PASSEIO AO NORTE 1963 / 2008

Page 1

JOテグ PAULO SERAFIM / JOANA CRAVEIRO

PASSEIO AO NORTE 1963 | 2008

MIIAC / TdV



JOテグ PAULO SERAFIM / JOANA CRAVEIRO

PASSEIO AO NORTE 1963 | 2008

MIIAC / TdV



Será que uma viagem pode ser um marco temporal, estar na fronteira do quando tudo muda? A primeira viagem pode também ser a última? A melhor viagem pode ser a única? A única assim? A viagem intacta, perfeita, a viagem que quisemos mesmo fazer. A viagem perfeitamente documentada. A única viagem da qual restam 12 fotografias. Não lhe chamaram viagem, chamaram-lhe passeio. Passeio ao norte, 1963. Qual a diferença entre uma viagem e um passeio? Qual a diferença entre esta e as viagens seguintes? Porque é que deixámos de viajar juntos? Onde foi que deixámos de pensar em nós como pessoas felizes? Quando lhes perguntei se tinham sido felizes, eles responderam sem hesitar: sim, muito felizes. Com esta certeza, iniciámos a nossa investigação.


Poeira na emulsão que danificou a fotografia, Zermatt 1984

Isto faz-me lembrar a minha primeira máquina fotográfica, não, de facto, era a minha segunda, que era muito pequenina e leve, era de plástico e cabia perfeitamente no bolso, e quando eles ma deram disseram “é uma máquina fotográfica dos espiões.” Foi com esta máquina que eu fotografei uma montanha na suíça chamada Zermatt, nos Alpes Suíços, só que quando revelei o rolo, tinha estes riscos azuis ao longo das fotografias todas. Isto são poeiras a riscar a emulsão – que é onde temos o material sensível no slide, e à medida que passamos o filme, ele vai riscando, mas eu na altura não sabia, e deitei fora a máquina, porque me pareceu que estava estragada.


A minha primeira fotografia: uma montanha nos Alpes Franceses, 1984

Lembro-me que foi numa manhã, no Sud Express, nós tínhamos dormido no WagonLits e quando acordámos eu saí do compartimento fui para o corredor e pela janela tive aquela visão maravilhosa – pela primeira vez vi a montanha com neve – era aquela luz da manhã, foi um momento mágico e senti uma vontade incrível de registar aquele momento. Só que quando revelei a fotografia foi uma desilusão porque não foi nada disto que eu vi. E foi quando eu compreendi pela primeira vez que a fotografia nunca, mas nunca, poderá ser um registo exacto daquilo que nós vivemos.



Os slides que eu comprei em Budapeste e que vinham numa caixa de madeira



Os arquivistas, os coleccionadores de memórias, têm como missão recolher e ordenar todas essas imagens que ficaram, fruto da nossa ânsia de tudo registar, fruto do nosso medo , da nossa sofreguidão de gastar rolos atrás de rolos para registarmos um momento importante ou mesmo insólito.



O General De Gaule numa parada, no 14 de Julho



O meu pai tinha a mania de colocar os carros nas fotografias



Comeรงar uma viagem









Nós, ao contrário, se pudéssemos hoje aqui decidir, diríamos somos habitantes da memória, no mais profundo de um país qualquer em extinção.




As ficções







Tentar captar uma paisagem por inteiro, e n達o o conseguir.


Procurar o sĂ­tio exacto.



Duvidarmos da legenda.






Os erros na fotografia que nos fizeram n達o conseguir encontrar o lugar.



Este senhor sabia onde era o lugar,




mas quando chegรกmos lรก era muito tarde.,




Chegar ao norte





Observar as contradiçþes



Pedra batata





O carro, que eles disseram que era o carro deles, mas que viemos a perceber que n達o era, que foi um acaso






O final da viagem




O sítio mais difícil de encontrar, porque não é um monumento,



...porque desapareceu



Quero que seja dia 31 de Agosto

Quero que sejam 7 da manhã Quero ter 16 anos outra vez Quero viajar com eles, ainda Quero arrumar-me no banco de trás E quero…





PASSEIO AO NORTE 1963 CRIADO EM COLABORAÇÃO POR: JOANA CRAVEIRO GONÇALO ALEGRIA JOÃO PAULO SERAFIM DIRECÇÃO / TEXTOS: JOANA CRAVEIRO FOTOGRAFIA / VIDEO / SUPER 8: JOÃO PAULO SERAFIM SOM / DESENHOS / LUZ: GONÇALO ALEGRIA DURAÇÃO: 50 MIN

APRESENTAÇÕES: SALA POLIVALENTE DA F.C.GULBENKIAN FESTIVAL TRAMA


CONCEPÇÃO & PAGINAÇÃO: JOÃO PAULO SERAFIM FOTOGRAFIAS: JOÃO PAULO SERAFIM TEXTO: JOANA CRAVEIRO DIMENSÕES: 19.5 x 14 cm TIRAGEM: 400 CÓPIAS WWW.MIIAC.COM

APOIOS: FUNDAÇÃO GULBENKIAN TEATRO DO VESTIDO MUSEU IMPROVÁVEL IMAGEM & ARTE CONTEMPORÂNEA

© 2010 JOÃO PAULO SERAFIM, EDIÇÕES DO MIIAC


Texto de Joana Craveiro para o espectรกculo Passeio ao Norte 1963



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.