Design de mobiliário e Brasília

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Design de mobiliĂĄrio e BrasĂ­lia Milena Panhol



Design de mobiliário e Brasília. Milena Panhol Borges. Universidade de Brasília . Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Departamento de Teoria e História.

Orientadora: Prof. Dra. Cláudia da Conceição Garcia. Banca Examinadora: Prof. Dra. Ana Flávia Rego Mota. Prof. Dr. Augusto Cristiano Prata Esteca.



A minha mãe por todo apoio e amor. A minha família, minha base. A minha orientadora, pela ajuda e paciência. Aos profissionais presentes nessa pesquisa, pela oportunidade e pelo crescimento profissional.


Design de mobiliĂĄrio e BrasĂ­lia

resumo


O presente Ensaio Teórico busca analisar a produção de peças de design de mobiliário brasiliense contemporâneo e verificar se há uma relação com a cidade de Brasília e a sua arquitetura. Para o desenvolvimento do Ensaio, por se tratar de um trabalho de estudo de caso sobre a produção de design de móveis brasiliense e os profissionais que atuam na área atualmente, foram realizadas entrevistas com os mesmos para o melhor entendimento dos respectivos trabalhos e as fontes de inspiração, características e conceitos que determinam as diretrizes de produção.

Além da pesquisa de estudo de caso, para contextualizar a produção atual, foram realizados levantamentos bibliográficos sobre a arquitetura moderna, a relação da arquitetura com o design de móveis, a cidade de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade e Cidade Criativa da UNESCO, e a concepção da cidade de Brasília. Dessa forma, a pesquisa valoriza a produção do design de móveis brasiliense e reafirma a importância da cidade de Brasília e de sua arquitetura como fonte de inspiração em diversas áreas do mercado e do cotidiano de seus habitantes.

Design de mobiliário e Brasília

Palavras-chave: Arquitetura, arquitetura moderna, design, design de móveis, Brasília.


Design de mobiliĂĄrio e BrasĂ­lia

abstract


The present research seeks to analyse the contemporary furniture design production in the city of Brasília and check if there’s any relation with the city and its architecture. For the development of this Essay, because it’s related to a real case study about the design production of Brasilia contemporary furniture and the professionals who are working with this topic nowadays, interviews were conducted with them for a better understanding of their works and their sources of inspiration, characteristics and concepts that define their production guidelines.

Not only the research regarding real life cases, but to contextualize the actual production, bibliographical studies about the modern architecture, the relation between the design of furniture and the city of Brasilia as UNESCO’s world heritage, and the creation of the city of Brasilia, were also made. Hence, the research values the design production of Brasilia furniture and reinforces the magnitude of the city of Brasilia and its architecture as inspirational source in several different areas of the market and in the daily life of its habitants.

Design de mobiliário e Brasília

Keywords: Architecture, Modern Architecture, design, furniture design, Brasília.


Design de mobiliário e Brasília

sumário


Introdução O início do design industrial O desenvolvimento do design de móveis Brasília como polo de arquitetura e design Estudo de caso Aciole Félix Ateliê Monolito Danilo Vale Dimitri Locicks Marcelo Coelho Rafaela Gravia Raquel Chaves Samuel Lamas Studio Maré Considerações Finais Referências Bibliográficas

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introdução


2017, Brasília foi incluída na Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria do Design. Em Brasília essa relação entre arquitetura e design é muito evidenciada, é uma cidade que une a arquitetura, cultura e arte, desde o momento da sua concepção até os anos atuais. Como foi abordado no Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte de 1959, que reuniu diversos críticos nacionais e internacionais e a participação do crítico Mário Pedrosa, que foi o responsável pela criação da temática do Congresso: “A cidade Nova – síntese das Artes”. A “síntese das artes” é a ideia a partir da formulação da arquitetura moderna e seu reflexo na produção brasileira acerca da reflexão sobre a cidade nova devido a criação de Brasília. Para o desenvolvimento e análise da relação entre a produção de mobiliário contemporâneo brasiliense e a relação com a cidade, foram realizadas entrevistas com os profissionais atuantes na área e análise das peças de mobiliário desenvolvidos por eles. Além da pesquisa do estudo de caso, foram realizados levantamentos bibliográficos a respeito da arquitetura moderna, da relação entre arquitetura e design, da cidade de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade e Cidade Criativa na categoria do Design.

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O mobiliário possui uma relação intrínseca com a arquitetura por possuir um papel significativo como elemento que garante uma unidade no espaço arquitetônico e permite uma vivência adequada no interior dos edifícios e sua funcionalidade. Essa relação está presente desde o início da criação do design de mobiliário, que acompanhou o surgimento das grandes escolas de arquitetura internacionais, como a Bauhaus. A partir dos novos ideais da Arquitetura Moderna dos anos 1960, o móvel deixou de ser considerado um mero objeto funcional e alcançou a categoria de objeto complementar com valor agregado ao projeto arquitetônico, configurando a expressão do seu próprio tempo e associando-se diretamente à estética da sua época. A Arquitetura Moderna é o conjunto de ideias e movimentos que caracterizam a produção da arquitetura inserida no contexto do Modernismo do século XX. As principais características desse movimento são: rejeição do repertório formal do passado com criação de espaços abstratos, geométricos, com pouco ornamento e a relação com o ideal da industrialização. Em diferentes momentos de suas trajetórias profissionais, diversos arquitetos e designers buscaram inspiração na Arquitetura para a concepção e o conceito de seus mobiliários. No contexto modernista, no ano de 1960, foi fundada a cidade de Brasília, conhecida mundialmente por sua arquitetura e seu projeto inovadores. Em 1987, a cidade se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade da UNESCO e trinta anos depois, em


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A cultura industrial que conhecemos hoje iniciou-se em meados do século XVIII na Inglaterra, com a Revolução Industrial. A maior modificação desse período foi no modo de “pensar” a produção que até então era artesanal. Com a Revolução Industrial, o arquiteto passou a pensar e desenvolver o projeto de outra maneira e, duas ideias, no final do século XIX, configuram esse pensamento. A primeira baseada em William Morris foi o de recuperar o processo artesanal e ir contra o pensamento industrial da época, por acreditar que a máquina poderia transformar o artista em um decorador. Para restaurar a integridade da função do artista e compreender todo o ambiente físico do homem, Morris procurou um método em que cada elemento do projeto possuísse uma relação conceptiva com os demais elementos, ao executar projetos que iam do projeto arquitetônico até a decoração. As ideias de Morris foram

publicadas em um livro escrito por John Ruskin intitulado de: “Seven Lamps of Architecture”. O pensamento de Morris associado ao de Ruskin deram origem ao movimento “Arts and Crafts”. O segundo pensamento originou-se da admiração do emprego de novos materiais, no modo de produção industrial, ao criar produtos a partir das implicações estéticas na produção em massa. A “estética da máquina” marcou a expressão e o espírito desse movimento, com conceitos e termos do singelo, racional e padronizado. Esse pensamento deu origem ao movimento da Art Nouveau, estilo criado entre 1890 e 1910 que se espalhou através das artes decorativas e da arquitetura, marcado pelo uso dos novos materiais como o vidro e o ferro. Pensava-se no ornamento como elemento estrutural, cuja utilidades pudesse prover a beleza. Os objetos produzidos durante o estilo Art Nouveau, como os vasos, pontes e móveis, marcaram o nascimento do desenho industrial. (KATINSKY, 1970).

O início do design industrial

O início do Design Industrial


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Simultaneamente, nos Estados Unidos, o arquiteto Louis Sullivan autor da frase “form follows function”, defendia que o projeto deveria ser concebido de dentro para fora, onde a estrutura deveria indicar a aparência externa, ou seja, assumir a forma em si. Também nos Estados Unidos, o arquiteto Frank Lloyd Wright, ao desenvolver uma arquitetura orgânica, integrando a natureza e o edifício eliminou o obstáculo entre interior e exterior. Wright procurou uma unidade entre a arquitetura e o mobiliário ao redesenhar todo o equipamento doméstico. (ARTIGAS, 1981). No ano de 1907 foi fundada a Deutscher Werkbund (Federação Alemã de Ofícios) em Munique, na Alemanha. Essa federação era composta por artistas, arquitetos, políticos e indústria que pretendiam resolver os problemas entre a Revolução Industrial e a produção artesanal. Diferentemente do pensamento que envolve o movimento Arts and Crafts, que almejava o retorno a manufatura artesã, o Deutscher Werkbund tentou resolver o problema juntamente a indústria, aceitando a divisão do trabalho do processo produtivo industrial. O objeto industrial não teria somente uma utilidade, mas resgatavam os valores artísticos dentro da nova realidade industrial. Em 1910 o construtivismo russo de Antoine Pevsner tinha como premissa a “tentativa de síntese das artes plásticas: escultura, pintura e arquitetura”. Esse ideal também foi

compartilhado, posteriormente, pelo movimento De Stijl, liderado por Theo Van Doesburg e a escola da Bahaus criada por Walter Gropius. O movimento De Stijl, criado em 1917, era formado incialmente por Theo Van Doesburg, J. J. Oud e Gerrit Rietveld. Esses arquitetos defendiam que a arte deveria se libertar dos limites da tradição, onde as belas formas eram mecânicas e funcionais. O conceito do pensamento do De Stijl foi uma base importante para concretização do Movimento Moderno. Ainda sobre a integração da arquitetura e o mobiliário, no ano de 1925, o projeto da obra do Pavilhão do “Esprit Nouveau” para a Exposição Internacional de Artes Decorativas de Paris, do arquiteto Le Corbusier, buscou demonstrar através desse projeto que a arquitetura compreendia desde o objeto até a cidade. Esse projeto consistia em uma “célula habitacional” onde os mobiliários foram projetados para exercer uma função exata, como de guarda-roupas e louças.


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Pavilhão “Le Esprit Nouveau”. Le Corbusier, 1925. Fonte: ArchDaily: Le Cobusier’s Pavillion de l’Esprit Nouveau

Pavilhão “Le Esprit Nouveau”. Le Corbusier, 1925. Fonte: ArchDaily: Le Cobusier’s Pavillion de l’Esprit Nouveau Named one of “20 Designs that defined the Modern World

O início do design industrial

Named one of “20 Designs that defined the Modern World


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Nesse mesmo período, em parceria com Charlotte Perriand, Le Corbusier projetou alguns móveis como a “chaise-longue”, e poltronas executadas em couro preto e tubo de aço cromado. No século XX, o conflito entre a arte e a indústria, a criação e a manufatura, o espirito e a matéria foram expressos em todos os movimentos da época. Em sucessão ao Deutscher Werkbund, surgiu em 1919 a escola Bauhaus onde foi possível aplicar os princípios racionais do design, provenientes das descobertas na arte e na arquitetura moderna e adaptá-los a tecnologia moderna. (LARRABEE, 1981). A escola da Bauhaus foi fundada em 1919 por Walter Gropius, na Alemanha. Influenciado pelas ideias de Morris, Gropius buscou criar uma escola com um método de ensino que desse unidade e validade às artes. No ano de 1925, em “Os princípios da produção da Bauhaus”, Gropius escreveu que a contemporaneidade da moradia, do objeto ao edifício completo, a mobília deveria se relacionar entre si e entre a arquitetura, e que a função do objeto poderia determinar a sua forma. Na escola da Bauhaus, como método de ensino, o design fazia parte de uma unidade, onde suas várias formas de expressão se voltariam a um fim comum. Dessa maneira, haveria uma interdisciplinaridade entre as áreas das artes plásticas, escultura, artesanato, que foram reunidas para integrar essa nova arquitetura.

O design de móveis moderno deve seu aperfeiçoamento ao trabalho dos arquitetos. Poucos decoradores interessaram-se pela arquitetura moderna, muitos a ignoraram: assim os arquitetos foram obrigados a projetar a maior parte dos complementos da nova arquitetura. Além de criar objetos com um desenho contemporâneo, elaboraram também uma nova forma de pensar o espaço interno adequado a sua nova função. O arquiteto tornou-se responsável pela síntese entre o espaço, a mobília, o equipamento eletrônico, a escolha da cor, dos tecidos e dos objetos como expressão de um novo modo de vida. (LARRABEE, 1981).

No Brasil o processo de modernização do móvel foi composto de diversos fatores que o levaram ao momento atual. Para analisar esse processo deve-se levar em consideração os aspectos culturais que antecederam e estimularam esse processo, como: o patrimônio artesanal da madeira, a interrupção das importações devido as duas grandes guerras mundiais, a modernização da cultura e economia, que impulsionaram a modernização no Brasil no século XX.


Cadeira de balanço (ou chaise longue Rio). Oscar Niemeyer e Anna Maria Niemeyer, 1977. Fonte: Espasso, catálogo online.

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O desenvolvimento do Design de móveis no Brasil O período chave para a modernização e a abertura do Brasil para o século XX foi a semana de Arte Moderna em São Paulo, em 1922. Esse evento fortaleceu o pensamento modernista que estava atrelado a vanguarda e a manifestações através de diferentes modos de expressão em vários âmbitos da arte: literatura, dança, artes plásticas, arquitetura e design. Durante esse período, a trajetória do design do móvel no Brasil acompanhou, tardiamente, as mudanças e princípios das vanguardas europeias. A princípio, o modo de produção do móvel no Brasil acompanhou as tendências internacionais das artes decorativas industriais: como da Art Déco, e, posteriormente, o mobiliário produzido a partir dos arquitetos-designers provenientes dos movimentos do De Stijl até a

Bauhaus. Os arquitetos do movimento moderno no Brasil, a partir dessas novas experiências modernistas e de um pensamento transformador dos espaços tanto na esfera da arquitetura quanto do próprio mobiliário, enfrentaram vários desafios para transformar essa nova estética arquitetônica que também incluía o móvel. A revolução arquitetônica não é, pois, puramente externa. Ao contrário, ela se dirige de fora para dentro do edifício, onde permite que, pela primeira vez, desde a época pré-históricas, quando o homem primitivo vivia no interior da terra, tenhamos consciência física do avesso do espaço, da sua existência física. (PEDROSA, 1981).


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Sofá John Graz. John Graz. Fonte: Site comercial Dpot.

Desenho da Cadeira Três apoios. John Graz. Fonte: Site comercial Dpot.

Desenho da Cadeira Três apoios. John Graz. Fonte: Site comercial Dpot.

Desenvolvimento do Design de móveis no Brasil

A Arquitetura Moderna enfatizou a importância do mobiliário como elemento essencial no projeto arquitetônico, com sua devida importância e funcionalidade, onde o móvel é expressão do seu próprio tempo e vincula-se, de alguma forma, a corrente da estética vigente. Os primeiros arquitetos a trabalharem e lançarem o estilo do design de móveis brasileiros foram: John Graz, Cassio M’Boi, Gregori Warchavchik, Lasar Segall, Theodor Heuberger. No processo de produção de móveis um dos pioneiros nesse projeto modernista foi John Graz (1891-1980), que aplicou o conceito do “design total”, ideário presente na Bauhaus. Graz projetou integradamente o móvel, a disposição dos ambientes, as luminárias, painéis e vitrais. Porém, seu acervo hoje é quase inexistente, pois as residências de Graz foram demolidas. Outro pioneiro desse movimento foi o arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972), que trouxe de forma mais evidente o caráter moderno ao design de móveis brasileiro. Relacionando as exigências da arquitetura moderna e a própria vida moderna, Warchavchik utilizou das novas possibilidades técnicas e materiais. O arquiteto buscou despertar na sociedade brasileira uma síntese das principais reformas daquilo que ele chamou de “lógica da beleza de uma época histórica”, onde cada época histórica tenha sua lógica de beleza. (LOSCHIAVO, 1995). Nos primeiros mobiliários projetados, o arquiteto buscou atender e adequar a linguagem e a funcionalidade entre a arquitetura e o mobiliário.


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De acordo com Warchavchik, os princípios da indústria, a estandardização de portas e janelas nortearam o arquiteto a criar o “estilo do nosso tempo”. O legado deixado por Warchavchik para a industrialização e para o ramo da construção civil é significativo. Ao projetar suas residências, a indústria e a produção fornecida na época não atendiam a demanda que o arquiteto necessitava. Por isso, foi necessária a criação de diversas oficinas para executar portas e janelas, móveis e equipamentos, para a construção de seus projetos, que posteriormente essas técnicas foram introduzidas a indústria. Durante a década de 1940, destacaram-se as peças de design de mobiliário de Joaquim Terneiro, Lina Bo Bardi e Bernard Rudofsky. A produção possuía um caráter moderno, com uso de materiais nativos brasileiros, simplicidade e uma estética orgânica e uso da multiplicidade das formas. Em meados dos anos 1960 arquitetos como Lucio Costa e Oscar Niemeyer começaram a criar suas próprias linhas de mobiliário. Além deles outros designers e arquitetos também iniciaram a produção de design de mobiliário como Sérgio Rodrigues, José Zanine Caldas, Aloísio Magalhães e outros. O arquiteto Lucio Costa foi um grande estimulador para o desenho industrial, trabalhando em parceria com diversos designers, arquitetos e profissionais a quem ele encomendou produtos para integrarem a suas obras arquitetônicas. O arquiteto também produziu alguns móveis de sua autoria, e no ano de 1960 se associou

a empresa “Oca”, onde desenhou uma poltrona de couro e jacarandá. Oscar Niemeyer começou sua produção de móveis nos anos 1970 para buscar uma continuidade entre sua arquitetura e os outros elementos que a ela estão associados, com o objetivo de garantir uma integração entre o edifício, os equipamentos e os ambientes internos.

Banqueta Warchavick. Gregori Warchavick. Fonte: Site comercial azdecor.

Mesa circular. Gregori Warchavick. Fonte: Site comercial azdecor.

Carrinho de chá. Gregori Warchavick. Fonte: Site comercial azdecor.


Durante a criação da cidade de Brasília, o arquiteto Oscar Niemeyer convidou diversos arquitetos e designers para projetarem móveis para os edifícios públicos por ele desenhado, tais como: Sérgio Rodrigues, Sérgio Bernardes, Bernardo Figueiredo.

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Desde 1957 quando desenhou móveis a pedido de Oscar Niemeyer para equipar o catetinho em Brasília, Sérgio Rodrigues foi também um dos principais responsáveis pelo desenho de móveis para equipar os edifícios da Nova Capital tendo realizado toda a decoração do Ministérios das Relações Exteriores. (SANTOS, 1995, p. 128)

Desenvolvimento do Design de móveis no Brasil

O problema que eu encontrei no equipamento dos edifícios é que, em muitas vezes, o mobiliário, o arranjo interno, prejudica completamente a arquitetura. A arquitetura prevê os espaços que devem ficar livres entre o grupo de móveis, e às vezes, os móveis são colocados de uma maneira imprópria, os espaços perdem e a arquitetura fica prejudicada. De modo que nós procuramos sempre marcar o lugar dos móveis, mas, mesmo assim, às vezes eles não estão de acordo com a arquitetura, e o ambiente se faz sem a unidade que a gente gostaria. Por isso tudo é que eu comecei. Gostamos de usar esses móveis, com outros, de outros arquitetos, de modo que há uma variação, mas todos presos ao princípio de que o móvel é complemento da arquitetura e deve ser atualizado e moderno como a própria arquitetura. Deve haver uma adequação entre o móvel e o interior, dependendo do tipo de prédio. Numa residência, por exemplo, os móveis devem acompanhar a maneira de viver do homem de hoje; eles são mais simples, menos austeros. O mobiliário antigo se adaptava a uma atitude diferente do homem. Hoje a coisa mudou muito e o mobiliário acompanha esse modo de vida diferente, esse modo de ser das pessoas de hoje. (NIEMEYER, 1979).


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Design de mobiliário e Brasília

Brasília Polo de arquitetura e design A cidade de Brasília é conhecida mundialmente por sua arquitetura e seu projeto modernista. O projeto que foi o vencedor de um concurso de projetos urbanísticos para a nova capital, no ano de 1957, do arquiteto Lucio Costa, se baseia incialmente em dois eixos que se cruzam em um ângulo reto, na setorização do espaço, com amplas áreas verdes e de edifícios com estética modernista. Brasília também é conhecida por apresentar um dos maiores acervos arquitetônicos do arquiteto Oscar Niemeyer, com edifícios como o Palácio do Planalto, Congresso Nacional, Palácio do Itamaraty, Catedral, Teatro Nacional a Biblioteca Nacional. A cidade foi tombada no ano de 1987 pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. No ano de 2017, ano em que a cidade completou trinta anos como Patrimônio Cultural da Humanidade, a cidade foi incluída na Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria do Design.


Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, além de centro de governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país. (COSTA, 1956)

Ao longo dos anos, Brasília recebeu diversas mostras e eventos nacionais e internacionais, que reforçam esse caráter da cidade como promotora de cultura, arte e design. Porém, como o enfoque do trabalho é de analisar a produção do design de móveis produzidos atualmente, foram listados eventos atuais, como: o Seminário “Design e Cidadania na América Latina”

(Universidade de Brasília, 2012), a exposição do mobiliário “Design Brasileiro, Moderno e Contemporâneo” (CAIXA Cultural, 2014), o “Retrato Design” (Centro Cultural Banco do Brasil, 2014), o “Salão Brasil Criativo” (Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 2015),a exposição “Design Dialogue: Poland – Brazil” (Museu Nacional, 2016), a “12º Bienal Brasileira de Design Gráfico” (CAIXA Cultura, 2017) e, nesse ano, o evento “Brasília Design Fórum (Museu da República, 2018), a “1ª Mostra Brasília Cidade Design (Mezanino da Torre de Televisão, 2018). A exposição da “1ª Mostra Brasília Cidade Design”, que aconteceu nesse ano, teve como enfoque a produção de design desde a exposição de aplicativos até o de móveis, que tenha na concepção do design associação com a cidade de Brasília, com a sua arquitetura e modernidade.

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Brasília: polo de arquitetura e design

O título de Cidade Criativa foi criado no ano de 2004 pela UNESCO com o objetivo de desenvolver uma cooperação internacional entre as cidades que tem a criatividade como fator de desenvolvimento urbano, inclusão social e aumento da influência da cultura no mundo. Como visto, a arquitetura e o design têm um histórico e uma relação intrínseca do desenrolar da história. Em Brasília esse caráter é evidenciado, pois trata-se de uma cidade que une a arquitetura, cultura e arte desde o momento da sua concepção até os anos atuais, nos termos proposto por Lucio Costa, no relatório do Plano Piloto:


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Design de mobiliário e Brasília

Estudo de Caso

Nesse contexto da cidade de Brasília como polo de design, arte, arquitetura e cultura foram selecionados alguns profissionais, escritórios e oficinas que trabalham na produção de design de mobiliário autoral e que são influência no mercado de design brasiliense, nacional e internacional, considerando que participaram de exposições e eventos de design na cidade de Brasília ou internacionalmente, como nas exposições da Feira de Móveis em Milão ou na Wanted Design em Nova York. O estudo de caso tem como base de pesquisa uma lista com os profissionais da área e, a partir da análise do trabalho de cada um, foram realizadas entrevistas para constatar as características da criação, identidade, inspiração e metodologia produtiva de cada profissional. As perguntas foram:

Desde quando você trabalha com a produção de design de móveis e por que o interesse por essa área de atuação?

Qual a metodologia utilizada para a produção do design?

Qual o tipo de material mais utilizado para a produção do seu mobiliário? Por quê?

Você trabalha com um conceito geral como identidade ou cada móvel possui um processo criativo específico?


As respostas obtidas foram descritas em forma de tópicos com o título relacionado a pergunta. Os textos presentes nos tópicos desenvolvidos pela autora, respeitam fielmente o pensamento de cada profissional listado acima. O objetivo desse estudo de caso é, ao final da pesquisa, elencar as características de cada profissional e relacionar se há ainda uma relação com a cidade de Brasília na produção de design de mobiliário brasiliense produzido atualmente. A seleção dos profissionais, escritórios e oficinas foi feita a partir das mostras e eventos listados no referencial teórico quatro. Esses profissionais são:

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Aciole Félix; Ateliê Monolito; Danilo Vale; Dimitri Locicks; Marcelo Coelho; Rafaela Gravia;

Samuel Lamas Studio Maré.

Estudo de Caso

Raquel Chaves;




Aciole Félix. Fonte: Catálogo Online.

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Aciole Félix experiências acadêmicas 2003-2007: Graduação em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília em Projeto de Produto. 2003-2007: Graduação em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília em Programação Visual. 2008-2009: Mestrado em Transportation and Automobili Design pela Politecnico de Milão.

Design de mobiliário e Brasília

experiências profissionais 2009: Automotive Designer na empres Fiat Spa. 2012: Professor Assistente na Universidade de Brasília. 2010-2015: Industrial Designer na em presa SEAT (Sistemas Eletrônicos de Atendimento). 2013-2015: Owner and Head of deisgn na empresa SARTTO. 2016-2017: Senior Industrial Designer na empresa Loop (Engenharia da Computação). 2015-atual: Owner and Executive Director na empresa Studio Aciole Félix.

eventos 2014 Exposição na Galeria Joseph Turenne Paris com a linha de móveis Sartto Exposição na Galeria Joseph Froissart Paris Design Week.

2015 Finalista do Prêmio Salão Design Milão Exposição na Feira Paralela em São Paulo.

2016 Participação na Exposição Brazil S/A no Salão do móvel de Milão.

2017 Participação na Feira Paralela em São Paulo Paralela Móveis.

2018 Fresh From Brazil - Wanted Design em Nova York. Brasília Cidade Design. Expo Brasília Design.


Mobiliário 18

Mesa de Centro RARI.

Banco RARI.

Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Linha RARI

Aparador RARI. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Cabideiro 2Candangos. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

2017

Aciole Félix

Linha RARI: O conceito geral para a criação dessa linha foi a da decoração industrial. Para a produção das peças foram combinados dois materiais e duas técnicas: a marcenaria tradicional e o corte a laser e dobra CNC das chapas metálicas.


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Cadeira Delta Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

CamaPet Lazy. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Design de mobiliário e Brasília

Aparador TAO. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

2016

Mesa de Centro HERA. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.


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Banco Alvorada Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Cadeira Lila. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Mesa de Centro Duetto. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

Mesa de Apoio Quadradinho.

Mesa de Apoio Natural de Brasília. Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.

2015

- anterior

Aciole Félix

Fonte: Catálogo Online Aciole Félix.


Cabideiro 2C 21

Os Candangos de Bruno Giorgi. Foto: Leonel Ponce. Cabideiro 2C. Fonte: Catálogo online Aciole Félix.

O cabideiro do designer Aciole Félix foi inspirado no monumento Os Candangos do artista Bruno Giorgi, localizado na Praça dos Três Poderes em Brasília. A peça é composta em aço e madeira, e busca traduzir uma síntese da forma da escultura em que é inspirada. Possui um formato delgado, cuja proporção prevalece os vazios que cheios e possui a base em madeira robusta.

Mesa HERA

Design de mobiliário e Brasília

Mesa Hera. Fonte: Catálogo online Aciole Félix.

Estádio Nilson Nelson. Fonte: Daderot, Wikimedia.

A mesa de centro HERA foi inspirada no Ginásio Nilson Nelson, obra dos arquitetos Ícaro de Castro Melo e Cláudio Cianciarullo. O tampo circular em vidro temperado está apoiado em cinco estruturas de madeira com forma similar aos pilares do ginásio. Na base há um anel de conexão entre os pilares A fundamental diferença entre as duas obras refere-se a materialidade de ambas, uma vez que o ginásio foi projetado em concreto armado e a mesa construída em madeira.


Mesa Natural de Brasília Mesa Natural de Brasília. Fonte: Catálogo online Aciole Félix.

Mesa Quadradinho

Mesa Quadradinho. Fonte: Catálogo online Aciole Félix.

Tanto a Mesa Quadradinho quanto a Mesa Natural de Brasília têm como inspiração o mapa do Plano Piloto de Brasília. Ambas evidenciando o contorno do Distrito Federal com o corte do tampo da mesa, e o negativo da área do Plano Piloto e do Lago Paranoá. O tampo é em aço carbono com pintura eletrostática. Os pés da mesa Natural de Braília são executados em madeira maciça Jequitibá.

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Banco Alvorada

Mapa de Brasília. Fonte: DNIT, 2013.

Palácio da Alvorada. Fonte: EBC, Site do GDF.

O Banco Alvorada possui uma referência direta a arquitetura do Palácio da Alvorada. A estrutura do banco é em aço carbono e pintura eletrostática branca e o tampo em madeira maciça. A cor branca da estrutura remete ao concreto branco utilizado na maioria das obras modernistas da cidade de Brasília. E a forma possui referência direta aos pilares do palácio.

Aciole Félix

Banco Alvorada. Fonte: Catálogo online Aciole Félix.


Ateliê Monolito Bruno Damasceno e Renata Brazil. Fonte: Site Ateliê Monolito.

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Bruno Damasceno

Renata Brazil

experiências acadêmicas

experiências acadêmicas

2009: Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasilia.

2009: Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasilia. 2011: Pós-Graduação em Gerenciamento de Projeto no Instituto IPOG.

Design de mobiliário e Brasília

experiências profissionais 2014-atual: Fundador do escritório de design Ateliê Monolito. 2011-2017: Sócio do escritório de arquitetura Mooca. 2004-atual: Design gráfico, diagramação e webdesign.

experiências profissionais

2011-atual: Fundadora do escritório de arquitetura Mooca. 2014-atual: Fundadora do escritório de design Ateliê Monolito.


2018 2017

eventos Exibição na Paralela Design em São Paulo.

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Exibição na 1º Mostra BSB Cidade Design. Exibição no evento Brasília Design Fórum. Exibição na Wanted Design em Nova York.

Mobiliário

. Fonte: Catáloco online Ateliê Monolito.

Banco Bob. Fonte: Catáloco online Ateliê Monolito.

Mesa Quadrante. Fonte: Catáloco online Ateliê Monolito.

Atelie Monolito

Luminária Torre


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Início da produção.

A área do design de mobiliário sempre despertou interesse por parte dos dois arquitetos. Após formados eles fundaram o escritório de arquitetura Mooca. Durante o desenvolvimento de um projeto arquitetônico, Renata e Bruno criaram uma peça que atendesse a necessidade do cliente e possuísse o design na mesma linguagem do projeto de arquitetura proposto. A peça desenvolvida foi um banco que também era suporte para bicicleta, todo executado em concreto. Possui uma volumetria retangular robusta e um rasgo na extremidade para servir como suporte. Após essa experiência e a afinidade de trabalhar com o concreto, ambos decidem fundar o escritório de design, Ateliê Monolito.

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Processo criativo e produção.

A metodologia projetual para a criação das peças é experimental. Após o desenho a mão livre que define as características principais da peça, os arquitetos iniciam o processo de produção do protótipo a fim de verificar a possibilidade de produção do mobiliário e como será a execução e o acabamento. O processo criativo e de produção são experimentais porque o concreto é um material que necessita de teste para verificar a possibilidade de execução, assim como validar os aspectos da forma, do peso e da proporção.

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Design de mobiliário e Brasília

Materialidade.

O material utilizado é o concreto como linguagem e identidade das peças de design criadas pelo Ateliê Monolito. Para garantir o formato de cada elemento são produzidos moldes em MDF. Algumas peças mesclam o uso do concreto com outros materiais, como o aço, a madeira e o vidro, a exemplo do criado-mudo quadrante, o banco boliche e a mesa quadrante.


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Criado-mudo Quadrante. Fonte: Catálogo online Ateliê Monolito.

Criado-Mudo Quadrante quanto na estrutura, que forma uma malha ortogonal. A semelhança do mobiliário produzido pelo Ateliê Monolito e a cidade de Brasília é pelo uso do concreto para a produção de suas peças, pois é um material que foi amplamente utilizado nas edificações da cidade, como no Congresso Nacional, nos palácios, edifícios administrativos e outros.

Atelie Monolito

O criado-mudo Quadrante é confeccionado em um bloco de concreto vazado na parte superior e aço na estrutura. O concreto é utilizado em seu aspecto natural, sem pintura e polimento. O aço possui pintura eletrostática preta e é composto por perfis delgados que se unem formando quadrantes na estrutura. A volumetria da peça se apropria da geometria retangular, tanto no nicho em concreto


Danilo Vale

experiências acadêmicas 2002-2007: Graduado em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília. 2005: Extensão universitária em Design. de Embalagens pela Universidade de Brasília. 2006: Solid Works Avançado pela Solid Minas, SM, Brasil. 2010: Pós Graduação em Gestão de Produtos na FGV.

Design de mobiliário e Brasília

experiências profissionais 2008: Desenhista industrial na empresa Valoptique. 2008-2010: Desenhista Projetista na empresa Autotrac Com. E Telecom LTDA. 2010-2013: Coordenador de Projetos na empresa Valoptique. 2013-2015: Sócio Criativo na empresa Sartto Design. 2016-atual: Diretor criativo na empresa Estúdio Danilo Vale.

Danilo Vale. Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

27

eventos 2014 Exposição na Galerie Joseph Turenne – Paris Design Week Exposição Galeria Joseph Froissart – Paris Design Week.

2015 Exposição na Paralela Feira em São Paulo. Finalista no Salão de Design de Milão Exposição na Design Week em São Paulo.

2016 Exposição na Galeria New Creator.

2017 CasaCor Brasilia. VIVA Design em São Paulo. Paralela Feira em São Paulo.

2018 Fresh From Brazil em Nova York. Brasília Cidade Design. Expo Brasilia Design.


Mobiliário 2018

28

Cadeira Célia Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Mesa de centro Planalto.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Mesa Catavento. Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Banco Apolo. Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

2017

Danilo Vale

Mesa lateral Planalto.


29

Mesa Lateral Hércules.

Banco Tião.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Cabideiro Hércules.

Aparador Wing.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Design de mobiliário e Brasília

2016 - anterior

Mesa Superquadra

Mesa Duetto em parceria com Aciole Félix.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.


30

Mesa Superquadra Fonte: Catรกlogo Online Danilo Vale.

Cadeira Athos. Fonte: Catรกlogo Online Danilo Vale.

Danilo Vale

Banqueta Athos. Fonte: Catรกlogo Online Danilo Vale.


Design de mobiliário e Brasília

31

1

Início da produção.

A primeira experiência com o design de mobiliário foi durante a faculdade cursando matérias de projeto da prórpia faculdade e algumas relacionados ao design de mobiliário. Ainda durante a faculdade, o designer estagiou na Zetha, uma fábrica de móveis para escritório. No ano de 2013, com o anseio de criar produtos que revelassem a própria identidade, o designer abriu sua empresa em parceria com o designer Aciole Félix, a Sartto. A ideia da produção de design de mobiliário partiu da vontade em comum de ambos em produzir esse tipo de produto. A primeira linha de peças produzidas tinha o conceito de expressar a identidade de Brasília, como forma de valorizar sua cidade natal. Foram utilizados parâmetros estéticos, da arquitetura e do estilo de vida do brasiliense. Foram peças produzidas com o intuito de estabelecer um vínculo de

identificação com residentes na cidade e valorização da identidade brasiliense. A exemplo da cadeira athos, da mesa superquadra, da mesa de café da manhã e da mesa duetto. No ano de 2014 fundaram a Entre-eixos, uma associação de designers de Brasília, em parceria com a Choque Design, que na época era Domingo Design, Nina Coimbra, Thiago Lucas. Essa associação foi formada com o intuito de divulgar e reafirmar a importância e o trabalho que estava sendo desenvolvido na época. No ano de 2016, com a criação do Studio Danilo Vale, o designer passou a desenvolver outra linguagem, diferente da que já havia produzido antes. Essa linguagem não estabelece um vínculo direto com a cidade, entretanto possui características que se assemelham indiretamente com a cidade.


A primeira etapa no processo criativo são croquis, sem muito detalhe e em seguida após a definição dos parâmetros básicos, o desenho é finalizado em programas de computador. Em seguida são realizadas modelagens tridimensionais renderizadas para definição dos materiais de acabamento. Finalizada essa etapa são realizados os protótipos. A ideia inicial para a criação de suas peças deriva de diversas fontes de inspiração. Por exemplo, a linha Hércules foi inspirada na barra sextavada em aço, material pouco utilizado no mercado atualmente. A partir da geometria do hexágono, presente na barra de aço, surgiu a ideia de utilizá-la em outro objeto, no tampo em mármore da mesa lateral e também no cabideiro metálico. Destaca-se, ainda, a linha Planalto que surge da inspiração em Brasília, de traços puros, com linhas leves que remetem ao que foi produzido tanto na arquitetura quanto no mobiliário da vanguarda modernista. A mescla da madeira com o mármore está presente nos moveis produzidos durante o período modernista, como por exemplo a estante de Jorge Zalszupin. Os pés da mesa são em madeira maciça, cujas partes planas da mesa são em compensado com lamina natural em freijó.

3

Materialidade.

Não há uma determinação quanto ao uso de um material específico. São explorados diversos tipos de materiais. Particularmente o aço é utilizado com frequência, devido a sua maior flexibilidade e facilidade de uso, além de sua durabilidade. Em 2018 surgem novos desafios em parceria com a empresa Taguabox , com uma nova linha cujas peças foram desenvolvidas em vidro. Essa parceria busca explorar peças diferenciadas a partir de técnicas simples, entretanto exploram um design diferenciado que busca transformar o vidro em um objeto com valor agregado pelo design. Há, ainda, o desafio de produzir algumas peças a partir dos matérias que se tornam sobras na indústria da construção, tal como a mesa Cata-vento.

Danilo Vale

2

Processo criativo e produção.

32


o conceito de imprimir a identidade da cidade, de valorizar a cidade natal. Foram utilizados parâmetros estéticos, da arquitetura, do estilo de vida do brasiliense

33

Danilo Vale.

Mesa Superquadra

Mesa Superquadra

Design de mobiliário e Brasília

Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Fachada Edifício Superquadra. Foto: Felipe Torelli.

O design da mesa superquadra tem uma influência direta da cidade de Brasília. No desenho original de Lucio Costa cada setor, aliado a cada uma das quatro escalas urbanas, é tratado diferenciadamente sendo a área residencial demarcada pelo uso dos edifícios suspensos sobre pilotis. Além disso, outra característica marcante desses edifícios e a utilização dos cobogós de concreto nas fachadas de serviço. Considerando essas influências a mesa superquadra possui o tampo em formato de cobogós na cor cinza, uma referência ao concreto. Além disso, sobre esse tampo há a sobreposição de uma lâmina em vidro temperado. Os apoios são em estrutura metálica como uma alusão aos pilotis dos edifícios residenciais.


Banco Athos

Cadeira Athos. Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

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A cadeira e banqueta Athos fazem parte de uma coleção em parceria com a Fundação Athos Bulcão. Essas peças são inspiradas na cidade de Brasília considerando toda a contribuição do artista plástico Athos Bulcão em diversos edifícios construídos pela cidade. Constitui um caminho de afetar a memória afetiva do brasiliense, por ser uma arte que está presente nos espaços públicos da cidade. Desta maneira, as peças são constituídas por detalhes no encosto que remetem aos azulejos de Athos Bulcão. O assento é formado por placas de madeira maciça. Os pés e a estrutura do encosto são constituídos em estrutura metálica com uma pintura eletrostática.

Painel Athos Bulcão. Fonte: Circuito Athos Bulcão.

Banco Tião

Banco Tião. Fonte: Catálogo Online Danilo Vale.

Danilo Vale

O banco Tião possui a estrutura em aço inspirada nos vergalhões utilizados no início da sua construção da cidade e que remete a ao caráter construtivo dos edifícios de Brasília.


Dimitri Locicks

Design de mobiliário e Brasília

35

experiências acadêmicas

experiências profissionais

2002-2006: Graduado em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília 2008-2010: Mestrado Incompleto em Design pela Universidade de Brasília 2013- atual: Pós graduação em gestão de projetos.

2005-2006: Sócio-Fundador da empresa Junior de Desenho Industrial da UnB – Lamparina Design. 2006-2007: Designer de produto na empresa Zetha. 2008-2010: Designer de produto pleno no escritório Crama. 2009-2010: Professor substituto na Universidade de Brasília. 2009-atual: Consultor e instrutor de design no Sebrae/DF. 2012-2014: Consultor Sênior no Projeto ALI - Agentes Locais de Inovação. 2015-2018: Sócio da Domingo Arquitetura e Design. 2018-atual: Sócio da Choque Arquitetura e Design.


eventos

2017

Exposição ABIMAD no estande da Móveis James, São Paulo/SP.

2015

2011

Prêmio de melhor design de superfícies e de mérito social no Salão Design Casa Brasil, Bento Gonçalves/RS. Projeto MuiraDesign selecionado pelo programa Brazil Excellence Design para representar o Brasil no IF Award - Hannover, Alemanha.

2009

Exposição na Paralela Design, São Paulo/SP.

Medalha de bronze no IDEA AWARD BRAZIL, São Paulo/SP.

2014

2008

Projeto Finalista no Prêmio Objeto Brasileiro, São Paulo/SP. Projeto Finalista no Salão Design Casa Brasil com o projeto estante Nativa, Bento Gonçalves/RS.

2012

Projeto Finalista no Prêmio Design Minas, Belo Horizonte/MG.

Finalista do Concurso de Design de Botequi, Rio de Janeiro/RJ. Finalista do 1º Concurso de Design de Produtos Moveleiro, Brasilia/DF.

2007

Finalista do 20º prêmio design do Museu da Casa Brasileira, São Paulo/SP. Finalista do IIIV House and Gift Design, São Paulo/SP.

Dimitri Locicks

2018

Exposição Museu da Casa Brasileira, São Paulo/SP. Exposição BSB Cidade Design, Brasília/DF. Exposição ABIMAD no estande da Móveis James, São Paulo/SP.

36


Mobiliário

Design de mobiliário e Brasília

37

Mesa de centro Buritis em parceria com Marcos Mendes Manente.

Banco.

Fonte: Catálogo online do designer.

Fonte: Catálogo online do designer.

Rack Carretel.

Rack Carretel

Fonte: Catálogo online do designer.

Fonte: Catálogo online do designer.

Sofá Dinda, Aparador Dinda e Poltrona Recanto da Choque design. Fonte: Catálogo online da Choque Design.


Dimitri possui formação acadêmica em desenho industrial, e mante contato com a área de design de mobiliário durante sua formação. Nesse período ingressou em um grupo de pesquisa chamado Muira Design, que produziu uma linha de móveis com madeira alternativa, sendo este seu primeiro contato com o tema de sustentabilidade e tecnológico de inovação. Durante a faculdade, fez estágio em design de moveis com o artista mineiro Tunico Lages, na fábrica Mabel e na empresa Zetta. Após conclusão do curso, foi para a cidade do Rio de Janeiro e trabalhou com design estratégico na empresa Crama. O designer sempre se interessou pela interdisciplinaridade entre a arquitetura e o design e considera importante essa relação e identidade entre essas áreas de atuação.

2

Processo criativo e produção.

38

Durante o processo de criação do seu produto, Dimitri pesquisa sobre as tendências do mercado e realiza um briefing com os conceitos e características que pretende abordar, a partir de então inicia o desenvolvimento de um novo mobiliário ou produto. As primeiras ideias são desenvolvidas com desenhos a mão livre e em seguida são desenhadas em programas de computador afim de desenvolver informações mais precisas sobre a peça.

3

Materialidade.

Dimitri, desde a sua experiência com o grupo de pesquisa durante a faculdade, sempre se interessou em trabalhar com madeira, sem abrir mão de utilizar materiais como aço, porcelanato, impressão UV sob madeira.

Dimitri Locicks

1

Início da produção.


Poltrona Brise 39

Poltrona Brise. Fonte: Catálogo online do designer.

Detalhe assento e braços da Poltrona Brise. Fonte: Catálogo online do designer.

A Poltrona Brise possui volumetria quadrada. A estrutura dos braços e encosto é confeccionada em madeira, sendo a parte interna ao assento em pintura branca e a externa em madeira natural. Seu desenho é representado por peças verticais móveis que remetem aos brises soleil utilizados nas edificações em Brasília, a exemplo do anexo da Câmara dos Deputados e outros significativamente importante para a cidade. Em contraposição a volumetria quadrada, Dimitri propõe uma forma curvilínea para o assento e encosto como peça única em tecido. Rompe assim com a rigidez geométrica da forma compositiva da poltrona. Nesse aspecto não seria equivocado traçar um paralelo com as curvas presentes nas obras de Niemeyer. Na mesma direção, o designer propõe para os pés uma estrutura em chapa de ferro dobrada de mesma tonalidade da pintura da estrutura interna do encosto. Há que destacar, que esse elemento se contrapõe aos outros elementos da peça, tanto em relação aos materiais como em relação a forma da composição.

Design de mobiliário e Brasília

Rack Carretel O rack é composto por uma volumetria retangular em madeira, podendo ser associada ao formato das projeções das superquadras da cidade de Brasília. Esse volume está suspenso e apoiado por pés delgados em aço nas suas extremidades, uma característica semelhante a arquitetura moderna da capital dos edifícios suspensos sobre pilotis. Rack Carretel Fonte: Catálogo online do designer.


BrasĂ­lia Palace Hotel, Oscar Niemeyer. Foto: Carsten Krohn.

Dimitri Locicks

40


2012-2017: Dupla graduação em Design Industrial e de Produto e Design Visual pela Universidade de Brasília. 2014-2015: Intercâmbio em Industrial and Product Design pela International Scholarship Program na Savannah College of Art and Design.

Design de mobiliário e Brasília

experiências profissionais 2016-2018: Designer Freelancer. 2016-atual: Fundador e Designer na Colina Design. 2007-atual: Designer intermediário na empresa Estúdio Danilo Vale. 2018-atual: colaborador na empresa Boobam.

eventos 2017

experiências acadêmicas

Exibição na Paralela Design em São Paulo. Exibição na 1º Mostra BSB Cidade Design. Exibição na Wanted Design em Nova York.

Marcelo Coelho. Fonte: Site Colina Design.

Marcelo Coelho

2018

41


42

Mobiliรกrio

Buffet Triplo. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.

Rack. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.

Bancos. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.

Criado-mudo. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.

Marcelo Coelho

Aparador. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.


Design de mobiliĂĄrio e BrasĂ­lia

43

Criado-mudo. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.


O primeiro contato do designer com a produção de design de mobiliário foi durante a universidade, cursando disciplinas relacionadas ao assunto. Após a formação, com a vontade de criar um portfólio e começar a produzir peças com sua própria identidade, o designer criou a sua primeira linha de móveis.

3

Materialidade.

O designer utiliza a madeira como principal elemento de linguagem na produção de seus móveis. As peças podem ser produzidas em diversas laminas de madeira, entretanto todas de origem nacional, para valorizar a matéria-prima brasileira. A madeira mais utilizada para a produção de suas peças é o Cumaru devido a quantidade de matéria-prima encontrada e pela relação com a cidade de Brasília, por ser uma arvore que está presente em toda a cidade. A estrutura das peças é produzida em madeira maciça que garante a durabilidade e a resistência ao mobiliário. O corpo do móvel é produzido em MDF compensado sarrafeado, laminado de fábrica. As partes brancas são pintadas em laca branca.

2 4

Processo criativo e produção.

44 O designer primeiro realiza desenhos a mão livre para definir a concepção da obra. Após esses esboços, o desenho é desenvolvido em programas de computador, onde serão definidos os acabamentos, os materiais e suas texturas.

Conceito, identidade e características do design. A primeira linha desenvolvida assume como conceito inicial a cidade de Brasília. Essa relação é obtida a partir dos detalhes geométricos que fazem a alusão aos painéis do artista plástico Athos Bulcão, que possui diversas obras pela cidade. Outra característica é a utilização da cor branca nas peças, que faz referência a cor presente na arquitetura modernista da cidade e também presente no fundo de quase todos os painéis do Athos Bulcão.

Marcelo Coelho

1

Início da produção.


O designer utiliza em suas peças de design a madeira Cumaru, materialmuito encontrado na região do Distrito Federal. O fundo branco com detalhes curvos tem característica similar a dos painéis do Athos, que utiliza do fundo branco para enfatizar as formas e a geometria da padronagem utilizada em seus azulejos. No mobiliário, a cor branca é obtida a partir de uma pintura em laca branca e para as formas curvas do detalhe é utilizado um adesivo sobreposto a pintura.

45

Design de mobiliário e Brasília

Fonte: Imagem renderizada pelo designer

Buffet. Fonte: Imagem renderizada pelo designer.


Painel Athos Bulcão. Fonte: Catálogo das Artes.

Além da referência direta a Athos Bulcão há outras características que podem ser analisadas e associadas a cidade de forma indireta. Além do branco como referência aos painéis do Athos Bulcão, a cor também tem relação com a arquitetura da cidade. Os prédios modernistas que compõe o “skyline” da cidade. Outro aspecto é a forma simples utilizada, característica do movimento moderno. As peças são ortogonais, com formas retangulares ou quadradas. Algumas peças como o buffet, o banco e o criado-mudo possuem a volumetria retangular sobre os pés em madeira, cujo conceito pode ser associado aos prédios apoiado sob pilotis nas quadras residenciais de Brasília.

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Edifício residencial em Brasília. Fonte: Arco Design Projetos.

Marcelo Coelho

Painel Athos Bulcão. Fonte: Circuito Athos Bulcão.


Design de mobiliário e Brasília

Rafaela Gravia Foto: João P. Teles.

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Rafaela Gravia

experiências acadêmicas

experiências profissionais

2011-2016: Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília. 2013-2014: Intercâmbio em Arquitetura e Urbanismo pela Ecole Nationale Supérieure d’Architecture de Strasbourg. 2018-2020: Mestrado em Sustentabilidade do Ambiente Construído na Universidade Estadual de Campinas.

2012-2013: Programa de Iniciação científica (PIBIC) na Universidade de Brasília no Laboratório de Sustentabilidade (LaSus). 2016-atual: Designer de móveis para a empresa Rafaela Gravia. 2017-atual: Arquiteta na empresa Entrequadra Arquitetos.


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Banqueta Grid. Foto: Matheus Carvalho

2017

eventos Exibição na Paralela Design em São Paulo

Exibição na 1º Mostra BSB Cidade Design Exibição no evento Brasília Design Fórum Exibição na Wanted Design em Nova York Colaboração no ambiente Casa de Vidro na CasaCor Brasília. Rafaela Gravia

2018

Colaboração no ambiente do escritório Studio Gontijo na CasaCor Brasília.


Primeira Linha 49

A primeira linha desenvolvida pela arquiteta surgiu de uma vontade pessoal de produzir peças que se integrassem com a arquitetura da nova casa que iria morar. A estrutura das peças é em aço igualmente ao sistema construtivo de sua nova residência. Entretanto, buscou mesclar o design das obras com a madeira, o vidro e o mármore.

Mesa de centro PIC. Foto: Matheus Carvalho

Design de mobiliário e Brasília

Aparador. Foto: Matheus Carvalho

Mesa de centro Grid. Foto: Matheus Carvalho.

Linha Grid


Linha Grid 50

Mesa e Banqueta Grid Foto: Geovanna Gravia.

Trio de Mesas Grid Foto: Geovanna Gravia.

Mesa/banco Grid Foto: Geovanna Gravia.

Poltrona Grid Foto: Geovanna Gravia.

Rafaela Gravia

As obras são marcadas por um traçado regulador ortogonal e forma puras que valoriza a versatilidade no uso. Desta maneira, busca dissociar a ideia do uso do aço de uma estética industrial, mostrando que é um material que pode ser empregado em peças de mobiliários que valoriza não apenas a beleza da forma, mas também o conforto.


Design de mobiliário e Brasília

51

Banqueta DI

Banqueta DI. Foto: Geovanna Gravia.


Linha GR

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Poltrona GR e Mesa Tônica. Foto: Joana França.

Mesa Tônica Com a versatilidade de ser produzida toda em aço ou com o tampo em mármore e a estrutura dos pés em aço Poltrona GR. Foto: Joana França.

Rafaela Gravia

Mesa Tônica. Foto: Joana França.


Design de mobiliário e Brasília

53

1

Início da produção com design de mobiliário e o interesse por essa área de atuação. O impulso inicial para o início da produção de design autoral partiu de uma mudança na vida pessoal da arquiteta. Ao mudar-se de um apartamento para uma casa, com vários ambientes, Rafaela decidiu produzir o próprio mobiliário que se integrasse a arquitetura da casa, cuja estrutura é metálica definindo uma identidade particular a sua nova residência. Rafaela acredita que o arquiteto possui qualificação para aliar o projeto de arquitetura com o design de interiores e do mobiliário. Inicialmente a produção de seu mobiliário se deu manualmente com o trabalho de um serralheiro, considerando que todas as peças foram executadas em aço. Embora algumas peças fossem associadas a outros materiais como o mármore, o vidro e a madeira. Posteriormente, com a demanda e o aumento da produção das peças, surgiu a necessidade de executá-las industrialmente. Desta maneira, a produção das obras em aço, assumiu a garantia de uma fabricação mais homogênea e com excelente qualidade nos acabamentos. A escolha do uso do aço para a produção de suas peças de design surgiu de um aspecto pessoal, pois sua família possui larga experiência no ramo comercial da indústria de aço.


O processo de criação da arquiteta surge a partir de determinada uma demanda. A exemplo da banqueta X que foi desenvolvida para o ambiente da CasaCor. Como exigência conceitual para o evento CasaCor, a banqueta deveria ser versátil. Ela acredita que esse processo produtivo é influenciado pela sua própria formação acadêmica na área de arquitetura e urbanismo, pois sente a necessidade de desenvolver peças que sigam uma função específica para determinados ambientes, que se integrem ao espaço. A criação é realizada por meio de protótipos em escala real (1:1) com os próprios materiais, cujo objetivo possui a dupla vantagem de testar todos os encaixes, além de poder avaliar a qualidade ergonômica de cada uma de cada uma das peças. Os esboços iniciais são realizados por meio de croquis e, algumas vezes, por meio e programas computacionais que realizam maquetes virtuais. Sua primeira produção foi destinada exclusivamente para sua residência onde foi desenvolvida, primeiramente, a linha GRID com a poltrona, a banqueta, mesa lateral. Posteriormente, a mesa de centro PIC e os aparadores em madeira maciça com aço.

3

Qual o material mais utilizado para a produção do mobiliário. O aço é utilizado em todas as peças do mobiliário. A sua primeira linha foi idealizada com o uso do aço mesclado com outros materiais como o mármore, a madeira e o vidro, sem romper com a harmonia entre esses materiais. Atualmente, as novas peças não estão sendo desenvolvidas e produzidas apenas em aço. O objetivo é quebrar o paradigma associado a esse material, tanto para promover uma maior identidade as peças, quanto para provocar uma linguagem entre elas. Acredita ser um aspecto similar a própria criação na arquitetura, ou seja, definir uma linguagem particular que mostra a sua própria identidade como profissional na área do design Acredita que o tipo de material utilizado deve possuir características para que a peça seja durável. Nesse sentido, a arquiteta utiliza a pintura eletrostática do aço em todas as suas pecas, cujo objetivo é garantir maior durabilidade ao material e, assim, o mobiliário pode ser exposto em área externas. Além disso, utiliza a madeira maciça, o vidro temperado e couro natural.

54

Rafaela Gravia

2

Metodologia e processo criativo.


Poltrona Grid A poltrona Grid é produzida em aço e couro tipo soleta, de alta durabilidade. A peça possui um traçado regulador ortogonal, com eixos definidos, cuja modulação está definida entre os quadrantes da estrutura em aço e o couro transpassado. O dinamismo da peça é obtido a partir da linha transversal do encosto que quebra com essa ortogonalidade e modulação presente na poltrona.

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Poltrona Grid. Foto: Geovanna Gravia.

Banqueta Grid

A banqueta Grid, assim como a poltrona da mesma linha, possui um traçado regular ortogonal, com quadrantes determinados no encosto. O assento é em couro e garante um conforto maior a peça. A estrutura delgada do aço traz uma leveza à peça.

Banqueta Grid. Foto: Matheus Carvalho.

Design de mobiliário e Brasília

Poltrona GR

A poltrona GR faz parte da nova coleção de peças produzidas pela arquiteta. A poltrona é toda feita em aço com pintura eletrostática preta, podendo ser utilizada para ambientes externos. Apesar de ser realizada totalmente em aço, a peça garante o conforto por possuir uma ergonomia eficiente. O diferencial do design da peça é a ruptura do encosto e assento pelo rasgo negativo na estrutura. Poltrona GR. Foto: Joana França.


Brasília Brasília além de ser sua cidade natal, está presente no seu cotidiano e, também, na sua formação acadêmica na Universidade de Brasília. A afinidade está vinculada aos conceitos gerais da arquitetura moderna de Brasília. As características presentes nas suas peças que se assemelham a

cidade são a estética minimalista das peças, processo de projeto a partir de uma função, uso de formas simples, uso do aço que foi um material amplamente utilizado na construção da cidade por ser um tipo de construção rápida, peças com formas de fácil compreensão.

56

Assim como na arquitetura que existe uma linguagem, quero trazer essa linguagem para as minhas peças de mobiliário. Rafaela Gravia.

Rafaela Gravia

Montagem das estruturas metálicas dos primeiros prédios da Esplanada dos Ministérios. Fonte: Revista “brasília” nº 27, Mar. 1959.


Raquel Chaves. Fonte: Site Moderno Design.

Raquel Chaves

experiências acadêmicas

experiências profissionais

2016: Mestrado em Design, Cultura e Sociedade. Universidade de Brasília – DF. 2010: Pós-graduação pela Bauhaus. Dessau, Alemanha. 2007: Bacharelado em Desenho Industrial. Universidade de Brasília –DF. 2005: Intercâmbio Acadêmico. Barcelona - Espanha.

2018: Produção e execução - Brasília Design Fórum e Mapa Design Brasília – DF. 2016-2018: Designer e proprietária da marca Moderno, Brasília – DF. 2013 – 2016: Diretora Criativa do Estúdio Revoada, Brasília – DF. 2011- 2012: Co-foundadora e curadora de Platform, Berlim – Alemanha. 2009 – 2010: Designer de produtos para empresa Quarto Pratico, Brasília – DF. 2009: Designer Gráfico na Agência TV1, Brasília - DF. 2007 – 2009: Designer de Produtos para Resina Floripa e Imaginaruim, Florianópolis - SC.

eventos 2018

Design de mobiliário e Brasília

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Exibição na 1º Mostra BSB Cidade Design. Exibição na Wanted Design em Nova York.


58

O interesse de Raquel Chaves na área de design de mobiliário ocorreu no ano de 2015, quando começou a trabalhar em uma empresa de móveis planejados e, a partir desse período, passou a projetar os móveis para a própria casa. Com a experiência e interesse na área, no ano de 2016, Raquel criou a própria marca de design de mobiliário, o Moderno.

3

Materialidade.

A escolha dos materiais utilizados em suas peças é devido a disponibilidade que existe no mercado e a facilidade de execução com mão-de-obra qualificada. Desta maneira, os materiais utilizados são a madeira, o ferro e aço e, às vezes, o vidro.

2

Processo criativo e produção.

O processo de criação da designer inicia-se por croquis que registram as ideias principais, além de realizar inúmeras pesquisas acerca da tendência de mercado, a fim de apresentar um design inovador que imprima sua identidade e assinatura. Após os croquis, são realizados protótipos para verificar os acabamentos e proporção das peças e, posteriormente, executa o produto final.

4

Conceito, identidade e características do design.

O nome da marca Moderno traduz o conceito utilizado para as peças criadas pela designer. Mobiliário inspirado no movimento moderno, que materializa as características presente no modernismo para a criação de suas peças.

Raquel Chaves

1

Início da produção.


Mobiliário

Design de mobiliário e Brasília

59

Mesa 3a2. Foto: Alliny Nunes.

Estante Sirena. Foto: Alliny Nunes.

Estante Sirena. Foto: Alliny Nunes.

Mesa Quinto. Foto: Alliny Nunes.

Mesa Quinto. Foto: Alliny Nunes.

Mesa Quinto. Foto: Alliny Nunes.


base. O tampo, na mesa quinta, pode ser executado em aço ou em madeira e, na mesa alta 3a2, os dois tampos são em madeira. A espessura do tampo é mínima e toda a peça transmite uma leveza graças a composição dos materiais, tanto pela maior proporção de vazios em relação aos cheios quanto na utilização de elementos delgados na estrutura e no tampo. Outra característica presente nas mesas é a versatilidade de usos, pois podem ser utilizadas tanto como mesas de apoio ou como bancos. O formato em “U” dos perfis de aço que compõem a estrutura das mesas, confere uma dinamicidade a peça como consequência da disposição desses perfis, permitindo variados efeitos visuais conforme a posição do observador.

60

Raquel Chaves

A coleção produzida pela designer para a marca Moderno possui como características em comum a relação com o movimento moderno, com formas e elementos simples. Devido a sua formação acadêmica no exterior, com pós-graduação no Bauhaus, a designer possui influências do movimento moderno internacional, com menos enfoque no movimento moderno da cidade de Brasília. Apesar disso, suas peças possuem algumas características em comum com a cidade, como as curvas na estrutura em aço, que pode ser associada as curvas sinuosas do arquiteto Niemeyer e a forma simples sem adornos. As duas mesas, a mesa lateral quinta e a Mesa lateral alta 3a2 possuem uma estrutura em aço delgada e longilínea e possui as extremidades curvas que confere um efeito curvo na


Samuel Lamas. Foto: Haruo Mikami.

61

Samuel Lamas

experiências acadêmicas

experiências profissionais

2002-2006: Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Università degli Studi di Roma 3, Roma, Italia

2006: Estágio no escritório Massimiliano Fuksas 2008-atual: Arquiteto diretor na empresa Lamas arquitetura e engenharia.

Design de mobiliário e Brasília

2018

eventos Lançamento Coleção 2018 Lamas em Brasília


Linha Família 62

Poltrona Sonia. Foto: Haruo Mikami.

Poltrona Helena. Foto: Haruo Mikami.

Sofá. Foto: Haruo Mikami.

Banqueta Thais e Estante Carlos. Foto: Haruo Mikami.

Sofá. Foto: Haruo Mikami.

Mesa Janice. Foto: Haruo Mikami.

Samuel Lamas

Banco Ruy. Foto: Haruo Mikami.

Poltrona Sandra. Foto: Haruo Mikami.


Design de mobiliário e Brasília

63

1

Início da produção.

A primeira experiência do arquiteto com o design de mobiliário ocorreu no ano de 2010, a partir de uma experiência pessoal. Ao comprar e reformar um apartamento na quadra 308 da Asa Sul, o arquiteto optou por investir em peças que imprimissem uma característica modernista ao ambiente e que pudessem evocar a memória da cidade de Brasília e, ao mesmo tempo, pudesse dialogar com a própria arquitetura do apartamento. Desta maneira, arquiteto adquiriu alguns dos mobiliários em feiras, leilões e antiquários e, ao restaurá-los, teve seu interesse despertado para o design, desenvolvendo assim um interesse maior a cerca dos tipos de material utilizado, para as estruturas, para a estabilidade da peça e outras

características inerentes ao universo do design de mobiliário. Essa experiência pessoal foi influenciada a partir do design e da arquitetura modernistas, pois os mobiliários restaurados foram produzidos por representantes, predominante, da escola modernista. A exemplo do sofá Bastiano, produzido por Tobia Scarpa, além das peças do arquiteto Sérgio Rodrigues e Jorge Zalszupin. Durante sua trajetória profissional, o arquiteto percebeu que algumas peças (ou produtos) disponíveis no mercado não dialogavam com seus projetos arquitetônicos. Desta maneira, no ano de 2011, o arquiteto desenvolveu sua primeira peça de design, a estante Carlos, para atender a necessidade de um de seus projetos de arquitetura.


O ponto de partida para criação de suas peças é o desenho a mão livre. Após o amadurecimento da forma, o passo seguinte é o desenvolvimento de desenhos em programas de computador onde são geradas duas ou três vistas do mobiliário para em seguida ser executado o protótipo da nova peça. Desta maneira, é possível verificar o conforto, a altura, a proporção, a estabilidade, além de outros aspectos que visam garantir tanto a ergonomia, como o caráter harmônico do mobiliário. O processo de criação das formas desenvolvidas pelo arquiteto possuem um caráter geométrico com atenção especial para a proporção, ideias que surgiram desde a sua formação acadêmica de arquiteto, quanto a própria vivência na cidade de Brasília.

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Materialidade.

A primeira linha de mobiliário foi denominada “Família”, composta pela estante Carlos, a banqueta e a mesa lateral. O material utilizado foi a madeira maciça, normalmente, o cumaru e o aço. O arquiteto explora o limite da estabilidade em suas peças e, desta forma, utiliza da menor quantidade de material possível, utilizando os perfis delgados, suficiente para garantir a sustentabilidade da peça. Após a linha “Família” foram desenvolvidas duas poltronas em couro natural e estrutura em aço. Segundo o arquiteto, a preferencia pelo do aço garante a leveza e fácil execução das peças. Além disso, acredita ser importante utilizar os materiais em suas formas naturais como a madeira natural maciça, o couro natural e o linho.

Samuel Lamas

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Processo criativo e produção.

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Poltrona Sonia. Foto: Haruo Mikami.

Poltrona Sonia

Poltrona Sonia. Foto: Haruo Mikami.

Design de mobiliário e Brasília

Poltrona Sonia. Foto: Haruo Mikami.

Poltrona Sonia. Foto: Haruo Mikami.

A poltrona Sonia é marcada pela volumetria quadrada. Os materiais utilizados na poltrona são o ferro maciço na estrutura, o couro no revestimento dos braços e encosto externos e o tecido no assento e encosto internos. A estrutura em ferro com perfis delgados contrastam com a robustez do acolchoado do tecido na parte interna da poltrona. Além do contraste volumétrico, a utilização da cor no tecido rompe com a sobriedade do tom escuro do aço e do tom neutro do couro. Embora o design da poltrona não possua uma estética vinculada a cidade de Brasília, apresenta seu traçado regulador marcado por linhas e ângulos reto, cuja característica corresponde ao contemporâneo de tendência mundial.


Poltrona Helena As duas poltronas, a Sonia e a Helena, foram criadas na mesma época e com um mesmo conceito: o do minimalismo e da simplicidade da forma. O uso da cor nos duas peças contrasta com tom da madeira e do aço e tem a proposta de dialogar com a paisagem de Brasília.

Samuel Lamas

Poltrona Helena. Foto: Haruo Mikami.

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Estante Carlos 67

A concepção da estante foi inspirada na simplicidade e no minimalismo. A partir do conceito da geometria e da estabilidade, representada pela figura geométrica do triângulo, o arquiteto utilizou a estrutura em aço, tanto na disposição dos pés quanto no apoio das pranchas em madeira. Composta por três níveis, cujas pranchas estão apenas apoiadas na estrutura triangular em aço. Essa estante foi a primeiro móvel de design projetada pelo arquiteto.

Design de mobiliário e Brasília

Estante Carlos. Foto: Haruo Mikami.

Estante Carlos. Foto: Haruo Mikami.


Poltrona. Foto: Haruo Mikami.

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Samuel Lamas

O arquiteto acredita que a sua vivência em Brasília influencia a sua produção, ainda que indiretamente. Uma de suas inspirações é a paisagem natural, que define a escala bucólica e que permeia toda a cidade. O uso das cores nas poltronas é reflexo dessa inspiração, pois conecta a paisagem externa com o ambiente interno, trazendo vivacidade ao ambiente. As suas peças também possuem um design com formas simples que remetem à arquitetura modernista e, consequentemente, à cidade de Brasília.


Studio Maré

Andre Leal. Foto: Bruno Pinheiro.

Guilherme Albuquerque. Foto: Bruno Pinheiro.

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Andre leal

Guilherme

Design de mobiliário e Brasília

Albuquerque experiências acadêmicas

experiências acadêmicas

2012-2017: Dupla graduação em Design Industrial e de Produto e Design Visual pela Universidade de Brasília. 2014-2015: Intercâmbio em Industrial and Product Design pela International Scholarship Program na Savannah College of Art and Design.

2012-2017: Dupla graduação em Design Industrial e de Produto e Design Visual pela Universidade de Brasília. 2014-2015: Intercâmbio em Industrial and Product Design pela International Scholarship Program na Savannah College of Art and Design.

experiências profissionais

experiências profissionais

2016-2018: Designer Freelancer. 2016-atual: Fundador e Designer na Colina Design 2007-atual: Designer intermediário na empresa Estúdio Danilo Vale 2018-atual: colaborador na empresa Boobam

2016-2018: Designer Freelancer. 2016-atual: Fundador e Designer na Colina Design 2007-atual: Designer intermediário na empresa Estúdio Danilo Vale 2018-atual: colaborador na empresa Boobam


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eventos 2017 Paralela Feira em São Paulo.

2018

Mesa Eixos. Foto: Bruno Bernardes.

Studio Maré

Fresh From Brazil em Nova York. Brasília Cidade Design. Expo Brasilia Design.


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Início da produção.

O interesse na produção de design de mobiliário, por parte dos dois profissionais, ocorreu desde a época da faculdade. O arquiteto Guilherme teve seu primeiro contato na área de design ao fundar seu escritório onde desenvolveu alguns produtos em parceria com os outros sócios. O designer Andre Leal, teve contato com essa área durante a faculdade na Universidade de Brasília, intensificando seu interesse ao fazer intercâmbio e cursar algumas disciplinas relacionadas ao design de mobiliário. Com a fundação do Studio Maré, os dois começaram a parceria e desenvolveram a primeira peça juntos: a Mesa Eixos.

3 Design de mobiliário e Brasília

Materialidade.

O material mais utilizado é a madeira devido à facilidade de mão-de-obra na cidade. O aço também é muito usado devido a sua alta resistência mecânica e, também, por permitir a construção de estruturas mais finas e delicadas conferindo leveza aos produtos.

2

Processo criativo e produção.

Os dois começam o processo criativo com o desenho a mão livre, como uma primeira etapa para a concepção da peça. Após esses primeiros esboços são realizados desenhos técnicos em programas de computador, cujo objetivo é viabilizar a criação dos protótipos, afim de se analisar a proporção, os detalhes, a estabilidade e outros aspectos relevantes da peça. Esses protótipos são confeccionados, inicialmente, em impressão tridimensional ou em madeira e, posteriormente, são enviados para a execução final.

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Conceito, identidade e características do design.

O conceito minimalista, com formas simples e puras, foi o ponto de partida para o início da concepção da Mesa Eixos. A partir desse conceito foi desenvolvida a proposta formal da peça, para em seguida serem elaborados os primeiros desenhos para a concepção final do mobiliário.


Mesa Eixos

Detalhe Mesa Eixos. Foto: Bruno Bernardes.

Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz Plano Piloto de Brasília. Fonte: Arquivo Público do Distrito Federa.

Lucio Costa, Relatório do Plano Piloto.

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Studio Maré

Detalhe Mesa Eixos. Foto: Bruno Bernardes.

A concepção da mesa Eixos surge de um principio onde menos é mais, cuja forma se caracteriza por linhas simples e singelas, características presentes na estética modernista. Além desse conceito, outros foram abordados, tal como: o equilíbrio, a leveza e a versatilidade no uso das funções do mobiliário. Sua estrutura é configurada em aço revestido por uma pintura eletrostática preta fosca. O tampo é composto por uma peça circular em madeira, sendo a base em concreto. O contraste entre o peso da base e a estrutura em aço delgada permite um equilíbrio que surpreende pelo design proposto, cujo eixo da estrutura se desloca para a extremidade da base. A mesa, além do design diferenciado, possui uma versatilidade de uso, pois além da função de apoio lateral pode, também, ser utilizada como suporte para pendurar bolsas e pequenos objetos. A forma obtida a partir do cruzamento da estrutura que apoia o tampo de madeira foi inspirada no desenho urbanístico de Lucio Costa para o Plano Piloto de Brasília, ou seja, dois eixos que se cruzam e definem o sentido da forma.




Design de mobiliário e Brasília

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considerações finais


Como os fatos urbanos são relacionáveis as obras de arte? Todas as grandes manifestações da vida social têm em comum com a obra de arte o fato de nascerem da vida inconsciente, esse nível é coletivo no primeiro caso e, individual no segundo, mas a diferença é secundária, porque umas são produzidas pelo público, as outras para o público, mas é precisamente o público que lhes fornece um denominador comum. (Rossi, p. 19, 1966).

Desta maneira, é possível afirmar que a produção de design de mobiliário brasiliense absorve as características do meio em que está inserida. Ao analisar as peças e a produção de cada profissional foi possível elencar características particulares na produção autoral de cada um deles que os diferem entre si. De modo geral, a madeira é o material mais utilizado, por ser uma matéria prima em grande quantidade no mercado e por ser um material tradicional que a técnica já é conhecida. Além da madeira, outro material muito utilizado é o aço, por ser de fácil alcance e pelo apelo estético que esse material permite. Além desses dois materiais, alguns profissionais utilizam o vidro, o mármore, o tecido e o couro para a composição de suas peças. Em relação à influência da cidade de Brasília como inspiração na produção do design de mobiliário contemporâneo local, pode-se afirmar que, relativamente aos profissionais entrevistados, há gradação entre a respectiva produção e a influência das características da cidade, haja vista que cada um se apropria de elementos diversos da estética local (arquitetura, arte, forma, material, elemento construtivo, paisagem natural), para criação de suas peças. Sobre esse aspecto existe designers e arquitetos que se inspiram diretamente na arquitetura e urbanismo da cidade de Brasília como principal conceito para a criação de suas obras. Como é o caso do banco Alvorada, do designer Aciole Félix, e a cadeira Athos do designer Danilo Vale.

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Design de mobiliário e Brasília

A realização desta pesquisa foi motivada pelo interesse de investigar se há uma relação entre o design de mobiliário brasiliense contemporâneo e a cidade de Brasília. Como visto ao longo da pesquisa, houve uma mudança em relação ao caráter do móvel, passando de um elemento que cumpre uma determinada função a um objeto que se relaciona diretamente ao seu próprio tempo, cultura, sociedade e lugar. Ao longo dos anos, a produção de mobiliário no Brasil foi influenciada diretamente por movimentos internacionais. Após a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, a produção de arte, arquitetura e design começou a construir sua própria identidade e características. Atualmente, considerando o referencial teórico e o estudo de caso pode-se afirmar que a produção artística reflete as características do momento histórico em que está inserido, da cidade, de um grupo social, uma cultura. Sobre esse aspecto, Rossi afirma:


Design de mobiliário e Brasília

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Essas peças possuem uma identidade direta tanto com o usuário brasiliense quanto com a cidade, pois são mobiliários que se apropriam da estética de monumentos ícones da capital. Para as pessoas que têm a vivência na cidade, há um sentimento simbólico-afetivo de pertencimento entre a peça de design, a cidade e o usuário. Existe também uma produção que possui um vínculo com a cidade de modo indireto pois, embora as peças remetam à cidade, a apropriação de seus elementos não é tão explícita. A título de exemplo podemos citar o criado-mudo Quadrante do Ateliê Monolito, que utiliza o concreto para a concepção da peça. Além desse, há o rack Carretel, do designer Dimitri Locicks, que utiliza a madeira local e características da arquitetura modernista brasiliense e a poltrona Sonia, do arquiteto Samuel Lamas, ao utilizar da cor e, assim, relacionar o móvel com a paisagem natural da cidade. Há também outros profissionais cujas peças analisadas, embora dialoguem com a cidade, estão mais próximos de outros referenciais e conceitos, a exemplo da designer Raquel Chaves com sua mesa Quinto, que utiliza elementos da estética moderna internacional. Além disso, as peças materializam aspectos da arquitetura local, ratificam sua importância e funcionam como elemento de divulgação da cultura da cidade eleita pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade e com título de Cidade Criativa no Design.


Design de mobiliário e Brasília

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referências bibliográficas


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Universidade de Brasília Milena Panhol Borges Design de mobiliário e Brasília




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