Uma Aventura Chamada Juventude

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Padre Eduardo Malaspina

Uma Aventura Chamada

Juventude

Editora A Partilha


Agradecimento Agradeço a Deus misericordioso e fiel que capacitou-me para que este projeto se concretizasse. Com gratidão, reconheço e agradeço aqueles que participaram dessa obra: a Dom Sérgio da Rocha, atual arcebispo metropolitano de Brasília, pela leitura e os devidos comentários pertinentes. a Dom Paulo Sérgio Machado, bispo atual de São Carlos, ao menino Dinô, pela simplicidade, sabedoria e pureza, atributos próprios de uma criança à comunidade paroquial de São Nicolau de Flüe, em São Carlos, lugar onde exerço meu ministério, principalmente os dois grupos de jovens chamados Kadoshi e Shekynah, bem como a Equipe de Pastoral dos adolescentes – EPA. Expresso meu sincero obrigado à equipe de trabalho da Editora a Partilha, na pessoa do editor chefe Aristides Luis Madureira pela grandeza de coração manifestada na amizade e no fraterno acompanhamento dessa obra. Sou muito grato aos membros da Associação Ecoando de Comunicação e Cultura, nossos colaboradores, pelo empenho que demonstraram: André Gonçalves Bertolino, Alessandra Almeida da Silva, Ana Ruth Zeppon, Elton Vicente Escobar e Denis Moraes Peccin, bem como Raul de Mattos, Marcelo Henrique Alves da Silva, Márcia Figueiredo, Daniel Lavandoski Bento e a Professora Mariangela Ferreira Silva pela primeira revisão do texto .


Índice Introdução....................................................................................................... 06 I Capítulo O Criador e a Criatura Deus te amou desde o início........................................................................ 11 2º Capítulo As duas varetas A flexível – a alma humana A reta – o Espírito humano........................................................................25 3ºCapítulo A seda – O corpo frágil e resistente A beleza das formas e das cores................................................................43 4ºCapítulo A linha 10 Valores e princípios.......................................................................................63 5ºCapítulo Nas mãos de Deus Orientações na Palavra de Deus................................................................79 6ºCapítulo O cerol O pecado...........................................................................................................97 7ºCapítulo A arte de viver..................................................................................................111 8ºConclusão....................................................................................................137


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Introdução

Compreendo que minha missão sacerdotal se realiza não somente pelo exercício sacramental, que pela vocação e ofício realizo semanalmente em minha comunidade, na diocese de São Carlos, mas principalmente pela oportunidade de comunicar Deus àqueles com quem convivo. Comunicar na plenitude da palavra, quando ela se une à ação cotidiana. Com certeza, a mais desafiante tarefa de um padre. Padre, sinônimo de pai. E de um pai esperam-se palavras que consolem, esclareçam dúvidas, indiquem caminhos, repreendam com sabedoria, anunciem e denunciem com a verdade evangélica e, mais que isso, possam, acima de tudo, traduzir o amor e torná-lo presença numa sociedade marcada pela hostilidade e ausência do ágape testemunhado por Jesus e seus discípulos. Tive a oportunidade de escrever para crianças e adultos do SOS Oração, atividade espiritual que realizamos há alguns anos em nossa paróquia (São Nicolau de Flüe, São Carlos) e que para muitos, bem como para mim, é uma benção. Faltava-me o desafio de falar aos jovens. Meu editor já me cobrava há alguns meses por um novo livro, desta vez, destinado aos


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jovens, mas confesso que estava me esquivando desta proposta não somente pela falta de tempo, mas principalmente por saber quão difícil é falar com a juventude. Digo difícil não por considerar a dificuldade na comunicação com os jovens, mas pela quantidade enorme de coisas que meu coração anseia comunicar. Por onde começar? Que caminhos tomar? Como concatenar e expor,de modo lógico e atraente, todos os assuntos a serem desenvolvidos? Os jovens não apenas precisam receber a palavra de Deus, eles a merecem. Encontrar o caminho que conduz ao Senhor, na juventude é, sem dúvida, a maior garantia de um amadurecimento saudável e feliz. É vontade de Deus este encontro com os jovens. Enfim, não me faltavam argumentos para escrever. Faltava-me tempo, brecha na agenda diária. Assim, resolvi tirar uns dias para refletir e dar início a este trabalho. Fui para o litoral do Ceará, onde passei alguns dias descansando corpo e mente, no afã de encontrar o fio condutor deste trabalho. Queridos jovens, preciso desabafar algo a vocês: busquei em minha memória os muitos autores para jovens que li ao longo da vida, dentre os muitos me recordo: Padre Zezinho, Mohanna, T. Elliot e tantos outros. Pensei nas vertentes modernas de classificação das gerações: X, Y, Z, alfas etc... Pensei nos grandes filósofos que trataram sobre as angústias oriundas da juventude. E nada de encontrar o meu ponto de partida. Tinha apenas mais um dia livre e nada havia feito além de caminhar na tranquila e inspiradora praia, rezar e louvar a Deus pela escandalosa manifestação de seu amor por nós, re-


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velada na beleza natural daquele lugar e também de pedir-Lhe que me orientasse. Mas nada. Sabedor que sou de que não adianta forçar as coisas de Deus decidi: já que não iria mesmo achar o que estava em busca, deveria ao menos aproveitar meu último dia por lá. Ao final da tarde caminhei uns 600 metros do hotel em direção à praia e fiquei, mais uma vez, maravilhado com as matizes variadas com que o céu se pintava para receber a noite. A praia estava vazia. O vento soprava manso e fazia assoviar as velas enroladas das jangadas ancoradas na areia. As formas rústicas daquelas embarcações, com seus cestos envelhecidos de depositar peixes, cordas puídas e de diferentes cores, davam um toque de requinte àquele meu passeio. De repente algo me chamou a atenção. Uma pipa amarela rasgava o oceano de cores do céu. Que imagem linda! Que poder! Quanta liberdade! Quanta destreza! Em perfeita harmonia com o local. Sem perceber caminhei em direção ao garoto que, mergulhado em profundo silêncio e totalmente sozinho, realizava manobras com seus braços curtos. Olhos fitos na pipa, sua mente parecia estar no ar com ela. - Oi!!! Você quem fez este papagaio? - Foi sim, mas aqui chamamos pipa. Sentei e finquei meus olhos na pipa que, serena, ia de um lado a outro, subindo e descendo como numa dança, onde, dócil ao vento, obedecia às mãos hábeis do menino. Aliás, permita-me apresentá-lo, ele tem nome, é Dinô. Nem quis saber que derivação era. Para que outro nome se Dinô é tão expressivo e o identifica tão bem. Bendito Dinô! É bendito mesmo, pois ele,


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em sua simplicidade, presenteou-me com o ponto de partida desta obra. A luz (eureca) se acendeu quando me dei conta de que nunca havia feito uma pipa. E, curioso, quis saber o que era preciso para obter uma pipa que, de fato, voasse. E Dinô me deu uma lição sobre o assunto. - Aprendi com vô. Ele primeiro limpava bem os bambu, despois ele afinava até virá vareta. Elas não pode tá seca nem verde. Tem que tá no ponto de pipa. - De quantas varetas se precisa? - Pode sê duas, tem pipa de seis varetas, mas são grande, mas as principal são as duas, uma de enverga outra reta. - E qualquer papel serve? - Serve, mas eu só faço de seda. Ela é fininha, leve. - Mas não rasga com facilidade? - Rasga não. Faço cola de farinha branca. Mas faço ela bem ralinha e grudenta. - Nossa, mas é muita coisa que vai! Exclamei com ar de surpresa e querendo valorizar a aula que ele estava me dando. - Papel – bambu – cola – linha 10 – rabiola, é só isso. E lata Liza pra enrola a linha. Ri da maneira simples e iluminada com que ele descrevia seus conhecimentos. Ele nem imaginava que eu fosse padre. Dinô me via como alguém do sul, que não sabia nada sobre pipas. - E porque você fica aqui sozinho? Não é melhor brincar com os amigos? - Eu gosto de vê a pipa voando. Gosto de vê ela ganhando o céu. Quando tem muita gente, sempre aparece uns que botam


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cerol nas linha. - Mas não é chato fazer isso sozinho? - Nada. (sorriu Dinô, inclinando a cabeça em negativa) Eu e a pipa tâmo junto. Fiquei ali, com ele mais alguns minutos e depois fui caminhar. Durante boa parte da caminhada tive, em meu raio de visão, a pipa amarela de Dinô, imponente no céu. Meu coração se encheu da simplicidade daquele momento, deixei-me abandonar na leveza dele, naquele cenário surreal, repleto de uma alegria, que só mesmo a misericórdia de Deus é capaz de proporcionar. Dei o primeiro passo, em meus pensamentos, rumo ao ponto de partida que, ao longo dos seis dias, não havia sido capaz de encontrar. O voo da pipa amarela de Dinô foi um sussurro de Deus aos meus ouvidos e ao meu coração. Emocionado, fui acolhendo a vontade de Deus, que me chegou em ideias, como enxurrada. Mostrar aos jovens o que eles são capazes de realizar; falar-lhes quão importantes eles são no projeto do amor de Deus e que cada um nasceu para alçar voos livres e radicais em direção à felicidade. Assim, nasce esta obra. Ela não deseja ser um tratado filosófico sobre a juventude. Mas anseia ser luz a iluminar sua jornada, ser a voz de Deus a lhe chamar, amar e enviar. Obrigado, menino Dinô, por sua sabedoria, paciência e pureza. Por partilhar comigo seus conhecimentos. Obrigado Senhor, por me dar ouvidos atentos à Tua voz. Obrigado, caros amigos e amigas, por me permitirem caminhar com vocês sobre as linhas que virão.


Capítulo 1

O Criador e a Criatura

Deus te amou desde o início Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma. Nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas.

Crescei e dominai a terra...

Aqui Deus deseja que homem e mulher sejam capazes de conhecer na integralidade todos os mistérios que envolvem a criação. Que pela capacidade de pensar, discernir e realizar, as

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Após ter criado todas as coisas e visto que tudo era muito bom, Deus disse: Façamos o Homem a nossa imagem e semelhança. (Gn 1,26). Na verdade, no desejo de fazer bem todas as coisas, Deus foi buscar “dentro de si mesmo” o “modelo” para nos criar. Mas, como é o “interior” de Deus? Diz São João que “Deus é amor”. (1Jo 4,16) E, se nos fez à sua “imagem”, nos fez com amor, por amor e para o amor, como Ele. Mas se não nos bastasse criar, Deus nos criou à sua imagem e semelhança, para que, plenos da liberdade, pudéssemos dar continuidade à sua obra.

Juventude

Salmo 138,14-15


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