Projeto chinês propõe ônibus que anda por cima dos carros
U
m ônibus suspenso que anda por cima dos carros. Já imaginou? Uma equipe de pesquisadores chineses colocou a ideia no papel e defende que o projeto pode ser parte da solução para o trânsito terrível das grandes cidades. Cada “vagão” comporta até 300 pessoas. Os passageiros entram no ônibus via elevador lateral e também são previstas estações fixas de parada. Movido por painéis solares e eletricidade, o veículo chega a 60 km/h. Há ainda um sistema que freia o veículo automaticamente em caso de emergência (se houver um acidente à frente, por exemplo). Os criadores dizem que o ônibus suspenso pode diminuir em 30% o trânsito nas ruas e avenidas. Outra vantagem destacada é que a construção da estrutura para suportar esse tipo de transporte levaria três vezes menos tempo que a construção de metrôs, com custo 10% menor. O projeto é apresentado como “o futuro das cidades”. Você acha que a solução parece viável? Veja o vídeo do projeto e entenda melhor o funcionamento do ônibus:
“Quando parado, o Land Airbus, como é chamado, não interrompe o trânsito, pois a parte inferior funciona como um túnel, “vazada”, em formato de arco – o que os inventores chamaram dedesign oco. O veículo ocupa duas pistas e permite que carros de até dois metros de altura passem por baixo.”
Um ranking indesejado A cidade de Pequim ocupa o topo do ranking em razão de seus trajetos desorientados, da falta de respeito à sinalização (e da falta da própria sinalização) e de sua frota de mais de três milhões de veículos. A capital chinesa apresenta engarrafamentos quilométricos. Hoje, Pequim tem cerca de 1,3 bilhões de habitantes.
ARTE À FLOR DA PELE
O lugar é asséptico, limpíssimo. Paredes brancas, espelhos, aparelhos de esterilização, luvas descartáveis, gavetas com seringas lacradas e cadeiras de dentista. Num balcão ficam expostos os tubos de tinta colorida. O ambiente seria tão silencioso quanto um hospital não fosse o som psicodélico que agita os corajosos que circulam pela casa em busca de uma das poucas coisas definitivas na vida: uma tatuagem. No estúdio Led’s Tattoo, do paulista Sérgio Ma-
ciel, 38 anos, cerca de 50 pessoas são tatuadas todos os dias. Com o verão, que naturalmente coloca barrigas, costas e pernas de fora, esse número cresce. A tatuagem existe desde que o mundo é mundo. O Homem de Gelo, um corpo congelado encontrado na Itália em 1991, que se supõe ter vivido há cerca de 7.300 anos, tinha vários desenhos sobre a pele. A múmia da princesa Amunet, de Tebas, exibe desenhos feitos de pontos e linhas que
certamente chamaram a atenção dos egípcios há mais de 4 000 anos. Não se sabe o que aquela tatuagem significava para os nossos ancestrais. Mas é muito provável que ela não tenha sido desprovida de sentido. “O corpo foi um dos primeiros instrumentos manipulados pelo homem para expressar um significado”, afirma a antropóloga Lux Vidal, especialista em pinturas corporais da Universidade de São Paulo. “Tatuagens, pinturas, mutilações e cortes de cabelo são modos de transformar o corpo para que ele comunique códigos, relações sociais e valores.”
As motivações que levam uma pessoa a se tatuar são quase infinitas. Índios de vários países costumam se pintar para, entre outras coisas, assinalar classificações de status entre os membros da tribo. Como em seu local de origem, dispensam as roupas com que o homem branco sinaliza seu poder aquisitivo e valores estéticos, é com tinta e formas impressas no corpo que eles se diferenciam. Os peles-vermelhas, da América do Norte, cobriam o corpo com pinturas em situações de luto ou para ir à guerra. Já na região que hoje corresponde
aos países árabes, as tatuagens eram feitas para “proteger” o corpo de doenças e trazer prosperidade. Acreditava-se que a impressão definitiva de desenhos na pele tinha propriedades mágicas. Quando a região foi dominada pelo Islamismo do profeta Maomé, tatuagens e qualquer alteração no corpo passaram a ser vistas como pecado. O primeiro registro literário da tatuagem data de 1769. Trata-se do relato do navegador inglês James Cook sobre o que viu ao chegar ao Taiti, na Polinésia: os nativos usavam espinhas de peixe finíssimas, ou
ossos de passarinho, para perfurar a pele e injetar um pigmento feito à base de carvão e ferrugem. Data daí também a palavra tattoo, versão para o inglês do taitiano tatu (pronuncia-se tatau), que quer dizer, adivinhe, desenho na pele. Ao longo da história as tatuagens também têm sido freqüentemente associadas à punição e a comportamentos marginais. Os bretões, povo bárbaro que habitava a região da atual Grã-Bretanha, pintavam o rosto com várias cores para intimidar invasores. No Império Romano, os escravos eram tatuados. Na
“Tatuagem hoje é status, como se fosse uma jóia. Significa que você é moderno. É sinônimo de personalidade”, diz Maciel.
A tatuagem pode ser tanto uma manife Conheça seus vários significados ao r
Mas a tatuagem, principalmente nas últimas décadas, deixou de significar desencaixe social. Para muita gente – e gente formadora de opinião, com alto poder aquisitivo e boa bagagem cultural –, tatuagem pode ser apenas uma forma de arte e diversão. Essa réstia de preconceito em relação a quem se tatua pode explicar a tremenda irritação que análises psicológicas geram na maioria dos tatuados de hoje. Clubbers, roqueiros, skatistas, surfistas, lutadores de jiu-jitsu, ou simplesmente aquela gatinha
que tatuou uma flor de lótus no tornozelo, todos eles detestam ser tratados como excêntricos ou anormais. “Não gosto que me rotulem porque não sou lata de óleo nem vidro de maionese”, diz Katia. De todo modo, certamente uma das razões que conduzem à tatuagem hoje é o desejo de aparecer em público com um visual inusitado. O motorista Luis Cláudio Marangoni, 32 anos, tatuado da cabeça raspada aos dedos dos pés (“Inclusive lá”, afirma), com motivos que vão de mulheres
nuas a morcegos, passando por escrita japonesa, adora pôr uma sunga e sair por aí. Ao seu lado, acredite, qualquer modelo de biquíni passaria despercebida. Fazer uma marca definitiva no corpo exige coragem para desafiar normas e encarar preconceitos. Em profissões tradicionais, como advocacia e medicina, braços cheios de desenhos não são vistos com bons olhos. Nem por chefes, nem por pares e nem pelos clientes da maioria das empresas.
“Perdi a conta de quantas vezes me perguntaram se eu vendo drogas. Infelizmente a tatuagem ainda é vista como sinônimo de irresponsabilidade”, diz a analista de sistemas Katia Marcolino, 32 anos, toda tatuada.
estação artística quanto de rebeldia. redor do mundo e ao longo dos tempos. França do século XVIII, criminosos ganhavam uma pintura na pele – às vezes uma marca com ferro quente – registrando o crime que tinham cometido. Prostitutas, piratas e marinheiros também se tatuam há séculos, como sinal de valentia e para demarcar seus grupos sociais (na primeira década deste século, todo navio que partia da Europa levava a bordo um tatuador). Sereias, caravelas, mulheres, âncoras e sinais patrióticos sempre foram os desenhos mais escolhidos entre os marinheiros. Era comum também as prostitutas levarem uma
marca de seus cafetões, como um atestado de propriedade. Em presídios do mundo inteiro, os próprios detentos se tatuam para diferenciar a facção à qual pertencem. O desenho do punhal cravado num coração significa “assassino”. É comum também os presos marcarem o número do crime que cometeram (o número 288, por exemplo, é o artigo referente ao crime de formação de quadrilha no Código Penal Brasileiro). Antigamente, era a própria polícia que os tatuava. Na Inglaterra, cravavam-se as iniciais “BC” – bad character,
na pele dos condenados. “Ao longo do tempo, a tatuagem acabou virando a marca de pessoas marginais, diferentes do resto da sociedade”, diz Mirela Berger, mestre em Antropologia pela Universidade de São Paulo. Hoje isso mudou. Alguns grupos marginais ainda utilizam a tatuagem como código, como os mafiosos japoneses da Yakuza, que tatuam grande parte do corpo como prova de coragem e de fidelidade à gangue. Além da tatuagem, é muito comum membros do grupo terem falanges decepadas como punição por traição.
Seitas ufológicas
Grupos messiânicos movidos pela crença na vida extraterrestre arrebanham seguidores mundo afora. Alguns tiveram fim trágico
N
o dia 27 de março de 1997, nada menos do que 39 pessoas foram encontradas mortas numa mansão ao norte de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos. Elas haviam cometido suicídio coletivo, levadas pela crença cega em Marshall Applewhite, líder de uma seita denominada Heaven’s Gate (literalmente, “Portal do Paraíso”). Applewhite fez seus seguidores acreditarem que alcançariam a vida eterna se morressem no momento da passagem do cometa Halle-Bopp pela Terra, pois o astro abrigaria em sua cauda uma nave espacial. Fundada em 1970, a Heaven’s Gate é só uma das muitas seitas que se espalharam pelo mundo ancoradas em elementos ufológicos. Na maior parte das vezes, seus líderes se dizem pessoas eleitas por “forças extraterrestres” para cumprir alguma missão na Terra. O ufólogo Vanderlei D’Agostino diz que existem três tipos de líderes de seitas: os bem-intencionados, os que têm algum desvio de conduta (eventualmente patológico) e os literalmente charlatães. Ou seja, não dá para generalizar. Nem todos, é claro, levam a um final trágico quanto o do Heaven’s Gate. A seguir, conheça mais algumas seitas que arrebanharam seguidores com base em crenças e dogmas ligados à ufologia.
Movimento Raeliano Fundado em 1975 pelo jornalista francês Claude Vorilhon, que se autodenomina Rael, prega que o ser humano foi criado em laboratório por extraterrestres. Rael, hoje com 59 anos, afirma ter sido contatado e abduzido em 1973 por um ET, que lhe pediu para construir uma “embaixada” na Terra, para receber de volta os alienígenas. O francês teria sido escolhido como o “messias”, destinado a conscientizar a humanidade sobre a necessidade de evolução. A seita tem 70 mil seguidores no mundo. Nos últimos anos, tem chamado a atenção por sua defesa da clonagem humana – tida como um meio de atingir a imortalidade. Há rumores de que a Clonaid, empresa criada por Rael em 1997, já teria conseguido gerar uma menina, clone de uma mulher de 31 anos.
Comando Ashtar Baseia-se em supostos contatos realizados entre humanos e um extraterrestre chamado Ashtar Sheran, que seria o grande “comandante intergaláctico”, incumbido de promover a regeneração da Terra. É um movimento forte na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. A figura de Ashtar estaria ligada a mensagens de alerta à humanidade. Nos anos 50, segundo seus seguidores, Ashtar teria entrado em contato com a Terra para evitar que bombas atômicas destruíssem nosso planeta e colocassem em risco o equilíbrio intergaláctico.
Projeto Portal A seita foi fundada há dez anos em Corguinho (MS) por Urandir Fernandes de Oliveira, que se considera um representante dos ETs na Terra. “Tem causado grandes estragos na vida de inúmeras pessoas que o procuram na busca de curas e contatos com ETs”, diz Rafael Cury, presidente da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil. Urandir chegou a ser preso, sob acusação de participar de um esquema de venda ilegal de lotes de terra em Corguinho. Segundo Urandir, o mundo será castigado por uma grande inundação, mas o lugar que ele chama de “A Cidade dos ETs” – onde ficam os tais lotes de terra – estaria imune à tragédia.
Lineamento Universal Superior Criado pela vidente brasileira Valentina Andrade e por seu marido, o argentino José Teruggi, em Buenos Aires. Segundo eles, só os seguidores da seita seriam salvos do apocalipse, resgatados por naves espaciais. Nos anos 80, Valentina e outros membros do grupo foram acusados de castrar nove meninos de 8 a 14 anos e assassinar seis deles, em rituais satânicos, entre 1989 e 1993, em Altamira, no Pará. “Quando invadiram sua residência em Londrina, no Paraná, encontraram várias fitas de vídeo em que ela, em transe, dizia: ‘Matem criancinhas’”, conta Rafael Cury. Presa em 2003, Valentina foi julgada e absolvida por falta de provas. Outros quatro acusados foram condenados a penas de 35 a 77 anos de prisão.
Grupo Rama
Cultura Racional
Começou no Peru, com os irmãos Sixto e Carlos Paz. Após se desentender com o irmão, Carlos mudou-se para o Brasil e criou um braço da seita, o Grupo Amar (Rama ao contrário). Os irmãos organizavam vigílias para aguardar a chegada de naves alienígenas. Afirmavam viajar com freqüência à Constelação de Órion, onde eram recebidos por ETs. Após denúncias sobre a falsidade desses contatos, a seita caiu no ostracismo. Carlos acabou mudando de sexo e Sixto perdeu credibilidade depois de participar de um programa de TV e ser reprovado por um detector de mentiras. As duas vertentes da seita deixaram de existir no início dos anos 90.
Foi criada por Manoel Jacinto Coelho em 1935, no Rio de Janeiro, num centro espírita no bairro do Méier. Nos meios usados para sua divulgação, a Cultura Racional cita com freqüência discos voadores e seres extraterrestres. Considera-se um movimento cultural, não uma seita. Nos anos 70 e 80, atraiu milhares de seguidores, entre eles o cantor Tim Maia, que acabou deixando o movimento. Seus princípios se baseavam em um conjunto de livros denominado Universo em Desencanto, considerado por muitos um instrumento de lavagem cerebral.
Obesidade causa danos ao cérebro Estudo revela que comer demais provoca inflamação cerebral - e pode deixar a pessoa neurologicamente incapaz de controlar seu apetite Todo mundo conhece os riscos trazidos pela obesidade - diabetes, doenças cardiovasculares, menor expectativa de vida. Mas uma nova descoberta está surpreendendo a comunidade científica: a gordura também causa danos ao cérebro. Pesquisadores da Universidade de Nova York estudaram o cérebro de 63 pessoas - 44 delas tinham sobrepeso ou obesidade e as demais eram magras. A experiência constatou que, nos indivíduos obesos ou acima do peso, o cérebro apresentava duas alterações importantes: tinha níveis mais altos de fibrinogênio, uma proteína que causa inflamação, e menor córtex orbitofrontal - região cerebral que coordena a tomada de decisões. Os cientistas ainda não sabem explicar exatamente como esse processo se desenrola. Mas apostam no seguinte: obesidade gera fibrinogênio, que gera inflamação, que gera danos ao córtex. E tudo isso gera consequências permanentes - e terríveis. "Essa inflamação, ao afetar a integridade do córtex orbitofrontal, pode reduzir o controle da pessoa sobre seus hábitos alimentares", afirma o estudo, coordenado pelo psiquiatra Antonio Convit. Ou seja: indivíduos acima do peso poderiam se tornar neurologicamente incapazes de comer menos. Escravos do próprio apetite.
E com dificuldade para se lembrar das coisas. Uma pesquisa recém-publicada nos EUA constatou que a obesidade afeta a capacidade de memorização. A diferença é que, nesse caso, a sequela não é permanente (perder peso reverte o efeito).
Curiosidades Segurar o xixi ajuda você estará na pior, rezando por outro milhão a tomar decisões Psiquiatras da Universidade de Twente, na Holanda, demonstraram que ter bom controle da bexiga ajuda a evitar atitudes impulsivas. Numa experiência, pessoas que tomaram 5 copos de água fizeram escolhas menos imediatistas e mais vantajosas. Isso supostamente acontece porque segurar a vontade de urinar estimula o autocontrole.
Dinheiro na mão é vendaval? "Nossa programação é gastar mesmo - fazer vendaval. Só que essa lógica pré-histórica não faz mais sentido. Se antes os recursos eram perecíveis, hoje podem ser conservados e até render juros. Melhor não fazer vendaval." Philipe Maciel, professor da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro Ô SE É "Sua conta aumentou em US$ 1 milhão: você irá conhecer o mundo, viver nos melhores hotéis, pegar caminhões de mulheres, certo? Certo, por 6 meses, se tanto. Depois disso
pra pagar as dívidas."
O que há por trás do Facebook por Vinícius Cherobino e Alexandre Versignassi Por trás da rede social de A Rede Social há 60 mil servidores. E muita fé também: se você comprasse o Facebook hoje teria que esperar 100 anos para o investimento dar retorno. Mas tudo bem: pelo menos você seria dono do maior álbum de fotos da história da hu-
por, Carlos Cardoso, do 1 BILHÃO DE PESSOAS Blog do Cardoso NÃO PRECISA SER "Há dois modos de ver o futuro: o vidente e o previdente. Quem prefere a opção vidente, se consulte com um deles e torça para ouvir ‘você vai ficar rico!’. A quem opta pelo caminho previdente, aconselho a iniciar um bom plano de previdência privada."
Mulheres canhotas são mais egoístas Estudo mostrou que canhotas são menos generosas do que destras. por Thiago Perin Cientistas holandeses criaram um jogo em que os voluntários eram agrupados em pares. Uma pessoa recebia dinheiro, e tinha que decidir quanto iria compartilhar com o colega. O estudo constatou que os homens canhotos são mais generosos do que os destros. Já entre as mulheres é diferente: as canhotas retêm mais dinheiro para si.
O Facebook ganha 8 novos membros por segundo. Se continuar nessa toada, deve saltar dos 500 milhões de usuários de hoje para 1 bilhão no começo de 2013. No Brasil são só 11 milhões, contra 50 milhões do Orkut. Só que ele cresce 10 vezes mais rápido que o concorrente pioneiro. Mantendo o ritmo de hoje, o Feice ultrapassa o Orkut lá por abril de 2012. 55 BILHÕES DE FOTOS A graça do Facebook são as fotos. Não é a gente que está dizendo, mas Mark Zuckerberg, o chefe. São 55 bilhões delas ali. Com isso, o Facebook pode dizer que é o maior álbum online da história - o Flickr, segundo colocado, tem 10 vezes menos. Isso dá uma média de 110 fotos por pessoa. Pouco, até. Mas a coisa deve crescer bem: só na noite de Ano Novo entraram 750 milhões de fotos. 60 MIL SERVIDORES Essa é a quantidade de máquinas que guardam o conteúdo da rede social - segundo estimativas da indústria, porque o Facebook não revela o número exato. O custo estimado para rodar os 60 mil servidores é de US$ 100 milhões por ano. E vai crescer: a rede social está construindo um data center do zero no Oregon, do tamanho de 26 Maracanãs. O 10º HOMEM MAIS RICO DO BRASIL Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook que foi passado pra trás por Zuckerberg, entrou numa batalha judicial contra o ex-amigo e terminou como dono de 5% do site. Isso o deixa hoje como o 10º homem mais rico do Brasil, já que o Facebook está avaliado em US$ 50 bilhões. Com US$ 2,5 bilhões de dólares, Saverin está logo atrás de Abílio Diniz e de Antônio Ermírio (US$ 3 bi cada). E ele tem 29 anos. LUCROS MIÚDOS O Facebook divulgou que teve lucro de US$ 355 milhões nos primeiros 9 meses de 2010 - o que leva a uma estimativa de US$ 473 milhões no ano. É pouco para uma empresa avaliada em US$ 50 bilhões. A Amazon, que vale a mesma coisa, deu US$ 900 milhões. A Bayer, US$ 1,9 bilhões. Mas ok: a expectativa dos investidores é que o Facebook logo dê tanto quanto o Google com publicidade online: US$ 2,5 bilhões. Por esse ponto de vista, US$ 50 bi ainda está barato. O Google vale 4 vezes mais. UM PÉ NO NAPSTER O The Facebook, primeira versão do site, permitia o compartilhamento de qualquer arquivo entre amigos - de fotos a músicas ou textos. Desenvolvido pelo próprio Mark Zuckerberg e por Sean Parker (que também é cofundador do Napster), o serviço foi lançado em 2004. Fontes Consultorias Pingdom e Candytech; revista Forbes
Deus existe? Existe uma luz no fim do túnel? Eu sinceramente espero que sim. Afinal, faz várias semanas – meses talvez – que estou perdido nesse labirinto escuro. Eu não sei o que fiz para merecer tamanho castigo. De todos os trabalhos que poderiam me dar nesta vida de jornalista, não deve ter abacaxi mais cascudo que esse: uma reportagem sobre Deus... e justo numa revista científica! Mecânica quântica e matemática do caos a gente até entende – com a ajuda de um bom professor, claro. Deus é outra história. É o infinito imponderável: aquilo que não dá para se pensar nem imaginar. É o infinito inefável: aquilo que não dá para se falar. Ou pelo menos essa é a maneira mais segura de abordar – e encerrar – o assunto sem cair no ridículo nem ofender ninguém. Mas são os próprios cientistas que não param de falar em Deus. Os últimos dez anos em especial viram nascer um novo filão literário dedicado a discutir o Divino – aquele mesmo, um Criador Onipotente e Onisciente! – à luz da física e da matemática, da química e da biologia.
O culpado, ao que tudo indica, é o físico inglês Stephen Hawking, ocupante da cadeira que foi de Isaac Newton na ultra-prestigiosa Universidade de Cambridge e um dos principais teóricos dos buracos negros. Hawking, todo mundo sabe, realizou um milagre digno do Grande Arquiteto Celestial ao vender mais de dez milhões de cópias de um tratado de cosmologia e astrofísica, denso o suficiente para fritar o cérebro do público leigo. Publicado em 1988, Uma Breve História do Tempo tornou-se o mais inesperado best seller da história e até filme virou – não sem antes deixar no ar, bem no parágrafo final, uma sedutora insinuação de casamento entre ciência e religião: “Se chegarmos a uma teoria completa, com o tempo esta deveria ser compreensível para todos e não só para um pequeno grupo de cientistas. Então, todo mundo poderia tomar parte na discussão sobre por que nós e o Universo existimos... Nesse momento, conheceríamos a mente de Deus.” Aviso importante: Hawking nunca se
No final do século passado, a ciên conhecimento: decifrar os últimos mist de tempo. Agora, na entrada de um n agonizam e os cienti
declarou religioso e usa essa idéia mais como uma frase de efeito, uma metáfora do conhecimento total do Universo. Mas não demorou para outro cientista inglês do alto escalão, o físico Paul Davies, extrair todo um livro – e mais um sucesso comercial de arromba! – levando ao pé da letra as palavras do colega. Acolhido com uma chuva de prêmios destinados à divulgação científica, A Mente de Deus (1992) passa em revista a história da ciência e da filosofia para afirmar, com convicção, que tudo no cosmo revela intenção e consciência. Como o próprio Davies resumiu em uma entrevista: “Acredito que as leis da natureza são engenhosas e criativas, facilitando o desenvolvimento da riqueza e da diversidade na natureza. A vida é apenas um aspecto disso. A consciência é outro. Um ateu pode aceitar essas leis como um fato bruto, mas para mim elas sugerem algo mais profundo e intencional.” Estava dada a deixa para uma verdadeira
enxurrada de físicosteólogos atacar o assunto em dezenas de publicações semelhantes, como Ian Barbour, Arthur Peacocke, Hugh Ross, Frank Tipler e Gerald Schroeder. Dessa turma, o mais ativo é o também inglês John Polkinghorne, colega de Hawking no departamento de Física de Cambridge, que – depois de 25 anos de carreira acadêmica brilhante – largou tudo para se ordenar pastor anglicano e escrever seus livros de “cristianismo quântico”. “Eu não abandonei a física porque estava desiludido com ela, muito pelo contrário: continuo acompanhando o assunto com o máximo interesse. Só não faço mais pesquisa científica. Mas boa parte dos meus livros consiste em ensinar física quântica aos leigos”, disse ele à SUPER. “Acredito que precisamos de ambas as perspectivas, a científica e a religiosa, para compreender esse mundo admirável em que vivemos.” Alguma transformação radical deve ter ocor-
ncia acreditava ter todas as chaves do térios da natureza era só uma questão novo milênio, as certezas mais claras tistas se perguntam... rido para que a crença em Deus, assunto que havia se tornado tabu em laboratórios e universidades, renascesse com tanta força. Cem anos atrás, a ciência se projetava como a própria imagem do progresso e da civilização: decifrar todos os mistérios da natureza era só uma questão de tempo. Era como se estivéssemos em um trem, atravessando planícies ensolaradas, com uma visão cada vez mais ampla de tudo que nos cercava. Nós mesmos havíamos nos tornado os senhores do universo. Ninguém necessitava mais de fantasias como “providência divina”. Conceitos desse tipo – e entidades sobrenaturais em geral – passaram a ser considerado ou uma infantilização neurótica (Freud) ou um meio das classes dominantes subjugarem os pobres e oprimidos (Nietzche e Marx). De repente, sumiram de vista as planícies, a luz do sol e os próprios trilhos do trem. Um terremoto, depois outro,
haviam nos atirado dentro de um túnel escuro, onde as velhas certezas voltavam a se converter em mistérios. Esses dois cataclismas eram justamente a física quântica e a matemática do caos. “Ambas teorias mostravam que existe uma imprevisibilidade inevitável espalhada por toda a natureza. Não acho que isso deva ser interpretado como uma infeliz ignorância de nossa parte e sim como sinal de que os processos físicos são muito mais abertos do que a mecânica de Newton sugeria. Quando falo ‘abertos’, estou querendo dizer que existem outros princípios causais em ação, acima e além das trocas de energia que a física descreve”, afirma Polkinghorne. O físico brasileiro Ricardo Galvão, da Universidade de São Paulo – que se diz “bastante religioso” – completa o quadro: “A partir das equações da mecânica de Newton e da teoria do eletromagnetismo de Maxwell, a ciência clássica dava a impressão de que, conhecen-
do essas leis matemáticas, conseguiríamos descrever todo o Universo. É o que se chama de conceito determinístico, segundo o qual se acreditava que, conhecendo as condições iniciais de um evento ou sistema, poderíamos prever toda sua evolução futura. Mas já no final do século passado, o matemático e físico francês Henri Poincaré (1854-1912) tocou no problema de que essas condições iniciais nunca são bem conhecidas. Ele mostrou que mesmo a mecânica de Newton não era determinística no sentido que se pensava. Aí, veio a mecânica quântica e introduziu o conceito de que é impossível se conhecer simultaneamente a posição e o movimento de uma partícula. Esse é o Princípio da Incerteza de Heisenberg, que realmente derrubou aquela atitude científica do tipo ‘conhecemos tudo e podemos prever o futuro’ ”. Foi justamente o Princípio da Incerteza que fez Einstein soltar, em protesto, sua frase mais famosa: “Deus não joga dados!”. A imprevisibilidade quântica era demais para ele aceitar. Einstein, como se sabe, falava o tempo todo em Deus – até o dia em que o encostaram na parede e perguntaram se ele acreditava mesmo no
Dito Cujo. “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela na harmonia e na ordem da natureza, não em um Deus que se preocupa com os destinos e as ações dos seres humanos”, respondeu o criador da teoria da relatividade, citando o filósofo holandês do século XVII para quem Deus e o Universo seriam a mesma “substância”. Tal entidade, para Spinoza, só poderia ser acessível à mente humana em dois de seus infinitos atributos: o pensamento consciente e o mundo das coisas materiais. A definição de Einstein decepcionou muita gente – John Polkinghorne, inclusive – por excluir o que costuma se chamar de “Deus pessoal”. Assim, até um ateu convicto como Carl Sagan aceita a divindade. “A idéia de Deus como um gigante barbudo de pele branca, sentado no Céu, é ridícula. Mas se, com esse conceito, você se referir a um conjunto de leis físicas que rege o Universo, então claramente existe um Deus. Só que é emocionalmente frustrante: afinal, não faz muito sentido rezar para a lei da gravidade!”, disse o famoso astrônomo americano.
Os sonhos decifrados Por que sonhamos? Para que serve o sonho? Ninguém até hoje matou a charada. Para desvendar um dos maiores mistérios da mente, neurologia e psicanálise agora caminham juntas.
J
á pensou em visitar um lugar em que as leis da física valem tanto quanto uma nota de 3 reais? Onde você pode beijar uma estrela de cinema segundos antes de sair voando, cair e morrer, para levantar em seguida e ir para o trabalho de pijama? Num universo em que a lógica não tem vez, mas tudo parece fazer sentido – até você acordar e não entender nada do que se passou no momento anterior? Você e a humanidade inteira são habitués desse lugar mental – o domínio dos sonhos. Supondo que uma pessoa passe um terço do dia dormindo e ocupe um quinto do tempo de repouso sonhando, ela passa um fim de semana por mês totalmente desligada do mundo consciente. Em uma existência de 75 anos, os sonhos correspondem a nada menos que 5 anos completos. Apesar de termos tanta familiaridade com os sonhos, poucos fenômenos são tão intrigantes quanto eles. Seus mistérios atormentam o homem desde sempre – e ainda não há nenhuma resposta 100% convincente para esses enigmas. Entre os antigos, os sonhos costumavam ser interpretados como mensagens de outros mundos. Com a psicanálise, ganharam destaque como o caminho mais privilegiado para decifrar o inconsciente. Os avanços científicos mais recentes são promissores: graças ao desenvolvimento
das neurociências, já foram desvendados alguns mecanismos cerebrais e funções da experiência onírica. Sabe-se, por exemplo, que os devaneios noturnos ajudam, e muito, a consolidar memórias. Nesta reportagem, você vai acompanhar a trajetória do pensamento humano no maravilhoso mundo dos sonhos. Por enquanto, fique de olhos bem abertos e aproveite a viagem.
Ponte para o divino Em 332 a.C., Alexandre, o Grande, tentava invadir a cidade fenícia de Tiro (no atual Líbano). Apesar da supremacia de seu exército, a localização da cidade – que ficava em uma ilha a quase 1 quilômetro da costa – atrapalhou os planos do conquistador. Depois de 7 meses de cerco, os soldados estavam sem ânimo e o próprio Alexandre começou a pensar na possibilidade de desistir da empreitada. Antes de bater em retira-
da, no entanto, ele teve um sonho enigmático com um sátiro dançando sobre o seu escudo. A imagem da figura mitológica ficou martelando tanto em sua cabeça no dia seguinte que ele resolveu se aconselhar com um guia espiritual que acompanhava suas tropas. Depois de ouvir o relato do sonho, o adivinho o interpretou como um sinal de que o cerco deveria ser ainda mais agressivo, pois a cidade seria conquistada em breve. Ele chegou a essa conclusão após desmembrar a palavra sátiro em duas partes – o resultado foi a expressão sa Turos, que pode ser traduzida do grego como “Tiro é sua”. Alexandre acreditou no guru, fechou o cerco e, dito e feito, invadiu Tiro. Esse episódio foi descrito pelo grego Artemidoro de Daldis na obra Oneirocrítica, escrita no século 2 da era cristã, e reproduzido por Sigmund Freud no livro A Interpretação dos Sonhos. Artemidoro e Ambrósio Teodósio Macróbio – pensador latino que viveu entre os séculos 4 e 5 – colheram relatos de pessoas e, após analisar esse material, dividiram os sonhos em duas categorias principais. Na primeira se encaixavam aqueles que reproduziam fatos do cotidiano do sonhador. Na segunda entravam aqueles que traziam alguma mensagem sobre o futuro, que podia se apresentar de forma direta – quando o próprio acontecimento é imaginado – ou simbólica, como o sonho de Alexandre, que
precisou ser decifrado para revelar seu conteúdo oculto. Artemidoro e Macróbio são considerados os principais pesquisadores sobre os sonhos na Antiguidade, mas não foram os únicos. Aristóteles, que viveu no século 4 a.C., já falava sobre o assunto em sua obra. “Ele sabia que o sonho converte informações sem muita importância percebidas durante o sono em sensações fortes”, escreveu Freud. Uma pessoa com febre, por exemplo, pode sonhar que está sendo queimada viva numa fogueira. O filósofo também teve outra sacada genial, que seria mais tarde confirmada pelas neurociências: segundo ele, os movimentos corporais que ocorrem durante algumas fases do sono têm relação direta com os sonhos. Os estudos de Artemidoro, Macróbio e Aristóteles revelam uma preocupação pouco comum entre nossos antepassados. O sonho não era visto como uma produção da mente humana, mas como um fenômeno sobrenatural. A mitologia dos próprios gregos, por exemplo, delega a responsabilidade dos sonhos aos filhos de Hypnos, deus do sono, que por sua vez era irmão gêmeo de Tanatos, deus da morte. Entre os filhos de Hypnos estavam o célebre Morfeu, que trazia os sonhos dos homens; Icelus, que provocava os sonhos nos animais; e Phantasus, que despertava sonhos nas coisas inanimadas.
De Darwin à psicanálise
As interpretações sobrenaturais dos sonhos perderam força a partir do século 19, quando a ciência começou a se ocupar mais atentamente da questão. Um dos primeiros indícios dessa transformação está no livro A Descendência do Homem, de Charles Darwin, publicado em 1871. Nessa obra, o autor do célebre A Origem das Espécies, de 1859, faz algumas observações sobre a nossa capacidade de sonhar e sugere que não estamos sozinhos no reino de Morfeu. “Cachorros, gatos, cavalos e provavelmente todos os animais superiores, até mesmo as aves, têm sonhos vívidos, o que é mostrado por seus movimentos e pelos sons que emitem. Por isso devemos admitir que eles têm
algum poder de imaginação”, escreveu. Ele acertou na mosca – hoje os cientistas sabem que praticamente todos os mamíferos e aves têm a capacidade de sonhar. Darwin foi contemporâneo de pesquisadores como a psicóloga americana Mary Calkins. No artigo Estatística dos Sonhos, publicado em 1893, ela apresenta um método usado até hoje: durante o sono, quando seus pacientes começavam a mover algumas partes do corpo, ela os acordava e pedia que relatassem o que estavam sonhando. Calkins descobriu, entre outras coisas, que a maioria dos sonhos acontecia na segunda metade do período de sono e que 89% dos relatos tinham relação direta com os eventos do dia anterior. Houve vários outros estudos sobre os sonhos na segunda metade
do século 19, mas eles não fizeram muito sucesso. Mas isso não acontece de forma direta – quem deseja cometer um crime, por exemplo, não adota necessariamente um comportamento ilegal no sonho. Nas décadas seguintes, a psicanálise foi debatida, modificada e ampliada por vários pesquisadores. Um deles foi Carl Gustav Jung, acolhido inicialmente por Freud como seu discípulo, mas que depois se afastou do mestre e criou sua própria teoria. Inclusive no que diz respeito ao sonhos. “Para Jung, o sonho é um mecanismo compensatório da psique, e a realização de desejos reprimidos é apenas um aspecto dessa compensação”, diz a psicóloga Marion Gallbach, da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica.
5 perguntas sobre os sonhos Como é o sonho dos cegos? Quando uma pessoa nasce cega e não tem referências visuais, os sonhos são recheados pelos outros sentidos, como a audição. Mas ela pode formar imagens mentais relativas ao espaço, assim como consegue perceber os caminhos por onde anda durante o dia. Já quem nasce com a visão em ordem e fica cego mais tarde pode ter sonhos com imagens durante a vida toda. Bebês sonham? Como eles não falam, não dá para saber com precisão. O sono REM, um dos principais indícios do sonho, está presente em todas as idades. Mas a experiência deve ser bem diferente da vivida por nós, adultos, pois o bebê tem uma consciência em formação, tem emoções, memória e percepção do mundo, mas ainda não tem uma ferramenta essencial para a construção do sonho como ele ocorre nas pessoas adultas: a linguagem. Sonhamos em cores ou em P&B? Nossos sonhos, segundo os neurologistas, têm cores. O que pode causar a sensação de um sonho em preto-e-branco é a dificuldade que temos de manter as imagens oníricas na memória – elas vão, quase literalmente, esmaecendo no decorrer do dia. Esse esquecimento é causado pelo fato de o conteúdo dos sonhos ficar armazenado em nossa memória de curta duração. Para evitar que uma cena sensacional seja perdida, o único jeito é mentalizar o sonho várias vezes ao acordar. Se tomar nota, melhor ainda. Só assim eles ficam guardados em uma memória mais duradoura – e colorida. Existem sonhos premonitórios? Há muitos indícios de que não. Um deles é a inconsistência dos relatos. “Quem acredita nesse tipo de sonho costuma relatar fatos isolados relativos à experiência premonitória, mas quase nunca diz quantos sonhos não correspondem ao que realmente aconteceu depois”, diz J. Allan Hobson em seu livro Dreaming: An Introduction to the Science of Sleep (“Sonhando: Uma Introdução à Ciência de Dormir”, inédito no Brasil). Animais sonham? Sim, com quase 100% de certeza. Os donos de gatos e cachorros sabem que, durante o sono, os bichos se movem e emitem ruídos que sinalizam uma atividade mental intensa. A ciência já descobriu que os mamíferos – e as aves, em menor escala – têm sono REM, portanto concluiuse que eles sonham de alguma maneira. O único entrave nessa pesquisa é a impossibilidade de relatos dos sujeitos – no caso, os animais.
AFINAL, POR QUÊ SONHAMOS?
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inguém sabe ainda. Mas há várias pistas. E uma delas é a relação mais que comprovada entre os sonhos e a memória. Nos últimos anos, vários artigos têm batido na tecla de que o sono REM – durante o qual, sabe-se agora, ocorrem mais de 90% dos sonhos, mas não todos – é importantíssimo no processo de aprendizado. Fazem parte desse time cientistas como Robert Stickgold, de Harvard, e o brasileiro Sidarta Ribeiro, da Universidade Duke, também nos EUA. Este último vem desenvolvendo uma pesquisa que relaciona a expressão de alguns genes ao processo de formação de memórias. Os resultados do estudo indicam que a fase REM ajuda a consolidar memórias recém-adquiridas – sem os sonhos, as informações do dia-a-dia entram por um ouvido e saem pelo outro. Todos parecem concordar que o sonho é essencial para o bom funcionamento do nosso cérebro. “Sonhar é uma ferramenta cognitiva importantíssima”, diz o neurologista Sérgio Tufik, diretor do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo. Mas alguns pesquisadores vão além e afirmam que o sonho é fundamental à nossa sobrevivência. Um time de psicólogos da Universidade de Montreal liderado pela psicóloga Anne Germain afirmou, por exemplo, que um dos furos da teoria é a baixa incidência de sonhos com temática negativa. Durante o processo evolutivo, o sonho foi incorporado a algumas espécies, mesmo representando um risco real. “Ao desligar-se do mundo completamente, o homem e outras espécies podem ser atacados. Não acredito que, nos próximos anos, teremos instrumentos específicos para a análise dos sonhos ou dos pensamentos que ocorrem durante a vigília”, diz o psiquiatra Jerome Siegel, da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Sonhar não custa nada.
POR TRÁS DA CORTINA DE FUMAÇA
A Organização Mundial da Saúde publica o mais completo relatório sobre os efeitos da maconha. E afasta a onda de desinformação que cerca a droga ilegal mais consumida do mundo.
E
ra para ser uma festa. Era para ser o triunfo da pesquisa médica em seu esforço de separar, cientificamente, o que é mito e o que é fato sobre os efeitos da Cannabis, conhecida como maconha. Mas o relatório sobre a droga publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), das Nações Unidas, teve uma outra recepção. A entidade começou a trabalhar em 1993. Convocou os maiores especialistas do mundo e incumbiu-os de, nos cinco anos seguintes, examinar o resultado de centenas de pesquisas. Finalmente, em dezembro do ano passado, as conclusões dessa equipe foram reunidas num documento de 49 páginas, publicado sob o título Cannabis: uma Perspectiva de Saúde e Agenda de Pesquisa. Surgia o mais completo relatório produzido sobre a maconha nos últimos quinze anos. Aí, o que era para ser uma festa virou guerra política.
Cérebro aberto à investigação O efeito sobre as funções nobres do cérebro, embora não seja tão pesado quanto se pinta, pode prejudicar o comportamento dos usuários. O risco da dependência é pequeno, mas não é nada desprezível. A avaliação mais recente, divulgada em 1997, indicava que eram 140 milhões de dependentes, 2,5% da população da Terra. Mas esse número vai aumentar, diz a OMS. “O uso vem crescendo dramaticamente nos últimos anos.
O trabalho da OMS mal foi lido. Até o início do mês de março, pouco mais de 500 cidadãos, nos cinco continentes, tinham tido acesso a ele. Quase não houve repercussão. O motivo é que seu conteúdo foi encoberto pela campanha dos que pregam a legalização da droga. Nada contra a polêmica, que pode ser até saudável. Mas o fato é que, no caso, ela fez sombra sobre o texto da OMS e favoreceu a onda de desinformação. A confusão chegou ao ápice quando a revista semanal inglesa New Scientist, na sua edição de 21 de fevereiro, pôs em sua capa uma reportagem explosiva em que acusava a OMS de ter suprimido do documento, por motivos políticos, um capítulo mostrando que a maconha seria menos perniciosa do que o álcool e o tabaco. A OMS admitiu a supressão do capítulo, mas negou os motivos. Declarou que o texto comparando as três drogas
fora excluído por prudência, pois os estudos nos quais ele se apoiava não eram conclusivos. De fato, isso só levaria a mais confusão. Tanto é que a confusão, com capítulo ou sem capítulo, alastrou-se. E desviou, ainda mais, a atenção do público daquilo que, afinal, era o mais importante – o próprio relatório da OMS. Quem foi apanhado de surpresa pela guerra de versões pode ter ficado desorientado. E pode até estar pensando que a maconha nem é tão perigosa. Mas ela faz mal, sim, e cria riscos sérios para a saúde. Quem tem dúvida, é só consultar o relatório. “Ele confirma diversas conseqüências nocivas comumente apontadas em relação à maconha”, resume a psicobióloga brasileira Maristela Monteiro, da OMS, uma das responsáveis pela versão final do texto. “E além disso aponta novos perigos.” Ao mesmo tempo, o trabalho
desmontou mitos antigos, livrando a droga de acusações que ainda hoje se escutam. A verdade é que não, a maconha não reduz o número de espermatozóides nos homens, não induz à violência nem tira a disposição para o trabalho e para o estudo. Nas páginas seguintes, a SUPER vai esmiuçar o conteúdo do relatório para você. Os resultados apresentados pela OMS ajudam, e muito, a reverter a maré de dúvidas e de mistificações em torno da droga. Para começar, admite que ela possa ter aplicações medicinais (e sobre isso a SUPER já publicou uma reportagem de capa, em agosto de 1995). Mas aponta, com precisão científica, os males que o uso indiscriminado dessa substância pode causar. Não são poucos. E não são suaves. É bom você se informar a respeito e escapar da cortina de fumaça – que ainda esconde muitos riscos. por Flávio Dieguez
Verdades
X
Mentiras
A capacidade de aprender e de raciocinar e a memória diminuem?
Os neurônios ficam estragados?
Há somente três anos, parecia não haver sinais de que a droga pudesse afetar as atividades cerebrais mais refinadas, aquelas que os especialistas chamam de funções cognitivas, as ligadas ao processo de conhecimento. Uma das novidades dos relatório é que agora há provas disso. Quem fuma regularmente por muitos anos tem dificuldade para organizar grandes quantidades de informações complicadas. Num tipo de teste, um cidadão empilha cartas segundo regras que o paciente precisa deduzir, apenas observando o “jogo”. Com o tempo, as regras vão sendo mudadas. Quem não fuma, deixa de perceber cinco de cada 100 mudanças de regra. Fumantes pesados cometem o mesmo erro oito vezes. “A diferença é sutil”, afirma o relatório. “Mas é ratificada por novos estudos, realizados em 1995 e 1996.”
A idéia de que a maconha afeta as funções do cérebro porque causa algum tipo de dano aos neurônios não está comprovada. As pesquisas dão resultados ambíguos. Certas imagens das células cerebrais de ratos, obtidas por tomógrafo, parecem ligeiramente deformadas, especialmente nos pontos em que elas tocam umas nas outras, chamados sinapses. Mas em outras experiências não se vê alteração nenhuma. Logo, não é possível tirar uma conclusão definitiva. Diante da relevância do assunto, o relatório da OMS sugere que se façam estudos mais aprofundados sobre ele.
Quem fuma muito tempo pode acabar caindo na dependência?
Então, todos ficam viciados?
Grande parte dos usuários pesados, desses que fumam diariamente durante meses, acaba se viciando. As estatísticas indicam que até metade dos fumantes desse tipo perdem o controle sobre o hábito e precisam de tratamento para se recuperar. Entre os que não conseguem a cura, muitos apresentam sintomas que agravam a dependência. Ficam desmotivados para qualquer coisa, tornam-se menos produtivos em suas atividades, sofrem de depressão e têm a auto-estima abalada.
Apenas fumantes pesados caem na dependência, e eles, de acordo com os dados do relatório, são cerca de 10% de todos os que experimentam a droga. Dito de outra maneira, o vício nem é inevitável, nem acontece com freqüência. “Fumar é um hábito de adolescentes”, lê-se no relatório. Tanto nos Estados Unidos como na Europa, eles representam a grande maioria de usuários – perto de 70% do total – e a proporção de adultos não cresce.
Quem usa maconha pode partir para drogas mais pesadas?
Sempre que um usuário procura outras drogas, a culpa é da maconha?
Meninos e meninas, especialmente nos últimos anos, têm, sim, seguido essa trilha. “Nota-se que a experiência com a canabis precede o interesse por outras substâncias”, diz o documento. São as colas de sapateiro, as anfetaminas, a cocaína e a heroína. Os especialistas também escrevem que, “quanto mais cedo se começa a fumar, maior é o envolvimento com a maconha”. E concluem que, entre os jovens nessa situação, é maior a possibilidade de contato com coisas mais perigosas.
Mas atenção: apesar de ser verdade que muitos jovens ampliam o coquetel de drogas depois de experimentar a maconha, isso não quer dizer que a culpa caiba exclusivamente a ela. O próprio hábito de recorrer à canabis pode ter tido causa mais profunda, como problemas familiares, falta de perspectiva e assim por diante. Aí, o fumante da canabis amplia o seu repertório de drogas pelos mesmos motivos. Essa, aliás, é a explicação preferida dos pesquisadores reunidos pela OMS. Como reforço, eles lembram que “a imensa maioria dos usários de maconha não usa a cocaína e a heroína”.
A maconha provoca desastres de trânsito?
O motorista perde totalmente a capacidade de se controlar
Essa é uma nova preocupação dos especialistas. Sob ação da droga, fica mais difícil executar desde tarefas simples, como datilografar, até as de maior responsabilidade, como dirigir um automóvel. Em simulações, motoristas que fumaram 1 hora antes do teste brecam em hora errada e demoram para reagir aos sinais de trânsito.
Alguns testes sugerem que o fumante percebe a diminuição da coordenação motora e procura compensar essa deficiência, concentrando-se mais no que está fazendo. Nos desastres de trânsito em que o motorista demonstra ter fumado maconha, é comum ele também ter bebido álcool. Com a mistura, é óbvio que a erva não tem culpa sozinha no cartório.