FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ
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ANO XXXII - 358
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SETEMBRO DE 2019
editorial expediente Diretor geral
DOM JOSÉ LANZA NETO Editor
PE. SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808 Equipe de produção
LUIZ FERNANDO GOMES JANE MARTINS Revisão
JANE MARTINS Jornalista responsável
ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265 Projeto gráfico e editoração
BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160 Telefone 35 3551.1013
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“No estado de graça vê-se às vezes a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa. Tudo, aliás, ganha uma espécie de nimbo que não é imaginário: vem do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas. Passa-se a sentir que tudo o que existe - pessoa ou coisa respira e exala uma espécie de finíssimo resplendor de energia. A verdade do mundo é impalpável” [Estado de graça - Clarice Lispector, escritora]
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ma das dimensões mais fundamentais da fé cristã é uma constante atitude de oração que nos permite contemplar a vida e perceber a graça de Deus que se manifesta nas pequenas coisas de nossa existência. O Senhor nos fala na tranquilidade como uma brisa suave (cf. 1Rs 19, 12s) e cuida de todos nós com serenidade em respeito à nossa liberdade. Deus nos aponta os caminhos e as atitudes corretos que devemos permanecer para continuarmos em comunhão com sua proposta de uma vida renovada por sua luz. Porém, nem sempre conseguimos nos colocar numa atitude tranquila, são tantas as situações que nos perturbam, pessoas que nos solicitam a atenção e até mesmo as angústias e os medos que trazemos dentro de nós. Isso tudo nos impede de manter um contato profundo com o Senhor e isso compromete a nossa espiritualidade.
O momento histórico que vivemos é definitivamente um empecilho para silenciarmos nossos corações para contemplarmos a vida e seus valores tão fundamentais. O barulho, as imagens e a aceleração podem nos impedir de percebermos o Deus que age sutilmente sem gritar, sem levantar a voz, mesmo que ninguém escute o que Ele fala (cf. Is 42, 2). Viver uma vida agitada a todo momento não nos deixa aproximar de Deus e compreender o que Ele nos solicita e nos ilumina. Para compreender a forma como Deus age é fundamental mergulhar no mistério, quase imperceptível, só revelado àqueles que experimentam o amor profundo em suas vidas. No Evangelho de Marcos, percebemos ao longo do texto um caminho pedagógico de Jesus que vai ensinando os discípulos a sútil tarefa de semear o Reino de Deus. Um reino que se estabelece no frágil, no
voz do pastor
pequeno e no humilde. E quando Jesus de Nazaré convida os discípulos “vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco” (Mc 6, 31), Ele indica a intenção cuidadosa de um Deus que não castiga, não interroga, não oprime, mas tão somente ama a cada um de seus filhos, independentemente de sua aceitação ou recusa a esse amor. Se quisermos o dom de compreender o amor de Deus não devemos somente orar incansável e repetidamente, mas devemos fazê-lo como um diálogo amoroso e sincero que nos oferece a oportunidade de dizermos ao Senhor o que necessitamos e, ao mesmo tempo, ouvir o que o Espírito Santo nos diz através de situações, pessoas e inspirações. Não podemos transformar nossa oração somente num monólogo incessante, devemos permitir que o Senhor nos revele o caminho que nos conduz à participação em seu Reino.
Dom José Lanza Neto, Bispo da Diocese de Guaxupé
“NÓS AMAMOS, PORQUE DEUS PRIMEIRO NOS AMOU”
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stamos no mês de setembro, período dedicado à Bíblia. A intenção da Igreja é fazer com que cada vez mais a amemos, conheçamos, levando sempre em conta sua incidência em nossa vida. Apesar de ser um dos livros mais divulgados em todo mundo, continua sendo desconhecido e de difícil interpretação. A cada ano, a Igreja escolhe um livro do Antigo ou Novo Testamentos a ser estudado, criando meios para que as pessoas tenham o alcance de sua mensagem. Cada livro bíblico nos leva a descobrir o amor de Deus de algum modo ou numa perspectiva específica. Aliás, a Bíblia é o livro que, por excelência, nos revela o amor de Deus por nós. A propósito, se somos capazes de amar é justamente porque Deus nos amou por primeiro.
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Hoje em dia se fala no amor, mas de um amor passageiro à moda humana. Muitas vezes, pensamos e nos deixamos enganar por esse tipo de amor. Procurou-se de toda maneira esvaziar o verdadeiro sentido do amor. O amor é apresentado hoje das mais variadas formas que chega quase a nos convencer. Porém, o amor de Deus é verdadeiro, como amor de mãe, não se deixa trair, confundir, subtrair... Tereza de Calcutá, dizia que o amor começa a existir e se tornar verdadeiro quando começa a doer. Só assim teremos a certeza que o amor é verdadeiro, profundo, duradouro. Na história de nossa salvação, sobretudo nos Evangelhos, o amor perpassou e perpassa toda a história dos homens e da humanidade. Mesmo que a humanidade feche os olhos para
Deus, muitas vezes, dando a impressão de que Ele não existe mais, Ele continua a nos amar e a nos procurar. Deus nos criou porque é amor e continuará a amar sempre. Estamos envolvidos num egoísmo tão grande e profundo que temos a impressão que Deus nos atrapalha, não suportamos falar dele e de seu amor. O amor de Deus abraça toda a obra de sua criação, traduzimos esse gesto de Deus como graça, misericórdia e compaixão. Só construiremos uma nova vida e uma nova história voltando ao primeiro amor – Deus. Deixemo-nos amar por seu amor eterno. Que este mês de setembro seja muito fecundo e nossa experiência de vida seja alicerçada no amor de Deus, porque Ele nos amou primeiro.
opinião
Por Rosinei Costa Papi Dei Agnoli, coordenadora de pastoral da PUC Minas – campus Poços de Caldas e mestranda em Ciências da Religião
A ARTE DE LER O MUNDO: VER, ESCUTAR E DIALOGAR «gramática do diálogo», como indicado pelo Papa Francisco, capaz de «construir pontes e […] encontrar respostas para os desafios do nosso tempo.” A identidade e a formação cristã, bem como a espiritualidade encarnada, nos educam a “construir as bases para um diálogo pacífico e permitir o encontro entre as diversidades com o objetivo principal de edificar um mundo melhor”. (12/15) A formação libertadora: o ato de educar como gesto político e o resgate da humanização.
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uanta beleza há na capacidade de ver o mundo e as pessoas, escutar os contrapontos e dialogar com lucidez e respeito! A arte de ver e discernir o mundo: ver o quê e para quê? A capacidade de ver o mundo e as pessoas desperta o humanismo solidário. Saber discernir o mundo é ler o mundo por dentro e enxergar a cultura da paz e a cultura da morte. Saber o quê e quem está a serviço da vida abundante e digna para todas as pessoas. Isto, sem dúvida, é a mística de olhos abertos. Caminha-se atento/a aos acontecimentos, às dores e alegrias do povo. Cada pessoa se sente dentro da história e capaz de transformar a realidade nos pequenos gestos. Discernir o mundo é fazer a leitura dos sinais do tempo. Segundo o Concílio Vaticano II, o povo de Deus a caminho, a Igreja peregrina, tem como missão “perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho.” O teólogo e filósofo Juan Carlos Scannone, em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU), pontua que “o discernimento busca conhecer a presença do Espírito na realidade humana e cultural, a semente já plantada da sua presença nos acontecimentos, nos desejos, nas tensões profundas dos contextos sociais e culturais.” A capacidade de discernir o mundo “é uma
atitude que nos leva a ser interiormente abertos ao diálogo, ao encontro e a encontrar Deus em todo lugar”. “O místico encarnado é mais realista porque percebe a profundidade da realidade.” (GONZALEZ BUELTA SJ, Benjamin, p.90) Neste caminho de reflexão Carlos Palacio destaca que “estar presente na realidade é abrir-se a ela em todas as dimensões, com toda honestidade; deixar-se interpelar, e comprometer-se com ela; sentir-se envolvido, implicado na realidade, até que ela deixe transparecer o fundo último de sua verdade.” Trata-se de ler criticamente os acontecimentos, as palavras ditas e escritas, as imagens e os sinais que nos atordoam cotidianamente e prestar atenção nas entrelinhas e nos contextos. Importante lembrar que todo texto, fala ou discursos vêm carregados de interesses e mensagens endereçadas. Esta capacidade de ver e ler o mundo nos diferencia e nos capacita para um diálogo qualificado e lúcido. Possibilita-nos exercer a cidadania e a semear esperança. E mais, participar do processo de transformação social por meio do diálogo de pautas comuns e ações conjuntas. A arte de escutar e dialogar: o diálogo qualificado, sensato, lúcido e que respeite os interlocutores. O mundo caótico de notícias hoje exige
capacidade de dialogar, e mais, postura, consciência e visão crítica do mundo. Mas o que é o senso crítico? Significa a capacidade de questionar e analisar de forma racional e inteligente. Por meio da criticidade se aprende a buscar a verdade questionando e refletindo profundamente sobre cada assunto. A consciência crítica é a atitude de quem reflexiona sobre a realidade à sua volta. A reflexão crítica é a tomada de consciência, o ato de examinar ou analisar fundamentos e razões de alguma coisa. O que é o diálogo qualificado, sensato e lúcido? O Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia, quando propõe uma nova visão e uma nova mentalidade diante do que acontece no mundo, enfatiza os esforços para a abertura a um diálogo que respeite todos os interlocutores. Não cabem mais os confrontos ideológicos estéreis nem os discursos manipuladores de ideias. O documento 41 da CNBB, “Educar ao humanismo solidário”, acentua que “a cultura do diálogo não significa simplesmente conversar para se conhecer, de modo a facilitar o encontro entre cidadãos de diferentes culturas. Mas o autêntico diálogo ocorre num quadro ético de requisitos e atitudes formativas, bem como de objetivos sociais. Os requisitos éticos para dialogar são a liberdade e a igualdade: os participantes do diálogo devem estar livres de seus interesses contingentes e estar dispostos a reconhecer a dignidade de todos os interlocutores. (...) Trata-se de uma
A formação humana e cristã é um processo permanente. O ato de educar e ser educado para o humanismo solidário contribui sobremaneira para a consciência crítica, cidadã, ética, arejada, humanizada, inclusiva, justa e livre. Na visão do educador e filósofo Paulo Freire é preciso ensinar a pensar. A educação é, antes de tudo, um gesto político porque forma pessoas com consciência plena de cidadania. O Presidente da Comissão Episcopal da Comunicação Social, Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, enfatiza que a “educação existe para formar pessoas melhores, para que sejam solidárias entre si e comprometidas com a construção de uma nação mais justa, fundada numa cultura de paz e solidariedade.” Por fim, diz a carta de São Paulo aos Tessalonicenses: “Examinai tudo e ficai com que é bom” (5,21). É urgente aprender a arte de ler o mundo e as pessoas: ver a realidade e a verdade das palavras e das ações, escutar os sons e perceber os ruídos e saber dialogar para encontrar novos caminhos. Dessa forma, diante do cenário sociopolítico polarizado, da avalanche de notícias e informações, da comunicação cheia de ruídos e interferências é missão permanente o resgate e formação do sujeito livre, consciente, crítico, situado e humano. É a hora e a vez da leitura do mundo, da consciência crítica, do diálogo e da educação libertadora. E da recomposição de um olhar contemplativo sobre a realidade do mundo e da história. “Quem sabe faz a hora e não espera acontecer.” Para continuar a pensar: é possível esta experiência de fé encarnada e crítica numa sociedade secularizada, fragmentada, dominada pela realidade do virtual e submetida à avalanche de imagens e palavras que seduzem todos os sentidos? A realidade é mais do que captamos à primeira vista. Diante da realidade desfigurada e mutilada não cabe nem a fuga, nem a idealização, nem a demonização, mas aprender a olhar em profundidade e ver além das aparências.
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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notícias EM 3ª EDIÇÃO, SEMANA DE LITURGIA DESTACA SACRAMENTOS DO MATRIMÔNIO E DA ORDEM Com informações e imagem enviadas por padre Gledson Domingos
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os dias 15 a 19 de julho, foi realizada em Passos, no Colégio Imaculada Conceição, a 3ª Semana de Liturgia da Província Eclesiástica de Pouso Alegre, que compreende as dioceses da Campanha e de Guaxupé e a Arquidiocese de Pouso Alegre. Cerca de 80 pessoas das três dioceses participaram do encontro, que contou com a presença de representantes da Diocese de Oliveira (MG). Os assuntos tratados nessa edição da Semana de Liturgia foram os sacramentos do Matrimônio e da Ordem, sua teologia e
a sua dimensão celebrativa. “Refletimos sobre os desafios que envolvem a celebração desses sacramentos, inclusive os excessos que podem ser corrigidos com o aprofundamento sobre a essência de cada um deles”, destacou o padre Gledson Domingos, coordenador do Serviço de Animação Litúrgica da Diocese de Guaxupé. Dom José Luiz Majella Delgado, arcebispo de Pouso Alegre, e Dom José Lanza Neto, bispo de Guaxupé, participaram do encontro e motivaram os participantes a se formar para servir às comunidades.
APÓS VANDALISMO, VOLUNTÁRIOS DISTRIBUEM CAFÉ NAS RUAS E PROMOVEM VIRGEM DE FÁTIMA É ACOLHIDA COM FESTA CULTURA DO ENCONTRO Texto e imagens enviados por Jean Lucas Rosa
Texto e imagens enviados por Camilla Resende
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s voluntários do projeto Família Belém, de Poços de Caldas, realizam, durante o inverno, uma ação para afastar o frio e aquecer os corações. Todas as quartas-feiras do mês de julho, o grupo prepara café, pães, bolos e bolachas e se encontra no centro da cidade para distribuir os quitutes para quem está nas ruas. A ação acontece há três anos. Depois de uma oração, os voluntários se separam em grupos menores para visitar mais áreas da cidade. Com café em mãos, os grupos saem em busca, a princípio, dos que vivem em situação de rua, mas nada impede que quem espera o ônibus para voltar do trabalho também possa saborear uma bolachinha. É aí que o café vira pretexto para uma conversa, um aperto de mão e um abraço. Pelos terminais de ônibus, ruas e pontes, quem dorme na rua, além de um café e uma conversa boa, recebe o conselho para que deixe as ruas e procure um abrigo ou casa de passagem na cidade. Todos os voluntários são instruídos a acionar a assistência social para os que aceitem ir para o abrigo. Os grupos passam também pela Unidade
de Pronto Atendimento (UPA), onde amenizam a fome dos que esperam atendimento, distraem com muito afeto os que têm dor e agradam também médicos e funcionários. Os voluntários colecionam histórias. Vinícius Gandra, que participa da ação desde o primeiro ano, conta que cada encontro reserva grandes aprendizados. “Cada encontro é uma experiência para a vida, sempre uma oportunidade nova de fazer amizades, como meu amigo Tereziano, com quem aprendi muito. Ele é um cara em situação de rua que, mesmo com pouquíssimos pertences consigo, ainda teve a grandeza de me presentear com um boné da hora (sic!) depois de uma boa conversa”, relata o voluntário. E ele ainda completa: “É dar valor mais ao sentimento do que às coisas que uma pessoa tem”. Para Caroline Moraes, uma das idealizadoras do projeto, a ação de inverno também ajuda a aproximar os que se dispõem a ajudar o próximo. “Essa ação ajuda também na vinculação dos próprios voluntários, que toda semana se encontram, conversam, saem juntos pelas ruas. Isso gera vínculos fortes, aumenta o amor, reforça o compromisso em conjunto pelo próximo”, finaliza.
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ma multidão de fiéis católicos e devotos de Nossa Senhora de Fátima fez uma grande festa no dia 10 de agosto, em Passos, para receber a nova imagem da padroeira da Paróquia dedicada à Nossa Senhora de Fátima. A escultura, réplica idêntica da imagem exposta na Capelinha das Aparições do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Portugal, foi produzida por artistas daquela região e chegou à cidade para substituir a imagem destruída no dia 7 de março, quando criminosos invadiram a igreja matriz, no bairro Coimbras. Sob a coordenação do pároco, padre Valdenísio Goulart, os fiéis aguardaram a chegada da imagem já na entrada da cidade. Em carreata, a imagem foi levada em carro aberto até o espaço da Estação Cultura, onde os devotos a aguardavam. No local, foi celebrada uma missa campal e, após a celebração, a imagem foi levada em procissão luminosa até a igreja matriz de Nossa Senhora de Fátima, onde mais uma vez foi recepcionada com queima de fogos, aplausos,
muita emoção e a apresentação do coral Pequenos Cantores de Passos. “Foi uma grande festa que, com certeza, ficará marcada na história da paróquia. Só temos a agradecer o empenho de todos os membros de pastorais, as outras paróquias da cidade e até da região que vieram participar, enfim toda a comunidade passense, que participou dessa belíssima festa e recebeu a imagem de nossa Mãezinha de braços abertos. Desde que nossa igreja foi invadida, a comunidade ficou muito sentida e a chegada desta nova imagem irá reavivar essa devoção a Maria e o fortalecimento da fé”, agradeceu o padre. A nova imagem da Padroeira foi esculpida em madeira, sob encomenda, por artistas portugueses na região da cidade de Fátima, em Portugal – local onde ocorreram as aparições de Nossa Senhora no ano de 1917 e onde hoje situa-se o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Ela tem mais de 1 metro de altura e foi adquirida com recursos de doação dos paroquianos e devotos.
notícias PROJETOS APROVADOS PELA DIOCESE RECEBERÃO RECURSOS DO FDS
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Assessoria de Comunicação
om os recursos provenientes da Coleta da Solidariedade, realizada no Domingo de Ramos deste ano, a Diocese de Guaxupé distribuirá uma quantidade significativa para os projetos aprovados através do Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS). Ao todo, 7 projetos espalhados pelo território diocesano receberão mais de 44 mil reais. Além de alinhar-se à temática da Campanha da Fraternidade deste ano, Fraternidade e Políticas Públicas, os projetos devem apresentar condições de concretizar suas propostas. O acompanhamento da utilização dos recursos é realizado por padres de cada cidade, onde ocorrem as iniciativas. Conheça a lista dos projetos aprovados: 1) Observatório Social de Machado Cidade: Machado Público envolvido: 41 mil pessoas Objetivo: Pesquisar, analisar e divulgar as ações da administração pública. Aplicação dos recursos: Custeio de estagiários. 2) Centro de aprendizagem Pró-Menor de Passos – CAPP – Acolher para Transformar
Cidade: Passos Público envolvido: 150 crianças Objetivo: Beneficiar crianças oriundas de família de baixa renda ou extrema pobreza, assegurando espaço de convívio familiar e comunitário, além do desenvolvimento e da sociabilidade entre as crianças e suas famílias. Proteção e inclusão social através de um espaço para convivência e brincadeiras. Aplicação dos recursos: Aquisição de materiais de recreação. 3) Congregação Irmãs Nova Betânia – Centro Dia de Idosos Cidade: Guaxupé Público envolvido: 70 idosos Objetivo: Criar um centro para idosos, visando promover o acolhimento a idosos desamparados, proporcionando-lhes atividades regulares, refeições; entretenimento promovendo a boa qualidade de vida. Aplicação dos recursos: Aquisição de mobílias e acessórios. 4) Associação de Aprendizagem Jovens do
Amanhã – Jovem Aprendiz Cidade: Guaxupé Público envolvido: 11 jovens Objetivo: Incluir jovens aprendizes no mercado de trabalho. Aplicação dos recursos: Custear as despesas de formação para os jovens aprendizes como lanches, uniforme e material de consumo para as aulas. 5) Associação das Damas de Caridade – Tela de Cinema Cidade: Poços de Caldas Público envolvido: 45 Pessoas Objetivo: Promover espaço educativo, lúdico, interativo e de debate por meio da exibição de filmes e documentários de variados gêneros em consonância com o tema e lema da CF 2019. Aplicação dos recursos: Material de projeção audiovisual. 6) Centro de Educação Infantil Lar Nossa Senhora do Carmo – Plantando Vida e Saúde Cidade: Carmo do Rio Claro
Público envolvido: sem estimativa Objetivo: Formar horta para oferecimento de alimentação saudável, verduras e legumes aos assistidos do Centro de Educação Infantil. Aplicação dos recursos: Compra de mangueiras, aspersores, estercos, mudas e sementes para a horta. 7) Projetos das Pastorais da Paróquia São Pedro Apóstolo – Curando as feridas do Jesus Encarcerado Cidade: Alfenas Público envolvido: 500 homens e 50 mulheres Objetivo: Estimular e concretizar as políticas públicas de atendimento à saúde bucal dos encarcerados por meio de atendimento odontológico preventivo e curativo; incentivar e propiciar ações básicas de higiene pessoal no presídio de Alfenas. Aplicação dos recursos: Atendimento odontológico e compra de material de higiene pessoal, material informativo como livros, cartilhas e banner.
ENCONTRO DO SAV DESTACA A IMPORTÂNCIA DA VOCAÇÃO DIOCESANA PARA JOVENS Assessoria de Comunicação
Para Guilherme Morais, participante de Alfenas, o encontro foi esclarecedor: “Mostrou que o padre foi ‘feito para a Cruz’, e que devemos ter a coragem de nos arriscar pelas
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conteceu, nos dias 16 a 18 de agosto, no Seminário Diocesano São José, o 2º Encontro Vocacional da Diocese de Guaxupé, voltado aos vocacionados que cursam o ensino médio ou já o concluíram. Com caráter de retiro espiritual, o encontro proporcionou aos 45 jovens vocacionados momentos de palestras e de reflexão pessoal. A partir da espiritualidade do padre diocesano, o encontro foi aberto com uma missa presidida pelo padre Reginaldo da Silva, na Catedral Diocesana Nossa Senhora das Dores. Após a Celebração Eucarística, os vocacionados puderam conhecer a história do Servo de Deus Dom Inácio João dal Monte e, ali diante de seu túmulo, fazer suas preces pela Igreja e por suas vocações. Ao retornarem ao seminário, os participantes meditaram a Paixão, a Morte e a Ressurreição do Senhor com a Via Sacra, dirigida pelo padre Luciano Nascimento, membro do Serviço de Animação Vocacional (SAV). No sábado pela manhã, houve duas palestras sobre a identificação do padre com Jesus Cristo e a espiritualidade do padre diocesano, conduzidas respectivamente pelos padres Lu-
ciano Nascimento e Edér Carlos de Oliveira, membros do SAV. A manhã foi concluída com a presença do bispo diocesano, dom José Lanza Neto, presidindo a missa. Logo em seguida, o bispo almoçou com os vocacionados e os seminaristas da casa e proporcionou um momento de alegria e proximidade. À tardezinha, aconteceram mais duas palestras: a realidade do serviço na vida do presbítero a partir da exortação apostólica Christus Vivit, conduzida pelo padre Dione Piza, membro do SAV, e, à noite, o estagiário pastoral Douglas Ribeiro destacou a relação do padre com a Eucaristia. No domingo, após a oração da manhã, houve mais duas colocações, uma realizada pelo seminarista Kaique Pereira de Almeida sobre a vida do seminarista e a outra sobre a identificação vocacional com a Diocese, partilhada pelo padre Leandro Melo, reitor do Seminário São José. O encontro foi encerrado com a Missa, celebrada pelo padre Dione em que ele exortou os jovens em sua homilia à necessidade de devoção à Virgem Maria em suas vidas.
promessas de Deus. Ser vocacionado é ser atraído aos pés da Cruz e ser imitador de Jesus, onde quer que estejamos”.
MINISTROS DA PALAVRA RECEBEM INSTITUIÇÃO POR BISPO DIOCESANO
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Texto e imagens enviados por padre Dione Piza
noite do dia 21 de agosto ficou marcada no coração da Paróquia São Sebastião de Juruaia. Nesta ocasião, em missa solene presidida pelo bispo, dom José Lanza, 53 fiéis receberam o ministério de Ministros da Palavra. Após a eleição nos grupos de pastorais e comunidades rurais e a formação inicial, os novos Ministros da Palavra foram incumbidos de celebrar a Palavra nos setores urbanos e rurais. A urgência desse ministério nasceu do pedido do bispo na Quinta-Feira Santa deste ano, quando presenteou os presbíteros com o documento Ministério e Celebração da Pa-
lavra da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e os exortou a fomentar a celebração da Palavra de Deus, e da necessidade de se continuar o projeto de Missão Permanente da vida paroquial. Na missa de instituição, dom Lanza frisou a responsabilidade do ministério confiado, a grandeza da celebração da Palavra e a carência em levar a Palavra de Deus ao povo. Na mesma noite, a Pastoral da Saúde na paróquia celebrou 10 anos de existência e seus membros também receberam palavras de motivação do bispo diocesano.
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em pauta
Por Luiz Fernando Gomes
LITERATURA: ENTRE AS LINHAS HÁ FÉ
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é e cultura caminham juntas. Às vezes, a fé esclarece a cultura, como também, em muitos casos, a cultura é capaz de traduzir a fé. Não é à toa que existe uma infinidade de autores mundialmente conhecidos que produziram, a partir de seus escritos, obras profundamente espirituais, suficientes para esclarecer a fé para muitas pessoas. Assim, é fácil concluir que muitas literaturas são profundamente teológicas, mesmo não possuindo essa pretensão. Autores como Adélia Prado, C. S. Lewis, Newman, Chersterton, entre outros, revelaram com suas obras um pouco de sua experiência religiosa, desde simples poemas a livros apologéticos. Dentre todos os escritores, dois receberam destaque neste artigo: Adélia Prado, com sua poesia simples e profunda, constitui uma figura excepcionalmente cristã, transmitindo sua forma de enxergar Deus e viver sua religião em seus versos e conferências. De outro lado, o escritor de “Crônicas de Nárnia”, C. S. Lewis, usou de sua literatura para produzir um diálogo com as mais diversas denominações cristãs.
Adélia Prado Mineira de Divinópolis, nascida em 1935, desde seus primeiros poemas deixou evidente sua marca religiosa. Movida por sua fé, escreveu inúmeras linhas sobre Deus e o seu amor pela humanidade. Foi com a apreciação de Carlos Drummond de Andrade que, em 1976, Adélia ficou conhecida nacionalmente por sua literatura: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo”, disse o autor mineiro. O sentimento da poesia como meio de salvação é um grande exemplo de sua inspiração poética, como escreve no poema Guia: A poesia me salvará. Falo constrangida, porque só Jesus Cristo é o Salvador, conforme escreveu um homem – sem coação alguma – atrás de um crucifixo que trouxe de lembrança de Congonhas do Campo. No entanto, repito, a poesia me salvará. Por ela eu entendo a Paixão que Ele teve por nós, morrendo na cruz. Adélia compreende que era justamente a sua espiritualidade seu influxo: “De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo. O mundo, cheio de departamentos, não é a bola bonita caminhando solta no espaço. Eu fico feia, olhando espelhos com provocação, batendo a
escova com força nos cabelos, sujeita à crença em presságios. Viro péssima cristã” (poema Paixão). Numa entrevista, a escritora, ao ser indagada sobre quando e como ouvia a Deus, respondeu: “Essa pergunta só poderia respondê-la um místico, que tem a graça de uma experiência muito especial. Eu sou como 99% da humanidade, apenas uma seguidora que se empenha em viver segundo sua fé. Mas não duvido de que na poesia o que chamamos inspiração é murmúrio de fonte divina. E tem ainda a consciência, onde Ele fala a toda criatura humana”. E, ao afirmar sobre a transcendência da poesia, diz: “A poesia, a mais ínfima, é serva da esperança e esperança é transcendência. É a grandeza das pequenas coisas, o que não se corrompe. Podemos dizer, então, que o elo estabelecido entre escritor e leitor é um tipo de pacto religioso? É pacto afetivo, estético, de reconhecimento mútuo tipo ‘alma irmã’”. C.S. Lewis Clive Staples Lewis é o autor da famosa série de livros As Crônicas de Nárnia que ganhou destaque nas telas de cinema, tornando ainda mais conhecida sua literatura
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fantástica. Entretanto, não se trata de um literato de apenas um best-seller. C.S. Lewis, como ficou conhecido, além de escritor, foi professor universitário, teólogo leigo e defensor da fé cristã. Toda essa experiência influenciou, de certa forma, suas obras. C.S. Lewis nasceu em 1898 na cidade de Belfast, na Irlanda. Ainda jovem perdeu sua mãe. Assim, os traumas e questionamentos forjaram sua personalidade muito rapidamente. Sua vida intelectual e espiritual foi marcada por essa circunstância. Além disso, prestou serviço militar na primeira Grande Guerra (1914-1918), nos campos de batalha na França. Mais uma experiência marcante em sua vida que colocou em xeque sua fé. O escritor foi ateu assumido durante um longo período de sua vida, pois não conseguia conciliar a existência de um Deus que ama com a dura realidade do mal. Entretanto, foi confrontado pela fé de outros autores aos quais muito admirava, como: Dante Alighieri, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Para ele era um pouco constrangedor pensar que homens tão ilustres encontravam sentido na religião, enquanto sua experiência era tão frustrada. Desse confronto, surge sua fé. Em 1931, tornou-se cristão, defendeu a fé e deixou
em suas obras aquilo em que acreditava. Sua obra O Cristianismo Puro e Simples sinaliza a razão que faz dele um autor aceito nos mais diversos segmentos da fé cristã. Lewis era anglicano, mas sempre buscou um discurso ecumênico que levava em conta as razões que uniam os cristãos, ao invés de suas diferenciações. Em As Crônicas de Nárnia, as alusões ao cristianismo, à Sagrada Escritura e aos valores da fé são múltiplos. O personagem Aslam é, quase unanimemente, interpretado como uma alegoria a Jesus Cristo. Ele é sacrificado em favor dos seus, volta à vida e provoca ensinamentos admiráveis com seus discursos. No trecho a seguir, ele é apresentado como a razão de grande esperança: O mal será bem quando Aslam chegar, Ao seu rugido, a dor fugirá, Nos seus dentes, o inverno morrerá, Na sua juba, a flor há de voltar (A última Batalha) A religião também influenciou as Cartas a Um Diabo e Seu Aprendiz e o Milagre. Em 1963, Lewis faleceu em Oxford, em 22 de novembro, deixando o encanto e a fé em suas obras.
enquete
Por Assessoria de Comunicação
QUE LIVRO MARCOU A SUA HISTÓRIA?
Enquete revela o gosto pela literatura de diversos diocesanos e apresenta sugestões que podem ser uma ótima opção de leitura para quem procura uma sugestão para ampliar seus conhecimentos culturais. A literatura pode abrir as consciências a experiências diferentes e universos novos. Muitas pessoas ao ler se conectam com seus autores e obras de um modo único, favorecendo um encontro para a vida toda. Nesta edição, algumas pessoas partilham sobre os livros que marcaram suas histórias.
na leitura do livro escrito por Inácio Larrañaga. A vida de Francisco é uma história de conversão, de doação, de encontro com Deus e com o outro e de profundo amor. Essa leitura encheu meu coração de esperança e de alegria na certeza de que Deus nos chama para o amor e para viver junto de seu coração. Cristiane Messias, Alfenas
Shinsetsu - O poder da gentileza
Antes de nascer o mundo
Em oração com São João da Cruz
e passei a ver o lado bom em tudo que acontecia ao meu redor e sou assim até hoje, pois a vida poderá ser boa ou não, só depende de você, pois o amor vence qualquer barreira. Ana Maria, Nova Resende A morte: um amanhecer
É um livro do filósofo e professor brasileiro Clóvis de Barros e traz uma reflexão sobre a gentileza e suas vertentes, unindo a sabedoria oriental à filosofia ocidental. Esse livro foi um presente de uma grande amiga que tive e me ajudou muito a crescer como pessoa e como cristão. Shinsetsu me ensinou a prestar atenção nos mínimos detalhes de nossa relação com os outros todos os dias. Nas palavras do autor: “se formos em algum dia e em algum lugar mais gentis que o necessário, poderão contemplar a face de Deus em nós”. Wender Batista, Poços de Caldas O irmão de Assis
“Quem recebe tudo não se sente com direito a nada. Não exige nada. Não reclama nada. Pelo contrário, agradece tudo. A gratidão é o primeiro fruto da pobreza”. Esse é o trecho que me marcou
Indico esta obra especialmente por seu autor Mia Couto, que possui uma escrita envolvente e nos permite ir além das palavras. Trata-se de uma ficção moçambicana que retrata a atitude de todo ser humano que tenta esquecer situações com as quais não consegue lidar. Esse livro marcou meu itinerário devido à compreensão apresentada para os problemas humanos que marcam toda pessoa. Frente a eles, podemos nos isolar ou descobrir que as dificuldades sempre serão fatos parturientes de vida em nossa história pessoal e comunitária. Existem vários trechos que me marcaram, mas cito um para instigar a leitura: “Viver? Ora, viver é cumprir sonhos, esperar notícias. Silvestre não sonhava, nem aguardava notícia. No princípio, ele queria um lugar onde ninguém se lembrasse do seu nome. Agora, ele próprio já não se lembrava quem era”. Padre Luciano Nascimento, Poços de Caldas Pollyanna Desde criança fui muito observadora no que se refere à vida e vi em meus pais meu primeiro livro do conhecimento. Meu pai era uma pessoa muito sábia e adorava ler, mesmo tendo o 3° ano de grupo. Assim, sempre tinha um livro em mãos e, quando na 6ª série ginasial, conheci o livro de Eleanor H. Porter. A personagem Pollyanna me ensinou que tudo tem seu lado positivo, mesmo nos momentos mais difíceis da vida. Foi quando eu, adolescente, vi a vida de forma diferente
Um dos livros que marcou bastante a minha vida foi este pequeno livro escrito pelo frei Patrício Sciadini. Me ajudou muito em um tempo que não conseguia focar e me concentrar nas minhas orações. Eu percebia que tudo estava muito superficial, faltava profundidade, e com o auxílio desta obra fui aprofundando em minha oração, através da meditação e da contemplação da Palavra de Deus e dos escritos de São João da Cruz. Como o próprio santo diz: “Procurai lendo e encontrareis meditando; chamai orando e abrir-se-vos-á contemplando”. Weder Pedro, São Sebastião do Paraíso Em busca de sentido A obra de Viktor Frankl me apresen-
Depois de lermos um livro, há alguma mudança em nosso pensamento, em nosso comportamento e em nossa vida. Uns marcam mais, outros menos, são como pessoas que passam por nossa vida. Um livro que mudou minha vida é um livro pequeno, poucas páginas, mas de um conteúdo imenso. Um amigo meu perdeu sua esposa repentinamente e uma psicóloga deu-lhe esse livro que o ajudou muito. Curiosa, eu comprei, pois sempre tive dificuldade em lidar com a morte. O livro de Elisabeth Klüber-Ross me ajudou muito. Eu não conseguia ir ao cemitério, evitava falar sobre isso, não sabia lidar com as perdas e, ao longo da vida, já tive várias grandes perdas. A autora é médica e trabalha com doentes terminais. Resumindo, seu trabalho é fantástico e o céu é maravilhoso! A esperança que ela transmite nesse livro, destacando a felicidade que nos espera, nos faz muito bem. Quem gosta de escatologia, com certeza, irá curtir esse livro. Áurea, Guaxupé
tou uma forma de enxergar os horrores da vida como possibilidade de transformação. Para o autor, aquele local de terror (campo de concentração na Alemanha nazista) transforma-se em um monumento à promoção de paz e do perdão. Recordando toda a tristeza, não repetindo, vem, então, a libertação, creio ser uma das mais belas lições do livro. Padre Antônio Batista, Machado
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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bíblia
Por padre José Luiz Gonzaga do Prado, biblista e professor na Faculdade Católica de Pouso Alegre
ESTILOS OU GÊNEROS LITERÁRIOS NA BÍBLIA
S
e Platão disse que todo poeta é mentiroso, nós podemos dizer-lhe que todo filósofo é chato. Cada um tem seu estilo e se a linguagem técnica e exata de um filósofo, de um médico, de um advogado é maçante, a mentira ou linguagem imprecisa e fluida é que dão sabor a um poema, a um conto, a uma história bem contada. E atrás dessa mentira estão verdades muito mais profundas, que chegam à alma de quem escuta ou lê. Mentiras na Bíblia? A Bíblia está cheia dessas mentiras, ela só não te garante a verdade científica ou histórica. E quem diz isso não sou eu, é o Papa conservador Bento XVI. Em 2008, para incentivar o estudo da Bíblia, ele promoveu um Sínodo, reunião de Bispos e pessoas competentes do mundo inteiro. Depois publicou um documento onde publica os resultados do Sínodo. Ele termina o n. 19 desse documento dizendo: “Quando enfraquece em nós a consciência da Inspiração, a gente corre o risco de ler a Escritura como objeto de curiosidade histórica e não como obra do Espírito Santo, na qual podemos ouvir a voz do Senhor e reconhecer a sua presença na História”. Quer dizer que quando a gente pergunta à Bíblia o que foi que aconteceu exatamente, sem nenhuma mentira, estamos tirando Deus para fora da Escritura. É com as “mentiras” dos poetas que a Bíblia nos ajuda a encontrar Deus em nossa História, no nosso dia a dia, é aí que podemos ver a atuação do Espírito Santo que inspirou o Escritor sagrado e inspira o leitor atual. Histórias ou narrativas A Bíblia fala como gente e não feito máquina, ela não é um livro de ciências nem um
código de leis ou catecismo de doutrinas. Comparando com a televisão, ela não é uma transmissão ao vivo, nem documentário, nem reportagem, nem jornal ou noticiário, ela pode se parecer mais com uma novela ou um filme. Assim são as histórias que nela encontramos. Achamos duas, três ou mais versões diferentes de um mesmo acontecimento, cada versão valorizando detalhes diferentes porque diferentes são as mensagens que cada um quer transmitir. Compare, por exemplo, os Evangelhos: Marcos 2,1-12, Mateus 9,1-8 e Lucas 5,17-26. Repare como Marcos insiste na casa cheia que não deixa ninguém mais entrar, nos quatro que carregam o paralítico, nos Escribas que estavam ali sentados, em abrir um buraco no teto (que era uma laje de taipa ou pau a pique) em cima do lugar onde Jesus estava. Mateus já nada diz desses detalhes, diz apenas que levaram um paralítico até Jesus e Jesus o curou. Lucas também simplifica bem a história. Os dois parecem interessados apenas na cura, enquanto Marcos só se interessa pelo simbolismo de cada detalhe. Os que trazem o paralítico que os representa vêm
dos quatro cantos do mundo. Na casa, quem ensinava, estavam sentados, eram os mestres fariseus. Não deixam que os quatro, os estrangeiros, entrem pela porta. Eles passam por cima do teto, mas chegam até Jesus. São pecadores (Gl 2,15), mas saem sem a mancha do pecado e carregando a cama em que eram carregados. Orações em poesia, os Salmos Depois dos Evangelhos talvez sejam os textos mais conhecidos e mais apreciados da Bíblia. São poemas que rezam e fazem rezar. Além dos 150 da grande coleção que encontramos na Escritura, há, também, mais alguns que não se encontram no número dos 150. É o caso da oração de Jonas na barriga da baleia. Essas orações poéticas não são todas do mesmo estilo, do mesmo gênero. Há os Salmos de Súplica, individual ou coletiva como também existem os Salmos de agradecimento, seja individual ou coletivo. Não poucas vezes um Salmo de súplica individual de alguém, por exemplo, que está gravemente enfermo ou condenado a uma prisão injusta transforma-se, no final, em um pedido pela nação, pelo povo todo. O salmo 51 (50)
para se aprofundar
começa pedindo perdão e cura, mas termina falando em Sião e Jerusalém. O Salmo 22 (21) começa lembrando a oração que foi feita no momento de dor e sofrimento, mas termina com a ação de graças por ter escapado da morte. Os apocalipses A palavra grega apocalipsis significa revelação e deu título ao último livro da Bíblia. Mas esse é um estilo, gênero ou jeito de falar que não é só do último livro do Novo Testamento, mas está até em nossa linguagem cotidiana. Usamos linguagem apocalítica quando dizemos “o céu veio abaixo”, “caí das nuvens”, “foi um fim de mundo”, “desabou tudo”. Nos momentos de sofrimento e opressão do povo, quando já não se vê uma saída, como na época relatada nos livros 1 e 2 dos Macabeus, surgiu o livro de Daniel cheio de feras e fantasmas representando os opressores do povo. Entre nós também. Acabo de ver no Youtube a cara do Bolsonaro como a boca de um dragão vomitando fogo. Durante o regime militar duas músicas do Chico Buarque, Apesar de você e Cálice, passaram pela censura e só depois de divulgadas os militares desconfiaram que o você era a ditadura militar e o cale-se não era a taça, mas a proibição de abrir a boca. O gênero apocalíptico revela a ignorância dos opressores e aumenta a autoestima dos oprimidos, sustentando-lhes a esperança. Na Bíblia também, não só no seu último livro, mas também em Daniel, em Ezequiel, em Zacarias e mesmo em trechos dos Evangelhos sinóticos encontramos o estilo ou gênero apocalíptico que, com suas imagens fabulosas e símbolos de dois, três ou até mais significados possíveis animam os que estão sofrendo e riem dos que estão mandando.
Texto/Imagem: Assessoria de Comunicação - CNBB
MÊS DA BÍBLIA DESTACA PRIMEIRA CARTA DE SÃO JOÃO
O
mês de setembro se tornou referência para o estudo e a contemplação da Palavra de Deus, tornando-se em todo o Brasil, desde 1971, o Mês da Bíblia. Desde o Concílio Vaticano II, convocado em dezembro de 1961, pelo papa João XXIII, a Bíblia ocupou espaço privilegiado na família, nos círculos bíblicos, na catequese, nos grupos de reflexão, nas comunidades eclesiais. Neste ano a Igreja no Brasil comemora o 48º Mês da Bíblia. Nesse sentido, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação
Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dando continuidade ao ciclo do tema “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” propôs para o Mês da Bíblia o estudo da Primeira Carta de João, com destaque para o lema “Nós amamos porque Deus primeiro nos amou” (1Jo 4,19). No texto-base, lançado pela Editora CNBB, logo em suas primeiras páginas são dadas algumas orientações básicas sobre a Primeira Carta de João, importantes para situá-la em seu contexto histórico, literário
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e teológico. À medida que o leitor avança poderá encontrar informações básicas referentes ao gênero literário, ao autor e aos interlocutores, aos temas teológicos principais, à época e ao lugar de composição da Carta. Nos capítulos seguintes, o autor busca fazer uma exposição passo a passo.
juventude
Por padre Vinícius Pereira Silva, assessor diocesano do Setor Juventude
CRISTO VIVE: CAMINHOS PARA A JUVENTUDE DIOCESANA “A todos os jovens cristãos escrevo [...] uma carta que recorda algumas convicções de nossa fé e que ao mesmo tempo nos encoraja a crescer em santidade e no compromisso com a própria vocação” (Christus Vivit, 3).
A
ssim o papa Francisco define sua Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus Vivit (CV). De fato, em muitos parágrafos, o tom adotado pelo Pontífice faz o documento se assemelhar com um diálogo, de modo especial quando o papa dirige-se diretamente aos jovens. Ao longo de nove capítulos, o papa Francisco não só recolhe as conclusões do Sínodo dos Bispos sobre a juventude, realizado em outubro de 2018, como acrescenta seu olhar de pastor diante da realidade dos jovens, tão rica e inspiradora, mas também muito marcada por desafios e sofrimentos. Em primeiro lugar, o documento recolhe as experiências de jovens personagens bíblicos, em seu caminho de encontro com Deus e de busca por seu lugar no meio do povo. Ao passar por figuras tanto do Antigo, como do novo Testamento, o papa Francisco prepara terreno para recordar o modelo por excelência de todo jovem: Jesus de Nazaré. Citando o documento final do Sínodo, o papa afirma que Jesus santifica a etapa da juventude, pois ele mesmo a viveu (CV 22), e que “Jesus [ilumina] vós jovens, a partir de sua própria juventude, que compartilha com vocês. É muito importante contemplar o Jesus jovem que os evangelhos nos mostram, porque ele foi verdadeiramente um de vocês, e nele se podem reconhecer muitos traços dos corações jovens” (CV 31). A partir de Jesus, a própria Igreja mantém-se jovem, pois “ser jovem, mais do que uma idade, é um estado do coração” (CV 34), e com ela uma multidão de santos que deram o melhor de sua juventude para Deus. Entre eles, o pontífice destaca a Virgem Maria, São Sebastião, São Francisco, São Domingos Sávio, Bem-aventurado Pier Giorgio Frassati, entre outros. No terceiro capítulo, o papa Francisco recolhe diversas características da realidade dos jovens, o agora de Deus. Positivamente, destaca o papa, que o coração de cada jovem é terra sagrada, de quem devemos retirar as sandálias, para poder nos aproximar (CV 67), e ainda lembra a pluralidade de rostos juvenis, podendo até se dizer mais de juventudes, que juventude no singular. Por outro lado, Francisco não é cego às tristes realidades que cercam os jovens, que estão imersos em um mundo em crise. O papa convida a Igreja a chorar diante desses dramas, para que as lágrimas
limpem a visão e gere compaixão (CV 7576). Três feridas recebem destaque pelo pontífice: o ambiente digital, muitas vezes marcado como território de solidão, exploração e violência; as migrações, que podem gerar desenraizamento cultural e religioso; e os abusos de todo o tipo (de poder, econômico, sexual), onde o papa reconhece com tristeza o pecado do abuso cometido por alguns membros da Igreja, mas recorda a grande maioria de ministros e fiéis que buscam viver de maneira fiel e generosa. O coração de todo o documento parece estar contido no capítulo quarto, onde o papa deseja anunciar três grandes verdades a todos os jovens: Deus te ama, Cristo te Salva, Ele vive. “Em qualquer circunstância, és infinitamente amado” (CV 112), recorda o papa. Destacando alguns textos bíblicos onde se exalta o amor de Deus pela humanidade (cf. p. ex. Jr 31,3; Is 43,4), Francisco torna quase que palpável esse amor, “um amor que não marginaliza, que não cala (...), um amor de todos os dias, (...) amor que cura e que levanta” (CV 116). Esse amor de Deus encontra na salvação de Cristo sua maior realização. “Seus braços abertos na Cruz são o sinal mais precioso de um amigo capaz de chegar ao extremo” (CV 118). Na cruz, Cristo nos salvou, e liberta o homem do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento (CV 119). A salvação de Cristo mostra a todo jovem que sua vida não tem preço, não está à venda. “Não vos deixeis comprar, não vos deixeis seduzir, não vos deixeis escravizar” (CV 122), exorta o papa. Por fim, a verdade da salvação se liga à última: Cristo vive! Jesus não
está preso ao passado, não é uma mera lembrança, mas caminha com o jovem no hoje da história. “Se ele vive, então poderá estar presente em tua vida, em cada momento (...). Nunca mais haverá solidão nem abandono” (CV 125). Cristo vive e é a razão de nosso viver, aquele que dá sentido à nossa vida. Nos demais capítulos, o papa se debruça em outros aspectos da vida da juventude, como seus caminhos (capítulo 5), suas raízes (capítulo 6), sua pastoral (capítulo 7), sua vocação (capítulo 8) e o discernimento da mesma (capítulo 9). O pontífice instiga os jovens a olhar para frente, a não desistir de sonhar, nem renunciar ao melhor de sua juventude. “Por favor, não se aposentem antes do tempo!” (CV 143). Nesse sentido, o papa Francisco instiga os jovens a crescerem em fraternidade, assumindo com compromisso a amizade com Cristo, que os torna missionários corajosos. Porém, não é possível trilhar este caminho sem possuir raízes profundas. Francisco, dessa forma, convida cada jovem a sair da superficialidade na vida, mantendo uma relação afetiva e respeitosa com os idosos, bebendo de sua sabedoria e memória. Ao falar da pastoral dos jovens, recorda o pontífice que toda a comunidade tem o dever de acompanhar a juventude e dar-lhes o devido protagonismo em seu caminho. E por isso, destaca duas grandes linhas de ação para a Igreja: Buscar (atrair os jovens para a experiência com o Senhor), e crescimento (amadurecer quem fez a experiência, no amor comunitário). Destaca, ainda, a necessidade de uma formação espiritual
e cultural (CV 223) e a urgência de estabelecer estruturas de acompanhamento, onde adultos autênticos e comprometidos e que buscam a santidade, respeitando sua liberdade e protagonismo, ajudem o jovem na construção de seu projeto de vida (CV 242.246). Por fim, o sumo pontífice deseja que o jovem ouça o Cristo que lhe chama para viver uma vocação. Em primeiro lugar, à santidade, à amizade com Ele (CV 248). Mas também uma vocação em ser para os outros, em relação comunitária, missionária. Aqui o papa recorda ao jovem que vale a pena apostar na família, que vale a pena buscar uma profissão que traga algo muito mais valioso que o dinheiro: a alegria, a dedicação, a generosidade, o sacrifício (cf. CV 273). Há, ainda, as vocações para uma consagração especial, pois “Jesus caminha entre nós, como fazia na Galileia (...). Seu chamado é atraente, fascinante. Para tudo isso é preciso um verdadeiro discernimento, formando a consciência, questionando-se e escutando o amigo Jesus no silêncio (cf CV 281.284.285.287). O papa finaliza dizendo: “Queridos Jovens (...) a Igreja necessita de vosso entusiasmo, de vossas intuições, de vossa fé. Fazei-nos falta!” (CV 299). Assim, com o processo sinodal e a Christus Vivit, a Igreja reafirma a opção preferencial pelos jovens, afetiva e efetiva, como já realizado nas Conferências Latino-Americanas de Puebla e de Santo Domingo, mas agora ressoando na voz do papa para todo o mundo. Infelizmente, apesar de tanta riquezas, em nossa realidade diocesana, temos muitas atividades de busca, mas ainda nos descuidamos muito do crescimento, do acompanhamento. A estrutura de acompanhamento desejada pelo papa já foi comtemplada no projeto de evangelização da Juventude da CNBB, o projeto IDE, e que também foi contemplada no Plano Diocesano da Ação Evangelizadora. Temos uma imensa força missionária em nossa juventude diocesana. A Missão Jovem, que ocorrerá nos setores da diocese, tem mostrado e mostrará ainda mais essa força. Assim, a Christus Vivit, juntamente com outros documentos do magistério pontifício e nacional, vem ser luz para guiar as atividades do Setor Diocesano da Juventude de Guaxupé, bem como para todos os grupos de jovens, lugares especiais do encontro dos jovens com o Cristo Vivo.
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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comunicações aniversários agosto Natalício 1 Padre Donizete de Brito 5 Padre José Ronaldo Rocha
6 Monsenhor Hilário Pardini 15 Padre Carlos Miranda
agenda pastoral
5 Reunião do Conselho de Presbíteros - Guaxupé 7 Independência do Brasil 8 Natividade de Nossa Senhora 9 Reunião dos Presbíteros dos setores Alfenas e Areado – Paróquia Nossa Senhora do Carmo – Paraguaçu Reunião do GED do Cursilho 11 Reunião dos Presbíteros do setor Passos – Paróquia Nossa Senhora Aparecida Passos 12 Reunião dos Presbíteros do setor Guaxupé – Seminário São José - Guaxupé 14 Assembleia Diocesana do Cursilho – Guaxupé Reunião do Setor Famílias - Guaxupé Reunião do Conselho Diocesano do ECC - Itaú de Minas 15 Festa de Nossa Senhora das Dores, Padroeira da Diocese 18 Reunião dos Presbíteros do Setor Poços de Caldas – Cabo Verde 19 Reunião dos Presbíteros dos setores São Sebastião do Paraíso e Cássia –
Ordenação 11 Padre Claiton Ramos 13 Padre Glauco Siqueira dos Santos
19 Dom José Lanza Neto (episcopal) 28 Padre Pedro Alcides de Souza
Paróquia São Sebastião – São Sebastião do Paraíso Aniversário de Ordenação Episcopal do 9º Bispo Diocesano – Dom José Lanza (2004) 21 Setor Missionário – Missão Permanente 21 - 22 Cenáculo Diocesano da RCC - Juruaia 22 Encontrão Diocesano do TLC - Muzambinho 25 Encontro Diocesano de Secretários - Guaxupé 26 Reunião do Conselho de Formação Presbiteral - Guaxupé 26 - 28 Escola de Formação das Novas Comunidades - Machado 10º Encontro de Casais com Cristo 3º Etapa 28 Reunião do Setor Juventude – Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana da Formação de Leigos – Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana de CEBs - Guaxupé 29 Encontro Diocesano dos Grupos de Reflexão em Guaxupé – Abertura Oficial do Mês Missionário Extraordinário
entrevista
Fonte: Assessoria de Comunicação - REPAM
“QUE A IGREJA NO BRASIL ASSUMISSE MAIS A AMAZÔNIA COMO UMA PRIORIDADE MISSIONÁRIA”
D
om Joel Portella, secretário-geral da CNBB, sonha que a Igreja do Brasil assuma mais a Amazônia como prioridade para a missão. Ele esteve na última semana no Seminário de Estudo do Documento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia e na ocasião conversou com a equipe da REPAM-Brasil sobre o Sínodo, as discussões sobre os ministérios e os sonhos que tem, a partir do Sínodo, para a Igreja do Brasil. Confira a entrevista. Quais as contribuições o Sínodo para a Amazônia oferece para a Igreja, em especial no Brasil? É um Sínodo muito diferente de todos os que já vivemos na Igreja até agora, embora nós tenhamos Sínodos, por exemplo, para a América, para a Europa, para a Oceania. Nós temos hoje um Sínodo que tem uma marca transnacional, que pega uma região que é ecológica, que é cultural, que é humana. Eu diria que uma primeira grande contribuição que o Sínodo da Amazônia fornece é essa nova forma de compreender a realidade que nos interpela. É uma realidade que não está circunscrita a um horizonte geográfico, político, sociopolítico, a um país, não está circunscrita a uma cultura, porque são inúmeras culturas presentes, mas ela está desafiando o Evangelho nessa nova com-
preensão de realidade em que está. Para mim, é a maior contribuição. Como seria uma Igreja com rosto Amazônico? Eu não conheço a realidade amazônica a esse ponto, mas eu pergunto, mais do que afirmo: não seria uma Igreja com rostos amazônicos? Porque, por exemplo, aí é a minha área, nas grandes cidades você não pode falar de um rosto urbano, você tem que falar rostos urbanos. Mesmo comparando as duas maiores cidades, ou três, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, as três maiores cidades do Brasil, você dizer assim: é o mesmo rosto urbano… agora convivendo em Brasília, digo que não, não é. É diferente São Paulo. É diferente Rio. É diferente Brasília. Eu diria que a grande beleza do Sínodo vai ser encontrar caminhos em rede, que é a grande palavra hoje, que ajude a gente a perceber, na diversidade cultural, humana, de relações com a natureza, de relações com a criação, encontrar caminhos para costurar tudo isso. Eu fico imaginando alguém da periferia de Ma-
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naus e alguém que vive em contato direto com a floresta: um é asfalto e todas as sequelas e mazelas da cidade, o outro vive a situação da floresta, do meio mais natural. Eu fico em dúvida, me pergunto se dá para falar do mesmo rosto, se dá para falar da mesma realidade, tem que encontrar um patamar comum. Uma das questões que estão sendo levantadas nas discussões sobre o Sínodo está relacionada aos ministérios, ordenação de homens casados e novo espaço para as mulheres. Em relação a esse assunto, o que o senhor vislumbra com o Sínodo? Não é possível você pensar o momento evangelizador atual sem pensar também a questão da ministerialidade. Isso é tranquilo e ninguém discute. A Igreja no Brasil tem uma experiência ministerial fantástica. Não apenas no ministério ordenado, mas nos diversos outros ministérios. Por exemplo, eu me lembro muito bem disso, quando aconteceu a Conferência de Aparecida, se não me falhe a memória, no
número 99 ela vai agradecer a Deus uma série de situações, e ela agradece a Deus a presença dos inúmeros ministérios. Eu diria que Igreja da Amazônia pode contribuir, que o Sínodo pode contribuir, com o reconhecimento de que é uma Igreja altamente ministerial, com diversos serviços, com diversos ministérios. Outras questões são muito amplas, são muito grandes, e aí a gente vai ter que medir muito até que ponto nós temos pernas para dar esse passo. A partir do Sínodo, qual é o sonho do senhor para a Igreja da Amazônia e para a Igreja do Brasil como um todo? Nós estamos quase no mês missionário extraordinário que vai ser concomitante ao Sínodo, por que não a região Amazônica ser aquela opção do Brasil em termos missionários? Porque, afinal de contas, na Igreja ninguém é estrangeiro. Então, eu diria, assim, que se cada missionário pudesse ir à Amazônia fazer a sua experiência, quando ele volta, ele volta diferente. São nossos padres das nossas dioceses, quando vão, eles voltam diferente de terem aprendido, de terem convivido outro tipo de relação. Se o Brasil, missionariamente, acolhe a Amazônia como um todo a gente ganha muito, o Brasil inteiro ganha, há um intercâmbio muito grande.