Têmperas & Temperos - Livro de Receitas

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ESCOLA DE BELAS ARTES / UFBA

TÊMPERAS & TEMPEROS LIVRO DE RECEITAS ORGANIZADOR: MIKE SAM CHAGAS

EBA A63 2020 - SLS



Universidade Federal da Bahia Escola de Belas Artes

TÊMPERAS & TEMPEROS LIVRO DE RECEITAS Organizador: Mike Sam Chagas

Semestre Letivo Suplementar 2020



Universidade Federal da Bahia Reitor João Carlos Salles Pires da Silva Diretora da Escola de Belas Artes Nanci dos Santos Novais

Professores da Disciplina Luiz Mário Costa Freire Doutor em Proyectos de Pintura pela Universitat Politècnica de València, Espanha. Maria Virgínia Gordilho Martins (Viga Gordilho) Doutora em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo Mike Sam Chagas Mestre em Artes Visuais pelo PPGAV-EBA/UFBA Túlio Vasconcelos Cordeiro de Almeida Doutor em Arquitetura e Urbanismo, pelo PPGAU/UFBA Monitora Ana Leticia Ferreira Nascimento


Alunos matriculados no SLS

Agdo Calheiros Nascimento Amanda Oliveira Gama E Narici Alexandre Pimenta Aldery Santo Adriana Sousa Fernandes da Silva Barbara Cristina Ferreira Borges dos Santos Bárbara Lucena Velloso de Almeida Cristiane Lorena Martins de Melo Claudia Loureiro Claudio Rafael Almeida de Souza Carolina Silva Euzeni Daltro Gabriel L. de Almeida Sena Gisele Mara Hadlich Graça Moura

João Pedro Moreira Silva João Victor Bahia Alves Jociene Vieira dos Santos Julia Godoy Julia da Purificacao Chaves Fadigas Kezia Chagas Leandro Conceicao Luiza Bispo dos Santos Maria Luedy Mendes Maria Santana Maria Sophia Rebouças Franco Maryana Francisco Max Argollo Norma Suely Machado Cavalcante Norton Cardoso Raquel Cardoso Rosana de Melo Costa Sandra Lucena Sandra Moreno Thaianna Nascimento Thiago de Aragao Vasconcelos

Salvador, Semestre Letivo Suplementar de 2020


Ficha Técnica Organizador: Mike Sam Chagas Projeto Gráfico e Capa: Mike Sam Chagas Imagem da Capa: Viga Gordilho Textos: Mike Sam Chagas, Viga Gordilho, Luiz Mario C. Freire, Túlio V. de Almeida e Alunos da Disciplina. Crédito das Imagens: Professores e Alunos da Disciplina, gentilmente cedidas. Contato: pintura-eba@hotmail.com



Sobre têmperas e temperos O Semestre Letivo Suplementar trouxe a nós, professores, alunos e funcionários inúmeros desafios e inseguranças. As dificuldades impostas pela prática de uma inédita modalidade de ensino para nossa Universidade, o ensino remoto, foram grandes e talvez ainda persistam por um bom tempo, dada a urgência com que tudo foi transformado. A Escola de Belas Artes, mais que uma escola é um ponto de confluência para artistas e amantes da arte na Bahia. Seu papel não se restringe à formação acadêmica. É também peça importante na própria dinâmica do contexto cultural da cidade, sendo um ponto de encontro para muitos. Por isso foi tão difícil ficar longe dos seus jardins, das mangueiras, da resenha no pátio entre uma aula e outra. Práticas e costumes de um cotidiano com muitas dificuldades, porém prazeroso na mesma intensidade. Essa impossibilidade do “estar juntos” nos revelou a condição de que a nossa casa, o nosso espaço habitado, se converte em sala de aula, ateliê, galeria e finalmente loja de materiais. A ideia central deste curso foi de que olhássemos para os ingredientes que permeiam nosso cotidiano, tentando transformar estes elementos prosaicos em matéria cromática que nos permitiria através da pintura continuar expressando, criando, agindo, existindo enfim. As receitas e práticas que compõe este catálogo/livro de receitas foram pensadas para que pudéssemos criar e produzir com elementos que estivessem à nossa mão em casa, na prateleira da cozinha, no armário do banheiro, na geladeira. Se atualmente podemos adquirir materiais de excelente qualidade e variedade em lojas especializadas, esta mesma facilidade levou a maioria dos artistas a ter uma relação distanciada com a matéria prima com que trabalha. A Cor nos é dada pronta, como mágica. Desconhecemos muito daquilo que compõem nossas tintas: as colas, as cargas, os pigmentos. Afastados destes materiais, nos afastamos também de suas origens, de sua histórias, logo, nos distanciamos das experiências humanas que deram substância a estes produtos. Talvez a verdadeira mágica esteja em redescobrir estas experiências, produtos e histórias. Assim, mesmo distantes, nos conectamos através destes temperos, folhas, frutos, terras e sementes... Profº Mike Sam Chagas


A Cozinha da Pintura O componente EBA A63 – Têmperas e Temperos: Tintas artesanais em experimentos caseiros foi ofertado na modalidade não presencial aos alunos regulares da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, a partir de 08 de setembro de 2020, seguindo as recomendações emergenciais de saúde pública, em combate a pandemia causada pelo novo Corona vírus, Covid – 19. O conteúdo programático teórico e prático deste componente curricular foi aplicado através de webconferências, abordando aspectos históricos das têmperas e a evolução de outras técnicas pictóricas, desde as pinturas rupestres elaboradas na Pré-História da Europa, passando também pelos sítios de arte rupestres da Bahia, magnificamente registrada pelo Professor Carlos Etchevarne, em 2007. Nos ensaios para a elaboração dos estratos das pinturas à têmpera, demonstrados pelo professor Mike Sam Chagas e professor Túlio Almeida, foram utilizados conhecimentos teóricos em uma abordagem artística e científica, aplicando noções inerentes da construção da base de preparação, composta de aglutinantes proteicos e vegetais, adicionados a cargas inertes. São saberes básicos citados nos tratados antigos de Cennini (1947), Vasari (2011) e Nunes (1767), excelentes referências para a construção das pinturas clássicas e contemporâneas que ainda empregam saberes antigos da arte, compatíveis com aspectos mecânicos dos variados suportes rígidos ou maleáveis, testados em ensaios laboratoriais. Nas discussões sobre composição da película pictórica, foram sugeridos a demonstrar conhecimentos científicos, trabalhando com os pigmentos ativos inorgânicos, principalmente os óxidos de ferro, fáceis de serem adquiridos, com possibilidades de manuseio nas fases de refinamento: limpeza (peneiramento) e decantação, o que facilitará a elaboração das cores. Diante da possibilidade de intoxicação através de inalação, ingestão ou absorção cutânea dos solventes orgânicos voláteis e pigmentos tóxicos, nas oficinas oferecidas para a manipulação dos pigmentos ativos e inertes, foram liberadas informações básicas de segurança e prevenção de acidentes. Outra preocupação foi à manipulação dos preservativos e fungicidas na constituição das têmperas, sabendo-se que os experimentos do “Ateliê Livre”, seriam desenvolvidos nas residências dos discentes.


Em continuidade a atividade programada esteve presente como Artista Convidada, a professora Dra. Maria Virgínia Gordilho Martins, que diretamente do seu ateliê, proferiu a palestra “Cores, Tintas e Afetos”, transmitindo informações tecnológicas do vasto material do seu conhecimento artístico. Foi sugerida pela professora, a proposta para a elaboração do “Livro de Artista”, com registros das práticas desenvolvidas pelos alunos desta disciplina.Para o conhecimento da cor na composição modular, o professor Dr. Luiz Mário Costa Freire, também por webconferência, proferiu palestra com breve retrospectiva de alguns trabalhos elaborados durante a sua vida artística, enfocando estudos para composição decorativa de estampas, carimbos, azulejos, painéis e tapeçarias, com a possibilidade de serem pintadas com as tintas produzidas no Ateliê Livre. Em transmissão direta pelo Studio da EBA, montado na sala de restauração, os professores Túlio Almeida e Mike Chagas, desenvolveram o “Laboratórios de Cores e Tintas” onde demonstraram a possibilidade de trabalhar com materiais não convencionais como corante vegetais, temperos, farinhas e terras variadas. Nesta oportunidade, utilizaram algas marinhas de spirulina, extrato da raiz do açafrão e urucum, tintura de água de feijão, fusão de casca de caju, dissolução de sementes de uva, páprica (pimentão), em uma profusão de cores vegetais, extratos impregnados a quente, em tecidos e papeis acentuados por texturas de diferentes fibras, demonstrando as diversas possibilidades do emprego dos corantes e pigmentos. Os ensaios caseiros dos discentes frutificaram um aprendizado muito rico no uso de fixativos, em uma busca incessante na estabilidade das cores. O manejo individualizado dessa tecnologia esteve acompanhado de forma remota pelos docentes. E diante do entusiasmo dos participantes, o Coordenador da Disciplina, professor Mike Sam Chagas sugeriu a elaboração do “Livro de Receitas”, digital, composto com registros de todos os participantes, lançado no dia 17.12.2020, como parte das atividades de comemoração aos 143 anos da Escola de Belas Artes. A convivência artística impulsionada pela comunicação digital da disciplina “Têmperas e Temperos”, despontou um caminho a percorrer. Novamente o fazer artístico institui afinidades com a pesquisa científica, estimulando a capacidade criadora dos indivíduos. Desta maneira, diante das experiências vivenciadas, a arte que habitava os ateliês, também reconheceu nas bancadas frias dos laboratórios uma nova morada. Profº Túlio Vasconcelos



Agradecimentos Aos professores-artistas Maria Luedy Mendes, Lucimar Bello, Hugo Fortes e Renata Teles que contribuíram de maneira inestimável, com muito afeto e generosidade para que este curso se expandisse através dos diálogos, palestras e encontros compartilhados. Aos funcionários Anderson, Paula, Sinval, Joana e Ivânia pelo auxílio e proteção à Escola de Belas Artes. A Graça Moura e Débora Passos pela dedicação e carinho com os gatos da EBA. À monitora Ana Letícia Luz da Alegria pelo apoio na disciplina e amparo aos estudantes. Aos familiares e amigos pelo amor, compreensão e suporte em tempos tão difíceis.


À Escola de Belas Artes da UFBA pelos seus 143 anos


EXPERIMENTOS


Atenção: Os procedimentos descritos neste catálogo são indicados para uso profissional e adulto. Determinadas práticas não deverão ser executadas por e para crianças, quer sejam em escolas, oficinas ou em casa, pois oferecem riscos à saúde devido a sua toxicidade. Os procedimentos considerados seguros para o público infantil serão indicados no texto de cada uma das receitas, porém mesmo estes deverão ocorrer sob a supervisão de um adulto. O descarte de materiais deverá ser feito conforme a indicação dos fabricantes a fim de minimizarem os impactos ao meio ambiente. Mesmo que as receitas tenham sido todas testadas previamente durante as pesquisas, não nos responsabilizamos pela sua utilização ou por quaisquer outros acidentes que possam vir a ocorrer por alterações ou substituições das misturas e modos de preparo, bem como quaisquer patologias, alergias ou intoxicações decorrentes do manuseio dos produtos indicados. Procedimentos de segurança deverão ser adotados e equipamentos de proteção individual deverão sempre ser utilizados a fim de evitar acidentes.


Alexandre Pimenta Lake Pigment Trata-se do produto da reação entre o alúmen de potássio (pedra hume) e o carbonato de cálcio, dissolvidos em um chá corante, de acordo com a receita:

CHÁ CORANTE Para a extração dos corantes das matérias escolhidas, foi feito um chá. Depois da cocção a matéria sólida foi separada do líquido.

MORDENTE Para oportunizar que o corante, em sua forma líquida, retivesse as propriedades de cor, foi utilizado o alúmen de potássio em pó, também conhecido como pedra hume.

A RECEITA Chá (extração a quente): Matérias sólidas. 400 mL de água. Nos experimentos desse trabalho foram utilizados cascas de cebola branca e roxa, hibisco, amora, páprica, casca de romã, repolho roxo, beterraba e chá verde.


OS CORANTES EM PÓ Para a obtenção do corante em pó adiciona-se alúmen de potássio em pó no chá/corante ainda morno. Espera a dissolução e se acrescenta o carbonato de cálcio.

MOAGEM Quando seco completamente, levar o material ao almofariz, para triturá-lo em um pó fino. Armazenar em frasco fechado e em local livre de luz e umidade.

A REAÇÂO QUÍMICA

A RECEITA

Com a mistura desses dois compostos no corante, uma reação química acontece, gerando gás carbônico e a precipitação de um sal. O alúmen faz a cor se fixar nesse produto da reação.

Solução:

FILTRAGEM Quando a reação química se finaliza, o líquido e o sal precipitado são postos em um filtro de papel para separá-los. Após, abrir o filtro de papel e deixá-lo secar naturalmente, fora do alcance da luz solar.

4 colheres de chá de alúmen de potássio em pó. 4 colheres de chá de carbonato de cálcio em pó.


A. Rosa Oliveira

Repolho Reagente Há muitas formas de olhar algo tão comum quanto um item alimentício como o repolho. Eu o encarei como um mistério. E como tal, investiguei seus caminhos e possibilidades. Testei suas camadas e elas me testaram em retorno. Ingredientes Repolho inteiro 1 Colher de sopa de bicarbonato de sódio 15ml de Vinagre Meio litro de água Modo de Fazer Desfolhe todo o repolho, lave suas folhas e descarte as que estiverem estragadas. Em seguida, corte em pequenos pedaços. Adicione uma parte no liquidificador com um pouco de água e triture. A medida em que o repolho for triturado, adiciona-se um pouco mais de água e mais partes do repolho cortado, até que ele inteiro esteja triturado e numa textura pastosa. Leve essa mistura ao fogo, numa panela esmaltada, adicionando um pouco mais de água. Depois que levantar fervura, desligue o fogo, deixe esfriar e coe tudo num coador de pano. Adicione o líquido coado a uma panela esmaltada, adicione mais água e 1 colher de sopa de bicarbonato de sódio, espere efervescer, mexa e adicione o vinagre, acenda o fogo.


A reação entre o bicarbonato e o vinagre no repolho transforma seu líquido de um púrpura profundo em um tom turquesa vacilante entre verde e azul. Adicione o tipo de fibra natural que deseja tingir, deixe absorver o corante enquanto o fogo ainda está aceso, sempre brando, não deixar ferver mais que uma vez. Após aproximadamente 40 minutos, desligue o fogo e deixe as fibras de molho no corante por uma hora. Retirar as fibras e lava-las em água corrente. Deixar secando a sombra. Usar como quiser. É importante manter-se atenta a elevação demasiada de temperatura. Se esta elevar demais, o tom de azul turquesa muda. Essa receita pode variar de tom conforme a quantidade de bicarbonato e vinagre adicionados, podendo ir do verde escuro ao rosa quase magenta.

Obs: Nem sempre o tom do líquido irá manter-se com a mesma tonalidade depois de fixado nas fibras, como podemos ver na imagem.

Liquido corante resultado da receita apresentada.

Resultado do tingimento de linha de algodão cru, linha de algodão branca e estopa.


Euzeni Daltro

OFERECER O ATO QUE GERA O RECEBER Alguidar. Esse utensílio circular de barro tem utilidades não apenas nas nossas cozinhas, mas sobretudo nas cozinhas sagradas das religiões de matriz africana. Na umbanda, por exemplo, o alguidar de barro é comumente utilizado para colocar as oferendas que serão feitas às divindades e entidades durante os rituais, prática que liga esse utensílio ao ato de oferecer. E, no meu modo de ver, o ato de oferecer é inerente ao modo como cada indivíduo se relaciona consigo mesmo e com o outro. Aqui, em Têmperas e Temperos, o alguidar foi cuidadosamente trabalhado com duas bases de preparação para receber a têmpera de açafrão-da-terra, uma especiaria de origem indiana com propriedades anti-inflamatórias e capazes de aumentar a imunidade, entre outros benefícios. O alguidar nos lembra que tudo o que a gente recebe está diretamente relacionado ao que a gente oferece. E nos questiona: o que você tem colocado no seu alguidar? O que você tem oferecido no seu alguidar? O que você tem permitido que coloquem no seu alguidar?


A têmpera: açafrão-da-terra NOME CIENTÍFICO: CURCUMA LONGA L./ FAMÍLIA: ZINGIBERACEAE

O açafrão-da-terra, também conhecido como cúrcuma, é uma especiaria originária da Índia, onde tem lugar de destaque na culinária. Por lá, esse condimento é muito usado na preparação de massalas, uma mistura de especiarias utilizada em refeições diversas, mas também no tingimento de tecidos. Além da cor e sabor marcantes, o açafrãoda-terra possui diversas propriedades terapêuticas e isso o colocou no foco de pesquisas científicas que investigam sua relação com a prevenção e o tratamento de diversas doenças, a exemplo do câncer. Como se não bastasse, o açafrão-da-terra ainda rende boas têmperas. Na receita que segue, é possível obter tons mais avermelhados se retirar o polvilho doce e colocar uma quantidade menor de bicarbonato de sódio. Ou seja, em vez de seis colheres de chá, quatro ou duas colheres de chá. Durante as primeiras horas após a preparação, a têmpera sofre mudanças na tonalidade, mas depois a cor estabiliza. Vamos aos ingredientes: 1 gema 2 colheres de chá de açafrão-da-terra 1 colher de sopa de cola de CMC (Carboximetilcelulose) 6 colheres de chá de bicarbonato de sódio 7 gotas de óleo essencial de melaleuca 1/4 de colher de chá de alúmen de potássio 1 colher de sopa de albumina (liberada alguns minutos após bater a clara do ovo em neve) 1 colher de sopa de polvilho doce


As bases de preparação CÁLCIO DE OSTRA E FÉCULA DE BATATA

Para este trabalho, foram desenvolvidas duas receitas de base de preparação, sendo uma com o cálcio de ostra e a outra com a fécula de batata. As fotos ao lado mostram o processo da base com a fécula de batata, a qual deixa a superfície do suporte com um aspecto liso. Em ambos os casos, a cola utilizada foi a de CMC e o fungicida o óleo essencial de melaleuca. As duas bases foram feitas com as mesmas proporções de ingredientes, mas, caso prefira uma textura mais fluida, acrescente um pouco de água filtrada. Vamos às proporções: 1 colher de sopa de cola de CMC, 1 colher de sopa de cálcio de ostra/ fécula de batata, 3 gotas de óleo essencial de melaleuca.

O suporte Alguidar de Barro

O utensílio deve passar por um processo de lixação antes de receber a primeira camada de base de preparação, feita com o cálcio de ostra. Sobre essa base já seca, deve-se aplicar uma camada de cola de CMC e depois mais duas camadas de base de preparação de fécula de batata. Estas últimas devem ser intercaladas por uma camada de cola de CMC. É necessário esperar o tempo de secagem de cada ingrediente, antes de acrescentar o próximo. Só então, o alguidar estará pronto para receber a têmpera de açafrão-da-terra.

Esse alguidar de barro é parte de uma obra, cujo desenvolvimento está em processo.



Júlia da Purificação Chaves Fadigas

Tintas de terra: no Rastro do Samba Tinta a base de terra é uma opção econômica por ser um recurso natural, além de serem usadas de diversas formas e em suporte diferentes como: papel, parede, tecido entre outros. A vantagem de usar a terra como pigmento que não tem custo e é sustentável. Pode ser encontrada em qualquer lugar de cores variadas, seu pigmento é bem ativo que pode ser diluído em aglutinante como: goma arábica e para deixar mais espessa a diluída, além de ser bastante fluida. Misture o pigmento da terra junto a goma arábica e mexa com uma espátula até ficar uniforme, se quiser colocar água ela fica mas fluida, para isso coloque com um contra gota se tiver, se não, use aos poucos e vá vendo a consistência desejada, para deixar transparente coloque mais um pouco de água.


Importante: quando for pegar a terra observe se a mesma solta a cor ao manuseá-la, pois, quanto mais pigmento soltar melhor.


ANA doNascimento Tinta Para Exu. Materiais:

Materiais

Tinta Para Exu.

Aglutinante: óleo de linhaça; Pigmentos: bastão de carvão para desenho (38 uni.) e tabaco (1 charuto); Almofariz; Mesa de vidro ou outro suporte similar (foi utilizado um Espelho apoiado no chão sobre tecido grosso) Moleta (foi utilizado um cristal como substituição); Recipientes para colocar os pigmentos e a tinta pronta; Espátula (foi utilizada a nº 24); Frigideira; Fogão; Pincel e papel ou tecido para testes

Passo 1: Triturar os pigmentos O carvão pode ser triturado diretamente no almofariz até que se obtenha um pó bem fino, também pode ser lixado antes de passar pelo almofariz, dependerá da textura que se quer dar à tinta. Quanto mais fino, mais próximo das tintas industriais irá ficar. Mo meu caso, optei por uma tinta com mais textura, então, não lixei o carvão antes. Já para o tabaco é necessário desfazer o charuto e tostar as folhas na frigideira, sem deixar queimar, só o suficiente para que saia o máximo possível de água das folhas, que já estão secas, mexendo e "esfarelando" com a mão ainda na panela. Depois, basta retirar as fibras que ficam mais evidentes e passar o "farelo" das folhas no almofariz.


Passo 2: Misturar a tinta Despeje o pigmento sobre o vidro, abra um espaço quadrangular no meio para acrescentar o óleo, misture bem com a espátula. Repita o processo quantas vezes for necessário até obter uma textura pastosa, sempre acrescentando o óleo aos poucos. Depois de obter uma pasta que se aproxime do que é uma tinta à óleo, passe a moleta (ou o cristal, no caso) em movimentos circulares, com pressão e força para que pigmento e óleo se fundam bem. Ao finalizar, basta colocar a tinta em uma embalagem própria para tintas à óleo, ou em um pote de vidro, hermético de preferência, e utilize quando quiser.


Gisele Mara Ovos e Ninhos

A decoração de ovos representa, há mais de 3 mil anos, festejos da chegada da primavera, da fertilidade terra e dos animais. Simboliza o início da vida. Para saudar a vida: OVOS! E onde há ovos, há NINHOS!

Ao utilizar o ovo quebre-o o mais na ponta possível e retire a pele interna passando a ponta do dedo na casca. Deixe secar.

Para fazer os ninhos, junte fiapos/fibras de manga; lave em água corrente e deixe secar. Pese a fibra e coloque para ferver, por uma hora em água com bicarbonato de sódio (1colher sopa/3l de água); escoe. Repita a operação até que a água escoada esteja limpa. Enxágue em água corrente.


Coloque fibra em solução com alúmen(10g/100g de fibra seca). Ferva por 5 minutos e desligue. Deixe esfriar e tire o excesso de água. Prepare as soluções para o tingimento com pigmentos ou coreantes que desejar. Coloque as cascas de ovos e a fibra de manga umedecida nas soluções e deixe ferver por uma hora. Retire o material da solução e deixe secar. Para modelar os ninhos, deixando-os mais rígidos aplique uma camada de Cola de CMC durante a modelagem.


Kézia Chagas

Pintando com café O alto, intenso e vibrante canto dos pássaros compõem a trilha sonora do meu estar em casa. O lançar de sementes na terra curiosamente fértil do nosso quintal fez germinar um pé de chuchu que agora trepa sobre o varal, abraçando toda superfície que encontrar como apoio para seu constante crescer. O cheirinho do melhor café feito por minha mãe, agora desperta a vontade de pintar provocada pela descoberta deste como corante dono dos meus novos e preferidos tons de marrom e sépia aquarelados. Técnica, matéria e inspiração encontrados em simples e pequenos atos do meu dia-a-dia, capazes de despertar um brilho nos olhos e afetar meu fazer e ser artístico...


Misture uma colher de pó de café solúvel com uma pitada de sal. Acrescente água aos poucos (em temperatura ambiente), dosando a quantidade a fim de alcançar a concentração desejada para a fluidez. Com base em técnicas de aquarela, realize a pintura.

Utilize como suporte uma superficie de maior gramatura que permite a aplicação de diversas camadas de aguada. Com uma folha de sua preferência, aplique a mistura de uma colher de café mais 4 gotas de mel. A utilize como carimbo sobre a pintura, pressionando com os dedos por cerca de 30 segundos. Use o pó do café para experimentar texturas e intensidades diferentes em um mesmo trabalho


Luíza Bispo

Têmpera Acerola Corante 400 g de acerola Modo de preparo: Para a extração do corante, coloque a acerola num recipiente e macere até extrair todo o caldo da fruta. Em seguida, coe numa peneira de malha fina.

Tingimento 200 ml do corante quente; ½ de café de alúmen de potássio; 1 colher de sopa de água quente; ½ colher de café de bicarbonato de sódio. Modo de preparo: Para uma cor mais vibrante, adicione o alúmen recipiente

de

potássio, e

misture

a

água

até

num

dissolver,

acrescente também o corante. Em seguida, ponha o tecido da sua preferencia e deixe por cerca de 1 hora. Para uma cor mais clara, basta adicionar o bicarbonato de sódio.


Têmpera com Maltodextrina 2 colheres de sopa de do corante; 1 colher de café de maltodextrina; 2 gotas de óleo de cravo. Modo de Preparo: Num recipiente pequeno, adicione o corante, a maltodextrina e o óleo de cravo e misture até ficar homogêneo

Têmpera com Goma Xantana 3 colheres de sopa de do corante; 1 colher de café de goma; 150 ml de água; 2 gotas de óleo de cravo. Modo de Preparo: Num recipiente, adicione a água, a goma xantana e deixe hidratar por cerca de 2 horas

ou

até

formar

uma

pasta

translúcida. Caso ainda possua grumos, leve ao liquidificador até dissolvê-los. Com a incorporação de ar, fica uma pasta mais turva e cuidado para não danificar o liquidificador, devido à espessura nesse processo.

Num

recipiente

pequeno,

adicione o corante, ½ colher de café da pasta da goma e o óleo de cravo, misturando até ficar homogêneo.


Max Victor de Castro Argollo Fazendo Nós

É bastante acessível tingir pequenos fios, tudo que precisa são os materiais que irá usar como corante; um recipiente para a mistura (que suporte ser levado ao fogo); água; mordente (utilizei ou sal ou bicarbonato de sódio); e o fio. - Coloque no recipiente (de preferência de 250 a 300ml) água até a metade; - Em seguida o material que deseja extrair corante (proporcional à tonalidade que deseja alcançar, ex: Duas colheres de chá com açafrão) - Adicione o mordente (para essa proporção de água, apenas uma colher de chá basta) e misture; - Ponha o fio e leve ao fogo até começar a borbulhar, ou o fio afundar na mistura; - Mantenha o fio ainda na mistura, mas fora do fogo, por 30 minutos; - Após o tempo, retire o fio e deixe secar (secagem no sol ou na sombra interfere na absorção final dos corantes).


Nós, amar(r)ações. Nós, primeira pessoa do plural.


Maria Sophia Rebouças Franco A Metamorfose das Cores com repolho roxo Uma das belezas de pintar com ingredientes naturais é observar como as colorações se alteram. Uma das receitas com que mais gostei de trabalhar, exatamente por essa razão foram as das têmperas de corante de repolho roxo, com a qual podemos obter três tonalidades: roxo, rosa carmim e azul. Ingredientes: Um repolho roxo pequeno - ¼ de limão - Uma colher de chá de bicarbonato de sódio - Alúmen de potássio ou sal - Um filtro de café ou um pano antigo - Algum tipo de goma para usar como aglutinante (goma arábica, goma xantana, de tapioca ou até mesmo cola branca) - Óleo ou essência de cravo (para usar como fungicida).


Modo de preparo: 1. Rale seu repolho roxo e com o filtro de café ou pano esprema até sair seu suco em um potinho, adicione uma pitada de alúmen ou sal e mexa até derreter. Reserve um pouco desta parte, ela já é o nosso corante roxo;

É importante dizer que por essas tintas terem sido feitas a partir de corantes e não de pigmentos elas tendem a desbotar com o tem e com a ação da luz. E continue a observar suas pinturas porque elas também podem mudar de cor! O meu azul virou verde amarelado e meu rosa fico mais roxo com alguns pontos azuis.

2. Divida o restante do conteúdo em dois recipientes, em um deles adicione o limão e no outro o bicarbonato de sódio. Vá adicionando tanto o limão quanto o bicarbonato devagar e pare quando tiver chegado aos tons desejados; 3. Separe três recipientes do aglutinante de sua escolha diferentes e adicione 10 gotas de óleo de cravo em cada um; 4. Vá adicionando os corantes aos poucos até atingir a cor e a consistência adequados, é pronto!


MIKE SAM CHAGAS

Têmpera Spirulina A Spirulina é um suplemento em pó obtido a partir de algas. Pode ser encontrada em lojas de suplementos, ervas, feiras e supermercados. Rende boas tintas para gravura (se mais espessa) para aquarelas (se mais diluída) ou para guache, se acrescentada carga. - Misture o pó com uma parte igual de goma arábica e mexa com espátula até ficar uniforme. Acrescente água aos poucos, variando a quantidade conforme a fluidez desejada. Para torná-la opaca ou clarear acrescente pasta de dente ou talco. - Para suporte o guardanapo de papel pode receber imprimaturas de gesso cré mais cola ou encolagem de resina acrílica para ficar menos absorvente e mais resistente.


Corpo, meu Corpo o que será do Corpo?


Raquel Cardoso Tecendo Memórias

MACERAÇÃO E DECANTAÇÃO Macerar a terra até que fique em grãos bem finos. Colocar essa terra macerada e peneirada em um pode de vidro com água e deixar decantar por 48 horas, depois desse tempo ir retirando a parte mais fina, a que está por cima, a parte mais grossa pode ser usada para o tingimento, colocar essa terra decantada em pequenas bonecas de tecidos e deixar secar. No processo realizado para maceração foi usado uma placa de vidro e um cristal. MORDANÇAGEM colocar o tecido na água fervente com 1 colher (sobremesa) de alúmen de potássio, deixar ferver por 30 minutos. Aconselha-se usar de 8 a 15% de alúmen sobre o peso da fibra. ÓXIDO DE FERRO - colocar uma palha de aço de molho no vinagre com um pouco de água, deixar por no mínimo 72 horas.

TINGIMENTO COM TERRA Colocar duas bonecas contendo a terra na água fervente, acrescentar a água da mordançagem e duas colheres (sobremesa) de cloreto de sódio (sal), colocar o tecido ainda molhado da mordançagem e deixar por 1 hora e 20 minutos em fogo médio/baixo, desligar o fogo, deixar esfriar e lavar em água corrente até sair todo excesso do corante.


TINGIMENTO COM A ÁGUA DO FEIJÃO PRETO Colocar 01 Kg de feijão preto de molho por 10 horas, trocar a água e deixar por mais 1 hora. Levar essas duas águas ao fogo, quando estiver bem quente acrescentar a água da mordançagem e colocar o tecido, deixar em fogo médio/baixo por 1 hora, deixar esfriar e lavar em água corrente. Antes de colocar o tecido na água do feijão é necessário fazer o processo da purga e da mordançagem. IMPRESSÃO BOTÂNICA Embebecer o tecido no vinagre por 4 horas, esticar o tecido e colocar as folhas banhadas no óxido de ferro, de duas em duas, uma de frente para outra, dobrar os tecidos duas vezes e enrolar no tubo de PVC (pode ser em tubo de alumínio ou no bambu), amarrar bem firme com barbante, colocar em água fervente com duas colheres (sobremesa) de alúmen de potássio.

Deixar em fogo médio por 1 hora e 30 minutos, desligar o fogo e deixar esfriar, retirar da água e deixar secar ainda enrolado por umas 6 horas, desenrolar, retirar as folhas, lavar e deixar secar a sombra.


PINTURAS E BORDADOS Pegar dois cabos de vassoura, fazer uma ponta em uma das extremidades dos cabos e lixar. Misturar massa acrílica com pigmento de terra e aplicar na bola de isopor, lixar e colar na outra extremidade do cabo de vassoura. As pinturas foram feitas com pigmentos de açafrão, terra, beterraba e pó xadrez diluídos em água e cola. Os círculos são tecidos tingidos com terra e água do feijão. Os bordados são feitos com linhas tingidas com corantes naturais de açafrão, água do feijão, casca de cebola e salsa.

CORTAR E TECER Cortando fios, tecendo histórias, assim é esse meu trabalho, referência de vida e memórias impregnadas no tecido manchado pela tinta. Pintados, bordados, recortados. Nesse extenso fio de vida entrelaçado aos largos passos da agulha:

a busca, a construção, o crescimento e o desenvolvimento.



Bahia ENCÁUSTICA COM PARAFINA DE CARNAÚBA Munido da falta de dinheiro e revoltado com a quantidade insuficiente de insumos para criação de pinturas a cera, eu fui atrás de opções mais baratas porem teoricamente duradouras de encaustica, logo me deparei com uma ideia que eu já vinha contemplando a algum tempo, uma tentativa de encaustica com parafina então me inspirei e fui buscar criar um médium mais acessível mas que também poderia se moldar muito melhor as minhas necessidades enquanto artista.

Na imagem: EPI's, insumos para preparação, panela, fogareiro, tinta pronta em formas redondas, colheres para mistura, bastões de cera encaustica pinceis e espatula para aplicação.

Para essa receita são necessários os seguintes instrumentos: uma panela, um fogareiro elétrico ou outra fonte de calor (de preferência sem chama), uma forma para deixar o médium endurecer. Dito isso, algumas precauções devem ser tomadas ao trabalhar na confecção de médium e ao pintar com encaustica, deve-se usar os EPI tais como: luvas de proteção para líquidos quentes (acima de 80°), avental, sapatos fechados, calça comprida, máscara de proteção com filtro, óculos de proteção. Há risco de queimaduras, intoxicação por gases e chamas neste experimento então é recomendável ter o devido respeito e cautela.


Para este médium são necessários os seguintes insumos: cera parafina, cera carnaúba, óleo de linhaça comum, verniz damar e carbonato de cálcio, nas seguintes proporções medidas em gramas: INSUMO

%%%%%%

Carbonato de cálcio Verniz damar Óleo de linhaça Cera parafina Cera de carnaúba

11% 5,6% 11% 39% 33%

A receita deve ser feita da seguinte maneira: Em uma panela junta se em ordem e mexendo de maneira constante a parafina e a carnaúba, depois o damar e o óleo e por fim o carbonato de cálcio, mexendo tudo muito bem até ficar completamente homogêneo. A fonte de calor deve permanecer constante e baixo. Pode-se separar esse médium em forminhas criando pequenos tabletes ou em uma grande forma tornando-o um grande solido. Pode-se também caso seja este o desejo do criador adicionar o pigmento conforme o tom desejado e começar a pintar. O carbonato de cálcio foi adicionado para conferir um pouco mais de opacidade e diminuir o amarelo do médium. O verniz damar e o óleo de linhaça foram adicionados para diminuir o ponto de fusão da encaustica e conferir a ela maior elasticidade. A cera parafina é o que compõe maior parte do corpo da substancia, ela tem um ponto de fusão muito baixo e tende a craquelar. A cera carnaúba serve para conferir um maior ponto de fusão e dureza ao médium quando seco.

tintas quentes no fogareiro prontas para pintar, pintura completa, pigmentos em pó e bastões de cera encaustica


Sandra Lucena Primavera na Quarentena

Orquídeas e Têmperas Têmpera Açafrão Ingredientes

Têmpera Páprica Ingredientes

Açafrão da Terra em pó Alúmen de Potássio Água

Páprica em Pó Alúmen de Potássio Água

têmpera usada na pintura da bandeja de MDF

têmpera usada na pintura da bandeja de MDF


Quadro com fundo de estopa usando orquídeas secas e folhas caídas que fui recolhendo ao longo desta "primavera na quarentena"


Gisele Mara Preparando a Cola de Pele de Coelho

A cola de pele coelho é um aglutinante orgânico e foi muito utilizada em séculos passados, como adesivo e selador. Ainda hoje é utilizada em douração e como aglutinante na pintura artística.

Pegue uma pele de coelho fresca e limpe-a, raspando com faca os restos de carne e gordura da parte interna. Em seguida, mergulhe a pele de coelho em água quente (máximo 80ºC) e retire-a; ao puxar os pelos, eles soltarão facilmente da pele. Corte a pele em pedaços bem pequenos e deixe de molho por, no mínimo, 24 horas. A água deve cobrir os pedaços de pele.


Leve a pele com água ao banhomaria e, com termômetro, mantenha a temperatura entre 60 e 70º C por uma hora, mexendo de vez em quando. Coe o material ainda quente e acrescente 10 gotas de óleo de cravo. Guarde na geladeira e use em até três dias. Ou deixe secar ao sol. Após secagem guarde os pedacinhos em local seco. Para usar, adicione 100 mL de água para cada 10g de cola e deixe de molho por 24 horas. Para dissolver a cola, aqueça em banho-maria, sem ferver. Adicione gotas de óleo ou essência de cravo. Use para fazer encolagens ou imprimações.


Graça Moura Têmpera Buganvília sobre Papietagem Papel Artesanal e Papel machê (Através de técnicas francesas) Técnica do amolecimento do papel, em água com cloro, por uns 15 dias. Depois tritura no liquidificador, põe num balde e com uma peneira fina vai retirando pequenas porções de papel, deixa escorrer a água, com cuidado, bate a peneira num pano e põe pra secar no varal com pegadores. Depois retira o papel, já seco, preso ao pano.*Papietagem:*Técnica que usa recortes de papel grosso ou papelão fino, mergulha esses recortes numa cola diluída, em um pouco de água, e vai construindo, em alguma superfície, camadas de papel coladas uma sobre as outras. Obtem-se, com essa técnica, uma superfície rígida, com a dureza da madeira.



Norton Cardoso Tingimento de Aroeira

Há magia nas olheiras debaixo de meus olhos. Há magia nas luas que gastei entre orações e pesquisa, medindo água e sais, misturando ervas, procurando incansavelmente a cura para as feridas de um povo que, assim como eu, morre por existir e amar fora da norma. No meu jardim, encontro a árvore de minha vida e minha morte: a aroeira, poderosa cicatrizante, que como eu, precisa ser ferida para fechar as veias abertas do mundo. Tomo duas mãos cheias de suas cascas, ponho em uma caçarola a fogo alto, e as fervo por meia hora em um litro de água limpa. Os panos para o curativo descansam submersos numa solução de meio litro de água e uma colher de sal grosso por pelo menos 40 minutos, para que o tingimento se fixe.


E sobre os corações, mentes, almas, peles e pulsos feridos – que também são meus – ponho a cura: um punhado das folhas de minha vida e morte, macerado em uma tigela, com água quente suficiente para formar uma pasta consistente. Aplico direto sobre a ferida, cobrindo com duas camadas de gaze, e ponho o pano tingido logo em seguida. Assim, fecham-se anos de culpa e autoflagelo. Anos longe do sol, sob as cinzas da condenação, apodrecendo em normas engessadas que apagam o brilho de minha essência. A paz está feita. A cura foi encontrada. Até a completa cicatrização, o curativo deve ser renovado diariamente, com o amor e cuidado devidos à pele que abriga o paciente – e que também é minha..


Sandra Moreno Quem você convidaria para jantar? ConVIDA! O Projeto foi pensado para integrar os ingredientes da cozinha às pessoas num evento socializante, como um jantar. Quem você convidaria para jantar? ConVIDA! Nesse contexto de isolamento social, provocado pelo COVID-19, convidar alguém para jantar é convidar para estar perto, o que hoje é uma ação de risco, mas aqui se propõe a um convite à esperança, um convite ao afeto, um convite a servir o outro, a compartilhar alimentos, sentimentos, emoções, sentidos. É um convite à VIDA! A disciplina Têmperas e Temperos: tintas artesanais em experimentos caseiros, oferecida para o Semestre Letivo Suplementar - SLS, elevou e ampliou o meu olhar para outras possibilidades, quando nos propôs conhecer o potencial pictórico que a cozinha pode nos oferecer, através de raízes, plantas e ingredientes. Ao longo do processo de conhecimento e experimento dos materiais, a cozinha se transformou num ateliê. Pigmentos e corantes naturais foram obtidos da natureza, da despensa da cozinha, das feiras, mercados e foram utilizados para tingir roupas, corpos, cabelos, pintar objetos e pratos do Cardápio.


O FOGO e o CARVÃO esquentam a comida. O VINHO aguça os sentidos e desperta os sentimentos. A SALADA, o PRATO PRINCIPAL, a SOBREMESA e o CAFÉ compõem o Cardápio.


Profª Viga Gordilho Artista convidada


Para a TTT: turma de têmperas & temperos. O semestre suplementar da UFBA de 2020 foi um verdadeiro ritual de passagem para mim – uma celebração! Em novembro desse ano, me aposentei. Em minha despedida da graduação, uma experiência singular: retomar, o significado original e o sentido, no contexto atual, da palavra têmpera.

comparTRILHAmentos com a TTT e a artista africana Celia DeVilliers

Sua origem latina remete a temperare: combinar em proporções devidas, temperar, abrandar, regular, ordenar, modular, moderar, refrear, e adentrar, literalmente, na cozinha, lugar preferido dos alquimistas, na Europa renascentista, onde aproveitavam a proximidade do fogo para tramar suas fórmulas mágicas... Com essa inspiração, os estudantes trabalharam com diferentes materiais, condimentos e ingredientes: açafrão, urucum, chás, verduras, sementes e flores coloridas, beterraba, cenoura, repolho roxo, cebola, feijão, abacate, hibiscos, aroeira... Testaram a alcalinidade e a acidez de variados mordentes – sal, vinagre, alúmen de potássio, cal, sulfato ferroso, cola de metil celulose... Temperaram pigmentos inorgânicos com gema e albumina, simulando, às vezes, a ação de fungos e bactérias, em páginas de diferentes suportes, para criação de um “livro de artista”. Há, nesse percurso, um comprometimento estético, intrínseco à dimensão sinestésica. O ambiente se foi tornando parte dos sujeitos por meio da porosidade corpórea – pele, boca, nariz, ouvidos –, inundando-os com têmperas e temperos emergentes da experiência, transmutados em sensações e fruições estéticas. Essas vivências me levaram a reconstruir cada cena vivenciada no Mestrado, enquanto escrevia minha dissertação: Terra, homem e signo, uma criação plástica com pigmentos, corantes e fibras naturais brasileiras associadas a possibilidades sintéticas. Pigmentos e corantes ficaram impregnados na minha pele e na minha alma... Retomá-los com os colegas Mike, Luiz Mário, Túlio, e os inquietos alunos da disciplina foi uma rememoração, em tempos tão difíceis, em que a experiência da morte me apresentou a vida em toda sua intensidade...


Seguramente, nessa abordagem da impregnação, integrante da experiência estética, encontra-se presente o ponto de vista fenomenológico de MerleauPonty (1908-1961), que defende a sinestesia como colaboração unificada de todos os sentidos. Assim, através de conferências e inúmeras trocas virtuais a despedida da graduação foi plena, desenhando-se com as cores da natureza, impulsionada pela experiência de superação da passividade, em que a apreensão estética cria possibilidade de sermos atores, agentes, receptores e fruidores multissensoriais. Agora, como artista convidada, visito os registros e me encanto com os documentos dos percursos criativos, as receitas tingidas e tecidas que ecoam, aqui – configurando o universo particular de cada aluno que mantém acesa, em si, a chama alquímica... Pensem numa mestra feliz!...

Viga Gordilho Prof.ª Titular aposentada da EBA/UFBA

cena montada para a TTT



Têmperas & Temperos, duas palavras que sempre estiveram no nosso vocabulário, que não recordo jamais tê-las pronunciado assim, uma na sequência da outra. Como pintor sempre labutei com o mesclar das matérias em busca de tintas, corantes e suportes capazes de revelar textura, cor, tom, fluidez e maleabilidade, possíveis de resultar obra plástica a ser sorvida pelo olhar. Utilizando mesmo movimento, mas esse de forma empírica como desafio pessoal, sempre que posso passeio por fazeres culinários, lidando com ingredientes diversos, objetivando alcançar outros sentidos a fim de despertar o prazer do alimentar o corpo. Assim, ao ouvir o Profº Mike Sam Chagas pronunciar as duas palavras como título de um possível transito experimental do Atelier para a Cozinha, de imediato, sem hesitar, aceitei o honroso convite. Recorrendo aos meus guardados no Casatelier¹ , encontrei uma receita que escrevi em uma publicação² , datada de 1999, para as Celebrações dos 450 Anos de Fundação da Cidade de Salvador, que assim dizia: Coloque um pingado de amarelo, salpicado de branco espumante, e deixe marinar em águas azuis de profundos verdes...reserve. Em superfícies de texturas lilás, contorne vermelhos ardentes recheados de alaranjadas contas. Misture tudo e polvilhe com pigmentos ocres; leve ao tempo para cristalizar por 450 breves períodos, e pronto! Sirva acompanhado de fluidos transparentes que brotam de muitas nascentes da terra. Sinhô pode até exprementar... Todavia, pra provar deste quitute no inteiro da emoção, tem que nascer brasileiro, iniciado Bahia, amamentado Salvador e, por fim, batizado soteropolitano.³ Vinte e um anos depois, considerando que a ordem mundial para esse ano de 2020, em decorrência do Vírus Chinês, é “fique em casa”, transitar nesses ambientes (Atelier/Cozinha), onde a alquimia suscita o prazer da descoberta, se revelou antidoto contra o tedio decorrente do confinamento involuntário sem “tornozeleira”. Pronto, juntamente com os Professores Viga Gordilho e Túlio Vasconcelos a equipe estava formada e os preparativos metodológicos do “Banquete Estético” a ser partilhado com outros “Comensais da Arte”, começavam a se delinear. 1 CASATELIER, meu atelier/residência entre 2000 e 2011, atualmente Espaço de Arte e Eventos em Itapagipe. SSA-BA. 2 ADAIR, Atelier Maria. ARTE ARTE SALVADOR 450 ANOS, Fundação Gregório de Mattos. SalvadorBahia, 1999 3 ADAIR, Atelier Maria. Ibid. pag. 52.


Quase nos mesmos moldes poéticos da receita supracitada, recorrendo estrategicamente apenas ao que se tem à mão e em casa, para se fazer, a igual que diversas culturas, “algo de comer”, basicamente produzido com as sobras (exemplo: risoto francês, paella espanhola, ou mesmo feijoada e sarapatel brasileiro), listamos o passo a passo para a criação do cardápio artístico a ser construído no SLS. E assim foi: Recorra a sua dispensa e/ou ao seu jardim, ou quintal e colete condimentos, plantas, talos, caules, galhos, troncos, folhas, raízes, sementes, grãos, peles, óleos, extratos, essências e outros. Depois lave, escorra, ferva, esprema, peneire, seque, torça, enrole, embrulhe, amarre, desfie, estique, estenda, macere, liquidifique e reserve. Separe instrumentos e equipamentos de produção, manipulação, proteção e mãos a obra. Catalogue, acondicione, escreva, calcule, desenhe, fotografe, filme e registre tudo que segue fazendo em um caderno que seja somente seu. Agora vai à indicação principal: não guarde nada para você. Compartilhe tudo. Fato que, quando não enchíamos as caixas de WhatsApp do nosso grupo diariamente, nas tardes das terças e quintas-feiras de setembro a dezembro, sorvemos com disciplina, entusiasmos e prazer os resultados das descobertas individuais. Assim apareceram chás, corantes, colas, pigmentos, suportes, emplastos, módulos, pinturas, desenhos, bordados, colagens, cadernos, objetos e outras expressões artísticas transitando criativamente pelo salão/atelier virtual propiciado pela plataforma Google Meet. Vibramos, enquanto equipe que tem um desafio a cumprir e uma responsabilidade a exercer. Efetivamente, me refiro ao crescer de todos vocês, enquanto indivíduos, pesquisadores, solidários, parceiros, criativos, sensíveis e, sobretudo entusiastas do saber. Dito isso, a igual que no último parágrafo da receita ilustrativa a essa resenha, peço licença para afirmar que apenas nós, umas quatro dezenas de artistas da nossa Escola de Belas Artes envolvidos em Temperas & Temperos, somos capazes de “provar deste quitute no inteiro da emoção”. Satisfeito, só me resta agradecer o tanto que me foi ensinado por todos e desejar que o sucesso individual seja alimento/meta na trilha profissional de vocês. Agradecimentos especiais para a mais nova Profª Aposentada da EBA UFBA, a Colega Viga Gordilho pelos “comparTrilhamentos”, ao Profº Mike pelo convite e ao Profº Túlio pela parceria de sempre. Pela Vida e para a Vida, bom apetite! Luiz Mario Dezembro 2020


GLOSSÁRIO Acessórios: Materiais auxiliares para a construção, integração, fixação e proteção da obra de arte. Acidez: refere-se a um composto capaz de transferir Íons (H+) numa reação química podendo assim diminuir o pH de uma solução aquosa. Em pintura a acidez é um elemento prejudicial às tintas e suportes. Aditivos: Quaisquer substâncias adicionadas à tinta para propiciar efeitos específicos. Aglutinantes: Substância orgânica ou sintética que irá unir as moléculas da tinta e fixar o pigmento/corante na superfície do suporte. Os aglutinantes são podem ser resinas (vegetais, acrílicas, fósseis), colas, óleos, gomas etc. Alúmen: mineral extraído de pedreiras vulcânicas ou sintético. Funciona como mordente na fixação da cor no tecido. O mais utilizado em tingimento é o alúmen de potássio. Ancoragem: ou dente, refere-se ao relevo e textura da tela. Quanto mais áspera e rugosa for o suporte mais espaço entre as fibras existe para que a base de preparação e a camada pictórica adiram ao suporte. Artificial: elemento que sofreu interferência, beneficiamento ou processamento de técnicas humanas. Neste sentido, todos os pigmentos ou corantes são artificiais, pois dependem das técnicas de extração ou beneficiamento. Base de Preparação: sequência de camadas que visam isolar o suporte da tinta. De um modo geral a Base de Preparação é um processo composto por duas encolagens e duas imprimações, comumente feitas a partir da mistura de um carbonato mais aglutinante. Boneca: Trouxinha feita de algodão amarrada por fio de prumo com um cordão que permite a imersão ou cozimento de determinadas substâncias em água ou solvente. Serve também para secagem de materiais. Camada Pictórica: filme ou película microscópica feita a partir das tintas, que caracteriza a própria pintura. Carbonato: substâncias minerais que são beneficiadas para obtenção de um pó fino e opaco. Em pintura o carbonato mais utilizado é o de Cálcio, que pode ter origem rochosa (gipsita, dolomita) ou em partes duras de elementos orgânicos (ostras, algas, casca de ovos). Cargas: tipo de insumo mineral utilizado como enchimento e redutor de custo, propiciando maior rendimento à fatura de tinta. Em geral as cargas servem como agente opacificante, isto é, tornam as cores opacas, retirando sua transparência. A característica fundamental das cargas é serem inertes, ou seja, não possuírem poder cromático garantindo que não alterem a cor dos pigmentos. Cartão: Suporte de papel espesso, geralmente feito de Papelão, Papel Couro ou Panamá. Corantes: substâncias de natureza variada (orgânica, vegetal, mineral, sintética) que possuem a capacidade de reter determinadas ondas de luz específicas e refletir outras de maneira predominante, gerando a cor. Os corantes diferem-se dos pigmentos no sentido de que são substâncias solúveis em qualquer meio, e que, se adicionadas à outra substância, alteram a cor desta.


Decantação: processo de separação que permite separar misturas heterogêneas. Utilizada principalmente em misturas bifásicas, como sólido-líquido (areia e água). Encolagem: camada de cola aplicada às superfícies com o intuito de isolar a camada pictórica do suporte. Fungicidas: substâncias que ajudam na preservação e durabilidade das tintas, principalmente das tintas artesanais. Também chamados de preservantes ou conservantes. Gesso: mineral abundante na natureza produzido a partir do aquecimento da gipsita, e sua posterior redução a pó da mesma. Em Arte os gessos mais utilizados são o Cré e o Acrílico tanto para imprimação quanto para carga na fatura das tintas. Goma: cola feita a partir de amidos extraídos de plantas ou exsudações de determinadas madeiras. Na pintura as gomas servem como aglutinantes ou para encolagens. Gramatura: unidade de medida para se calcular a espessura do papel que se refere ao seu peso em gramas/m². Higroscópica: que absorve água. Imprimação: Uma das etapas da Base de Preparação. Consiste na aplicação de um Carbonato diluído em água e cola que resultará numa superfície dura e elástica. Atualmente a imprimação é feita com gessos acrílicos ou cré, ou ainda com tinta PVA. Mediuns: São misturas ou emulsões geralmente feitas a partir de um aglutinante e um solvente, no intuito de equilibrar a fatura da tinta. Mordente: substância associada ao tingimento com a função específica de manter a durabilidade da cor, conferindo maior resistência às lavagens e exposição ao sol. Pode ser de origem vegetal, como o tanino (substância extraída da casca de algumas plantas) ou mineral como sais de crómio o alúmen (pedra-ume). Natural: substância produzida pela Natureza, sem beneficiamento ou interferência humana. Óleo Essencial: extratos oleosos obtidos a partir de vegetais (Cravo, lavanda, Melaleuca, Capim Limão, Bergamota, Canela etc.). Destacam-se por suas propriedades antifúngicas e antibacterianas. São eficazes na utilização em têmperas de qualquer natureza. Orgânico: que não possui adição de substâncias químicas sintéticas. Pilão: também conhecido como moleta ou almofariz é um instrumento para moagem de pigmentos ou materiais. Para pintura os mais indicados são os de ferro ou pedra. Pigmentos: substâncias de natureza variada (orgânica, vegetal, mineral, sintética) que possuem a capacidade de reter determinadas ondas de luz específicas e refletir outras de maneira predominante, gerando a cor. São classificados em opacos (cobrem a superfície completamente), semitransparentes (cobrem parcialmente a superfície) e transparentes (não cobrem a superfície onde são aplicados). Os pigmentos são compostos químicos insolúveis, ou seja, não se dissolvem em nenhum meio. Para a composição da tinta o que irá ocorrer é a produção de uma dispersão em emulsão (as partículas do pigmento são finamente moídas até que poderem ser transportada pelos veículos: água, óleo etc.). Poética: Conjunto de elementos expressivos (forma, cor, tema, estilo, discurso) que dão sentido estético à pintura. A poética pode influenciar na escolha ou abordagem do suporte, da tinta e da cor a serem trabalhados.


Polímero: matéria prima feita a partir de processo industrial do qual é produzido uma emulsão acrílica que serve para a produção de tintas, vernizes, resinas, colas, massas, selantes. As formas mais conhecidas da aplicação na Arte são o Gesso Acrílico, a Cola PVA (Acetato de Polivinila, Cola Branca), Vernizes Acrílicos e a tinta Acrílica. Como aglutinante a Cola PVA pode ser usada nas têmperas. Resina: grupo de substâncias vegetais (extraídas das folhas, casca e raízes) ou sintéticas. Estas substâncias são usadas na fabricação de vernizes, remédios, sabões e tintas. Em geral têm gosto e cheiro ativos e podem ser sólidas ou líquidas. Sintético: Produção em laboratório de reações químicas que imitam substâncias naturais, estas geram materiais obtidos artificialmente, ou seja, que contém substâncias desenvolvidas em laboratório e não extraídas diretamente da natureza. Secantes: Substâncias que aceleram a secagem da tinta, em particular da tinta à óleo. Sua utilização deve ser evitada o máximo possível, pois pode causar um efeito contrário caso seja usada em demasia. Solúvel: que se dissolve em um líquido, o oposto de insolúvel. Solvente: também chamado dissolvente ou dispersante aquela substância que na pintura têm a propriedade de diminuir a concentração de outro líquido, sem que sejam alteradas suas características químicas. Também chamados de veiculo ou meio, permitem a dispersão de outra substância em seu meio. Suporte: local sobre onde a camada pictórica será construída (papéis, paredes, tecidos, madeiras, telas, chapas etc.). O que dá sustentação à pintura. Verniz: são preparados que servem de proteção para a camada pictórica. Sua composição é uma resina diluída em solvente ou de polímeros sintéticos.


Outras Receitas

sugestões de preparos misturas e materiais para produção de pigmentos, corantes, aglutinantes, extratos e tingimentos.


Receita básica de têmpera Quando nos referimos a Têmpera, atualmente nos vem a ideia da tempera à ovo, como sendo a têmpera original. De fato a têmpera ovo recebeu esta distinção ao longo dos séculos, muito devido a uma maior especialização da produção industrial de tintas, que precisava diferenciar os seus produtos para os pintores. Hoje temos a tinta óleo, tinta acrílica, tinta guache e tinta aquarela, das mais populares. Porém, de um modo geral podemos considerar todas as tintas contemporâneas ainda como têmperas, pois assim como a têmpera ovo, são um produto de uma mistura de variados insumos (pigmentos, aglutinantes, cargas, preservantes e aditivos). Desta forma temos inúmeras possibilidades de produção das tintas artesanais sendo que a sua formatação mais básica é aquela composta de um pigmento + aglutinante. Outros elementos que entram nesta fatura visam estabilizar ou adicionar características específicas à tinta. Logo, as temperas são produzidas a partir da seguinte receita: Pigmento (orgânico, sintético) + Aglutinante (colas, gomas, resinas orgânicas ou acrílicas, óleos, gorduras, ceras) + Cargas (carbonatos, gessos, talcos) + Preservantes (fungicidas, óleos essenciais) + Aditivos (espessantes, vernizes, solventes, secantes) a partir desta fórmula temos por exemplo na têmpera ovo: Azul Cobalto (pigmento) + Gema de Ovo (aglutinante) + Kaulim (carga) + Óleo de Cravo (preservante) + Mel (aditivo).

A proporção dos ingredientes varia conforme a natureza dos mesmos, haja visto que a produção das pinturas deste catálogo utilizou receitas bem específicas para cada trabalho. O equilíbrio particular entres os insumos, que muitas vezes depende da compatibilidade entre eles, virá conforme a prática, e é o que garante uma boa tinta, que seja colorida, durável e estável.


Têmpera Ovo Clássica (pode-se usar a gema, a clara ou as duas em conjunto) Gema 1 parte de gema de ovo sem pele 1 parte de água 3 gotas de óleo de cravo 1 parte de pigmento Retire a película que envolve a gema (usando um separador ou peneira) e em um recipiente misture o pigmento até obter a uniformidade. Acrescente os demais ingredientes e mantenha em um pote fechado. Havendo sobra pode-se guardar por alguns dias na geladeira. Clara 1 clara de ovo 3 gotas de óleo de cravo 1 parte de pigmento Bata a clara em neve, e deixe-a descansar num recipiente com tampa até que o soro resultante da decantação escorra por completo. O soro funcionará como o aglutinante para a tinta. Repita o mesmo procedimento da gema. Ovo Inteiro Repita o procedimento da gema e da clara misturando os dois líquidos. Esta receita possuirá entretanto uma durabilidade menor que as anteriores. Têmpera Palha de Aço 3 palhas de aço ( para obtenção do pigmento) 1 parte de Goma Arábica (aglutinante) 1 parte de água (solvente para diluição) Molhe completamente a palha de aço e deixe secar. Aos poucos acontecerá a oxidação do aço, fazendo a palha se tornar quebradiça. Moa até obter um pó bem fino. Repita a mistura os ingredientes. Nesta receita temos uma têmpera mais aguada, que ficará semelhante a uma aquarela. Caso queira uma tinta com maior cobertura acrescente uma carga (gesso, talco, carbonato) e a tinta ficará semelhante a um guache.


Têmpera Acrílica Açafrão 1 parte de Resina Acrílica (Cola Isopor, Cola PVA, Cola Slime) 1 parte de água 1 parte de Açafrão As têmperas acrílicas, são assim denominadas pois o aglutinante utilizado é uma resina acrílica sintética, comum na composição das colas contemporâneas. Seu aspecto é idêntico à Tinta Acrílica industrial pois ambas utilizam a mesma base. A grande vantagem destas têmperas são a dispensa de fungicidas, devido a alta conservação das colas. A desvantagens é que assim como a tinta acrílica uma vez seca, é impossível de ser reutilizada, por isso recomenda-se guardá-las em potes herméticos e longe do calor. Para retardar a secagem usa-se o medium acrílico, um composto de glicerina e água.

Têmpera Óleo Tijolo 1 parte de óleo de linhaça (ou algum óleo secativo) 1 Tijolo Cerâmico (para obtenção do pigmento) 1 parte de terebentina (solvente para diluição) Triture o tijolo e moa até obter um pó mais fino possível. Numa superfície plana (vidro, pedra de mármore, azulejo) misture o pó obtido ao óleo misturando com espátula até gerar uma mistura bem uniforme. Para variar a fluidez adicione durante a pintura gotas de Terebentina (se mais rala) ou verniz (se mais espessa). O pigmento terroso obtido a partir do tijolo pode ser substituído por qualquer argila, por exemplo a conhecida areia para gatos. Têmpera de Uva com Pasta de Dentes 1 parte de extrato de Uva (ou algum extrato colorido, Hibiscus, Urucum) 1 parte de Pasta de Dentes 1 parte de água A pasta de dente neste caso servirá como aglutinante e carga ao mesmo tempo, fazendo com que a tinta seja muito semelhante a um guache. Têmpera EBA 20 amoras maduras colhidas na Escola de Belas Artes 1 parte de verniz acrílico 300 ml de álcool 5 gotas de mel Lave as amoras e deixe-as de molho no álcool por alguns dias. Macere bem até obter uma espessura de uma geléia e mantenha refrigerado.


Este preparo servirá como um pigmento base para a produção da tinta que, deve ser feita sempre na hora da pintura. Retire uma parte da base e vá acrescentando o verniz acrílico. Têmpera Gelatina 1 pacote de gelatina colorida Gotas de Óleo de Cravo 1 parte de água morna Talco (caso queira opacidade) A gelatina será ao mesmo tempo o pigmento e aglutinante, pois sua formulação já contem tanto o corante quanto a cola animal. Num recipiente vá adicionando a água aos poucos observando que não fique nem tão espessa nem tão rala. Acrescente as gotas de cravo. caso queira uma tinta semelhante a uma aquarela mantenha, para uma tinta semelhante ao guache adicione talco, ou algum carbonato.


REFERÊNCIAS BARCELOS, João. Pintura além do Pincel. Disponível em: http://www.joaobarcelos.com.br/alem_pincel.htm CENNINI, Cennino. El libro del arte. Buenos Aires: Argos, 1947. DOERNER, Max . Los materiales de pintura y su empleo en la arte. Barcelona: Reverte , 1947. ETCHEVARNE, Carlos. Escrito na pedra, cor, forma e movimento nos grafismos rupestre da Bahia. Rio de Janeiro: Odebrecht, 2007. FAZANO, Carlos Alberto T.V. Tintas, métodos de controle de pinturas e superfícies. 2 ed. São Paulo: Hemus, 1995. MAYER, Ralph. Manual do Artista. 5ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015. MOTA, Edson. Iniciação à Pintura [por] Edson Mota e Maria Luiza Guimarães Salgado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976. PEDROSA, Israel. Da cor a cor inexistente. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1982. RESCALA, João José. Restauração de obras de arte. Salvador: UFBA, 1985. NUNES, Filipe. Arte da pintura, symmetria e perspectiva. Lisboa: Officina de João Baptista Alvares, 1767. SEGURADO, João Emílio dos Santos. Acabamentos das construções. Lisboa: Bertrand, 1904. VASARI, Giorgio. Vidas dos artistas. São Paulo: Martins Fontes, 2011. Complementares Cozinha da Pintura, disponível em: http://www.cozinhadapintura.com/. http://www.fineart.sk/ Manual do Artista, disponível em: http://manualdoartista.com.br/ http://www.dezenovevinte.com.br Moinho Brasil, papéis artesanais: https://www.moinhobrasil.com.br/ Youtube Canal Flower Power



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