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Hoje vou falar-vos de um reino maravilhoso

Esta semana não escrevo, como de costume, um artigo de opinião, mas sim de coração. Separam-me da minha “Terra”, em Portugal, cerca de 6.000 km em linha reta. A saudade aperta, naturalmente, pelos laços familiares que lá estão, mas também por muito mais. Os meus queridos pais, Laura e Guilhermino, são o expoente máximo deste Reino Maravilhoso.

Agosto é para muitos o tempo de voltar, de abraçar, de usufruir, mas sobretudo de “matar essas saudades que se acumulam durante todo o ano. É impossível não ficar apaixonado pelos vi- nhedos, pelas urzes e giestas dos montes, mas a minha terra tem um perfume inigualável, que sinto não raras vezes quando fecho os olhos e a vejo lá no fundo na descida das Casas da Serra, para Carlão. O azeite e o vinho que ali produzimos são dos melhores do mundo. Mas as diferentes frutas e as batatas são também de qualidade e muito abundantes. O rio Tinhela e Tua dão ainda uma beleza maior ao cenário, de cortar a respiração. A Banda de Música fundada pelo meu pai, onde foi presidente durante 25 anos, é o grande símbolo cultural.

A igreja que se equipara a uma catedral, como sempre dizia o já falecido bispo de Vila Real – D. Joaquim Goncalves. Dentro deste edifício religioso, encontra-se a imagem imponente do Senhor Dos Passos a que ninguém pode ficar indiferente. No terceiro domingo de agosto, são as festas de Nossa Senhora dos Remédios. A população cresce de 300 para 1500 pessoas. Ganha uma vida única, onde os dias têm, para muitos, 24 horas sem dormir. Querem aproveitar cada segundo (fiz isso algumas vezes). E quando, ao longe, os meus conterrâneos veem a imagem da Senhora dos Remédios em Procissão percebem porque vêm a cada ano. No rosto desta imagem estamos todos! É, sem dúvida, o maior símbolo da terra e sobre o qual ninguém tem opinião divergente. Todos nos juntamos para festejar. E o cheiro das bolas de carne únicas no país e que não tenho palavras para aqui descrever, e os assados deliciosos e saborosos como o manjar dos Deuses.

Em todas as casas existe fartura de comida. A frase que mais se ouve é – “Entre, quem é? Não sei se quem lê este artigo consegue perceber do que falo pois nós os transmontanos vivemos e sentimos de forma muito singular fazendo juz à célebre frase – “Para lá do Marão mandam os que lá estão”...

A minha “Terra” também tem história como o Abrigo Rupestre da Pala Pinta que está classificado como sítio de interesse público, como um dos mais importantes monumentos da arte rupestre. A minha “Terra“ chama-se Carlão, uma aldeia, sede de freguesia, que se situa no distrito de Vila Real, Trás-os-Montes, mas sobretudo fica num local bem guardado, o meu coração. “Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso.Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe como é dos mais belos que se possam imaginar.” Miguel Torga

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