Manifestos 2013: uma análise da cobertura do Jornal Vanguarda em sua área de abragência

Page 1

CENTRO UNIVERSITÁRIO MÓDULO

Millena Hermes Terra

MANIFESTOS 2013: UMA ANÁLISE DA COBERTURA DO JORNAL VANGUARDA EM SUA ÁREA DE ABRANGÊNCIA

Caraguatatuba/SP 2014


2

Millena Hermes Terra

MANIFESTOS 2013: UMA ANÁLISE DA COBERTURA DO JORNAL VANGUARDA EM SUA ÁREA DE ABRANGÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Diploma de Graduação em Jornalismo, do Centro Universitário Módulo. Orientadora: Prof. Sandra da Silva Mitherhofer.

Caraguatatuba/SP 2014


3

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, por toda dedicação e carinho ao longo da vida, às minhas irmãs, por acreditarem na minha capacidade. Ao meu companheiro, com quem amo compartilhar a vida e, aos meus professores que dividiram comigo tanto conhecimento. De modo especial ao meu saudoso amigo Diego Barbieri.


4

AGRADECIMENTOS Sou profundamente grata a Deus, por ter me permitido chegar até aqui. Mas se hoje me sinto realizada e segura devo isso aos meus pais que durante toda minha vida estiveram ao lado me dando apoio e me ensinando a ser uma pessoa boa e honesta. Também às minhas irmãs e toda família pela confiança. Agradeço em especial a querida Prof. Ms. Sandra da Silva Mitherhofer, orientadora dedicada, carinhosa e extremamente sábia que me ajudou a seguir o caminho certo com obediência para alcançar meus objetivos. Agradeço também a todos os professores que fizeram parte da minha caminhada universitária: Bruna Guimarães, Daniela Aragão, Edilson Almeida, Eliane Lucas, Gerson Lima, Giovana Oliveira, Nordan Manz, Paulo Arruda e Ricardo Hiar. Sem contar todos àqueles os quais cruzaram meu caminho durante a infância e adolescência. Aos meus amigos e colegas de classe pelo companheirismo, de modo especial a Thaís Pinheiro que foi uma grande parceira durante o tempo que estudou comigo antes de mudar de cidade. Ao meu amado, Nídio Dolfini, por sua paciência, carinho e compreensão durante esse processo. E a todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram a trilhar essa jornada que tanto almejei.


5

LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Movimentos Sociais..................................................................................................................16 Quadro 2 – Modelo de Quadro Analítico.....................................................................................................30 Quadro 3 – Objeto 01: Protestos em Pindamonhangaba (SP) para o trânsito na região.........................31

Quadro 4 – Objeto 02: Manifestação percorre ruas de São José dos Campos (SP)...............................35 Quadro 5 – Objeto 03: Em meio a protestos, cidades da região anunciam queda nas tarifas dos ônibus.....................................................................................................................................................40 Quadro 6 – Objeto 04: Protesto reúne milhares de manifestantes em São Sebastião (SP)....................42 Quadro 7 – Objeto 05: Cidades do Vale do Paraíba e região bragantina mobilizam em protestos.......45 Quadro 8 – Objeto 06: Duas mil pessoas vão às ruas de Caçapava (SP) para protestar........................52 Quadro 9 – Objeto 07: Representante do MPL faz balanço dos Protestos no Vale do Paraíba.............58 Quadro 10 – Objeto 08: Via Dutra no Vale do Paraíba é palco de manifestações.................................60 Quadro 11 – Objeto 09: TV Vanguarda mostra trabalhadores cantando o hino nacional......................64 Quadro 12 – Objeto 10: Sábado foi dia de protestos em duas cidades do Vale do Paraíba...................66


6

RESUMO A presente monografia tem por problemática a análise do discurso do Jornal Vanguarda, com base na cobertura realizada pelo telejornal em junho de 2013. Seu objetivo, verificar de que maneira o noticiário apresentou as matérias relacionadas aos protestos ocorridos no país que afetaram também a região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira. Para isso foram analisadas 10 matérias entre os dias 17 e 22 de junho do ano de 2013. A metodologia do tipo exploratória utilizou-se dos procedimentos revisão bibliográfica e análise dos objetos, a partir dos conceitos estabelecidos construiu-se um quadro analítico tendo como escopo teórico as Teorias Enunciativas nos vieses de Flores e Teixeira (2005), Benveniste (1989; 1991) e Ducrot (19877), Ducrot e Carel (2008) e, também, a Análise do Discurso, baseada nas teorias de Brandão (1996) e Orlandi (2004 e 2010). Os resultados obtidos encontraram equilíbrio dos gêneros notas cobertas (3), reportagens (3), notícias ao vivo (2) e notas simples (2). Percebeu-se que mesmo fazendo uso do formato jornalístico de estrutura mais complexa, a reportagem, o telejornal trata o tema superficialmente e não coloca em pauta a crise de representatividade global a qual o país vive. As notícias são sustentadas basicamente por números, o que não enriquece e desumaniza a prática jornalística. Concluiu-se que o telejornalismo apresentado carece, mesmo dentro das especificidades de tempo e possibilidades do gênero, de um discurso crítico, que agrega e fomenta a “liberdade de pensamento”, expressão de ordem tantas vezes dita pelo jornalismo que parece desgastada e desprovida de sentido. Palavras-chave: Análise de Discurso. Protestos. Jornal Vanguarda. Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira.


7

SUMÁRIO Introdução.............................................................................................................................................................08 Capítulo 1 – Protesto ontem e hoje.....................................................................................................................13 1.1. Movimento social como mecanismo democrático........................................................................................14 Capítulo 2 – Teorias da Enunciação e da Análise de Discurso de Linha Francesa........................................20 2.1. Teorias Enunciativas.......................................................................................................................................20 2.2. Análise de Discurso de Linha Francesa..........................................................................................................23 Capítulo 3 – Objetos e Análise dos objetos........................................................................................................30 3.1. Quadro Analítico.............................................................................................................................................30 3.2. Objetos e Análise............................................................................................................................................31 Considerações finais.............................................................................................................................................71 Referência Bibliográfica......................................................................................................................................74


8

INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) situa-se na área da Comunicação Social, mais especificamente na de Jornalismo. Seu foco é analisar as matérias veiculadas pelo Jornal Vanguarda, transmitido pela Rede Globo de Televisão, a respeito dos protestos ocorridos em todo Brasil e repercutidos na região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira em junho de 2013. Neste contexto, o trabalho estuda de que maneira o telejornal abordou o assunto. Os protestos dos quais este estudo se refere, segundo a Revista Veja1, começaram no dia 6 de junho de 2013, em São Paulo, na capital e, mesmo tendo sido iniciado pela questão do aumento das tarifas de ônibus, tiveram também outros focos voltados ao interesse público, como o gasto com a Copa do Mundo e a votação da PEC 372. Estes protestos transformaram-se em um grande movimento nacional, denominado “Vem pra rua”, que envolveu mais de 100 cidades do país, inclusive os municípios da região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira.

Durante as manifestações, as redes sociais se mostraram poderosas ferramentas de organização política na sociedade. Foi por meio delas que a maioria das pessoas foi às ruas protestar e combinar seus encontros. A principal ferramenta utilizada foi o Facebook3, pois possui facilidade de acesso e praticidade em organizações de eventos.

Os protestos no Vale do Paraíba tiveram início por volta do dia 17 de junho, quando o telejornal começou a noticiar o assunto. As manifestações seguiram até começo de julho. A Via Dutra foi interditada diversas vezes. A tarifa de ônibus que sofrera aumento, em sua maioria, ficou mais barata, como é possível constatar nas notícias.

Dentre as matérias veiculadas pelo telejornal foram selecionadas 10, que durante o período das manifestações foi considerado pela autora deste trabalho como amostragem significativa. As matérias abordam informações a respeito dos protestos ocorridos de 17 a 22 de junho de 2013 que discorrem sobre os valores das tarifas, as paralisações das principais estradas do Vale, das vestimentas dos 1

Revista Veja: MANIFESTAÇÕES: Cartazes de manifestantes mostram a grande diversidade de reivindicações e protestos. Disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/manifestacoes-cartazes-de-manifestantesmostram-a-grande-diversidade-de-reivindicacoes-e-protestos/> Acesso em 21 de maio de 2014. 2 A PEC 37 definiria como competência privativa da polícia as investigações criminais ao acrescentar um parágrafo ao artigo 144 da Constituição. 3 Rede social criada por universitários da Universidade de Harvard, lançada em 2004.


9 manifestantes e, até mesmo os cartazes que utilizam. Em algumas matérias, os repórteres falam do local onde as pessoas se reuniram para protestar e entrevistam algumas delas. As notícias, que variam de um a seis minutos, foram transcritas e o foco das análises será no conteúdo transcrito e não nas imagens.

A escolha do meio de comunicação a ser analisado neste TCC foi a TV, pois tem o imediatismo, a instantaneidade, o envolvimento e se relaciona com o Brasil desde 1950, quando chegou, em São Paulo, a primeira estação de TV do país, a TV Tupi. Dois dias depois chegou o primeiro telejornal: Imagens do Dia. Depois, em 1952 surgia o Telenotícias Panair e no mesmo ano, no Rio de Janeiro considerado o mais importante da década de 50, o Telejornal Repórter Esso. Mais tarde em 1960, a TV se consolida e o telejornalismo inicia seu crescimento. Em 1965, surge a TV Globo, responsável pelo primeiro programa de telejornal em rede nacional, o “Jornal Nacional”. (PATERNOSTRO, 1987)

Segundo a secretaria de Comunicação Social da Presidência do Brasil, através da Pesquisa Brasileira de Mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira4, disponibilizada no site do Observatório da Imprensa, o meio de comunicação preferido dos brasileiros ainda é a televisão. Cerca de 76,4% das pessoas do país se informam ou se entretém por meio da TV. Seguido por 13,1% da internet, 7,9% do rádio, 1,5% dos jornais impressos e 0,3% das revistas.

A escolha da TV Vanguarda foi feita por ter a maior audiência existente no local onde a autora deste trabalho reside, cidade de Caraguatatuba, pelo tempo em circulação na região, já que possui 11 anos de existência, pela periodicidade diária e pela facilidade de acesso as matérias mantidas no site do G1. A Rede Vanguarda foi inaugurada no dia 21 de agosto de 2003. Segundo Boni (2011, p. 453), no ano de 2011 eram 53 canais, cobrindo mais de 2,5 milhões de espectadores, em 46 municípios do Vale do Paraíba, Vale Histórico, Litoral Norte Paulista, Serra da Mantiqueira e região Bragantina. Segundo a pesquisa IBOPE, realizada em outubro do mesmo ano, a Vanguarda tinha 55% de participação na audiência do mercado, ou seja, 23% a mais que todas as concorrentes somadas. Ainda

4

Observatório da Imprensa: Pesquisa Brasileira de Mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Disponível em: < http://observatoriodaimprensa.com.br/download/PesquisaBrasileiradeMidia2014.pdf> Acesso em 26 de maio de 2014.


10 em 2011, a Vanguarda foi eleita pela Academia Brasileira de Marketing, pela terceira vez, a melhor TV Regional do Brasil. Os telejornais da TV Vanguarda5 são: Bom Dia Vanguarda, exibido de segunda à sexta, às 7h15 e que apresenta as principais notícias da região, previsão do tempo, movimento nas estradas, oportunidades de emprego e estágio; Link Vanguarda, exibido de segunda a sexta, às 12h, e sábado, às 12h20, com notícias locais e participação de telespectadores por meio das redes sociais; Jornal Vanguarda, que vai ao ar às 19h15 com os registros dos principais acontecimentos da região. Além disso, tem outros que apesar de não serem telejornais, abordam características jornalísticas, como o Vanguarda Serviço, exibido todos os dias, três vezes ao dia, durante a programação como flashes, traz vagas de emprego, serviços gratuitos à população como agendas locais, além de divulgar pessoas desaparecidas; Vanguarda Comunidade, exibidos aos domingos, às 7h, que foca assuntos de interesses comunitários, na área da saúde, economia, emprego; e o Vanguarda News, exibido à noite, na faixa da madruga e que traz o resumo geral dos acontecimentos do dia, além de reportagens especiais. Dentre os telejornais e os outros programas citados acima, o Jornal Vanguarda6 foi selecionado por ter a maior audiência, cerca de dois milhões de telespectadores, e por ter a responsabilidade de informar o que de mais importante aconteceu durante o dia na região. O Jornal Vanguarda geralmente é composto por três blocos, cerca de 20 minutos, que, por sua vez, apresentam uma média de seis a sete matérias. As notícias são apresentadas em diversos formatos jornalísticos.

Como se trata de analisar notícias de um tema regional delimitou-se a quantidade de 10 matérias, que corresponde à cobertura das manifestações durante uma semana de exibição do telejornal, de 17 a 22 de junho de 2013, período em que se iniciaram os protestos na região.

Pode-se perceber nas 10 matérias selecionadas que há vários gêneros de telejornais. Para facilitar o desenvolvimento, foram encontrados e listados os gêneros: nota simples, nota coberta, reportagem e vivo, que são melhores explicados no final do segundo capítulo.

5

6

TV Vanguarda: Jornalismo 24h. Disponível em < http://vanguarda.tv/> Acesso em 28 de maio de 2014.

TV Vanguarda: Programação. Disponível em < http://redeglobo.globo.com/sp/tvvanguarda/programacao.html> Acesso em 15 de maio de 2014.


11 A escolha metodológica aborda teorias que trabalham com o texto como objeto e unidade de análise, delas destacamos as teorias enunciativas, que pressupõem uma relação de subjetividade interna ao texto e Análise de Discurso de Linha Francesa, fundamentada por Michel Pêcheux, a qual convoca a historicidade e a exterioridade como elementos fundamentais à concepção do texto enquanto unidade de análise, e, assim, por meio deste método analítico pode-se apresentar o discurso construído sobre o fenômeno social (manifestações sociais, protestos) ocorrido a nível nacional, revelando neste discurso as evidências de sujeito e ideologia presentes em 10 matérias selecionadas e analisadas do telejornal “Jornal Vanguarda”, que não seria possível alcançar com outro processo.

A autora entende ser relevante pontuar que o discurso oral transcrito do telejornal e apresentado como objeto de análise, considerado aqui como unidade textual, fundamenta-se em Marcuschi (2001, pg.17) que conceitua:

Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia. Ambas permitem textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante.

O autor defende uma perspectiva sociointeracionista de língua, isto é, a língua como atividade, e em seus Estudos “Da Fala para a Escrita: atividades de retextualização” defende classificação de gêneros sobre um continuum da fala para a escrita:

O contínuo dos gêneros textuais distingue e correlaciona os textos de cada modalidade (fala e escrita) quanto às estratégias de formulação que determinam o contínuo das características que produzem as variações das estruturas textuais-discursivas; seleções lexicais; estilo; grau de formalidade etc., que se dão no contínuo de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de contínuos sobrepostos. (MARCUSCHI, 2001, pg.42).

Portanto, o gênero “notícias de TV”, no contínuo é classificado como modalidade mista, híbrida em seu texto, que ao se construir utiliza-se de recursos escritos e orais, e, sem descaracterizar as particularidades, torna-se um único discurso. E, por isso, não trabalharemos as particularidades, mas os textos transcritos como unidades de discurso, materializado nos textos aqui apresentados.

Esta monografia constitui parte importante na formação acadêmica, pois defende que a linguagem possui uma relação com o exterior, com a vivência de cada indivíduo e por mais que se


12 tente a parcialidade não existirá em 100% das matérias jornalísticas, seja de impresso, televisão, rádio ou internet. É relevante para a área jornalística entender e refletir como uma representante da mídia televisiva regional se posiciona e trabalha sobre uma temática como a dos protestos.

O trabalho será dividido em três partes: 1. Protesto ontem e hoje, 2. Teorias de enunciação e Análise de Discurso de Linha Francesa e 3. Objetos e análise dos objetos.


13

CAPÍTULO 1 – PROTESTO ONTEM E HOJE O Brasil tem um histórico considerável no que diz respeito a protestos. Depois de 30 anos, desde o último impacto do movimento Diretas Já, pelo qual a população exigia redemocratização, com eleições para presidente da República, o país se deparou com uma grande massa da população protestando por seus direitos. Em ano de Copa de Mundo, no qual o Brasil estava, até então, por receber países do mundo inteiro, iniciava manifestações que se opunham ao aumento ocorrido na tarifa de ônibus. No entanto, os protestos foram muito além. Com a mobilização da grande parte da população da cidade de São Paulo, o movimento ganhou força e se alastrou pelo país através das redes sociais. A luta pedia melhorias na saúde, segurança, educação, entre outras.

Na região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira, os protestos também ganharam força. Segundo o Portal G17 Vale e Região, entre os dias 17 e 19 de junho de 2013, cidades da região se mobilizaram para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus. Municípios como São José dos Campos, Guaratinguetá, São Sebastião, Ubatuba, Caraguatatuba, Atibaia, Pindamonhangaba se organizaram e aderiram às manifestações iniciadas na capital, segundo o Jornal Estadão 8, no dia 6 de junho de 2013.

Os protestos têm uma importância fundamental no contexto histórico e jornalístico do Brasil. Esse tipo de manifestação popular acontece quando a população não encontra um mecanismo legal para ter àquilo que lhe é seu por direito, como tarifa zero no transporte público. O brasileiro já tem gastos suficientes, paga impostos diários nos mais variados produtos. Depois da luta pela diminuição da tarifa no transporte público, a população começou a reivindicar outros direitos como educação, saúde, segurança. O ex-líder dos caras pintadas, Lindbergh Farias, em entrevista concedida ao jornal Folha de São 9

Paulo , compara as manifestações de hoje com as de 20 anos atrás e lembra que, no impeachment, para se marcar uma passeata demorava em torno de 15 dias. Hoje não, pois com as redes sociais, o 7

Portal G1: Protestos contra tarifa reúnem manifestantes nas cidades do Vale. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/06/protestos-contra-tarifa-reune-manifestantes-nas-cidadesdo-vale.html> Acesso em 14 de abril de 2014. 8 Jornal Estadão: Em uma semana, quatro protestos contra aumento da tarifa em São Paulo. Disponível em <http://www.estadao.com.br/especiais/em-uma-semana-quatro-protestos-contra-aumento-da-tarifa-em-saopaulo,203763.htm> Acesso em 12 de maio de 2014. 9 Folha de São Paulo: Partido deixou de ser instrumento de mobilização. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/115581-partido-deixou-de-ser-um-instrumento-de-mobilizacao.shtml> Acesso em 14 de abril de 2014.


14 movimento é instantâneo. Farias destaca que os partidos não são mais instrumentos de mobilização e sim objeto de eleição. Antigamente era necessário ter uma direção, um partido, um sindicato. Neste caso o movimento começou pelas redes sociais e se espalhou por localidades em todo país.

O papel mobilizador que as redes sociais mostraram, durante os protestos no ano de 2013, em particular o Facebook, foi notícia em muitos portais pela internet e até mesmo em impressos. No portal G110, por exemplo, a jornalista Caroline Stauffer escreveu uma matéria cujo enfoque era exatamente a questão da influência das redes sociais nos protestos iniciados em 6 de junho em São Paulo. A repórter diz que o Facebook e o Twitter11 propiciaram uma mobilização que há mais de duas décadas não era vista no país. Apesar de ter emergido um movimento desajeitado no começo, muitos protestos só aconteceram pela velocidade e eficiência que as redes sociais permitem.

A Rede Vanguarda é o principal canal de TV aberta na região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira. Eleita três vezes a melhor TV Regional do Brasil. O Jornal Vanguarda tem a responsabilidade de informar para mais de dois milhões de pessoas o que de mais importante aconteceu durante o dia na região.

Acredita-se que a análise das matérias será importante para compreender a maneira e a seriedade que o jornalismo da região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira produz em relação a um assunto de cunho importante na vida do povo brasileiro.

1.1. Movimento Social como mecanismo democrático Segundo Clovis Gorczevski e Nuria Belloso Martin (2011), movimento social pode ser definido como: [...] uma rede interativa de indivíduos, grupos e organizações que, dirigindo suas demandas à sociedade civil e às autoridades, intervêm com relativa continuidade no processo de mudanças sociais, mediante o uso prevalecente de formas não convencionais de participação; ou, dito de outra maneira: trata-se de um conjunto de redes de interação informais entre uma pluralidade de indivíduos, grupos e organizações comprometidas com conflitos de natureza política ou cultural, sobre a base de uma específica identidade coletiva. (GORCZEVSKI E MARTIN, 2011, p. 132).

10

Portal G1: Redes sociais difundem e dividem protestos no Brasil. Disponível em < http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/06/redes-sociais-difundem-e-dividem-protestos-no-brasil-1.html> Acesso em 11 Rede Social e servidor para microblogging que permite enviar e receber textos em até 140 caracteres, criada em 2006.


15 Uma sociedade democrática se constrói por meio de ações democráticas. Se um povo elege alguém para representá-lo, esse alguém deve fazê-lo e não usá-lo para obter vantagens pessoais. O papel dos protestos tratados neste estudo parte do princípio de que se a pessoa eleita para representar a sociedade não está representando-a, é hora de protestar. Os movimentos sociais se apresentam como denunciadores das fraudes existentes no sistema.

Em Atenas, nos tempos da Grécia Antiga, só podia tomar decisões políticas pessoas consideradas varões adultos, cujos progenitores haviam também tomado decisões. Mulheres, escravos e estrangeiros eram excluídos e não podiam intervir em nada. Depois surgiu a possibilidade de o indivíduo participar ativamente na administração da cidade, ou seja, surgiu o cidadão. A liberdade foi ampliada e o número de cidadãos com direito a voto duplicou. (GORCZEVSKI E MARTIN, 2011).

No Brasil, por volta de 1980, não era muito diferente em comparação restritiva do cidadão, o voto não era escolha do brasileiro, o fim da ditadura em que o Brasil vivia só termina oficialmente com a eleição de Tancredo Neves por voto popular em 1985, mas aos poucos começaram a surgir movimentos como Movimento Sem Terra (MST), Movimento Feminista, Movimento Passe Livre. Esses movimentos e tantos outros nasceram com a necessidade de intervir nas ações políticas não suficientes ou não existentes para determinados públicos, dentro da sociedade.

A partir de 1978 houve uma onda de greves que fascinou o mundo, com assembleias de 80 mil trabalhadores. Uma época em que a onda no mundo todo, ou quase todo, era de declínio da atividade político-partidária, principalmente de partido operário. Numa época em que os partidos socialistas e comunistas estavam em declínio, no Brasil estava acontecendo exatamente o contrário, ou seja, havia uma elevação da atividade sindical e da atividade partidária, e o efeito mais notável disso foi a candidatura do Lula a presidente da República contra o Collor, chegando quase a vencer as eleições. Esse parece ter sido o grande momento, talvez o ápice, o auge desse processo que começa no Brasil, ao longo dos anos 70, na virada dos anos 70 para os anos 80. (ALMEIDA, 2000, p.51).

Nessa época também começou a surgir o que os teóricos chamavam de “novos” movimentos sociais que segundo Scherer-Warren (apud GORCZEVSKI E MARTIN, 2011, p.150) se diferencia em sua forma de organização e encaminhamento das lutas. Os primeiros incorporavam formas clientelistas e paternalistas de fazer política, eventualmente utilizavam-se da democracia representativa e não excluíam o recurso da violência. Os novos movimentos valorizam a participação ampliada das bases, a


16 democracia direta sempre que possível e opõem-se, ao menos no plano ideológico, à centralização do poder e ao uso da violência. Quanto ao conteúdo dessas lutas, ambos apresentam demandas específicas e, por vezes, defendem transformações sociais mais gerais. O que há de inovador nos novos movimentos é a luta pela ampliação do espaço da cidadania, o que conduz, necessariamente, à modificação das relações sociais.

Nos velhos movimentos sociais o que determinavam as batalhas eram as classes sociais, normalmente motivadas pelo trabalho. Nos novos movimentos, além das lutas originadas pela questão profissional, surgiram movimentos acerca do mundo em defesa dos direitos à humanidade, das mulheres, do meio ambiente. A construção de autonomia e independência levou adiante a luta pela democracia. Tanto que Ibarra (apud GORCZEVSKI E MARTIN, 2011, p.128) vai além e classifica os movimentos sociais em velhos, novos, novíssimos e movimentos antiglobalização. Quadro 1 – Movimentos Sociais

Objetivos

Velhos movimentos

Novos

sociais

movimentos

Novíssimos

Movimentos

sociais

sociais

movimentos sociais

antiglobalização

- Movimento

-Ecologista

-Solidariedade e

-Diversos movimentos

operário:

-Feminista

cooperação

contrários aos efeitos

Defesa dos interesses

-Pacifista

internacional

negativos da

da classe

-Direitos

-Antirracismo

globalização

trabalhadora.

Civis

-Apoio a grupos

-Movimento

-Opção sexual

excluídos

Década de 60/70 Séc.

Década 80/90

Década 90

XX

Séc. XX

Séc. XX

nacionalista: defesa da identidade e autogoverno nacional Surgimentos

Inicio séc. XIX

Fonte: CLOVIS GORCZEVSKI E NURIA BELOSSO MARTIN (A necessária revisão do conceito de cidadania: movimentos sociais e novos protagonistas da esfera pública democrática, 2011, pg.151).

Os novíssimos movimentos sociais buscam outra forma de lutar pelos mesmos direitos dos novos, só que organizados sob o princípio da solidariedade para defender interesses específicos (desde povos subdesenvolvidos do terceiro mundo a grupos marginais das sociedades ocidentais, como drogados, idosos, portadores de necessidades especiais, imigrantes clandestinos, etc.). Não existe mais a questão da classe social como antigamente, a sociedade está em busca de sua valorização. Os movimentos antiglobalização que surgem para se mobilizarem contra as consequências nocivas da


17 globalização. A principal mudança desse tipo de movimento é a forma de se estabelecerem, fazendo uso das plataformas da internet, a principal delas, os meios de comunicação, como as redes sociais.

Ferramentas como redes sociais possibilitam que indivíduos estejam conectados mesmo que não presentes fisicamente, estando na mesma cidade ou em qualquer lugar do mundo. Essa nova forma de viver comunicação e de se conviver com a informação trouxe essa mudança de organização através de postagens e eventos criados online12. A Revista Superinteressante13 levantou alguns movimentos que marcaram o Brasil. Em 1878 e 1879, houve a Revolta do Vintém, no Rio de Janeiro. O motivo foi a cobrança de 20 réis nas passagens dos bondes. Houve conflitos entre população e as forças armadas, mas no fim a pressão popular venceu e o reajuste dos bondes foi anulado. Em 1904 ocorreu a Revolta da Vacina, também no Rio de Janeiro. A causa foi a lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola. O abuso das ações, as invasões de lares, interdições forçadas e despejos, levaram às ruas mais de três mil pessoas. Quase 80 anos depois, em 1979 houve a Greve da meia-passagem, em São Luís, no Maranhão. Estudantes foram às ruas protestar e apesar da forte repressão da polícia que enfrentaram, a lei da meia passagem foi sancionada. Cinco anos depois, o povo tomou as ruas para pedir a volta das eleições diretas, extintas após o Golpe Militar de 1964. Foi a chamada “Diretas Já”. Pessoas de várias cidades do país tomaram as ruas para reivindicar. Em 1992 houve o Impeachment de Collor. Mais uma vez pessoas de várias cidades do país saíam às ruas para protestar. A pressão foi tanta que o então presidente renunciou ao cargo. Depois de 12 anos, quando o Conselho Municipal de Transportes de Florianópolis aprovou o aumento da tarifa do transporte público, houve a Revolta da Catraca.

Após todos esses movimentos e outros, o Brasil se deparou com, segundo a jornalista Caroline Stauffer14, algo antes nunca visto, “uma mistura confusa e conflitante de pessoas e mensagens. E a culpa é do Facebook”. Os protestos que tomaram as ruas de cidades de todo o país, em 2013, gerou muita polêmica no mundo todo. O motivo foi o aumento da tarifa do transporte público. E foi através

12

Criados via internet, através de um computador ou até mesmo de um celular. Revista Superinteressante: 7 manifestações que tomaram as ruas do Brasil. Disponível http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/7-manifestacoes-que-tomaram-as-ruas-do-brasil/> Acesso em 12 de maio 2014. 14 Portal G1: Redes sociais difundem e dividem protestos no Brasil. Disponível <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/06/redes-sociais-difundem-e-dividem-protestos-no-brasil-1.html> Acesso 26 de maio de 2014. 13

em de em em


18 das redes sociais que a maioria das pessoas, que foram às ruas manifestar, combinou seus protestos. Mais especificamente através do Facebook, a maior rede social atualmente, com mais de 750 milhões15 de usuários, que permite criação de Fan Pages16, eventos17, postagens18, com fotos ou vídeos, que geram disseminação de informações. Segundo o jornal Estadão, o primeiro protesto ocorreu no dia 6 de junho e cerca de dois mil pessoas fecharam ruas, na grande São Paulo. “Depredaram as Estações Consolação, Trianon-Masp e Brigadeiro do Metrô, além de um acesso da Vergueiro, e destruíram lixeiras e novos pontos de ônibus que foram encontrando pelo caminho.”

A jornalista Mehane Albuquerque Ribeiro também escreveu a respeito das redes sociais terem sido impulsionadoras dos protestos. No Portal Observatório da Imprensa 19 , ela disse que as redes foram apontadas como causa do grande movimento, quando na verdade foi a “ferramenta revolucionária que permitiu a organização de um modelo de protesto totalmente diferente de tudo o que já se viu antes no país.” Ainda disse que, sem dúvida, a internet instaura uma nova fase nos movimentos sociais urbanos na maneira de exercer a cidadania, tornando-a mais interativa, conectada e organizada. Mas é uma ferramenta, um canal expresso de comunicação, que traz mudanças no comportamento, no formato, na logística, no modus operandi: mais entrosamento entre distâncias, mais rapidez e eficiência nas ações. O Jornal Folha de São Paulo20 criou um espaço em seu portal na internet denominado País em Protesto, no qual se encontram matérias relacionadas à onda de protestos ocorrida em junho até manifestações ocorridas nos dias atuais. A princípio o motivo que levou a população às ruas foi o aumento das tarifas de ônibus, metrôs e trens. Tornou-se um dos maiores movimentos já ocorridos no Brasil. As manifestações tomaram maiores proporções. No Vale do Paraíba, Região Bragantina, Serra da Mantiqueira e Litoral Norte de São Paulo a população também saiu às ruas para exigir a redução

15

Os números do Facebook no Brasil. Disponível em <http://www.queroanunciarnofacebook.com.br/facebook/facebookbrasil.php> Acesso em 27 de maio de 2014. 16 Criação de uma página no Facebook através da análise segmento, do público-alvo ou identidade corporativa. 17 Criação de eventos privados ou abertos no Facebook. 18 Criação de posts nos quais se compartilha informações pessoais ou gerais. 19 Portal Observatório da Imprensa, edição 752: Sobre os recentes movimentos sociais urbanos no Brasil. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed752_sobre_os_recentes_movimentos_sociais_urbanos_no_bra sil> Acesso em 12 de maio de 2014. 20 Folha de São Paulo: País em protesto. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/especial/2013/paisemprotesto/> Acesso em 27 de maio de 2014.


19 nas tarifas de ônibus. Segundo o portal G121, cidades como São José dos Campos, Guaratinguetá, São Sebastião, Ubatuba, Caraguatatuba, Atibaia, Pindamonhangaba e outras se reuniram no dia 18 de junho de 2013 para reivindicar a redução. Mas as manifestações foram além e a população passou a reivindicar também por educação, saúde, segurança. Em uma democracia, os movimentos sociais podem em muito contribuir para minimizar a fragmentação da sociedade civil, assim como impulsionar a democracia participativa. [...] Isso acaba redundando em benefício da própria democracia, que será reforçada por uma maior proximidade com as esferas onde se adotam as decisões que afetam a todos os cidadãos. Trata-se de reforçar o paradigma da democracia participativa, de combinar adequadamente as instâncias de decisões locais com as globais. (GORCZEVSKI E BELLOSO, p.159, 2011).

Os movimentos sociais não mudaram sua principal função, mas a forma de fazer protesto e até mesmo de chamar o povo para lutar pelos seus direitos mudaram. Falta moradia, escola, saúde e segurança. A sociedade vai cobrar e os movimentos sociais serão os líderes. “O problema da relação existente entre as interdependências do sistema e a fragmentação social é particularmente agudo a nível global, não obstante existirem alguns movimentos e desenvolvimentos institucionais que apontam para soluções parciais.” (BURNS, 2006, p.34).

21

Portal G1: Protestos contra a tarifa reúnem manifestantes nas cidade do Vale. Disponível em http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/06/protestos-contra-tarifa-reune-manifestantes-nas-cidades-dovale.html> Acesso em 14 de maio de 2014.


20 CAPÍTULO 2 – TEORIAS DA ENUNCIAÇÃO E ANÁLISE DE DISCURSO DE LINHA FRANCESA

Este capítulo busca compreender, a partir dos postulados das teorias enunciativas e da análise de discurso de linha francesa, estudos que pertencem à área da linguística, as possíveis marcas de construção do discurso deixadas no texto escrito e transmitido pelos jornalistas do telejornal da Vanguarda. Entendendo que estas marcas permitem ao leitor ou ouvinte não só apreender o que disseram, mas também, o confronto das ideias que estão em jogo para construir sentido.

2.1. Teorias Enunciativas

Para as teorias da enunciação, o objeto (o discurso, materializado no texto) é tomado como enunciado. Dada à extensa dimensão que a definição desse termo exige, devido à diversidade de abordagens teóricas que trabalham com esse conceito, optou-se por esboçar uma descrição mais ampla nas apresentações das abordagens enunciativas. Acredita-se que é necessário, primeiramente, esboçar uma definição do que se entende por “teoria da enunciação”. Nas palavras de Flores e Teixeira (2005, p. 99), “o que caracteriza a linguística da enunciação é a abordagem do fenômeno enunciativo na linguagem desde um ponto de vista que considere o sujeito que enuncia”.

Se antes, em teorias que tratavam o texto, o sujeito não era visto como enunciador ou não se inseria na língua, passa agora a ser considerado. Assim, as teorias enunciativas constituem-se como um conjunto de estudos que veem a língua não como um sistema de regras, mas de uma perspectiva de um sujeito que se apropria da língua para constituir-se, para falar e para dialogar no mundo – a “presença do homem na língua”, do qual nos fala Benveniste (1991). O sujeito toma a língua para falar, insere-se nela para fazer sentido. Eis a contribuição da teoria da enunciação para os estudos da linguagem. Partindo de princípios semelhantes, cada teórico contribui de forma diferente na construção da teoria da enunciação, considerando diferentes maneiras de articular sujeito, enunciado e sentido. Por esse motivo, não se fala de uma única teoria da enunciação, marcada por apenas um autor que possui seguidores. Sobre esse aspecto, Flores e Teixeira afirmam que há, agrupados sob a designação “linguística da enunciação”, as várias “teorias da enunciação”, que abrigam os traços comuns às abordagens


21 enunciativas propostas por diferentes autores, como, por exemplo, Bally (1932), Benveniste (1989; 1991), Ducrot (1987), Bakhtin (1929), Authier-Revuz (1982).

No entanto, neste trabalho, alguns autores serão destacados, apresentando abordagens que possam contribuir com o nosso objeto de análise. Nesse sentido, acredita-se que seja necessário mostrar, inicialmente, a perspectiva de Benveniste (1989; 1991), por ser considerado o principal expoente da teoria da enunciação. Benveniste (1989; 1991) é considerado o fundador da enunciação como campo de estudo na linguagem. Sua abordagem da teoria da enunciação surge no momento histórico em que há o apogeu do estruturalismo, que, por considerar somente as leis internas dos sistemas linguísticos, não voltava sua atenção à subjetividade.

O autor, por sua vez, desenvolve uma teoria voltada à enunciação, em que há articulação entre sujeito e estrutura, tornando-se fundamental, na sua obra, a importância que o autor dá à questão da subjetividade, corroborada pela oposição entre as pessoas do discurso. É ao pensar sujeito e estrutura, que o autor acaba por discutir o homem na língua.

O teórico principia suas reflexões a partir da estrutura pronominal que todas as línguas possuem. Na categoria dos pronomes pessoais, o autor observa que em “eu/tu” está presente a noção de pessoa, mas em “ele” essa noção é abolida. Eu e tu podem não aparecer em um texto escrito, de divulgação científica, por exemplo, mas dificilmente não estarão presentes em um texto falado (BENVENISTE, 1989, p. 278), ou seja, podem aparecer como pronomes, mas não como categorias de pessoa. O par “eu/tu” faz parte da categoria de “pessoa”, já que pertencem ao nível pragmático da linguagem e são definidos durante o momento do discurso. Assim, “eu” e “tu” assumem caráter subjetivo à medida que o sujeito é produto de um jogo de intersubjetividade, o que possibilita a inversão do par “eu/tu”, num processo de apropriação da língua. Em outras palavras, “eu/tu” não remetem à realidade e nem a algo objetivo, uma vez que são signos vazios, os quais são realizados na instância do discurso.

Ligada a essa estrutura pronominal pessoal, está a noção de (inter) subjetividade, na qual o autor realiza uma distinção entre as duas primeiras pessoas (eu e tu) e a terceira (ele) com base em duas correlações: a de personalidade e a de subjetividade. A noção de (inter) subjetividade na


22 linguagem é elementar para a construção da abordagem de Benveniste. É a partir dessa noção que o autor propõe um nível de significado que engloba referência aos interlocutores e o modo como estes referem e correferem na atribuição de sentido às palavras.

O fenômeno da linguagem somente pode ser realizado mediante a apresentação do locutor como sujeito, o qual faz remissão a ele mesmo como “eu” e ao outro como “tu”, ou seja, “aquele que fala” e “aquele a quem se fala”, que se constituem como elementos indissociáveis, uma vez que o indivíduo só adquire existência através do “outro”. Por outro lado, “ele” pertence à categoria de nãopessoa, ao nível sintático da linguagem, já que pode representar uma infinidade de sujeitos ou nenhum, além de não se mostrar reflexivo da instância do discurso devido ao fato de que sua função é se combinar com uma referência objetiva independentemente da instância da elocução (BENVENISTE, 1991). Diante disso, é possível perceber que os pronomes “eu” e “tu” somente poderão ser identificados a partir da instância do discurso, e, portanto, estarão desprovidos de valor a não ser na instância em que são produzidos. Esses pronomes se referem à realidade do discurso (BENVENISTE, 1989, p. 278-9), pois o “eu” é único e só se manifesta no momento em que o interlocutor toma a palavra. O “eu”, portanto, só possui existência linguística no ato de proferir as palavras, ou seja, no momento em que essas são proferidas pelo indivíduo. Quanto ao pronome “ele”, se distancia dos outros dois pelo fato de se combinar com qualquer referência de objeto, não ser reflexivo, comportar um número extenso de variantes pronominais ou demonstrativas e não ser compatível com o paradigma dos termos referenciais (dêiticos).

Esses termos adquirem referência na instância do discurso e são situados em relação aos indicadores de pessoa. “Aqui”, “agora”, “meu”, por exemplo, são termos que só adquirem valor, sentido, ao serem produzidos juntamente com aquele que os fala, que os situa, ao mesmo tempo em que se situa, no discurso. Segundo o autor, “é essencial a relação entre o indicador (de pessoa, tempo, lugar, objeto mostrado) e a instância do discurso” (BENVENISTE, 1989, p. 280).

Ainda na perspectiva das teorias da enunciação, é pertinente trazer as contribuições desenvolvidas por Oswald Ducrot (1987), quanto à noção de locutor e enunciador. Segundo o autor,


23 pode haver, em um enunciado, um ou mais locutores e diferentes enunciadores, responsáveis por expressar diferentes pontos de vista. Em um primeiro momento da teoria ducrotiana, as vozes, os pontos de vista expressos pelos enunciadores, estavam ligados a diferentes atos de fala. Já na reformulação teórica, Ducrot apresenta o enunciador com base nas suas reflexões sobre a polifonia. Nesse sentido, “o locutor tem dois tipos de relação com os enunciadores que ele põe em cena em seu enunciado, e que são as origens dos pontos de vista expressos” (DUCROT e CAREL, 2008, p. 7). Para Ducrot (1987, p. 198), o locutor é dado como o responsável pela produção de um enunciado.

O enunciador é a expressão de diferentes pontos de vista, opostos ou não aos do locutor, manifestados no enunciado. Para Ducrot, o sujeito falante não é uno; ele não se assemelha ao sujeito empírico. Segundo o autor, há, no enunciado, a superposição de vozes diversas. Nas palavras de Cazarin (2002; pp. 18-19): Ao criticar a teoria da unicidade do sujeito da enunciação – um enunciado – um sujeito, Ducrot afirma que na referida perspectiva entende-se que há um ser único, autor do enunciado e responsável pelo que é dito no mesmo, tendo como principais propriedades: ser dotado de toda a atividade psicofisiológica necessária à produção do enunciado; ser autor e origem dos atos ilocutórios realizados na produção do enunciado; ser designado em um enunciado pelas marcas da 1ª pessoa (CAZARIN, 2002, pp. 18-19).

Dessa forma, o locutor assimila determinados pontos de vista dos enunciadores, através das marcas linguísticas, como o uso da conjunção “mas” e da negação. Além disso, percebem-se tais pontos de vista em enunciados irônicos, que dão margem a outras significações para um mesmo enunciado. O locutor, assim, identifica-se com um dos enunciadores de forma mais determinada, assimilando totalmente o ponto de vista do enunciador, ou ainda, de forma mais indeterminada, quando expressa seu enunciado de acordo com o que foi dito por um sujeito falante indeterminado, coletivo. 2.2. – Análise de Discurso de Linha Francesa

Na obra Introdução à Análise do Discurso, na qual a professora Dra. Helena H. Nagamine Brandão (1996) diz que: [...] o desafio a que a Análise do Discurso se propõe é o de realizar leituras críticas e reflexivas que não reduzam o discurso a análises de aspectos puramente linguísticos nem o dissolvam num trabalho histórico sobre a ideologia. Ela opera com o conceito de


24 ideologia que envolve o principio da contradição que está na base das relações de grupos sociais, cujas ideias entram em confronto, numa correlação de forças; considera também noções de interpretação-assujeitamento e de Aparelhos Ideológicos de Estado que governam, regulam essas relações. Ela busca não eliminar essas contradições, mas, ao contrário, fazê-las aflorar na materialidade linguística do discurso, apreendê-las nas formas de organização discursiva, possibilitando captar as relações de antagonismo, de aliança, de dissimulação, de absorção que se processam entre diferentes formações discursivas. (BRANDÃO, 1996, p.83).

É na possibilidade de sua análise que inscrevemos seu percurso analítico, em um recorte da cobertura jornalística do Jornal Vanguarda, sobre a temática dos protestos ocorridos em junho de 2013. Entende-se que o protesto é uma espécie de espelho que reflete a realidade. Acredita-se que seja uma voz da cidadania que não se cala diante do governo. Essas vozes, dos cidadãos, remetem à língua/fala, que é um objeto histórico relacionado inseparavelmente daqueles que as falam. As linguagens são utilizadas pelas pessoas para representarem seus pensamentos, sentimentos e emoções sobre o mundo, variando de acordo com grupos sociais de todos os tipos, classes e ideologias; e que toda fala (discurso) é politizada, ideológica e persuasiva.

Como uma das teorias para análise de textos da mídia e de suas ideologias, as pesquisas de Análise do Discurso (AD) foram consagradas pelo francês Michel Pêcheux com a publicação em 1969, do número 13 da revista Langages, intitulada A análise de discurso, e posteriormente por outros autores como Mangueneau (1998) em Analyse Automatique du Discours.

As correntes teóricas da AD foram marcadas pela Linguística e Psicanálise, e nos Estados Unidos pela Antropologia. Os pensadores franceses da AD se dividem em duas correntes teóricas. A primeira considerava O que o texto quer dizer; adotava uma posição tradicional da análise de conteúdo em face de um texto. A segunda corrente se importava com o Como o texto funcionava, a construção de um dispositivo teórico e não a simples decodificação. Este dispositivo teórico, Pêcheux chamou de Análise de Discurso, trabalhando com a opacidade do texto/materialidade da linguagem e verificando a presença do político, do simbólico, do ideológico e do próprio funcionamento da linguagem. A língua passa a ter significado na história. (ORLANDI, 2001).

Nas 10 matérias selecionadas foram considerados aspectos como a significação, a historicidade e os efeitos ideológicos nos discursos do telejornal. Para Eni Orlandi (2001, p.19), o objetivo da AD é explicitar como um texto produz sentido, como ele funciona. Passa-se da noção de “função” para a de


25 “funcionamento”. A autora parte do pressuposto de que não há sentido sem interpretação; que a interpretação está presente em dois níveis: o de quem fala e o de quem analisa. E que a finalidade do analista de discurso não é interpretar, mas compreender como um texto funciona e como ele produz sentidos.

Helena Brandão (2004) confirma que entre a língua e a fala: há um espaço ideológico. Assim, o estudo da linguagem não foca apenas a língua, mas situa-se fora dela, na instância conhecida como “discurso”, que pressupõe interação e um modo de produção social não neutro, nem inocente e nem natural. Brandão (2004) expõe que é na língua onde se realizam os efeitos de sentido e que a Formação Ideológica (FI) e a Formação Discursiva (FD) formam a base da AD.

Falar-se-á de formação ideológica para caracterizar um elemento susceptível de intervir como uma força confrontada com outras forças na conjuntura ideológica característica de uma formação social em um momento dado; cada formação ideológica constitui assim um conjunto complexo de atitudes e de representações que não são nem “individuais” nem “universais”, mas se relacionam mais ou menos diretamente a posições de classe em conflito umas em relação às outras. (BRANDÃO, 2004, p.47).

Para Pêcheux, na FD há um sujeito universal que garante “o que cada um conhece, pode ver ou compreender” e que determina “o que pode ser dito”. Não só fornece, mas impõe a realidade. Uma FD é heterogênea a ela própria: não há um limite traçado entre exterior e interior, mas sim uma fronteira que se desloca em função de embates da luta ideológica. (COURTINE e MARANDIN apud BRANDÃO, 2004, p.49-50). Embora uma FD determine a seus falantes “o que deve e pode ser dito” os efeitos das contradições ideológicas de classe são recuperáveis no interior do conjunto de discursos. Cabe à AD trabalhar o discurso, inscrevendo-o na relação da língua com a história, buscando na materialidade linguística as marcas das contradições ideológicas. (BRANDÃO, 2004, p.50)

Como a Brandão diz, a língua também deixa entrever marcas da ideologia que se processa. Logo, não pode desconsiderar o texto.


26 A opção por AD, neste trabalho, justifica-se pela necessidade de compreender como e quais aspectos dos protestos foram mostrados no Jornal Vanguarda, com quais efeitos de sentidos e as formas com que as fontes apareceram nas reportagens, já que é o único telejornal regional existente na região do Vale do Paraíba, Bragantina e Serra da Mantiqueira.

Se as palavras são sempre uma operação de pensamento, elas podem ser instrumento de manipulação, bem como de libertação. Dessa forma, a AD considera que a linguagem não é neutra nem transparente e que o homem é “sujeito” influenciado pela língua e pela história, constituindo uma relação simbólica.

A AD não vai ao texto para extrair o sentido, mas para apreender a sua historicidade, no qual o analista do discurso coloca-se no interior da relação de confronto de sentidos. A AD busca compreender como um objeto simbólico produz sentidos, “[...] como ele está investido de significância para e por sujeitos”. Implica ainda explicitar, por exemplo, como um texto se organiza, quais são os elementos que despontam gestos de interpretação, que relacionam sujeito e sentido (ORLANDI, 2010, p.26-27).

Em Discurso das Mídias, Charaudeau (2010), diz que o acontecimento é sempre constituído. Em um processo jornalístico, o repórter passa pela construção de sentido de um sujeito de enunciação – ele mesmo – que constituiu o “mundo comentado”, dirigido a outro do qual exige, ao mesmo tempo, a identidade e a diferença. “O acontecimento se encontra nesse “mundo a comentar” como surgimento de uma fenomenalidade que se impõe ao sujeito, em estado bruto, antes de sua captura perceptiva e interpretativa.” O jornalista sempre tem na mente, mesmo que de modo internalizado ou intuitivo, o seu público leitor.

Na Relação de Forças, levam-se em consideração o local, o cenário e o contexto de onde a pessoa fala. Por exemplo, “se o sujeito fala a partir do lugar de professor, suas palavras significam de modo diferente do que se falasse do lugar do aluno”. (ORLANDI, 2010, p.39). As hierarquias sociais estão presentes nas sociedades e exercem relações de força.


27 Orlandi aponta que na formação discursiva é importante entender os diferentes sentidos das palavras, já que há termos iguais com significados diferentes. Ela exemplifica a palavra “terra” que para o índio tem um significado, para o agricultor outro, e para um agricultor sem terra, ainda outro. (ORLANDI, 2010, p.45).

Na AD há também o dito e o não dito. A partir dos pensamentos de Ducrot, Orlandi (2010, p.82; GOMES, 2012, p.156) mostra a diferença em duas formas de não dizer: “pressuposto” como aquilo que não é dito, mas que se origina da própria linguagem, e o “subentendido” como aquilo que se observa a partir de um determinado contexto. Mas Orlandi confirma que há outras maneiras de analisar o não dito, a partir do conceito de silêncio. O silêncio constitutivo entende que uma “palavra apaga outras palavras”, ou seja, se constar “sem medo” anula a ideia de “com coragem”. Já o silêncio local está vinculado à censura. “Numa ditadura não se diz a palavra ditadura não porque não se saiba, mas porque não se pode dizê-lo”. (ORLANDI, 2010, p.83).

Notou-se a possibilidade de aprofundar um pouco mais neste estudo a temática do silêncio, que segundo a autora Orlandi (1997), “há um sentido no silêncio” e que é como se fosse “a respiração (o fôlego) da significação, um lugar de recuo necessário para que se possa significar, para que o sentido faça sentido”.

Em seu livro a respeito deste assunto, As Formas do Silêncio no Movimento dos Sentidos (1997), a autora diz que é importante compreender que: 1. [...] há no modo de estar em silêncio que corresponde a um modo de estar no sentido e, de certa maneira, as palavras transpiram silêncio. Há silêncio nas palavras; 2. o estudo do silenciamento (que já não é silêncio mas “pôr em silêncio”) nos mostra que há um processo de produção de sentidos silenciados que nos faz entender uma dimensão do não-dito absolutamente distinta da que se tem estudado sob a rubrica do “implícito”. (ORLANDI, 1997, pg.11).

Orlandi afirma que “todo dizer é uma relação fundamental com o não dizer” e que o “silêncio que atravessa as palavras, que existe entre elas, ou indica que o sentido pode sempre ser outro, ou ainda que aquilo que é o mais importante nunca se diz, todos esses modos de existir do sentido e do


28 silêncio nos levam a colocar que o silêncio é fundante”. As palavras, segundo a autora, “são cheias de sentido a não se dizer e, além disso, colocamos no silêncio muitas delas”.

A autora diz que a língua é a base comum para todos os processos de discursos, por isso a necessidade de se manter a noção da língua como estrutura indispensável para se pensar os processos discursivos. (ORLANDI, 1997, pg.19).

Para Orlandi, a relação silêncio/linguagem é complexa. Ela diz que o silêncio não é mero complemento de linguagem, ele tem uma significância própria, tem seu caráter necessário. Ela explica que o silêncio fundador não quer dizer “originário”, nem independente. O silêncio significa garantia do movimento de sentidos. É a possibilidade para o sujeito trabalhar sua contradição constitutiva, a que o situa na relação do “um” com o “múltiplo”, a que aceita a reduplicação e o deslocamento que nos deixam ver que todo discurso sempre se remete a outro que lhe dá realidade significativa. Para tanto, ela distingue entre: a) o silêncio fundador, aquele que existe nas palavras, que significa o não-dito e que dá espaço de recuo significante, produzindo as condições para significar e b) a política do silêncio que se subdivide em b1) silêncio constitutivo, o que nos indica que para dizer é preciso não-dizer (uma palavra apaga necessariamente as “outras” palavras” e b2) o silêncio local, que refere à censura propriamente (aquilo que é proibido dizer em uma certa conjuntura). Isso tudo nos faz compreender que estar no sentido com palavras e estar no sentido em silencio são modos absolutamente diferentes entre si. E isto faz parte da nossa forma de significar, de nos relacionarmos com o mundo, com as coisas e com as pessoas. (ORLANDI, 1997, pg. 23).

Retomando então, conceitos enunciativos e de discurso, quem fala ocupa diferentes funções. “Locutor é aquele que se representa como eu no discurso. Enunciador é a perspectiva que esse eu constrói. Autor é a função social que esse eu assume enquanto produtor da linguagem”. (BRANDÃO, 2004, p.84-85). Neste sentido, o enunciador “é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar. O locutor é aquele que fala e que pode ser claramente identificado como o responsável ao menos imediatamente  pelo enunciado”. (DUCROT apud MACHADO e JACKS, 2001, p.07).


29 Orlandi confirma que o texto é a unidade que o analista tem diante de si e da qual ele parte para verificar o discurso (ORLANDI, 2010, p.63). Nos veículos de comunicação este discurso está presente na informação jornalística, no dado, no fato, na declaração, no fenômeno apreendido em sua singularidade. (MACHADO; JACKS, 2001, p.01). “O jornalismo é uma narração do real mediada por sujeitos (no exercício de suas subjetividades) e que as escolhas se dão da pauta à edição, passando pela apuração, pela seleção das fontes e pela hierarquização das informações”. (GUIMARÃES apud BENETTI e JACKS, 2014). A atividade jornalística é realizada através de sujeitos cuja vivênvia se mistura com a informação. E finalizando o arcabouço teórico escolhido, ainda selecionamos, para melhor desenvolvimento do trabalho, quatro gêneros de telejornais os quais serão utilizados (REZEND apud KOSMINSKY, 2003): Nota Simples – é o relato mais simples e sintético de um fato. Em telejornalismo, compreende uma narração ao vivo, do apresentador ou âncora em estúdio, à qual se seguem imagens. Embora Rezende considere os indicadores econômicos como um gênero à parte, por constituírem-se num conjunto de informações que segue um modelo mais ou menos uniforme de representação, optou-se por incluí-los no grupo das notas simples, na medida em que não sendo seguidos por imagens ou notas cobertas, podem se fazer acompanhar por uma tela gráfica com números, por exemplo. Nota Coberta – é ainda um formato de apresentação sintético, mas neste caso, após a leitura ao vivo ao apresentador, seguem-se informações com leitura em off. Reportagem – é o formato jornalístico de estrutura mais complexa e que oferece um relato mais completo de um acontecimento. O seu primeiro momento é formado pela cabeça, que é lida ao vivo pelo apresentador ou âncora, introduzindo a matéria que será apresentada. Em seguida exibe-se a reportagem propriamente dita, que aparece no espelho como VT, abreviatura de videoteipe. A reportagem, que é narrada pelo repórter, pode apresentar um texto criado em parceria com o editor responsável pela matéria. O repórter geralmente aparece em uma gravação, em primeiro plano, realizada no local onde o acontecimento se desenrola. Esta gravação, feita para ser usada em algum momento da matéria, é chamada de passagem do repórter. A reportagem pode contar com entrevistas ou trechos de entrevistas, que, por sua vez, são tratados como sonora do(s) entrevistado(s) ou simplesmente sonora(s). Finalmente, a reportagem pode ser encerrada com uma nota pé – uma pequena nota lida ao vivo pelo apresentados e que traz alguma informação complementar ou que não estava disponível no momento de fechamento da matéria. Pode ser usado como um recurso para chamar a atenção sobre alguma parte da reportagem, ou alguma possível continuidade do assunto tratado. Ao vivo – trata-se de uma reportagem que, como o nome já diz, é realizada ao vivo, sem gravação prévia. É sempre antecedida por uma cabeça ao vivo do apresentador ou âncora, que “chama” o repórter. Eventualmente, o vivo pode ser seguido por um VT previamente gravado ou uma entrevista ao vivo.


30

CAPÍTULO 3 - OBJETOS E ANÁLISE DOS OBJETOS Para realização da análise construiu-se um quadro de parâmetros analíticos. As 10 matérias selecionadas serão analisadas segundo o quadro que se segue. Buscou-se evidenciar elementos teóricos que possibilitem depreender do material textual como o sujeito se inseriu no texto e como este sujeito está assujeitado às formações discursivas (daquilo que pode ser dito, onde se encontra) e de que maneira a polifonia, que quebra a homogeneização do discurso é estabelecida. E, dessa forma, ter a percepção da construção do sentido. 3.1. – Quadro analítico

Quadro 2: Modelo de Quadro Analítico CATEGORIA ANALÍTICA (parâmetro de

OBJETO (identificação de ordem e

análise que contemple o escopo teórico)

data)

TÍTULO (a importância e relevância dada ao

A seleção lexical e factual evidenciada

fato) GÊNERO TELEJORNALÍSTICO (o que se

Classificação que aponta possibilidade

permite na estrutura)

de conteúdo.

Locutor (aquele que se representa como Análise dos pronomes, de toda rede de eu no discurso) /Autor (função social palavras que institui aquele que fala; e que esse eu assume)

de qual lugar fala, dando lhe autoridade. (advérbios de tempo/lugar; uso ou não de adjetivos etc.).

ENUNCIADOR (perspectiva que o eu constrói)

Polifonia, intersubjetividade, as vozes que dialogam.

INFORMAÇÃO (dados selecionados)

Sequência de fatos, ou a ausência destes.

COMO INFORMOU (como apresenta os fatos,

Há explicitude ou implicitude; uso de

confronto ideológico).

marcas de contradições. Vazio deixa no vácuo as falas de terceiros. Pressuposto e subentendido.

Fonte: Autora do trabalho

Segue-se, a transcrição de cada matéria telejornalística e procede-se a análise segundo o quadro apresentado, do objeto 1 ao 10.


31 3.2. – Objetos e Análises Objeto 01: 17 de junho Protestos em Pindamonhangaba (SP) param o trânsito na região central Carlos Abranches (apresentador) Em tempos de protesto pelo aumento da passagem de ônibus, Ilhabela anunciou uma redução na tarifa de ônibus da cidade. A passagem de dois reais e noventa centavos vai custar dois e oitenta centavos já a partir da próxima quarta-feira, dia 19. Segundo a prefeitura, a redução de R$ 0,10 leva em conta a medida provisória do governo federal que zerou alguns impostos que incidem sobre a tarifa do transporte coletivo. Michele Sampaio (apresentadora) É, e depois das capitais do país, esses protestos se espalharam também pelo interior. Em Pindamonhangaba, um ato reuniu cerca de 200 pessoas hoje. A maioria estudantes de escolas da cidade. Michele Sampaio (Off) Eles levaram nariz de palhaço e nos cartazes frases de música e do hino nacional. A polícia militar ficou de longe, só observando e precisou monitorar o trânsito que acabou prejudicado. Da praça central, os manifestantes seguiram para a prefeitura e lá fizeram um minuto de silêncio contra a violência e a corrupção. Alguns manifestantes chegaram a chutar um carro. Michele Sampaio (apresentadora) O protesto durou cerca de uma hora e segundo os manifestantes foi também em repúdio ao governador Geraldo Alckmin, que nasceu na cidade. Quadro 3 – Quadro analítico: Objeto 01- Protestos em Pindamonhangaba (SP) para o trânsito na região central CATEGORIA ANALÍTICA OBJETO 1 – 17/06/2013 O destaque do título se dá em quê, onde e efeito; Título Protesto/Pindamonhangaba/Para Trânsito – Se o protesto para o trânsito, tenho como pressuposto que protesto incomoda, e o que incomoda não é bom, então minha disponibilidade frente ao fato, a princípio, já não é favorável. Nota Coberta. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é o locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu apresenta e autor que ocupa o lugar social


32 assume)

de âncora deste telejornal. Situa sua fala no tempo histórico: “Em tempos de protesto...”, que nos remete aos tempos que o contrapõe (que não são) ou nos aproxima de outro análogo a este. 2. Michele Sampaio é também locutora, outro eu que se instala no discurso, que tem como papel social ser colaboradora do âncora, hierarquicamente se coloca em um tempo “Depois...”, também no espaço, “depois das capitais do país, esses protestos se espalharam pelo interior”. 3. Michele Sampaio é autora, assume o papel de repórter, fazendo uma apresentação em off do ocorrido.

Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. Ilhabela anunciou [...], segundo a prefeitura [...], a voz do governo local que permite o Locutor dizer o que diz. 2. A perspectiva ideológica encontra-se na escolha do vocábulo “espalharam”, que como definição básica: é separar das palhas (os grãos dos cereais). Lançar para diferentes lados. Transmitir doenças, e de forma conotativa, portanto subentendida, disseminar ideias, fomentar comportamentos semelhantes. A escolha entre tantas possibilidades é ideológica, é do sujeito, que diz pelo não-dito. 3. Neste trecho, a perspectiva ideológica se instala na narrativa. “Eles levaram nariz de palhaço e nos cartazes frases de música e do hino nacional. A polícia militar ficou de longe, só observando e precisou monitorar o trânsito que acabou prejudicado. Da praça central, os manifestantes seguiram para a prefeitura e lá fizeram um minuto de silêncio contra a violência e a corrupção. Alguns manifestantes chegaram a chutar um carro.”


33 Informação

1. Redução da tarifa de ônibus da cidade. 2. Os protestos acontecem também nas cidades, como em Pindamonhangaba. A maioria é estudantes. 3. Os protestantes utilizaram nariz de palhaço e cartazes com frases de música e do hino nacional. O trânsito foi prejudicado, mas havia monitoramento policial. Os manifestantes fizeram um minuto de silêncio em frente à prefeitura e chutaram um carro.

Como informou

1. Corroborando com a voz de autoridade (prefeitura), a redução se dá por MP do governo federal que zerou impostos que incidem sobre a tarifa do transporte coletivo. Não está dito que a pressão popular, que grupos vândalos surgem ao mesmo tempo, que o calendário da copa entre outros pontos são fundantes para tomada da decisão. 2. Não há voz dos estudantes, sabemos que são das escolas da cidade, não há maiores informações sobre os mesmos, a incompletude permite não dar muita importância, pois são só estudantes que não têm nada importante para fazer. 3. ao 5. Com a narração dos fatos através de sua perspectiva como locutora, que representa o eu no discurso. Não há voz dos manifestantes e nem da Polícia Militar.

Objeto 2: 18 de junho Manifestação percorre ruas de São José dos Campos (SP) Carlos Abranches (apresentador) A onda de protestos que se espalhou pelo país ganhou reforço hoje em algumas cidades da região.


34 Michele Sampaio (apresentadora) Em São José dos Campos, manifestantes se reuniram no centro cidade. O repórter André Luís Rosa que acompanha já essa manifestação ao vivo, tem as informações pra gente. Olá André, boa noite pra você. André Luís Rosa (repórter) Oi Michele, boa noite. Boa noite a todos. A manifestação em São José dos Campos, bem diferente daquela que a gente acompanhou durante toda programação em São Paulo, foi muito tranquila. Segundo a Guarda Municipal de São José, cerca de 200 manifestantes se reuniram aqui na Praça Afonso Pena, por volta das 5 horas da tarde. Daqui da Praça Afonso Pena, eles seguiram até a rodoviária velha, aqui em São José dos Campos, fica a cerca de 600 metros daqui do ponto onde eu estou e o trânsito ficou bastante complicado aqui por causa da movimentação dos manifestantes aqui pela Rua 15 de novembro. Da rodoviária, eles seguiram pela Avenida São José, retornaram pela Rua Francisco Paz. Como eu disse, foi bem tranquila a manifestação, não houve tumulto algum. Agora o problema maior quem enfrentou foi o motorista aqui na Rua 15 de novembro na hora em que os manifestantes interromperam o trânsito com a Rua Francisco Paz, muita gente acabou voltando na contra mão. Os manifestantes aqui de São José dos Campos reclamam, basicamente, da tarifas de ônibus aqui na cidade que em fevereiro subiu de R$ 2,80 para R$ 3,30. Agora em junho a prefeitura anunciou a redução de R$ 0,10 pra R$ 3,20 por causa do anúncio do Governo Federal, da desoneração do PIS e do COFINS que as empresas de ônibus têm que pagar. Então, a passagem em São José hoje custa R$ 3,20 durante a semana e R$ 2,70 aos domingos. Os manifestantes querem que esse valor da passagem de R$ 3,30 volte pelo menos ao valor antigo que era R$ 2,80. A prefeitura de São José não se pronunciou sobre essa manifestação de hoje. Agora, esse protesto, dessa terça-feira, aqui na cidade, na verdade foi uma preparação para um protesto maior que deve ser realizado na próxima quinta-feira. Veja na reportagem de Karen Schmidt. Karen Schmidt (repórter) Os estudantes foram chegando aos poucos, trazendo cartazes e chamando os moradores para o protesto. Victor Natel (estudante) Todo mundo tá lutando por um país melhor. A gente quer o melhor para o nosso povo, não é só porque eu não ando de ônibus que eu não vou poder ajudar outra pessoa que anda. E é isso, a gente está aqui pra lutar pelos nossos direitos. Karen Schmidt (repórter) O principal motivo do protesto é o valor da passagem de ônibus da cidade que é R$ 3,20, mas quem veio até aqui tem muito mais o que reivindicar. Gastos com a copa, corrupção, entraram na lista de reclamações.


35 Jean de Abreu (estudante) Gosto de futebol, gosto de Copa do Mundo, mas se for pra ficar desse jeito, obrigado. Não quero não. Me dá educação, me dá escola, me dá hospital, certo? É o que eu quero, prefiro. Entrevistado Vamos reivindicar melhoria, vamos reivindicar na paz. Vamos mostrar para eles que o Brasil exige uma tolerância contra a corrupção. Acabou a corrupção. Karen Schmidt (repórter) Dona Adélia, aos 51 anos, também resolveu sair às ruas. Dona Adélia (entrevistada) Enquanto não pôr um fim nessa corrupção tem que ir pra rua. Nós devemos muito a juventude. Karen Schmidt (repórter) O apoio dos motoristas veio em forma de buzinaço. A polícia apenas acompanhou a manifestação. Cap. Marcelo de Oliveira Garcia (Policial Militar) Estamos vendo aqui um movimento pacífico, ordeiro, garantindo aí a segurança de todos os participantes. Sem problema nenhum até agora. Quadro 4 – Quadro analítico: Objeto 02 - Manifestação percorre ruas de São José dos Campos (SP) CATEGORIA ANALÍTICA OBJETO 2 – 18/06/2013 O destaque do título se dá em quê, como e onde: Título Manifestação/Percorre/São José dos Campos. Ao vivo. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é o autor que ocupa o discurso) /Autor (função social que esse eu lugar social de âncora deste telejornal. assume) Situa sua fala no espaço e no tempo histórico: “A onda de protestos que se espalhou pelo país ganhou reforço hoje em algumas cidades da região”, que nos remete ao assunto e ao hoje. 2. Michele Sampaio é locutora, o eu que se instala no discurso, que tem como papel social ser colaboradora do âncora. Hierarquicamente coloca um local “Em São José dos Campos, manifestantes se reuniram no centro da cidade...”, também no espaço, ao mencionar que havia um


36

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

repórter no local para dar mais informações. Oferecendo em implícito a legitimidade dos fatos, pois há alguém no local aferindo os fatos. André Luís Rosa é locutor, representa o eu no discurso e situa sua fala no espaço. “A manifestação em São José dos Campos, bem diferente daquela que a gente acompanhou durante toda programação em São Paulo, foi muito tranquila.”. Também é autor, pois assume o papel de repórter. Opina saindo do informativo, a manifestação daqui “São José” mais tranquila que “lá” São Paulo, (melhor? Mais civilizada? melhor organizada? ou melhor controlada? Fica no ar); também se coloca junto com o tu, somos um , tanto é verdade que “a gente acompanhou”. Karen Schmidt é autora, assume o papel de repórter, fazendo uma apresentação em off do ocorrido durante o dia. Victor Natel é autor, assume a função social de cidadão e situa sua fala no espaço “país” e no personagem “a gente’. Jean de Abreu também é autor e assume a função social de cidadão. Situa sua fala no espaço (ambiente social e psicológico) “futebol”, “Copa do Mundo”, “educação”, “escola”, “hospital”. O entrevistado não identificado assume a função social de cidadão, por isso ele é autor. Situa sua fala no personagem “nós” fazendo uso do “vamos”. Dona Adélia é autora e assume a função social de cidadã. Situa sua fala no espaço (ambiente social e psicológico) “corrupção. Marcelo de Oliveira Garcia é autor e assume a função social de Policial. Situa sua fala no espaço “aqui”.


37 Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. A perspectiva ideológica encontra-se na escolha do verbo “espalhou”, que de forma conotativa, portanto subentendida, quer dizer disseminar ideais, o dito pelo não dito. 2. Corrobora com a ideia do 1 na escolha do vocábulo “reuniram” que quer dizer tornar a unir o que estava esparso ou separado; juntar, ligar, justapor, agrupar. 3. O ideológico neste trecho é controverso. Hora diz da manifestação que foi tranquila “... bem diferente daquela que a gente acompanhou durante toda programação em São Paulo, foi muito tranquila” e em outra que o transito foi prejudicado. “[...] o trânsito ficou bastante complicado aqui por causa da movimentação dos manifestantes” e depois afirma novamente “[...] foi muito tranquila, não houve tumulto algum.” Percebe-se a voz de autoridades locais que permitem ao locutor dizer o que diz. “Segundo a Guarda Municipal de São José...”, “... a prefeitura anunciou”. 4. Neste fragmento da matéria a perspectiva ideológica se faz no uso do verbo “reivindicar” que de forma conotativa (subentendida) que dizer lutar por algo que se perdeu, o dito pelo não dito. 5. A perspectiva ideológica se faz no uso da palavra melhor. Se ele está lutando por um país melhor é porque o país não está tão bom quanto poderia. 6. Neste trecho a ideologia está no “mas” e no “quero”. Ele gosta de futebol e Copa do Mundo, mas prefere e quer educação, escola e hospital. Há um descompasso entre a prioridade do governo e da dele. 7. A ideologia se encontra no uso da palavra “vamos” repetidas vezes, dando a impressão de que ele não está sozinho ou


38 que a voz dele a da massa ganhando força de legitimidade. 8. A perspectiva ideológica se dá no uso da palavra “nessa”, quando fala a respeito da corrupção, dando a entender que todos já sabem que ela acontece. 9. Neste fragmento a ideologia se dá no uso do verbo “vendo”. O policial observa o movimento. Informação

1.

Onda de protestos que se espalhou pelo país ganha reforço em algumas cidades da região. 2. Manifestantes se reuniram em centro de São José dos Campos. 3. Cerca de 200 manifestantes se reuniram na Praça Afonso Pena, por volta das 5 horas da tarde. Depois seguiram até a rodoviária velha. O trânsito ficou complicado por conta da movimentação dos manifestantes na Rua 15 de Novembro. Da rodoviária seguiram pela Avenida São José e retornaram pela Rua Francisco Paz. O problema maior quem enfrentou foi o motorista na Rua 15 de Novembro na hora em que os manifestantes interromperam o trânsito com a Rua Francisco Paz. Muito voltaram na contra mão. Os manifestantes reclamavam, basicamente, da tarifa de ônibus que em fevereiro subiram de R$ 2,80 para R$ 3,30. Em junho a prefeitura anunciou a redução de R$ 0,10 para R$ 3,20, por causa do anuncio do Governo Federal, da desoneração do PIS e do COFINS que as empresas de ônibus têm que pagar. A passagem de São José custa R$ 3,20 durante a semana e R$ 2,70 aos domingos. Os manifestantes querem que o valor da passagem volte ao valor antigo de R$ 2,80. A prefeitura de São José não se pronunciou sobre a manifestação de


39

4.

5. 6. 7.

8. 9.

Como informou

hoje que na verdade foi uma preparação para um protesto maior que deve ser realizado na próxima quinta-feira. Estudantes foram chegando ao pouco, trazendo cartazes e chamando os moradores para o protesto. O principal motivo é o valor da passagem de ônibus da cidade que é R$ 3,20, mas quem foi até lá queria muito mais do que reivindicar. Gastos com a copa, corrupção, entraram na lista de reclamações. Todos estão lutando por um país melhor. Quero educação, escola e hospital. Vamos reivindicar melhoria, na paz e mostrar para eles (governo) que o Brasil exige uma tolerância contra a corrupção. Enquanto a corrupção não tiver um fim, tem que ir pra rua. O movimento é pacífico, ordeiro. Sem problema nenhum até agora.

1. Dizendo que os protestos se espalharam e chegaram também na região. 2. Utilizando-se do espaço. 3. Corroborando com a Guarda Municipal e a prefeitura. Não há voz dos manifestantes, não sabemos se são estudantes, não há maiores informações sobre os mesmos. 4. Diz que o calendário da copa e a corrupção são pontos fundantes para tomada da decisão. Há voz de estudantes que corroboram com a fala dela. 5. Dizendo seus motivos para participar das manifestações. 6. Relatando aquilo que o incomoda no governo. 7. Não somos baderneiros, somos aqueles que buscam melhoria de forma pacífica (na paz). 8. Dizendo sua opinião sobre a corrupção.


40 9. Relatando o que via no momento.

Objeto 3: 18 de junho Em meio a protestos, cidades da região anunciam queda nas tarifas dos ônibus Carlos Abranches (apresentador) Em meio a todas essas manifestações, mais duas cidades da região anunciaram redução na tarifa do transporte. Em Guaratinguetá a passagem vai ficar R$ 0,11 mais barata. R$ 2,95 para R$ 2,84 e começa a valer no dia 18 de julho. Em São Sebastião 13 linhas vão ficar mais baratas a partir da próxima segunda-feira. A passagem do trecho de maior movimento que hoje custa R$ 3,05 vai cair para R$ 2,95. Outra cidade do litoral que também reduziu a tarifa foi Ilhabela e o novo valor já começa a valer a partir de amanhã. Caiu de R$ 2,90 para R$ 2,80. Em São José os moradores já estão pagando mais barato. A passagem caiu de R$ 3,30 para R$ 3,20. Já Caçapava foi na contramão. Mesmo com a redução dos impostos, as tarifas ficaram mais caras. O preço subiu de R$ 2,80 para R$ 3,00. Quadro 5 – Quadro analítico: Objeto 03 - Em meio a protestos, cidades da região anunciam queda nas tarifas dos ônibus CATEGORIA ANALÍTICA OBJETO 3 – 18/06/2013 O destaque do título está em quê, onde e efeito. Título Protestos/cidades da região/anunciam queda nas tarifas e ônibus. Nota simples. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu apresenta e autor que ocupa o lugar social assume) de âncora deste telejornal. Situa sua fala no tempo histórico: “Em meio a todas essas manifestações...”. Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. “Guaratinguetá [...], São Sebastião [...], Ilhabela [...], São José [...], anunciaram queda nas tarifas de ônibus e Caçapava anunciou aumento”. A voz das cidades permite ao locutor dizer o que diz.

Informação

1. Mais duas cidades anunciaram redução na tarifa do transporte. Em Guaratinguetá vai e R$ 2,95 para R$ 2,84 e começa a valer no dia 18 de julho. Em São Sebastião 13 linhas vão ficar mais baratas a partir da próxima segunda-feira. A passagem do


41 trecho de maior movimento que hoje custa R$ 3,05 vai cair para R$ 2,95. Ilhabela também reduziu a tarifa e o novo valor começa a valer a partir de amanhã. Caiu de R$ 2,90 para R$ 2,80. Em São José os moradores já pagam mais barato. A passagem caiu de R$ 3,30 para R$ 3,20. Caçapava foi na contramão e o preço subiu de R$ 2,80 para R$ 3,00. Como informou

1. Corroborando com a voz de autoridade (cidades). Informa e maneira subjetiva que as reduções aconteceram por conta das manifestações.

Objeto 4: 18 de junho Protesto reúne milhares de manifestantes em São Sebastião (SP) Carlos Abranches (apresentador) Vamos voltar a falar a respeito das manifestações pelas cidades da região. Em São Sebastião, manifestantes estão reunidos na Rua da Praia e é lá que está a repórter Natália Teodoro. Vamos falar com ela pela internet, via mochilink. Natália Teodoro (repórter) Boa noite, Abranches. Segundo a Polícia Militar, cerca de 2 mil pessoas estão reunidas nesse momento aqui na Praça Matriz, de São Sebastião. Eles começaram a se reunir aqui no Centro da cidade antes das seis da tarde. Depois disso seguiram em passeata pelas principais ruas do Centro de São Sebastião. Passaram em frente a orla e voltaram pra cá. Agora estão reunidos em frente a Câmara Municipal da cidade, com faixas e cartazes, estão reivindicando. Eu conversei com a liderança desse manifesto. Eles disseram que a ação não é apenas contra o valor da passagem de ônibus. Eles pedem saúde, educação, são contrários a corrupção e também contra a PEC 37 que tira do ministério público o poder de conduzir investigações criminais. Eu também conversei com o comandante da Polícia Militar que está comandando essa ação. Ele disse que houve uma reunião prévia entre em que os líderes passaram o trajeto do manifesto e que também vão garantir, vão trabalhar pra garantir a segurança dos manifestantes e também de toda população.


42 Quadro 6 – Quadro analítico: Objeto 04 - Protesto reúne milhares de manifestantes em São Sebastião (SP) CATEGORIA ANALÍTICA OBJETO 4 – 18/06/2013 O destaque do título se dá em quê, efeito e onde. Título Protesto/reúne milhares de manifestantes/São Sebastião. Ao vivo. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu instala no discurso e autor que ocupa o assume) lugar social de âncora do telejornal. Situa sua fala no enredo: “Vamos voltar a falar a respeito das manifestações...” e no espaço: “Em São Sebastião...”. 2. Natália Teodoro é também locutora, outro eu que se instala no discurso. Sua fala se situa na voz da autoridade (Polícia Militar) e nos responsáveis pelo movimento. Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. A perspectiva ideológica se dá n ideia de continuísmo, mais uma manifestação aconteceu na região. 2. Neste trecho a perspectiva ideológica se dá na voz da autoridade que permite a locutora dizer o que diz. “Segundo a Polícia Militar...”, “Eu conversei com a liderança desse movimento, eles disseram...” e “Eu também conversei com o comandante da Polícia Militar que está comandando essa ação. Ele disse...”.

Informação

1. Manifestantes se reúnem na Rua da Praia, em São Sebastião. 2. Duas mil pessoas se reuniram na Praça Matriz. Eles começaram a se reunir no Centro da cidade antes das seis da tarde. Depois seguiram em passeata pelas principais ruas o Centro de São Sebastião, passaram na frente da Câmara Municipal, com faixas e cartazes reivindicando não apenas contra o valor da passagem de ônibus, mas também pela saúde,


43 educação, são contrários a corrupção e também contra a PEC 37 que tira do ministério público o poder de conduzir investigações criminais. Houve uma reunião prévia entre os lideres do manifesto e a Polícia Militar, na qual os líderes passaram o trajeto do manifesto. Como informou

1. Através do enredo. 2. Corroborando com a voz da autoridade (Polícia Militar) e também com a da liderança do movimento.

Objeto 05: 19 de junho Cidades do Vale do Paraíba e região bragantina mobilizam em protestos Carlos Abranches (apresentador) O desejo de mudança e a insatisfação com os governos mobilizam muita gente no Brasil e por aqui não é diferente, Michele. Michele Sampaio (apresentadora) É, moradores da região foram às ruas pedir, entre outras coisas, a redução no preço das tarifas de ônibus. Michele Sampaio (repórter) Em São José dos Campos 120 pessoas percorreram algumas ruas do centro da cidade ontem. A manifestação foi convocada por centrais sindicais e um partido político, mas os jovens mandaram um recado aos políticos. Manifestantes Nenhum bandido me representa. Nenhum bandido me representa. Michele Sampaio (repórter) Em Atibaia a concentração foi na praça da igreja Matriz. De acordo com a PM, mais de 700 pessoas participaram. Sérgio Pedroso (eletricista) Há muitos anos que o Brasil precisa de um movimento como esse. A gente tá cansado de opressão, de falsas promessas, de um continuísmo. E o povo precisa ser mais valorizado.


44 Michele Sampaio (repórter) Em Guaratinguetá foram 250 participantes ao todo. Eles encerraram o protesto em frente a rodoviária da cidade. Caraguatatuba também aderiu ao movimento. 120 moradores percorreram as principais ruas do centro. Na vizinha Ubatuba, 300 manifestantes pararam em frente a Câmara. Parte do grupo ocupou o plenário, mas não houve registro de vandalismo. Já em São Sebastião o local escolhido para começar o manifesto foi na Praça da Igreja Matriz. Manifestantes O povo unido jamais será vencido. Michele Sampaio (repórter) Segundo a polícia, 2 mil pessoas participaram. Elas protestaram contra a situação na saúde. Rosa Maria da Silva (aposentada) Tô com problema de saúde, perdendo a visão. Gente é cidadão na eleição, passou a eleição a gente vira um cachorro com sarna na rua. Eu vou morrer sem medicação? Vou ficar cega? Quem vai cuidar de mim? Michele Sampaio (repórter) E contra a PEC 37 que tira do Ministério Público o poder de conduzir investigações criminais. Luiz Guedes (manifestante) Isso daí é a legalização entre aspas da corrupção. É isso que a gente não pode aceitar no Brasil, tá? Isso daí vai muito mais além do que a passagem de ônibus, vai muito mais além que outras coisas. Se tirar o poder do Ministério Público quem vai investigar? Michele Sampaio (repórter) Mas o que todo mundo tinha em comum era o desejo de mudança. Manifestantes Vem pra rua, vem pra rua, vem pra rua. Carlos Abranches (apresentador) É, e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd, revogaram o aumento no preço do metrô e dos ônibus da capital. As tarifas que estavam custando R$ 3,20 vão voltar a custar R$ 3,00. O anúncio foi feito agora pouco. Geraldo Alckmin (governador do Estado de São Paulo) Quero dizer aqui que no caso do metrô e do trem, nós vamos revogar o reajuste dado, voltando à tarifa original de três reais. O sacrifício grande, nós vamos ter que cortar investimentos, mas entendo que é importante para o transporte, que é prioridade, o transporte coletivo de alta capacidade, de qualidade, e de outro lado pra cidade, pra gente poder ter tranquilidade, pra debater temas legitimamente colocados.


45 Quadro 7 – Quadro analítico: Objeto 05 - Cidades do Vale do Paraíba e região bragantina mobilizam em protestos CATEGORIA ANALÍTICA OBJETO 5 – 19/06/2013 O destaque do título se dá em onde, efeito e em Título quê: Cidades do Vale do Paraíba e região bragantina/mobilizam/protesto. Reportagem. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu representa e autor que ocupa o lugar assume) social de âncora deste telejornal. Situa sua fala no espaço “... mobilizam muita gente no Brasil e por aqui não é diferente” e em personagens “... o governador do Estado, Geraldo Alckmin e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad...”. 2. Michele Sampaio é também locutora, outro eu que se instala no discurso, além de ser autora e ter como papel social ser colaboradora do âncora. Hierarquicamente se coloca no espaço “... moradores da região”, “Em São José dos Campos...”, “Em Atibaia...”, “na Igreja Matriz...”, “Em Guaratinguetá...”, “Caraguatatuba...”, “Na vizinha Ubatuba...”, e “Já em São Sebastião...” e no efeito “foram às ruas pedir, entre coisas, a redução das tarifas de ônibus”. “De acordo com a PM...”, “Segundo a polícia...”, a voz da autoridade que permite a autora dizer o que diz. 3. Pessoas assumem o papel social de manifestantes e situam sua fala no espaço (ambiente social) “nenhum bandido me representa”, “o povo unido jamais será vencido”, “vem pra rua”. 4. Sérgio Pedroso assume o papel social de cidadão e situa sua fala no tempo “Há muitos anos...”, no espaço “Brasil”, no efeito “precisa de um movimento como esse” e no fato “a gente tá cansado de pressão, de falsas promessas...”.


46 5. Rosa Maria assume o papel de cidadã e situa sua fala no efeito “to com problema de saúde, perdendo a visão...”, “Eu vou morrer sem medição? Vou ficar cega?”. 6. Luís Guedes assume também papel de cidadão e situa seu discurso no fato “Isso daí é legalização entre aspas da corrupção...”, “Isso daí vai muito mais além do que a passagem de ônibus, vai muito mais além que outras coisas”, no espaço “É isso que a gente não pode aceitar no Brasil, tá?”. 7. Geraldo Alckmin assume o papel social de governador e situa sua fala nos personagens “Nós vamos...”, no efeito “revogar o reajuste dado, voltando à tarifa de R$ 3,00” e no espaço (ambiente social) “... entendo que é importante para o transporte coletivo, que é prioridade, o transporte coletivo de alta capacidade, de qualidade, e de outro lado pra cidade, pra gente poder ter tranquilidade pra debater temas legitimamente colocados”. Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. A perspectiva ideológica se dá através do uso do verbo mobilizam que como definição básica é: fazer passar do estado de paz para o de guerra. A escolha, entre tantas possibilidades é ideológica, é do sujeito que diz pelo não dito. 2. A ideologia se dá no uso da voz dos moradores, a qual ela banaliza com o termo “entre coisas outras”, levando em consideração que essas outras coisas sejam saúde, educação, segurança e condições básicas de vida. A utilização da conjunção “mas” na frase “A manifestação foi convocada por centrais sindicais e um partido político, mas os jovens mandaram um recado aos políticos” dá a devida significância ao acontecimento já que depois há falas dos


47

3.

4.

5.

6.

7.

Informação

jovens. Não há maiores informações sobre quais eram as centrais sindicais e nem a respeito do partido político. “De acordo com a PM, mais de 700 pessoas participaram”, utiliza-se da voz da autoridade que lhe permite dizer o que diz. As informações em sua maioria neste discurso são dados técnicos, quantitativos enquanto as manifestações pedem melhoria, qualidade no serviço do governo. Menosprezar a informação da aposentada e retoma o seu próprio discurso como se não fosse algo relevante. A perspectiva se dá no uso do adjetivo “bandido” que como definição é: indivíduo que vive do roubo e anda fugido à perseguição da justiça. Trabalhar de bandido, fazer algo contra os interesses de uma pessoa. A escolha é ideológica, é do sujeito que diz pelo não dito. Também se dá no uso da frase “O povo unido jamais será vencido”, um clichê usado para expressar a união da população no conjunto das ideias de que a política precisa mudar. A perspectiva ideologia do discurso representa a insatisfação das gestões ruins de medidas políticas que é uma prática histórica. A ideologia se dá no uso do paternalismo, quando o governo é o “pai” e “mãe” do cidadão, que depende dele para sobreviver. A perspectiva ideológica se dá no uso da pontuação “entre aspas”, dando a entender que o governo legaliza a corrupção, que todo mundo pode ser corrupto. A ideologia se dá na solução do problema. A tarifa voltará a custar R$ 3,00.

1. Insatisfação com os governos mobilizam muita gente no Brasil e pela região.


48 2. Moradores da região foram às ruas pedir redução no preço das tarifas de ônibus, entre outras coisas. Em São José dos Campos, 120 pessoas percorreram algumas ruas do centro da cidade. Mais de 700 pessoas participaram. Em Guaratinguetá 250 participantes encerram o protesto em frente à rodoviária. Em Caraguatatuba 120 moradores percorreram as principais ruas do centro. Em Ubatuba, 300 manifestantes pararam em frente à Câmara. Já em São Sebastião o local escolhido para começar o manifesto foi na Praça da Igreja Matriz. Segundo a polícia, 2 mil pessoas participaram do manifesto em São Sebastião e protestaram contra a saúde. O manifesto também foi contra a PEC 37 que tira do Ministério Público o poder de conduzir investigações criminais. 3. Para o povo o governo é como um bandido e não o representa. O povo unido jamais será vencido. Chamam as pessoas para irem às ruas com o slogan “Vem pra rua”. 4. O Brasil precisa de um movimento como esse há muitos anos. O povo está cansado de opressão, falsas promessas, continuísmo e precisa ser mais valorizado. 5. Rosa Maria da Silva tem problema de saúde e está perdendo a visão. O povo é cidadão na eleição, depois vira cachorro com sarna. Ela vai morrer sem medicação? Vai ficar cega? Quem vai cuidar dela? 6. O povo não pode aceitar a PEC 37 no Brasil, é corrupção. Vai muito além da passagem do ônibus. 7. No caso do metrô e do trem, Geraldo Alckmin revogou o reajuste dado, voltando à tarifa original de R$ 3,00.


49 Investimentos tiveram de ser cortados, mas o transporte é mais importante. Como informou

1. O uso da palavra desejo enfatiza a intensidade da mudança e a constatação da insatisfação. 2. Com dados técnicos, quantitativos e com a voz da autoridade (polícia). 3. Utilizando de frases fortes para expressar a insatisfação com a polícia atual. 4. Opinando a respeito e corroborando com as frases fortes. 5. Relatando o problema de saúde que a afeta por conta da má gestão na saúde. 6. Opinando a respeito e corroborando com as frases e o relato com o problema de saúde. 7. Discursou sobre a revogação do reajuste dado e avisou que investimentos teriam que ser cortados.

Objeto 6: 21 de junho Duas mil pessoas vão às ruas de Caçapava (SP) para protestar Carlos Abranches (apresentador) A sexta-feira segue com protestos na região. Desta vez em Caçapava. Michele Sampaio (apresentadora) É, os manifestantes interromperam o trânsito na Via Dutra por volta de seis e meia da tarde. Nós temos algumas imagens dos manifestantes aí, eles se concentraram numa praça de Caçapava. Foram marchando pelas ruas da cidade, passaram aí pela Avenida Brasil que é uma avenida importante, movimentada aí na cidade, carregando cartazes... Foi uma movimentação pacifica. Tinha gente carregando bandeira, vestido de branco, pedindo paz. Eles reclamam, principalmente aí, do valor da tarifa de ônibus da cidade. Caçapava vinha na contra mão, subiu a passagem na realidade né, pra três reais e agora baixou novamente pra dois reais e oitenta centavos. Carlos Abranches (apresentador) Eles foram em direção à rodoviária da cidade, depois foram em direção à Via Dutra e interromperam a Via Dutra, nesse momento a Via Dutra está parada em Caçapava.


50 Michele Sampaio (apresentadora) Isso. Eles interromperam a Via Dutra agora à noite né, Abraches? De manhã teve também teve interrupção no trânsito da Via Dutra em Caçapava, mas foi por um outro motivo, foram metalúrgicos. Agora são os manifestantes que interrompem o trânsito totalmente na Via Dutra. A gente vê aí imagens, uma pessoa distribuindo rosas, um jovem aí distribuindo rosa pra mostrar que a movimentação é pacífica. Carlos Abranches (apresentador) Isso. E eles agora, eles ocupam a Via Dutra e depois voltamos a falar a respeito disso. Aliás, foram horas de protestos em 14 cidades da região, Michele. Michele Sampaio (apresentadora) Isso, Abranches. Foram mais de 40 mil moradores, saíram às ruas, foram jovens idosos, famílias e no meio de todos eles o mesmo desejo, o de mudança. Michele Sampaio (repórter) Quinta-feira, 20 de junho, data histórica pra região. Em São José dos Campos, os manifestantes se encontraram na Praça Afonso Pena, no Centro da cidade. Ali mesmo se preparam e pintaram cartazes com pedidos de melhorias. Francisca Ribeiro (Tradutora) Algo tem que ser mudado, e eu acredito nessa juventude e no fato de que ela permaneça porque é pelos meus netos que eu tô lutando. Michele Sampaio (repórter) Em seguida a passeata percorreu as principais ruas. Manifestantes Não é pelo busão, é pela nação. Não é pelo busão, é pela nação. Michele Sampaio (repórter) O ato foi parar na Via Dutra. Os dois sentidos da estrada foram fechados por cinco horas. Imagens do helicóptero da rede Vanguarda dão uma dimensão do congestionamento. Um grupo colocou fogo em uma catraca de isopor, pneus também foram queimados na Via Dutra e em avenidas de São José. Alguns motoristas não quiseram enfrentar o tumulto. Já uma outra parte dos estudantes retornou ao Centro e encerrou a manifestação de forma pacífica. A segunda maior cidade do Vale também entrou no clima dos protestos. Taubaté fez barulho nas Praças Santa Terezinha e Dom Epaminondas. Jovens vestindo as cores do Brasil protagonizaram cenas bonitas. Diferentes idades, estilos e motivos para estar ali. Alguns dos manifestantes passaram em frente à Câmara, outros também pararam a Via Dutra. Os dois sentidos foram bloqueados por quatro horas. O tumulto só acabou quando a Tropa de Choque da PM chegou e usou gás de pimenta e bombas de efeito moral. Uma pessoa foi detida.


51 Jacareí não ficou de fora. A concentração foi no Pátio dos Trilhos. O preço da passagem na cidade e a qualidade do serviço foram um dos principais motivos da manifestação. Entrevistado (não identificado) Antigamente, de Jacareí até São José dos Campos era três reias e cinco centavos. Agora, não é mais. E por que aqui nos bairros de Jacareí tem que ser essa tarifa absurda, sendo que a gente não tem um retorno do que acontece. Michele Sampaio (repórter) A passeata chegou até a prefeitura, onde estavam Guardas Municipais apostos. E como nas outras cidades parou na Via Dutra. A Rodovia Geraldo Scavone, conhecida como estrada velha, também foi bloqueada na altura do bairro Rio Comprido. Uma ambulância precisou se deslocar pela contra mão. Vândalos derrubaram uma placa e incendiaram um ônibus. O veículo foi totalmente destruído, mas ninguém se feriu. Entrevistada (não identificada) Eu acho acorda Brasil muito bom, sem vandalismo. Pacificamente. Michele Sampaio (repórter) No Litoral, moradores de Caraguatatuba deram voz à manifestação. Da Praça da Bíblia eles saíram em direção a outros pontos da cidade e forma acompanhados pela Polícia Militar. O desejo de mudança reuniu gerações. Os manifestantes passaram pela prefeitura e pela Câmara Municipal. Uma parte parou na Rodovia dos Tamoios e interditou o km 80 por quarenta minutos. O restante permaneceu no Centro pra ser ouvido de outra forma. Maria Vital (entrevistada) É hora de todo mundo acordar e fazer barulho mesmo. Carlos Abranches (apresentador) E na Rodovia dos Tamoios, no trecho de Paraibana também acaba de ser interditada pelos manifestantes. A maioria das cidades registrou protestos pacíficos na região, mas em São José dos Campos um grupo que ficou até tarde, depois que a manifestação acabou, é, cometeu atos de vandalismo. Vejam. Eles jogaram pedras em carros e segundo a Polícia Militar, três pessoas forma detidas por vandalismo na cidade. Eles estão preparando algo aí pra jogar no fechamento, no cruzamento das rodovias, das avenidas Nelson Davila e Benedito Matarazo, atearam pedras no carro e a Polícia teve que intervir, deteve esse rapaz aí, foi levado para delegacia e depois foi liberado logo em seguida. Michele Sampaio (apresentadora) É, e três pessoas, né Abranches, foram detidas em São José dos Campos.


52 Carlos Abranches (apresentador) Três pessoas. É, nós estamos mostrando imagens de uma delas que foi detida e foram liberadas e a outra pessoa detida durante o bloqueio na Dutra em Taubaté também foi liberada. Quadro 8 – Quadro analítico: Objeto 06 - Duas mil pessoas vão às ruas de Caçapava (SP) para protestar OBJETO 6 – 21/06/2013 CATEGORIA ANALÍTICA Se destaca em quem, onde e em quê: duas mil Título pessoas/ruas de Caçapava/protestar. Nota coberta. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é o locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu instala no discurso e o autor que assume a assume) função social de âncora deste telejornal. Situa sua fala no tempo: “a sexta-feira”, “depois”, “agora” e no espaço “em Caçapava”, “em direção a rodoviária da cidade”, “São José dos Campos”, “Avenidas Nelson D’Avila e Benedito Matarazzo”. 2. Michele Sampaio é locutora, outro eu que se instala no discurso e autora que assume o papel de apresentadora do telejornal. Situa sua fala no espaço: “via Dutra”, “São José dos Campos”, “Praça Afonso Pena”, “centro da cidade”, “Taubaté”, “Praças Santa Terezinha e Dom Epaminondas”, “Câmara”, “Jacareí”, “Pátio dos Trilhos”, “prefeitura”, “Rodovia Geraldo Scanove”, “bairro Rio Comprido”, “Litoral”, “Caraguatatuba”, “Praça da Bíblia”. E no tempo “por volta de seis e meia da tarde”, “de manhã”, “agora”, “quinta-feira, 20 de junho”. 3. Francisca Ribeiro assume o papel de cidadã e situa sua fala na esperança de que “algo tem que ser mudado”. 4. Manifestantes ocupam o lugar social de cidadãos e situam sua fala na frase “não é pelo busão é pela nação” que quer dizer não estar reivindicando só pelo aumento da tarifa de ônibus, mas pelo país.


53 5. O entrevistado assume papel de cidadão e situa sua fala no tempo: “antigamente”, “agora”. E no espaço: “aqui”. 6. A entrevistada, a qual o nome não foi informado ocupa o lugar social de cidadã e situa sua discurso no espaço “Brasil”. 7. Maria Vital ocupa o lugar social de cidadã e situa sua fala no tempo “é hora”. Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. A perspectiva ideológica se dá no uso do verbo “segue” com o sentido de continuísmo. 2. Se dá no uso do adjetivo “bonitas”. A enunciadora emite sua opinião e se coloca de maneira diferente do que em seus outros discursos. 3. Neste trecho a perspectiva ideológica se dá no uso do verbo “acredito” que significa dar crédito, crer. O que quer dizer que ela apoia as manifestações. 4. A escolha da frase “não é pelo busão, é pela nação” é ideológica, do sujeito que diz pelo não dito. 5. A perspectiva ideologia se dá no uso da conjunção “por que” que denota a duvida do cidadão em relação às medidas adotadas pelo seu governo. 6. Neste trecho, a perspectiva ideológica se dá no uso do advérbio “muito”, seguido do adjetivo “bom”. A utilização dessas duas palavras denotam a opinião da entrevistada que acha que as manifestações devem acontecer, pacificamente, sem vandalismo. 7. A perspectiva ideologia neste discurso se dá no uso dos verbos “acordar” e “fazer” que significam despertar, resolver e elaborar, executar, respectivamente. É do sujeito que diz pelo não dito.

Informação

1. A sexta-feira segue com protestos na região. Desta vez em Caçapava.


54 Manifestantes foram em direção à rodoviária da cidade, depois foram em direção à Via Dutra e interromperam a Via Dutra, nesse momento a Via Dutra está parada em Caçapava. Agora, eles ocupam a Via Dutra. Foram horas de protestos em 14 cidades da região. E na Rodovia dos Tamoios, no trecho de Paraibana também acaba de ser interditada pelos manifestantes. A maioria das cidades registrou protestos pacíficos na região, mas em São José dos Campos um grupo que ficou até tarde, depois que a manifestação acabou, é, cometeu atos de vandalismo. Vejam. Eles jogaram pedras em carros e segundo a Polícia Militar, três pessoas forma detidas por vandalismo na cidade. Eles estão preparando algo aí pra jogar no fechamento, no cruzamento das rodovias, das avenidas Nelson Davila e Benedito Matarazo, atearam pedras no carro e a Polícia teve que intervir, deteve esse rapaz aí, foi levado para delegacia e depois foi liberado logo em seguida. Três pessoas foram detidas e liberadas. 2. Os manifestantes interromperam o trânsito na Via Dutra por volta de seis e meia da tarde e marcharam pelas ruas da cidade, passaram pela Avenida Brasil que é uma avenida importante, movimentada na cidade, carregando cartazes. Eles reclamam principalmente do valor da tarifa de ônibus da cidade. Caçapava vinha na contra mão, subiu a passagem pra três reais e agora baixou novamente pra dois reais e oitenta centavos. Os manifestantes interromperam a Via Dutra agora à noite. De manhã teve também teve interrupção no trânsito da Via Dutra em Caçapava, mas foi por um outro motivo, foram metalúrgicos. Agora são os


55 manifestantes que interrompem o trânsito totalmente na Via Dutra. Quinta-feira, 20 de junho, data histórica pra região. Em São José dos Campos, os manifestantes se encontraram na Praça Afonso Pena, no Centro da cidade. Ali mesmo se preparam e pintaram cartazes com pedidos de melhorias. Em seguida a passeata percorreu as principais ruas. O ato foi parar na Via Dutra. Os dois sentidos da estrada foram fechados por cinco horas. Imagens do helicóptero da rede Vanguarda dão uma dimensão do congestionamento. Um grupo colocou fogo em uma catraca de isopor, pneus também foram queimados na Via Dutra e em avenidas de São José. Alguns motoristas não quiseram enfrentar o tumulto. Já uma outra parte dos estudantes retornou ao Centro e encerrou a manifestação de forma pacífica. A segunda maior cidade do Vale também entrou no clima dos protestos. Taubaté fez barulho nas Praças Santa Terezinha e Dom Epaminondas. Jovens vestindo as cores do Brasil protagonizaram cenas bonitas. Diferentes idades, estilos e motivos para estar ali. Alguns dos manifestantes passaram em frente a Câmara, outros também pararam a Via Dutra. Os dois sentidos foram bloqueados por quatro horas. O tumulto só acabou quando a Tropa de Choque da PM chegou e usou gás de pimenta e bombas de efeito moral. Uma pessoa foi detida. Jacareí não ficou de fora. A concentração foi no Pátio dos Trilhos. O preço da passagem na cidade e a qualidade do serviço foram um dos principais motivos da manifestação. A passeata chegou até a prefeitura, onde estavam Guardas Municipais apostos. E


56

3.

4. 5.

6. 7.

Como informou

como nas outras cidades parou na Via Dutra. A Rodovia Geraldo Scavone, conhecida como estrada velha, também foi bloqueada na altura do bairro Rio Comprido. Uma ambulância precisou se deslocar pela contra mão. Vândalos derrubaram uma placa e incendiaram um ônibus. O veículo foi totalmente destruído, mas ninguém se feriu. No Litoral, moradores de Caraguatatuba deram voz à manifestação. Da Praça da Bíblia eles saíram em direção a outros pontos da cidade e foram acompanhados pela Polícia Militar. O desejo de mudança reuniu gerações. Os manifestantes passaram pela prefeitura e pela Câmara Municipal. Uma parte parou na Rodovia dos Tamoios e interditou o km 80 por quarenta minutos. O restante permaneceu no Centro pra ser ouvido de outra forma. Três pessoas foram detidas em São José dos Campos. Algo tem que ser mudado e eu acredito na juventude e no fato de que ela permaneça. É pelos meus netos que ela luta. Não é pelo ônibus, é pela nação. Antigamente, em Jacareí e São José dos Campos a tarifa de ônibus era R$ 3, 05. Agora não é mais. As tarifas do bairro de Jacareí são absurdas e não se tem um retorno do que acontece. O acorda Brasil é bom sem vandalismo. Pacífico. Está na hora do mundo acordar e fazer barulho.

1. Com a utilização de dados técnicos, citando diversos lugares e acontecimentos. Utilizou-se da voz da autoridade (polícia militar) para dizer o que diz. 2. Utilizando dados técnicos e citando


57

3. 4.

5. 6. 7.

diversos lugares como cidades, bairros, rodovias e repartições públicas. Discursando sobre seus sentimentos para com o país. Usando de contradição, repetindo como estribilho, como se fosse palavra de ordem. Indagando sobre as medidas mal adotas pelo governo que não são esclarecidas. Opinando a respeito do assunto (manifestações). Fazendo uso de conotação, dando sentido ao seu discurso através de linguagem figurada.

Objeto 7: 21 de junho Representante do MPL faz balanço dos Protestos no Vale do Paraíba Carlos Abranches (apresentador) Apesar de alguns incidentes, uma das organizadoras do movimento fez um balanço dos protestos e avalia que manifestação foi pacífica em toda região. Raísa Araujo (organizadora do movimento) Foi bem tranquilo, assim. Teve atos de vandalismo sim, mas foram bem isolados, no final do ato. Os próprios ativistas da massa que não tão na organização, quando vem isso começam a gritar ‘sem violência, sem violência’. É claro que sempre tem um ou outro que vai fazer baderna e tal, mas a nossa. A gente já falou com os policiais, já falou com a Guarda, então eles sabem que o nosso protesto é pacífico. Repórter (não identificada) São José reduziu a passagem. Mesmo assim está mantido o protesto pra terça-feira? Raísa Araujo (organizadora do movimento) Mesmo assim tá mantido o protesto pra terça-feira, porque reduziu, mas não reduziu tudo também, né? A gente quer revogação total do aumento. Carlo Abranches (apresentador) É, mas o secretário de Transportes de São José dos Campos, Wagner Balieiro, disse que reduziu o valor da passagem para três reais e que esse é o limite que a cidade comporta e que não pretende cancelar o aumento e deixar a tarifa em dois e oitenta.


58 Quadro 9 – Quadro analítico: Objeto 07 - Representante do MPL faz balanço dos Protestos no Vale do Paraíba OBJETO 7 – 21/06/2013 CATEGORIA ANALÍTICA O destaque do título se dá no personagem, efeito Título e lugar: representante do MPL/faz balanço dos protestos/Vale do Paraíba. Reportagem. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Carlos Abranches é locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu instala no discurso e autor que assume a assume) função social de âncora deste telejornal. Situa sua fala no espaço: “toda região” e no personagem: “uma das organizadoras do movimento”, “secretário de Transporte de São José dos Campos, Wagner Balieiro”. 2. Raísa Araújo assume a função social de representante do Movimento Passe Livre e situa sua fala no tempo “terça-feira. 3. A repórter, cujo nome não foi informado ocupa a função social de repórter e situa sua fala no espaço “São José dos Campos” e no tempo “terça-feira”. Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. “Uma das organizadoras do movimento avalia que manifestação foi pacífica em toda região” e “o secretário de Transporte de São José dos Campos, Wagner Balieiro disse”, as vozes permitem ao locutor dizer o que diz. 2. A perspectiva ideológica se dá fundada na legitimidade que há diferença entre os que usam de violência, casos isolados, da grande maioria da qual faz parte, os pacíficos que reivindicam melhorias. 3. Neste trecho a perspectiva se dá no questionamento após confirmação. “São José reduziu a passagem. Mesmo assim está mantido o protesto para terça-feira?”.

Informação

1. Apesar de alguns incidentes, uma das organizadoras do movimento fez um balanço dos protestos e avalia que


59 manifestação foi pacífica em toda região. O secretário de Transporte de São José dos Campos, Wagner Balieiro, reduziu o valor da passagem para R$ 3,00 e disse que esse é o valor limite que a cidade comporta e que não pretende cancelar o aumento e deixar a tarifa em R$ 2, 80. 2. A manifestação foi tranquila. Teve atos de vandalismo isolados, no final do ato. 3. São José dos Campos reduziu a passagem. Como informou

1. Fazendo uso de vozes que lhe permitem dizer o que diz. 2. Discorrendo sobre os acontecimentos durante as manifestações. 3. A voz da autoridade local (São José dos Campos) lhe permite dizer o que diz.

Objeto 8: 21 de junho Via Dutra no Vale do Paraíba é palco de manifestações Michele Sampaio (apresentadora) É, e a gente falou no começo do Jornal né, Abranches? Que manifestantes, em Caçapava, já estão na Via Dutra. Em sete cidades da região ontem, as manifestações tiveram o mesmo destino que foi a Via Dutra. E o congestionamento chegou a 28 km nessa quinta-feira. Carlos Abranches (apresentador) Bloquear a rodovia em protesto é uma rotina que começou há décadas, mas dessa vez os motoristas que tiveram que esperar até cinco horas apoiaram a causa. Karen Schmidt (repórter) O movimento normal dessa sexta-feira nem de perto lembrava o enfrentado pelos motoristas ontem à noite, mas as marcas denunciam o que aconteceu na rodovia. Foram pelo menos sete pontos de bloqueio em todo Vale e 28 km de filas. Em Jacareí invadiram a pista próximo ao Parque Meia Lua. O Trânsito só voltou ao normal à meia-noite. Em São José foram quase cinco horas de interdição. Do alto foi possível ver a fila de 7 km que se formou depois que manifestantes fecharam as duas pistas. Em Taubaté mais quatro horas de trânsito parado. A polícia teve que agir depois que um grupo pequeno de pessoas atirou garrafas e pedras em outros veículos.


60 Insp. Waldiwilson dos Santos (Polícia Rodoviária Federal) Nós respeitamos e acompanhamos esses protestos, até mesmo porque nós somos solidários aos manifestantes também, desde que seja de maneira ordeira e por tempo determinado. A partir do momento que a maioria dos manifestantes se deslocaram do local, apenas permaneceram manifestantes que estavam fazendo ingestão de bebida alcoólica sob a Rodovia. Karen Schmidt (repórter) A escolha da Dutra como destino final das manifestações tem uma explicação. Parar a principal rodovia do país chama atenção das autoridades, por isso com frequência, ela é palco dos mais diversos protestos aqui no Vale do Paraíba. Desde a década de 80, ela é palco de manifestações. Entre as mais recentes, em janeiro deste ano, metalúrgicos da GM invadiram a Via Dutra em protestos contra as demissões na montadora. A desocupação do Pinheirinho levou em janeiro do ano passado, homens e mulheres para a rodovia. Em 2011 foram os moradores do Rio Comprido, Em São José, que invadiram a rodovia para pedir a regularização do bairro. Em 2008 o protesto era pela construção de uma passarela em Pindamonhangaba. No protesto de ontem a principal bandeira era baixar a tarifa dos ônibus. Protesto duplo dos manifestantes e dos motoristas. Ricardo Inácio (motorista de ônibus) O importante é que nós vamos conseguir também, né? Eles estão fazendo por nós. Entrevistado (não identificado) Compreender aí a situação porque é povo que tá reclamando, não é questão negócio de partido nada, é o povo, que já tá cansado, né? Quadro 10 – Quadro analítico: Ob. 08 - Via Dutra no Vale do Paraíba é palco de manifestações OBJETO 8 – 21/06/2013 CATEGORIA ANALÍTICA O título se destaca no espaço e em quê: via Título Dutra/palco de manifestações. Nota coberta. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Michele Sampaio é locutora, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu instala no discurso e autora que assume a assume) função social de âncora deste telejornal. Situa sua fala no espaço: “em Caçapava”, na via Dutra”, “em sete cidades da região”. E no tempo “ontem”, “nesta quinta-feira”. 2. Carlos Abranches é também locutor, outro eu que se instala no discurso e autor que assume a função social de colaborar da âncora no telejornal. Situa sua fala no


61

3.

4.

5.

6.

Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

espaço: “rodovia” e o no tempo “há décadas” e “até cinco horas”. Karen Schmidt é locutora, o eu que instala no discurso e autora que assume a função social de repórter deste telejornal. Situa sua fala no tempo “dessa sexta-feira”, “ontem à noite”, “meia-noite”, “quase cinco horas de interdição”, “mais quatro horas”, “depois”, “desde a década de 80”, “em janeiro deste ano”, “em janeiro do ano passado”, “em 2011”, “em 2008”, “ontem”. E no espaço: “rodovia”, “em Jacareí”, “próximo ao Parque Meia Lua”, “em São José”, “em Taubaté”, “Dutra”, “principal rodovia do país”, “aqui no Vale do Paraíba”, “Pinheirinho”, “Rio Comprido”, “em Pindamonhangaba”. Waldiwilson dos Santos é o autor que assume a função social de Policial Rodoviário Federal e situa sua fala no espaço: “sob a rodovia”. Ricardo Inácio – motorista de ônibus – manifestante, interpelado no local, se identifica como “nós”, em seguida fora do grupo “eles”. Manifestante não identificado – uma voz solta – se refere à voz do povo na 3ª pessoa.

1. A perspectiva ideológica se dá no apoio que a âncora pede ao seu colaborador. 2. Neste trecho a perspectiva se dá no uso da conjunção “mas”. 3. A repórter se posiciona no tempo e no espaço para marcar as escolhas dos manifestantes como esperados historicamente. “A escolha da Dutra tem explicação” ou “Desde 1980...”. 4. A perspectiva se dá na utilização do discurso em 1ª pessoa do plural. 5. A fala perde a força na dubiedade da consciência de quem fala como sujeito,


62 dividido entre o “nós” e “eles”. 6. É marcado por uma não-pessoa, ele, não se insere como aquele que é sujeito. Informação

1. Manifestantes, em Caçapava, já estão na via Dutra. Em sete cidades da região ontem as manifestações tiveram o mesmo destino. O congestionamento chegou a 28 km nessa quinta-feira. 2. Motoristas que tiveram que esperar até cinco horas protesto na rodovia, mas apoiaram a causa. 3. O movimento normal dessa sexta-feira nem de perto lembrava o enfrentado pelos motoristas ontem à noite, mas as marcas denunciam o que aconteceu na rodovia. Foram pelo menos sete pontos de bloqueio em todo Vale e 28 km de filas. Em Jacareí invadiram a pista próximo ao Parque Meia Lua. Em São José foram quase cinco horas de interdição. Do alto foi possível ver a fila de 7 km que se formou depois que manifestantes fecharam as duas pistas. Em Taubaté mais quatro horas de trânsito parado. A polícia teve que agir depois que um grupo pequeno de pessoas atirou garrafas e pedras em outros veículos. A escolha da Dutra como destino final das manifestações tem uma explicação. Parar a principal rodovia do país chama atenção das autoridades, por isso com frequência, ela é palco dos mais diversos protestos aqui no Vale do Paraíba. Desde a década de 80, ela é palco de manifestações. Entre as mais recentes, em janeiro deste ano, metalúrgicos da GM invadiram a Via Dutra em protestos contra as demissões na montadora. A desocupação do Pinheirinho levou em janeiro do ano passado, homens e mulheres para a rodovia. Em 2011 foram os moradores do Rio Comprido,


63 Em São José, que invadiram a rodovia para pedir a regularização do bairro. Em 2008 o protesto era pela construção de uma passarela em Pindamonhangaba. No protesto de ontem a principal bandeira era baixar a tarifa dos ônibus. Protesto duplo dos manifestantes e dos motoristas. 4. A Polícia Rodoviária Federal acompanhou os protestos é solidária aos manifestantes desde que seja de maneira ordeira e por tempo determinado. A partir do momento que a maioria dos manifestantes se deslocaram do local, apenas permaneceram manifestantes que estavam fazendo ingestão de bebida alcoólica sob a rodovia. 5. Nós vamos conseguir. Eles fazem por nós. 6. Tem de compreender, não são partidos, é o povo reclamando. Como informou

1. Pedindo apoio. 2. Fazendo uma comparação entre o passado e o presente. 3. Com a utilização de dados técnicos históricos e recentes. 4. Divulgando o trabalho da Polícia Rodoviária Federal. 5. Procurando confirmação – “né?” 6. Conclamando para as pessoas compreenderem que não faz parte de uma manobra política e sim manifestação popular.

Objeto 9: 21 de junho TV Vanguarda mostra trabalhadores cantando o hino nacional Michele Sampaio (apresentadora) O hino nacional brasileiro retrata momentos importantes do país. Ele simboliza a luta de uma nação toda e por isso ele foi cantado, não é Abranches? Por muitos manifestantes em diversas cidades ontem durante os protestos.


64 Carlos Abranches (apresentador) É, e no dia seguinte aos protestos, o Jornal Vanguarda foi ouvir os trabalhadores que cantam o hino do país com orgulho, assim como quem foi às ruas. Quadro 11 – Quadro analítico: Objeto 09 - TV Vanguarda mostra trabalhadores cantando o hino nacional OBJETO 9 – 21/06/2013 CATEGORIA ANALÍTICA O destaque do título se dá em quê, personagem e Título efeito: TV Vanguarda/mostra trabalhadores/cantando o hino nacional. Nota simples. Gênero telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Michele Sampaio é locutora, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu instala no discurso e autora que ocupa o assume) papel social de âncora deste telejornal. Situa sua fala em quê: “o hino nacional brasileiro”, no efeito “simboliza a luta de uma nação toda e por isso foi cantado”, no personagem “por muitos manifestantes” e no tempo “ontem durante os protestos”. 2. Carlos Abranches é também locutor, outro eu que se instala no discurso, que tem como papel social ser colaborador da âncora. Se coloca no tempo “e no dia seguinte aos protestos...”. Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

1. A perspectiva ideológica se dá na comparação do fato de terem cantado o hino nacional ser algo relevante, pois em momentos cruciais de lutas, o hino foi usado como marca de patriotismo, nacionalidade. 2. Corrobora com a perspectiva ideológica com o uso do substantivo “orgulho” que denota o patriotismo.

Informação

1. Manifestantes em diversas cidades cantaram o hino nacional. 2. No dia seguinte aos protestos, o Jornal Vanguarda ouve trabalhadores que cantaram o hino do país com orgulho, como quem foi às ruas.


65 Como informou

1. Pedindo apoio ao seu colaborador. 2. Dando apoio ao âncora.

Objeto 10: 22 de junho Sábado foi dia de protestos em duas cidades do Vale do Paraíba Philipe Guedes (apresentador) O sábado foi mais um dia de protestos na região. Em Jacareí cerca de 300 pessoas saíram às ruas do Centro da cidade. Os manifestantes foram para a frente da prefeitura para pedir, principalmente, melhorias na saúde. Esse foi o segundo protesto na cidade essa semana. Jonatan Morel (repórter) O movimento começou tímido, no Pátio dos Trilhos, mas aos poucos foi ganhando força. Depois do protesto para baixar a tarifa dos ônibus, os jovens de Jacareí pintaram o rosto para essa e outras reivindicações. Entrevistada (não identificada) Tem muita coisa ainda, tem a PEC. Hoje a gente tá pedindo pela saúde, mas ainda a gente vai voltar porque a gente quer a tarifa que volta aos dois e oitenta com integração. Entrevistado (não identificado) O que a gente quer é hospital, a gente não quer estádio não. Jonatan Morel (repórter) Uma caveira carregou a bandeira da saúde. A manifestação deste sábado aqui em Jacareí contou com um grupo bem menor do que dos outros manifestos. Mesmo assim eles conseguiram parar o trânsito aqui no Centro. Os motoristas tiveram que esperar. Já eram cerca de 300 pessoas quando a passeata alcançou a Avenida Siqueira Campos, ali eles decidiram sentar na rua e barrar mais uma vez o trânsito. De lá os manifestantes seguiram para prefeitura. Ao longo desse trajeto o protesto foi pacífico, apenas um pequeno tumulto aconteceu. Esse carro que pertence ao município foi cercado por algumas pessoas, mas a maioria era contra a confusão. Manifestantes Sem violência, sem violência. Jonatan Morel (repórter) A Guarda Municipal ficou na porta da prefeitura, mas os manifestantes não ficaram muito tempo em frente ao paço. Logo seguiram para a ponte do rio Paraíba, onde também interromperam o trânsito. Lá, eles cantaram o hino nacional.


66 Philipe Guedes (apresentador) Na quinta-feira, dia do primeiro protesto em Jacareí, cerca de 7 mil pessoas saíram às ruas, segundo a Polícia Militar. E em outras cidades da região também houve manifestações. Em Taubaté o protesto foi tranquilo hoje de manhã, mas em Caçapava manifestantes fecharam a Dutra e a Polícia precisou ser chamada. Repórter Em Taubaté o ponto de encontro foi a Praça Dom Epaminondas, no Centro da cidade. A manifestação foi bem menor do que a que saiu às ruas na quinta-feira, mas mesmo assim os manifestantes não desanimaram. Eles reivindicavam melhorias na educação, na saúde e o fim da corrupção. Com cartazes, apitos e a bandeira do Brasil, os manifestantes passaram pelas ruas do Centro chamando a população protestar. Manifestantes Vem pra rua, vem pra rua. Repórter Um dos pontos de parada foi a Rua Jorge Winter, onde eles sentaram no chão e interromperam o trânsito. Em seguida o protesto passou pela Feira Livre, ao lado do Mercado Municipal. Ontem à noite manifestantes fecharam a Via Dutra por quase três horas na região de Caçapava. O congestionamento chegou a 4 km. A Tropa de Choque da PM foi chamada para liberar a rodovia. Um grupo de jovens com os rostos cobertos lançou pedras em direção aos policiais. No fim da manifestação cinco adolescentes foram apreendidos por depredarem lixeiras e placas no Centro da cidade. Philipe Guedes (apresentador) Esse protesto que você acabou de ver na Via Dutra, nesse tumulto na Dutra, aconteceu ontem a noite. A Dutra ficou fechada aí por quase três horas. Quadro 12 – Quadro analítico: Objeto 10 - Sábado foi dia de protestos em duas cidades do Vale do Paraíba OBJETO 10 – 22/06/2013 CATEGORIA ANALÍTICA O destaque do título se dá no tempo, em quê e Título espaço: Sábado/dia de protestos/duas cidades do Vale do Paraíba. Reportagem. Gênero Telejornalístico Locutor (aquele que se representa como eu no 1. Philipe Guedes é locutor, o eu que se discurso) /Autor (função social que esse eu instala no discurso e autor que assume a assume) função social de âncora deste telejornal. Situa sua fala no tempo: “sábado”, “na quinta-feira”, “hoje de manhã”, “ontem à noite”. E no espaço: “em Jacareí”, “ruas


67

2.

3.

4.

5. 6.

Enunciador (é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’  a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar)

do centro da cidade”, “frente da prefeitura”, “em Taubaté”, “em Caçapava”, “a Dutra”. Jonatan Morel é locutor, outro eu que se instala no discurso e autor que assume a função de repórter deste telejornal. Situa sua fala no espaço: “Pátio dos Trilhos”, “de Jacareí”, “aqui em Jacareí”, “aqui no centro”, “porta da prefeitura”, “ponte do Rio Paraíba”. A entrevistada, cujo nome não foi informado ocupa a função de cidadã e situa sua fala no tempo: “hoje”. O entrevistado, cujo nome não foi informado ocupa a função social de cidadão e situa sua fala em quê: “hospital”. Manifestantes – palavras de ordem – massa sem identificação. O repórter, cujo nome não foi identificado é locutor, o eu que se instala no discurso e autor que assume a função social de repórter deste telejornal. Situa sua fala no espaço: “em Taubaté”, “Praça Dom Epaminondas”, “no centro da cidade”, “Brasil”, “ruas do centro”, “rua Jorge Winter”, “Feira Livre”, “ao lado do Mercado Municipal”, “via Dutra”, “região de Caçapava”. E no tempo: “quinta-feira”, “em seguida”, “ontem à noite”.

1. A perspectiva ideológica se dá no uso do advérbio “mais” que significa, neste caso “também”. Dá ideia de continuísmo. 2. Mostra seu ponto de vista sobre a evolução do fenômeno. Usa o adjetivo “começa tímido”, em seguida usa o advérbio de oposição “mas” seguido da locução adverbial de intensidade “aos poucos” e fecha com o advérbio de tempo “depois”. 3. A perspectiva ideológica se dá na


68 utilização do discurso na 1ª pessoa do plural. Ela fala pelo povo. 4. Neste trecho, a perspectiva ideologia também se dá pela utilização do discurso na 1ª pessoa do plural. 5. Enuncia-se de forma imperativa (ordem/pedido). 6. Usa de marcadores de sequência para informar a evolução dos fatos: “Um dos pontos”; “Em seguida”; “Ontem”, “Um grupo de jovens”; “No fim das manifestações”. Informação

1. O sábado foi mais um dia de protestos na região. Em Jacareí cerca de 300 pessoas saíram às ruas do Centro da cidade. Os manifestantes foram para frente da prefeitura para pedir, principalmente, melhorias na saúde. Esse foi o segundo protesto na cidade essa semana. Na quinta-feira, dia do primeiro protesto em Jacareí, cerca de 7 mil pessoas saíram às ruas, segundo a Polícia Militar. E em outras cidades da região também houve manifestações. Em Taubaté o protesto foi tranquilo hoje de manhã, mas em Caçapava manifestantes fecharam a Dutra e a Polícia precisou ser chamada. Esse protesto que você acabou de ver na Via Dutra, nesse tumulto na Dutra, aconteceu ontem à noite. A Dutra ficou fechada aí por quase três horas. 2. O movimento começou tímido, no Pátio dos Trilhos, mas aos poucos foi ganhando força. Depois do protesto para baixar a tarifa dos ônibus, os jovens de Jacareí pintaram o rosto para essa e outras reivindicações. Uma caveira carregou a bandeira da saúde. A manifestação sábado em Jacareí contou com um grupo bem menor do que dos outros manifestos. Mesmo assim eles conseguiram parar o


69

3.

4. 5. 6.

trânsito aqui no Centro. Os motoristas tiveram que esperar. Já eram cerca de 300 pessoas quando a passeata alcançou a Avenida Siqueira Campos, ali eles decidiram sentar na rua e barrar mais uma vez o trânsito. De lá os manifestantes seguiram para prefeitura. Ao longo desse trajeto o protesto foi pacífico, apenas um pequeno tumulto aconteceu. Esse carro que pertence ao município foi cercado por algumas pessoas, mas a maioria era contra a confusão. A Guarda Municipal ficou na porta da prefeitura, mas os manifestantes não ficaram muito tempo em frente ao paço. Logo seguiram para a ponte do rio Paraíba, onde também interromperam o trânsito. Lá, eles cantaram o hino nacional. Tem muita coisa ainda, tem a PEC. Estamos pedindo pela saúde, mas ainda voltaremos porque queremos que a tarifa volte aos R$ 2,80 com integração. O povo quer hospital, não estádio. Vem para rua. Uma caveira carregou a bandeira da saúde. Em Taubaté o ponto de encontro foi a Praça Dom Epaminondas, no Centro da cidade. A manifestação foi bem menor do que a que saiu às ruas na quinta-feira, mas mesmo assim os manifestantes não desanimaram. Eles reivindicavam melhorias na educação, na saúde e o fim da corrupção. Com cartazes, apitos e a bandeira do Brasil, os manifestantes passaram pelas ruas do Centro chamando a população protestar. Um dos pontos de parada foi a Rua Jorge Winter, onde eles sentaram no chão e interromperam o trânsito. Em seguida o protesto passou pela Feira Livre, ao lado do Mercado Municipal. Ontem à noite manifestantes


70 fecharam a Via Dutra por quase três horas na região de Caçapava. O congestionamento chegou a 4 km. A Tropa de Choque da PM foi chamada para liberar a rodovia. Um grupo de jovens com os rostos cobertos lançou pedras em direção aos policiais. No fim da manifestação cinco adolescentes foram apreendidos por depredarem lixeiras e placas no Centro da cidade. Como informou

1. “Segundo a Polícia Militar”, a voz da autoridade lhe permite dizer o que diz. 2. Qualificando a sequência de fatos em sua intensidade evolutiva. 3. Tomando voz pela população. 4. Tomando voz pela população. 5. Palavras de ordem. Clamor coletivo. 6. Sequenciando fatos.


71

CONSIDERAÇÕES FINAIS As análises mostram que dos 10 títulos a maior tendência foi a construção a partir das informações do quê ou quem, onde e com que efeito. Dos gêneros telejornalísticos utilizados há um equilíbrio dos gêneros: 03 notas cobertas (nota ao vivo lida por um ou mais apresentadores seguida de informações com leitura em off, sem a presença física do repórter na imagem, só a voz), 03 reportagens (relato mais completo do fato, lido ao vivo por um ou mais apresentadores seguida de texto lido pelo repórter e entrevistas ao vivo ou gravadas, 02 notícias ao vivo (nota lida ao vivo por um mais ou mais apresentadores e seguida de informações com um repórter ao vivo no local do acontecimento) e 02 notas simples (nota mais simples lida ao vivo por um ou mais apresentadores seguida de imagens ou gráficos).

Percebe-se que mesmo fazendo uso do formato jornalístico de estrutura mais complexa, a reportagem, o telejornal acaba por tratar o tema superficialmente e não coloca em pauta a crise de representatividade global a qual o país vive.

A forma de mobilização atual é diferenciada, é espontânea e não partidária como há alguns anos atrás. A internet possibilitou isso. As pessoas protestam nas próprias redes sociais e fazem uso dela para marcar manifestações, sendo essas específicas ou não. Não foi citado em nenhum momento como as manifestações ganharam força. Mesmo que tenham se espelhado em material da capital São Paulo, as informações poderiam ter ido além e mencionado a força que a internet mostrou possuir, mesmo em cidades do interior de São Paulo.

As notícias são sustentadas basicamente por números, o que não enriquece e desumaniza a prática jornalística. A globalização tornou tudo rápido e a superficialidade ganha cada vez mais espaço, mas o que é preciso repensar é que além de humanizar o texto jornalístico, personagens garantem a sustentação ao fato relatado pelo repórter através de dados numéricos, uma vez que o jornalista deve fornecer elementos suficientes para que o telespectador compreenda a temática em sua totalidade. O tema “protesto” não foi tratado com a importância que deveria. Fazendo uma comparação com o material de pesquisa e os resultados obtidos através das análises das matérias, percebe-se ainda


72 mais claramente a desimportância com a qual o tema foi tratado. Quando Burns (2006) diz que “o problema da relação existente entre as interdependências do sistema e a fragmentação social é particularmente agudo a nível global, não obstante existirem alguns movimentos e desenvolvimentos institucionais que apontam para soluções parciais” ele fala exatamente das soluções mínimas que a população recebe e, entra em jogo o papel do jornalismo de ouvir todos os lados envolvidos para tentar elucidar os fatos e os problemas e, trazer a tona as possíveis soluções.

Há uma diferença entre o fato e o fato citado nas matérias. O fato é dramático, é humano e o fato citado pelas matérias é superficial, comum. Apesar das fontes (entrevistados) serem relevantes, só se tem a fala de um representante, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Os locutores/autores se inserem nos textos a partir de marcas de tempo e espaço e pelas funções que ocupam como apresentador âncora, apresentador auxiliar do âncora, repórter, autoridade, cidadão testemunha ou cidadão manifestante.

A enunciação traz as marcas dos pontos de vista daqueles que se inserem no texto, observa-se que os jornalistas se apoiam, na maioria das vezes, nas vozes de autoridade, pois há a busca de objetividade e trazer ao contexto tanto a sequenciação dos fatos, quanto a legitimação dos que participam. Mas a escolha lexical, a adjetivação, os recortes feitos e as inserções de outras vozes estabelecem um espaço de intersubjetividade entre os sujeitos e o que ideologicamente representam. A objetividade dá lugar à subjetividade.

As informações são os fatos, organizados segundo a importância do que se deseja evidenciar. A escolha da sequenciação encontrada, na grande maioria, oferece a importância dada aos aspectos do incômodo, da violência que os protestos traziam, observa-se um descompasso de intenções entre o discurso realizado pelos repórteres e o discurso dos manifestantes.

Como são informadas é a grande questão da construção do sentido, o uso constante da conotação é um dos mecanismos de construir subentendidos, exigindo do leitor resgatar e inferir a partir das palavras que sugerem sentidos figurados.


73 Nesse contexto, conclui-se que o telejornalismo aqui apresentado carece, mesmo dentro das especificidades de tempo e possibilidades do gênero, de um discurso crítico, que agrega e fomenta a “liberdade de pensamento”, expressão de ordem tantas vezes dita pelo jornalismo que parece desgastada e desprovida de sentido.


74

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. Campinas: Editora da Unicamp, 1996. BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. Campinas: Editora da Unicamp, 2004. BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. Trad.: Maria da Glória Novak, Maria Luiza Néri. 3.ed. Campinas, (SP): Pontes, 1991. CAZARIN, E. A. Identificação e representação política: uma análise do discurso de Lula. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002. CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2010. DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987. DUCROT, Oswald; CAREL, Marion. Descrição argumentativa e descrição polifônica: o caso da negação. Porto Alegre. Editora: Letras de Hoje, 2008. FLORES, V. N.; TEIXEIRA, M. Introdução à Linguística da Enunciação. São Paulo: Contexto, 2005. MACHADO, Márcia Benetti & JACKS, Nilda. O Discurso jornalístico. Brasília, Compós, 2001. MARCUSCHI, L. A. Da Fala para a Escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Editora, 2001. PATERNOSTRO, V. I. O texto na TV: manual de telejornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1987. OLIVEIRA SOBRINHO, J.B. O livro do Boni. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011. ORLANDI, E.P. As Formas do Silêncio no Movimento dos Sentidos. Campinas: Editora Unicamp, 1997. ORLANDI, E.P. Análise de discurso. Princípios e procedimentos. 9 ed. Campinas: Editora Pontes, 2010. Artigos GUIMARÃES, B. V. G. A Cultura Caiçara do Litoral Norte Paulista mostrada na revista Beach&Co: Estereótipos do caiçara das cidades de Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela em um veículo regional impresso. Disponível em <ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3458> e <ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3459> Acesso em 28 de agosto de 2014.


75 Google Books: Manifesto Comunista. Disponível em <http://books.google.com.br/books?id=FEqbNNJ_5IkC&lpg=PA7&ots=tqWGQhfS52&dq=manifesto %20comunista%20marx&lr&hl=pt-BR&pg=PP1#v=onepage&q&f=true> Acesso em 29 de abril de 2014. Maxwell: A imagem da notícia: panorama gráfico do telejornal brasileiro: análise dos selos Jô Jornal Nacional. Disponível em <http://www.maxwell.lambda.ele.pucrio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=4637@1&msg=28#> Acesso em 21 de maio de 2014. Portal Uel: Movimentos Sociais no Brasil. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/download/9195/7790> Acesso 12 de maio de 2014. Repositório UFSC: Protesto no brasil: como, quem e por quê? Um estudo das bases individuais da participação política não convencional no brasil, nos anos de 1991 e 2006. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/106746/313795.pdf?sequence=1> Acesso em 12 de abril de 2014. Scielo: Disposições a militar e lógica de investimentos militantes. <http://www.scielo.br/pdf/pp/v20n2/v20n2a03> Acesso em 12 de abril de 2014.

Disponível

em

Scielo: Teoria dos Sistemas Dinâmicos: Teorizações sobre o capitalismo e sua evolução. Disponível em <http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/spp/n50/n50a02.pdf> Acesso em 29 de abril de 2014. Sites Abril: Manifestações que tomaram ruas do Brasil. Disponível em <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/7-manifestacoes-que-tomaram-as-ruas-do-brasil/> Acesso em 12 de maio de 2014. Estadão: Em uma semana, quatro protestos contra aumento da tarifa em São Paulo. Disponível em http://www.estadao.com.br/especiais/em-uma-semana-quatro-protestos-contra-aumento-da-tarifaem-sao-paulo,203763.htm> Acesso em 12 de maio de 2014. Folha de S. Paulo: País em Protesto. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/especial/2013/paisemprotesto/> Acesso em 27 de maio de 2014. Folha de S. Paulo: Partido deixou de ser um instrumento de mobilização. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/115581-partido-deixou-de-ser-um-instrumento-demobilizacao.shtml> Acesso em 14 de abril de 2014. Movimento Passe Livre: Sobre a continuidade da luta. Disponível em <http://saopaulo.mpl.org.br/2013/06/22/sobre-a-continuidade-da-luta/> Acesso em 14 de abril de 2014. Observatório da Imprensa: Pesquisa Brasileira de Mídia 2014. Disponível em <http://observatoriodaimprensa.com.br/download/PesquisaBrasileiradeMidia2014.pdf> Acesso em 26 de maio de 2014.


76

Observatório da Imprensa: Sobre os recentes movimentos socais urbanos no Brasil. <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed752_sobre_os_recentes_movimentos_soci ais_urbanos_no_brasil> Acesso em 12 de maio de 2014. Portal G1: Brasil é o 2º país com mais usuários que entram diariamente no Facebook. Disponível em <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/09/brasil-e-o-2-pais-com-mais-usuarios-que-entramdiariamente-no-facebook.html> Acesso em 23 de maio de 2014. Portal G1: Cidades do Vale do Paraíba e região bragantina mobilizam em protestos. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/cidades-dovale-do-paraiba-e-regiao-bragantina-mobilizam-em-protestos/2644120/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Duas mil pessoas vão às ruas de Caçapava (SP) para protestar. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/duas-mil-pessoasvao-as-ruas-em-cacapava-sp-para-protestar/2648519/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Em meio a protestos, cidades da região anunciam queda nas tarifas dos ônibus. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornalvanguarda/videos/t/edicoes/v/em-meio-a-protestos-cidades-da-regiao-anunciam-queda-nas-tarifas-dosonibus/2641878/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Manifestação percorre ruas de São José dos Campos (SP). Disponível em http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/manifestacaopercorre-ruas-de-sao-jose-dos-campos-sp/2641867/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Protesto reúne milhares de manifestantes em são Sebastião (SP). Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/protesto-reunemilhares-de-manifestantes-em-sao-sebastiao-sp/2641936/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Protestos contra tarifa reúnem manifestantes nas cidades do Vale. Disponível em < http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/06/protestos-contra-tarifa-reunemanifestantes-nas-cidades-do-vale.html> Acesso em 14 de abril de 2014. Portal G1: Protestos em Pindamonhangaba (SP) param o trânsito na região central. Disponível em http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/protestos-empindamonhangaba-sp-param-o-transito-na-regiao-central/2639778/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Redes sociais difundem e dividem protestos no Brasil. Disponível em <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/06/redes-sociais-difundem-e-dividem-protestos-nobrasil-1.html> Acesso em 26 de maio de 2014. Portal G1: Representante do MPL faz balanço dos Protestos no Vale do Paraíba. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/representante-dompl-faz-balanco-dos-protestos-no-vale-do-paraiba/2648559/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Sábado foi dia de protestos em duas cidades do Vale do Paraíba. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/sabado-foi-dia-deprotestos-em-duas-cidades-do-vale-do-paraiba/2650197/> Acesso em 29 de abril de 2014.


77

Portal G1: TV Vanguarda mostra trabalhadores cantando o hino nacional. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/tv-vanguardamostra-trabalhadores-cantando-o-hino-nacional/2648665/> Acesso em 29 de abril de 2014. Portal G1: Via Dutra no Vale do Paraíba é palco de manifestações. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/jornal-vanguarda/videos/t/edicoes/v/via-dutra-no-valedo-paraiba-e-palco-de-manifestacoes/2648597/> Acesso em 29 de abril de 2014. Quero anunciar no Facebook: Facebook no Brasil. Disponível em http://www.queroanunciarnofacebook.com.br/facebook/facebook-brasil.php> Acesso em 27 de maio de 2014. Revista Veja: Manifestações: Cartazes de manifestantes mostram a grande diversidade de reivindicações e protestos. Disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politicacia/manifestacoes-cartazes-de-manifestantes-mostram-a-grande-diversidade-de-reivindicacoes-eprotestos/> Acesso em 21 de maio de 2014. Revista Veja: Enem — Protestos históricos no Brasil: Diretas Já, impeachment de Collor e atuais manifestações. Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/enem-protestos-historicosno-brasil-diretas-ja-impeachment-de-collor-e-atuais-manifestacoes> Acesso em 14 de abril de 2014. TV Vanguarda: Programação. Disponível em <http://redeglobo.globo.com/sp/tvvanguarda/programacao.html> Acesso em 15 de abril de 2014.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.