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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ

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ANO XXXII - 353

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ABRIL DE 2019


editorial “Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria... Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos...Essa... a alegria que ele quer” [Guimarães Rosa, escritor e diplomata brasileiro]

expediente Diretor geral

DOM JOSÉ LANZA NETO Editor

PE. SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808 Equipe de produção

LUIZ FERNANDO GOMES JANE MARTINS Revisão

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busca pela felicidade está entre os objetivos e as metas de quase todas as pessoas que conhecemos. É o que desejamos nas viradas de ano, nos aniversários e inúmeras oportunidades. Mas será que já paramos para pensar no que consiste a nossa felicidade? Diferente do que podemos imaginar, a felicidade que buscamos surge de modo muito particular para cada pessoa e em momentos distintos para cada um. Não podemos querer encaixar nossas realizações nos padrões ou nos formatos que a sociedade nos impõe. Seria como se buscássemos, cada um de nós, um tesouro muito particular que se encaixasse perfeitamente somente em nós e tivéssemos um mapa único e irrepetível para alcançá-lo. Engana-se quem pensa que há alguma fórmula mágica de felicidade ou uma receita passo-a-passo para realizar-se como pessoa. A busca pela felicidade é realizada individualmente por cada viajante que,

ao longo do caminho, partilha suas experiências com outros, porém só cabe a ele trilhar a jornada que o conduzirá ao seu destino realizador. Há pessoas que erroneamente tentam utilizar mapas alheios para alcançar suas metas, mas descobrem, às vezes tarde demais, que o caminho do outro não lhe cabe, a proposta de vida de um não pode ser tomada pelo outro. Cada um de nós, precisa assumir os riscos e as possibilidades que se apresentam como elementos característicos e determinantes de nossa trajetória. Encontramos também pessoas que cobiçam os destinos de outros, considerando que eles possam ser mais vantajosos ou recompensadores que os seus próprios. Essas pessoas se esquecem que o valor final do caminho só é percebido quando se trilha cada etapa e se valoriza cada encontro, cada situação e cada aprendizado.

Ao valorizarmos nossos próprios caminhos, não significa que iremos abandonar nossa caminhada comum como humanidade e como sociedade. Por mais que cada um tenha suas vivências pessoais, essas acontecem num cenário amplo, onde as histórias se cruzam e se influenciam mutuamente. Estabelecer e cumprir nosso próprio roteiro significa também nos apropriarmos dos encontros com outros viajantes e partilharmos nossas opiniões e experiências sobre a vida. Cada um sempre a partir de sua própria ocular. Façamos da grande epopeia humana nosso chão, que nos dá suporte para estabelecermos metas e valorizarmos novos aprendizados. Tudo o que construímos até hoje como humanidade é patrimônio nosso, porém cada homo sapiens irá se valer de tudo o que nossos antepassados criaram para oferecermos nossa contribuição pessoal e coletiva para o futuro em constante construção e transformação.

JANE MARTINS Jornalista responsável

ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265 Projeto gráfico e editoração

BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160 Telefone 35 3551.1013

E-mail

guaxupe.ascom@gmail.com Os Artigos assinados não representam necessariamente a opinião do Jornal. Uma Publicação da Diocese de Guaxupé www.guaxupe.org.br

voz do pastor

Dom José Lanza Neto, Bispo da Diocese de Guaxupé

A ALEGRIA DA FÉ: MARCA CONSTANTE NO SERVIR DO CRISTÃO

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ma das marcas de nosso tempo é a felicidade, o sorriso e a alegria. Coisa boa. Faz a diferença. Procuramos sempre estar com gente feliz e nos alegrarmos também. Mas, logo, percebemos que basta uma situação ruim que baixe nosso ânimo de modo negativo e nos prostramos. Por que será que as coisas são assim? Tão passageiro e não traz realizações? Se é marca do nosso tempo, o inverso não o é. Queremos refletir sobre uma outra alegria que nos vem da fé. Diz-nos o apóstolo Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4). Em qualquer circunstância, dar graças ao Senhor. Em outra passagem bíblica, encontramos também a expressão: “a alegria do Senhor será a vossa força” (Ne 8, 10). Nos últimos tempos, o Papa Francisco tem falado muito neste sentido: O cristão não pode ter cara de vinagre, triste etc.. A

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Igreja - comunidade cristã - deve ser alegre, acolhedora, sair em busca dos afastados, dos que perderam o melhor da vida e da fé. E mais, escreveu uma exortação nos falando dessa marca da Igreja e dos cristãos: a exortação apostólica Alegria do Evangelho. Qual o alcance, o desafio e a proposta que o Papa nos faz? Essa alegria vem de dentro do coração de Deus e contagia o ser humano totalmente. Por isso, mesmo em meio à dor, ao sofrimento, ao desespero, - é sempre mais forte a alegria que vem do Senhor –a alegria do Senhor será a nossa força, insiste a Palavra de Deus. Essa alegria é o querer de Deus, desinteressado, que a todo tempo se compadece do ser humano – “O Senhor é misericordioso e compassivo, lento para a cólera e rico em bondade” (Sl 103 (102), 8). Essas são as marcas mais profundas de sua reve-

lação e, assim, Deus age quando Deus se manifesta e vem a nós. Contagiados pela fé no querer de Deus, o cristão deve ter as marcas de servir na alegria. Vez ou outra, podemos cair ou desanimar; o cultivo do caminho da alegria fiel deve ser constante, o que nada mais é do que buscar a Deus sempre. Basta olharmos os grandes santos e santas que serviram na alegria, mas o fundamento e a base dessa atitude era a vigilância constante diante do Senhor. Que iluminados pelos fortes apelos do Papa Francisco em suas exortações, as inspirações da Palavra de Deus e solicitações dos irmãos e irmãs, que por hora passam por tantas dificuldades, possamos prestar um serviço desinteressado, alegre e testemunhal. Maria, exemplo de serviço alegre, roga Deus por nós!


opinião

Por padre Michel Pires, administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo em Carmo do Rio Claro

A ALEGRIA DA EVANGELIZAÇÃO: MARCAS DO PONTIFICADO DO PAPA FRANCISCO

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o último dia doze de março, o Santo Padre, o Papa Francisco, celebrou seu sexto ano de pontificado e, contemplando seu pastoreio, torna-nos perceptível uma de suas grandes características: a alegria. Em viagens apostólicas, encontros, discursos, homílias e catequeses, o Santo Padre sempre deixa como marca a alegria de um evangelizador. “A alegria cristã é o respiro do cristão, um cristão que não é alegre no coração não é um bom cristão. É o respiro, o modo de se expressar do cristão, a alegria. Não é algo que se compra ou que faço com esforço, é um fruto do Espírito Santo. Quem faz a alegria no coração é o Espírito Santo”, foram as palavras de Francisco em sua homilia (Casa Santa Marta, 28.fev.2018). Duas exortações apostólicas do Santo Padre confirmam seu desejo de uma Igreja alegre, que experimente constantemente o Espírito da alegria e da santidade: Evangelii Gaudium e Gaudete et Exsultate. Na primeira, o papa apresenta uma Igreja em saída, aberta a viver a alegria no anúncio da Boa Nova do reino. Enfatiza, Francisco, que a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira de todos quantos se deixam encontrar pelo Senhor. Com Jesus Cristo, renasce, sem cessar, a alegria. Uma proposta desafiadora para os tempos modernos tendo em vista o fechamento e a frieza que marcam muitos relacionamentos. A Igreja, quando se fecha à experiência de uma

evangelização que contemple a alegria do Evangelho, deixa de acolher e reproduz, na prática pastoral, atitudes de individualismo e indiferença. “Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras” (EG 6). Mesmo quando a semeadura é marcada por lágrimas, o bom evangelizador deve resgatar a alegria de sua experiência com o Senhor. São muitos os evangelizadores que preferem a cara de funeral. “Chamados para iluminar e comunicar vida, acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço interior” (EG 83). Isso fere e dificulta o anúncio da Palavra de Deus. Muitos fiéis, assíduos em suas comunidades, são marcados por sofrimentos pessoais e familiares e precisam encontrar na Igreja o alento para suas dores e a alegria que lhes dê novo ânimo. Quando todos os membros estão fortalecidos pelo espírito da alegria, a evangelização torna-se eficaz. “Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!” (EG 83). A exortação apostólica Evangelii Gaudium provoca as comunidades cristãs a sair do comodismo e anunciar com coragem e ousadia a Palavra do Senhor. O pessimismo e o sentimento de derrota não são caminhos para esse anúncio. “Os discípulos do Senhor são chamados a viver como comu-

nidade que seja sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova, uma pertença evangelizadora” (EG 92). Quanto mais a Igreja, com todos os seus membros, se abre a uma experiência comunitária que aponte para a alegria do encontro, mais ela transformará a vida daqueles que a procuram. “Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais!” (EG 97). A Alegria do Evangelho auxilia o bom cristão na busca pela santidade. E essa busca deve ser contínua na vida daqueles que servem ao Reino. A exortação apostólica Gaudete et Exsultate indica como viver a santidade nos tempos hodiernos. Em consonância com a Evangelli Gaudium, desperta todos os fiéis a experimentar uma alegria sempre nova. “Alegrai-vos e Exultai” (Mt 5,12), diz Jesus aos que são perseguidos ou humilhados por causa d’Ele. O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados” (GE 1). A Igreja deve oferecer espaços que promovam sempre a partilha e a abertura para as necessidades daqueles que nela se congregam. Todos são chamados à santidade. Esse chamado implica renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir os passos do Cristo Jesus (Lc 9,23). Realizada essa experiência, os fiéis adquirem novo ardor no trabalho pastoral. “O desafio é viver de tal forma a própria doação, que os esforços tenham

um sentido evangélico e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo” (GE 25). A tarefa evangelizadora torna-se leve quando realizada na dimensão da alegria e da misericórdia. São as bem-aventuranças de Jesus o caminho seguro para a conversão e a força para a ação pastoral da Igreja. “A palavra feliz ou bem-aventurado torna-se sinônimo de santo, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade” (GE 64). As duas exortações do Santo Padre expressam um desejo profundo de mudança. Uma Igreja verdadeiramente em saída que, pela santidade de seus colaboradores, evangelize com coragem e ousadia. Os tempos mudaram, as pessoas estão cada vez mais conectadas, há um vazio nas relações, uma perda do sentido existencial e, é neste contexto, que a Igreja é chamada a propagar a Palavra do Senhor conservando sempre a alegria. Recebemos a beleza da sua Palavra e abraçamo-la “em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo” (1 Ts 1, 6). Se deixarmos que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então poderemos realizar o que pedia São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!” (Flp 4, 4). Portanto, que as marcas da alegria e da santidade, vividas por Francisco, inspirem a prática pastoral daqueles que evangelizam em suas comunidades.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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notícias Padres se aprofundam em curso de parapsicologia Com informações do padre Maurício Marques| Imagem: Arquivo Pessoal

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o dia 28 de janeiro a 3 de fevereiro, aconteceu, em Guarulhos (SP), o curso de extensão em Parapsicologia e Religião do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal). Participaram do curso os padres Gledson Antônio Domingos, da Paróquia São José de Passos, e Maurício Marques da Silva, da Paróquia São João Batista de São João Batista

do Glória, além do leigo Marcelo Soares de Paula, de São João Batista do Glória. O curso tem o objetivo de formar pessoas capazes de orientar nos processos de interpretação dos fenômenos parapsicológicos ou no atendimento dos que manifestam faculdades parapsicológicas, além de analisar a fé e a superstição à luz da ciência e refletir sobre ateísmo, espiritismo e outras seitas.

Pastoral da Criança promove dia de espiritualidade em Alfenas

Texto e imagem enviados pela Pastoral da Criança

N Seminaristas da Província Eclesiástica participam de formação missionária Com informações e imagens enviadas por Richard Oliveira

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ntre os dias 8 e 10 de março aconteceu, em Guaxupé, a 2ª Formação Missionária de Seminaristas (Formise) da Província Eclesiástica de Pouso Alegre, formada pelas dioceses do sul de Minas Gerais: Pouso Alegre, Campanha e Guaxupé. Mais de 100 participantes estiveram no encontro. O encontro assessorado pelo padre Antônio Niemiec (CSsR) tratou do tema escolhido pelo papa Francisco para o Mês Missionário Extraordinário, que acontecerá em outubro: “Batizados e enviados: A Igreja de Cristo em missão no mundo”. A Formação contou com a participação de todos os seminaristas da província. Também estiveram presentes no encontro os reitores e formadores de todas as etapas, além dos bispos de cada diocese. Dom José Luís Magella Delgado, arcebispo de Pouso Alegre, abriu o encontro com missa celebrada na Catedral de Guaxupé destacando a necessidade da eclesialidade da missão, chamando a atenção para a unidade das dioceses da província e o cuidado com aqueles vocacionados ao sacerdócio que acreditam que missão se faz sozinho. Dom José Lanza Neto, bispo de Guaxupé,

esteve presente em todo o encontro. Na missa presidida no sábado, o bispo destacou a questão da formação missionária dos seminaristas e da necessidade da abertura dos formandos para essa realidade que não pode ser um apêndice da formação, mas, compreensão da dimensão essencial da missão. Um momento marcante do Formise foi a realização de uma noite cultural, na qual seminaristas e formadores puderam assistir a um musical apresentado no Teatro Municipal de Guaxupé. O musical intitulado “Romaria: o lamento dos imperfeitos” apresentou uma versão para o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, com enfoque na formação do povo brasileiro, subjugado pela colonização e exploração dos povos indígenas e negros. O 2º Formise foi concluído com a missa de dom Pedro Cunha Cruz, bispo da Campanha, que destacou a importância da oração e do espírito de comunhão com Deus para que a missão se dê como obra da graça de Deus mais que como serviço de autopromoção.

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o dia 10 de março, agentes da Pastoral da Criança de toda a diocese participaram de um dia especial de aprofundamento e espiritualidade. O encontro foi realizado em Alfenas, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida. O encontro foi iniciado com uma palestra com o tema: “A prática do amor e o ser voluntário na Pastoral da Criança”, conduzida pelo estagiário pastoral Douglas Ribeiro. Com sua fala, ele sensibilizou os participantes e indicou o sentido da caminhada na pastoral. A animação do evento foi realizada pelo

coral da comunidade de vida Mariana Resgate, de Alfenas. Os agentes também realizaram a leitura orante da Palavra de Deus a partir do Evangelho de São João (Jo 20, 19-23). À tarde, aconteceu a adoração ao Santíssimo Sacramento e, em seguida, o encontro foi concluído com a Missa, presidida pelo padre Éder Carlos de Oliveira, assessor diocesano da Pastoral da Criança. Em sua homilia, o padre valorizou a vocação dos leigos e leigas envolvidos com a pastoral, fortalecendo-os na missão de salvar as vidas das crianças e contribuir com suas famílias.

Pastoral Orgânica: diversidade em unidade a serviço da evangelização

Texto/Imagem: Assessoria de Comunicação

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Pastoral Orgânica deve ser compreendida “como um esforço para a vivência em unidade da vida da Igreja, a partir de suas metas e princípios missionários, estabelecendo o alicerce da estrutura pastoral por meio da espiritualidade de comunhão”. Essa foi uma das definições do coordenador de pastoral, padre Alexandre Gonçalves, sobre a urgência do trabalho em conjunto de todas as expressões eclesiais numa diocese, no 3° Encontro da Pastoral Orgânica, realizado no dia 16 de março, em Guaxupé. Com mais de 70 representantes setoriais e diocesanos de movimentos, pastorais e ministérios, o encontro valorizou a ação sinérgica para que aconteça a evangelização. O início do encontro foi conduzido pelo diácono José Eduardo da Silva com uma oração que valorizava a missionariedade dos cristãos. Um dos focos foi a proximidade do mês missionário proposto pelo papa Francisco e que

acontecerá em outubro deste ano. Em sua fala, padre Alexandre lembrou a trajetória pastoral da Igreja a partir do Concílio Vaticano II, a experiência sinodal e a abertura aos sinais dos tempos. O coordenador fez memória da caminhada da Igreja no Brasil com a Pastoral de Conjunto ou Orgânica. Os participantes tiveram uma apresentação do Plano Diocesano de Ação Evangelizadora, definido na 5ª Assembleia de Pastoral, em novembro de 2018. As prioridades e os projetos pastorais foram comentados pelo padre Sérgio Bernardes, secretário da equipe preparatória para a última assembleia pastoral. Em seguida, leigos e clérigos se dividiram em grupos para discutir a importância da unidade no trabalho pastoral e os obstáculos que impedem o avanço de uma pastoral orgânica. Antes do encerramento, os grupos apresentaram em plenário suas contribuições.


vida pública

Por Aline Eloisa da Silva, professora em São Sebastião do Paraíso

“SE O SEU DOM É SERVIR, SIRVA; SE É ENSINAR, ENSINE” (RM12,7)

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eliz é aquele que tem humildade para compartilhar aquilo que sabe e sabedoria para compreender que ao ensinar também aprende. Ao se tratar da profissão de educador, esta frase ganha uma conotação maior, uma vez que esse é o seu papel por excelência e a escola, espaço destinado a esta prática, o locus do saber: lugar privilegiado para se compartilhar vivências, experiências e buscar conhecimento. A palavra professor sempre esteve intimamente ligada a dom, missão, sacerdócio e vocação. A própria origem do nome professor, aquele que professa, traz tamanha responsabilidade a quem se dedica a esse ofício, aos que são imbuídos de desenvolver tal missão. Alguns vão além e reconhecem na figura do professor um verdadeiro mestre, o que se supõe de imediato que tenha discípulos que se inspirarão em suas ideias e trilharão seus caminhos. Acredito que o professor tenha, ao longo da história educacional, ganhado esses nomes devido à nobreza do ato de educar e o valor do objeto com o qual trabalha. Sou professora há oito anos e cristã católica há uma vida inteira. Procuro fazer com que, diariamente, minha fala e minha prática sejam coerentes entre si. No momento em que eu saio da igreja, peço a Deus que o que lá celebro, permaneça em mim e que a escola e as salas de aula em que entro

sejam extensão daquele espaço sagrado. Jesus, o maior de todos os mestres, não perdeu uma oportunidade sequer, sua vida pública foi marcada por profundos ensinamentos e ações concretas, deu o exemplo para que nós também fizéssemos o mesmo. Diariamente, fico com um grupo de estudantes por 4 horas e, com frequência, percebo que os conhecimentos mensuráveis a respeito da minha disciplina não são suficientes para criar os laços e a confiança necessária para que eles se abram ao aprendizado. Noto que, semelhantemente ao semeador, minha tarefa é arar, preparar a terra e lançar sementes, ou ainda, ser aquele que

patrimônio

ajuda os talentos a serem descobertos e multiplicados, me atrevo a dizer que há dias em que preciso das qualidades do bom pastor, quando vejo que um aluno se distancia da turma, é preciso reconduzi-lo ao convívio dos seus. Percebo que muitas vezes os adolescentes para os quais dou aula querem ser ouvidos e vistos, não só querem ter voz, mas também querem ter vez, não querem passar despercebidos e não se contentam com respostas prontas e vazias. Às vezes, quando percebo que eles querem um direcionamento, interrompo por alguns instantes o conteúdo dos livros e vou para o conteúdo da vida. Ouço desabafos e dou conselhos, deixo de ser a professora

e me torno a amiga. Essa sensibilidade e compaixão só se alcançam em Deus, pois somente a nossa humanidade não seria capaz de tão grandioso gesto. O leigo deve estar engajado na vida pública da sociedade e não deve separar, em momento algum, sua identidade profissional de sua identidade cristã, contribuindo, assim, para que o ser humano, onde quer que esteja, seja tratado com dignidade. Faz uma grande diferença nos mais diversos setores da sociedade ter pessoas de bem e dispostas a fazer do Evangelho de Cristo seu estilo de vida. Gosto de iniciar minhas aulas com uma oração, um momento de silêncio e reflexão ou com a leitura de um texto motivacional. Pedro já dizia que a fé sem obras é morta. A Educação é a obra das obras, molda-se um ser para lhe dar liberdade... E foi exatamente para a liberdade que Cristo nos libertou! Jesus foi às periferias da sociedade, os pobres e os excluídos eram seus prediletos, os humildes, seus amigos. Papa Francisco, fazendo menção a esses gestos, disse que gostaria de uma Igreja em saída, creio que esse seja de fato seja o caminho. Independente do local onde nos encontramos, sermos Igreja para o outro. Só Jesus Cristo ressuscita os mortos, mas como bem diz o padre Fábio de Melo, nós podemos ajudar a ressuscitar os que estão vivos!

Fonte: Exortação apostólica Christifideles Laici, de São João Paulo II

VIVER O EVANGELHO SERVINDO A PESSOA E A SOCIEDADE

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o anunciar e ao acolher o Evangelho na força do Espírito, a Igreja torna-se comunidade evangelizada e evangelizadora e, precisamente por isso, faz-se serva dos homens. Nela, os fiéis leigos participam na missão de servir a pessoa e a sociedade. É verdade que a Igreja tem como fim supremo o Reino de Deus, do qual ela « constitui na terra o gérmen e o início », e, portanto, está inteiramente consagrada à glorificação do Pai. Mas, o Reino é fonte de libertação plena e de salvação total para os homens: com estes, portanto, a Igreja caminha e vive, real e intimamente solidária com a sua história. Tendo recebido o encargo de manifestar ao mundo o mistério de Deus, que brilha em Jesus Cristo, ao mesmo tempo, a Igreja descobre o homem ao homem, esclarece-o acerca do sentido da sua

existência, abre-o à verdade total acerca dele e do seu destino. Nesta perspectiva, a Igreja é chamada, em virtude da sua própria missão evangelizadora, a servir o homem. Tal serviço tem a sua raiz primeiramente no fato prodigioso e empolgante de que, « com a encarnação, o Filho de Deus uniu-se de certa forma a todo o homem ». Por isso, o homem « é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no desempenho da sua missão: ele é o caminho primeiro e fundamental da Igreja, caminho traçado pelo próprio Cristo, caminho que imutavelmente passa através do mistério da Encarnação e da Redenção ». Precisamente neste sentido se pronunciou repetidas vezes e com singular clareza e vigor o Concílio Vaticano II nos seus diversos documentos. Releiamos um texto particularmente iluminador da Cons-

tituição Gaudium et spes: « A Igreja, ao procurar o seu fim salvífico próprio, não se limita a comunicar ao homem a vida divina; espalha sobre todo o mundo os reflexos da sua luz, sobretudo enquanto cura e eleva a dignidade da pessoa humana, consolida a coesão da sociedade e dá um sentido mais profundo à quotidiana atividade dos homens. A Igreja pensa, assim, que por meio de cada um dos seus membros e por toda a sua comunidade, muito pode ajudar para tornar mais humana a família dos homens e a sua história ». Neste contributo à família dos homens, de que é responsável a Igreja inteira, cabe aos fiéis leigos um lugar de relevo, em razão da sua « índole secular », que os empenha, com modalidades próprias e insubstituíveis, na animação cristã da ordem temporal.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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entrevista PADRE ANTÔNIO NIEMIEC - A ALEGRIA DA MISSÃO Padre Antônio Niemiec CSsR, missionário vindo da Polônia, é o secretário nacional das Pontifícias Obras Missionarias (POM). Mestre em Teologia bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália (2001). Foi superior da Vice-Província Redentorista da Bahia (2002-2010). Desde 2013, ocupa o cargo de coordenador do Conselho Missionário Regional (Comire) Nordeste 3 (Bahia e Sergipe). Atualmente, é também assessor de pastoral do mesmo regional e professor de Sagrada Escritura na Faculdade de São Bento da Bahia, em Salvador. O sacerdote foi o assessor da Formação Missionária de Seminaristas (Formise), realizada pela Província Eclesiástica de Pouso Alegre em Guaxupé nos dias 8 a 10 de março. Como descobriu sua vocação missionária sacerdotal? É realmente uma pergunta difícil. Não foi algo pontual, mas um processo. Já venho de uma família muito católica e praticante, a inserção na Igreja e a iniciação à vida cristã se deram lentamente. Quando chegamos a uma certa idade e precisamos tomar alguma decisão na vida, ficamos nos perguntando qual rumo tomaremos. A partir dos questionamentos que surgiram no final da escola de segundo grau e de conversas com os amigos, pensei na possibilidade de abraçar a vida sacerdotal. O que me ajudou mais foi o encontro com alguns missionários que estavam fora do país de férias, estavam na Polônia. O exemplo deles e a situação de necessidade pastoral em diversos países da África me motivou de maneira muito forte. O encontro com esses padres missionários da África me ajudou a decidir entrar numa congregação missionária. Aí, escolhi os redentoristas, pois sabia que eles faziam um trabalho missionário dentro da Polônia e, também, em outros países. Eu queria sair do país e me colocar a serviço da Igreja em qualquer localidade que precisasse. Desde de seu discernimento vocacional, sentia o desejo de sair em missão? Sim, foi assim mesmo. A Polônia sempre enviou muitos missionários para o mundo todo, isso incentiva muitos jovens. A missão foi o sentido da vida que encontrei. Queria evangelizar em localidades onde precisavam de missionários, mas nunca pensei em vir para o Brasil, Deus quis assim e aqui estou. Surgiu um convite para vir evangelizar no Brasil e eu logo aceitei a missão. O senhor vem de uma cultura europeia. Como foi se deparar com a cultura brasileira? Hoje eu agradeço muito a Deus que me deu a graça de estar em outro contexto, fora da Polônia. Porque, se eu não tivesse feito essa experiência, eu estaria muito mais pobre como pessoa humana. Mas, é claro que a vinda para o Brasil me custou muito, tanto pela questão cultural como também pelo próprio jeito de ser Igreja. A Igreja no Brasil é muito diferente da Igreja na Polônia e também a questão social, porque não tem como separar a fé da realidade concreta. Muitas realidades me chocaram muito. Não

Claro que muitas vezes as palavras do Papa incomodaram muita gente, até na Igreja. Mas Jesus também incomodava muita gente com aquilo que ele propunha, sendo assim, não é uma coisa de se estranhar. A forma simples e autêntica do Papa incomoda aqueles que entraram em certos esquemas e não conseguem se libertar de uma mentalidade fechada demais. Nós corremos o risco de nos preocupar muito com a questão das estruturas, de certas leis muito rígidas, que, ao invés de favorecer, acabam por prejudicar a vida das pessoas. Jesus veio para que todos tenham vida, sem excluir ninguém, isso incomoda muita gente. Muitos não querem que todos tenham vida e aquilo que isso significa nas coisas práticas como a justiça, o respeito, o direito, a dignidade entre outras coisas. Eu vejo o Papa Francisco como um grande profeta que não fala coisas novas, só aquilo que Jesus já falou há mais de dois mil anos, só que de maneira que todos possam entender.

imaginava que pudesse existir uma desigualdade social tão grande no mundo como a que vi na Bahia nos anos 1980. Os pobres eram muito pobres e os ricos eram muito ricos. Claro que essa inserção se deu lentamente e foi um processo doloroso. Principalmente na questão cultural, pois na Bahia há uma predominância muito grande da cultura africana. Eu sofri muito para entender essa cultura e me inserir nela. A ponto que decidi dedicar meus estudos de teologia sobre a questão do sincretismo religioso. Hoje eu gosto muito dessa cultura, eu me apaixonei por essa cultura e me apaixonei pelo povo da Bahia. O povo da Bahia tem coisas belíssimas, características que podem enriquecer até a própria Igreja. Das características que me chamaram a atenção no povo da Bahia têm-se o senso de sagrado, o respeito pelas pessoas idosas e a questão da família e da comunidade. Qual foi sua experiência missionária mais marcante? O que mais me marcou foi a experi-

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ência que vivi neste ano, durante dois meses, na Guiné-Bissau, um país muito pequeno e muito pobre, o quinto mais pobre do mundo. Não imaginava que pudessem existir ainda lugares como esse, sem gás e energia. 90% da população tem apenas uma refeição por dia. O país tem apenas 8% de católicos. Mais de trinta etnias com culturas diferentes. Mas o povo desse país tem uma abertura muito bonita ao cristianismo. Muitos estão em processo de catecumenato. Como o senhor vê a evangelização no pontificado do Papa Francisco? Primeiramente, ele não fala muita coisa nova, mas, sim, numa linguagem mais simples. Ele está nos lembrando simplesmente da proposta de Jesus Cristo de maneira mais original e com palavras que o povo de hoje entende. O povo mais simples não tem dificuldades de entender o papa. Lendo os documentos dele, percebe-se uma linguagem fácil. O papa repropõe a vida evangélica de forma autêntica. Isso fez um despertar muito grande na Igreja em geral.

Neste ano temos, em outubro, o mês missionário extraordinário. Qual mensagem esse mês missionário vem nos exortar? O Papa, quando proclamou o mês missionário, deixou bem claro a questão do objetivo que é despertar em medida ainda maior a consciência da missão universal. Da responsabilidade que a Igreja de Cristo tem com o mundo todo e com as pessoas. Falando em palavras mais simples, que o católico possa ter coração católico, ou seja, um coração aberto a todas as necessidades do mundo, não somente às próprias necessidades. Muitos se preocupam apenas com suas necessidades locais, uma visão muito pequena e limitada de Igreja. O segundo objetivo é a transformação missionária da vida dos cristãos, para que sejam realmente discípulos missionários de Jesus, não só de nome, não só por causa do batismo, mas, sim, porque assumiram e vivem isso. Uma transformação missionária da vida e ao mesmo tempo da pastoral da Igreja. Se a Igreja quer ter sua influência no mundo hoje, ela tem que mudar um pouco sua maneira de evangelizar ou de fazer missão. A Igreja se fechou bastante no seu âmbito, por isso o Papa combate muito a auto referencialidade, pois muitos ainda não conhecem Jesus e é nossa responsabilidade anunciá-lo, pois todos têm direito


Por Gabriel Ribeiro de Oliveira, seminarista - Filosofia

a conhecer o salvador da humanidade. Como podemos conscientizar os fiéis a respeito da missão a partir da mensagem do Papa? Nós temos diversos instrumentos da Igreja, coisas concretas que a própria Igreja no Brasil nos propõe para fomentar essa consciência missionária nos fiéis leigos, consagrados e ordenados. A própria conferência episcopal do Brasil nos propõe que, para o mês missionário, é necessário revitalizar os conselhos missionários de seminaristas, das paróquias e das dioceses. Os conselhos missionários existem para fomentar permanentemente a importância da missão, trabalhando para que os cristãos, dentro da paróquia e da diocese, tenham a consciência missionária. Depois, temos as obras missionárias, que são do Papa, da Igreja para o mundo todo, como a Pontifícia Obra da Propagação da Fé, Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária e Pontifícia Obra da União Missionária. Todas essas obras pontifícias estão a serviço de ajudar, formar e fomentar a consciência missionária. As missões populares também podem ser um instrumento poderoso de despertar ou ajudar as pessoas a ter uma consciência missionária dentro da Igreja. E também, os testemunhos de muitos que vivem sua vocação missionária hoje são exemplos que podem nos ajudar muito a viver como missionários.

Uma mensagem de incentivo missionário aos diocesanos. Eu gosto muito de citar aquilo que o Concílio Vaticano II já dizia, que a atividade missionária é a principal e a mais sagrada atividade da Igreja. Isso é o que nos diz o documento Ad Gentes (AG 29). Se os cristãos realmente tomarem consciência e acreditarem que a atividade missionária é a primeira e a mais importante atividade da Igreja e a mais sagrada, muita coisa vai mudar também na nossa Igreja no Brasil. O problema é que muita gente não acredita que a missionariedade é a principal atividade. Ela é porque Jesus Cristo quis que assim fosse, “vão e façam que todos sejam meus discípulos” (Mt 28,19). É para isso que a Igreja existe, para ir e fazer com que todos se tornem discípulos de Jesus Cristo. Essa é a ordem que Jesus deixou. A atividade missionária não pode ser uma coisa só de vez em quando, quando tivermos tempo, e apenas para algumas pessoas. Não! Ela deve ser permanente e para todos, a principal e mais sagrada atividade que a Igreja tem. Eu desejo que este mês missionário venha ajudar muito a Igreja no Brasil a se conscientizar dessa responsabilidade que nós temos e colocar em todas as atividades da Igreja, nas pastorais, nos movimentos, nas paróquias, nas comunidades e nos seminários a atividade missionária em primeiro lugar. A causa missionária é a primeira das causas.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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liturgia

Por padre Vinícius Pereira Silva, vice-reitor do Seminário Santo Antônio, em Pouso Alegre

OITAVA DA PÁSCOA: O TRANSBORDAR DA ALEGRIA PASCAL

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proxima-se o momento mais alto da caminhada litúrgica, espiritual e vivencial da Igreja. A Semana Santa, de modo especial o Tríduo Pascal, é, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a força que sustenta a Igreja e o ápice onde deságua toda atividade evangelizadora. O Mistério Pascal, vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é celebrado em cada missa e em cada domingo. Mas, de modo ainda mais denso, experimenta-se a vida de Jesus ao decorrer das celebrações da Semana Maior. E, por isso, prepara-se muito bem para achegar-se a ela, pelo longo período da quaresma. Por outro lado, poder-se-ia questionar do porquê de uma preparação tão grande (mais de 40 dias), para viver apenas uma semana. Tanta preparação, tanta penitência, para celebrar apenas três ou quatro dias? Ora, certamente pode-se argumentar do peso teológico-litúrgico do Tríduo Pascal em relação a toda a quaresma. E é verdade. Por outro lado, vê-se que, na realidade, em muitos casos, a Páscoa de Jesus acaba como que enjaulada na Semana Santa e no Tríduo Pascal. Parece não haver tanta empolgação para celebrar o período pascal, com seus 50 dias, assim como há para a celebração da Semana Santa. Os domingos até o Pentecostes parecem não ser revestidos de tanta solenidade, apesar de serem verdadeiros “Domingos da Páscoa”, tanto quanto o primeiro, subsequente à Vigília Pascal. Urge promover uma vivência profunda da fé pascal na Igreja. Não é à toa que a liturgia, ao longo dos anos, estabeleceu o costume de celebrar as festas maiores durante mais dias, geralmente o dia da solenidade, mais sete dias, totalizando assim, uma oitava. A existência de oitavas celebrativas era mais abundante na Igreja. Existiam oitavas da Solenidade de São Pedro e São Paulo, da Assunção de Nossa Senhora, da Epifania, de Pentecostes, de Corpus Christi, entre outras. Hoje, após a renovação litúrgica, permanecem duas oitavas: a da Páscoa e a de Natal. Sua força e seu significado, porém, não foram perdidos. Inspirada no uso festivo no Antigo Testamento (cf. Ex 12,15.19), a Igreja sempre considerou a semana pascal (e as oitavas em geral) como um único dia de festa. Pode-se dizer que a alegria por celebrar a Páscoa de Jesus (e o seu Natal) é tão grande que não cabe em um dia só. Em relação ao período pascal, essa realidade ganha ainda mais vigor, pois se tem, de certa forma, duas oitavas. A primeira, chamada de pequena oitava, estende-se do Domingo de Páscoa até o oitavo dia, o 2º Domingo da Páscoa. A segunda, chamada de grande oitava, parte novamente do Domingo de Páscoa, até o oitavo domingo, totalizando sete semanas mais um dia, o Pentecostes. Assim, todo período até o Pentecostes é Páscoa por excelência e é um tempo propício para o aprofundamento es-

piritual dos batizados. A pequena oitava, ou simplesmente oitava da Páscoa, é celebrada com o grau de solenidade, estando abaixo apenas do Tríduo Pascal em grau de importância (além, é claro, de celebrações fortes de outros tempos litúrgicos, como Natal e Epifania). Tem precedência sobre qualquer outra celebração, ou seja, não se pode celebrar um santo ou usar outros textos litúrgicos. Sua celebração possui raízes desde o século 3º, e é um período marcado pela experiência do mistério pascal (cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico, p. 86). A força da ressurreição de Jesus na vida de todo batizado é destacada nessa semana, entre outras coisas, pelo canto do Hino de Louvor todos os dias e, principalmente, pelo duplo aleluia no envio ao final da missa. Esse duplo aleluia é dito desde a Vigília Pascal até o 2º Domingo da Páscoa inclusive, mas não em todo o tempo pascal. Apenas no dia do Pentecostes aparece novamente esse detalhe, marcando o encerramento do

8 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

tempo pascal. Ao longo da construção litúrgica, a semana pascal ou oitava da páscoa ganhou o título de semana in albis, ou semana branca, ou ainda semana da renovação. Isto porque os neófitos (os recém-batizados) passavam a semana toda trajando as vestes brancas recebidas no Sábado Santo. Assim, a oitava da páscoa era um período de forte mistagogia, com o acompanhamento dos neobatizados (cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico, p. 87). Esse apelo ainda verifica-se no Ritual de Iniciação Cristã de Adultos. Apenas no 2º Domingo da Páscoa eles depunham as vestes, o que fez esse domingo ser conhecido também como domingo in albis. No ano 2000, o papa São João Paulo II, ao instituir a Festa da Divina Misericórdia, pediu que se acrescentasse ao Missal, além de Segundo Domingo da Páscoa, a nomenclatura Domingo da Divina Misericórdia. Sobre os textos litúrgicos da oitava, há que se dizer de sua riqueza. Em primeiro lu-

gar, todos os evangelhos proclamados nesta semana narram as aparições do Ressuscitado aos discípulos (nos quatro evangelistas), sendo a maioria, narrativas do dia mesmo da Ressurreição. As primeiras leituras trazem, a partir dos Atos dos Apóstolos, o início da atividade apostólica, com as pregações, ações e testemunhos dos primeiros discípulos de Jesus (cf. ROONEY, Marcel. O ano litúrgico: história, teologia e celebração, p. 137). Para as orações litúrgicas, cada dia tem uma missa própria, com textos exclusivos para cada dia, destacando a graça batismal, a salvação pascal e o testemunho da ressurreição na vida dos fiéis. A oração eucarística primeira é a mais indicada para esta semana, dado que possui trechos próprios para estes dias. Destaca-se também que o prefácio da Páscoa 1, obrigatório para todos os dias da oitava, traz a indicação para se dizer “sobretudo neste dia em que Cristo nossa Páscoa foi imolado”, marcando, como dito acima, a celebração dessa semana como um só dia. Após a oitava da páscoa, no mesmo trecho é dito “sobretudo neste tempo”. Com todo este caminho, é possível perceber a necessidade de se revalorizar a celebração experiencial da Oitava da Páscoa. Antigamente, os fiéis deviam dar uma pausa nos seus trabalhos nos dias da oitava, para que participassem das celebrações diárias (cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico, p. 87). Situação bem diversa da atual. Sabe-se que a condição do mundo é outra, mas não se poderia deixar perder as riquezas dessas celebrações. Por certo que o povo e os padres estão cansados das experiências intensas da Semana Santa, mas, para que este período seja mais bem aproveitado, poder-se-ia postergar um pouco este merecido descanso. Também parece pouco producente dar apelidos frívolos a este período, pois corre-se o risco de fazer diminuir a beleza da Páscoa de Jesus. Por fim, além das celebrações litúrgicas e atividades com os neobatizados, ou ainda os catequizandos, sugere-se um exercício de piedade popular pouco conhecido em nosso meio: a Via Lucis. Enquanto a Via Sacra (Via Crucis) é celebrada na quaresma, se inicia com a condenação de Jesus e termina com seu sepultamento (14 estações, portanto, e não 15, como geralmente se vê), a Via Lucis, ou Caminho da luz, se inicia com a Ressurreição de Jesus e, passando, também, por 14 estações, termina com a vinda do Espírito Santo sobre a comunidade. Assim, apoiados na liturgia, na catequese e na piedade popular, a vivência da Oitava da Páscoa pode contribuir muito para uma verdadeira renovação da fé, para que cada fiel assuma pessoalmente a Ressurreição de Jesus recebida no batismo, como força de conversão individual e de transformação da realidade, que aguarda e espera, em dores de parto, que se revelem os filhos de Deus (cf. Rm 8,18-19.22).


catequese

Por Ana Duarte, catequista em Passos

A IMPORTÂNCIA DA CATEQUESE PARA A INSERÇÃO DO CATEQUISANDO NA COMUNIDADE DE FÉ

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proposta da Igreja do Brasil através do Documento 107 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Iniciação à Vida Cristã – surge para nós, catequistas, como um grande desafio. Como melhorar ou adaptar nossos encontros catequéticos para ajudar nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos na inserção à vida comunitária de fé? Os encontros de catequese têm como metodologia uma interação Fé e Vida que ajuda nosso catequizando a viver a realidade da sociedade hoje em meios aos desafios da Boa Nova do Reino, tendo uma fé madura e alicerçada numa comunidade que seja acolhedora e propicie um engajamento na vida eclesial como sinal de pertença. Nós, catequistas, temos como desafio deixar uma catequese somente doutrinal e nos abrir à proposta da Igreja numa catequese vivencial interagindo fé e vida, assumindo, com coragem e desprendimento, uma Catequese libertadora que nos impulsione a agir sob o olhar da Boa Nova do Reino e a responder contra os valores da nossa sociedade. A busca de uma fé madura alicerçada no seguimento de Jesus de Nazaré desperta primeiramente em nós, catequistas, o sentimento de pertença ao projeto salvífico e ao compromisso de viver uma vida comunitária comprometida com o bem comum. Depois que cada catequista compreende que a catequese deve gerar verdadeiros cristãos comprometidos com o Evangelho e que a mudança interior e a mudança de mentalidade só ocorrem a

partir da nossa própria vivência batismal, aí sim, temos condições de conduzir e educar a fé de nossos catequizandos para que assumam a vida de comunidade e as causas do povo. Mas nem tudo são flores. Essas escolhas e opções implicam numa série de obstáculos que travam tal processo, por exemplo: a falta de tempo, o excesso de atividades, a família descomprometida com a catequese, a falta de recursos, os meios de comunicação que muitas vezes apresentam falsos valores que se tornam atraentes para aqueles que não têm uma fé firme na proposta de Jesus... Mas, todo catequista é um sonhador que não se deixa abater em meio aos desafios, continua firme no caminho do Rei-

no e encontra possíveis saídas usando sua criatividade, a metodologia específica para cada fase, à luz da Palavra, ajudando nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos a encontrar meios para vivenciar sua fé na inserção da comunidade. Esta, por sua vez, tem um papel principal nessa adesão, sendo colo de mãe, acolhedora para que nossos catequizandos encontrem na comunidade sua segunda família, aquela que ajudará em seu crescimento espiritual e no compromisso de pertença ao projeto de Jesus caminhando lado a lado. Esse itinerário deve ser feito com Aquele que desafiou as leis injustas do seu tempo e enraizou no madeiro da cruz Seu projeto de vida para todos.

A comunidade eclesial deve ser o lugar de encontro. É ali que a catequese se realiza, é ali que o catequizando será iniciado a praticar a vivência do bem, da partilha, da comunhão, da solidariedade, do amor-justiça e do amor ao próximo. Por isso, nossa catequese deve ser verdadeiro espaço para uma educação da fé que leve nossos catequizandos a interagir, em meio às suas experiências cotidianas, à luz do Evangelho. A catequese deve despertar em cada criança, adolescente, jovem e adulto o discernimento entre a realidade oferecida pelo contexto atual e a realidade proposta para uma vida em comum união com nossos irmãos e irmãs. Nossa missão como catequista é levar nossos catequizandos a enxergar na vida comunitária uma grande família, através da experiência com Deus e com o sagrado, tendo a comunidade eclesial como a pedra fundamental para que a vida de nossos catequizandos seja vivida à luz do Evangelho e comprometida com as causas do nosso povo. Não há como fugir de uma catequese onde os encontros interajam Fé e Vida, tendo como fonte a Palavra de Deus. Se agirmos assim em nossa catequese, com certeza, crianças, adolescentes, jovens e adultos estarão prontos para uma vida de comunidade, na qual ninguém é deixado para trás. Todos caminham juntos com o Mestre, dando testemunho de seu Batismo, sendo profeta, anunciando a paz e o amor tão sonhados por Deus.

documento

Texto/Imagens: Divulgação

MINISTÉRIO E CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (DOC. 108)

S

ão muitas as nossas Comunidades que celebram e se alimentam da Palavra de Deus. Faz bem a esses irmãos e irmãs ouvir as palavras de São Jerônimo: “Sem dúvida que o texto «quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue» encontra toda a sua aplicação no mistério eucarístico; mas o verdadeiro corpo de Cristo e o Seu verdadeiro Sangue são também a palavra das Escrituras, a doutrina divina. (...) Sendo a carne do Senhor verdadei-

ro alimento e o Seu Sangue verdadeira bebida, o nosso único bem é comer a Sua carne e beber o Seu sangue, não apenas no mistério eucarístico, mas também na leitura da Escritura” (Carta 53 a Paulina). Os bispos do Brasil inspirados e guiados pela Palavra de Deus apresentam às nossas Comunidades o documento Ministério e Celebração da Palavra. São linhas básicas e diretrizes gerais para a elaboração de um plano de formação

e acompanhamento dos ministros/as da Palavra de Deus. O documento apresenta a celebração da Palavra de Deus como expressão da comunidade de fé. Não se esquece de abordar a “urgência pastoral” do ministério da Palavra e o reconhecimento aos numerosos ministérios que tantos irmãos, leigas e leigos, exercem, com grande dedicação e amor, na dinamização da igreja particular.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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comunicações aniversários abril

Natalício 2 Padre Francisco Clóvis Nery 2 Padre José Maria de Oliveira 2 Padre Nelson Fernandes de Oliveira 8 Padre Reginaldo da Silva 11 Padre Weberton dos Reis Magno 16 Padre Riva Rodrigues de Paula 18 Padre Gentil Lopes de Campos Júnior

20 Padre José Hamilton de Castro 22 Padre Janício de Carvalho Machado 22 Padre Reinaldo Marques Rezende 23 Padre Francisco Carlos Pereira 23 Padre Rodrigo Costa Papi 25 Padre Dênis Nunes de Araújo 26 Padre Eder Carlos de Oliveira 27 Padre Leandro José de Melo

agenda pastoral 3 5 - 7 6 7 13 14 18 19

Reunião da Pastoral Presbiteral em Guaxupé Cursilho Masculino em Poços de Caldas Reunião do Conselho Diocesano de Pastoral em Guaxupé Reunião da Equipe Diocesana para formação – Mãe Rainha Reunião Conselho Diocesano da RCC – Ministérios – em Guaxupé Reunião dos Conselhos de Pastoral dos Setores (CPSs) Domingo de Ramos Quinta-Feira Santa - Missa da Unidade – Santos Óleos – Catedral Diocesana Sexta- Feira Santa - Paixão do Senhor

sos áfrica

28 Padre Sandro Henrique Almeida dos Santos Ordenação 8 Padre José Augusto da Silva 12 Padre Arnoldo Lourenço Barbosa 12 Padre José Maria de Oliveira 13 Padre Aloísio Miguel Alves 16 Padre Luiz Januário dos Santos

20 Sábado Santo Reunião do Conselho Dioc. do ECC em Bandeira do Sul 21 Páscoa do Senhor Tiradentes 26-28 36º Encontro Diocesano de CEBs em Bandeira do Sul 27 2º Encontro de Agentes da Pastoral Universitária Eclesiástica de Pouso Alegre na PUC - Minas em Poços de Caldas 28 Setor Cássia: Encontro dos MECE’s

Texto/Imagem: Divulgação CNBB

CNBB E CÁRITAS LANÇAM CAMPANHA DE AJUDA ÀS VÍTIMAS DE CICLONE

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entenas de milhares de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone Idai que devastou territórios inteiros na África do Sul, no último dia 14 de março. Moçambique, Zimbaué e Maláui foram os países mais atingidos pela catástrofe que já é a pior da história enfrentada pela população destes países. Até o momento, pelo menos 656 perderam a vida, mas estima-se que esse número possa passar de mil. No cenário urgente de ajuda humanitária, cerca de um milhão e meio de pessoas estão desalojadas. Para organizar a solidariedade brasileira com as populações atingidas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançam a campanha SOS África: Moçambique, Zimbabué e Maláui. Os recursos arrecadados serão utilizados para ações de socorro imediato, água potável, alimentos, roupas, cobertores, kits de higiene, remédios, primeiros socorros e tendas, que serão coordenadas pela Cáritas Internacional, um organismo da Santa Sé. Com a solidariedade de cada pessoa, a Cáritas Internacional quer ainda ajudar na reconstrução de moradias e meios de vida das populações afetadas nos três países. O SOS África: Moçambique, Zimbabué e Maláui conclama a sociedade brasileira, as dioceses, paróquias, comunidades, con-

gregações religiosas, colégios e todas as pessoas de boa vontade, para uma grande corrente de oração e solidariedade em favor das pessoas atingidas por esta tragédia. “Que o Deus da vida e da ternura derrame suas bênçãos sobre cada pessoa e comunidade pela colaboração e gesto amoroso, em favor das famílias de Moçambique, Zimbábue e Maláui”. Diz um trecho da carta assinada pelas presidências da CNBB e da Cáritas Brasileira, enviada para todas as paróquias do Brasil. Três contas bancárias que são geridas pela Cáritas Brasileira estão disponíveis para doações. Favorecido: Cáritas Brasileira CNPJ: 33.654.419/0001-16: Banco do Brasil Agência: 0452-9 Conta corrente: 49.667-7 Caixa Econômica Federal Agência: 1041 Operação 003 Conta corrente: 432203 Banco Santander Agência: 3100 Conta corrente: 12.061645-0

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16 Padre Francisco dos Santos 22 Padre José Carlos Carvalho 22 Padre Paulo Rogério Sobral 23 Padre Graziano Cirina 28 Padre Marcelo Nascimento dos Santos 28 Padre Donizetti de Brito 28 Padre Reginaldo da Silva 29 Padre Júlio César Agripino

atos da cúria

Foi nomeado Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora dos Milagres o padre Carlos Virgílio Saggio, em Milagres, distrito de Monte Santo de Minas no dia 27 de fevereiro de 2019.


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