mácula alguma, porque iria receber, em seu ventre, o Filho amado e divino, JESUS. “A glória do Líbano virá a ti, e todos juntos, o cipreste, a faia e o buxo, para ornamentar meu lugar santo e honrar o lugar onde pousam meus pés” (Is 60,13). Onde Jesus pousou os pés, senão no ventre de Maria? Por isto, Deus a criou plena de graças. Ela foi agraciada com um corpo puríssimo e perfeitíssimo, desde o ventre de sua mãe, Ana, e recebeu dons especiais do Espírito Santo, que a transformaram na criatura mais virtuosa existente na face da Terra e isentando-a de qualquer mácula. Puro dom que Deus lhe deu, não para sua alegria nem para a sua exaltação, mas 15
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para o bem de todos e a redenção do seu povo. A imagem de Maria tornou-se brilhante e inconfundível quando ela deu o SIM ao mensageiro do Senhor: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá” (Lc 1,35). Tudo isto deve ser visto com os olhos da fé. São Luiz Maria de Montfort falou assim desta mulher: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as suas graças e chamou-as MARIA” e acrescenta: Deus fez de Maria um tesouro riquíssimo, e encerrou nela tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho. Deus Pai, desejando derramar suas graças sobre os Homens, não o faz diretamente a eles, porque são tímidos e medrosos, mas entrega-as a Maria para que Ela doe aos Homens na medida em que lhe aprouver. Isto é, todas as graças que recebemos de Deus nos chegam através de Maria. Deus Pai quer servir-se de Maria na santidade das almas, santificação dos Homens e salvação eterna, e os Homens, assim, ganham a plenitude de Maria e se enriquecem. São Luiz Maria de Montfort continua: “Deus Filho tornou a sua mãe a tesoureira de tudo que Deus Pai lhe deu de herança, todos os méritos, virtudes e graças”. Jesus, através de Maria, distribui suas graças ao corpo místico, a Igreja. Maria é o canal misterioso por onde passam abundantes graças e, docemente, suas misericórdias. Deus Espírito Santo doou a Maria seus dons inefáveis, escolhendo-A como dispensadora destes dons. Nada chega ao Homem que não passe pelas mãos divinas de Maria, quer sejam dons, quer sejam graças. Esta é a vontade da Santíssima Trindade. É desta forma que Ela é enriquecida, elevada e honrada por Deus Altíssimo. Aquela que em vida foi a mais humilde e submissa das mulheres, procurando sempre esconder-se ou diminuir-se para que seu Filho aparecesse. Aquela que confiou no amor do Filho e tinha consciência da sua divindade, pois sabia pedir, e seu pedido sempre foi como uma ordem, não porque ordenasse, mas porque amava e pedia com amor. “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5), assim falou nas bodas de Caná. 16
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Deus Altíssimo dotou Maria de tantas graças que a fez puríssima e santíssima a ponto de São Bernardo, São Bernardino e São Boaventura anunciarem: “Parece que no céu e na terra tudo, até o próprio Deus, está submisso a Maria”. É sobre esta mulher que vamos elaborar vários artigos, até quando Deus nos permitir. Espero que Ele nos dê muita saúde, disposição e coragem para que sempre estejamos presentes escrevendo sobre Maria. Jamais nos cansaremos de falar desta tão sublime mulher. Como é bom falar de Maria, este ato nos gratifica, pois, sempre que anunciamos qualquer ação, ato ou virtude da mãe do Senhor, parece que ela nos compensa com suas graças e nos oferece mais forças e coragem para continuarmos falando d’Ela. Obrigado, mãe querida, pelas graças que Tu nos concedeste.
As Matriarcas do Antigo Testamento Dando continuidade ao nosso trabalho e antes mesmo de continuarmos a falar da mãe do Senhor, vamos passar uma vista sobre algumas das mulheres de destaque que estão nas Sagradas Escrituras, as matriarcas.
a) A primeira mulher que surgiu foi Eva, que Deus fez da costela de Adão. Eles se uniram; se completaram e se tornaram um só: “já não são mais que uma só carne” (Gn 2,24). Eva, pela sua desobediência, trouxe o pecado e o sofrimento para o Homem e, Maria, com o seu SIM, isto é, aceitando a maternidade Divina, trouxe a redenção e a salvação do Homem. Eva, enganada pela serpente, ou satanás, cometeu o pecado de desobediência e atraiu sobre si e sua descendência o ódio entre si e a serpente: “Porei o ódio entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela... Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores” (Gn 3,15-16) e Maria, enriquecida das graças de Deus, no exercício de uma profunda humildade e numa demonstração única de fé, aceitando aquela maternidade, ofereceu à humanidade o amor sublime
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da Santíssima Trindade: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38); b) A Segunda mulher de destaque foi Sarai, mais tarde chamada de Sara pelo anjo do Altíssimo, esposa de Abraão, que, para conservar a vida do seu marido, se fez passar por sua irmã, em obediência às ordens do próprio marido, quando estiveram no Egito fugindo da fome que grassou na terra dos cananeus, para onde se mudaram a mando de Deus. Sara era estéril, mas tanto ela como Abraão confiaram na promessa de Deus e ela concebeu na velhice e nasceu Isaac; c) Posteriormente surgiu Rebeca, esposa de Isaac, que conduziu com maestria seus dois filhos, (Esaú)Isaú e Jacó, a quem o anjo mudou o nome para Israel: “teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel” (Gn 32,29). Graças à orientação de sua mãe, Rebeca, Jacó conseguiu a benção da primogenitura; d) Raquel veio a seguir. A segunda mulher de Jacó, a quem ele amava muito, concebeu apenas dois filhos, Benjamim e José, aquele que foi vendido pelos irmãos como escravo, por inveja, e mais tarde, por desígnio de Deus, se tornou o primeiro ministro do faraó, rei do Egito; e) A profetisa Maria (ou Miriam), irmã de Aarão e Moisés, que, juntamente com outras mulheres, dançando com tamborins, entoou um cântico de louvor a Deus (Ex 15,20), após a passagem do Mar Vermelho; f) Débora, mulher de Lapidor, corajosa e destemida, foi mentora de uma batalha vitoriosa a favor de seu povo. Era profetisa e juíza, julgava o povo no tempo de Josué, e cantou um hino belíssimo de louvor ao Deus Altíssimo (Jz 5); g) Rute, a nora de Noemi, mulher moabita, sem filhos, que, após a viuvez, viu-se liberada, porque seu marido não tinha irmão para assumi-la. Preferiu acompanhar a sogra judia até seu povo e se tornou símbolo de um povo sofrido. Casou-se então com Booz por direito, porque parente do marido de Noemi. Booz foi bisavô de Davi, o 2° rei dos judeus; h) Ana, mulher de Elcana, era estéril, mas rogou ao Senhor a graça da maternidade prometendo-lhe entregar seu filho, se do sexo masculino, no templo aos cuidados do sacerdote Heli, a fim de servir ao Senhor. (Tudo aconteceu semelhante
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aos rogos de Ana, mulher de Joaquim, também estéril e mãe de Maria, esposa de José). Ana, mulher de Elcana, deu à luz um filho que recebeu o nome de Samuel, o primeiro grande profeta. Cantou um hino belíssimo de louvor ao Senhor em sinal de agradecimento (1Sm 2,1-10). (Lucas espelha-se neste canto para colocar na boca de Maria o canto do Magníficat (Lc 1,46-55); i) Abigail, mulher de Nabal, possuidora de grande inteligência e formosura (1Sm 25,3), após sua viuvez, tornou-se mulher de Davi. Usando de prudência, contornou uma situação vexatória provocada pelo seu arrogante marido, abrandou o coração de Davi, que pretendia combater e exterminar Nabal e sua descendência; j) Betsabé, a pivô do adultério de Davi, concebeu Salomão (II Sm 12,24). Salomão foi o maior rei de Israel, o mais inteligente e sábio, possuidor de grande fortuna, construiu o templo de Jerusalém e elevou o nome dos judeus entre os maiores povos da época. Foi cortejado por todos os reis da Terra, inclusive a rainha de Sabá, mulher muito bonita e inteligente, que reinava a sudoeste da Arábia, terra muito distante de Israel; l) Judite, a viúva rica, temente a Deus e possuidora de grande formosura. Despiu suas vestes de viúva e vestiu roupas festivas, perfumou-se e arranjou os cabelos, colocou braceletes, colar e brincos de pedras preciosas, realçando sua beleza. Usando desta beleza e inteligência, seduziu Holofernes e, gozando de sua confiança, conseguiu trânsito livre dentro do acampamento inimigo. Com habilidade, cortou a cabeça do general Holofernes e libertou seu povo da opressão do tirano Nabucodonosor. Constatada a vitória, a alegria tomou conta do seu povo e comemoraram aquele feito heroico de Judite com muitos festejos e danças. Até o sumo sacerdote Joaquim veio de Jerusalém ao seu encontro para agradecer a coragem e a valentia daquela mulher e, ao mesmo tempo, abençoá-la. Judite, cheia do Espírito Santo, cantou um hino de louvor em agradecimento a Deus. (Jd 16); m) Ester, a rainha judia, portadora de grande formosura e beleza, alcançou as graças e o favor do rei Assuero, sendo amada com grande intensidade pelo próprio rei. Por razões
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de ordem religiosa e política, o povo judeu foi odiado pelo primeiro ministro Amã, que tramou o extermínio daquele povo. Entretanto, Ester, corajosamente enfrentou as severas leis do seu rei e se ofereceu para salvar a vida do seu povo e, com estratégia divina, conseguiu consolidar a estadia do povo judeu que vivia cativo naquele país (Est 8,8).
Estas foram as matriarcas do Antigo Testamento que exerceram com coragem e altivez certos atos heroicos para conduzir e salvar o povo de Deus. Elas foram símbolo de fé, obediência e submissão, mas também de decisões acertadas em prol do seu povo.
As Matriarcas do Novo Testamento Ao entrarmos no Novo Testamento, encontraremos mulheres que se destacaram no início da vida da Igreja e foram verdadeiros baluartes de fé e atitudes virtuosas, sendo assim, procuraremos ressaltar suas ações e vivências na igreja nascente. Na passagem do Antigo para o Novo Testamento, temos ainda duas matriarcas merecedoras de nossa atenção:
a) Ana, a estéril, esposa do ricaço Joaquim, que era sacerdote do templo. As Sagradas Escrituras silenciam sobre os pais de Maria, entretanto os evangelhos apócrifos são ricos em informações e eles representam parte da tradição da Igreja, razão porque alguns fatos merecem crédito. Os evangelhos apócrifos apresentam Joaquim exercendo as funções de sacerdote do templo do Senhor e, quando estava neste exercício, escutou críticas de reprovação por parte do colega sacerdote Ruben, que dizia: “Não toca a ti oferecer em primeiro lugar tuas ofertas, porque não tivestes descendência em Israel”. Joaquim, entristecido e envergonhado, se retirou do templo e foi se isolar nas montanhas com suas ovelhas, abandonando o lar e a esposa. Ana, sua mulher, se viu viúva de marido vivo e chorava copiosamente pela sua viuvez e esterilidade, ao mesmo tempo em que rogava ao Senhor a graça da maternidade,
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prometendo o filho ou filha que nascesse de seu ventre. Deus ouviu e atendeu suas preces e ela concebeu. Na angústia de sua esterilidade e no auge de suas preces, um anjo do Senhor lhe apareceu e deu-lhe a notícia da concepção, acrescentando: “Aquela que nascer de ti suscitará admiração por todos os séculos até o fim”. Ao mesmo tempo, estando Joaquim nas montanhas, o mesmo anjo lhe apareceu e anunciou a gravidez de Ana, sua mulher, dizendo-lhe que ela concebera antes de ele fugir para aquelas montanhas e abandoná-la. Ordenou-lhe que fosse ao encontro dela. Ana concebeu e deu à luz a uma menina que recebeu o nome de Maria. Aos três anos, Joaquim e Ana cumpriram o prometido ao Senhor e deixaram sua filha aos cuidados dos sacerdotes do templo para educá-la, instruí-la e servir ao Senhor. b) Isabel, esposa de Zacarias, concebeu na velhice e gerou João Batista, o precursor. Isabel, cheia do Espírito Santo, exclamou em alta voz diante de Maria, quando ela lhe visitou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o Fruto do teu ventre” (Lc 1,42).
O Anjo do Senhor, ao anunciar a encarnação do Filho de Deus, faz a seguinte saudação: “Ave cheia de graças o Senhor é contigo” (Lc 1,28) e Isabel, com seu canto de louvor, fez surgir uma belíssima invocação de louvor e honra a Maria, que dizemos na jaculatória: “Ave cheia de graças, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre”. A tradição diz que a Igreja nascente costumava honrar e louvar a mãe do Senhor com esta invocação, pois, no ano 604, o papa Gregório Magno já recomendava a prática desta invocação como uma jaculatória de louvor a Maria. Isto demonstra o respeito e amor que os fiéis depositavam na mãe do Senhor. Era costume de alguns fiéis, principalmente aqueles consagrados ao serviço do Senhor, os monges, louvar Maria com esta jaculatória. Os sacerdotes tinham o costume de rezar diariamente os 150 Salmos bíblicos. Este costume se estende até aos dias de hoje. Rezam-se, inclusive, orações especiais em 21
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substituição aos 150 Salmos, acrescidos de outras orações memoriais sobre os santos do dia. No princípio da Igreja, como muitos monges eram analfabetos, seus superiores ordenavam-lhes a invocação da jaculatória em homenagem à Maria, por 150 vezes, em substituição à reza dos 150 Salmos. Esta devoção era chamada de saltérios. Na vida nascente da Igreja, muitas outras mulheres estiveram presentes, pois o próprio Jesus era seguido por algumas mulheres de posses, que providenciavam todas as necessidades do mestre e seus apóstolos. Os apóstolos usaram também desta prerrogativa, em especial São Lucas e São Paulo. Muitas foram as mulheres que se destacaram no início da Igreja até os dias de hoje. Poderíamos enumerar diversas delas que se sobressaíram pela santidade, bom exemplo de virtudes e tenacidade no trabalho em prol da Igreja, como Santa Mônica, a mãe de Santo Agostinho, no terceiro século ou irmã Dulce, o anjo bom dos desvalidos da Bahia no século XX, mas o tempo é exíguo, razão pela qual vamos nos ater apenas a três delas, aquelas que foram declaradas doutoras da Igreja: a) Santa Catarina de Sena (1347-1380), que tomou o hábito da terceira ordem dominicana, foi responsável por várias cartas de aconselhamento e um livro, “Diálogos”, de excelente teor teológico. Embora fosse analfabeta, foi declarada doutora por Paulo VI, em 1968; b) Santa Teresa de Ávila (1515-1582), que tomou hábito das carmelitas da encarnação em Ávila, aos 20 anos. Após alguns anos de sofrimentos e sacrifícios ela passou a ter visões Divinas. Seus livros (3) são comparados ao livro de Santo Agostinho (Confissões). Foi declarada doutora por Paulo VI, em 01.09.1970; c) Santa Terezinha do Menino Jesus (1873-1897), que tomou hábito das carmelitas em Lisieux aos 15 anos, por autorização do papa Leão XIII. Viveu apenas 24 anos, mas foi a maior missionária da Igreja. Embora nunca haja saído do convento, com suas orações, penitências e jejuns, ela conduziu milhares de fiéis à fé cristã. Seu livro “História de uma alma” retrata sua vida íntima com Deus. Foi declarada doutora por João Paulo II, em l997.
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