Padre, Tem Uma Dúvida me Matando

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Pe. José Carlos Pereira, CP

Padre, tem uma dúvida me matando Padre, tem uma dúvida me mantando Centenas de respostas às perguntas que o povo faz sobre a Igreja Católica

Editora A Partilha 2012


Sumário

Introdução

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Dúvidas sobre o Batismo e a Consagração

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Dúvidas relacionadas à Missa e à Comunhão

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Dúvidas acerca da Confissão ou Penitência

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Dúvidas a respeito da Crisma ou Confirmação

157

Dúvidas relacionadas ao Matrimônio

169

Dúvidas relacionadas ao Sacramento da Ordem

253

Dúvidas a respeito da Unção dos Enfermos

263

Outras dúvidas que o povo tem

269

Considerações Finais

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INTRODUÇÃO

Há diversas modalidades de atendimento paroquial, porém, qualquer forma adotada numa paróquia, deve ter como finalidade possibilitar um espaço para que o fiel se manifeste, dê sua opinião, esclareça suas dúvidas, receba informações sobre a paróquia, as doutrinas e orientações da Igreja. Porém, o que muitas vezes acontece é que as paróquias não disponibilizam horários adequados com os horários das pessoas, para que elas possam obter as informações desejadas. Alguns padres se esforçam para adaptar os horários de atendimento da sua paróquia aos horários das pessoas, como, por exemplo, atendimento nos finais de semana e a noite, mas nem sempre isso é possível, porque demanda uma série de ajustes que nem sempre a paróquia tem condições de realizar. Alguns mantêm, fielmente, seus dias de plantão de atendimento, mas mesmo assim, não conseguem atingir a todos, principalmente aqueles que não são muito assíduos na Igreja e que, na verdade, são os que mais necessitam, tendo em vista que esta categoria de fiel é a que mais tem dúvidas sobre as orientações da Igreja, principalmente as relacionadas aos sacramentos. Foi pensando nisso que, além de reservar dias e horários fixos para atendimento paroquial, disponibilizei também o atendimento virtual. Esse atendimento virtual consiste numa página na internet onde as pessoas podem fazer perguntas. Um dos benefícios desse sistema de atendimento está no fato das pessoas terem toda a liberdade de perguntar o que quiserem, sem precisar se identificar. Não estando frente a frente com o padre elas se sentem mais à vontade em abrir seus corações e falarem das dúvidas, das angústias, dos seus medos, das suas insatisfações e desabafarem daquilo que as têm sufocado.


A procura por este tipo de atendimento foi tanta que passei a dedicar horários específicos para responder a estas perguntas que começaram a vir, não apenas dos leigos da minha paróquia, mas de todo o país. Dúvidas que poderiam ser esclarecidas nas suas paróquias de origem, mas que, por uma série de fatores, isso não era possível. Assim, o volume de perguntas foi aumentando e achei melhor torná-las pública, porque percebi que a dúvida de uma pessoa era a dúvida de tantas outras. Quis torná-la pública não apenas pelas perguntas em si, que são também muito interessantes, mas, principalmente, pelas respostas. Descobri que poderia, através destas respostas, contribuir com muita gente para sanar suas dúvidas e viver conforme orienta a Igreja. Vi que as perguntas e respostas eram tão pertinentes que disponibilizá-las para outras pessoas seria algo muito valioso. Assim sendo, achei que a melhor forma de fazer com que estes esclarecimentos chegassem a um maior número de pessoas, principalmente àquelas que ainda não têm acesso a internet, seria publicando, em livro, estas perguntas e respostas. Foi então que surgiu a ideia deste livro de perguntas e respostas que o povo faz nas nossas paróquias, mas que nem sempre os párocos têm oportunidades de responder. Dessa forma, este livro serve não apenas para os leigos, mas também para os próprios padres que, no dia a dia de suas atividades pastorais na paróquia, se deparam com todos estes questionamentos, e nem sempre têm tempo de recorrer aos documentos da Igreja para responderem corretamente a estas dúvidas. Para facilitar a busca, separei as perguntas em oito blocos ou capítulos. A maior parte das perguntas versa sobre os sacramentos. Assim sendo, nos sete primeiros capítulos estão as dúvidas relacionadas aos sete sacramentos, e foram colocadas na seguinte ordem: 1) dúvidas sobre batismo; 2) dúvidas sobre a missa ou a comunhão; 3) dúvidas sobre a confissão ou sacramento da reconciliação; 4) dúvidas a respeito da crisma ou confirmação e seus correlatos; 5) dúvidas sobre o matrimônio e as situações envolvidas com este tema;


6) dúvidas que estão relacionadas com o sacramento da Ordem; 7) dúvidas a respeito do sacramento da Unção dos enfermos. Por fim, deixei um espaço, no oitavo capítulo, para colocar as dúvidas gerais, relacionadas a outros temas, como, por exemplo, doutrina da Igreja, liturgia, símbolos, etc. As respostas dadas estão baseadas nos documentos da Igreja, principalmente no Código de Direito Canônico e no Catecismo da Igreja, além de outros documentos, como, por exemplo, Cartas e Encíclicas do Papa e documentos da CNBB. Algumas respostas contêm opiniões pessoais e podem não coincidir com a opinião de outras pessoas ou com aquilo que pensam alguns padres. São aquelas questões em que a Igreja ainda não tem um consenso e que dão margem para diferentes pontos de vista ou opiniões. Porém, a maioria das respostas está conforme pede a Igreja, mesmo que a pessoa que fez a pergunta não concorde ou não fique satisfeita com a resposta. Enfim, quero destacar que no primeiro capítulo, onde trato de responder dúvidas sobre o batismo, foram respondidas também dúvidas sobre o ato devocional da consagração de crianças (e adultos) à Nossa Senhora ou aos santos, seja por ocasião do batismo ou não. Foram muitas as perguntas sobre este tema e achei por bem colocá-las junto com as respostas sobre o batismo, enfatizando a diferença entre o sacramento e o ato devocional.


DÚVIDAS SOBRE O BATISMO E A CONSAGRAÇÃO

“Julgue-se um homem mais pelas suas perguntas do que pelas suas respostas”, Voltaire

Pergunta: minha filha já foi batizada. Posso batizá-la novamente? Se sua filha já foi batizada ela não poderá ser batizada novamente. Batismo só se recebe uma única vez na vida e é para sempre. Sacramentos não são coisas descartáveis e é também por essa razão que se pede para que as pessoas se preparem antes de recebê-lo.

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Pergunta: na religião da minha namorada tem um tipo de casamento chamado “casamento eterno”. Esse casamento só pode ser feito entre membros da mesma religião. Os pais dela pediram para eu me batizar nessa religião. Se eu me batizar em outra religião continuo sendo católico? O batismo só se recebe uma vez. O batismo desta denominação religiosa não é considerado como batismo perante a Igreja católica, porém se você se batizar nela, está indo contra a doutrina católica, cometendo, portanto pecado contra a sua religião de origem. Assim sendo, acho que seria conveniente você pensar bem antes de ter uma atitude dessas. Faça a proposta para a sua noiva se batizar na Igreja Católica e veja qual será a resposta dela. A medida é a mesma: se ela não aceita a mudança, porque você teria que aceitar? Quer dizer que a sua religião é menos importante que a dela? Se você não mudar de religião significa que você não a ama? É isso? Regra imposta


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pelo pai dela deveria valer também para a filha dele. Se ela não aceita mudar por sua causa é sinal que o amor que ela tem por você também não é o bastante. Além disso, a família não deve interferir na relação de um casal. Lembre-se que uma vez unido a uma pessoa com doutrina tão distinta e com exigências desta natureza, o casamento tem tudo para não dar certo. Reflita bem antes de decidir entre ela e a sua religião. Pergunta: minha sobrinha tem como padrinhos de batismo a mim e a meu ex-namorado. Quando a batizamos estávamos namorando. Hoje ela tem dois anos e faz um ano que não estamos namorando. O padrinho a conheceu quando ela era ainda bebê, mas ela não o conhece porque ele não a procura e não se importa com ela. Ela não tem nada ver com o término de nosso namoro. Minha família e eu somos católicos e preservamos as coisas da Igreja e da Palavra de Deus. O padrinho era católico, mas hoje não sabemos nada dele sobre religião. Só sabemos que a vida que ele leva não é muito boa. Ele tem vícios (bebidas, cigarro, desonestidade, infidelidade, etc.), e não procura também pela família. O que podemos fazer? Já tentamos conversar com ele e não adiantou. Quando a menina (afilhada) perguntar pelo seu padrinho, não saberemos responder o certo. A sua situação é típica de quem escolhe um casal de namorado para ser padrinho, algo que não é impedimento, mas desaconselhado pela Igreja exatamente para evitar que ocorra o que aconteceu com essa criança. Agora não há nada a fazer, a não ser a madrinha, isto é, você, assumir o papel de ambos. A Igreja pede que se tenha um padrinho e uma madrinha. Assim sendo, essa criança está conforme a Igreja pede, tendo uma madrinha. Pior seria se ambos fossem relapsos. Se o padrinho não cumpre o seu papel, ignore-o e quando a criança perguntar pelo padrinho, diga a verdade: que ele, o padrinho, não faz o papel de padrinho e que a madrinha assumiu este compromisso.

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Pergunta: Tenho uma afilhada que está grávida e dará a luz a um menino no próximo mês. Ela escolheu para padrinhos o cunhado dela, irmão do esposo, que é casado na Igreja Católica a irmã dela, que é divorciada. A Igreja permite a realização deste batizado? Sim, a Igreja permite a realização deste batizado, porém não com estes padrinhos. Uma pessoa divorciada não pode ser madrinha ou padrinho. Assim sendo, ela terá que buscar outros padrinhos. Eles devem ser casados na Igreja ou que sejam solteiros, sem estar vivendo uma união ilegítima, isto é, estar vivendo junto sem o sacramento do matrimônio. Pergunta: meu irmão é solteiro. Ele pode ser padrinho de consagração da minha filha ou tem que ser um casal? Sim, ele pode ser o padrinho de consagração de sua filha. Não há nenhuma exigência da parte da Igreja para os padrinhos de consagração. As exigências recaem sobre os padrinhos de batismo.

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Pergunta: Sou batizada e crismada, porem não tenho madrinha de consagração. Acho lindo este ato devocional e gostaria de escolher minha amiga que sempre me ajuda quando perco minha fé. Posso ser consagrada mesmo tendo 27 anos e já ter feito estes sacramentos? Como devo proceder se houver a possibilidade? Sim, você poderá ser consagrada em qualquer idade e em qualquer ocasião, mesmo tendo feito os sacramentos da iniciação cristã. As paróquias comumente possibilitam a consagração à Nossa Senhora no mês de maio ou em dezembro, por ocasião da festa da Imaculada Conceição. Havendo essa possibilidade, você poderá fazer neste mês. Não tendo a consagração neste período, procure o pároco de sua paróquia e manifeste a ele seu desejo. Sua amiga poderá ser sua madrinha de consagração sem nenhum problema. Por se tratar de um ato devocional, e não sacramental, não há nenhuma exigência em relação aos padrinhos.


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Pergunta: Li nas postagens realizadas uma resposta sobre a consagração no Batismo: “A consagração pode ser feita em qualquer outro momento e quantas vezes a pessoa quiser, sem que seja, necessariamente, no dia do batismo”; isso quer dizer que se erramos ao dar o filho a uma pessoa consagrar, podemos fazê-lo novamente com outra pessoa? Sim, você poderá consagrar seu filho outras vezes e com “padrinhos” diferentes. Como já disse, é um ato devocional e não sacramento. Assim sendo, não há regras ou orientações oficiais para isso. Vale destacar, porém, que esse ato não deve ser confundido com o batismo. Padrinho ou madrinha de consagração é figurativo, simbólico e não tem o mesmo valor do padrinho de sacramento, como é o caso do batismo. Pergunta: tenho quatorze anos, não sou batizada nem frequento a religião. A mãe da criança é batizada, mas não possui crisma e nem primeira comunhão. Ela não é casada e tem dezessete anos. Estou certa de que quero arcar com as responsabilidades de uma madrinha. Só que não sei quais argumentos devo usar diante desta situação, pois sou sim uma pessoa de fé, e mesmo sem batismo, crisma e primeira comunhão, eu tenho responsabilidade e conheço a palavra. Não fui batizada porque a minha mãe não é católica. Eu ainda não sei qual a minha orientação religiosa, mas sei que posso ajudar um bebê a crescer espiritualmente. E quero ajudar na proporção de sua educação religiosa. A verdade é que no coração eu já sou madrinha do pequeno menino que está vindo pra nosso mundo! Eu queria saber, como resolvo isso? Lamento informar, mas você não pode e não tem nenhuma condição de ser a madrinha dessa criança. Para ser madrinha a pessoa precisa ter 16 anos completos e ter recebido os sacramentos da iniciação cristã (Batismo, eucaristia, confissão e crisma). É o mínimo que se exige para alguém assumir o

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sacramento para outra pessoa. Caso você desejar mesmo ser a madrinha dessa criança, comece a se preparar desde agora e aguarde para poder batizá-la. Até os sete anos a criança poderá ser batizada normalmente. Depois disso, ela precisará entrar para fazer a catequese. Portanto, você tem bastante tempo para se preparar para algo que será para toda a vida. Se você for perseverante e persistir na ideia de batizá-la, e for até o fim na preparação, é sinal de que de fato você tem condições de ser a madrinha. Caso contrário, não. Pergunta: Minha filha foi registrada e batizada por uma pessoa que não é seu verdadeiro pai. Há possibilidades de cancelar esse batizado por esse motivo depois que o registro for cancelado e ela passar a ser registrada pelo verdadeiro pai? O sacramento do batismo só se recebe uma vez, independentemente se a pessoa foi batizada pelo pai verdadeiro ou não. Assim sendo, sua filha não poderá ser batizada de novo. O que você deve fazer é procurar a Igreja em que ela foi batizada e pedir que faça a averbação no livro de batismo, colocando o nome do pai verdadeiro. Esse procedimento é feito mediante a apresentação do novo registro de batismo.

Pergunta: eu me arrependi da escolha dos padrinhos e os mesmos já sabem disso. Motivo: a madrinha que escolhi para meu filho desfaz dele. O que faço?

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Pergunta: fui convidada para ser madrinha de batizado de um sobrinho, porém eu estou grávida de seis meses. Os antigos dizem que não pode uma grávida ser madrinha. Isso é verdade ou crendice? Isso é crendice. Se você está conforme as orientações da Igreja, nada impede que seja madrinha. Gravidez não é impedimento para apadrinhar uma criança, e não existe nenhuma interferência negativa no fato de você estar grávida e ser madrinha.


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Infelizmente não há muito que fazer, a não ser ter uma boa conversa com ela e colocar seus sentimentos e percepção em relação ao tratamento que ela tem dado ao seu filho. Não são poucos os pais que se arrependem dos padrinhos escolhidos. Por essa razão a Igreja orienta que os pais escolham muito bem os padrinhos para os seus filhos. Há quem não queira levar em conta as orientações da Igreja e depois se arrependem amargamente da escolha errada. Caso a conversa não resolva, o jeito é esperar a crisma de seu filho para que ele possa escolher padrinhos que sejam verdadeiramente um segundo pai e uma segunda mãe. Mas até lá, você vai ter que fazer o papel de mãe e de madrinha. Pergunta: tenho dezessete anos e ainda não sou batizada. Fiz apenas uma parte da catequese, mas quero terminá-la, porém não posso porque não sou batizada. Há como eu ser batizada com 18 anos ou já passou meu tempo? Depois que uma pessoa completa sete anos sem ser batizada, ela deve aguardar a idade da catequese, se preparar primeiro e depois, uns dias antes da primeira eucaristia, receber o batismo. É esse o procedimento mais indicado. Se você já fez a catequese, nada impede que você seja batizada e, em seguida, faça a primeira eucaristia. As paróquias comumente têm uma preparação diferenciada para adultos que não receberam o batismo, como é o seu caso. Procure o pároco da sua paróquia e coloque a ele a sua situação. Ele irá lhe indicar o procedimento mais adequado para você ser batizada e receber os demais sacramentos. O tempo para um adulto receber o sacramento é o tempo que ele desejar. Para isso basta se preparar conforme a Igreja orienta. Pergunta: Tenho dezessete anos e ainda não sou batizada. Escolhi duas pessoas para serem meus padrinhos de batismo: a minha irmã

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e meu cunhado. Eles não são casados. Ele é separado e minha irmã mora junto com ele. Quero ser batizada por eles. Não posso esperar mais. Terei que mudar de padrinhos? Nestas condições eles não poderão ser seus padrinhos. Pessoas separadas e amasiadas não podem ser padrinho ou madrinha, como é o caso da sua irmã e cunhado. Você esperou até agora, espere mais um pouco e procure um casal que esteja de acordo com as orientações da Igreja. Caso eles sejam, de fato, muito importantes na sua vida, no dia do seu batismo faça a consagração à Nossa Senhora e peça que eles sejam os seus padrinhos de consagração. Porém, padrinhos de batismo eles não poderão ser.

Pergunta: meu namorado e eu namoramos faz cinco anos e meio e, pensamos em nos casar. O primo dele vai ser pai, mas não é casado, está apenas junto. Pensamos na possível ideia dele nos convidar para

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Pergunta: eu batizei uma criança. Há como eu desistir, tirar o meu nome e os pais escolherem outra madrinha? Não, porque você assumiu um sacramento e sacramento não é descartável, como se fosse um produto qualquer que se compra em loja ou supermercado e que, não servindo ou estando com defeito, se troca. Sacramento é para toda a vida. Ele imprime uma marca indelével na vida de quem o recebeu e, de certa forma, na vida de quem o testemunhou. Assim sendo, não há como tirar seu nome do livro de batismo e nem da vida sacramental dessa criança. Para ser coerente com o compromisso assumido, procure fazer a sua parte. Se não puder ser presença física na vida dessa criança, seja uma presença espiritual, reze por ela. É o mínimo que um padrinho ou madrinha deve fazer. Da parte dela, se não estiver satisfeita com a madrinha que recebeu no batismo, poderá, na ocasião da crisma, escolher outra que faça jus ao papel de madrinha.


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