uma experiência de produção compartilhada
Coordenação
Marina Vieira
uma experiência de produção compartilhada
Coordenação
Marina Vieira
2011
ISBN 978-85-65068-01-7 Mulheres da Ideia ao Projeto - uma experiência de produção compartilhada / Vieira, Marina - coordenação; Rio de Janeiro, 2011. 94p.21cmx24cm
cc
creative commons
C O M M O N S D E E D Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 2.0 Brasil Você pode: copiar, distribuir e executar a obra Sob as seguites condições:
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Realização
Parceria
Apoio
Patrocínio
Expediente
Coordenação Editorial
Agradecimentos
Marina Vieira
Andrea Medrado Bragard Andressa Xavier Cida Medeiros Felicia Krumholz Gustavo Queiroz Jasmin Pinho José Carlos da Silva Rodrigues Kátia Gianone Minom Pinho Maria Lilia Carneiro Maria José Motta Gouvêa Nautilus Bureau Digital Ltda Rosemeri Viana
Texto
Fabiana Fonseca Edição
Maria da Luz Miranda Projeto Gráfico
Maria Clara Moraes Capa
Aline Damasceno Fotografia
Danyella Euzébio, Paula Wiederkehr, Daniela Araujo, Joanna Costa Edição Executiva
Mil e Uma Imagens Comunicação
Oficina de produção Coordenação geral
Marina Vieira Coordenação de Conteúdo
E a João Caetano de Oliveira, Marcos Rodrigo Maciel Ferreira, Ilma Euzébio, e a todos os nossos amigos, pais, filhos e companheiros
Mércia Britto Coordenação de Criação
Luciana Bezerra Assistente de Criação
Margareth Cavalcante Mídias Sociais
Fabiana Fonseca Produção
Larissa Valdívia
Patrocínio Avon / Lei Rouanet / MinC
Parceria Sesc Rio
Apoio Cinema Nosso O Instituto
Realização Mil e Uma Imagens Comunicação
Mulheres na internet Facebook: http://www.facebook.com/home.php#!/profile.php?id=10 0001982482261 Twitter: @_mulheres Flickr: Mulheres, da ideia ao projeto YouTube: projetomulheres blog:www.mulheresdaideiaaoprojeto.wordpress.com.br
Sumário Um sonho de paz 6 A experiência de compartilhar ideias 7 Mulheres: tecendo a técnica com os fios da vida 8 Apresentação 10 Aula inaugural ou o papel da mulher no Brasil de hoje 21 De onde surgem as ideias? 24 O que nos move aqui 27 Ideias compartilhadas 31 A jornada do herói 33 Quanto vale uma história? 37 Pensando nas multiplataformas 40 Como elaborar um projeto, ideias básicas 41 Fechando as contas ou modos de produzir 44 Estamos em crise, mas buscamos soluções 47 Patrocínio e estratégia de lançamento 49 Captação de recursos 52 O roteiro nos bastidores e o como fazer em evidência 56 Momento DR, a boa e velha discussão da relação 61 O plano de negócios: um mundo em movimento 64 Propriedade intelectual e direitos autorais 67 Bloco na rua: as Mulheres no carnaval do Rio 70 O alegre fim de Ana Paula 72 Todo sentimento 75 Mulher tem cor? 82 O Pitching: qual será a nossa história? 84 O resultado 85 Conclusão 88 Bibliografia 91 Glossário 92
Um sonho de paz Em várias partes do mundo, as mulheres estão protagonizando ações que reverberam por toda a sociedade.
Desde a escolha deste projeto, nós, da Avon, procuramos nos envolver com o grupo. Promovemos o seminário Não Violência Doméstica, no Rio de Janeiro, evento que reuniu muitas gerentes de setor, e também divulgamos amplamente o “Mulheres, da Ideia ao Projeto” entre os funcionários das diversas unidades da empresa, para que eles pudessem acompanhar o processo. Buscamos com isso enriquecer o ambiente, estimular a criatividade do grupo, e fortalecer ainda mais as mulheres envolvidas no projeto.
Acreditamos que contribuímos para que todos os objetivos fossem cumpridos. Esperamos que esse esforço frutifique.
Kátia Gianone Diretora de Comunicação Avon Brasil
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A experiência de compartilhar ideias A expressiva e crescente participação das mulheres em diversos setores da sociedade tem contribuído para que novas configurações culturais sejam desenhadas no mundo contemporâneo, ganhando contornos que se desdobram e influenciam modos de sentir, pensar, agir e produzir.
"Mulheres - da ideia ao projeto, uma experiência de produção compartilhada" é um bom exemplo de como este processo vem ganhando força, em especial pela metodologia empregada, baseada em conceitos como cooperação, reciprocidade e liberdade cooperativa, registrada nesta publicação.
Ao ser parceiro desta oportuna iniciativa, o Sesc Rio reafirma seu compromisso em apoiar projetos que contribuam para o melhor entendimento das dinâmicas sociais de nosso tempo.
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Mulheres: tecendo a técnica com os fios da vida Por que oferecer oficinas de criação e produção audiovisual só para mulheres? A pergunta foi a minha primeira reação quando Marina Vieira, numa das reuniões d'O Instituto organização da sociedade civil voltada para a democratização da cultura e do acesso ao conhecimento no contexto das cidades -, nos contou a proposta de "Mulheres, da Ideia ao Projeto".
A resposta, bastante objetiva, nos revelou a existência de uma hierarquia de gênero que, apesar de todas as conquistas do movimento feminista, ainda caracteriza o mercado de trabalho do audiovisual. Era preciso, explicou Marina, preparar as mulheres para mudar esse quadro que, para meu espanto, reproduzia, num universo tão associado aos valores da modernidade, os velhos padrões da cultura patriarcal.
Desde o início do processo, entretanto, já na aula inaugural, da qual tive o prazer de participar como mediadora da palestra da professora Bila Sorj, percebi que a minha pergunta admitia outra resposta, que apontava para além da aquisição de competência no mercado de trabalho. Ali, não se tratava apenas de ensinar mulheres a criar, gerir e realizar produtos audiovisuais, e sim de descobrir novas maneiras de lidar com esse processo. Maneiras construídas a partir de atitudes e valores que, na nossa cultura, são tidas como atributos próprios do comportamento feminino, atrelado aos papéis de mãe e cuidadora: solidariedade, afeto,
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generosidade. Maneiras em que a troca e o compartilhamento de recursos, saberes e experiências se sobrepusessem à lógica da disputa individualista e competitiva. Em que o conhecimento técnico e a experiência de vida não se separem, mas, ao contrário, se conjuguem e enriqueçam mutuamente.
O formato narrativo do texto que se segue dá bem o tom do caminho percorrido pelo grupo de 22 mulheres - vale, aqui, incluir a equipe - nessa busca. Ao relato dos conteúdos das aulas (significativamente escrito na primeira pessoa) e à sua sistematização num passo a passo técnico de grande utilidade, são intercalados trechos de diários pessoais das alunas, em que os sucessos e impasses da experiência de aprendizado e produção coletiva nos aparecem traduzidos na linguagem dos sentimentos: alegria, tristeza, empolgação, desânimo, as muitas e diferentes emoções que são o substrato de todo processo criativo, mas que não se encontra em nenhum manual.
Vivida por mulheres, a experiência pioneira descrita nesse relatório não deve ser entendida como dirigida a outras mulheres, mas a todos os que se empenham em encontrar caminhos para a criação e produção audiovisual pautada nos princípios da colaboração e da troca . Os obstáculos existem, sem dúvida, e são muitos, mas reconhecê-los é um passo decisivo para enfrentá-los. E certamente vale a pena.
Ilana Strozenberg Diretora acadêmica d'O Instituto
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Apresentação A
ideia de
uma produção audiovisual
compartilhada
nos
acompanha desde o Festival Tangolomango 2006. Éramos três mulheres - Luciana Bezerra, Mercia Britto e Marina Vieira envolvidas com o audiovisual, uma área predominantemente habitada por homens. Ao pensarmos o projeto, desejamos estabelecer uma rede criativa para dar início a um roteiro de ficção. Daria uma trabalheira. Mas partimos para a ação. Montamos a proposta, conseguimos a aprovação pela Lei Rouanet, fomos atrás de parceiros que apostassem em nossa ideia.
Com o interesse da Avon em patrociná-lo, e a possibilidade real de execução, tivemos a ideia de trabalharmos somente com mulheres e, ainda mais especificamente, de trabalharmos também a mulher como tema de uma "série de TV". A proposta era que o projeto Mulheres - Da Ideia ao Projeto, uma experiência de produção compartilhada representasse todas nós como empreendedoras de nossas vidas.
Fosse a grande empresária moradora de uma
metrópole ou a rendeira da praia de Itacaré e seus nove filhos. Teríamos o particular com apelo universal, que nos levaria a um grande alcance de público.
Para atingir esses objetivos, basearíamos todo o nosso trabalho nos conceitos que permeiam a Generosidade Intelectual: confiança, reciprocidade, cooperação, solidariedade, compartilhamento, ajuda mútua e liberdade criativa.
Com a certeza de que a câmera é o motor que nos move, ganhamos também o apoio do Sesc Rio, e criamos um espaço em
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que todas trocaram vivências, misturaram lembranças, dialogaram, desconstruíram, avançaram. E de tantas experiências reunidas, o resultado nos mostrou que a diversidade pode trabalhar, sim, na direção de uma unidade.
O início de tudo Desde 2002, a Mil e Uma Imagens organiza o Tangolomango Festival da Diversidade Cultural (tangolomango.com.br), projeto que reúne grupos populares de diferentes regiões do Brasil e da America Latina para trocarem saberes e fazeres e participarem de uma experiência única de produção compartilhada.
Na edição de 2006, a equipe do Tangolomango idealizou e coordenou um projeto de produção de curta-metragem em produção compartilhada, reunindo jovens que já participavam dos núcleos audiovisuais dos grupos Nós do Morro, Nós do Cinema (hoje Cinema Nosso) e CUFA. O objetivo era promover a articulação e a troca de experiências entre os grupos, com o desenvolvimento de um filme, da sinopse inicial até a edição final, durante nove meses.
O curta-metragem "Eleições 2000 e sempre!" foi realizado em vídeo digital, a partir da reunião de três curtas-metragens produzidos (do roteiro à edição) pelos três grupos. Mais da metade desta equipe formaria, um ano depois, a equipe de diretores do "5x favela - agora por nós mesmos", projeto coordenado por Cacá Diegues, Rodrigo Felha (Arroz com Feijão), Luciano Vidigal (Concerto para Violino) e Luciana Bezerra (Acende a Luz).
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A experiência foi impactante. E com a empolgação de quem quer repetir e ainda ampliar o que dá certo, partimos para a ideia de produzir uma série. Desta vez, em produção totalmente compartilhada. Da criação ao projeto de viabilização, com um único corpo de produção.
A construção Mulheres - Da Ideia ao Projeto, uma experiência de produção compartilhada foi a realização de uma oficina de produção audiovisual desde a sistematização de ideias até seu plano de comercialização. Por análise de currículo, reunimos 15 jovens mulheres cuja trajetória profissional estava ligada ao audiovisual. Quando somamos a equipe de produção, formamos dois times de futebol. Juntas, 22 mulheres de idades tão variadas quanto suas histórias, mostraram que no campo audiovisual, o que conta é o empenho e a vontade de fazer. É assim que o gol balança a rede, ou melhor, que a ideia vai à tela e alcança o público.
Envolvemos em nosso processo colaborativo 13 profissionais com larga experiência nas áreas de roteiro e formatação de projeto. Ao contar sobre o que fazem e, principalmente, como fazem, eles nos ajudaram a caminhar com segurança. Tivemos ainda a valiosa contribuição de seis consultores que avaliaram as nossas propostas, apontaram falhas e nos estimularam a seguir em frente.
Na primeira fase do projeto, trabalhamos as etapas da construção de um roteiro, que seria resultante da criação coletiva. Na segunda, parte do grupo ficou com argumento e sinopses, e o restante conduziu as tarefas de elaboração do projeto.
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Tudo se concretizou como o planejado, só que de uma forma bem mais lúdica e envolvente do que havíamos imaginado. Ao longo do curso, trocamos ideias, confissões e decisões coletivas, conselhos, dicas de trabalho, de livros, de filmes, de shows. Vivemos momentos de reflexão e discutimos temas sérios, como política, religião, superação. Mas também garantimos o riso. Houve festas e noites na Lapa, o tradicional reduto da boemia carioca. Bebemos caipirinha, cerveja, falamos de futebol, e botamos nosso bloco na rua, o "Mulheres", que desfilou durante o carnaval do Rio de Janeiro.
A publicação O processo foi registrado no blog mulheresdaideiaaoprojeto.wordpress.com e também em mídias sociais como Facebook, Twitter, Flickr e Youtube.
Com a edição e publicação de Mulheres - Da Ideia ao Projeto, uma experiência de produção compartilhada, mostramos como nos entendemos ao longo de todo o percurso. Aqui estão o relato do processo, as discussões e temas essenciais, o passo a passo de cada etapa, um breve resumo do diário que nos acompanhou em todo curso. Ao circular pela turma e dormir a cada noite com uma de nós, o diário nos fez compartilhar também sentimentos.
Enfim, contamos os acertos, as voltas e reviravoltas, e o consenso que a produção compartilhada exige. É como pretendemos contribuir para que a ideia e a experiência se multipliquem, e para que muitas outras mulheres - e também homens - se inspirem e façam, com a câmera na mão, o que lhes vier à cabeça.
Marina Vieira
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Coordenadoras do Projeto Marina Vieira, coordenadora geral, é jornalista e produtora cultural, presidente d'O Instituto (Instituto Contemporâneo de Projetos e Pesquisa) e fundadora da Mil e Uma Imagens Comunicação. Também é idealizadora e diretora dos festii ei r na V Mari
a
vais Tangolomango - Festival da Diversidade Cultural -, do Criei, Tive Como! - Festival Multimídia de Cultura Livre - e do Tangolomanguinho.
Luciana Bezerra, que assumiu a condução de toda a oficina, é integrante do grupo Nós do Morro, no qual trabalhou como atriz e realizadora. Seu primeiro curta-metragem, Mina de Fé, foi Luci
ana Beze rra
premiado no 37º Festival de Brasília, no Festival do Rio, e no Festival Curtas SP. Seu mais recente trabalho, "5x favela", teve sete prêmios em Paulínia e foi a Cannes em seleção oficial.
Mércia Britto, coordenadora de conteúdo, é assistente social, pesquisadora, especialista em educação audiovisual, fundadora da Escola Audiovisual Cinema Nosso, e membro da plataforma ia Mérc
o Britt
internacional de Gestores Culturais Proyecta Cultura desde 2004. É curadora do Festival de Cinema Estudantil de Barra do Piraí e produtora executiva do longa-metragem "Luto Como Mãe", de Luis Carlos Nascimento.
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Equipe Cláudia Duarte, secretária de produção do projeto, é graduada em
uar aD udi Clá
Jornalismo.
te
Danyella da Silva Euzebio, que fez a fotografia still do curso, estuda geografia na UERJ e em 2009 fez parte da produtora Escola do Cinema Nosso.
Danyella da Silva Euzebio
Fabiana Fonseca, responsável pela mídia social, é graduada em
Fabia n Mesqu a ita
Jornalismo pela UFAC e especialista em Assessoria de Comunicação pela Uninorte.
Larissa Valdívia, assistente de produção, estuda Artes Visuais na UERJ e já fez mais de dez curtas-metragens.
Lar Valdissa ívia
Maga Cavalcante, assistente de conteúdo, é atriz e roteirista, já fez Maga ante Cavalc
produção, foi assistente de direção e assistente de continuidade em cinema, TV e teatro.
Maria Clara Moraes, designer, é formada pela Escola Superior de Desenho Industrial, com especialização em projeto gráfico.
lara Maria C Moraes
Ganhou o concurso dos Correios para a série de selos das Olimpíadas de Moscou.
Maria da Luz Miranda, que editou o livro, é jornalista formada pela UFRJ, e especialista em estratégias de comunicação e marketing
Ma Mir ria d an a L da uz
digital. Patrícia Basílio, responsável pela administração financeira do projeto, é formada em Artes Plásticas pela UFRJ e pós-graduada em finanças pela Gama Filho
sílio a Ba
íci Patr
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As participantes Aline Maria Damasceno de Oliveira é graduada em Artes Visuais pela UERJ, assistente de Câmera na Fundação Palmares. Aline Dama sceno
Ana Claudia Okuti participou de produções do núcleo Nós do Morro. Dirigiu o curta "Caixa Preta", vencedor de melhor roteiro no VIII Festival Guaçuano de Vídeo. a udi Cla Ana ti Oku
Ana Paula da Silva é educadora de mídias para adolescentes pela ONG Bem TV - Educação e Comunicação, trabalha com audiovisual há 12 anos.
Ana P da Sil aula va
Bárbara Caldas é escritora romancista, cronista e roteirista.
s
a ra Cald Bárba
Bianca Fabre é graduada em Comércio Exterior e pós-graduada em Finanças. Integrante do Grupo Nós do Morro, faz produção executiva e produção financeira de projetos do grupo.
nca Biabre Fa
Daniela Araujo é coordenadora associada do projeto Cinema Paraíso e coordenadora de projetos da ONG Bem TV - Educação e Comunicação. Daniela Araujo
Francisca Sheyla Damasceno de Castro tem larga experiência em produção cinematográfica e já fez sete produções teatrais, seis produções cinematográficas e videoclipes. eyla sca Sh stro Franci eno de Ca sc Dama
Heloisa Helena Miranda Prado é escritora, autora de quatro livros infanto-juvenis, dois romances, cinco roteiros para cinema e mais de 150 poesias.
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Joanna Pinto Carneiro da Costa é integrante do Grupo Nós do Morro e e tem trabalhos em produtoras como O2 Filmes, Diler e Associados, Aquarela Filmes e Pôster Filmes.
Hel oi s
a P rad o
Letícia Santos Freitas é Letícia Freitas, Formada em publicidade, trabalha na ONG Bem TV-Educação e Comunicação onde é educadora e assessora dos Adolescentes Comunicadores da PCU é idealizadora e produtora do Cine de Buteco.
Joanna Pinto osta C Carneiro da
Manuelle Fonseca Rosa, formada em jornalismo, foi produtora do Núcleo Audiovisual Nós do Morro, e assistente de produção das sessões ABRACI (Associação Brasileira de Cineastas).
S cia Letí tas i Fre
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Paula Cristina Wiederkehr Grechinski é gerente de Projetos na agência de comunicação Sellulloid. Tem formação executiva em
Manuelle Fonseca Rosa
Cinema e Televisão pela FGV.
Rafaela Baia é produtora executiva do Programa Espelho, dirigido e apresentado por Lázaro Ramos
Paula Wiederkehr Grechinski
Raquel Beatriz Esteves Reis foi assistente de edição no documentário "Luto Como Mãe", e também roteirista e editora do la Rafae
curta-metragem Feliz Páscoa, com a colaboração de Kátia Lund.
Baia
Thais Cristina da Costa atua na edição de videografismo e na produção de layout na Produtora Escola Cinema Nosso.
eves el Est Reis
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Thai da C s Cristina osta
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Os palestrantes Ilana Strozenberg é doutora em Comunicação pela UFRJ, professora da Escola de Comunicação, graduada em Sociologia e Política pela PUC Rio, tem graduação em Études Litteraires Université de Paris IV (Paris-Sorbonne). Dedica-se a pesquisas sobre as diferenças culturais no meio urbano brasileiro contemporâneo.
Bila Sorj é professora titular da UFRJ. Possui graduação em Sociologia e História e mestrado em Sociologia pela University of Haifa, e doutorado em Sociologia pela Manchester University (1979).
Rosane Svartman é cineasta, roteirista e diretora de TV. Formada em cinema pela UFF, realizou seu primeiro longa-metragem, Como Ser Solteiro, em 1997. Também dirigiu videoclipes, além de programas e minisséries para TV.
Maurício Mota é chief storytelling officer e cofundador da The Alchemists. Foi o primeiro latino-americano a participar e palestrar no projeto do MIT (Massachussets Institute of Technology) sobre o futuro do entretenimento.
Paula Lobato é professora de Roteiro para Cinema, TV e Novas Mídias, na PUC Rio.
Pedro Salomão é professor na PUC Rio e roteirista na Roteiraria Filmes e Produções Ltda, produtora de conteúdos criativos que atende aos diversos segmentos da dramaturgia audiovisual.
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Eliana Sousa Silva é doutora em Serviço Social, formada em Letras - Português/Literaturas, pela UFRJ. Foi uma das fundadoras do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm).
Clélia Bessa é produtora de documentários, programas de TV, videoclipes, longas e curtas-metragens e sócia da Raccord Produções. Atualmente, é membro do Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual (SICAV) do Rio de Janeiro.
Bianca De Felippes é produtora de teatro e cinema, e sócia da Gávea Filmes. Com longa experiência em teatro, estreou na produção de cinema com Carlota Joaquina, 1995.
Patricia Novais é graduada em Desenho Industrial pela Faculdade da Cidade, com formação Executiva em Cinema e Televisão pela FGV. É gerente de projetos e marketing da Diler & Associadas. Em 2003 criou a Delux Comunicação, produtora cultural. Leonardo José dos Santos é administrador de empresas, pósgraduado em Finanças Corporativas pelo IAG da PUC-Rio e sócio da Innovactive Consultoria
Sérgio Branco é doutor e mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor das disciplinas Propriedade Intelectual e Português Jurídico na FGV.
Marcio Motokane é coordenador Artístico no Canal Futura, Fundação Roberto Marinho - RJ
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Os consultores Realizar um projeto cujo produto principal é o roteiro de uma série de TV exige mais do que uma equipe bem preparada e participantes capacitadas. É preciso contar com o olhar externo de quem está no mercado. O corpo de consultores foi montado por profissionais que já estavam no time de palestrantes e também por convidados especiais.
Para o roteiro, contamos com Paula Lobato e Pedro Salomão, Gustavo Melo - roteirista, diretor e professor de roteiro do Grupo Nós do Morro e da Escola de Cinema de Nova Iguaçu - e Rita Toledo - que roteirizou, produziu e dirigiu, com Isabel Joffily, o documentário "Uma Festa para Jorge", e também abriu, com a produtora Carolina Benjamin e a atriz Leandra Leal, a Daza Cultural. Os quatro ajudaram a fechar o conceito da série, definir o arco dramático e as tramas, formatar e embasar as personagens.
Clélia Bessa, professora de Produção da PUC/Rio e sócia da Raccord Produções, orientou a formatação do projeto em função das leis de incentivo e suas etapas de produção. Suas consultorias provocaram os resultados mais radicais na criação do roteiro.
Para o pitching, última etapa do projeto, que definiu a ideia de partida para a produção do roteiro final, além do apoio de Paula Lobato e Pedro Salomão, contamos também com a participação de Bárbara Mota, script doctor, analista de mercado para investidores e sócia da The Alchemists.
Esses profissionais, pelo que nos ensinaram, merecem nossos sinceros agradecimentos.
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Aula inaugural ou o papel da mulher no Brasil de hoje com Bila Sorj, mediação de Ilana Strozenberg A primeira vez é sempre carregada de expectativas. E foi assim, enfeitadas também por dentro, que chegamos para a abertura do Mulheres - Da Ideia ao Projeto, uma experiência de produção compartilhada, na sala de projeção do Cinema Nosso. Foi o dia de cada uma dizer o que faz, o que produz, com o que sonha. Umas falaram mais, outras foram menos expansivas, mas todas usaram a palavra e o tempo a que tinham direito. Era o começo.
Depois das apresentações e de satisfazermos a curiosidade inicial sobre tantas mulheres, Luciana Bezerra, que além de estar entre as idealizadoras do projeto, teria um papel fundamental a partir dali, explicou como seria o trabalho, o ritmo do processo, o que se esperava do grupo.
A partir daí, Bila Sorj assumiu a turma e, com a mediação de Ilana Strozenberg, lançou a pergunta que nos acompanharia durante todo o curso:
O que leva mulheres de origens e histórias tão distintas a darem as mãos e colaborarem num projeto dessa natureza? Afinal, qual é o nosso papel? 21
A conversa rendeu e, ali, tivemos uma ideia do que seriam as semanas seguintes. Para ilustrar a situação das mulheres no Brasil de hoje, Bila usou o exemplo do copo d'água, que pode estar meio cheio ou meio vazio. Depende da perspectiva de quem vê. Se somos otimistas, somos capazes de fazê-lo transbordar. Segundo Bila, o copo meio cheio representa os ganhos, como a crescente liberdade de escolha, a autonomia conquistada, a presença marcante das mulheres no mercado de trabalho. Por outro lado, se aos nossos olhos o copo está meio vazio, a perspectiva muda e lá vêm as perdas, como as restrições que enfrentamos no mesmo mercado a que já temos acesso.
As mulheres, Bila ressaltou, comumente assumem chefia em setores direcionados para o cuidar, como o de recursos humanos; as cadeiras em universidades ocupadas por elas são mínimas; e, na esfera política, ainda somos menos de 10%. Mais que isso, é evidente que o gênero é determinante, ainda, principalmente no ambiente profissional.
É preciso enxergar as fragilidades para contornar as diferenças históricas e culturais. E a melhor via de integração entre os gêneros é a educação, pontuou Bila. Podemos criar nossos filhos de modo que aceitem a igualdade do potencial humano independentemente de características físicas, pois o que nos define está além do que é construído biológica ou socialmente. Sendo assim, o cuidar e o disciplinar podem se tornar um comportamento inerente a ambos os sexos. E a mulher deve, sim, pensar em si mesma como indivíduo e fazer suas escolhas sem culpa. Se ela quer marido e filhos, que os tenha. Se não, que sua opção seja aceita e respeitada.
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A relação entre masculino e feminino ganhou contornos que poderiam nos levar à construção do roteiro. A partir das experiências de cada uma, chegaríamos a uma história comum. Com a temática já delineada, avançamos para o "como faremos".
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"De agora em diante você irá passar cada noite com uma mulher diferente... (um privilégio para poucos, desejado por muitos). Mulheres diferentes, mulheres únicas. Mas é claro que além de você, temos muito em comum. Estamos todas unidas pelo projeto Mulheres - da ideia ao projeto! Para mim, tudo começou em um sábado de sol na Rua do Rezende... Elas se apresentavam e eu, percebendo a grandeza de cada minuto, de cada palavra, agradecia às idealizadoras do projeto. Maravilhoso compreender que este projeto vai nos tornar contadoras e fazedoras de história. Com certeza não seremos as mesmas encontro após encontro. Graças a nós!" Paula Wiederkehr
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De onde surgem as ideias? com Luciana Bezerra
coragem casamento medo
profissão
filhos direitos
identidade saudade amizade rede culpa prazer espiritualidade relação
mãe batom
feminismo
perfeição homens
família corpo
rugas
transgressão
trabalho beleza cinema
afeto 24
As ideias e temas possíveis se entrelaçavam em nossas cabeças. A grade curricular do projeto estabelecia três aulas de roteiro por semana, intercaladas por duas palestras, de acordo com a disponibilidade dos consultores e palestrantes. Após a definição
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do storyline, prevista para a segunda metade do curso, seríamos
.
.
divididas em três grupos: roteiro, plano de negócios e planejamento.
"- Aqui nesta sala estão verdadeiros diamantes.
Como coordenadora do grupo de roteiro, Luciana Bezerra tinha a tarefa de promover a Generosidade Intelectual, conceito defendido por Marina Vieira, desde o início, como forma de garantir a cooperação entre o grupo.
Foi assim que fomos classificadas. E assim começa um grande projeto, com grandes Mulheres, com grandes histórias.
O primeiro desafio lançado por Luciana foi "conte a sua ideia", um
Não tem nada melhor do que ver
convite para que apresentássemos e discutíssemos possíveis
essas criaturas juntas colocando
temas para desenvolver no roteiro da série. Para facilitar a tarefa,
suas ideias, suas experiências, suas
Luciana leu as definições das seis fontes de ideias do roteirista
vidas, ali em cima da mesa, dentro
Lewis Herman: ideia selecionada, verbalizada, lida, transformada,
de uma roda ou escrita numa folha
proposta, procurada. Uma ideia selecionada é o estopim para a
de papel.
história, mas não é a história, pontuou ela, para explicar que o desejo de escrever sobre determinado tema exige pesquisa e estudo para desenvolvê-lo. Em nosso caso, havia a exigência, ainda, de dar e ocupar espaço num ideal coletivo.
A sensação que tenho é que no final do processo não teremos apenas um grande projeto, mas sim, uma grande jóia."
Foi assim que traduzimos em palavras os muitos significados que
Sheyla Castro
carregamos e que nos representam: de afeto e casamento a transgressão e identidade. Diante de tantas sugestões, opiniões, anseios, divagações e o que mais tantas mulheres reunidas são capazes de produzir, Luciana propôs a próxima tarefa.
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Uma pensa, outra complementa, mais alguém finaliza e o roteiro está quase pronto. Certo? Devíamos costurar as ideias que poderiam ser interligadas. Parece fácil, mas a aula subsequente de Luciana mostrou que entre o pensamento e a prática o caminho nem sempre é curto.
Começamos já a esboçar alguns detalhes técnicos sobre o número de episódios, seus espaços de tempo e um possível formato comercial da série. Conforme a conversa adquiria substância, as sugestões sobre os temas apresentados tornavam-se cada vez mais analíticas.
Para executar a tarefa proposta na aula anterior, fomos divididas em três grupos, cada um com a missão de reunir as características mais importantes das personagens para que se chegasse a um consenso. O exercício foi bom e mostrou, na verdade, que ainda estávamos muito longe de uma ideia pronta. Mas estávamos no começo e nenhuma tensão era necessária.
Optamos, naquele momento, por buscar inspiração em algumas produções de sucesso. Para isso, Luciana escolheu o episódio piloto da série Modern Family, exibida pela ABC, que faz uma sátira ao estilo de vida americano, e mostra, com humor inteligente, uma família fora dos arquétipos tradicionais. Uma boa pausa. E a proposta sobre roteiro ficou para depois.
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O que nos move aqui com Rosane Svartman
Na palestra Do Roteiro à Direção de Série de TV e Web, Rosane Svartman relatou o processo de produção do filme Desenrola, seu mais recente trabalho. Numa conversa leve e dinâmica, explicou os passos para a montagem de um roteiro, a criação de projetos e as plataformas de exibição.
A primeira lição guardada por nós, que estávamos às voltas com a produção de um roteiro, foi a de que a boa história é aquela que é bem contada. A segunda lição que Rosane nos deu foi que personagem principal precisa de empatia com o público. Também entendemos que é importante pensar em como externar o sentimento de cada personagem. E ainda que, para dar à trama um final satisfatório, podemos mover protagonista e antagonista num "jogo de roteiro", aquele em que se define quem sabe o quê antes de quem, se o público ou a personagem.
Rosane falou sobre as etapas para produção de um filme, que envolvem pesquisa, conteúdo, divulgação e colaboração, e mostrou que é possível somar conteúdos e desenvolver uma ideia usando várias plataformas de exibição.
Pesquisar é importante porque nos leva ao inesperado, a outros formatos e a novos produtos. O filme Desenrola, por exemplo, que resultou da série "Quando éramos virgens", veiculada pela GNT, teve desdobramentos que não estavam no script, contou Rosane. A série apresentava
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memória transformada em pequenos drops de ficção. Partindo desse tema, ela e sua equipe também criaram uma websérie com episódios de 10 minutos e foram a campo visitar escolas e debater o assunto com os alunos. O resultado foi um material de cinco anos de pesquisa, com vários produtos ao longo do caminho. E tudo foi utilizado para o desenvolvimento do filme.
O processo pode ser um produto, defendeu Rosane. Com as plataformas de exibição, o público tende a ajudar no desenrolar da trama, ou mesmo a criar diálogos inteiros por meio de discussões em blogs e sites de relacionamento. Sites parceiros também podem criar promoções sobre o filme. No caso do Desenrola, até rádios lançaram concursos dando ingressos como prêmio.
Para fechar o dia, Rosane pediu que cada uma criasse o seu storyline e respondêssemos a uma pergunta-chave: o que queríamos falar nessa série? Para isso, devíamos juntar os fragmentos correspondentes, achar um formato, e só então expor essa estrutura ao público. "Não há nada mais assustador que um projeto longo, com muitas questões e assuntos, que não tem um rumo certo", afirmou Rosane.
Como última
tarefa, ela sugeriu que fizéssemos uma frase
contendo o que nos movia nesse trabalho. As frases deveriam ficar à vista, pois nos direcionariam a um tema coletivo.
Foi assim que montamos uma lista de temas que gostaríamos de abordar.
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A mulher que perde o filho e as implicações dessa perda (Mércia) Rede de mulheres (Marina) Liberdade de escolha (Aline) Mulher que é chefe de família (Thais) Mulher que não abandona, mas deixa os outros em segundo plano (Daniela) Preconceitos contra a mulher (Letícia) Gente que usa redes sociais para falar sobre sua vida pessoal, mas que também está em busca de tribos (Ana Paula) Mulher enganada que, sem aprender as lições, permanece na condição de vítima (Heloisa) Inventar um lugar, um mundo, e projetar o que ela deseja (Luciana) Mulher livre vive de acordo com o que a faça feliz (Bianca) Mulher omissa, dependente do seu homem, aguenta tudo por uma vida estável (Sheyla) Relacionar conflitos de vida com trilha musical, mídias e personagens (Paula) Mulher que escolheu trabalhar e não constituiu família (Rafaela) Escolhas da mulher por vários tipos de relacionamentos; família, amizade e trabalho (Larissa) Falar sobre a união homem e mulher para o crescimento da humanidade (Raquel) Transformação e o poder de evolução pessoal em quaisquer circunstâncias (Bárbara) Um homem preso ao universo masculino descobre o universo feminino (Daniela Araújo) A mulher na passagem dos anos: moda e tendência, sua figura no universo (Joanna) Mulheres oprimidas que desejam a liberdade (Ana Okuti) O peso e a delícia de ser mulher hoje em dia: conflitos internos e sociedade (Manu) Casal estruturado, a mulher é promovida para outra cidade, o homem a acompanharia? (Maga)
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Guarde o passo a passo ! Defina o seu tema. ! Pesquise para desenvolver a sua ideia, pois a pesquisa traz o inesperado. ! Pense nas várias plataformas de exibição possíveis. ! Lembre-se: o processo pode ser um produto. ! Se tiver um bom ator em mente, escreva o seu texto para ele. ! Lembre-se que a personagem principal tem de ter empatia com o público.
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! Cuide para que seu roteiro tenha um final satisfatório. ! Ao escrever seu roteiro, avalie o que o público deve saber antes da personagem, o que a personagem sabe antes do público e o que descobrirão juntos. ! Simplifique. Deixe a proposta de conteúdo de cada plataforma bem clara. ! Pense no projeto como um todo e o descreva em poucas linhas. Deixe essa ideia visível durante todo o processo. ! Exercite o desapego.
Ideias compartilhadas com Luciana Bezerra A cada encontro, aprendíamos uma nova lição. Compartilhávamos a todo instante. Só precisávamos que as ideias resultassem numa produção única, que agradasse a todas.
Ao nos reunirmos novamente com Luciana, entendemos que fazer ideias diferentes convergirem para um mesmo ponto requer dos criadores o mesmo ingrediente que faz frutificar as relações de amizade: afinidade. A identificação nos aproxima e a proximidade nos preenche.
Os trabalhos em conjunto se desenvolvem tal como nutrimos as relações humanas. Na admiração mútua e na sobreposição das diferenças. Foi assim que nosso "momento criativo" começou a fluir e surgiu, em função do patrocínio da Avon, a personagem vendedora de cosméticos que descobriria as histórias de suas clientes durante as visitas para apresentar seus produtos. Mas a personagem foi deixada em segundo plano quando eclodiram a esquete de Eva e Adão e a super competente e encanada Ana Paula.
Engenheira responsável pela revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro, Ana Paula seria uma mulher arrojada e às voltas com conflitos de toda ordem: a mãe esotérica, o ex-namorado que se tornaria o colega de trabalho a quem ela se reportaria, os antigos moradores da área desapropriada para a construção da obra, a
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amiga jornalista que divulgaria os embates. Para fechar, a moça
.
.
.
viveria um confronto consigo mesma por conta de um aborto feito no passado e jamais superado.
"Há quanto tempo não escrevo num diário! Acho que desde a minha
Na construção da trama seriam criadas personagens secundárias
adolescência, o que não faz tanto
que aproveitariam as ideias iniciais das primeiras aulas. A sugestão
tempo assim!
de Mércia sobre a mulher em luto, por exemplo, apareceria como
Ontem, dormi com o lindo diário do
uma operária moradora da zona de desapropriação, que perdeu o
Mulheres na casa do meu namorado.
filho num conflito com a polícia há alguns anos e cuja filha estaria
Eu estava com dor de cabeça e com vontade de comer feijão. Acabamos que fomos juntos pra minha casa
envolvida no grupo que organiza a resistência aos agentes e oficiais de justiça. E assim por diante.
Já Eva e Adão viriam para dar um frescor ao assunto. A ideia de ter
comer feijão da minha mãe.
os pais da humanidade discutindo relacionamento em tom mais
Chegando a casa dele, falei que era a
cômico e diferente dos moldes já existentes surgiu antes de Ana
minha noite de dormir com esse
Paula ou mesmo da revendedora de cosméticos. Eva e Adão -
diário. A primeira reação dele foi
posição trocada propositalmente pelas alunas, mas sem a
pedir para ler o que eu tinha escrito, e
intenção de relacioná-la a qualquer trocadilho que circula por aí -
eu disse que era proibido e que já
seria o casal imortal, totalmente adaptado aos avanços da nossa
tinha histórias das outras mulheres. Aí começou a DR. Ele perguntou se eu tinha segredos e blá, blá, blá - eu
era, que passa por problemas conjugais desde o início dos tempos. Eles apareceriam por poucos minutos, no início ou nos intervalos dos episódios, discutindo algum tema relacionado à trama.
morri de rir - e queria me fazer jurar que eu o mostraria em outro
Estávamos avançando. Em um dia, andamos mais do que
momento. Talvez, quem sabe em
esperávamos. Defendemos nossas ideias em três minutos,
publicação!?"
falamos de nossas expectativas,montamos um enredo. Íamos nos
Ana Paula da Silva
moldando e nos adaptando, como pede a produção colaborativa.
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A jornada do herói com Paula Lobato e Pedro Salomão
O roteiro foi sendo desenvolvido paralelamente às oficinas e consultorias. Na medida em que as conversas avançavam, os ajustes eram feitos. Quanto mais ouvíamos, mais aprendíamos sobre as formas de fazer e sobre como criar de forma compartilhada. Foi com esse espírito que recebemos Paula Lobato e Pedro Salomão para a palestra sobre Estrutura do Roteiro para Série de TV.
Contar uma história compartilhando experiências próprias é um modo eficaz de envolver o outro e atrair seu olhar. É o que fazem os grandes escritores, há séculos, ao criar narrativas que contêm elementos comuns, mas que incitam a curiosidade do público pelo seu desfecho. E é essa curiosidade que define o sucesso da história.
Paula e Pedro nos lembraram que, ao longo do tempo, o modo de contar uma história passou não somente da forma oral para a escrita, como ganhou características peculiares. Eles estavam ali para nos mostrar como essas narrativas são categorizadas e como deveríamos empregá-las no roteiro.
A conversa ou papo sobre roteiro e drama, como eles classificaram, abordou desde as narrativas primordiais aos contos de fadas, dos romances de folhetim até as séries, novelas e comédias de situação exibidas atualmente. A partir de um breve resumo do desenvolvimento das narrativas, desde aquelas
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transmitidas oralmente, antes do surgimento da escrita, até as atuais, entendemos que toda história é construída com certa estruturação dramática.
Paula e Pedro nos apresentaram os doze passos que fundamentam a jornada do herói exposto por Christopher Vogler no livro A Jornada do Escritor. São eles o mundo comum, o chamado à aventura, a recusa ao chamado, o encontro com o mentor, a travessia do primeiro limiar, os testes aliados e inimigos, a aproximação da caverna oculta, a provação suprema, a recompensa, o caminho de volta, a ressurreição, e o retorno com o elixir.
Os roteiristas enfatizaram ainda que, dependendo do autor, os passos podem aumentar consideravelmente. Georges Polti, por exemplo, descreve 36 situações dramáticas. Já segundo Etienne Souriau, há duzentas mil delas agrupadas, com seis situações dramáticas básicas.
Não há limites, portanto, para a imaginação humana, se considerarmos que todas essas situações são feitas com o propósito de criar a empatia com o público e dar ao herói características tão peculiares que o tornem mais interessante que os outros.
Era assim nos textos antigos, é assim nos roteiros atuais. Criar uma história exige método. Para envolver o público, é preciso usar sensibilidade, criatividade e sagacidade. Além disso, é essencial
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entender e estar preparado, também, para ir e vir, escrever e reescrever, pensar e repensar, até que o roteiro esteja finalizado, explicou Paula.
Saímos da aula sabendo que contar histórias é comunicar experiências e partilhar significados. Eufóricas, só pensávamos em como escrever sobre questões femininas com as quais nos deparamos diariamente, mas com um olhar novo e capaz de atrair espectadores.
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Guarde o passo a passo do roteiro para série de TV Documentos do roteirista ? Storyline - o resumo da estória em poucas linhas: de onde parte, por onde caminha e aonde quer chegar. Ação versus intenção. ? Sinopse - descrição da estória em uma ou duas páginas, serve também como peça de venda. ? Argumento - termo utilizado no cinema, que traz o detalhamento das situações dramáticas em texto corrido e estruturado. ? Espelho - perfil de personagens e descrição de cenário. ? Escaleta - estrutura desenvolvida e sequenciada, espécie de pré-roteiro com diálogos em discurso indireto. ? Roteiro - texto final, instrumento de trabalho da equipe. Estrutura dramática Três atos Introdução, desenvolvimento, conclusão. Ato I - Com personagens já apresentados, coloca a estória em movimento e determina o objetivo. Ato II - Complicações, com progressão do esforço até o último fôlego. Ato III - Status quo, sendo que personagens raramente podem evoluir e passar por uma mudança imprevisível. Set up ou evento incitante/catalisador: acontecimento que define o conflito principal, quando a ação começa a se definir.
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O melhor set up é aquele em que o público antevê as complicações. Nas séries, serve para manter a atenção do espectador e evitar que ele mude o canal. Por isso é recomendável que o set up aconteça cedo, o que chamamos quick setup, que ajuda a otimizar o tempo para o desenvolvimento da estória. Tipos de Set up
? Ações específicas. ? Catalisam a ação da estória. Mais forte. Mais direto. ? Informação fundamental por meio do diálogo. ? Personagem fica sabendo de algo (pista). Menos forte. Menos direto. Situação ? Série de incidentes ao longo de um intervalo de tempo. Estrutura técnica Teaser: abre o episódio / prólogo (1 a 2 min.) Tag: fecha o episódio / epílogo (1 min.) Blocagem para os anúncios publicitários. Exemplo para série de 30 min. ou 60 min. de grade: Dois atos: dois blocos de 12 min. (cerca de quatro cenas cada). Quatro atos: quatro blocos de 12 min. (cerca de quatro cenas cada). As estruturas dramática e técnica se encadeiam.
Quanto vale uma história? com Maurício Mota
A menor distância entre duas pessoas é uma história. Esta foi a frase que norteou as quase quatro horas de aula de Maurício Mota sobre conteúdos transmídia e possibilidade de criação de muitos produtos a partir de uma boa história.
Mas o que são narrativas transmídia ou transmidiáticas? Para entender, basta imaginar uma história que é pensada - e criada para se materializar em várias mídias. Aquela que, lançada no cinema (sua nave mãe), ganha criações paralelas nas chamadas plataformas de exibição: internet, jogos online, livro, áudio livro, quadrinhos, vídeos online. O filme Matrix e a série Heroes são bons exemplos dessas narrativas.
Uma narrativa transmídia, no entanto, exige mais que uma história bem contada. Pede a criação de universos que não se desconectem da nave mãe. Imagine uma série de TV cujo segundo episódio traga personagens e a continuação de situações que não foram apresentadas no piloto, mas em sua extensão em quadrinhos? Isso provocaria, no mínimo, a aversão do público que só assiste ao que é veiculado na TV e desconhece as demais versões dessas histórias.
Maurício usou o momento em que Alice entra na toca do coelho para descobrir vários mundos como exemplo de que podemos diversificar caminhos em nossas histórias. Com conteúdos bons, elas se propagam.
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Quando se trata de transmídia, o conteúdo é a chave para o fracasso ou o sucesso do projeto. Aproveitando as deixas e com a expectativa da feitura do roteiro, Luciana Bezerra interveio: de que modo transformaríamos o nosso tema numa narrativa clara e perene? Fácil, segundo ela. Bastaria que se descobrisse o que o público gostaria de ver e disponibilizássemos esse resultado nas plataformas de exibição adequadas.
Com as multiplataformas, Maurício Mota fechou nossa primeira semana de atividades. Estávamos prontas para desenvolver o projeto com narrativa consistente e coerente em todas as plataformas que definíssemos. "Faça uma história boa o suficiente para ganhar o tempo das pessoas. Conteúdo compra tempo", ensinou ele, citando, também, o exemplo de Sherazade, que com os hiperlinks em suas histórias, estendeu seu prazo de vida, tornou-se a amada do rei e salvou as outras mulheres do harém. Uma boa história que não apenas rendeu como ultrapassou fronteiras de tempo.
O caminho para transformar nosso tema em um conteúdo fácil de propagar foi indicado na forma de mil e uma noites que representam, cada uma, um mundo diferente a ser descoberto. Éramos, ao final da aula, "Sherazades" do Transmedia Storytelling. Prontas para conectar pessoas.
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Guarde o passo a passo Transmedia Storytelling - Narrativas Transmídia O que é: Narrativa Transmedia/Transmedia Storytelling: é o uso de múltiplas plataformas de mídia para empregar uma matriz narrativa completa usando o melhor de cada meio. Como fazer:
? Equilibre criatividade e processo. ? O melhor modo de desenvolver a narrativa transmídia é criar links que expandem a estória e a transformam numa experiência maior e mais rica.
? A inteligência se multiplica quando é coletiva, colaborativa.
? Entenda o que o outro está pensando, o que o outro quer.
? Conteúdo não acontece sem comunicação.
? ”Quem converge é o público e não as plataformas" , segundo Henry Jenkins.
? Se é o público que escolhe em qual plataforma assistir à estória, cabe aos criadores de conteúdo criar maneiras dessas histórias se apresentarem em cada meio.
? Escolha cuidadosamente as plataformas globais e locais, sempre buscando uma escala sustentável para as narrativas.
? Persiga sempre o conhecimento. ? Lembre-se que você está construindo uma marca.
? A tarefa não é ver o que ninguém viu ainda, mas é pensar o que ninguém pensou sobre algo que todos vêem.
Não adianta ter o melhor conteúdo se não tiver como transmiti-lo.
? Público de interesse e fã devem ser tratados
? Tenha em mente que um bom projeto em
? Contar a estória é o mapa que gera universo.
transmídia requer legado, repertório, linguagem, visão, missão, valores, empatia e um planejamento de como isso tudo acontecerá no tempo.
Pense qual é o mapa da sua história e até onde ela pode ir. E de vez em quando compartilhe esse mapa com os fãs.
? Coloque no projeto verba e tempo para pesquisa e desenvolvimento, porque é a partir desses parâmetros que você arrisca e pensa um novo formato. Nunca crie para além do previsto. Mas esteja preparado, o seu público pode querer mais.
? Os riscos são proporcionais aos ganhos. Quem faz conteúdo quer inovar.
? Conteúdo compra tempo. Faça sua estória com uma estratégia boa o suficiente para ganhar o tempo das pessoas.
? Aprender com erros e acertos gera legado.
de maneira diferente.
? A narrativa tem que ter foco, mas não se prenda ao público foco, porque há o risco de criar uma linguagem só para ele.
? Nunca crie um elemento transmídia essencial para o entendimento da estória contada na Nave Mãe, porque se os 70% do público não souberem onde essa pista está escondida, acabou.
? Crie Narrativas complementares ao invés de narrativas incompletas ou concorrentes. A estória é uma só. ? Planeje e esteja pronto para mudanças.
Tenha rotas de saída para a sua estória.
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Pensando nas multiplataformas com Luciana Bezerra
Seguimos adiante, ainda mais cheias de expectativas. Agora, mais do que uma série de TV, estávamos com as multiplataformas na cabeça. Após a palestra de Maurício Mota, decidimos que faríamos, de início, o roteiro de oito episódios com 15 minutos de duração. No mais caprichado estilo drama/documental, contaríamos a saga de Ana Paula no Rio de Janeiro pré Copa do Mundo e Olimpíadas que tanto ouriça e excita a todos. Mais adequado o tema não poderia ser.
Com a TV como "nave mãe", discutimos o que poderia funcionar nas multiplataformas e quais seriam elas. Eva e Adão viriam em forma de web série com dois a cinco minutos, faríamos uma revista eletrônica, material impresso e ainda pílulas para celular. Começamos a esboçar a história das personagens e a pensar em como elas se entrelaçariam na trama.
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Como elaborar um projeto ideias básicas com Eliana Sousa Silva
Conversamos, trocamos mais emails, conversamos novamente e a série de Ana Paula, ainda sem título, já contava com seis personagens de destaque, além da principal, e muitas locações. As ideias e conversas andavam à mil. Mas, a essa altura do curso, não tínhamos nenhuma previsão de orçamento para nortear o trabalho.
A aula de Eliana Sousa e Silva sobre desenvolvimento de projetos abriu o ciclo de palestras sobre a viabilização financeira. Era chegada a hora de começar a esboçar esse planejamento. Afinal, não basta criar, é preciso saber executar. E o primeiro passo seria responder a algumas das perguntas essenciais para a estruturação do projeto: qual é a nossa motivação e o que o torna viável. Partimos da premissa de que o projeto deve surgir em resposta a um problema concreto, ou seja, nasce de um questionamento.
O processo criativo, segundo Eliana, deve envolver a todos, pois se trata de uma passagem para o que ainda não conhecemos. Sim, lidamos com o desconhecido. Na fase de elaboração, fazemos a transição de um estado de consciência a outro. Com Eliana, aprendemos que é fundamental considerar tanto a continuidade como a sustentabilidade.
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O plano de trabalho exige que se defina o que queremos fazer, qual é o público, e quais os problemas enfrentados por esse público que irão motivar a ação. Os papéis e responsabilidades de cada envolvido devem ser estabelecidos, assim como uma linha de tempo e ação para que se atinja o objetivo. Foi aí que começamos a pensar, também, em orçamento. Como todo projeto tem seu custo, era a hora de colocarmos no papel quanto precisaríamos para concretizar nossa produção compartilhada.
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Guarde o passo a passo para o desenvolvimento de projeto O processo criativo
? II - O plano de trabalho: como agir?
? Para começar, mergulhe nas ideias.
? Defina as linhas de ação e atividades dispostas no tempo.
? Liste as oportunidades, dificuldades, descobertas sobre erros e acertos, pontos fracos e fortes, as pessoas envolvidas. ? Valorize a reflexão. ? Estimule a discussão, mas mantenha uma linha comum. ? Cultive a calma e o silêncio.
Etapas básicas
? Defina os papéis e responsabilidades das pessoas envolvidas.
III - Como avaliar o projeto: como tirar conclusões e disseminar os resultados? ? Defina como o projeto vai ser acompanhado no período de sua realização, o monitoramento constante e avaliação. ? Busque conclusões ou resultados a serem partilhados com a sociedade.
I - Definição do projeto: o que queremos fazer?
? IV - Orçamento: quanto vai custar realizar o projeto?
? Qual o público a ser atingido.
? Faça um orçamento detalhado de cada necessidade financeira do projeto.
? Justificativa e relevância. ? Exposição da missão do projeto: objetivo geral. ? Definição de objetivos de resultados: objetivos específicos.
? Faça uma revisão de todos os custos para evitar surpresas.
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.
.
.
"Cheguei ansiosa com duas amigas e
Fechando as contas ou modos de produzir
na expectativa de encontrar mais
com Clélia Bessa
algumas que andavam distantes. Na entrada nem percebi que na
Tínhamos personagens e muitas ideias e estávamos ávidas por
verdade estaria iniciando outras
continuidades e desfechos, quando nos encontramos para a
tantas relações de amizade e parceria
palestra da produtora Clélia Bessa. Queríamos, claro, apresentar o
com mulheres diferentes e ricas em
que fizéramos até ali: seis personagens mulheres com
diversidade.
personalidades distintas, cujas vidas se entrelaçavam entre
No meu bloquinho verde, fui
parentescos, amizades e contatos no ambiente de trabalho.
anotando tudo que me marcava ou chamava minha atenção. Alguém disse que a máquina de lavar
Achávamos que tínhamos uma coesão garantida. Achávamos. Mas a primeira pergunta de Clélia "sobre o que é a série e sobre o que é o projeto?" recebeu respostas diferentes. Falávamos muito
libertou a mulher, depois, é claro, da
sobre a construção das personagens e pouco, bem pouco, sobre o
pílula anticoncepcional. De fato, sou
desenvolvimento do projeto. Nossas ideias de estruturação, sob o
uma moça de ideias 'tortas'. Para
ponto de vista da viabilidade, eram incongruentes. Onde estavam
mim, estamos nos libertando... E
nossa estratégia, os cronogramas, os custos, de quem teríamos
essa libertação passa pelo controle da
apoio desde a concepção até a finalização?
maternidade, sim, pela camisinha, com certeza, mas também pela construção de novas relações entre homens e mulheres que busquem uma forma menos unilateral e
Precisávamos de produção, entendemos nessa aula. E ouvimos, atentamente, a explicação de Clélia sobre a função do produtor: o profissional que atua na área empresarial, capta recursos, e está envolvido no projeto do início ao fim. É quem vende a ideia aos patrocinadores e apoiadores.
equilibrada entre os gêneros. Aqui estamos nós, buscando
Clélia sugeriu que estudássemos a proposta de quatro canais de
conciliar sonhos, trabalhos e desejos.”
TV: Multishow, GNT, Canal Brasil e Discovery. Em sala de aula,
Daniela Araújo
acessamos os sites de cada um deles e avaliamos o perfil e a grade
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de programação. Aproveitamos ainda para estender o exercício e fazer uma pesquisa mais ampla da concorrência em outros canais. Dessa forma, poderíamos identificar em qual deles nosso projeto se encaixaria.
Partiríamos, então, para a elaboração de cronograma, estratégia e argumento, e estaríamos aptas para captar recursos. Ficou claro, nessa fase, que podemos pensar o que quisermos na etapa de criação da série. Mas o resultado deve estar em formato adequado e conter uma programação visual suficientemente atraente para facilitar a venda.
Estávamos no caminho certo? Não. Uma série com seis personagens principais é encrenca certa, explicou Clélia, que fez as contas e mostrou que, em média, a verba varia de 17 mil a 25 mil reais por episódio. Nossa Ana Paula custaria bem mais. Precisaríamos de duas atrizes conhecidas, participações especiais de peso e pelo menos três locações. Quem sustentaria Ana Paula?
Era, de fato, apenas no começo. Muita coisa aconteceria após essa aula. Muita coisa mudaria após Clélia Bessa.
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Guarde o passo a passo Informações essenciais para o projeto de venda ? Título ? Número de episódios e duração ? Gênero e conceito da série ? Formato ? Sinopse de todos os episódios ? Argumento, o roteiro em prosa ? Roteiro do episodio piloto ? Proposta de formato para outras plataformas ? Parcerias ? Orçamento ? Contrapartidas
? Faça uma análise técnica. A partir dela se faz o plano de filmagem e o orçamento. ? Elabore a estratégia, o cronograma e siga em busca de apoio. ? Detalhe bem os objetivos, etapas e a previsão do tempo de duração de cada fase. ? Tudo tem custo e deve ser bem pensado. ? Tenha o formato bem definido e uma boa programação visual. ? Acredite verdadeiramente na sua ideia. Vender vai ser bem mais fácil.
? Contato Anatomia de um episódio piloto Como fazer ? Lembre-se sempre que o projeto é feito para ser visto. Portanto, capriche.
? Apresentação dos personagens com pequenas ações de preparação para ação principal.
? Crie algo simples e original. Projetos com alto grau de dificuldade correm risco de não ir adiante.
? Acontecimento principal
? Monte uma boa equipe técnica. ? Descreva o seu diferencial.
? Participação especial de personalidades ligadas ao tema.
? Faça uma boa pesquisa para saber o que seu público alvo realmente quer ver.
? A série de TV tem de ter uma história que se esgote nela. Ou vira novela.
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? Desdobramentos: transformações e reflexões que a ação principal causou.
Estamos em crise, mas buscamos soluções com o grupo de roteiro
Estávamos na segunda quinzena de curso e, segundo o planejamento inicial, era o momento de nos dividirmos em três grupos distintos. O grupo de Roteiro, responsável pela trama, storyline, escaleta do episódio piloto e primeiro tratamento; grupo de Projeto, encarregado de pesquisa de público, conceito, cronograma, captação e inscrição do projeto nos editais de fomento à cultura; e, o grupo de Plano de Negócios, que faria a programação visual e o projeto de comercialização e marketing.
Para que todos avançassem, precisávamos de uma estrutura de roteiro bem definida. Sabíamos, desde a conversa com Clélia Bessa, que a trabalhosa Ana Paula tinha um custo alto. Tínhamos agora a tarefa de fazer ajustes, reduzir o número de personagens, e recriar a história para um orçamento realista e viável.
Por uma rotina estabelecida no decorrer das aulas, já enviáramos muito do que escrevemos até ali para os consultores de roteiro Gustavo Melo, Rita Toledo, Paula Lobato e Pedro Salomão. Clélia Bessa tornou-se nossa consultora de produção.
Estávamos às voltas com muitas questões. Como desenvolver uma história tão densa em pouco tempo e com baixo orçamento? Como criar uma linha do tempo que permitisse o prosseguimento da série em mais temporadas?
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Enquanto o roteiro de Eva e Adão transcorria sem percalços, percebíamos que, além de cara, Ana Paula, que tanto esforço exigira, tinha outro problema: não empolgava, não gerava identificação com nenhuma de nós. Não encantava suficientemente o grupo. Além disso, a dificuldade em abandonar personagens que traziam um pouquinho de cada uma de nós ela era latente.
Como resolver? As sugestões iam e vinham, todas se envolviam. Da sala de aula para casa, de casa para o telefone, do telefone para o email, o texto circulava. Precisávamos definir um caminho, encontrar soluções, fazer contas, planejar os próximos passos. Nossos e das personagens. Seguimos adiante.
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Patrocínio e estratégia de lançamento com Patrícia Novais
Captar recursos não é tarefa simples, exige planejamento, vontade, muita disposição. Patrícia Novais nos mostrou como faz para levar seus projetos adiante. Reduzir os custos ao máximo, sem comprometer a qualidade, é uma máxima que deve ser seguida à risca.
A criação do material promocional, segundo Patrícia, parte do que ela chama "a cara do projeto", na qual todo conteúdo pensado tem um motivo específico. “Como uma lista de eventuais colaboradores, imprime-se apenas o necessário, já que toda vez que a ideia for vendida, a marca do patrocinador entrará na arte. Dessa forma, é possível diminuir consideravelmente os gastos antes que o projeto tenha verba para ser desenvolvido” explicou Patrícia.
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Na fase de captação, a internet ajuda a reduzir os custos. A arte pode seguir por email, sem impressão. Cada logomarca anexada ao projeto significa um grande trunfo junto a outras empresas. Além disso, vale argumentar que o filme com a logomarca do cliente será exibido para milhares de pessoas em longo prazo.
Já na divulgação do produto, uma forma de se gastar menos é a parceria promocional com estabelecimentos comerciais, rádios, blogs, sites e afins. Os convites promocionais são ótimas ferramentas de divulgação do trabalho e costumam ser mais anunciados do que usados.
A estratégia para o lançamento pode ser feita por meio de cartazes, display de papelão distribuído em pontos estratégicos, trailer (a melhor propaganda de um filme, segundo Patrícia), brindes promocionais, pressbook com uma boa programação visual.
Ficou o alerta: não aposte todas as fichas em grandes marcas. Muitas vezes, de onde menos se espera vem a maior ajuda. pequenas empresas podem ser boas parceiras.
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Guarde as dicas Patrocínio e estratégias de lançamento ? O projeto deve conter: identidade visual, logomarca, apresentação impressa ou virtual, de acordo com o gênero / faixa etária.
? Use ferramentas de baixo custo: folder, lâmina, e-mail, blog, site, Facebook, Orkut, Twitter. ? Apenas imprima aquilo que vai utilizar, evite gastos antes de o projeto ter verba. ? Busque parcerias e saiba como tratá-las.
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Captação de recursos com Bianca De Felippes Não basta ter uma boa ideia, é preciso um discurso afiado e uma boa programação visual. É assim, segundo a produtora Bianca De Felippes, que se vende um projeto, que se conquistam patrocinadores e parceiros.
Com um currículo que inclui produções como Carlota Joaquina Princesa do Brazil -, Copacabana, La Serva Padrona, a distribuição de Belline e a Esfinge, o lançamento de Pequeno Dicionário Amoroso, e ainda Faroeste Caboclo, que chegará às telas em 2012, Bianca mostrou que o material promocional foi essencial para dar a partida a cada uma das empreitadas nas quais se envolveu.
A parceria com bons programadores visuais é imprescindível para projetar uma ideia em direção a um dos elementos mais importantes no momento da divulgação: a visualização do que ele tem de belo.
Com um bom projeto em mãos, o passo seguinte é fazer o levantamento das empresas que estariam aptas a investir naquele produto cultural, marcar as reuniões, comparecer, convencer e arrecadar fundos.
Mas como saber quais são as empresas potenciais? Geralmente, são aquelas que aparecem na lista das "10 mais" das revistas sobre economia. 52
Para o Faroeste Caboclo, Bianca listou 200 empresas e foi a cerca de 70 reuniões com aquelas que se interessaram pelo projeto. Para cada reunião, carregava o book promocional. Numa visão mais ampla, dependendo do estágio em que esteja o projeto, o book pode já incluir imagens das filmagens em andamento, muitas vezes possibilitadas por recursos de leis culturais em que foram aprovadas. Caso ainda seja somente uma ideia, prepara-se o material com recursos próprios. "Algumas produtoras querem 100% do seu negócio pago, sem nenhum tipo de contrapartida e investimento. É algo que tende, obviamente, a não dar certo", disse ela.
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Colocar o projeto no papel é a etapa mais importante da captação
.
.
.
de recursos. Bianca explicou que coloca seus projetos de audiovisual na ANCINE, agência reguladora que concede a aprovação para captação. Em seguida, procura editais nos quais
"Nesse momento, estou me
possa inscrevê-los.
esforçando para estabelecer prioridades, cada dia procurando dar
Captar de empresas privadas requer habilidade. Muitas delas
atenção e cumprir as minhas tarefas,
preferem projetos que sigam uma linha mais social ou ligada à
sem deixar nenhum empreendimento
comédia. Filmes de violência ou que envolvem questões de cunho
descoberto. Eu sei que nesse rebola de cá, ajeita de lá, já passamos, ou estamos passando, da metade de
sexual são menos aceitos, pois o patrocinador privado ainda associa o nome da sua empresa com o assunto do filme e não com a relevância artística. É preciso deixar claro que a qualidade do produto é o que traz benefícios para a empresa.
nossos encontros e ora eu acho que cumpriremos nossas metas e ora
O trabalho do produtor, ficou bem claro, é exaustivo e não se
acho que precisamos de mais tempo.
esgota na venda, tampouco nas filmagens. Vai até a distribuição do
Quando fiquei sabendo do projeto,
filme nas salas de exibição. Entregá-lo para a distribuidora sem
confesso que estava praticamente
conhecer seu planejamento pode ser arriscado. Por isso, Bianca
sem tempo para me coçar por conta
deixou o conselho: para cada projeto há um plano de negócios
dos meus próprios empreendimentos. Mas a ideia era tão bacana que não resisti. Gostaria de dizer a todas essas mulheres sobre a minha alegria em estar nesta convivência com elas." Bárbara Caldas
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diferente, orçamentos e número de cópias específicos. É preciso estar atento a todas essas nuances.
Guarde o passo a passo da captação de recursos ? Tenha sempre um projeto bem elaborado em mãos, pronto para a venda. ? Acredite no seu projeto, isso é primordial para convencer o patrocinador.
? Faça um bom material promocional. ? Pesquise o público do seu filme e conheça-o bem.
? Procure editais para captação.
? Cada projeto tem um plano de negócio e um orçamento diferente. Seja fiel a ele.
? Pesquise empresas que podem financiar seu projeto.
? Trabalhe com cotas, isso ajuda a controlar o orçamento.
? Aprenda a economizar e a não desperdiçar nada.
? Esteja a par de todas as leis e instruções normativas para os trâmites burocráticos que são muitos e tomam grande parte do seu tempo.
? Não tenha medo de arriscar. Se for
necessário, invista você mesmo no seu projeto.
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O roteiro nos bastidores e o como fazer em evidência uma boa conversa com Bianca De Felippes
Quem dá mais incentivos, como as leis podem nos favorecer, a quem podemos recorrer, como remanejamos verbas, que contrapartidas propomos? Bianca De Felippes falou, mostrou como se corre atrás, disse como se vende. O que seguiu foi um bate papo em que todas queriam respostas. Marina: Quando você pensa na comercialização e faz a pesquisa de empresas com lucro real, como sabe quais as que vão por lei de incentivo ou por marketing? Bianca: A verba de marketing de empresas é infinitamente maior do que qualquer tipo de verba direcionada para incentivo. Se essas empresas que investem em marketing direcionassem parte de sua verba para um produto cultural, o retorno que elas teriam com sua marca exposta na mídia seria maior e o custo menor. Pelo marketing, sairia praticamente o mesmo que uma diária de publicidade qualquer, só que com longevidade de conteúdo.
O advento da Lei Rouanet trouxe uma série de benefícios para alavancar o setor, mas também fez com que as empresas deixassem de pensar em investir.
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Virou tudo um grande paternalismo, tudo é dinheiro do governo. Tanto que, hoje, não podemos viver sem a Lei do Audiovisual no Cinema, a Rouanet e outras leis de incentivo. Mas é preciso fazer com que nossos projetos de filmes sobrevivam a isso. Em algum momento as leis vão mudar e a produção cultural vai ter de se adaptar. Mércia: Como funcionam os fundos de investimentos? Bianca: O dinheiro dos fundos é dinheiro de incentivo que as empresas investem e debitam do imposto, mas não são verbas a fundo perdido. Na verdade, a empresa entra como sócia no seu filme e recebe o que investiu com a comercialização. Luciana: Mas você pode aplicar em qualquer parte do projeto, seja na produção ou na comercialização? Bianca: Depende. Quando você se inscreve no edital do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), por exemplo, você escolhe a linha em que o investimento será feito, que pode ser na produção ou na finalização, ou mesmo na comercialização ou aquisição de direitos de produção de programas de TV. Outra coisa importante é que o projeto tem que estar aprovado na ANCINE para ser inscrito no edital. Daí você cria um plano para o seu produto dizendo, por exemplo, quantas cópias terá no lançamento, incluindo as visões otimista, pessimista e real, dá um panorama com um Business Plan mesmo, para explicar o que é e o que pode acontecer com o filme. Marina: Você disse que trabalha com cotas quando está na estratégia de vendas. Como faz isso?
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Bianca: É claro que nas cotas há também uma parte grande de apoio que você não consegue captar em dinheiro, e as parcerias que você pode fazer com parceiros que injetam capital no projeto e ficam com um percentual do filme. Eu tenho o cuidado de fazer a finalização dos filmes no Brasil, porque acho que temos de fomentar a nossa indústria. Usando o dinheiro aqui, ganhamos aqui, porque contribuímos com o aprimoramento da parte técnica, que envolve revelação, som, edição. As coisas têm mudado bastante, cinema é uma arte coletiva. Mércia: Como você utiliza o dinheiro de acordo com a Lei do Audiovisual? Bianca: Pelo Art. 1º, se seu filme custa X, você pode colocar um percentual e, na CVM, por exemplo, e esse percentual será dividido em cotas que oferecemos ao patrocinador. O BNDES e a Petrobras, dois grandes patrocinadores, usam formatos diferentes. Daí é preciso ver a particularidade de cada um. E adequar o projeto. Bárbara: Mas é melhor trabalhar com um ou com outro ou, na prática, é tudo igual? Bianca: O melhor é o Art. 1º (a). Dá muito menos trabalho em filmes pequenos, por exemplo. Quando trabalho num documentário, nem coloco na CVM, porque eu teria de mandar relatório para a ANCINE e para o Banco todo mês, captando ou não. Depois do filme lançado, teria de mandar relatórios durante anos, o que seria muito trabalhoso e deixaria a parte administrativa sobrecarregada. O Art. 1º(a) é melhor porque o dinheiro entra e você dá o recibo exatamente como funciona na Lei Rouanet, depois o retira e dá as contrapartidas da maneira que você negociou.
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Mércia: E o Art. 3º da Lei do Audiovisual? Bianca: O Art. 3º vem do imposto das distribuidoras que têm
.
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remessa de lucro. O Governo as isenta de pagar o imposto para que invistam em produtos brasileiros. Na verdade, é um
"O que tenho a dizer aqui? Que por
procedimento muito vantajoso para as distribuidoras, porque elas
muito tempo eu produzi sozinha e até
podem usar o dinheiro de um imposto para investir num projeto e ainda tornarem-se sócias desse projeto. As empresas que geralmente utilizam o Art. 3º são a Columbia, a FOX e qualquer outra grande que tem filmes ou vendem DVD e precisam remeter o lucro para a matriz. É essa remessa que exige o imposto que pode ser revertido para o Art. 3º.
achava que sabia muita coisa. Hum! Balela. Estou sempre aprendendo e aqui nesse grupo aprendi muito, mais do que podemos imaginar. Produção compartilhada, um desafio. Vejo como é possível.
Marina: E tem um grau de dificuldade a especificar na hora de inscrever o projeto?
Amigas novas, novas amigas. Companheirismo. Profissionalismo.
Bianca: Quando você aprova na ANCINE, tem de indicar os
Equipe. Time. Quem sabe uma nova
artigos. Tem o Art. 1º, o 3º, adicional de renda, os 5% obrigatórios
empresa? Mulheres S.A. Unidas,
de recursos próprios e pode ter também ICMS e ISS. Mesmo que a
formamos uma família, pois durante
captação venha de outras fontes, tudo tem que ser posto no
as horas em que ficamos juntas,
mesmo orçamento porque faz parte do valor do projeto. Não
trocamos ideias, confidências e essas
precisa dizer exatamente em que artigo vai colocar o quê. Se você tem um orçamento de três milhões, pode colocar um milhão no Art. 1º, um milhão no Art. 1º (a), e remanejar de um artigo para o outro, futuramente, caso não tenha conseguido captar tudo como solicitado inicialmente.
coisas são a base para formação de laços de amor. Eva e Adão - o começo... discutir a relação!? Para quê? Incentivamos a boa relação."
Marina: Se eu tiver ICMS e Rouanet, posso pagar os mesmos
Heloisa Prado
itens?
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Bianca: Não. É uma engenharia tremenda, você pode pagar partes de um item com uma lei e partes com a outra. Só tem de colocar em colunas diferentes. Mas essa distribuição de valores é bem complicada, porque a ANCINE é muito severa na prestação de contas, você não tem como fazer um orçamento muito específico.
Levamos em conta que o orçamento é, praticamente, um ser vivo que vai mudando e se adaptando, quando tiramos daqui e colocamos ali. O valor total final deve ser nossa meta. Temos várias contas no Banco do Brasil, uma para cada artigo, outra de movimento, mas que a ANCINE só me autoriza movimentar quando tiver 50% do orçamento do filme captado e 25% em conta. Precisamos aprender a lidar com a burocracia e ainda estar atualizadas com portarias e instruções normativas, que estão sempre sendo revistas. Enfim, não adiantará ter uma lista de contatos para captar se a produção não for criativa, tiver jogo de cintura e não souber lidar com a burocracia das instituições.
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Momento DR, a boa e velha discussão da relação com o grupo de roteiro
Com o curso em andamento e os grupos divididos, a próxima etapa seria uma grande aula com todos os consultores. Um momento em que mostraríamos o que já havia sido produzido. Pouco antes, nos reunimos para acertar alguns pontos: o formato da série, o título, sua reestruturação e as multiplataformas.
Impulsionada pelas palestras de Rosane Svartman, Maurício Mota, Clélia Bessa e Bianca De Felippes, Luciana fez várias reflexões sobre possíveis detalhes técnicos que dificultariam a viabilidade do projeto. Qual seria a quantidade de externas, quais personagens permaneceriam, quantas e quais locações seriam usadas. Além das plataformas já definidas, foi proposto um tablóide escrito pelas participantes para ser distribuído no carro feminino do metrô do Rio. Mas o que realmente ficou acordado nessa conversa foi o formato: "vamos fazer um drama bem humorado de 15 minutos", declarou Luciana.
A aula com os consultores assumiu, assim, um ritmo acelerado. As trocas por email ficaram ainda mais intensas, mas a conversa ao vivo trouxe mais gás ao trabalho de criação. Foi ali que tivemos as orientações mais importantes sobre a construção da nossa história.
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Ao exibir as primeiras cenas do filme O Sexto Sentido, de 1999, dirigido por M. Night Shyamalan, Gustavo Melo exemplificou o clima que a trilha sonora e a introdução podem provocar. Paula Lobato aproveitou para explicar que é preciso trabalhar a surpresa progressivamente, sem que pareça gratuita, como o frio que os personagens sentem no filme. A primeira cena é importantíssima, ressaltaram todos, pois deve trazer o problema que atravessa a trajetória da personagem principal. Numa série, esse problema pode ser apresentado na abertura.
Paula Lobato sugeriu mostrar o embate de Ana Paula com o gênero masculino, sua relação com os empregados homens, a virada financeira e profissional que o novo cargo proporcionaria. Pedro propôs a disputa por essa vaga como uma situação limite a ser explorada no início da narrativa. Rita Toledo pediu que fosse mostrado o conflito que iria motivar o espectador a acompanhar a história de Ana Paula, um estopim. Pedro Salomão avisou que esse conflito deve ser traduzido em emoção para que ganhe o público.
O universo da protagonista necessita de apelo, mesmo que haja personagens multifacetadas na trama, o contraste tem de estar sempre presente. Como a série tinha como pano de fundo a revitalização de um local do Rio de Janeiro, Gustavo Melo sugeriu locações em pontos históricos, que fazem parte do orgulho da cidade, mesclando com as pretensões arquitetônicas de Ana Paula.
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O par romântico começaria como um antagonista, com quem Ana Paula disputaria prestígio e autoridade e, em algum momento, se tornaria o homem ideal. A moça poderia estar envolvida numa situação que implicasse uma dubiedade de
.
caráter, um esquema de corrupção do qual tentaria escapar,
.
.
por exemplo.
"Diário? A personagem Mércia, uma manicure e operária que
Claro, ainda sou adolescente, estou
conseguiu seu emprego com carteira assinada na obra
super acostumada...
conduzida por Ana Paula, moradora do prédio desapropriado, traria o contraste à série. E Letícia, a amiga que trabalha com audiovisual e documenta a obra e o conflito com os desapropriados, o lado cômico.
Eu sempre sonhei com muitas coisas e hoje já não sei se elas são reais. Sempre quis, sei lá, trabalhar em alguma produtora ao menos 7 horas
E assim, a série foi tomando forma. Com a estruturação da
por dia e estagiar e fazer meu pré-
trama, as sinopses dos primeiros oito episódios foram
vestibular e tantas coisas. Bem, esta
fechadas e lidas em voz alta por Luciana Bezerra no último dia
semana eu comecei a trabalhar, tá
de curso antes da pausa do Carnaval. Mas sabíamos que
bom, nada de mais, todos
quanto mais as sugestões apareciam, mais encareciam a
trabalham. Porém, é muito difícil
trama. Melhor seria botar nosso bloco na rua. Não esquecer, mas voltar com mais energia e ideias renovadas.
não ter tempo pra nada, nem mesmo pra estudar ou estar com vocês. Hoje eu me considero um pouco mais feliz em ser mulher..." Thaís Cristina da Costa
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O plano de negócios: um mundo em movimento com Leonardo José Para que serve um plano de negócios? A primeira coisa que se deve saber antes de responder a esta pergunta é que, geralmente, quem o lê são os sócios da empresa patrocinadora, equipes de colaboradores, possíveis investidores e clientes. Um plano bem elaborado pode levar um projeto, sem dificuldades, ao objetivo desejado.
O plano de negócios aumenta em 60% a probabilidade de sucesso dos negócios. Além de atrair investimento, o planejamento serve para testar o conceito do projeto, identificar riscos, definir estratégias de atuação, analisar o valor investido e o retorno econômico, financeiro ou afetivo, e orientar a equipe de gestão a monitorar as decisões da empresa.
Pós-graduado em finanças corporativas, Leonardo José afirmou que, por conta do volume de investimento na área cultural gerado pelos programas de incentivo do Governo, é preciso pensar minuciosamente no diferencial que uma ideia pode oferecer.
É preciso alinhar as expectativas com as perspectivas dos envolvidos. Falta de dinheiro e de comprometimento podem se tornar grandes problemas para quem gerencia um projeto.
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Para Leonardo, a análise da probabilidade de mercado, concorrência, visão futura do serviço ou produto - por exemplo, estamos pensando numa série, mas podemos fazer um filme a partir dela -, definição do preço e listagem dos riscos são obrigatórios num plano de negócios. Nem tudo é urgente e prioritário, mas quando se faz um trabalho coletivo, as pessoas podem se desmotivar e desistir ao longo do processo.
Os procedimentos não são tão complexos, mas a organização é essencial. É necessário compor a equipe, estabelecer a estrutura, criar procedimentos e um plano detalhado de gerenciamento de pessoas. Além disso, é bom estar ciente da forma de dedução do imposto de renda de possíveis investidores.
Calcule o ponto de equilíbrio do seu projeto (quando não há prejuízo nem retorno) e estabeleça o custo de operar sem vender nem produzir. O planejamento de uma série para TV deve conter, no mínimo, justificativa, objetivos, produtos e serviços, análise de mercado, pesquisa de público, estratégia, riscos, organização e gerenciamento do negócio. Como motivação, Leonardo sugeriu que se estabeleça uma imagem ou filosofia que guie o grupo para o futuro.
Qual é a visão do projeto? Segundo Leonardo, a diferença está aí, pois as pessoas, muitas vezes, colocam a meta no plano de negócios e esquecem a visão estratégica. Saber por que se está ali mostra que todos absorveram aquela proposta.
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Guarde as dicas para o Plano de Negócios Para que serve?
O que deve conter?
? Identificar os riscos (pontos fortes e fracos e planos de contingência) ? Planejar o futuro ? Definir estratégias (marketing) ? Analisar Investimentos e retorno ? Orientar a equipe de gestão e monitorar as decisões do grupo
? Sumário ou Resumo Executivo ? Descrição da empresa ? Produtos e Serviços ? Planejamento Estratégico do Negócio ? Plano de Marketing ? Plano Financeiro ? Anexos ? Objetivos e metas, plano de ação (cronogramas)
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Propriedade intelectual e direitos autorais com Sérgio Branco Produzir audiovisual, já sabíamos por experiência própria e pelo aprendizado acumulado durante todo o curso, exige jogo de cintura em muitas frentes. Entender os principais artigos da lei de direitos autorais e propriedade intelectual é tarefa que requer pesquisa e constante atualização por parte do produtor e/ou detentor da obra.
Na palestra de Sérgio Branco, a primeira lição que aprendemos foi a de que se queremos produzir, temos de concentrar todos os direitos em nossas mãos.
Sérgio enfatizou que a internet mudou nossa relação com as obras nas últimas décadas. Um simples vídeo de um bebê fazendo travessuras com a música de um cantor famoso ao fundo, quando publicado na rede, pode render ao autor do vídeo uma boa multa ou, no mínimo, anos de batalha judicial.
A propriedade intelectual se divide em Propriedade Industrial, que inclui marcas, patentes e desenho industrial, e Direitos Autorais. A Lei 9.610/98 que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais - a Lei de Direitos Autorais - protege, além dos autores, os direitos conexos. No Brasil, a pessoa física autora da obra pode se identificar do modo que quiser e o prazo de proteção a que tem direito, a partir do momento que a registra, é de toda a vida mais 70 anos após sua morte. Já fotografias e obras
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audiovisuais são protegidas por 70 anos contados a partir de sua divulgação.
Aos direitos conexos podem ser relacionados intérpretes, executantes, produtores fonográficos, direitos das empresas de radiodifusão. Os artigos mais importantes para quem produz uma obra são os 7º, 8ª, 18, 24, 29 e 46. Eles tratam desde a listagem do que é e o que não é protegido pela Lei, passando pelos direitos de quem está ligado à obra, até as limitações impostas aos autores.
Atenção: se alguém autorizou o uso de sua obra no cinema, é só no cinema. Não pode ser reproduzida na TV, vídeo, avião ou qualquer outro lugar que não seja no cinema. Vimos ainda que há dois tipos de direitos que caminham juntos, os morais e os patrimoniais. Os primeiros são indisponíveis, ou seja, não podem ser transferidos para outra pessoa. Já os patrimoniais permitem a exploração de uma obra pelo produtor que detenha tais direitos, por exemplo.
A lei existe, os direitos estão protegidos, mas Sérgio fez questão de reforçar que o registro de um trabalho autoral não é indispensável. Trata-se de um procedimento para fazer prova, como um indício de quem é realmente o autor, mas é importante que se tenha outras provas de quem idealizou e realizou a obra.
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Guarde as dicas Para resguardar seus direitos, preservar sua obra e respeitar o uso de imagem ? Envie e-mails para você mesmo no decorrer do processo de criação. Caso alguém registre seu trabalho como sendo dele, os e-mails poderão ser periciados. Com uma assinatura digital, a veracidade torna-se inquestionável. ? Imagem em lugar público é, em regra,
permitida, a menos que seja em close.
? Saiba que toda produção audiovisual esbarra no assunto penoso do direito de imagem. Por isso, jamais grave uma pessoa sem que ela assine um termo autorizando o uso da imagem no vídeo. ? Estabeleça um prazo para utilização da obra, já que prazos indeterminados podem ser rescindidos a qualquer tempo.
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Bloco na rua: as Mulheres no carnaval do Rio Minha mãe costura, meu pai ajuda, meu namorado carrega o estandarte, eu conheço uma boa camiseteria, que tal uma saia rosa? O zum zum zum circulou de um ouvido a outro, não faltou quem se dispusesse a fazer, quem conhecesse alguém que pudesse dar uma força. Sim, o envolvimento e a intimidade que conquistamos também deram em samba. Como tudo era construção coletiva, no carnaval foi igual. E com a vontade de partilhar nossa alegria por estarmos juntas, decidimos criar o Bloco das Mulheres.
Mais uma ideia que contagiou a todas. Que fantasia iríamos usar? Aline desenhou, Larissa comprou os tecidos, a dona Ilma Euzébio, mãe da Danyella Euzébio, costurou nossas saias. E assim, juntamos as nossas mãos e as mãos de quem se envolveu conosco para extravasar nossa alegria.
Ana Paula foi ao Saara - a zona de comércio popular no centro do Rio de Janeiro, onde se acha de tudo a preço baixo -, comprou paetês, purpurinas e fitas coloridas. Na casa da Joanna, nos reunimos para customizar nosso estandarte, que ganhou estrutura pelas mãos do seu João Caetano, pai da Aline. Foi ela também quem desenhou as artes para os bottons e adesivos que seriam distribuídos para os foliões.
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E em pleno 8 de Março, desfilamos com uma criação que não estava no roteiro, mas animou e uniu ainda mais o grupo. De saia de filó rosa e camiseta branca ilustrada com as cores do projeto, entramos na banda de Ipanema. Mesmo de pé quebrado, Paula
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mostrou que o samba está na alma. E não eram só mulheres.
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.
Tivemos a empolgada participação do namorado da Ana Paula, Marcos Rodrigo, que carregou nosso estandarte. E foi assim que
"Vivi uma experiência que achei que
contagiamos mais foliões e aproveitamos o que nos era de direito.
era impossível, que era pensar com este número grande de pessoas, e se
Depois da Quarta-feira de Cinzas teríamos o desfecho do nosso enredo.
tratando de mulheres, já viu, né? Me fez acreditar que produção compartilhada é algo possível e que dá certo, vale a pena, sem falar dos assuntos tratados com os palestrantes, que me acrescentaram muito como profissional e me deram a oportunidade de não ser apenas um profissional que escreve projetos, mas que também pode escrever roteiros, rsrsrs. Estou feliz por esta etapa e espero que possa ser repetida tão logo." Bianca Fabre
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O alegre fim de Ana Paula com Clélia Bessa e Luciana Bezerra Chegamos ao fim das aulas. Os roteiros da série sobre Ana Paula e da web série Eva e Adão continuavam sendo escritos e analisados em reuniões esporádicas pelo grupo responsável, quando finalmente chegou o dia de discutirmos a produção com Clélia Bessa. Se no primeiro encontro aproximamos os nossos pés do chão, desta vez fixaríamos, definitivamente, os olhos nos custos.
Clélia Bessa fez a mesma pergunta do início do curso: sobre o que é a série e sobre o que é o projeto? Novamente, e mesmo com o plano estabelecido, tivemos dificuldade para explicar o que fizéramos até ali. Quem era Ana Paula e quais as circunstâncias que garantiriam vida longa e apoio à arquiteta?
Ao perceber a inconsistência das respostas, Clélia Bessa passou a elencar os pontos fracos. O primeiro ponto negativo era a quantidade de episódios. O roteiro deveria ser escrito para 13 ou 26 episódios de 15 minutos, e não apenas oito, como vinham sendo desenvolvidos. Tínhamos, também, de trabalhar com o mínimo de três multiplataformas e garantir que seus universos estivessem conectados. Além disso, era imprescindível direcionar o projeto para os canais que poderiam comprar nossa proposta.
Queremos mesmo a Ana Paula? Essa foi a pergunta que precisamos responder a nós mesmas. Estávamos todas visivelmente desmotivadas com a história da moça que não representava, no fim das contas, nenhuma de nós. 72
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Clélia nos ajudou na derrubada ao anunciar, categoricamente, que
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Ana Paula era uma série que exigiria mais recursos financeiros do que provavelmente conseguiríamos captar. Segundo ela, uma boa
"Estou em um momento confuso, não
ideia chama seu público e acha seu nome. Mais: a mulher de hoje
sei exatamente o porquê, mas minha
não quer assistir à história da outra, quer contar sua própria historia.
mente deu pane.
O que tínhamos em mãos se adaptaria ao cinema. Para uma série
E foi nessa confusão que chegou a
de TV, foi taxativamente considerada inviável.
Era o fim da Ana Paula. Era um recomeço que precisávamos encarar. E sem demora. Enquanto Clélia Bessa mostrava mais
oportunidade de entrar no mundo das "Mulheres - da ideia ao projeto". E mais uma vez um monte de gente
problemas, voltávamos, lentamente, a um tema posto de lado
ficou me perguntando: mais um
ainda nas primeiras aulas: a revendedora de cosméticos que visita
curso? Essas críticas vieram até por
suas clientes, e, entre uma venda e outra, ouve suas histórias e as
parte de meninas controladoras que
passa adiante.
se diziam minhas amigas. Mas um dia decidi não depender mais delas,
De repente, os pensamentos começaram a fluir e esse novo universo se abriu. Estava estabelecida uma nova linha de pensamento que poderíamos seguir, comemorou nossa coordenadora de roteiro, Luciana Bezerra, que costurava e amarrava as ideias e acompanhava as idas e vindas de cada personagem que imaginávamos. Tantos dias, tantos laços formados, e um novo começo no horizonte.
ora, a vida era minha. E foi assim, depois desse estalo, que fiz meu curso no Cinema Nosso e depois na Darcy Ribeiro. Se eu não tivesse dado esse passo, não teria estudado no Cinema Nosso, não teria estudado na Darcy, não teria meu
Mas não partiríamos de imediato nem com tanta sede para um
namorado, não teria vindo pra esse
argumento definitivo. Clélia Bessa sugeriu que fizéssemos um
projeto.
pitching audiovisual, um procedimento utilizado pelos canais de
Olha quanta coisa maravilhosa eu
televisão para julgar ou avaliar um formato. A análise inclui a
teria perdido?!!!!"
maneira como a ideia desse formato é apresentada ao júri.
Aline Damasceno
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Acordo fechado. Explicado como funcionaria o processo e como isso nos ajudaria a chegar a um porto mais seguro, partiríamos, o mais rapidamente, para a fase que não estava no roteiro do curso. Mas que muitas vezes é preciso fugir do roteiro estabelecido, todas nós já sabíamos. Assim, baseadas no tema da revendedora, apresentaríamos seis projetos. E o resultado, com as observações dos jurados, seria analisado por Clélia. Seria dela a decisão final sobre o que deveria ser roteirizado e executado.
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Todo sentimento A avaliação - e o desabafo - de Luciana Bezerra sobre o roteiro
Mesmo cortando, ajustando, tentando entrar em um orçamento mais econômico, não deu. Fomos trucidadas por nossa consultora de projeto. Acho que foi tudo bem até aqui, e nossas referências estavam ótimas, mas todas as séries que nós amamos são realizadas com muito mais dinheiro do que poderíamos conseguir captar, e mesmo sem estar lá, podia ouvir a Clélia dizendo: "mas qual é o real desejo de vocês com esse projeto?". E o grupo, em coro: "realizá-lo!" E ela apresentando, com toda sua sagacidade, os muitos pontos fracos de nossa série.
Mas quando ela nos mandou de volta ao início para tentar capturar novamente uma essência pura para o nosso projeto, ela também soltou as amarras que tínhamos nos colocado ao imaginar a trama. Fiquei me perguntando como fazer todo o grupo continuar na luta, mesmo depois de tanta crise. Claro que me apoiei novamente na palestra de Rosane, que gostava de nos lembrar que crise gera evolução.
Decidimos, então, ao invés de partir de uma única ideia, tentar reunir todas as que pudéssemos ter para nos identificar. E criamos o Pitching, que foi tão falado neste curso, mas que se não acontece mais essa crise, a crise do roteiro, não passaríamos por essa experiência.
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O Mulheres era um projeto muito novo para mim, porque sua premissa, a criação colaborativa, já o tornava diferente. Tinha muitas ideias, planos, estratégias armadas, mas sabia que só mesmo ali, na prática, é que saberíamos o que daria certo e o que seria o melhor para ser usado. Os melhores momentos de criação foram as DR's imensas que tivemos durante todo esse processo. Foi muito bom ver que surgiram vários projetos e que em todos eu tinha algum tipo de identificação, que em todos havia um pedacinho de mim e de todas que passaram esse tempo juntas na tarefa de construir um projeto colaborativamente. E mais, todas as propostas deixavam claro na apresentação que eram boas e realizáveis.
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O mundo não para, nós também não com Marcio Motokane Um exercício prático de como apresentar um projeto para TV. Esse foi o mote da última palestra do curso, sobre criação de formatos audiovisuais para TV e novas mídias, com Marcio Motokane, coordenador artístico no Canal Futura. "Venda sua ideia dando tantos argumentos quantos forem possíveis", pregou, logo de início.
A realidade está no que podemos aprender com a convivência e em boas conversas em detrimento da absorção de imagens imutáveis sem o questionamento necessário. O que gera o conhecimento perfeito é rejeitar a ignorância e o comodismo e aceitar viver no mundo real e verdadeiro. Foi assim, com a alegoria da caverna de Platão, que Motokane nos mostrou a relação entre TV e as outras mídias com a caverna e o mundo lá fora, respectivamente.
As analogias seguiram. Ao pedir que nos apresentássemos em 140 caracteres, Motokane mostrou que fazemos audiovisual no dia a dia e nem sempre percebemos.
Os instrumentos que usamos na comunicação diária são audiovisuais que nos auxiliam no contato com o mundo externo, na apresentação da nossa imagem e modo de pensar. 77
Esses mesmos instrumentos fazem com que recebamos o mesmo estímulo dos usuários das nossas redes de contatos. Assim, criar um formato para apresentar uma ideia é imprescindível a quem deseja vender um projeto em audiovisual.
O critério de estruturação do formato exige que a imagem deixe claro o significado de uma ideia somada ao conteúdo. Este conteúdo é a construção da narrativa de forma clara, inovadora e universal. Em função da arte e da materialidade adicionadas ao audiovisual nas últimas décadas, não se vê mais televisão como antigamente. Hoje em dia, usamos imagens como críticas, as construímos em compartilhamento para que as amarras fiquem de fora. Na medida em que desfragmentamos o óbvio, mais podemos chegar a produtos diversificados.
As ideias bem aceitas são aquelas que possuem mais sinuosidade, ou seja, contam uma historia interessante o suficiente para sensibilizar a audiência, têm atitude na escolha da forma e na abordagem do conteúdo. Motokane também explicou que estabelecer o momento da diegese - princípio que permite que o espectador entre e participe da história - é ter o domínio da dimensão narrativa para atrair o público.
Sobre o pitching audiovisual, Motokane lembrou que tem levado as produtoras a investirem no seu capital criativo, estreitando a relação com exibidores. Para os produtores, é a oportunidade de lançamento do seu projeto. Em nosso caso, um modo de conhecer as ideias das colegas de curso e chegar ao ponto de partida para um roteiro compartilhado.
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Guarde as dicas Apresentação de um projeto audiovisual Exercitando o referencial em 10 minutos
3. Técnica = Viabilidade
? Considere o ambiente, época e contexto
produção orçamentária + autorização jurídica + padrões tecnológicos de visibilidade e audibilidade
? Defina o target
4. Exibição = Potencial Multiplataforma
? Defina a plataforma de exibição
adequação técnica + exibição + comercialização
? Escolha uma foto
? Descreva o formato em storyline para 1x1' ? Dê um título
Estrutura de um Projeto
Critérios de Avaliação
1. Formato: descrição da abordagem do conteúdo e da forma da narrativa audiovisual.
Pitching é uma forma de se apresentar ideias de formatos audiovisuais para um canal de TV com a intenção de coprodução. 1. Formato = Conteúdo e Forma originalidade + atratividade + narrativa + ritmo + clareza 2. Target = Comunicação com o Público conversa direta com a faixa etária a que se destina
2. Storyline: ideia central descrita com o máximo de objetividade, no máximo em cinco linhas. 3. Sinopse: descrição mais aprofundada da ideia central sem, necessariamente, indicar cenas, rubricas e diálogos. 4. Roteiro: documento narrativo detalhado em cenas, diálogos, tecnicamente completo. 5. Storyboard - Animatics: representação visual das principais cenas do roteiro com indicações técnicas, desenhadas em quadros.
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Mulher tem cor? o nosso público alvo A matriz para o pitching surgiu de uma pesquisa realizada pelo grupo de Plano de Negócios com 60 mulheres presentes no Seminário Não Violência Doméstica promovido pelo Instituto Avon, no Rio de Janeiro, em parceria com a Associação Palas Athena, de São Paulo. Essas mulheres, com idades que iam de 18 a 70 anos, nos deram as respostas essenciais para que definíssemos, afinal, qual seria o nosso universo, que profissão teria nossa protagonista e que desejos ela carregaria no peito.
Mesmo com faixa etária tão larga, os perfis se dividiam. Metade delas casadas, outra metade solteira e apenas três por cento divorciadas. Divididas também no quesito filhos: quase 40% não carregavam prole. Mas estudar era prioridade para a maioria. Quase 70% exibiam diploma de nível superior e 97% estavam empregadas.
Boa parte delas expôs como bandeira a erradicação das desigualdades, preconceitos e estereótipos. Trabalhar fora e manter os cuidados com a casa era preocupação para mais da metade. Para 73%, serviços domésticos poderiam ser extintos da rotina feminina e o tempo poderia ser melhor utilizado com informação, por exemplo. Quase 50% delas gastam mais tempo com a internet do que com TV, rádio ou telefone.
As participantes do seminário do Instituto Avon foram questionadas também sobre suas preferências entre programas e
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séries de TV. Se assistem, metade disse sim, a outra metade disse não. Mas a grande maioria gostaria de ver uma série mais específica sobre o universo feminino: 72% delas não se viam representadas em nenhuma das séries a que assistiam. E a maioria gostaria de ver na tela mulheres independentes, trabalhadoras, vencedoras, desvinculadas do ambiente doméstico, mas com
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fortes vínculos afetivos e parceiros disponíveis.
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E qual a cor que nos representa? Segundo nossas entrevistadas, a
Meninas,
era do rosa passou. As mulheres se vêem com todas as cores. Se
Como estou feliz em estar com vocês.
têm de escolher uma, a maioria prefere o vermelho, seguido pelo
Agradeço à todas pelo carinho e
roxo, o azul e o branco.
oportunidade que me foi concedida em passar dias maravilhosos com mulheres incríveis. A companhia de cada uma contribuiu imensamente para meu crescimento pessoal e profissional. E fico às vezes pensando como a vida é engraçada... conheci mulheres com experiências mil e o resultado disso não poderia ser melhor. Rafaela Baia
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O Pitching qual será a nossa história? Com os dados em mãos, e a retomada da ideia da vendedora de cosméticos, partimos para a empreitada com entusiasmo. Sob a observação de Paula Lobato, Bárbara Mota e Pedro Salomão no papel de jurados, o pitching foi realizado numa manhã de sábado, na sala de projeção do Cinema Nosso. Seis participantes pensaram e se prepararam para os decisivos 15 minutos de apresentação das suas ideias.
Os critérios de avaliação do formato foram estabelecidos semanas antes pela coordenação do projeto, com base na consultoria de Clélia Bessa. As propostas deveriam conter detalhes sobre o formato, target, estrutura técnica - com dados para definir a viabilidade - e as multiplataformas. Desse modo, focamos em ideias direcionadas para um público feminino com mais de 25 anos, cuja personagem chave é a consultora de beleza que traz histórias de mulheres brasileiras, num programa de 13 episódios com 15 minutos de duração.
Foram eles: Passando o Olho, de Luciana Bezerra; Fala aí, freguesa!, da Aline Damasceno; Amigos do trem, da Fabiana Fonseca; Histórias de Mulher, de Larissa Valdívia; Por um Mês, de Raquel Beatriz; e Tempos de Mulher, de Ana Okuti.
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O resultado com Clélia Bessa e todas nós Cada uma defendeu seu projeto com unhas, dentes, argumentos e a convicção conquistada ao longo do trabalho. Falar já era um exercício natural. Os jurados ouviram e, imediatamente após as apresentações, fizeram observações sobre a construção das personagens, desenvolvimento dos roteiros, ganchos para outras temporadas e viabilidade dos projetos. Terminada a rodada, as propostas foram encaminhadas para Clélia Bessa, que nos daria o veredito na semana seguinte.
Sim, ficamos apreensivas, mas os dias passaram rapidamente. No dia da decisão, Clélia nos apresentou a ideia mais viável. Deveríamos seguir com os Amigos do trem, a história proposta pela Fabi sobre Camila, uma jornalista que chega ao Rio, vinda do Acre e que, ao fazer amizade com Dadá, uma vendedora de cosméticos, passa a frequentar os Amigos do Trem, um grupo de pessoas que estabelecem laços afetivos a partir de encontros nos vagões. Atenta às muitas histórias que se entrelaçam a cada viagem e como as relações se prolongam, Camila passa a publicar crônicas num jornal popular.
As multiplataformas previstas pela Fabi para Amigos do Trem seriam uma esquete de um minuto e uma Web série de três minutos. Haveria, ainda, uma revista eletrônica com as crônicas de Camila, e promoções dos produtos da Dadá.
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Clélia Bessa justificou a escolha. Amigos do Trem mostraria um universo comum e pouco explorado, o dos trabalhadores que utilizam os trens, e permitiria também a inserção das muitas ideias que tivemos ao longo do nosso trajeto.
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Os jurados concordaram com a escolha. "Vocês têm um diamante nas mãos, mas ele ainda está em estado bruto", afirmou Pedro
Nossa!
Salomão. Isso significava que ainda teríamos muito trabalho pela
Poxa, estou ficando triste, pois vamos
frente. Precisaríamos amarrar a história para explicitar nossas
nos separar em breve, porém não pensem que se livrarão de mim... rá, rá, rá, rá! (com eco). Bem, proponho que continuemos a nos comunicar por
intenções ao longo da primeira temporada.
Pedro explicou que extrair drama e comédia de situações reais requer muita pesquisa e habilidade. Não basta apenas gravar e transcrever as piadas, é preciso pensar em como elas ficariam na
e-mail do Mulheres, postando talvez a
tela. Camila necessitava de uma construção mais detalhada, de
continuidade do trabalho, textos,
mais apelo dramático. Precisaríamos de cuidado com
ideias, propostas, projetos... Que tal???
personagens secundários, sobre o que Paula Lobato também
Sejam sempre um núcleo positivo de
avisou: "Dadá ficou muito mais na minha cabeça. Coloquem
amor e emanem boas vibrações!
Camila para cima, para que Dadá venha a favor dela".
Sigam sorrindo e espalhem alegria. Mas juízo! Me adicionem no facebook. E vejam meu curta "Caixa Preta". Ana Claudia Okuti
Como nas grandes séries de sucesso que passam a primeira temporada descrevendo seus personagens, um em cada episódio, Pedro também sugeriu que fizéssemos a mesma coisa: que explorássemos ora um, ora outro, sem perder de vista a trajetória da trama. Mas para isso deveríamos ter bem definido o ponto de chegada.
Bárbara Mota alertou que as plataformas de exibição ainda não estavam bem integradas, mas que tínhamos um universo narrativo
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rico e uma estrutura física clara. Portanto, tínhamos de estabelecer um elo entre as histórias e as multiplataformas sugeridas. Mais que isso, tínhamos de pensar formas de projetar Camila para o mundo das personagens cativantes e interessantes.
Muito ainda por fazer. Mas atingimos o objetivo principal de encontrar uma ideia na qual poderíamos exercitar a nossa tão falada experiência compartilhada. Amigos do Trem era o esboço e o projeto ganhou, por fim, um nome provisório: Carro das Mulheres, que já tem logo e vinheta.
Com muitas mãos à obra, vamos botar nos trilhos esse trem de histórias!
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Conclusão Quatro meses se passaram desde o primeiro encontro na sala de projeção do Cinema Nosso, as aulas no Sesc Santa Luzia, até o fechamento da primeira etapa do Mulheres - Da Ideia ao Projeto, uma experiência de produção compartilhada. Começamos a compartilhar nossas ideias no verão escaldante e finalizamos o projeto no inverno seco e não menos impessoal da Cidade Maravilhosa. Mas não esfriamos com o clima. Ao contrário, o desejo de criar, escrever e ter o produto em imagens manteve o calor da convivência e da troca, o que nos motivou a preparar uma nova etapa do projeto, com menos divagação e mais produção. Temos a ideia, o incentivo e umas às outras, o que já nos vale muito, como vale. Já podemos buscar parceiros para a sua realização. Aprendemos muito também sobre o universo feminino. Sabemos que existe todo o tipo de mulher e de desejo, que devemos ser representadas por todas as cores, ainda que insistam em nos marcar com o rosa ou o vermelho apenas. Aprendemos que umas ainda querem casar para vida inteira, que outras querem ter muitas histórias de amor para contar e algumas querem ser livres e nem mesmo fazem planos de uma família formal, o que desespera a maioria das mães. Existem as românticas, as pragmáticas, as milagrosas, as crentes, as sonhadoras, as desesperadas, as mal-amadas, as agradecidas, as conformadas, as guerreiras, as mães, as esposas, as filhas, as tias e muito mais. Mas há uma coisa
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que nos une num só tipo de mulher: a vontade de ser feliz e de tornar o mundo um lugar muito melhor de se viver. A proposta inicial era chegarmos ao final da oficina com o roteiro pronto, tendo vivenciado todo o passo a passo necessário para isso: criação do roteiro, elaboração de análise técnica, cronograma, orçamento, plano de negócios etc. Além disso, fazer um projeto idealizado, coordenado e produzido por mulheres. Nosso trabalho chega ao seu desfecho tão naturalmente quanto todo o processo intenso e prazeroso que vivemos. No início, tínhamos a noção de que algo nos atraía. E essa atração nos fez tecer a rede que une nossa individualidade para formar o feminino comum. A série que idealizamos é o espelho do que somos, das decisões que tomamos, dos sonhos alimentados ou frustrados, do dia a dia fácil de levar ou que exige que demos socos de vez em quando. E tudo isso, sem a construção proposital de arquétipos, porque não precisamos ser comparadas. Estamos unidas, somos parecidas, mas não nos repetimos. Somos únicas e essa é mais uma lição. Temos um argumento, 13 sinopses, um projeto, cronograma, orçamento, projeto transmídia e plano de negócios, tudo já devidamente registrado na Biblioteca Nacional. Adquirimos noções elementares de construção de roteiro, produção, orçamento, plano de negócios, captação de recursos, direito de imagens e propriedade intelectual. Estamos prontas. Esperamos que a jornada descrita aqui possa oferecer
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informações suficientes para incentivar o leitor a fazer o mesmo, esteja próximo ou distante. Além do que produzimos, temos firme e latente o desejo de nos encontrarmos novamente, de não deixar o vínculo se desfazer. Queremos ter a oportunidade de ver nossos sonhos e nossas ideias veiculados por um canal de TV. Temos pronta, já, uma segunda etapa. Nossa grande lição, depois desses meses em que não faltou angústia, mas sobrou alegria, é a de que não existe projeto em audiovisual que não possa ser realizado quando pessoas se unem e compartilham ideias e experiências. A você, leitor, desejamos boa sorte na sua jornada. Nós vamos seguir a nossa.
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Bibliografia Araujo, Inácio - Cinema: O Mundo em Movimento - Ed. Scipione Ano 1995 Buñuel, Luis - O Meu último Suspiro - Ed. Cosac Naify - Ano 1982 Collaro, Antonio Celso - Projeto Gráfico - Teoria e Prática da Diagramação - Ed. Summus - Ano 1996 Comparato, Doc - Da Criação ao Roteiro - Ed. Summus - Ano 2009 Field, Syd - Manual do Roteiro - Ed. Objetiva - Ano 1995 García Marquez , Gabriel e Comparato, Doc - Me Alugo Para Sonhar - Ed. Casa Jorge - Ano 1997 Jenkins, Henry - Cultura da Convergência- Ed. Aleph - Ano 2009 Lemos, Ronaldo - Direito Tecnologia e Cultura - Ed. FGV Ano 2005 Maciel, Luiz Carlos - O Poder do Clímax: Fundamentos do Roteiro de Cinema e TV - Ed. Record - Ano 2003 Polti, Georges - As 36 Situações Dramáticas - Editora La Avispa Ano 2000 (edição em espanhol) Sá Cesnik, Fábio de - Guia do Incentivo a Cultura - Ed. Manole (Exatas/Humanas) - Grupo Manole - Ano 2007 Saraiva Leandro e Cannito, Newton - Manual de Roteiro ou Manuel, O Primo Pobre dos Manuais de Cinema e TV - Ed. Conrad Livros Ano 2004 Souriau, Etienne - As Duzentas Mil Situações Dramáticas - Editora Ática - Ano 1993 Vogler, Christopher - A Jornada do Escritor - Editora Nova Fronteira Ano 2006
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Glossário ANCINE - Agência Nacional de Cinema Argumento - texto corrido e estruturado sem indicações de transição, para onde toda história é contada. BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CVM - Comissão de Valores Mobiliários, que autorizou a criação do FUNCINE. Diegese - princípio que permite que o espectador entre e participe da história. DR - aquilo que dizem que nós adoramos fazer e os homens evitam a todo custo. Discutir a Relação, como a própria expressão diz, é falar o que pensamos ou nos incomoda sobre determinado relacionamento. Escaleta - estrutura desenvolvida, pré-roteiro (diálogos em discurso indireto). Espelho - perfil dos personagens e descrição de cenários. FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos, ainda em fase de implantação no país, que será responsável pela viabilização de grande parte dos recursos a serem colocados no mercado para a produção audiovisual. FUNCINE - Fundo de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional. Os recursos do fundo se destinam ao financiamento de obras cinematográficas brasileiras de produção independente e da construção, reforma e recuperação de salas de exibição. A regulamentação do Funcine prevê a compra de cotas de fundos de investimentos. Os aplicadores do fundo terão abatimento de até 34% do valor investido no Imposto de Renda e de 100% com despesa operacional. A Agência Nacional de Cinema (Ancine) vai trabalhar em conjunto com a CVM durante a implantação do projeto.
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FNC - O Fundo Nacional da Cultura é um fundo público constituído de recursos destinados exclusivamente à execução de programas, projetos ou ações culturais. O MinC pode conceder este benefício através de programas setoriais realizados por edital por uma de suas secretarias, ou apoiando propostas que, por sua singularidade, não se encaixam em linhas específicas de ação, as chamadas propostas culturais de demanda espontânea. FSA - Fundo Setorial do Audiovisual. É um fundo destinado ao desenvolvimento articulado de toda a cadeia produtiva da atividade audiovisual no Brasil. Criado pela Lei Nº 11.437, de 28 de dezembro de 2006, e regulamentado pelo Decreto nº 6.299, de 12 de dezembro de 2007, o FSA é uma categoria de programação específica do Fundo Nacional de Cultura (FNC). Lei Estadual de Incentivo Fiscal / ICMS Rio de Janeiro - baseado nas Leis 1.954/92 e 3.555/01 e Decreto 28.444/01, o incentivo fiscal tem como principal meta o fomento à Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Os projetos aprovados na Lei se habilitam a buscar, dentre os patrocinadores credenciados pela Secretaria de Cultura, recursos que viabilizem a sua realização. Aos patrocinadores, a Lei de Incentivo oferece a oportunidade de investimento em projetos culturais credenciados pelo Governo do Estado, além de benefício fiscal sob a forma de dedução fiscal no ICMS a ser recolhido: dedução de até 4% do ICMS para doação e patrocínio para produções culturais com contribuição mínima de 20% para a dedução solicitada (ver site cultura.rj.gov.br/leidoincentivo). Em outros estados, verifique as leis vigentes. Lei ISS / Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro - pela Lei 1940/92 e o Decreto nº 30.897, de 15 de julho de 2009 é considerado contribuinte Incentivador a pessoa jurídica contribuinte de ISS, localizada no Município do Rio de Janeiro, que faça opção conforme termo de adesão ao incentivo cultural junto às Secretarias Municipais de Cultura e de Fazenda. Os valores provenientes da renúncia fiscal para o exercício serão exclusivamente aplicados em projetos selecionados e certificados pela Comissão Carioca de Promoção Cultural nas áreas definidas no artigo 2º da Lei 1940 de 1992 - Lei Municipal de Incentivo à
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Cultura (ver site rio.rj.gov.br/web/smc). Em outras cidades, verifique com a Prefeitura as leis vigentes. LEI DO AUDIOVISUAL nº 8.685/93 - Lei de investimento na produção e coprodução de obras cinematográficas / audiovisuais e infraestrutura de produção e exibição. LEI DE DIREITOS AUTORAIS nº 9.610/98: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9610.htm LEI ROUANET / Governo Federal - pela Lei n° 8.313/1991 (Lei Rouanet) o proponente apresenta uma proposta cultural ao Ministério da Cultura (MinC) e, caso seja aprovada, é autorizado a captar recursos junto a pessoas físicas pagadoras de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base no lucro real visando à execução do projeto. Os incentivadores que apoiarem o projeto poderão ter o total ou parte do valor desembolsado deduzido do imposto devido, dentro dos percentuais permitidos pela legislação tributária. Para empresas, até 4% do imposto devido; para pessoas físicas, até 6% do imposto devido. (ver site cultura.gov.br) Pitching - a palavra vem do termo em ingles "pitch", que significa arremesso. É o arremesso da bola de beisebal que pode ser pega no ar durante o jogo. E, atualmente, o mercado audiovisual promove "pitchings" para compradores ou investidores que buscam conteúdo nos expositores. Esses expositores são produtores audiovisuais que têm uma ideia interessante, adequada, bem coerente aos anseios de quem está investindo. No Brasil, o pitching ganha algumas particularidades, quando os produtores audiovisuais encontram um novo modo de realizar seus projetos expondo suas ideias criativas e adequadas a um edital de maneira democrática. PRONAC - Programa Nacional de Apoio à Cultura. A Lei consiste na politica de incentivos fiscais que possibilitam a empresas (pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoas fisícas) aplicarem uma parte do IR (imposto de renda) devido em ações culturais.
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Roteiro - estrutura desenvolvida, com diálogos e indicações de transição. Sinopse - peça para venda, na qual a história será contada de maneira resumida, em duas páginas. Storyline - resumo da história em apenas uma ou duas linhas, de onde ela parte, por onde caminha e aonde vai chegar. Set Up - evento incitante que revela o conflito central da história. Tag - é a pequena cena que fecha o episódio, após a resolução do conflito. Nas séries cômicas, costuma ser a piada final. O tag pode funcionar ainda para antecipar uma situação que se desenvolverá nos episódios seguintes. Teaser - (também chamado de cold open) é a pequena cena que antecede a vinheta de abertura. Pode ou não estar relacionado com o enredo que se verá naquele episódio. Nas séries dramáticas de enredo detetivesco, costuma ser a cena do crime, o assassinato (que atravessará o episódio) sendo cometido. Atenção: teaser e tag têm outros sentidos no mercado publicitário e cinematográfico Transmedia Storytelling ou Narrativas Transmídia - é o uso de múltiplas plataformas de mídia para empregar uma matriz narrativa completa usando o melhor de cada meio.
Mil e Umagens Comunicação 55 21 25091235 www.mileumaimagens.com.br
O que leva mulheres de origens e histórias tão distintas a darem as mãos e colaborarem num projeto dessa natureza?
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