Tudor, 2014 o voo de um piscar de olhos & outros escritos

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O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS GABRIEL W. TUDOR

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O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS Escrito por GABRIEL W. TUDOR Editado por MIKE WEVANNE Contato mwevanne@ymail.com Os Contos de Óculos http://oscontosdeoculos.blogspot.com Edição 1.1. Ananindeua, 2014. Todos os direitos protegidos pela Lei 9.610, de 1998. O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS ­ Página 2 de 13 ­


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Dedicado à Lu Silva

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO, página 5 ENSAIO SOBRE LUZ E TREVAS, página 6 DEVANEIO COLETIVO, página 8 DAS COISAS ESTÚPIDAS DO AMOR, página 9 VENTOS DA ADOLESCÊNCIA, página 11 O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS, página 12

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INTRODUÇÃO “Incultas produções da mocidade Exponho a vossos olhos, ó leitores: Vede­as com mágoas, vede­as com piedade, Que elas buscam piedade, e não louvores”. ­Bocage Os textos apresentados a seguir são os primeiros exercícios, o exórdio de meus passos em direção à atividade escrita, porém sua representatividade temporal vai além deste simples, embora importante, marco. São linhas que carregam lembranças dos dias em que foram rabiscadas: experiências de quem fui, o gosto saboroso de momentos saudosos e rostos gentis de pessoas que ainda hoje carrego sob o fardo enevoado e denso da memória. Alegres ou tristes, compõem a história de alguém que me parece, aos olhos dos dias contemporâneos, um estranho. Embora tenhamos compartilhado o mesmo nome, o corpo era habitado por outro espírito, mais jovial e até mesmo, mais inocente. Estes textos foram escritos em Fortaleza­CE, entre os anos de 2002 e 2004. São lamúrias literárias, esboços imaginativos da juventude que agora, enfim tendo reunido audácia suficiente para compartilhá­los, os exponho à leitura d’outros olhos. Boa leitura. G.W.T. Em 22.out.2014, Ananindeua­PA. O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS ­ Página 5 de 13 ­


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ENSAIO SOBRE LUZ E TREVAS No Princípio tudo era escuridão… Quando se fez a luz, Eis incompreensível. Um dia, num vislumbre de consciência, A Luz enfim se tornou Imagem. No Princípio tudo era Escuridão… Criado com um puro instinto selvagem de sobrevivência para não ser extinto, um estágio inicial de seleção entre tantos outros que lutavam e ainda lutam, pela própria vida e por sua própria linhagem. Quando se fez a Luz, eis incompreensível. Não se sabe o motivo exato: seja através da intervenção de um grande poder ou um de gigantesco acidente, foi dada à criatura uma benção que enraizou­se em sua natureza. Estas eram a ambição e a individualidade. Ambição: mais do que um desejo, um instinto para a evolução, pura e simples. Corpo, mente, espírito e algo mais... E mais... E sempre. Individualidade: vontade única de ser único. Metamorfosear­se, persuadir­se, dotar­se de livre arbítrio para se destacar entre seus iguais que coletivamente já eram seres singulares. Porém, tal benção acabou se tornando uma maldição, pois a criatura era imatura e não entendeu a razão por trás da existência da luz. Foi quando houve a mancha, de sangue, e ambição tornou­se cobiça e individualidade, egoísmo. Corrompendo e O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS ­ Página 6 de 13 ­


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ofuscando a luz. De repente nada mais era nítido. Houveram discórdia, guerra, fome e morte. Por séculos e por milênios e por eras. A luz distorcida respondeu por trevas, mas não aquela escuridão primordial, perdida num tempo esquecido. Pensou­se que a luz não existia, quimera, utopia. Houveram séculos, talvez milênios, talvez eras... Um dia, num vislumbre de consciência, a luz enfim se tornou imagem. Talvez enfim a criatura havia se tornado adulta ou a luz ancestral se purificou, livre do sangue que manchou sua nitidez. Ela exitou e como se nunca tivesse feito antes, refletiu. Então evoluiu. Cada um deles se tornou melhor e único. A luz ressurgiu, havia retornado enfim... Como Imagem. A criatura, apesar de sempre buscar a perfeição, em acordo com sua própria natureza, ainda assim era imperfeita diante de sua incapacidade de aceitar as coisas mais simples, tentando explica­las, classifica­las e entendê­las. Não obstante, permanecia bela. Um ser maravilhoso com a capacidade de rir, chorar... E logo tornar a rir! Capaz de amar e matar, de realizar os sonhos mais belos ou os pesadelos mais terríveis. Ainda assim fadada, após incontáveis eras, a ser incapaz de tomar ciência de que luz e sombras são na verdade partes de um todo: ambição­única e ingenuidade primitiva. Imagem. >>>

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DEVANEIO COLETIVO Realidade... Ilusão… Loucura... O que é real? Pode ser o que vemos e tocamos. Então os sonhos não são reais, nem o amor ou o ódio (!). Não tocamos ou vemos a morte, então ela também pode não ser real. Mas acreditamos em sonhos, acreditamos em amor e ódio e sem qualquer sombra de dúvida, acreditamos na morte! Não obstante, frequentemente julgamos aqueles que acreditam em ilusões como loucos, gentes insanas. Mas se vivemos tais loucuras assim como vivemos as coisas reais, o que é o mundo então? Realidade sob um véu de ilusão ou mesmo ilusão com traços de algo verdadeiro? Afinal, talvez apenas estejamos todos dormindo e toda a experiência da vida não passe de um sonho antes do despertar, enquanto compartilhamos do mesmo sono. >>>

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DAS COISAS ESTÚPIDAS DO AMOR O Amor: assim, com letra maiúscula mesmo. A verdade é que quando acaba você é apanhado de surpresa e não importa o quanto estivesse pensando em estar preparado. Vai doer. Muito. De verdade! Mas então vem o tempo... Pode demorar alguns dias, meses ou até mesmo alguns anos. Enfim, o tempo vai tratar das feridas como se fosse fogo, queimando e cauterizando, pondo fim aquele terrível tormento cardíaco. Daí que de repente você pensa ­ Ok, que bom que passou, a vida vai seguir adiante, afinal! ­ Mas o acaso, este filho travesso do destino, resgata uma pequena lembrança. Pode ser qualquer coisa: uma imagem, uma música, um cheiro... Uma sensação simples que traz perigosamente tudo de volta e você se surpreende caindo exatamente nas ruínas do ponto onde havia partido. Lembrando­se de todas as alegrias e dos momentos agradáveis, seu coração e veias pulsam forte, estranhamente seu sangue ferve e seu corpo congela. A tristeza se torna uma presença constante, um fantasma feito de paixão desenganada ou de um ódio abafado. Um sentimento insondável e sem propósito que traz esperanças vãs, carregadas de ilusões, devaneios criadores de sonhos e pensamentos sinuosos ­ Como seria a vida se tudo voltasse a ser como antes? Será que aquela paixão ainda existe? Finalmente a aterradora dúvida: “como, depois de tudo que passou, um amor tão arrebatador teria encontrado um fim tão simplório?” Esta montanha russa se torna uma roleta russa quando O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS ­ Página 9 de 13 ­


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chegamos à fase do medo – “E se voltarmos apenas para terminar outra vez?” ­ O pensamento de sofrer novamente é o sentimento de sofrer duas vezes a mesma dor. A vida segue e busca novos amores, mas o medo continua. Confiar em alguém se torna um desafio individual. Amar vira sinônimo de correr riscos e consequentemente deparar­se com uma decepção manifesta, uma promessa de dedos cruzados. É sonhar e delirar, mas com a consciência e sensação de se deitar na sarjeta, onde a qualquer instante alguém pode vir a pisar sobre todos estes desejos. Apaixonar­se significa quase sempre sentir a garganta apertar e o peito doer. É sentir culpa, é condenar a si mesmo ao inferno! Mas a grande verdade é que no acontecer das coisas você não resiste. Pensa que tem opção mas está fora de qualquer esfera tomadora de decisão. Você revela que desiste do amor, mentindo para si mesmo, quando na verdade se entregará diante da primeira espectativa de ter encontrado a pessoa certa e se enamorará. Rezando para que o destino lhe tenha a mais condescendente misericórdia. >>>

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VENTOS DA ADOLESCÊNCIA Para todo lugar que saía, dizia. Para tudo que queria, pedia. O que pensava, perguntava. Sempre viveu assim: podado, limitado. Pisam em seus sonhos e inibem suas vontades, querem que seja o que mandam, cobram algo que nunca ensinaram e no fim, apenas a culpa lhe pertence. Mas não quer ser o que mandam que seja, não pretende aceitar este mundo podre em que foi atirado. Quer ser simplesmente si mesmo, criar seu próprio personagem em sua própria invenção de mundo. Então agora voa sem dizer aonde, pega o que quer sem se importar, apenas é, simplesmente, sem explicações. O que se tornou enfim, rebeldia sem causa sobre todas as causas, foi o resultado simples daquela equação: dininuído, ignorado, sufocado… Quando enfim ele explodiu consumindo o mundo em volta. Sua fala soa como insultos e sua visão parece ser desagradável. Como? Sabendo que ele é apenas fruto do meio, há de se refletir sobre esta incoerência fundamental. É resposta, reação, reflexo dos atos cometidos, tudo o que foi trazido pela maré. Não é assim por opção, faz muito, constantemente faz pouco, mas tudo o que realiza é em busca da simples conquista ao direito de respirar. Apenas respirar. >>>

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O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E de repente ele estava voando... Mas seu voo logo cessaria. “Como é boa a sensação de voar!”, pensou num pensamento rápido, pois seria um voo breve, estando apenas a alguns instantes do final de sua pequena viagem para o fim. Diante daquela incrível sensação, todos os fatos importantes de sua vida ficaram claros, todos os problemas, pequenos e distantes diante daquele êxtase de voar! Como se sentia intensamente puro... Apesar de todos pecados. Tanta luxúria, tanta inveja, tanta raiva. Tantas. Suas e de outros. No entanto o que haveria de prender totalmente a atenção dos seus pensamentos foram justamente os amores: abraços, rostos, todos os sorrisos e lágrimas, de alegrias e de tristezas. Tantas. Suas e de outros. Havia concluído enfim que aquele mundo não era para ele, ou mesmo que ele não pertencia aquele mundo, onde a humilde ambição da felicidade era negada ­ Apenas ser feliz, mais nada! Por isso, agora estava voando. Ele tinha a perfeita ciência da própria imperfeição: não era um filho perfeito, nem irmão, amigo ou amante perfeito... Não era nada das coisas que realmente desejava e perseguia ser, mas durante aquele voo de um piscar de olhos, se sentiu orgulhoso do simples ato de ter tentado, mesmo diante do fracasso certo ­ “Afinal nada no mundo é perfeito”. Alegrou­se diante da corrida em busca de sua utopia, apesar do mundo ter lhe mostrado que não passavam de ilusões e devaneios. Admirou­se da própria coragem e da vida, que acabara se revelando tão viva, enfim... “E como era boa a O VOO DE UM PISCAR DE OLHOS E OUTROS ESCRITOS ­ Página 12 de 13 ­


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sensação de voar!” Agora vislumbrava tudo sob uma perspectiva singular, pura e bela. Eram olhos inocentes. Tudo isso, que afinal foi sua vida inteira, atravessou sua consciência como um trem desgovernado durante aquele breve momento de voo. Então num forte impacto, se chocou violentamente contra o chão. >>>

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