UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
REEDIFICAÇÃO DO ESPAÇO LITÚRGICO PROTESTANTE E SUA DEMANDA SOCIAL
MILLENA MORIAH SANTOS DE JESUS
Arquitetura e Urbanismo | São Paulo - SP 2020
MILLENA MORIAH SANTOS DE JESUS
REEDIFICAÇÃO DO ESPAÇO LITÚRGICO PROTESTANTE E SUA DEMANDA SOCIAL
Trabalho apresentado junto ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, requisito para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Arq. Me. Altimar Cypriano
Arquitetura e Urbanismo | São Paulo - SP 2020
MILLENA MORIAH SANTOS DE JESUS
REEDIFICAÇÃO DO ESPAÇO LITÚRGICO PROTESTANTE E SUA DEMANDA SOCIAL
Trabalho apresentado junto ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, como requisito básico para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação do Arquiteto Prof. Me. Altimar Cypriano.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________ Arquiteto Orientador Universidade Cidade de São Paulo Prof. Me. Altimar Cypriano
_______________________________________________________________ Arquiteto Avaliador Universidade Cidade de São Paulo Prof. Me. Tiago Collet Arq. __________________________
_______________________________________________________________ Arquiteto Avaliador Prof. Me. Glaucus Cianciardi Arq. _________________________
São Paulo, 18 de dezembro de 2020.
DEDICO este trabalho à minha família e à toda a comunidade protestante do Brasil.
AGRADEÇO a Deus por ter me capacitado em todos esses anos de faculdade; Aos meus pais, meu noivo e meus amigos, que sempre me incentivaram e me fizeram sentir que estava no caminho certo; Aos meus amigos e colegas de faculdade, especialmente, a Bruna, Karen e Willian, que me deram a oportunidade de fazer parte desse grupo maravilhoso e todo o apoio; Por fim, aos meus professores, que me auxiliaram a chegar até aqui, cada um com seu conhecimento e área, e que acreditaram em mim (ou desacreditaram para mostrar quanto de potencial eu ainda podia atingir). Obrigada à todos.
“A cultura cristã é nosso chamado, e ela é o nosso destino” P. Andrew Sandlin
RESUMO
Este trabalho apresenta um novo olhar para o espaço litúrgico protestante na era contemporânea. A partir da observação do atual não engajamento das igrejas protestantes com a arquitetura de seus espaços, surgiu essa discussão da reedificação desses lugares, além da demanda social que existe hoje, na qual necessita de espaço tanto no programa de necessidade das igrejas quanto fisicamente. O caminho foi, antes de tudo, entender como esses espaços funcionavam tradicionalmente e contemporaneamente, e dessa forma criar uma relação entre o religioso e o social, retirando a ideia de um espaço exclusivo e recriando um espaço aberto pronto para servir. Outrossim, verificou-se que a igreja protestante contemporânea se apartou da ideia de ter somente um templo em seu programa, mas também dos espaços que compunham a linha tradicional, como capela, campanário e até mesmo o batistério, pois indiretamente não queria se assemelhar à Igreja Católica. Fundamentado nisto, tem-se esta discussão materializada em um projeto, no qual se considerou a junção de todos os fatores. Palavras-Chave: espaço litúrgico, protestante, demanda social, igreja;
ABSTRACT
This work shows a new look for protestant liturgical space in contemporary age. As of observation of the current protestant church non-engagement with architecture of yours spaces, this discussion of rebuild of those places arose, as well as current social demand, in which it needs space both in church necessity program and physically. The way was, primarily, to understand how those spaces worked traditionally and contemporarily, and that way it is create relation between religious and social, it is removing idea of an exclusive space and recreating an open space ready to serve. Likewise, it was found that the contemporary protestant church untied of idea of to have only one temple in its program, but also of the constituent spaces of traditional line, as chapel, bell tower and even baptistery, since indirectly it didn’t want to resemble Catholic Church. Based in this, it has an object that materialized discussion in the project, in which it considered combinations of all factors. Keywords: liturgical space, protestant, social demand, church.
LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS 1 Co
Livro de 1 Coríntios
Tg
Livro de Tiago
At
Livro dos Atos dos Apóstolos
Sl
Livro de Salmos
Jo
Livro do Evangelho de João
Cl
Livro de Colossenses
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
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1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO TEMA
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a) Cultura Cristã
13
b) A perda da Cultura Cristã
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c) O protestantismo no Brasil
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d) Em busca da identidade
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1.2. Justificativa do Tema
19
2. ANÁLISE URBANA E JUSTIFICATIVA DO LOCAL
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2.1. Condicionantes legais
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2.1.1. Legislação
24
2.1.2. Uso e Ocupação do Solo
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2.1.3. Gabarito de Altura
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2.1.4. Sistema Viário e Mobilidade Urbana
26
2.2. Condicionantes naturais
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2.2.1. Hipsometria
27
2.2.2. Hidrografia
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2.3. Terreno
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2.4. Análises do Bairro
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2.4.1. Estatísticas e Igrejas da Região
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2.4.2. Urbanidade do bairro e sua paisagem
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a) O caminhar
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b) A iluminação
34
c) A arborização
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d) Conclusões
35
2.3. Diretrizes
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3. ESTUDOS DE CASO
38
3.1. Catedral Anglicana de São Paulo
38
3.1.1. Ficha Técnica
39
3.1.2. Implantação
39
3.1.3. Programa de Necessidades
40
3.1.4. Função, Forma e Materialidade
40
3.1.5. Estrutura
42
3.2. Igreja Immanuel de Cologne (Alemanha)
44
3.2.1. Ficha Técnica
44
3.2.2. Implantação
45
3.2.3. Programa de Necessidades
46
3.2.4. Função, Forma e Materialidade
47
3.1.5. Estrutura
50
3.3. Igreja São Bonifácio em São Paulo
52
3.3.1. Ficha Técnica
53
3.3.2. Implantação
53
3.3.3. Programa de Necessidades
54
3.3.4. Função, Forma e Materialidade
55
3.3.5. Estrutura
58
3.4. Santuário Dom Bosco de Brasília
60
3.4.1. Ficha Técnica
60
3.4.2. Implantação
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3.4.3. Programa de Necessidades
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3.4.4. Função, Forma e Materialidade
62
3.4.5. Estrutura
65
3.5. Análises Comparativas
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3.6. Conclusões
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4. PROJETO
70
4.1. Partido (estratégias projetuais)
70
4.2. Croquis | concepção e evolução formal
73
4.3. Programa | diagramas de setorização
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4.4. Fluxograma
77
4.5. Memorial descritivo
77
4.6. Estrutura
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4.7. Christopher Powers – A arte cristã contemporânea
81
4.8. Material Gráfico: Plantas | Cortes | Elevações | Perspectivas
87
4.9. Considerações Finais
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
117
APÊNDICE
125
12
INTRODUÇÃO Esse trabalho irá investigar como o espaço litúrgico protestante contemporâneo se transformou com o passar do tempo e se essa transformação pode ter causado prejuízos ou benefícios significativos para a construção destes espaços em função da relação entre a religiosidade e as demandas sociais existentes, e a partir dessa compreensão, estabelecer estratégias para o desenvolvimento de um projeto arquitetônico adequado à essas demandas. O capítulo 1 trata da apresentação e justificativa do tema, da sua relevância para a cidade de Guarulhos, assim como para o bairro Morros, que possui a potencialidade de já carregar esse caráter religioso. No capítulo 2 será apresentada uma análise, por meio de mapas que permitiram o entendimento das questões urbanas que contribuíram para a inserção do equipamento no local. O capítulo 3 aborda estudos de caso, possibilitando a compreensão mais aprofundada sobre a maneira que os espaços religiosos funcionam, como eles se apresentam esteticamente e seus simbolismos, e assim como para a elaboração do programa de necessidades. No capítulo 4 será apresentado o projeto. Serão apresentados croquis e diagramas que demonstrem a evolução projetual desde os estudos preliminares até a consolidação do objeto arquitetônico, sua inserção urbana e a sua relação com o entorno.
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1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO TEMA a) A CULTURA CRISTÃ “Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como por exemplo se poderia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida social como por exemplo se poderia falar da religião” (SANTOS, 1983)
No processo de definição, a palavra cultura possui um significado complementar, segundo Aurélio (2019), é uma “[...] análise do processo pelo o qual o homem, por meio de sua atividade concreta [...], ao mesmo tempo que modifica a natureza, cria a si mesmo como sujeito social da história” e, informalmente, se torna aquilo que Frame (2008, p. 854, apud SANDLIN, 2016, p. 19) declara: a “criação é o que Deus faz; cultura é o que nós fazemos”. Todos os nossos contatos e ações com a natureza que nos trazem benefícios se tornam cultura. As árvores pertencem ao meio natural, porém o que o homem faz com esta matéria prima em potencial se torna cultura: construir um abrigo, fabricar uma lança, fazer uma fogueira ou construir uma carroça. Isso, é a cultura comum, de todos e para todos. Assim posto, a cultura cristã não se difere muito da comum, a não ser por um detalhe, a consciência. De acordo com a passagem, “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” (1 Co 10:31), é possível compreender o cerne dessa linha de pensamento. Por mais que tudo que foi, é e será produzido através desta vertente cultural seja também para benefício humano, o maior objetivo é produzir algo conscientemente para glorificar a Deus. Em acordo com essa afirmação está o Breve Catecismo de Westminster (Séc. XVII), onde se diz que o fim principal do homem é glorificar a Deus, sendo assim, se cantarem, que seja para a glória dEle, se ensinarem, que seja para glória de dEle, se trabalharem, seja para a glorificação dELe, se criarem arte que seja para glorificar a Deus, e assim por diante. Na história, a cultura cristã teve suas sementes lançadas através do povo de Israel, os hebreus (os futuros judeus). A maneira que eles se vestiam, comiam e se relacionavam era diferente em comparação aos outros povos, ou seja, “cultura diz
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respeito a todos os aspectos da vida social” (SANTOS, 1983, p. 44) de um determinado povo ou civilização, e isso que os faziam diferentes. O arranjo cultural hebraico se intensificou e se transformou mediante ao nascimento de Jesus. “Ele chamou os judeus e, mais tarde, os gentios ao arrependimento e à confiança nele, apenas por sua graça e fé, a fim de serem salvos. Jesus criou uma comunidade de apóstolos e discípulos. Ele lhes deu instruções sobre como viver diante dele e como viver em comunidade. Eles deveriam criar uma cultura” (SANDLIN, 2016, p.25).
Outro marco que influenciou esta cultura foi morte e ascensão de Cristo, que iniciou uma grande movimentação de seus seguidores, os cristãos, para espalhar as Boas Novas1. Com a expansão da igreja (que se tornou um dos novos títulos do povo de Deus), os cristãos começaram a ser perseguidos e mortos, pelos povos que consideravam a sua cultura uma ameaça. Sequencialmente, após a queda do Império Romano Ocidental, o mesmo foi progressivamente substituído pela Igreja. A solidificação desta cultura foi através do imperador Constantino e Édito de Milão (312 d.C.), que trouxe a liberdade para todas as religiões. Desta forma as perseguições cessaram e em 380 d.C., sob a superintendência de Teodósio I, o cristianismo e suas igrejas começaram a ser apoiadas pelo Estado oficialmente. Novamente, esta cultura começou a influenciar uma gama de pessoas no seu modo de vida: trabalho, educação, arquitetura, comida, comércio, relacionamentos, assistência social, todos estes eram construídos através da fé cristã. Além do que entendemos na atualidade como faculdade, universidades e as demais vertentes educacionais, se desenvolveram através da reforma protestante, sendo que a motivação era para que todos tivessem acesso à leitura bíblica e ao conhecimento detido pela Igreja, e por meio dessa atitude houve o seu desenvolvimento que permanece até os dias atuais. Embora a ideia inicial fosse apenas para a leitura da bíblia e educação cristã, se transformou em algo que concede hoje à todas as pessoas acesso à educação. “Não se tratava de uma cultura perfeita; longe disso. A cultura se centrava na igreja e não no reino, e carregava todos os pecados e fraquezas de 1
Nome dado, pelos seguidores de Jesus, à mensagem de proclamação da vinda do Salvador ao mundo e seu significado literal é conhecido como Boas-Novas, Boas notícias.
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qualquer comunidade humana pecaminosa. Mas era uma cultura genuína e unificada – e cristã” (SANDLIN, 2016, p. 27)
A unidade e centralidade desta cultura sofreu indiretamente um abalo com a Reforma Protestante, onde os reformadores e os papas, conflitavam a despeito do contexto teológico. Nas 95 teses que Lutero pregou na porta da capela Wittemberg em 1517, não tinha nenhuma que se referia à questão cultural. As divergências não eram sobre a cultura cristã em si, pois a cristandade era a base de todos (SANDLIN, 2016). É possível traçar a partir da Reforma uma linha sobre o declínio desta cultura, onde a instituição declinou, e juntamente dela, sua cultura. b) A PERDA DA CULTURA CRISTÃ É perceptível o quanto esta cultura perdeu sua força que era a sua glória em séculos passados, e isso se deu através de vários marcos na história, como a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que fez com que muitos se afastassem por conta desse conflito, exclusivamente religioso; O iluminismo (Séc. XVII – Séc. XVIII), que trouxe a perspectiva de vida desvinculada da religião e tradição, e ligada apenas à razão; O romantismo (início do séc. XIX), que se tornou conhecido por ser o movimento contrailuminista, onde o foco era o indivíduo e sua interiorização, com todas as virtudes e principalmente, com todas as suas mazelas; O darwinismo (Séc. XIX), que incita a exclusão da criação de Deus e coloca explicações cientificamente evolutivas para toda a natureza; O método histórico-crítico (também Séc. XIX), que desautoriza a ortodoxia bíblica, ou seja, a Bíblia seria somente um conjunto de escritos; O modernismo (final do Séc. XIX), onde seus adeptos “ [...] amavam a heresia – eles amavam odiar o passado” (SANDLIN, 2016, p. 84-85). Na sociedade atual, mesmo com as sombras do passado, a cultura cristã ainda está perdurando e não está totalmente aniquilada. Hoje, se encontra numa posição de reestruturação, de novas formas de “fazer cultura” junto com diversas denominações que buscam resgatar este engajamento cultural, que nunca deveria ter sido abalado. “A lição da história leva a entender que existem tradições duradouras capazes de serem temporariamente obscurecidas, mas guardam sua força implícita, e
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cedo ou tarde, voltam a se firmar.” (DAWSON, 2014, p. 113, apud SANDLIN, 2016, p. 96)
c) PROTESTANTISMO NO BRASIL Esse breve relato histórico foi fundamental para entender como a cultura cristã teve seu início, seu auge, suas oscilações e por fim sua letargia atual, servirá para enganchar este recorte na história, pois a discussão a ser tratada é exatamente a de quando e como a cultura cristã no âmbito do protestantismo no Brasil teve suas alternações. Seu início se deu em 1810, onde os protestantes estrangeiros tiveram a permissão da igreja Católica de entrada ao Brasil. Os ingleses foram aqueles que ingressaram com as missões evangelísticas, porém, institucionalmente, os alemães foram os pioneiros, com a implantação de uma comunidade em 1824 em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Notavelmente, o protestantismo no Brasil reproduz o protestantismo norteamericano, e isso acarretou a inserção de uma cultura que era muito diferente da realidade brasileira. Essa linha religiosa foi recebida “como vanguarda do progresso e da modernidade” (MENDONÇA, 1990), porém com a sua súbita implantação houve uma busca de princípios que não faziam parte daquele contexto. “Assim, se no passado o protestantismo brasileiro apontou para o futuro, hoje ele aponta para o passado – aliás um passado inexistente. (MENDONÇA, 1990, p.13)
Todo esse movimento ocorreu paralelamente com muitas agitações nacionais, como por exemplo a Revolta Armada (1891-1893), Revolução Federalista (18931895), Guerra dos Canudos (1893-1897), entre outras. No âmbito social e cultural, “por causa das pressões católicas, as igrejas protestantes tenderam a se afastar da sociedade, fazendo clara distinção entre a comunidade cristã e cultura” (FERREIRA, 2013). Além disso, por conta do seu próprio desdobramento institucional, que muitas igrejas tradicionais obtiveram, dificultaram “ainda mais a aproximação do protestantismo tradicional das realidades sociais do país” (MENDONÇA, 1990).
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Entre os anos de 1970 e 1980, começou uma nova etapa no protestantismo brasileiro: os esforços se voltaram para outras áreas, como evangelização e educação, deixando aos poucos a prioridade de implantação. “A cultura anglo-saxônica, predominante entre as igrejas fundadas por missionários e imigrantes, também começa a dar espaço para assimilação da cultura brasileira” (FERREIRA, 2013)
O último censo do IBGE (2010), constou que 22,2% da população brasileira se declara protestante (transitando entre tradicionais até pentecostais). Em 210 anos de história, se teve muitas mudanças na forma de se reunir, de construir, de se organizar liturgicamente, de como a igreja se relaciona com a sociedade e como a comunidade protestante produz cultura. d) EM BUSCA DA IDENTIDADE Há dois assuntos que são pertinentes ao protestantismo brasileiro e com o tempo acabaram se dispersando: o papel social da igreja e a busca pelo engajamento do espaço litúrgico. O interessante é a forma intrínseca que esses dois fatores se relacionam, desde a forma da disposição espacial até a ordem de culto. i) A igreja e as questões sociais. “A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1:27, grifo meu)
O envolvimento protestante com a sociedade teve origem através de suas missões evangelísticas em seu primórdio. E no início do século XX, a atuação da igreja, segundo Silva (2009), “se dava por iniciativas de membros das igrejas, como visitas a hospitais, asilos e presídios com a finalidade de ‘levar a palavra de Deus’.” Se nota que o escopo continuou o mesmo, porém pendendo para o lado acional. As igrejas históricas têm perdido espaço na esfera social, e as denominações pentecostais têm sido muito atuantes. Entretanto, o chamado para o engajamento social é para todas as igrejas, desde a mais antiga até as mais recentes, e se existe a perda desse aspecto, existe a perda da própria identidade. “Colocando nas suas verdadeiras perspectivas, como cumprimento e superação da justiça, a caridade é, por excelência, o novo mandamento, o sinal pelo qual se conhece o cristão [...]” (BIGO, 1969, p.38)
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Dentro do meio cristão, ações sociais são conhecidas como boas obras, e estas, como citado acima, funcionam como uma forma de testificação e “não são meros apêndices da missão, mas uma parte integral da manifestação presente do reino [...]” (PADILLA, 1992, p. 202, apud SILVA, 2009, p. 40). Atualmente, com 26,5% da população brasileira abaixo da linha da pobreza (IBGE, 2018), com muitos em situação de risco (física e espacial), situação de rua e falta de acesso à informação, a igreja não pode ficar (e já algum tempo não está) inerte acerca da realidade brasileira. ii) A liturgia, o culto e o espaço No universo cúltico protestante, possui três fatores que se interligam e juntos criam uma narrativa: liturgia, culto e espaço. A liturgia se caracteriza como um conjunto de práticas, técnicas e uma ordem, que unidas formam o culto e que traz a memória de como os cultos dos antepassados se davam. E geralmente, os cultos ocorrem em espaços, e estes são chamados de espaços litúrgicos, que em sua forma materializada, são os templos. No Brasil, as igrejas “não desenvolveram o hábito de culto segundo liturgias elaboradas e comuns” (MENDONÇA, 1990), pois como mencionado, o protestantismo implantado não focou no desenvolvimento das práticas religiosas. Posteriormente, houve a junção de várias linhas denominacionais (puritanismo inglês, pietismo 2 metodista, informalidade norte-americana e reavivamentos) que deram origem a liturgia que se tem hoje nas igrejas contemporâneas. Entretanto, segundo Mendonça (1990), nasce dessas linhas a crise do culto protestante. Esta crise, basicamente, se refere ao “esvaziamento simbólico dos sacramentos” (MENDONÇA, 1990), oriundo do medo de assemelhar-se a Igreja Católica. Sem cruz, sem sinos, sem adornos, sem vitrais, sem batistérios, sem simbologias, e, consequentemente, sem identidade. Na realidade, “os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo [...]” (CONFISSÃO de Fé de Westminster, 1649), e possuem um papel substancial no cenário religioso, pois eles “oferecem uma experiência de adoração rica e multisensorial que envolve toda a 2
“Ato de afirmar a superioridade das verdades da fé sobre as verdades da razão.” (AURÉLIO, 2019)
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pessoa através do toque, do paladar e do cheiro.” (BEVINS, 2019). No contexto protestante, os únicos sacramentos que permaneceram pós-reforma foram o batismo e a Ceia do Senhor, e até mesmo estes sofreram um esvaziamento simbológico em muitas denominações. O que não deveria acontecer dentro dessa perspectiva era o empobrecimento do culto, tanto espacial quanto nas práticas, porém foi inevitável. Desta forma, improviso e o desprendimento se incorporaram na igreja protestante no Brasil, pois isso nasceu com as primeiras igrejas (pessoas reunidas) que eram subordinadas as leis regentes do período Colonial e Imperial do Brasil. “[...] as sobreditas igrejas e capelas sejam construídas de tal modo que externamente se assemelhem a casas de habitação; e também que o uso dos sinos não lhes seja permitido para o fim de anunciarem publicamente as horas do serviço divino” (ABUMANSSUR, 2004, p. 100 apud DUNCAN, p. 26)
Sendo assim, o significado do espaço litúrgico protestante é “qualquer lugar onde a comunidade reúne-se ou atue. [...] O lugar da igreja não é espacial, mas temporal” (ABUMANSSUR, 2004). Esse desprendimento com o espaço é compreensível, pois hoje o espaço litúrgico não é sagrado por si só, o que torna um lugar sagrado é ocupação do mesmo. A solução para esta crise é uma reforma, não religiosa, e sim interna. Ela ocorrerá a partir do momento que haver um novo entendimento da relação Criador e as criaturas. Além disso, a compreensão da história e as tradições cristãs tornará possível a assimilação de qual contexto maior a igreja está inserida e de quem ela é, pois até hoje o protestantismo brasileiro “não se identifica por si mesmo, mas só por oposição à Igreja Católica” (MENDONÇA, 1990, p. 203). Essa reforma será responsável por uma releitura da liturgia clássica no contexto contemporâneo que o Brasil está, um novo enredo de culto e um novo pensamento sobre espaço, como mais um artifício de adoração e contemplação, e assim haverá uma mudança de rumo em relação à tudo que está inserido na esfera da cultura cristã brasileira. 1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA Diante da linha de pensamento construída até aqui, a discussão principal será a construção do espaço litúrgico protestante com um cuidado estético que atenda a demanda social que existe atualmente.
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Como mencionado, o lugar sagrado para os protestantes tem uma conotação diferente da comum, ou seja, “a sacralidade de um espaço passa pela mediação da vida comunitária, e esta se coloca em uma posição dependente do consenso entre os indivíduos” (ABUMANSSUR, 2004, p. 09). Para desenvolver a discussão proposta, há a necessidade de trabalhar por meio de uma linha tênue entre a dessacralização do espaço e a ausência simbólica excessiva. Foi
tratado
sobre
o
protestantismo
generalizado,
sem
distinção
denominacional, porém quando se adentra mais profundamente no assunto de espaço arquitetônico, é necessário que haja a divisão. De acordo com Abumanssur (2004), o protestantismo histórico pendeu para o traçado neogótico para construir seus templos sem se apegar aos simbolismos, e os pentecostais, partiram desse princípio mais incisivamente. Os cristãos protestantes creem que “[...] o Altíssimo não habita em casas feitas por homens [...]” (At 7:48), porém entendem a necessidade de um espaço para a comunhão e os cultos. O programa espacial se baseia, em sua maioria em “soluções mais funcionais [...], que atendem às necessidades mais urgentes dos membros” (ABUMANSSUR, 2004, p. 105), quando se tem a oportunidade do espaço ser projetado para ser realmente um templo. Quando esse cenário é desfavorável para a execução de um projeto, galpões e salões adaptados se deparam com o improviso para atender as necessidades mencionadas. Por fim, as duas situações não incluem a estética como um fator substancial assim como os outros critérios. O questionamento que se forma, é de qual é a necessidade da estética espacial nos templos protestantes. Se toda a cultura cristã tem seu intuito de glorificar ao Criador, e a construção de templos faz parte da cultura cristã, o engajamento nisto é algo a ser considerado, pois até “os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl 19:1). Então, porque o espaço onde os cristãos protestantes se reúnem não poderia seguir o mesmo princípio? Os templos protestantes podem se tornar um objeto de glorificação a Deus e a demonstração cultural, além do conceito litúrgico e pedagógico da arte sacra e antiga. A partir desse pensamento, pode haver a inserção da arte sacra bem como a arte religiosa, pois a união das duas neste contexto traz a complementariedade. A arte religiosa carrega consigo as motivações, temáticas e sentimentos religiosos, já
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a arte sacra possui um caráter normativo, regulatório e conceitual, que ocorre igualmente na liturgia de culto. A proposta é o desenvolvimento projetual de uma igreja protestante, onde as duas linhas-mestras, espaço e função social, serão guiadas pelo senso estético e o cuidado acerca da dessacralização espacial. O objetivo não é transformar a igreja protestante em uma releitura da igreja Católica, e sim, uma mudança de perspectiva em relação aos sacramentos, aos símbolos, a liturgia e a relação igreja-sociedade. O espaço ideal protestante será aquele que se torna sagrado enquanto os fiéis estiverem lá, e ao saírem, se transfigurará em um objeto, um monumento que aponte ao Divino, e assim este pode configurar-se como um referencial de beleza e contemplação. A arte de contemplar e observar, permite compreender o significado da mesma, onde se adquiri o “conhecimento de Deus e das realidades divinas não por vias e métodos discursivos e sim, pela vivência” (AURÉLIO, 2019). “Todos veem, porém, somente alguns observam e enxergam muito além do que realmente vê. Para olhar usa-se os olhos, para observar, o pensamento” (RICARDO, 2011)
Então aqui se dá a importância dos sacramentos embutidos no espaço físico litúrgico, pois no momento que o indivíduo observa e contempla um templo que possui estes atributos, ou ele fará ligações com a liturgia imaterial (as práticas) ou despertará o desejo de entender como a forma materializou o abstrato. A igreja protestante, assim como as outras, possui seu papel social. À visto disto, é possível mencionar os espaços de muitas igrejas que não possuem uma estrutura que atenda até mesmo os membros, muito menos a sociedade. Os espaços delimitados, como casas, galpões, salões, (mesmo não tendo nenhuma restrição) influenciam no programa institucional, onde tudo passa a ser improvisado: o espaço para o culto acaba se tornando espaço para as aulas na Escola Dominical, o local para eventos se transforma em abrigo para necessitados, e assim tudo acontece em um único espaço. A igreja diante da função (tanto interna quanto externa), deve ter seu espaço pensado também para atender essas demandas. Há muito tempo, as igrejas deixaram de ser somente o templo ou uma capela. Surgiu a necessidade de divisão de idades, de acolhimento, de espaços sociais, de cantinas, dentre outros. Assim como uma questão trazida no livro de Abumanssur
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(2004), num debate sobre construção e arquitetura de templos, um dos dirigentes da igreja disse: “Queremos um edifício que sirva não apenas para os cultos, mas que possa ser usado durante a semana para outras atividades”. Está solicitação é condizente com a situação atual, onde a igreja se torna um objeto de uso e benefício da própria região e a sociedade.
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2. ANÁLISE URBANA E JUSTIFICATIVA DO LOCAL O local de implantação do projeto será no município de Guarulhos, que faz parte da Região Metropolitana de São Paulo. Com seus 459 anos se caracteriza umas das cidades mais antigas de todo o estado paulista. De acordo com o último censo do IBGE (2010), a população de Guarulhos chegou a 1.221.979 habitantes, e no ano de 2017, chegou ao 12º lugar no ranking de maior economia do País. Segundo a Atlas Brasil (2013), em 2010, um pouco mais de 99,00% da população já tinha água encanada, energia elétrica e coleta de lixo. É um bom índice, porém a situação atual da cidade pode mostrar que mesmo tendo esses três fatores essenciais, há muitos outros elementos que compõe uma boa qualidade de vida, como por exemplo, a mobilidade e infraestrutura urbana, que deixam a desejar. Após esse breve relato sobre a cidade, é possível partir para a análise micro, no caso, do bairro de implantação. O bairro principal leva o nome de Morros e os bairros circundantes são: Vila Rio, Cocaia, Bela Vista e Taboão. Estes se encontram na região oeste do município, onde se inicia a topografia acentuada por conta da proximidade com a região do Cabuçu, umas das regiões mais altas de Cidade.
Imagem 1: Mapa de Localização. Fonte: Wikipedia/Guarugeo - Edição Autoral
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2.1. Condicionantes legais 2.1.1. Legislação O Plano Diretor de Guarulhos passou por uma revisão que foi promulgada em 04 de junho de 2019, e no que se refere a Lei de Parcelamento e Uso e Ocupação do Solo (Zoneamento) juntamente com seus índices, ainda está em vigor a antiga (2007), porém já foi feito um projeto de Lei para a elaboração da mesma. Os levantamentos indicaram que a região está dentro da área de Zona Mista - A, que, de acordo com a Lei Municipal nº 6.253: “[...] corresponde às áreas da cidade inseridas na Macrozona de Urbanização Consolidada e em parte da Macrozona de Dinamização Econômica e Urbana, nas quais se pretende estimular a diversificação de usos, permitindo-se maior densidade construtiva” (GUARULHOS (SP), 2007)
Imagem 2: Mapa de Zoneamento. Fonte: Autoral/QGis
A Zona Mista – A, permite construções de uso residencial – R e não residencial - NR, e desta forma, as igrejas e locais de cultos estão no grupo de Prestação de Serviços, e dentro dessa classificação, são intituladas como Atividades Toleráveis (S2) e Atividades Incômodas (Sigla S3) e são potencialmente Geradores de Ruídos, assim para a sua instalação há a condição de providenciar um tratamento acústico na edificação, no caso das Atividades Incômodas, é necessário que apresente também
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o Estudo Prévio de Impacto à Vizinhança e Relatório de Impacto da Vizinhança – EPIV/RIVI. Tabela 1: Tabela de Índices da Zona Mista A. Fonte: Plano Diretor de Guarulhos 2007.
NR
ÍNDICES URBANÍSTICOS DA ZONA MISTA A Lote Recuos Mínimos (m) S Mínimo C.A. T.O. Prestação Frente Fundos Laterais (m²) de Serviço 125 2,5 0,8* 5* 3* 3*
*Índices se referem a volumes superiores à 9,00m de altura.
2.1.2. Uso e Ocupação do Solo O uso que mais predomina na região é o Uso Urbano Residencial Consolidado de Alta Densidade (GuaruGEO), onde mesmo com a essa nomenclatura, há diversos pequenos e médios comércios de bairro e alguns edifícios notáveis.
Imagem 3: Mapa de Uso do Solo. Fonte: Autoral/QGis
O segundo uso predominante, podemos considerar como um não-uso, pois são os espaços caracterizados como solo exposto ou vegetação (tipos variados), que são mais recorrentes na parte mais alta do bairro. No caso do solo exposto da macrorregião, se tratam de loteamentos e terreno privado de um edifício residencial.
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2.1.3. Gabarito de Altura Por ser um bairro mais residencial, as edificações não têm a tendência de serem muito altas, o gabarito mais alto da área de estudo é Térreo +6, mas a predominância é de Térreo à Térreo +2.
Imagem 4: Mapa de Gabarito de Altura. Fonte: Autoral/Guarugeo
2.1.4. Sistema Viário e Mobilidade Urbana A hierarquia do sistema de vias foi elaborada em 6 níveis: •
Vias Arteriais (II): São “vias urbanas que possibilitam o tráfego normal e fácil deslocamento para atingir de um ponto ao outro de um mesmo bairro ou bairros distintos” (PMUG 3, 2019);
3
Plano de Mobilidade Urbana de Guarulhos.
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•
Vias Coletoras: Mesmo não estando no Plano de Mobilidade, estas vias são aquelas que possuem o papel de coletar o tráfego das vias arteriais;
•
Vias Locais I: São as vias que têm o “interesse local de acesso aos lotes, vias em bairros residenciais” (PMUG, 2019);
•
Vias Locais II: Estas são as vias mais restritivas dentro de condomínios;
•
Vias de Pedestre: São aquelas destinadas “[...] ao trânsito de pedestre, definidas pela administração” (PMUG, 2019).
Imagem 5: Mapa de Sistema Viário e Mobilidade. Fonte: Autoral
Se tratando do sistema de mobilidade urbana, a região é abastecida por dois terminais de ônibus, municipal e intermunicipal, tendo ônibus para o Centro da cidade e também para o Bairro da Penha, Armênia e Tucuruvi em São Paulo. Por ora, o transporte público em Guarulhos se resume em ônibus, no entanto, no Plano de Mobilidade há previsões de implantação de Metrô e dar continuidade na instalação de sistema de Trem, porém não nesta região. 2.2. Condicionantes naturais 2.2.1. Hipsometria O estudo hipsométrico revela que a altimetria da macrorregião 4 vai da cota 750m até a cota 950m. A região é próxima do Morro do Pico Pelado, um sítio do Geoparque Ciclo do Ouro Guarulhos, que possui um grande valor geológico por conta
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Considerar o bairro principal, Morros, juntamente com os bairros circundantes.
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da presença rochas e minerais diferenciados, como o “marunditos e topazitos” (AGUILAR et al.,2012, p. 560).
Imagem 6: Mapa Hipsométrico - Fonte: Autoral/QGis
2.2.2. Hidrografia Há dois tipos de curso d’agua na região: perenes, que são “os que correm durante o ano todo”, e os intermitentes que “são aqueles cujos leitos secam ou congelam durante algum período do ano” (CBHSF, 2014)
Imagem 7: Mapa hidrográfico - Fonte: Autoral
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2.3. Terreno O terreno está localizado no final da Avenida Gaivota Preta e no início da Rua Trinta e Cinco A. No bairro, o terreno é conhecido como Monte Santo do Cocaia ou só Monte, onde muitos fiéis se reúnem para orar e, simbolicamente, ficarem mais perto de Deus. A delimitação do terreno foi feita com base nas áreas com menos árvores (para evitar a remoção destas) e por um muro, pois não tem lote existente, e assim, a área quadrada do terreno ficou 14.266,31 m².
Imagem 8: Microanálise do terreno. Fonte: Autoral
Imagem 9: O terreno possui 29,44% de declividade. Fonte: Autoral.
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A escolha do terreno se deu através da junção de vários fatores: o seu uso atual e a simbologia que possui, pois, os indivíduos que frequentam o local têm o objetivo de se conectar com o Divino. Assim a questão de uma parte da demanda de uso do projeto proposto já é existente; a vista e a natureza, que permitem a possibilidade de contemplação tanto no terreno quanto além dele (até onde os olhos alcançam). Por conta da legislação, como mencionado, há a necessidade de apresentar a EPIV/RIVI. A localização do terreno no bairro e um dos fatores naturais, as árvores, auxiliam na diminuição do impacto sonoro e na paisagem urbana, além das diretrizes urbanísticas, que serão vistas no próximo tópico. O caráter do bairro é residencial com comércios, e há também muitos terrenos subutilizados e baldios, o terreno escolhido é umas das áreas subutilizadas, mesmo com essa característica, há um uso e frequentadores, ainda que não haja infraestrutura adequada dentro do terreno
Imagem 10: Fotos do Terreno. Fonte: Autoral
Há um curso d’agua intermitente próximo ao terreno, que possui um grande potencial para as propostas urbanísticas do bairro. As árvores existentes são altas e produzem bastante sombra, e na clareira, permite a entrada de luz através das folhagens. 2.4. Análises do Bairro Para auxiliar no desenvolvimento desta seção, foi elaborada uma pesquisa com 48 pessoas que residem ou já residiram no bairro e nos seus arredores com questionamentos acerca dos aspectos positivos e negativos da região, sobre as
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calçadas, pontos de referência e de como o bairro pode se tornar ideal. Durante o desdobrar do texto serão inclusos os dados da pesquisa. 2.4.1. Estatísticas e Igrejas da Região As informações estatísticas para este cenário são escassas, porém a Associação Empresarial e Comercial de Guarulhos (AEC) fez um levantamento em 2009 sobre os templos religiosos na cidade. Naquele ano, foi constatado a existência de 576 templos religiosos registrados, sendo 86% destes são templos evangélicos, porém consideramos a hipótese de que atualmente este número seja muito maior. REGISTRO DE TEMPLOS RELIGIOSOS EM GUARULHOS (ACE-GRU/2009) 600 500 400 300 200 100 0
Registro de Templos Religiosos em Guarulhos (ACE-GRU/2009)
Gráfico 1: Registro de Templos Religiosos em Guarulhos. Fonte: ACE-GRU/2009
Um grande questionamento que acompanha estes dados é o fato de muitos templos não possuem alvará de funcionamento, se instalando precariamente em galpões e residências para as reuniões, a falta de fiscalização dos órgãos competentes contribui para que essa situação se perpetue. De acordo com o presidente da AEC de Guarulhos, Wilson Lourenço, “[...] em São Paulo tivemos tragédias por falta de atenção às instalações de igrejas e não podemos deixar que ocorra a mesma coisa por aqui” (2009). Aqui é possível relacionar umas das temáticas tratadas no capítulo anterior, onde nos dias atuais é muito comum a utilização de espaços improvisados e, infelizmente, sem estruturas adequadas para um ajuntamento seguro de fiéis. Através de um levantamento da região, foram relacionadas 32 igrejas evangélicas no perímetro da macrorregião, porém somente 3 destas igrejas possuem
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uma estrutura relativamente adequada e que têm elementos que remetem à arquitetura religiosa.
Imagem 11: Mapa de levantamentos de igrejas na região do Morros. Fonte: Autoral
2.4.2. A urbanidade do bairro e sua paisagem Segundo o Instituto Brasileiro de Florestas (2019), a paisagem urbana “é composta por trânsitos de carros, fluxo de pedestres, indústrias, edifícios, construções, poluição sonora, visual e principalmente do ar.” O interessante é entender como a paisagem [urbana] não é só visual, mas também atinge os outros sentidos. A definição apresentada pode ser relacionada com o conceito mais poético apresentado por Gordon Cullen (1961), já na sinopse de seu livro, onde a paisagem urbana é “a arte de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano”. Portanto, não se trata somente dos elementos (carros, pessoas, edifícios), mas de como todos estes devem conversar e se relacionar nesse organismo chamado cidade. “Os bairros são regiões urbanas de tamanho médio ou grande, concebidos como tendo uma extensão bidimensional, regiões essas em que o observador penetra (para dentro de) mentalmente e que reconhece como tendo algo de comum e de identificável” (LYNCH, 1960)
A partir deste conceito de bairro, é possível entender como a paisagem urbana se configura no bairro Morros. Tudo o que se vê, escuta, toca ou se cheira é a
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identidade paisagística e isto fica guardado na mente daqueles que frequentam ou residem a região.
Imagem 12 e 12A: Início da Avenida Rosa Molina Pannocchia e Alta da mesma Avenida. Fonte: Google Maps
Se as vias são os meios pelos quais “as pessoas observam a cidade à medida que nela se deslocam e outros elementos organizam-se e relacionam-se ao longo destas [...]” (LYNCH, 1960, p. 58), o que fica à vista do observador são comércios tentando a ascensão, casas inacabadas, calçadas intransitáveis, ruas para automóveis e um Shopping que está definhando, com suas lojas fechando e restando somente o supermercado e o cinema para o “lazer” A paisagem é composta por elementos que servem como pontos de referência, e de acordo com Lynch (1960) “são locais de acentuada percepção”. Segundo a pesquisa, 34,78% dos entrevistados têm como ponto de referência o Shopping Pátio Sonda e 26,08% têm os cemitérios da região como um referencial, mesmo estes não estando tão próximos da microrregião de estudo.
Imagem 13 e 13A: A esquerda, o Shopping Pátio Sonda, e a direita, o Cemitério. Fonte: Google Maps
A região possui poucos espaços caracterizados como recintos, com “o sossego e a tranquilidade de sentir que o largo, a praceta, ou o pátio tem a escala humana” (CULLEN, 1961, p. 27), tudo e todos ficam tão próximos do tráfego, que os ruídos fazem parte da paisagem urbana e o perigo é iminente para os transeuntes.
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a) O caminhar Segundo Jean Gehl (2010): “Caminhar é um meio de transporte, mas também um início potencial ou uma ocasião para outras atividades”. Como apontado acima, é através das vias que o indivíduo observa sua cidade, e há duas maneiras: a pé ou algum tipo de transporte. Analisando de maneira geral, o ato de caminhar é um modo de percorrer que permite uma percepção de espaço mais intenso, mais vívido. O transporte público, por exemplo, permite a observação de vários espaços, porém limitado à velocidade que o condutor está, a janela estar embaçada ou não e não há a possibilidade de parar e observar mais um pouco, tudo é consequência do tráfego rápido que há nas grandes cidades. Já o transporte individual, diminui mais ainda as chances de percepção espacial que um indivíduo poderia ter. Sobre prioridades no âmbito de vias, é importante ressaltar que entre recapear a avenida e concertar os buracos nas calçadas, ficam com a avenida. No caso do Morros, as avenidas principais e boa parte das ruas locais são relativamente boas em comparação com as calçadas. São 80,43% dos moradores que consideram as calçadas como ruim ou péssimas, e afirmaram que são esburacadas e desniveladas.
Imagem 14: Um exemplo das calçadas da região. Fonte: Google Maps
b) A iluminação Um dos problemas da região citado pelos moradores foi a ‘Iluminação Pública Precária”. É válido mencionar que 34,78% indicou que falta de segurança é uma das problemáticas do bairro também. Assim é fácil entender que “a iluminação pública do
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espaço urbano tem grande impacto na orientação, segurança e qualidade visual durante a noite” (GEHL, 2010, p. 180, grifo meu). c) A arborização A grande parte das árvores do bairro se concentram na parte mais alta, onde a urbanização ainda não chegou. O restante das árvores está alocado em calçadas minúsculas que causam uma disputa de espaço entre elas e os pedestres.
Imagem 15 e 15A: Exemplos da implantação das árvores. Fonte: Google Mops
A massa arbórea é de grande importância para a paisagem urbana, para Cullen (1961) as árvores podem ser “o papel de parede vivo que decora [...]” (CULLEN, 1961, p. 85), além de servir como sombra, filtro e até uma escultura. De acordo com Ronan Machado (2017), os benefícios da arborização urbana são inúmeros: “melhoria da qualidade do ar; redução dos níveis de ruído; redução das ilhas de calor; proteção/alimentação da avifauna5; redução do escoamento superficial.” d) Conclusões Não se pode deixar de considerar as qualidades que o bairro possui, mesmo com muitas problemáticas. Na pesquisa, 61% dos entrevistados consideram a localização do bairro muito boa, pelo fato de ter fácil acesso as rodovias e outras avenidas principais. No entanto, esse fácil acesso é bom, mas não o suficiente para compensar as diversas deficiências. As conclusões que foram tiradas através das análises foram que o bairro possui muitos comércios, tanto que um deles, Shopping Pátio, serve como ponto de referência para os moradores, e estes em sua maioria gostam de morar na região. Entretanto, há indagações referente a calçadas ruins, iluminação pública precária, sensação de insegurança e a presença de mais comércios e áreas de lazer, 5
Conjuntos de aves de uma região.
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que podem (assim como outras tantas deficiências urbanas) ser resolvidas com ações urbanísticas para melhorar a vida dos moradores e usuários do bairro, e fazer com que a região seja vista, usada, caminhada, ouvida, e principalmente, identificada com todo o seu potencial. 2.4.3. Diretrizes Com base nas análises feitas e a pesquisa, foi desenvolvido um plano de diretrizes para melhorias na região de estudo e potencializar o projeto. Tendo em consideração o questionamento de como o bairro poderia se tornar ideal, muitas respostas de soluções refletiram as deficiências existentes, assim a primeira ação urbanística a ser mencionada é a implantação de áreas verdes e com lazer. A topografia existente, dificulta o caminhar pela região, além da escassa oferta de atrativos como calçadas amplas, fachadas ativas e quadras permeáveis. Dentre as propostas de melhorias estão a adequação das dimensões e acessibilidade das calçadas, a criação de áreas de descanso e permanência em patamares que possibilitam não apenas o descanso, mas também a contemplação da paisagem. Fazer uma parada em um local que o indivíduo não se sente seguro faz com que a subida (ou descida) seja feita de uma vez só, e assim cansativa. Segundo Gehl (2010), “sempre que as pessoas param um pouco, elas procuram lugares no limite do espaço, um fenômeno que pode ser chamado de ‘efeito dos espaços de transição’ [...]”. Espaços assim possuem o benefício de ter um lugar seguro com as costas protegidas e com a visão da rua, além do descanso, e desta forma, podendo se caracterizar como os recintos do George Cullen. Haverá o incentivo à fachada ativa no bairro terá o objetivo de trazer os moradores para suas ruas, para conhecer o bairro, e fazer com que outras atividades além de compras ocorram nesse trajeto, além de incentivar as atividades já existentes, como feiras livres. No âmbito da iluminação pública, será trazido a ampliação da quantidade de postes de luz (proposta de instalação subterrânea) para melhorar a sensação de segurança dos moradores e também para combater a ideia, com o auxílio das fachadas ativas, de “que não há muito o que esperar após o pôr do sol” (Ibid., p. 180).
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A área mais próxima do terreno escolhido terá algumas ações especificas nas quadras existentes: inclusão do uso comercial em algumas quadras para atender a demanda de comerciantes existentes; permeabilidade de quadras muito extensas; reloteamento. Por fim, para melhorar o acesso ao lote, será proposta a criação de uma nova linha de ônibus que sairá do terminal municipal, e terá o seu trajeto próximo ao terreno. Uma rua local será implantada no terreno com acesso restrito a carros de idosos e deficientes.
Imagem 16: Mapa de Diretrizes. Fonte: Autoral
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3. ESTUDOS DE CASO Os estudos de caso foram realizados com o objetivo de entender como o protestantismo mais atual empregou sua fé e doutrina na arquitetura, além de entender com o catolicismo a inclusão de setores “além-templo” e algumas releituras de linhas arquitetônicas arcaicas que marcaram a arquitetura religiosa no mundo. Segundo Abumanssur (2002), no protestantismo: “O grande estilo medieval é traduzido aqui sem a sua dimensão numinosa, preserva as formas indicativas: janelas, pórticos, às vezes um transcepto, mas se livra das referências simbólicas de um mundo que pertence ao passado.” (p. 51)
Ao final será feito uma análise comparativa dos projetos para produzir e apresentar as relevâncias que serão levadas à execução do projeto deste trabalho. 3.1. Catedral Anglicana de São Paulo
Imagem 17: Vista da fachada da Catedral. Fonte: Amar Fotografias
O anglicanismo é uma das vertentes tradicionais do protestantismo, e em São Paulo (capital) teve seu primeiro templo em 1873, na mesma época que a Rainha Vitória reinava no Reino Unido, e que tinha o objetivo de atender à comunidade britânica que se formou com a construção da linha de ferro da empresa Railway. O templo era localizado no centro da cidade, no bairro da Santa Ifigênia, porém em 1963 foi proposto um novo templo e assim, sua pedra fundamental foi lançada no Alto da Boa Vista.
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3.1.1. Ficha Técnica Tabela 2: Dados Técnicos da Igreja Anglicana de São Paulo.
Autor Ano Área6
Não encontrado 1963 (Início) – 1967 (conclusão) 3.049m²
Localização Rua Com. Elias Zarzur, nº 1.239 - Alto da Boa Vista/SP 3.1.2. Implantação O terreno está localizado em uma área residencial de médio/alto padrão e possui 7.700m² de extensão. Através dos levantamentos a Igreja Anglicana, além do templo e a torre sineira (área estudada), possui outros dois blocos que são, possivelmente, a área administrativa e de serviços. O acesso ao lote se dá somente pela Rua Comendador Elias Zarzur. O edifício principal está recuado significativamente da rua e permite que algumas árvores incremente a composição visual, fazendo com que estas sejam parte integrante e essencial do conjunto.
Imagem 18: Imagem de Satélite de localização. Fonte: GeoSampa/Autoral
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Área total construída, porém, a área estuda foi levantada através de redesenho somente do espaço do templo, que no caso, se trata de aproximadamente 1.086,50m².
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3.1.3. Programa de Necessidades Tabela 3: Programa de Necessidades da Catedral Anglicana. Fonte: Autoral
SETOR
Templo
Externo
AMBIENTE
ÁREA
Torre Sineira
25,00 m²
Nave
452,00 m²
Nave lateral (Transepto)
31,25 m²
Altar
142,00 m²
Altar-mor
91,00 m²
Órgão (Transepto)
31,25 m²
Mezanino
74,00 m²
Varanda
240,00 m²
Estacionamento
-
Total
1.086,50 m²
3.1.4. Função, Forma e Materialidade A Catedral Anglicana traz, em sua disposição espacial, “a dimensão humana da arquitetura, introduzida inicialmente pelas basílicas cristãs primitivas, ao darem percurso e ritmo e o caminhar do homem dentro do edifício, perdida nos estilos românico e gótico [...]” (ABUMANSSUR, 2004, p. 12). Por mais que seu pé direito seja alto e seu espaço seja mais de 1.000m², ainda sim respeita a proporção humana. A planta tem o formato de cruz latina e a simetria que se forma revela o eixo onde o espelhamento ocorre. É composta por uma nave central, os altares e os transeptos, que no caso, são usados para o órgão e como uma espécie de nave lateral. O uso do mezanino também é presente no programa e serve para aumentar os espaços para os bancos.
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Imagem 19: Planta-baixa juntamente com o diagrama de entrada de luz. Fonte: Autoral
A inserção ao espaço religioso se dá subitamente, sem a utilização de um hall propriamente dito, porém o distanciamento do edifício em relação a rua, faz com que o estacionamento e a área externa obtenham essa função.
Imagem 20: Implantação simplificada. Fonte: Autoral
Esteticamente, a catedral possui elementos que firma o estereótipo de igreja, como por exemplo, a torre sineira e diversas cruzes. Possui também os vitrais que são componentes importantes para o âmbito religioso, pois eles vão além de só permitir a entrada de luz, são como liturgia materializada.
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Imagem 21: Elevação frontal. Fonte: Autoral
Os tijolos, as pedras e a madeira remetem à tradição e a rusticidade, sem perder a graça e a beleza. No interior da igreja, vê-se a presença de arcos ogivais no altar, referência à arquitetura gótica, e novamente a cruz aparece, neste caso em formato de cruz celta, muito associada ao anglicanismo.
Imagem 22: Croqui do interior da igreja (altar). Fonte: Autoral
3.1.5. Estrutura O templo é basicamente composto pelo telhado em madeira, e por conta do forro também de madeira não foi possível averiguar, de maneira concreta, se o telhado tem uma estrutura convencional ou não. No entanto, surgiu a hipótese de que o tipo do telhado utilizado poderia ser o “sem linha”, onde o elemento diagonal é cruzado, assim tanto internamente quanto externamente possui o mesmo formato triangular.
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Imagem 23: Caminho das forças, considerando a hipótese do uso do telhado sem linha. Fonte: Autoral
A estrutura do telhado está apoiada tanto nos pilares internos quanto os externos, e dessa maneira, reforça a sustentação da cobertura. Ao todo, foram contabilizados 16 pilares aparentes, porém, através da padronização destes foi possível prever onde poderia ter os outros pilares. Com base nas fotos, os pilares, ao que tudo indica, são de pedra ou algum material que o imite.
Imagem 24: Eixos dos pilares (com base nas fotos do Street View). Fonte: Autoral
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Os arcos ogivais, neste projeto, se apresentam mais com elementos estéticos do que estrutural. Por fim, a torre sineira está desvinculada da estrutura do templo, sendo assim um elemento independente. 3.2. Igreja Immanuel de Cologne (Alemanha)
Imagem 25: Vista externa da Igreja Immanuel. Fonte: Margot Gottschling
Na cidade Cologne haviam duas congregações protestantes independentes nos distritos de Flittard e Stammheim, e em 2004 elas se uniram e formaram a Congregação Evangélica Brückenschlag, que na tradução livre significa “construindo pontes”. Em 2013, o escritório Sauerbruch Hutton em colaboração com a própria congregação construiu a nova sede, incorporando sublimemente o significado do nome da igreja. Após 2013, o mesmo escritório elaborou o design de objetos litúrgicos para a igreja. 3.2.1. Ficha Técnica Tabela 4: Dados Técnicos da Igreja Immanuel.
Autor
Sauerbruch Hutton (Alemanha)
Ano
2013 (conclusão)
Área
880m²
Localização Bonhoefferstraße 8, 51061 Köln, Alemanha
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3.2.2. Implantação O terreno está inserido em um bairro com muitas residências e alguns pequenos comércios, além de estar próximo de um cemitério da região. Sua metragem quadrada é, aproximadamente, 3400m² e a disposição dos blocos do programa ocorre em 3 pontos: torre sineira (entrada principal), templo e centro comunitário (ao fundo), a capela e o columbário (ao lado do templo).
Imagem 26: Imagem de Satélite de localização. Fonte: Google Earth/Autoral
Existem duas entradas ao lote que permitem a fruição interna, pois a intenção dos arquitetos era justamente fazer com que os usuários pudessem acessar a rua de trás através da entrada da frente e vice-versa, e também há a questão da relação do cemitério e a igreja, onde ambos se conectam por conta da prática religiosa. Há também um ambiente, que na realidade é não é composto por paredes ou cobertura, é a praça (ou área verde) em frente ao templo, onde é utilizado para cultos e aulas ao ar livre, casamentos e outros tipos de atividades além de somente servir como uma passagem. “O espaço sagrado é então, qualquer lugar onde a comunidade reúne-se ou atue.” (ABUMANSSUR, 2004, p. 101).
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Imagem 27: Dois usos de vários – Casamentos e Cultos ao ar livre. Fonte: Architectural Review/Sauerbruch Hutton
3.2.3. Programa de Necessidades As áreas relacionadas abaixo são referentes as metragens quadradas internas, sem consideração às paredes. Tabela 5: Programa de necessidades da Igreja Immanuel. Fonte: Autoral
SETOR Social
Templo
Serviço
Externo
Circulação Total
AMBIENTE
ÁREA
Antessala
20,00m²
Foyer
58,00m²
Mezanino
85,00m²
Nave central
150,00m²
Altar
50,00m²
Órgão
20,00m²
Sacristia
13,00m²
Salas Multiuso
209,00m²
Escritório Paroquial
10,00m²
Cozinha
20,00m²
Banheiros e Serviços
33,00m²
Torre Sineira
7,00m²
Praça (Área Verde)
-
Capela
38,00m²
Columbário
-
Varandas
17,40m²
Circulação
44,00m² 774,40 m²
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3.2.4. Função, Forma e Materialidade Como mencionado no primeiro capítulo, a igrejas contemporâneas vão além do espaço do templo, e a Igreja Immanuel materializa isso de maneira deslumbrante. O “construindo pontes” pode ser associado com a relação da igreja e a comunidade, onde neste caso, não existe espaço sagrado e profano, mas sim uma igreja que está aberta para a sociedade e pronta pra servir: servir seus espaços, servir seus materiais, servir o chamado social. Além disso, de acordo com o site da congregação, eles empregam funcionários para trabalharem nos diversos usos que a propriedade possui, como na área administrativa e para aulas de música.
Imagem 28: Outros usos do espaço da Immanuel. Fonte: Architectural Review/Sauerbruch Hutton e Edição Autoral
Por mais que haja toda essa abertura social, eles priorizaram a questão religiosa e isso se concretizou na disposição do templo, do seu tamanho em relação aos outros blocos e assim se tornando o ponto focal do projeto. A igreja “reinterpreta a tipologia da basílica clássica para a necessidade de uma paróquia contemporânea” (FUNDACIÓ MIES VAN DER ROHE, 2015, tradução minha). A sua divisão programática possui 4 setores: social, templo, comunitário e externo. Este último foi disposto para que houvesse uma continuidade espacial do bloco principal. A área social antecede o templo e as salas comunitárias, e é composta por uma antessala (com acesso ao mezanino) e um foyer. Já na área do templo, é composta pela nave central e duas salas multiuso, que são usadas para aumentar a capacidade de usuários e para aulas. As separações de ambiente são feitas por painéis giratórios que completam a estética interior.
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Imagem 29: Planta-baixa com implantação. Fonte: Architectural Review/Sauerbruch Hutton e Edição Autoral
A nave central possui 11,00m de pé-direito e permitiu que o mezanino fosse implantado também com um pé-direito considerável. Percorrendo a nave, se encontra o altar e o órgão, que é coberto por 3.800 ripas de madeira colorida intercaladas, se transformando em uma “parede musical” (FUNDACIÓ MIES VAN DER ROHE, 2015, tradução minha) No uso comunitário (ou melhor, de serviço) além das salas multiuso, se têm os ambientes como escritório paroquial, a sacristia, uma cozinha e sanitários juntamente com os ambientes de serviço. Este uso transcende os limites das paredes, pois possuem dois tipos de acesso que dão diretamente a área verde. Ao lado de fora há dois volumes independentes, a capela e o campanário, que ainda sim são partes pertencentes ao todo e formam uma delimitação imaginária que converge para a praça, o ambiente sem paredes da igreja. A capela foi proposta de forma singela para atender a necessidade de usuários que queiram ficar a sós e longe da agitação. O campanário faz parte dos elementos que “reside na sua capacidade de prender o olhar, impedindo-o de deslizar para longe, evitando, desta forma, a monotonia” (CULLEN, 1961, p. 46), e no caso deste, permite também que ao subir as escadas já se tenha noção do que se espera encontrar.
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Imagem 30 e 14A: A Capela e o Campanário. Fonte: Thomas Mayer/Annette Kisling
O último espaço a ser mencionado é o columbário, que traz novamente a ligação entre a morte e a religião. É um local reservado para a guarda de urnas funerárias e, geralmente, é próximo a cemitérios. No projeto, ele foi implantado em uma área aberta com árvores, remetendo ao conceito de memorial.
Imagem 31: Tipos de madeira presentes no projeto. Fonte: Dezeen/Annette Kisling/Annette Kisling
A madeira foi usada como o material primário para os revestimentos. No exterior, as tábuas de lariço fixadas a 45°, trouxeram o ar natural e sustentável. Na área interna, optou-se pela utilização da madeira laminada Kerto7, sem a necessidade de revestimentos, assim obtendo um espaço claro, singelo e bonito, que é ressaltado,
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Madeira registrada da Empresa MetsäWood.
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assim como as ripas de madeira do órgão, com a luminosidade que entra pela claraboia, a janela do céu, e a abertura do mezanino. A luz e sombra que entram por essa última abertura interferem e criam várias visuais na parede colorida.
Imagem 32: Diagrama da parede de ripas e a abertura do mezanino. Fonte: Sauerbruch Hutton
As sensações que surgem dentro dessa atmosfera, transitam entre o som, as cores, os materiais, a luz e o Divino.
Imagem 33: Diagrama de Estudo. Fonte: Autoral
3.2.5. Estrutura Este projeto ganhou bastante visibilidade por conta do seu método construtivo sustentável e barato. De acordo Jones (2014), “como o orçamento era justo, a intenção original do arquiteto de construir em concreto foi abandonada em favor da construção em madeira [...]”. A madeira foi utilizada para a parte estrutural, composta por um sistema construtivo simplificado e eficiente. Além do custo benefício, a
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velocidade da execução obra é um ponto importante, pois foi levantada em menos de um ano. A estrutura principal (no templo) se trata de vigas e pilares em madeira crua laminada de 30 x 7,5 cm e que são posicionadas de maneira rítmica e aparente, dando assim uma contribuição a estética. Esta estrutura vence o vão de 11,00m de largura e a altura de 11,00 metros de altura.
Imagem 34: Caminho das forças. Fonte: Sauerbruch Hutton /Edição Autoral
O volume ao redor do templo foi feito sob a base de concreto, podendo ser nomeado como platô, e suas paredes em painéis compostos de madeira com as aberturas de portas e janelas, já com os entalhes para vigas pré-fabricadas. Na capela foi usado um tipo de painel de madeira compensada mais cara, que tem como característica as estrias e a rugosidade, favorecendo o uso do espaço. Todos os edifícios foram construídos em madeira e revestidos em madeira, os arquitetos conseguiram conciliar o custo benefício, estética e funcionalidade. “Seu caráter é definido pela simplicidade da forma combinada à construção direta e à materialidade honesta” (DAVIS, 2013 apud. SAUERBRUCH HUTTON)
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Imagem 35: Mezanino com as vigas e pilares aparentes. Fonte: Margot Gottschling
3.3. Igreja São Bonifácio em São Paulo
Imagem 36: Vista externa da Igreja. Fonte: Cristiano Mascaro/Acervo Hans Broos
Considerada como um clássico da arquitetura em São Paulo, com seus traços remetendo ao brutalismo paulista e a Le Corbusier. No entanto, segundo Daufenbach (2011),” apesar das referências possíveis, nenhuma delas é direta e emulativa; parecer ser muito mais fruto de proposições advindas de referências múltiplas [...]”. Hans Broos teve o desafio de projeto para solucionar, pois havia a questão de cidades grandes, onde a urbanização já se encontrava consolidada na época e a região se caracterizava como residencial. Havia também a questão do terreno, pois ele tinha um declive de 13,5%.
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3.3.1. Ficha Técnica Tabela 6: Dados Técnicos da Igreja São Bonifácio
Autor
Hans Broos
Ano
1964 (Inicio) – 1966 (Conclusão)
Área
± 3.000m²
Localização Rua Humberto I - nº 298 - Vila Mariana - São Paulo
3.3.2. Implantação O terreno possui 25m de largura por 105m de comprimento, totalizando 2.625m² disponíveis para a construção. Como já mencionado, a região tinha o caráter residencial e possibilidades de comércios, e não havia “praça, nem alargamento, nem área de descanso para o transeunte que fica exposto às agitações de um intenso tráfego, situação tão característica para quase toda a cidade de São Paulo.” (ACRÓPOLE, 1967, p. 26)
Imagem 37: Imagem de Satélite de localização. Fonte: GeoSampa/Autoral
Diante desse aspecto, a implantação da igreja veio para combatê-lo e permitiu a continuidade do espaço público e ao observador, uma vista. No nível da rua, há o grande pátio coberto que serve de moldura para a paisagem e antigamente para o uso público, pois hoje há portões restringindo o acesso livre.
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Os usos principais, a igreja e o centro social, foram rompidos pelo pátio (e mirante) fazendo com que a Igreja ficasse em destaque elevada sobre pilotis e o centro social fosse para baixo do nível da rua.
Imagem 38: Vista da fachada posterior, mostrando todos os usos da Igreja. Fonte: Cristiano Mascaro/Acervo Hans Broos
Não há uma grande parte de vegetação no terreno e nem incluído no projeto, além de vasos com pequenas árvores e as árvores dos terrenos vizinhos. A leitura que dá para fazer é de que as árvores muitas vezes são elementos de projeto para potencializá-lo, mas neste caso o próprio edifício se potencializa e para suprir esta necessidade “natural”, o projeto oferece (ou oferecia, pois houve muitas construções nos arredores) uma vista panorâmica sobre o Parque Ibirapuera e o restante da cidade. 3.3.3. Programa de Necessidades As áreas relacionadas abaixo são referentes as metragens quadradas internas aproximadas, sem consideração às paredes. Tabela 7: Programa de Necessidades da Igreja São Bonifácio. Fonte: Autoral
SETOR
Templo
AMBIENTE
ÁREA
Nave Central
225,00m²
Altar
80,00m²
Sacristia
15,00m²
Confessionários (2)
4,30m²
Sala Reservada para Mães
7,15m²
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SETOR
AMBIENTE
ÁREA
Social
Pátio Coberto
870,00m²
Salas de Estar
62,50m²
Dormitórios
65,60m²
Dormitórios de Hóspedes
46,00m²
Biblioteca
102,60m²
Salas de Estar comum (2)
120,50m²
Salas de Jantar (2)
61,00m²
Copas (2)
22,60m²
Depósitos (2)
20,00m²
Hall da Sala de Conferência
37,00m²
Sala de Conferência
211,00m²
Guarda-roupa
15,00m²
Área Técnica
110,00m²
Terraço
200,00m²
Escritórios (3)
81,70m²
Ambulatório
23,00m²
Estúdio
16,50m²
Sanitários
46,00m²
Circulação Total
Circulação
257,95m²
Estacionamento
Garagem
230,00m²
Centro Social
Total
2930,40m²
3.3.4. Função, Forma e Materialidade A Igreja São Bonifácio não é só a Igreja, ela possui o Pátio da Igreja, o Templo da Igreja e o Centro Social da Igreja. São três usos distintos, onde o arquiteto os uniu de maneira racional. O pátio coberto, além de servir para a contemplação da vista e para o uso social, e analisando a disposição dos blocos, ele tem um papel oculto de separar o sacro e o profano, sendo assim um ambiente neutro entre ambos. O projeto traz uma característica, que não é incomum no meio católico, relacionada às moradias e usos ligados a elas, como os mosteiros, seminários e conventos.
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Imagem 39: Plantas baixas. Fonte: Revista Acrópole/Edição autoral.
Mesmo sendo 3 usos, há somente 2 blocos: o templo e o centro social. O templo possui a forma singela de um retângulo, onde há vestígios da utilização da razão áurea (SANTOS, 2015), e abriga os seguintes ambientes: nave central, altar, sacristia, confessionários, sala reservada para mães e o mezanino (utilizado para o coro). Este bloco tem 34,00m de comprimento e 13,00m de largura, além do pé-direito duplo de 6,20m. O acesso ocorre através da rampa vedada com vidro e vitrais, estes contam a história via crucis de Jesus, e olhando para o lado se tem os desenhos em alto-relevo das estações da Via Sacra, executados pelo escultor Kurt Bielecki.
Imagem 40: Vitral e o alto-relevo, ambos litúrgicos. Fonte: Marcos José Carrilho/Cristiano Mascaro
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A iluminação da igreja provém de 3 fontes, e a principal do bloco elevado se dá por meio da iluminação zenital, formando um tipo de shed em dois sentidos, um servindo para iluminar suavemente a nave e outro exclusivo para destacar o altar. A abertura da rampa também server como fonte de iluminação para a nave, e há também outras aberturas, que são bem menores (fachadas laterais e posterior), sendo que, as das laterais, servem como guia na circulação lateral (SANTOS, 2015).
Imagem 41: Exemplo de como a luminosidade adentra o ambiente (Iluminação Zenital e a abertura da rampa). Fonte: Marcos José Carrilho
Imagem 42: Algumas das poucas aberturas laterais. Fonte: Ricardo Amado
O centro social é composto por 2 subsolos, além da garagem para uso comum e seu programa consiste em: Sala de Conferência, Biblioteca, Escritórios, Dormitórios, Quarto de Hóspedes, Salas de Estar e Jantar, Terraço, além de outros ambientes que servem de apoio a estes principais. O acesso se sucede no mesmo bloco que a rampa,
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então se conclui que este projeto possui somente esse acesso para todos os usos no nível do térreo.
Imagem 43: Plantas baixas. Fonte: Revista Acrópole/Edição autoral.
O corpo robusto da igreja elevada ao solo, faz com que se tenha a sensação de leveza, e o questionamento de como algo tão corpulento consegue flutuar e se apoiar em 4 pilares estreitos. O concreto aparente é a matéria-prima principal com toda sua austeridade e modernidade, e até mesmo os acabamentos internos ele se apresenta, para “transparecer a expressão de veracidade do pensamento religioso” (DAUFENHBACH, 2011, p. 223 apud. BROOS, 1966). Este material não fez com que a igreja perdesse seu caráter principal, mas sim uma nova forma de construir espaços religiosos e um exemplo a seguir na contemporaneidade. 3.3.5. Estrutura Esta “arquitetura é toda ela estrutura” (SANTOS, 2015, p. 178 apud. ZEIN, 2005, p.192). As paredes tem a função de vigas de 20cm interligadas com os 4 pilares que passam por todos os níveis do projeto. Os pilares possuem uma outra função com o seu formato em “U”, acomodando em seu interior as tubulações de águas pluviais.
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Imagem 44: Exemplo da seção transversal do pilar em "u". Fonte: Autoral
O teto da igreja é composto por uma laje mista apoiada em vigas, que foram posicionadas a cada 1,80m. Os tijolos da laje foram postos com os furos para baixo, adquirindo assim uma função acústica. O pórtico duplo acima da cobertura é responsável pela sustentação da caixa de sinos, que é uma referência de como incluir o campanário em um projeto de igreja fugindo do aspecto da torre sineira.
Imagem 45: Detalhe do teto com os tijolos e o campanário. Fonte: Raphael Selby/Cristiano Mascaro
Esse partido estrutural também é presente na rampa de acesso ao templo. Ela é uma laje-piso atirantada ao teto, assim dispensando qualquer outro tipo de estrutura para sustentá-la, propiciando a sensação de delicadeza em comparação a austeridade da grande caixa. No nível do pátio coberto, a cobertura é a laje da nave, onde as vigas foram dispostas somente em um sentido até se encontrarem com o final da parede-viga. Já
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nos subsolos, foi utilizada a laje nervurada, que permite grandes vãos entre pilares. Nota-se também que os terraços, em alguns segmentos, ficam em balanço, e seu suporte se dá somente pelos mesmos pilares da igreja. 3.4. Santuário Dom Bosco
Imagem 46: Vista externa do Santuário. Fonte: http://www.sethcomunicacao.com/redesalesianadeparoquias.org.br/paroquia/santuario-sao-joao-bosco-df
Após 3 anos da inauguração da capital do Brasil, a chamada paróquia São João Bosco começou a ser construída através da parceria do arquiteto Carlos Alberto Neves e a Congregação Salesiana, com o objetivo de homenagear ao padroeiro de Brasília, São João Belchior Bosco, considerado o Mestre da Juventude. Ela faz parte dos exemplares da arquitetura moderna brasiliense e foi nomeada como uma das 7 maravilhas de Brasília em 2008 pelo International Bureau of Cultural Capitals (IBOCC), e ainda permanece na lista na última publicação de 2019. 3.4.1. Ficha Técnica Tabela 8: Dados Técnicos do Santuário Dom Bosco
Autor
Carlos Alberto Naves
Ano
1963 (Inicio) – 1970 (Inauguração)
Área
± 3.100m²
Localização SEPS Quadra 702 - Asa Sul, Brasília – Distrito Federal
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3.4.2. Implantação O santuário está localizado dentro os limites do Plano Piloto na Quadra 702, que possui cerca de 53.000,00m² e tem outros equipamentos em seu perímetro, como o CESAM (Centro Salesiano do Aprendiz) e a Escola Salesiana. O bloco do santuário está em uma das esquinas do lote, permitindo a existência de 2 acessos, e está rodeado pelo estacionamento e as vias de acesso.
Imagem 47: Imagem de Satélite de localização. Fonte: Geo Portal - DF/Autoral
Seu programa está organizado somente no bloco principal através de níveis (térreo e subsolo) e o templo é o uso que se destaca. Se tratando da arborização, ela ocorre nas vias e é muito presente próximo à quadra. 3.4.3. Programa de Necessidades As áreas relacionadas abaixo são referentes as metragens quadradas internas do térreo 8. Tabela 9: Programa de Necessidades do térreo do Santuário Dom Bosco. Fonte: Autoral
SETOR Templo Estacionamento Total
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AMBIENTE
ÁREA
Nave Central
940,00m²
Nave Laterais
440,00m²
Altar
190,00m²
Estacionamento
1.570,00m²
A planta adquirida do subsolo não está com uma devida qualidade para esta análise, dessa forma, as suposições se constroem através do conhecimento adquirido em outros programas de espaços religiosos.
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3.4.4. Função, Forma e Materialidade Diferentemente do primeiro estudo de caso, a Catedral Anglicana, o Santuário Dom Bosco não foi projetado com base na escala humana, e “busca-se a monumentalidade da relação entre dois eixos direcionais, e somente em segundo plano a relação deles com o homem” (ABUMANSSUR, 2004, p.12), como na arquitetura românica e gótica.
Imagem 48: Fachada frontal. Fonte: Autoral
No entanto, diante do significado da palavra monumento, que é uma “obra ou construção que se destina a transmitir à posterioridade a memória de fato ou pessoa notável” (AURÉLIO, 2019), o projeto conseguiu atingir seu objetivo ao homenagear alguém e se destacar entre muitas igrejas. É uma obra que marcou sua época por conta de sua monumentalidade e continua causando sentimentos de perplexidade e admiração naqueles que a veem. O Santuário é muito procurado para casamentos, porém a principal função é abrigar as missas tendo a capacidade de alocar 1.200 pessoas. No térreo, que neste caso, pode ser considerado um térreo elevado, pois não está no nível da rua, há uma nave central e duas laterais, e assim o grande altar situa-se ao centro. Já no subsolo, pode-se supor que há área administrativa, social, de serviços e os ambientes auxiliares do templo, como a sacristia e confessionários.
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Imagem 49: Planta-baixa do Térreo, onde se localiza a parte do templo. Fonte: Autoral
A particularidade que mais chama atenção no projeto é sua forma e materialidade, o grande cubo de quase 20,00m de altura, é sustentado por pilares, que unidos formam um corpo robusto de concreto, e vedado por vitrais, que parecem pedaços da abóboda celeste. Porém, o seu interior é o oposto do lado de fora, pilares são ofuscados com a eclosão dos 12 tons de azul que os vitrais possuem, o teto com seus vincos e o lustre, a única fonte de luz artificial, “destacando a simbologia da ‘luz divina’” (SANTORO et. al, 2018, pg. 67).
Imagem 50: Lustre central do Santuário. Fonte: Agência Brasília
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Sabendo que o espaço é composto simplesmente por pilares esbeltos, se tem várias aberturas, com aproximadamente 14,00m x 2,00m, que são fechadas com os vitrais, e estes permitem a entrada de luz natural em todas as fachadas, criando uma atmosfera espiritual.
Imagem 51: Interior do Santuário iluminado através dos vitrais. Fonte: Monique Renne
Um toque especial e delicado, em comparação ao tamanho do Santuário, é visto nas portas de entrada, onde há partes em alto-relevo, esculpidas em bronze pelo artista Gianfrancesco Cerri.
Imagem 52: Portas do Santuário com os detalhes em bronze. Fonte: Sylvia Yano
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3.4.5. Estrutura A estrutura do Santuário é composta em duas partes: o plano vertical, os blocos independentes que formam pórticos com acabamento em arcos ogivais; o plano horizontal, o sistema de treliças. O plano vertical, os quatros blocos, é constituído por pilares esbeltos de 20m de altura, e cada um possui 2,30m x 0,30m de dimensão. A concretagem destes foi feita em 3 estágios: [1] Pilar Maciço, [2] Arco Ogival e [3] Pilar de Travamento, que serve como corredor de serviço também. A laje do corredor de serviço serviu, além de cobertura, como travamento final dos pórticos. De acordo com o corte, a fundação é caracterizada como sapatas, que são engrossadas pontualmente abaixo dos pórticos.
Imagem 53: Digrama dos Estágios de Concretagem. Fonte: SANTORO et. al, 2017, pg. 5.
Imagem 54 e 38A: Corte AA e detalhe da fundação. Fonte: Autoral
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As treliças, o plano horizontal, são dispostas em dois sentidos formando uma grelha, e se apoiam nos pórticos por um apoio simples. São responsáveis pela sustentação do telhado e do forro, além de possibilitar a existência do vão-livre de 40m. Há dois tipos de treliça, “modelo que atende aos principais esforços possui inercia única, já a segunda tipologia de treliça possui inercia variável para acomodar o forro, as telhas e suas calhas que foram posicionadas em suas partes mais baixas.” (SANTORO et. al, 2018, pg. 67).
Imagem 55 e 38A: Isométrica da estrutura e Tipos de treliça. Fonte: Santoro et. al, 2017, p.7 / Caminho das forças: Autoral
Uma carga pontual se faz presente nesse sistema estrutural, no caso, o lustre. Ele possui, em sua maior seção, 5m de diâmetro e 3m de altura, além de ser complementado por 9.000 copos de vidro Murano9. A sua carga se totaliza em 2,5 toneladas sustentadas por hastes de metal atirantadas nos pórticos e um sistema hexagonal auxiliar de metal.
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Tipo de vidro produzido em uma região próxima de Veneza, Itália.
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3.5. ANÁLISES COMPARATIVA Após as pesquisas sobre os estudos de caso, foi possível elaborar uma análise comparando os projetos, para assim entender como igrejas funcionam, quais elementos possuem, entre outras considerações.
Imagem 56: Quadro comparativo de análises. Fonte: Autoral
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3.6. Conclusões Todos os levantamentos e análise do quadro acima trouxeram muitas relevâncias para nortearem o desenvolvimento do projeto. Todos os projetos apresentaram um programa além do espaço de culto, assim todos ser tornaram muito relevantes para o desenvolvimento do programa de necessidades do projeto a ser elaborado. Nos projetos houve o destaque do espaço do templo: [1] isolamento do templo em relação aos outros setores; [2] diferenciação de pé-direito em comparação com o programa ao redor; [3] separação por elevação do templo; [4] O templo no térreo, deixando o restante do programa semienterrado. Dentre todas as implantações, a mais interessante, foi a da Igreja São Bonifácio, onde o arquiteto assumiu o terreno e tirou partido disso. O seu programa foi bem distribuído no terreno estreito e comprido, e ainda conseguiu fazer uma área comum de contemplação, o mirante do pátio. A princípio, todos os projetos apresentam em suas plantas a disposição unidirecional da nave, tornando-a em nave central, porém alguns dos projetos trouxeram mais disposições complementares. O altar elevado em relação à congregação ocorre de maneira integral nos quatro estudos de caso. A disposição espacial das igrejas estudadas faz com que elas tenham o caráter de local de culto, e não de auditórios, por exemplo. A comparação das entradas de luz, reforçou a necessidade da luz em projetos de espaços religiosos. “A luz determina a nossa percepção da arquitetura, permitenos apreciar as diversas qualidades do espaço: a forma, a textura, a cor, entre outras. É talvez o elemento com maior influência na atmosfera do espaço [...]” (COSTA, 2013). Os espaços religiosos tem componentes que complementam suas funções, como os órgãos e as torres sineiras. O primeiro, se trata de um artificio litúrgico, onde é muito atribuído à música sacra, no entanto, ele é usado ainda nos dias atuais e a maneira que as suas notas soam se tornou característico em cultos cristãos. O segundo, também é da esfera do som, porém é utilizado como guia sonoro, do que está acontecendo ou o que vai acontecer, além de ser responsável de elevar os sinos para que ecoem o seu som arrebatador.
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Para finalizar, as cores e materiais comparados revela que a sobriedade dos tons e o uso de cores em elementos pontuais foi absoluto nas análises. Os vitrais são responsáveis por levar, além da liturgia, as cores mais vivas para ambientes materialmente discretos. A igreja Immanuel, não usa os vitrais, porém há um painel que se modifica ao longo do dia com os raios solares. 3.7. Estrutura Duas das igrejas estudadas utilizaram-se do concreto para executarem sua estrutura. A madeira, na Igreja Immanuel, foi muito bem escolhida para levantar o espaço, e esteticamente, orna muito bem com o outro material citado acima. A soluções estruturais adquiridas com estes materiais são eficientes, como a solução da elevação da Igreja São Bonifácio através de pilares e as paredes-vigas e o grande pé-direito conquistado através de vários conjuntos de vigas e pilares afilados
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4. PROJETO 4.1. Partido (estratégias projetuais) As estratégias projetuais foram divididas por etapas: programa de necessidades, condicionantes naturais, legais e acessibilidade e a condicionante simbólica. A primeira etapa que trabalhada foi a ideia do programa de necessidades inicial, ou seja, quais macro usos haveriam no edifício. Desta forma, considerando os conceitos vistos nos estudos de caso, a proposta desenvolvida foi ter três tipos de setores: Centro Comunitário (azul), Religioso (amarelo) e Administrativo (lilás).
Imagem 57: Os três macro setores. Fonte: Autoral.
Após a determinação dos blocos de uso, a segunda etapa teve como objetivo a disposição dos mesmos implantados no lote. Antes de implantar efetivamente, foi reservado uma parcela do terreno para a execução do acesso, tendo em vista inclinação existente.
Imagem 58: Planta indicando a área destinada ao acesso (Sem Escala). Fonte: Autoral
O primeiro bloco, do Centro Comunitário, foi rotacionado à 45º em relação ao Norte, permitindo assim que as duas fachadas maiores recebessem a luz e visão dos frequentadores, criando um caráter receptivo. Já o segundo bloco, Religioso, foi
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posicionado voltado ao Leste para receber os raios do amanhecer e pôr do sol, tendo também vista para a cidade. O terceiro bloco, Administrativo, foi inserido alinhado ao primeiro volume e direcionado às árvores dos arredores, proporcionando a contemplação.
Imagem 59: Diagramas primários de disposição da forma (Sem Escala). Fonte: Autoral.
O resultado final da sobreposição volumétrica é o símbolo da religião cristã, a Cruz. Partindo desse princípio simbológico, a terceira e última condicionante foi responsável pela implantação um dos edifícios secundários. Foi traçado um eixo, a partir do segundo bloco, que se localiza o templo, e assim a capela foi arreigada de acordo com este eixo, conforme diagrama abaixo:
Imagem 60: Diagrama primário completo (Sem Escala). Fonte: Autoral.
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Para maiores esclarecimentos, esta última etapa passou por algumas mudanças desde a primeira ideia até a implantação final (que será vista no tópico Materiais gráficos). Com o edifício principal alocado, o desafio foi ponderar de qual forma o acesso funcionaria, levando em consideração declive, acessibilidade, conforto e facilidades, além de incorporar algumas das diretrizes no próprio terreno. Nos dois primeiros croquis, o acesso foi pensando através de uma via serpenteando pela superfície do terreno juntamente com a via de automóveis e estacionamento.
Imagem 61: Croquis de desevolvimento do acesso e implantação. Fonte: Autoral.
Nos dois últimos croquis, houve uma mudança brusca tendo como motivo um questionamento sobre as formas curvas, do acesso, com as formas geométricas do bloco principal. Baseado nisso, a nova proposta foi conceder ao meio de acesso uma forma mais coerente com o objeto principal do projeto. Outrossim, houve uma melhoria na disposição dos edifícios secundários, seguindo o mesmo conceito, e dessa forma, chegou-se ao produto final da terceira condicionante projetual (Imagem 60).
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4.2. Croquis | concepção e evolução formal A primeira fase de elaboração de diagramas de desenvolvimento projetual foi determinante para a fase de refinamento da forma.
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Imagem 62: Evolução volumétrica. Fonte: Autoral.
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4.3. Programa | diagramas de setorização Como mencionado, os macro setores são o Centro Comunitário, Templo e Administração, que durante o processo de refinamento do espaço estes foram se mesclando e desta forma criando um espaço interligado. O programa foi pensado para atender as demandas sociais conjuntamente com as demandas religiosas. Tabela 10: Programa de Necessidades Completo. Fonte: Autoral.
SETOR
AMBIENTE
ÁREA
Área de Convivência
437,74 m²
Almoxarifado
27,98 m²
Ambulatório
22,52 m²
Biblioteca
124,23 m²
Cozinha
37,67 m²
Depósito
14,25 m²
DML
7,24 m²
Dormitórios (Fem.)
97,74 m²
Dormitórios (Masc.)
97,74 m²
Centro Comunitário
Estar (Dorm. Fem.)
39,43 m²
(Programa Principal)
Estar (Dorm. Masc.)
28,00 m²
Hall de Entrada
28,86 m²
Lavanderia
22,52 m²
Refeitório
40,51 m²
Sala de Conferência
194,02 m²
Sala de Doações
28,13 m²
Salão
56,98 m²
Salas Multiuso (2)
114,26 m²
Sanitários (2)
94,08 m²
Varandas
186,12 m²
Batistério
213,13 m²
Mezanino
61,89 m²
Sacristia
54,44 m²
Sala de Projeção
19,05 m²
Sanitários
42,30 m²
Templo
375,60 m²
Terraço
233,16
Templo (Programa Principal)
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SETOR
Administrativo (Programa Principal)
AMBIENTE
ÁREA
Administrativo
35,30 m²
Espera
12,05 m²
Gabinete Pastoral
23,13 m²
Hall de acesso
44,82 m²
Salas Multiuso (4)
93,72 m²
Sanitários
36,66 m²
Varandas
52,74 m²
Circulação Horizontal (Programa Principal)
1511,38 m²
Campanário
32,08 m²
Capela
37,46 m²
Deck
133,96 m²
Horta
162,77 m²
Lojas (4) Total Programa Principal
134,56 m² 4.509,39 m²
Total Geral
5.010,22 m²
Externo
A disposição do programa principal foi distribuída através de 6 pavimentos, sendo dois subsolos com mais dois pavimentos e mezanino.
Imagem 63: Diagramas de Setorização. Fonte: Autoral.
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4.4. Fluxograma
Imagem 64: Fluxograma Completo. Fonte: Autoral.
4.5. Memorial descritivo A proposta de construir uma igreja com um centro comunitário, na cidade de Guarulhos, tem dois objetivos principais: trazer uma nova visão sobre os templos e espaços religiosos no âmbito protestante e usufruir da região e seu significado para trazer uma melhor infraestrutura, tanto no bairro quanto no próprio terreno. O lote escolhido está localizado no atual Monte Santo do Cocaia e é frequentado, a maior parte das vezes, por um público cristão específico. No entanto, com base no caráter comunitário que a Igreja Immanuel10 traz em seu espaço, o novo Monte Santo foi pensado para o além-templo desde sua implantação até os menores 10
Uma das igrejas escolhidas como estudo de caso (Capitulo 3).
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dos espaços do programa. O Monte, como é conhecido, não recebeu esse nome de forma displicente, por conta da sua topografia acidentada foi travado um desafio para a resolução do acesso ao edifício principal, trazendo eficiência e conforto, pois o intuito era amenizar a sensação de esforço e permitir a apreciação por todo trajeto até o topo. Há três formas de acesso no lote: A escadaria, além dos degraus há rampas elevatórias, possibilitando que todos possam apreciar percurso, acessar os espaços comerciais, a praça dos painéis e os edifícios secundários de forma independente; O bonde funicular é um facilitador de acesso à terrenos íngremes e é um meio alternativo em relação à escadaria; A via para veículos foi pensada para atender serviços e emergências. Todos estes levam à um único destino, o edifício principal. Foram desenvolvidas duas categorias de edificação, a principal e as secundárias (complementares). O edifício principal é formado por três grandes setores: Centro Comunitário, Templo e Administração. O Centro Comunitário, oferece espaços que permite vários usos e é constituído por áreas de convivência (pensados para atender diversos usos), biblioteca, salas multiusos (para reuniões, estudos, aulas, etc.), sanitários, almoxarifado, sala de conferência, sala de doações, salão, cozinha e depósito, DML, ambulatório, lavanderia e refeitório. O restante dos ambientes, diante da demanda social e do traço acolhedor que a igreja contemporânea deve ter, foram dispostos como sala de estar (podendo funcionar como sala de espera) e dormitórios para curto e médio prazo. Na parte externa, há os ambientes sem paredes complementando o programa interno, como a horta comunitária e o deck. O Templo é voltado para a parte religiosa do programa de necessidades e possui seu início no corredor dos arcos, de um lado se dá a nave (com a capacidade mínima de 200 pessoas) e os altares (destacando o instrumento órgão) e o acesso ao batistério. Do outro lado, se tem o terraço e assim como as áreas de convivência tem seu uso multifacetado, podendo receber desde casamentos até reuniões. Seguindo ao final do corredor, há os sanitários e os acessos ao mezanino. O mezanino é composto pela sacristia e projeção e possui um espaço para aproximadamente 50 pessoas se acomodarem. Por ser um projeto considerado como uma atividade incômoda, o templo é acompanhado de um tratamento acústico.
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A Administração abrange ambientes destinados à atendimento às pessoas, como sala de espera, sala administrativa, gabinete pastoral, salas multiusos (propostos para receber reuniões, aconselhamentos, palestras, etc.) e varandas voltadas à bela vista do entorno, a mata. Se tratando dos edifícios secundários, a capela foi elaborada para ser um ambiente separado e reservado preservando a necessidade dos usuários. Já o campanário, posicionado na cota mais alta do lote, foi incluído no programa para atuar como um sinalizador de eventos e guia sonoro, pois o som dos sinos sempre norteia, e assim se torna ponto de referência abstrato. 4.6. Estrutura A estrutura utilizada foi a união de madeira com concreto e o motivo de escolha foi através dos estudos de caso, e assim o desenvolvimento foi feito com base nas estruturas em madeira de Shigeru Ban, mais precisamente, seu projeto do Edifício Tamedia (Zürich, Suíça). A malha foi disposta com metragens múltiplas de 5,00m (5,00m, 10,00m e 25,00m), e por mais que seja uma malha simétrica, cada pavimento possui uma disposição estrutural, no entanto toda a estrutura é vinculada e engastada.
Imagem 65: Malha estrutural do edifício principal. fonte: autoral.
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O primeiro componente da estrutura é a fundação, no caso, foi utilizada estacas de concreto escavadas com a altura de 5,00m abaixo do último pavimento. As vigas baldrames e os blocos de coroamento possuem 1,50m de altura. Por conta das plantas do subsolo em relação ao térreo não serem continuas em algumas partes, houve a extensão de alguns pilares para chegarem até o bloco de coroamento da fundação. Foram incluídos também alguns muros de arrimo.
Imagem 66: Detalhes da fundação - Sem escala. Fonte: Autoral.
A estrutura principal do edifício principal e o campanário é feita a partir de ligações de vigas e pilares de madeira juntamente com a laje híbrida de concreto e madeira.
Imagem 67: diagrama da laje híbrida - Sem escala. Fonte: Autoral.
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Há dois tipos de pilares, A – 0,78m x 0,78m e B – 0,45m x 0,45m. Os pilares A são aqueles que sustentam toda a estrutura, desde o 2º subsolo até a cobertura, já os pilares B são responsáveis por circundar e sustentar o vão central que abriga a rampa, elevadores e escada de emergência. Se tratando das vigas, elas possuem três tipos, VA – 0,28m x 1,50m (que são dispostas em par, ou seja, são vigas duplas), VB – 0,15m x 0,80m e VC – 0,165m x 1,00m, sendo esta última a viga auxiliar de encaixe entre as vigas VA com os pilares B. Os encaixes da estrutura são feitos por meio de dois travamentos, conforme diagrama abaixo:
Imagem 68: Detalhe dos encaixes de madeira – Sem Escala. Fonte: Autoral.
A estrutura da capela é composta por suas paredes autoportantes e pilares internos para auxiliar na distribuição de carga da cobertura, já que se trata de um telhado verde. 4.7. Christopher Powers11 – A arte cristã contemporânea Um dos objetivos deste trabalho é mostrar quanto é importante e válido o engajamento cultural no âmbito cristão. Sendo um projeto contemporâneo, a arte deve ser condicionada à esta era também, e assim os desenhos do americano Christopher Powers, através de seu ministério Full of Eyes, traz exatamente isso: a arte cristã deste século.
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A utilização das ilustrações neste trabalho acadêmico foi autorizada pelo artista.
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Em seu livro, Exegese Visual, e em tantos outros meios (redes sociais e seu site), ele afirma que estas imagens foram “projetadas para ser indicadores visuais, não objetos de adoração nem de veneração, mas objetos que nos ensinem sobre o único a quem devemos adorar: o Deus Triúno – Pai, Filho e Espírito.” (POWERS, 2016, p. 07). Cada imagem de Powers tem seu sentido revelado através dos versículos bíblicos e sempre vêm acompanhadas com uma exposição feita por ele mesmo, e com esse seu ministério tem como objetivo “ajudar as pessoas a verem e experimentarem a beleza de Deus na pessoa de Jesus Cristo como a mais preciosa realidade de toda a vida” (POWERS, 2016, p. 96) através de sua arte. As imagens incorporadas no projeto têm o objetivo de serem litúrgicas, ou seja, que ensinem e expressem algo não por meio de palavras. Elas estão presentes nas fachadas, na praça dos painéis e estará também nas áreas internas do projeto (no templo e na capela). O primeiro conjunto de imagens escolhido é referente a passagem do livro de Salmos, que diz: “As cordas da morte me envolveram, as angústias do Sheol vieram sobre mim; aflição e tristeza me dominaram. Então clamei pelo nome do Senhor: "Livra-me, Senhor!" O Senhor é misericordioso e justo; o nosso Deus é compassivo. O Senhor protege os simples; quando eu já estava sem forças, ele me salvou. Retorne ao seu descanso, ó minha alma, porque o Senhor tem sido bom para você! Pois tu me livraste da morte, os meus olhos, das lágrimas e os meus pés, de tropeçar, para que eu pudesse andar diante do Senhor na terra dos viventes.” (Sl 116: 3-9)
Imagem 69: Arte de Christopher Powers sobre Salmo 116. Fonte: www.fullofeyes.com
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Imagem 70: Incorporação da arte na fachada nordeste. Fonte: Autoral.
Na fachada sudeste, onde se encontra o batistério, foi inserida a arte baseada na passagem: “Estendo as minhas mãos para ti; como a terra árida, tenho sede de ti.” (Sl 143: 6). A água, no universo cristão, pode representar a presença de Deus, e de acordo com o próprio Powers (2017), “como a água é para o solo, o Deus vivo é para a alma humana”.
Imagem 71: Arte de Christopher Powers sobre Salmo 145. Fonte: www.fullofeyes.com
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Imagem 72: Disposição e localização do painel. Fonte: Autoral.
A fachada noroeste, onde se encontra o terraço, foi adornada com o painel da arte segundo a passagem do Livro de João, que diz: “Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria” (Jo 16:20). De acordo com a passagem e trazendo ao âmbito do projeto e com os múltiplos usos do terraço (desde um funeral até um casamento) pode-se associar que dependendo da utilização do espaço haja essa contraposição de sentimentos.
Imagem 73: Arte de Christopher Powers sobre João 16. Fonte: www.fullofeyes.com
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Imagem 74: Disposição e localização do painel na fachada noroeste. Fonte: Autoral.
Foi utilizado também a coletânea infantil no espaço da Praça dos Painéis, próximo da entrada do edifício principal. Este conjunto de imagens conta visualmente a história da Criação, e pela localização da praça, foi completamente coerente a escolha da arte que conte algo inicial e introdutório. Apesar de ter sido feito para crianças pequenas, o conjunto carrega conteúdo até para os mais velhos.
Imagem 75: Coletânea sobre a Criação. Fonte: Love Made - www.fullofeyes.com
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Imagem 76: Disposição numérica das imagens nos painéis. Fonte: Autoral.
No ambiente da capela, foi separada a ilustração (imagem 77) que conta sobre a Supremacia de Cristo (Cl 1:15-17) sobre todas as coisas. No templo foi aplicado o desenho (imagem 77A) que aborda sobre a unidade da Igreja: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito.” (1 Co 12:1213)
77
77A
Imagem 77 e 77A: Imagens da área interna do edifício. Fonte: www.fullofeyes.com
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4.8.1. Considerações finais Com as considerações e assuntos pesquisados nesse trabalho pôde-se concluir que há meios de se pensar em uma arquitetura que abrigue atividades religiosas juntamente com o atendimento à sociedade no meio protestante, com espaços devidamente destinados a isso. Foi trabalhada a questão da ausência excessiva de simbologia tanto na implantação quanto nos ambientes internos, indicando que a arte e o símbolo podem ser utilizados em uma igreja evangélica sem prejuízos ou heresias. Esta arquitetura e seus elementos foram pensados, assim como a arte de Christopher Powers, não para serem um objeto de adoração, mas sim algo que aponte para Deus. Um dos objetivos principais deste trabalho é servir de exemplo para outras igrejas, não de construir espaços com a dimensão deste projeto, pois muitas comunidades protestantes não podem arcar com os gastos tão altos, mas sim influenciar em ações de acordo com cada realidade: incentivo à arte cristocêntrica em todos os âmbitos e consciência e preocupação em relação aos espaços para os membros da igreja e também da sociedade.
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https://sentidosdoviajar.com/santuario-dom-bosco-uma-das-5-igrejas-historicas-debrasilia/. Acesso em: 24 abr. 2020.
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6. APÊNDICE APÊNDICE A – Cortes de Estudo da Implantação.
Imagem 78: Fonte Autoral.
APÊNDICE B – Primeiros estudos de disposição programática: Térreo e Subsolo.
Imagem 79: Fonte Autoral (Abril/2020)
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APÊNDICE C – Primeiros estudos de disposição programática: 1º andar (Templo).
Imagem 80: Fonte Autoral (Abril/2020).
APÊNDICE D – Primeiros estudos de disposição programática: 2º e estrutura.
Imagem 81: Fonte autoral. (Abril e Maio/2020).
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APÊNDICE E – Croquis de refinamento de planta.
Imagem 82: Fonte autoral (Maio/2020).
APÊNDICE F – Croquis de tratamento do templo.
Imagem 83: Fonte Autoral (Setembro/2020).