FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ
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ANO XXXII - 348
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NOVEMBRO DE 2018
editorial “Meu Deus, vem olhar Vem ver de perto uma cidade a cantar A evolução da liberdade Até o dia clarear...” [Vai passar, Chico Buarque, 1984]
expediente Diretor geral
DOM JOSÉ LANZA NETO Editor
PE. SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808 Equipe de produção
LUIZ FERNANDO GOMES JANE MARTINS Revisão
JANE MARTINS Jornalista responsável
ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265
Projeto gráfico e editoração
BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160
Impressão
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o se compreender a Criação como iniciativa divina e dom ofertado gratuitamente à humanidade, torna-se tarefa dos cristãos considerar o bem comum como critério para o estabelecimento de suas estruturas culturais, políticas e econômicas. Quaisquer caminhos estabelecidos para as nações devem, antes de considerar o direito individual, priorizar o bem comum a fim de oferecer condições satisfatórias para toda a população, assim evitando-se o risco de privilegiar uma pequena camada social em detrimento de uma população imensa com seus direitos básicos limitados. “O bem comum não consiste na simples soma dos bens particulares de cada sujeito do corpo social. Sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo, também em vista do futuro” (Doutrina Social da
Igreja 164). A sociedade é formada por todos os indivíduos nela inseridos, independentemente de sua condição financeira, orientação sexual, ideologia ou modo de vida. Desse modo, é fundamental oferecer o direito à participação integral de cada sujeito, não somente nos deveres civis e legais, mas também nos bens produzidos pela comunidade humana, sejam de ordem material, moral ou cultural. “É impossível promover a dignidade da pessoa sem que se cuide da família, dos grupos, das associações, das realidades territoriais locais, em outras palavras, daquelas expressões agregativas de tipo econômico, social, cultural, desportivo, recreativo, profissional, político, às quais as pessoas dão vida espontaneamente e que lhes tornam possível um efetivo crescimento social” (Doutrina Social da Igreja 185). Assim, a Igreja estabelece como princí-
Redação
voz do pastor
Telefone
O AMOR QUE SUPERA O ÓDIO
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jornal.comunhao.guaxupe@gmail.com Os Artigos assinados não representam necessariamente a opinião do Jornal. Uma Publicação da Diocese de Guaxupé www.guaxupe.org.br
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Dom José Lanza Neto, Bispo da Diocese de Guaxupé
“O amor não pratica o mal contra o próximo, pois o amor é o pleno cumprimento da lei.” (Rm 13,10)
o ser humano, detectamos dois sentimentos presentes, amor e ódio, que caminham juntos e têm a mesma força a marcar o objetivo final, isto é, a vida ou a morte. É claro que devemos escolher o amor, porque além de ser superior ao ódio, é humano, espiritual e transcendente. É perceptível numa pessoa quando esta tem as marcas do amor, ama-se a si mesma, é sensível, leve, sorridente, alegre e cheia de paz. Por outro lado, é também preocupada com as necessidades do outro, solidária, sabe compreender e é bem propensa a perdoar. Uma pessoa assim chama logo a atenção e passa a ser respeitada. Nós nos deparamos com um movimento interessante na busca do amor. Ele não fica aprisionado à pessoa, contagia e se coloca a serviço do outro até chegar no estágio mais elevado no encontro com o Deus altíssimo, porque aí está sua fonte.
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pio de sua contribuição para a vida social a solidariedade que expõe a relevância de se acompanhar com uma visão ética as situações humanas geradoras de injustiça e degradação do ser humano. A Igreja defende como valores intrínsecos à humanidade a Verdade, a Justiça e a Liberdade. Assim, toda a ação social das comunidades cristãs se estabelece com a meta de preservar esses pilares sociais que garantem critérios universais válidos para que não se estabeleça uma barbárie. Conservar a prática de uma ética universal que responda aos anseios mais profundos da vida e das atividades humanas “constitui a via segura e necessária para alcançar um aperfeiçoamento pessoal e uma convivência social mais humana; eles constituem a referência imprescindível para os responsáveis pela coisa pública” (Doutrina Social da Igreja 197).
O ódio é o contrário, voltado a si mesmo, não pensa no outro a não ser sua destruição, a cegueira o leva ao precipício, tem um fim restrito ao seu egoísmo. O ódio tem a seu favor a raiva, a vingança, a violência e, até mesmo, a morte como sua última consequência. O ódio é desprezível, indesejado e não deve ser buscado. Papa Francisco, sempre iluminado e inspirado, nos proporciona em sua homilia, em 9 de janeiro de 2014, uma orientação segura e indica como viver a palavra de Deus: “devemos amar com obras, não com palavras. As palavras são levadas pelo vento! Hoje elas existem, amanhã não existem mais. O amor é concreto. No amor é mais importante dar do que receber. Quem ama, dá coisas, dá vida, dá a si mesmo a Deus e aos outros”. Ao contrário, quem não ama, é egoísta sempre, procura somente receber, ter coi-
sas e ter vantagens. Permanecer atentos ao amor ao próximo com o coração aberto é permanecer em Deus e permitir que Deus permaneça em nós, tornando-nos servos fiéis. Queremos exaltar o amor e abandonarmos definitivamente o ódio. São Paulo nos apresenta o belo hino do amor: “O amor é paciente, o amor é prestativo. Não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13, 4-8).
opinião
Por padre José Maria de Oliveira, psicólogo
A CULTURA DO ÓDIO
“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” (Martin Luther King)
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partir do século 18, a liberdade de expressão foi firmada como direito fundamental, assim como a liberdade de imprensa e a liberdade religiosa. Essas liberdades, ao lado de outras, vão formar o conceito de dignidade humana nos moldes liberais. A partir daí, a liberdade de expressão tenderá a admitir o discurso do ódio como manifestação legítima, mesmo causando prejuízo dos ofendidos (Freitas e Castro, 2013). Ela começa a humilhar grupos minoritários, passando, assim, a ser tutelada com maior restrição, e o discurso do ódio começa a ser repudiado e proibido pelos ordenamentos jurídicos, a fim de garantir a expressão da minoria e o direito de cidadania, ressaltando a importância da dignidade humana. Para o sociólogo Bauman, os sujeitos solidários frente ao celular, tablet, computador, que têm pessoas virais para defrontar, parecem suspender a razão e a moral, deixando sem limites as emoções. Isso gera um prejuízo em escala mundial. O discurso do ódio tem como elemento central o pensamento que desqualifica, humilha e inferioriza o ser humano e os grupos sociais. Um discurso que discrimina o diferente, quer por sua etnia, orientação sexual, condição econômica etc. Atualmente, há a proliferação de conte-
údos nas redes sociais que não têm apuração crítica do caráter de legitimidade e veracidade comprobatória das informações. De um lado, a internet promove a democratização do acesso à informação e o direito à liberdade da veiculação informacional, mas, por outro, percebe-se a falta de discernimento e reflexão sobre o que é veiculado nas redes sociais. De acordo com o pesquisador José Adelmo Becker Nandi (2018), os perfis mal-intencionados acabam por utilizar as redes sociais para propagar ideologias que afetam a democracia e os direitos individuais das pessoas. Por meio de piadas e comentários, criam discursos de ódio que geram discriminação. Como combater o discurso do ódio nas redes? Nandi ainda salienta que a impressão que se tem é que os discursos colocados nas redes sociais não repercutem no mundo real. Não é bem assim. Governos, grupos civis e políticos começam a se mobilizar para o combate e controle de postagens de cunho ofensivo. No Brasil, em 4 de abril de 2018, foi publicado no Diário Oficial a Lei 13.642/2018, que delega à Polícia Federal o compromisso de investigar crimes de misoginia em mensagens na internet. A Lei 7.716 de 5 de janeiro de 1989 que
define os crimes resultantes do racismo, foi atualizada em seus artigos pelo Estatuto da Igualdade Social (Lei 12.288 de 20 de julho de 2010). Nesta lei foi incluída a ocorrência de discriminação pela rede mundial de computadores, permitindo aos juízes a possibilidade de solicitarem interdição de páginas e mensagens. As empresas também são pressionadas a tomar alguma atitude no combate ao discurso do ódio em seus serviços. Elas fazem pressão para combater o ódio nas redes, pois não querem ferir suas marcas frente ao mercado e aos clientes. Outro recurso de combate ao discurso do ódio são as campanhas pedagógicas utilizadas por governos, empresas, entidades não governamentais e instituições, geralmente por meio de campanhas educacionais sobre os Direitos Humanos. O que dizem as Escrituras em relação ao ódio? A Sagrada Escritura, em Provérbios (6,16-19), relata que Deus reprova seis coisas e a sétima Ele abomina: “olhos orgulhosos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina planos malvados, pés que correm para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e aquele que semeia discórdia entre os irmãos”. A Bíblia pede para não deixar-
mos que uma raiz de amargura cresça em nossos corações (Hebreus 12, 15). “Vós que amais o Senhor, detestai o mal” (Salmo 97, 10a), “Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento...” (Mateus 5, 22). Em 1Cor 13, o Hino ao Amor relata que tudo em nossa existência vai passar, a única coisa que não passará é o amor. Além disso, São Francisco de Assis rezou: “Onde houver ódio que eu leve o amor”. Nesta dinâmica, o lugar que nós ocupamos nas atividades cotidianas, (mídia, relacionamentos, conosco mesmo, com a natureza, com o outro e com Deus), a lei máxima é o Amor. Enquanto cristãos, precisamos mostrar a face misericordiosa de Deus. Exercermos a renúncia, o despojamento e a pobreza, virtudes cristãs que desconstroem a cultura do ódio e implantam a cultura do Amor. Assim, será muito grave para a humanidade, frente à cultura do ódio, se não surgir pessoas que testemunhem o Amor de Deus. Faz-se necessário construirmos a cultura do Amor em todas as instâncias de nossas vidas. “Quando temos antipatia, ódio, não deixem que cresçam, parem, deem tempo ao tempo. O tempo coloca as coisas em harmonia e nos faz ver o lado justo das coisas” (Papa Francisco).
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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notícias Ordenação presbiteral é inspirada pelo lema mariano: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” Texto: Filipe Zanetti / Imagem: Pascom Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora
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Igreja Particular de Guaxupé ordenou padre Antônio Batista Cirino, inspirado pelo lema: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1, 38). O neossacerdote é natural de Paraguaçu, onde aconteceu a ordenação na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, com a participação de padres e leigos de várias comunidades, no dia 22 de setembro. Em sua homilia, dom José Lanza destacou a responsabilidade e o compromisso daquele que dá o seu “sim” a Deus, tal como Maria o fez. A iniciativa divina encontra eco no coração daque-
Encontro de Secretários desenvolve “inteligência emocional” Texto: Filipe Zanetti / Imagem: Pascom Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora
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uitas vezes, vocês acolhem as urgências num primeiro momento, deste modo temos que estar preparados espiritual e emocionalmente para servirmos ao Senhor com nosso trabalho”, com essa mensagem o bispo diocesano dom José Lanza Neto acolheu os mais de 100 secretários paroquiais que estiveram no Encontro Diocesano realizado no dia 27 de setembro na Cúria Diocesana, em Guaxupé. O início do encontro foi marcado pela Adoração ao Santíssimo Sacramento conduzido pelo bispo diocesano que ressaltou a importância de uma fé manifestada nas obras do dia a dia e anunciadora do Evangelho de Cristo. Em seguida, o novo coordenador diocesano de pastoral, padre Alexandre José Gonçal-
ves, saudou os secretários, motivando-os em sua missão nas atividades das paróquias. Convidada para assessorar o encontro, Andrea Salerno, facilitadora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), desenvolveu a importância da inteligência emocional como fator fundamental para superar os desafios atuais. “Nós devemos vencer os medos e enfrentar as realidades da vida, sem deixar que as pré-ocupações nos impeçam de assumir os desafios deste novo tempo”. Além da conferência, os secretários participaram de uma dinâmica, onde puderam expressar suas opiniões e suas ideias sobre o trabalho desenvolvido nas paróquias.
les que se abrem à vontade do Pai. E ressaltou, “só quem se faz pequeno, só quem se faz servo é capaz de se entregar confiantemente aos desígnios de Deus e vivê-los radicalmente”. Em seus agradecimentos, padre Antônio demonstrou sua imensa alegria em poder corresponder ao chamado de Deus em sua vida, citou o Servo de Deus Dom Inácio João Dal Monte: “Quero me imolar em sacrifício a Deus e ser um instrumento de glória para a Igreja!”. E concluiu pedindo a oração de todos pelo seu ministério e vocação.
Encontro de Liturgia valoriza proposta do Vaticano II sobre a ‘Eucaristia’
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Texto: Assessoria de Comunicação – Leste 2/Imagem: Arquivo Pessoal
ntre dias 24 e 27 de setembro, a Comissão de Liturgia do Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, realizou o encontro anual de Liturgia, na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte. Representaram a Diocese de Guaxupé os padres Gledson Domingos (coordenador do Serviço de Animação Litúrgica), Maurício Marques e Júlio César Agripino. O encontro que refletiu sobre as “Catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia, uma releitura da Sacrosanctum Concilium”, com a assessoria do padre Márcio Pimentel, da arquidiocese de Belo Horizonte, contou
com cerca de 40 participantes entre padres, leigos(as) e religiosos que atuam como coordenadores(as) e assessores diocesanos das comissões de liturgia das (arqui)dioceses do Regional. O arcebispo metropolitano de Pouso Alegre (MG) e referencial da Comissão de Liturgia do Leste 2, dom José Majella Delgado, também participou do encontro. Ao final do encontro, os membros da Comissão de Liturgia juntamente com os coordenadores (arqui)diocesanos, que participaram do encontro, publicaram uma carta ao Povo de Deus, que está disponível no site da Diocese de Guaxupé (guaxupe.org.br).
Encontro Provincial aprofunda Iniciação à Vida Cristã e Laicato Com informações do padre Andrey Niciolli, assessor de comunicação da Arquidiocese de Pouso Alegre/ Fotos: Lázara Assunção
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conteceu em Itajubá (MG), nos dias 15 a 17 de outubro, o 4º Encontro de Animação Pastoral da Província Eclesiástica de Pouso Alegre, que compreende as dioceses de Campanha e Guaxupé e a arquidiocese de Pouso Alegre. Participaram do encontro os bispos diocesanos, os coordenadores diocesanos de pastoral, coordenadores setoriais, vigários forâneos e as secretárias de pastoral das dioceses. Convidado a assessorar o encontro, o professor Giovanni Marques dos Santos favoreceu a reflexão dos participantes, abordando “an-
gústias e esperanças na experiência laical na Igreja”. Segundo o palestrante, ainda é comum encontrar esterilidades dentro da própria Igreja. “É com tristeza que hoje, às vezes, assim como Jesus, nós, leigos, temos fome e, ao vasculharmos boa parte de nossas comunidades
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católicas, só encontramos folhas: vistosas, brilhantes talvez, mas, apenas folhas. Enchem os olhos – às vezes, nem isso –, mas não alimentam. Frequentamo-las por frequentar, acatamo-las por acatar, mantemo-las por manter, mas fica difícil ver nelas frutos verdadeiros de justiça e santidade”, refletiu o professor.
No último dia do encontro, o padre Jean Poul Hansen, coordenador de pastoral da Diocese da Campanha, abordou o projeto provincial Viver em Cristo. “O projeto é marcado pelos sinais da fé, acreditando que o mergulho no Mistério de Deus requer sempre uma ‘sarça ardente’ que aponte para o coração de Deus”, comenta. Representaram a Diocese de Guaxupé, dom José Lanza Neto, os padres Alexandre José Gonçalves, Rodrigo Papi, Reginaldo da Silva, José Maria de Oliveira, João Batista da Silva e a secretária de pastoral, Lázara Assunção.
liturgia
Comissão de Liturgia – Regional Leste 2
COMISSÃO DE LITURGIA: CARTA AO POVO DE DEUS
Nos dias 24 a 27 de setembro, a Comissão de Liturgia do Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil durante o encontro anual de Liturgia, em Belo Horizonte, publicou uma carta-compromisso. Leia a íntegra:
“Gostaria de redescobrir juntamente convosco a beleza que se esconde na celebração eucarística, e que, quando é revelada, dá pleno sentido à vida de cada um”. (Catequese do Papa Francisco em 8.11.17)
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xmos. Srs. (arce)bispos, estimados padres, diáconos, leigos e leigas, animadores da vida litúrgica do nosso Regional Leste 2, Nós, os participantes do encontro anual com coordenadores (arqui)diocesanos e assessores das comissões de liturgia das (arqui) dioceses de nosso Regional, reunidos na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte/MG, de 24 a 27 de setembro de 2018, refletimos a respeito das Catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia, uma releitura da Sacrosanctum Concilium, com assessoria do padre Márcio Pimentel, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Esse encontro visa à formação das pessoas que conduzem e animam a vida litúrgica de nossas comunidades, dando maior fundamentação para nossas práticas, para que auxiliemos pastoralmente nosso povo nos seus processos de amadurecimento e celebração da fé. Partimos da feliz constatação de que vivemos um novo tempo na Igreja com o Pontificado do Papa Francisco, que faz sentir a sua influência em todos os setores da vida eclesial, o que inclui nossas liturgias. Embora ele ainda não tenha escrito nenhum documento acerca da dimensão litúrgica, a sua influência se faz sentir a partir de suas posturas, gestos e pontuais ocasiões em que discorre sobre ela, o que revela sua absoluta fidelidade à Reforma Conciliar. Auxiliados pelo assessor e revisitando a Sacrosanctum Concilium, que ofereceu as bases para a reforma litúrgica, compreendemos melhor: • Os livros litúrgicos aprovados após o
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Concílio Vaticano II são a expressão concreta da Reforma; A liturgia dá visibilidade ao modelo de Igreja assumido pelo Concílio (eclesiologia de comunhão); Os ritos são gestos eclesiais de Jesus Cristo e a liturgia é a ação de Deus acontecendo no corpo eclesial; Liturgia deve ser vista, antes de tudo, como lugar teológico, pois é a principal transmissora da fé; Devemos conformar nossa vida ao mistério que celebramos por meio do nosso ser e agir cristão no mundo. O perigo do sacramentalismo está em parar na exterioridade do rito, esvaziando-o de seu sentido e de sua
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verdade; A Missa, memorial do Mistério Pascal de Cristo, é a oração por excelência do cristão, coração da Igreja e relação pessoal com Deus e com os irmãos.
Com as palavras do Papa Francisco, damos “graças ao Senhor pelo caminho de redescoberta da Santa Missa, que Ele nos concedeu percorrer juntos”, e deixamo-nos “atrair com fé renovada por este encontro real com Jesus, morto e ressuscitado por nós, nosso contemporâneo” (Catequese de 4.4.18). Provocados pelas reflexões feitas e mais conscientes de nossa missão de formadores de uma nova mentalidade que conduza nosso povo a uma autêntica espiritualidade litúrgica,
para ler
assumimos os seguintes compromissos: 1. Fomentar a formação das pessoas com as quais desenvolvemos nossos trabalhos em nossas (arqui)dioceses, a começar por aqueles que compõem as Comissões para a Liturgia e atuam como multiplicadores de conhecimentos e experiências, especialmente no que se refere à importância de uma compreensão mais precisa da teologia que sustenta a vivência litúrgica da celebração eucarística; 2. Aprofundar a reflexão aqui iniciada, buscando uma maior capacitação para o exercício da coordenação da Pastoral Litúrgica, sempre em sintonia com as diretrizes da nossa Igreja em todos os seus níveis de Magistério; 3. Apoiar as iniciativas da Comissão para a Liturgia de nosso Regional, para que consigamos uma caminhada coesa de partilha, fraternidade e crescimento na formação. 4. Consolidar a necessária interação catequese-liturgia, entendendo que a catequese tem uma forte dimensão iniciática a uma autêntica vivência mistagógica da liturgia e esta, por sua vez, é sempre uma “catequese em ato” (São João Paulo II). Imploramos a todos as bênçãos de Deus e pedimos que rezem por nós, para que sejamos sempre fiéis à missão a nós confiada! Belo Horizonte, 27 de setembro de 2018 Memória de São Vicente de Paulo
Texto/Imagem: Divulgação
O VERDADEIRO ESPÍRITO DA LITURGIA
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título da obra do cardeal Ratzinger, escrita antes de ele ser eleito Papa Bento XVI, recorda a famosa obra de Romano Guardini que, nos primeiros decênios do século passado, deu origem ao movimento litúrgico. Seguindo os passos do predecessor, o cardeal Ratzinger pretende ajudar os fiéis, que se tornaram inseguros depois de décadas de experimentações pós-conciliares, a olhar para a fonte
escondida da vida eclesial. Aqui se desenvolve a ação litúrgica que nos sacramentos, particularmente na Eucaristia, permite tomar parte na ação salvífica de Cristo. Esta tem dimensão universal, pela qual os fiéis podem dar voz à liturgia do cosmo, unir suas vozes aos justos do Antigo Testamento e elevar, junto com os redimidos, o canto de louvor ao Cordeiro (Ap 15). No estilo próprio do autor, a obra
abre ao leitor grandes espaços de contemplação, mas não carece de motivos polêmicos, propostos com a habitual franqueza. Pela clareza da escrita e pela profundidade do pensamento, Introdução ao espírito da liturgia se apresenta como uma das obras mais interessantes não só do cardeal Ratzinger, mas de toda a produção religiosa dos últimos anos.
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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em pauta SINODALIDADE: MISSÃO NA IGREJA E NO MUNDO
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o dia 24 de novembro de 2018, acontece a 5ª Assembleia Diocesana de Pastoral (ADP) da Diocese de Guaxupé, na Cúria Diocesana, em Guaxupé. Compreendida como um processo sinodal de valorização das demandas pastorais e evangelizadoras de toda a diocese, a assembleia visa a projetos de profunda inserção na vida comunitária. No primeiro semestre de 2018, todas as instâncias de participação da diocese, a partir do subsídio preparatório, refletiram e propuseram linhas de ação e áreas que necessitavam de projetos voltados aos anseios das comunidades. Após esse processo, a equipe preparatória elaborou projetos com as contribuições vindas das paróquias e dos setores. Daí surgiram os projetos já apresentados ao Conselho Diocesano de Pastoral e Conselhos de Pastoral Setoriais, que novamente puderam sugerir adequações e inserções. Nesta edição, você conhecerá os projetos desenvolvidos pela equipe preparatória, mas que ainda serão analisados pela mesma equipe e, consequentemente, votados pelos representantes convocados para a Assembleia Diocesana de Pastoral.
JUSTIFICATIVA “A formação de sujeitos eclesiais, que implica em amadurecimento contínuo da consciência, da liberdade e da capacidade de exercer o discipulado e a missão no mundo, deve ser um compromisso e uma paixão das comunidades eclesiais. Trata-se de buscar uma Igreja participativa que supera as dicotomias. Isso habilita a Igreja a inserir-se de modo qualificado nas realidades urgentes de nossos dias, como Igreja ‘em saída’, e contribui com a formação de uma consciência eclesial crítica dos seus próprios limites” (CNBB, doc. 105, no. 229). “O discípulo missionário acolhe e vive a Palavra de Deus em comunhão com a Igreja. Ao escutar atentamente a Palavra, ele sabe que não o faz isoladamente, mas na comunhão com todos os que também a acolhem, como dom na Igreja e com toda a Igreja. Assim, a Palavra é saboreada sobretudo em espírito eclesial” (CNBB, doc. 102, no. 52)
OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Proporcionar uma ação evangelizadora que fortaleça a vida em comunidade e desperte para a ministerialidade e missionariedade; • Favorecer uma formação que leve os cristãos a assumirem a consciência de discípulos missionários e o protagonismo de sujeitos eclesiais; • Despertar os sujeitos eclesiais - cristãos leigos e leigas, religiosos e clérigos - para as consequências do mistério da Encarnação: “Vós sois sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13);
• VIDA DE COMUNIDADE JUSTIFICATIVA Tendo em vista o clima cultural pós-moderno, observado nas respostas vindas das comunidades, nos atentamos ao que diz o papa Francisco: “O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A ação pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais. Enquanto no mundo, especialmente nalguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos ‘a carregar as cargas uns dos outros’ (Gal 6, 2)” (EG 67). E ainda, é fundamental: “Do ponto de vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Estas propostas parciais e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla penetração, porque mutilam o Evangelho. É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade” (EG 262).
PRIORIDADES • FORMAÇÃO PERMANENTE
1 - PROJETO MISSÃO PERMANENTE JUSTIFICATIVA
TEMA: MISSÃO NA IGREJA E NO MUNDO LEMA: “VÓS SOIS SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO” (MT 5, 13) OBJETIVO GERAL “Evangelizar, a partir de Jesus Cristo, na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária, profética e misericordiosa, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2015-2019)
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“A Igreja é missionária por natureza. Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Fechar-se à dimensão missionária implica fechar-se ao Espírito Santo, sempre presente, atuante, impulsionador e defensor (Jo 14, 16; Mt 10, 19-20), em toda a sua história a Igreja nunca deixou de ser missionária” (Doc 100, 35). Já dizia nosso saudoso bispo dom José Mauro Pereira Bastos, CP: “Uma Igreja que não é missionária, não é a Igreja d’Ele”. OBJETIVO GERAL Despertar no/a discípulo/a missionário/a a necessidade de anunciar “Jesus Cristo em todos os lugares e situações em que se encontrar, apresentando com clareza e força testemunhal quem é Ele e qual sua proposta para toda a humanidade” (Doc. 102, 38). OBJETIVOS ESPECÍFICOS Fazer da missão o coração de toda ação pastoral e evangelizadora; Intensificar a espiritualidade missionária para “a superação do individualismo, crise de identidade e o declínio do fervor” (EG 78); ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Prosseguir com a setorização das paróquias; Fortalecer grupos de reflexão, como instâncias de formação, espaços de convivência e partilha; Capacitar animadores de setores missionários; Acompanhar de modo personalizado as instâncias sinodais em vista de uma pastoral orgânica; CRONOGRAMA 1º semestre de 2019 - Tempo de Assimilação e Planejamento / Operacionalização das instâncias missionárias (Comidi, Comise e Comipa); 2º Semestre de 2019 – Mês Missionário Extraordinário (em atenção ao decreto do papa Francisco); 1º Semestre de 2020 – Desenvolvimentos das instâncias missionárias RESPONSÁVEL Coordenação Diocesana de Pastoral e Comidi. 2 - PROJETO FAMÍLIAS JUSTIFICATIVA “A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa de ser protegida” (AL 44). “Ninguém pode pensar que o enfraquecimento da família
como sociedade natural fundada no matrimônio seja algo que beneficia a sociedade, antes, pelo contrário, prejudica o amadurecimento das pessoas, o cultivo dos valores comunitários e o desenvolvimento ético das cidades e das vilas” (AL 52). Neste sentido, para o fortalecimento da vida comunitária é inadiável a redescoberta e a promoção da família, primeira comunidade que realiza uma junção social plena.
Por Equipe Preparatória
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Promover estudos de documentos e temas relacionados à família, no formato de estudo popular em pequenos grupos; Realizar encontros que fortaleçam a família como “célula primeira e vital da sociedade” (Apostolicam Actuositatem); Desenvolver uma Catequese Matrimonial, que contemple o Magistério do papa Francisco (Amoris Laetitia); Promover ações afirmativas direcionadas às famílias em situação de risco (dependência química, intolerância, violência doméstica, abandono de idosos e crianças) CRONOGRAMA 1º semestre de 2019 - Tempo de Assimilação e Planejamento; 2º semestre 2019 – Ampliar o Setor Famílias; 1º semestre 2020 – Fomentar a criação do Setor Famílias nas instâncias setorial e paroquial; RESPONSÁVEIS Coordenação de Pastoral – Setor Famílias. 3 - PROJETO JUVENTUDES JUSTIFICATIVA No trabalho com as diversas expressões juvenis “somos convidados a escutar e olhar os jovens nas condições reais em que se encontram e a ação da Igreja a seu respeito. Não se trata de acumular dados e evidências sociológicas, mas de assumir os desafios e as oportunidades que emergem nos vários contextos à luz da fé, permitindo que nos toquem em profundidade, de modo a fornecer uma base de concretude para todo o caminho subsequente” (Instrumento de Trabalho, Sínodo dos Bispos 2018). Afinal, “sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada” (Bento XVI). OBJETIVO GERAL Otimizar as atividades do Setor Juventudes a partir da realidade contemporânea e da proposta do papa Francisco em evangelizar novos espaços de presença juvenil (arte, política, cultura e educação). OBJETIVO GERAL Fortalecer o Setor Famílias como estrutura de comunhão das forças eclesiais já existentes, bem como a tratativas da Pastoral Familiar, já em curso. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Ampliar e dinamizar o setor famílias na diocese; Discernir, acompanhar e integrar as novas configurações familiares na comunidade cristã;
OBJETIVOS ESPECÍFICOS Adequar a formação das lideranças para uma “Igreja em saída”; Qualificar a presença do jovem nas instâncias sinodais a partir da pessoa e da mensagem de Jesus de Nazaré; ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Promover ações e eventos direcionados ao público jovem, além dos já existentes; Fomentar a Pastoral Universitária;
Elaborar estratégias de formação, participação e evangelização nos ambientes virtuais; Investir na formação eclesial do jovem para as dimensões da fé e da política à luz da Doutrina Social da Igreja; CRONOGRAMA 1º semestre 2019 – Tempo de Assimilação e Planejamento 2º semestre 2019 – Estudo e reflexão dos resultados do Sínodo dos Bispos para a Juventude; 1º semestre de 2020 – Realização de ações concretas: utilização de datas comemorativas; RESPONSÁVEIS Setor Juventudes, Serviço de Animação Vocacional e Pastoral da Comunicação 4 - PROJETO PROMOÇÃO HUMANA INTEGRAL JUSTIFICATIVA “A Igreja, através de uma pastoral social estruturada, orgânica e integral, tem a vocação e missão de promover, cuidar e defender a vida em todas as suas expressões. Ao fazer isso, testemunha que ‘o querigma tem um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade’ (EG 177). OBJETIVO GERAL Criar o Setor de Promoção Humana, resgatando a práxis e o querigma cristãos das primeiras comunidades. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Implementar ações em prol de pessoas marginalizadas, empobrecidas e vulneráveis; Desenvolver iniciativas com povos migrantes; ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Constituir um Fórum Permanente de Fé e Política; Estabelecer participação nos conselhos municipais e parceria com entidades e organizações já existentes; Promover estudo sistemático da Doutrina Social da Igreja; Criar Comissões Setoriais das Pastorais Sociais; CRONOGRAMA 1º semestre de 2019 - Tempo de Assimilação e Planejamento; 2º semestre de 2019 – Constituição da equipe setorial de Promoção Humana
Integral; 1º semestre de 2020– Instalação do Fórum Permanente de Fé e Política; RESPONSÁVEL Coordenação Diocesana e Setorial de Pastoral 5 - PROJETO LITURGIA E CATEQUESE JUSTIFICATIVA “Na Liturgia Deus fala a seu povo, Cristo ainda anuncia o Evangelho e o povo responde a Deus com cânticos e orações” (SC 33); “ela ao realizar sua missão, torna-se uma educação permanente da fé (...) a liturgia é fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza do seu conteúdo mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã. (...) Celebração e festa contribuem para uma catequese prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida” (Diretório Nacional de Catequese 118). OBJETIVO GERAL Redescobrir o valor da unidade entre Liturgia e Catequese, despertando para o entendimento de que “a Catequese como educação da fé e Liturgia como celebração da fé são duas funções da única missão evangelizadora da Igreja” (Diretório Nacional de Catequese 120). OBJETIVOS ESPECÍFICOS Retornar às fontes da Iniciação à Vida Cristã, nos moldes das primeiras comunidades; Favorecer a inserção da pessoa na vida comunitária; ESTRATÉGIAS Criar a equipe diocesana de Iniciação à Vida Cristã; Implantar o Projeto “Viver em Cristo”, já assumido pela Província Eclesiástica de Pouso Alegre, tendo em vista a especificidade diocesana; Promover encontros paroquiais, setoriais e diocesanos litúrgico-catequéticos; Elaborar orientações litúrgico-catequéticas de acordo com as demandas específicas da diocese e para o exercício dos ministérios leigos; CRONOGRAMA 1º semestre de 2019 - Tempo de Assimilação e Planejamento; 2º semestre de 2019 - Formação e Operacionalização da Equipe IVC; 1º semestre de 2020 - Implantação do Projeto “Viver em Cristo” nas paróquias; EQUIPE RESPONSÁVEL A ser constituída
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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bíblia
Por padre José Luiz Gonzaga do Prado, biblista e professor na Faculdade Católica de Pouso Alegre
JESUS, O TRANSGRESSOR
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embro-me de ter ouvido o Papa João XXIII dizer que agradecia sempre a Deus pelo fato de ter-lhe dado bom senso. E foi com o bom senso que ele transgrediu o cânon 9 do Concílio de Trento, que excomungava quem dissesse que a Missa deveria ser celebrada na língua do povo. Jesus também está muito longe de ter sido um escrupuloso cumpridor de todas as normas e leis da Bíblia e das tradições dos judeus. Ele aparece nos Evangelhos muito mais como alguém que passa por cima, como um transgressor dessas leis e regulamentos. Em Jesus, o bom senso prevalece sobre a lei. Os alimentos impuros A propósito de uma discussão com os mestres fariseus a respeito de seus rituais para a hora da comida, Jesus diz que não é o que entra pela boca, mas o que sai da boca é que pode tornar uma pessoa impura. Os judeus tinham como alimentos impuros carne com sangue, carne de porco, de peixe de couro como bagre e mandi, e de vários outros animais. Isso se encontra detalhado no capítulo 11 do Levítico. O grande problema do povo pobre do tempo de Jesus era a falta de comida, a fome. No capítulo 7 do Evangelho de Marcos, depois de Jesus explicar aos discípulos que o que torna a pessoa impura não é o que entra, mas o que sai pela boca, o evangelista completa o versículo 19 dizendo que, assim, Jesus declarou puros todos os alimentos. Rituais alimentares Nos capítulos 7 de Marcos e 15 de Mateus, encontramos longas discussões de Je-
sus com os mestres fariseus sobre os rituais em torno da comida. O uso da água nesses rituais não acontecia por questão de higiene, mas era algo apenas ritual, simbólico. O rito, porém, é, quase sempre, vazio de sentido. Por isso Jesus lembra aí a palavra de Isaías “esse povo me honra com os lábios, mas o seu pensamento está longe de mim”. No versículo 25 do capitulo 23 de Mateus, Jesus diz a propósito desses rituais como o de passar uma água do lado de fora da travessa ou do prato: “Vocês purificam o lado de fora do prato e do copo, mas por dentro está tudo cheio de roubos e de cobiça”. O sábado Para alguns mestres judeus do tempo de Jesus, o sábado, que quer dizer descanso, o repouso semanal, é a lei mais importante. Isso fez com que o dia de descanso fosse a lei mais
patrimônio espiritual
regulamentada pela tradição. Essa tradição ou Lei oral com seus 603 mandamentos, que não podiam ser escritos, deviam ser decorados, dava todos os detalhes do que era proibido ou permitido fazer no sábado. E, para os fariseus, a tradição obriga tanto quanto a Bíblia. Jesus desrespeitava tudo isso. Os Evangelhos estão repletos de episódios em que ele não respeita o sábado e ainda questiona os mestres fariseus, dizendo que o sábado foi feito para servir às pessoas e não as pessoas para o sábado.Episódio esclarecedor é o do homem com a mão seca (Mc 3,1-6). Era tanta lei que as pessoas ficavam travadas, incapazes de tomar qualquer iniciativa, com a mão seca. Jesus o chama para o meio, pergunta aos mestres se pode ou não curar no sábado, se o sábado é para dar vida ou para matar as pessoas e, como eles não têm resposta, ele cura o homem. E os mestres começam a tramar a morte de Jesus.
Outra história interessante é a do capítulo 9 do Evangelho de João, o cego de nascença. Ao sair do Templo, Jesus vê um cego de nascença. Naquele modelo religioso era assim: só os mestres sabem tudo, eles são os guias, o povo é cego de nascença. Jesus amassa um pouco de barro com a saliva saída de sua boca e a poeira do chão, a Palavra de Deus e a realidade, e cura o cego. “Isso não é de Deus” dizem os mestres “ele é um pecador, no sábado é proibido amassar barro!” Jesus veio abrir os olhos dos cegos e mostrar que os guias é que estão cegos. A transgressão fundamental Segundo a Bíblia, Deuteronômio, capítulo 21, versículos 22 e 23, um condenado que morre pendurado, enforcado ou crucificado, é amaldiçoado por Deus. Deve ser sepultado sem demora, para não tornar impura a terra que Deus deu. Jesus abraçou a morte de um condenado amaldiçoado por Deus. Essa foi sua maior transgressão e a mais importante e necessária para a humanidade. “Ele se fez um amaldiçoado para nos livrar da maldição da lei” diz Paulo em Gálatas 3,13. Os males que sofremos vêm todos da cobiça de grandeza e poder que está dentro de todos e que na realidade produzem as enormes desigualdades: fortunas incalculáveis, destruição e desperdício sobre miséria e sofrimentos injustos e, daí, a violência e as guerras, sempre presentes na humanidade. É o que, em termos religiosos, se chama pecado. Para vencer o pecado e abrir o caminho para uma nova humanidade, era preciso alguém abraçar ser o último e o escravo de todos, mesmo que isso fosse contra a lei. Foi a transgressão fundamental de Jesus.
Por Santo Tomás de Aquino, séc. XIII
NA CRUZ NÃO FALTA NENHUM EXEMPLO DE VIRTUDE
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ue necessidade havia para que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma necessidade grande e, por assim dizer, dupla: para ser remédio contra o pecado e para exemplo do que devemos praticar. Foi em primeiro lugar um remédio, porque na paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males que nos sobrevêm por causa dos nossos pecados. Mas não é menor a utilidade em relação ao exemplo. Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na perfeição, nada mais tema fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na cruz e desejar o que ele desejou. Na cruz, pois, não falta nenhum exemplo de virtude. Se procuras um exemplo de caridade: Ninguém tem amor maior do que aquele que dá
sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Assim fez Cristo na cruz. E se ele deu sua vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por causa dele. Se procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente! Podemos reconhecer uma grande paciência em duas circunstâncias: quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita. Ora, Cristo suportou na cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque atormentado, não ameaçava (1Pd 2,23); foi levado como ovelha ao matadouro e não abriu a boca (cf. Is 53,7; At 8,32). É grande, portanto, a paciência de Cristo na cruz. Corramos com paciência ao combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus,
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que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infâmia (cf. Hb 12,1-2). Se procuras um exemplo de humildade, contempla o crucificado: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer. Se procuras um exemplo de obediência, segue aquele que se fez obediente ao Pai até à morte: Como pela desobediência de um só homem, isto é, de Adão, a humanidade toda foi estabelecida numa condição de pecado, assim também pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça (Rm 5,19). Se procuras um exemplo de desprezo pelas coisas da terra, segue aquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, no qual estão encerra-
dos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2,3), e que na cruz está despojado de suas vestes, escarnecido, cuspido, espancado, coroado de espinhos e, por fim, tendo vinagre e fel como bebida para matar a sede. Não te preocupes com as vestes e riquezas, porque repartiram entre si as minhas vestes (Jo 19,24); nem com honras, porque fui ultrajado e flagelado; nem com a dignidade, porque tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em minha cabeça (cf. Mc 15,17); nem com os prazeres, porque em minha sede ofereceram-me vinagre (Sl 68,22).
juventude
Por padre Vinícius Pereira Silva, assessor diocesano da Juventude
ACOMPANHAR E CAMINHAR JUNTOS: DO SÍNODO DOS BISPOS À ASSEMBLEIA DIOCESANA
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retomada da estrutura sinodal da Igreja certamente foi um dos grandes ganhos advindos após o Concílio Vaticano II. Essa forma de caminhar juntos é a própria expressão do ser Igreja, pois, “A Igreja é uma assembleia, e sínodo é o seu nome”, nas palavras de São João Crisóstomo. O Sínodo dos Bispos, instituição gerada após o Vaticano II, é uma das formas de concretizar essa ação sinodal da Igreja, e é, segundo o papa Francisco: “uma das heranças mais preciosas da última assembleia conciliar”. Neste sentido, a XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada de 3 a 28 de outubro de 2018, com a temática “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, tem sido um grande marco na caminhada da Igreja em relação aos jovens. No discurso de abertura do sínodo, o papa Francisco manifestou sua alegria e gratidão por viver aquele momento: “Ao entrar neste Auditório para falar dos jovens, já se sente a força da sua presença, que exala positividade e entusiasmo capazes de invadir e alegrar não só este Auditório, mas toda a Igreja e o mundo inteiro”, afirma o pontífice. De fato, o envolvimento dos jovens ao longo do processo foi a grande riqueza da preparação para a assembleia sinodal. A reunião pré-sinodal, por exemplo, ocorrida em março de 2018, só pode ter uma conclusão após todos os jovens se sentirem representados no documento final. Segundo Lucas Galhardo, da pastoral Juvenil da CNBB, que participou da reunião, todos os jovens presentes foram
ouvidos, inclusive os não católicos e os que se declararam ateus. O exercício da escuta e do discernimento é a marca que o papa Francisco quis imprimir ao longo do processo. Ouvir e discernir uns aos outros, mas, principalmente, ouvir e discernir as inspirações do Espírito de Deus. “Que o Paráclito nos traga à memória as Palavras do Senhor (...), para que possa despertar e renovar em nós a capacidade de sonhar e esperar”, disse o Pontífice na missa de abertura do Sínodo. Com isso, papa Francisco se dirige aos adultos, pedindo que possam contagiar e partilhar seus sonhos, inflamando os corações dos jovens. Neste ponto, faz recordar o introito da música Conflitos, de autoria de Padre Zezinho: “Há muitos jovens vazios, porque há poucos adultos transbordando”. Portanto, a abertura da Igreja aos jovens, com suas incoerências e fraquezas, mas também com sua força e sua alegria, deve ser algo imperativo. Não poucas vezes assistimos conflitos entre padres e grupos de jovens, entre pessoas maduras na pastoral e jovens no início de sua caminhada. “Eles não têm responsabilidade”, “não querem nada com nada”, “o padre não nos apoia”, “a coordenadora tal não quer saber de mudanças”. São acusações mútuas ouvidas nos cantos das paróquias. Muito se acusa, pouco se dialoga. Muito se exige, pouco se ouve. A Igreja em saída, expressão tão aclamada do papa Francisco, também aqui deve encontrar sua expressão. “Se a Igreja não abre espaço
para a juventude, ela não será uma Igreja em saída”, afirmou dom Vilson Basso, bispo de Imperatriz (MA) e bispo referencial da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, no dia 8 de outubro, durante o Sínodo. Isso não significa, de modo algum, que os jovens tudo podem, e que nada em contrário lhes pode ser dito. Como pessoa humana, também eles estão em construção. Mas o grande erro é olhá-los como objetos da evangelização e não sujeitos. É preciso estar mais com os jovens. Conhecê-los. Fazer um verdadeiro sínodo, caminhar juntos. Aí sim, as intervenções dos adultos terão a realidade dos jovens como fundamento, e os próprios jovens saberão e poderão se colocar num caminho de mudança. Os padres sinodais destacaram na reunião de 5 de outubro: “a maior parte das comunidades paroquiais não consegue perceber as expectativas dos jovens, que, muitas vezes, se afastam da Igreja após a Crisma”. Muitas vezes se fica esperando que os jovens façam alguma coisa. Eles também reclamam que a Igreja não faz nada por eles. Pelo Sínodo dos Bispos, percebe-se que os passos devem ser dados um em direção ao outro e, juntos, rumo a Cristo. Para os jovens participantes do Sínodo, o que a juventude precisa é de acompanhantes no seu caminho de fé. Pessoas que fizeram o encontro com Cristo e que possam servir de autênticas testemunhas de Cristo em meio a este mundo confuso. O acompanhante não deve fazer as coisas no lugar dos jovens, ou
ditar regras de conduta, mas deve ouvir e orientar, segundo sua experiência com Cristo. “O Papa Francisco lembra que o acompanhante deve saber despertar confiança e ser uma pessoa sábia, ‘que não tem medo de nada, que sabe ouvir e tem o dom do Senhor para dizer a palavra certa no momento certo’” (Instrumento de Trabalho – Sínodos dos Bispos 131). A necessidade de uma estrutura de acompanhamento é tão urgente que a própria CNBB a colocou como um dos eixos de atuação com a juventude, no Projeto IDE, plano trienal (2018-2020) para a pastoral juvenil no Brasil. De modo concreto, essa prioridade se desenvolve articulando a comunhão entre as diversas expressões de juventude na paróquia e na diocese, no fortalecimento do Setor Diocesano da Juventude, na organização da juventude nos sete setores pastorais de nossa diocese, e, principalmente, no despertar de pessoas comprometidas a trabalhar com as juventudes. Acompanhar os jovens, deixar que eles se expressem, orientá-los em seu itinerário de fé. Enfim, caminhar juntos. Este é o desejo e a necessidade da Igreja jovem, e dos jovens na Igreja. Oxalá a 5ª Assembleia Diocesana de Pastoral da nossa Diocese de Guaxupé, que, aliás, terá as Juventudes como um de seus projetos, seja a força do Espírito para que muitos passos sejam dados para termos uma juventude santa e comprometida com a transformação da realidade que nos cerca.
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sínodo dos bispos JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO: “OS JOVENS, A FÉ E O DISCERNIMENTO VOCACIONAL”
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Papa Francisco abriu 15ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos no dia 3 de outubro, no Vaticano. “Ao entrar nesta Sala para falar dos jovens, já se sente a força da sua presença, que exala positividade e entusiasmo capazes de invadir e alegrar não só esta sala, mas toda a Igreja e o mundo inteiro”, disse o Pontífice em seu discurso. Francisco agradeceu a todos ali presentes por terem acreditado que “vale a pena sentir-se parte da Igreja ou entrar em diálogo com ela; vale a pena ter a Igreja como mãe, como mestra, como casa, como família, capaz, não obstante as fraquezas humanas e as dificuldades, de fazer resplandecer e transmitir a mensagem sem ocaso de Cristo; vale a pena agarrar-se à barca da Igreja que, mesmo através das tempestades implacáveis do mundo, continua oferecendo a todos refúgio e hospitalidade; vale a pena colocar-se à escuta uns dos outros; vale a pena nadar contracorrente e aderir a valores altos, como a família, a fidelidade, o amor, a fé, o sacrifício, o serviço e a vida eterna”. Momento de Partilha O Sínodo representa um “olhar que a Igreja dá para a juventude”, afirma Murilo Medeiros, coordenador do Setor Juventude da Diocese de Tubarão (SC): “é muito importante porque o jovem tem a visibilidade das suas ideias. Alguém está nos olhando, alguém está pensando na gente. Diz-se muito que o jovem é o futuro da Igreja, futuro disso e daquilo mas, principalmente, o jovem é o presente, é aquele que pensa, que quer coisas novas mas, acima de tudo, que quer viver sua fé”. Como apontaram alguns relatórios dos Círculos Menores, que aconteceram durante o sínodo, é necessário que a Igreja assuma uma conversão pastoral e missionária que não seja um mero exercício técnico, mas uma exigência do seguimento de Cristo; uma conversão voltada à renovação da própria Igreja para aspirar a ser mais, a servir mais. Com efeito, o sonho do Sínodo é uma Igreja mais em conformidade ao Evangelho. E uma contribuição essencial para implementar tal conversão vem precisamente dos jovens: eles - sublinham os Padres Sinodais – não devem ser somente um objeto “receptor” preferencial da ação pastoral, mas também sujeitos protagonistas e participantes ativos nos processos de tomada de decisão, em uma ótica de corresponsabilidade e colegialidade, porque eles têm algo precioso para oferecer, com o qual o Senhor pode operar milagres. Os desafios dos jovens hoje Existem numerosos desafios que os
jovens são chamados a enfrentar hoje: a marginalização, especialmente de mulheres vítimas de machismo e desigualdade; as dependências; a questão das pessoas homossexuais que devem ser acompanhadas pastoralmente, para que possam crescer na fé e não serem discriminadas, porque a Igreja se opõe à discriminação contra qualquer pessoa ou grupo; o desemprego; as questões éticas sobre o tema da sexualidade e do aborto, que devem ser aprofundadas para evitar confusão; a influência do ocultismo; o drama dos abusos, diante dos quais a Igreja pode e deve ser reformada, para que seja verdadeiramente um ambiente seguro e digno de confiança. Diante disto - observa o Sínodo - a Igreja tem a tarefa primordial de transmitir o dom da fé com o acompanhamento, o discernimento e a integração, privilegiando o primado da escuta do Evangelho e olhando para formas mais eficazes de tratar com os jovens, como a música ou o esporte. A Igreja - diz ainda o Sínodo - deve ser “em saída” e é urgente uma nova espiritualidade missionária. Jovens e Família Central também para a reflexão foi sobre a inserção do jovem na família, pequena Igreja, escola de amor e humanidade, ponto de partida para chegar a Cristo: por isso - dizem os Padres Sinodais – a pastoral juvenil não pode ser pensada como
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separada da pastoral da família. A família hoje é ameaçada pelas colonizações ideológicas que condicionam as ajudas econômicas aos países menos desenvolvidos à introdução de políticas contrárias à vida e ao matrimônio entre homem e mulher, denuncia o Sínodo. A Igreja é chamada a fazer-se família de muitos jovens órfãos ou que vivem em contextos familiares desfavoráveis, acrescentaram os bispos. Ao lado da família, deve ser repensada também a paróquia, como lugar de escuta, comunhão e missão: é preciso comunidades fraternas, alegres e contagiantes - explica o Sínodo - em que os jovens possam assumir suas responsabilidades, quem sabe passando por fracassos que, no entanto, se bem acompanhado, é sempre fonte de crescimento. Em síntese - observam os Padres - os jovens devem se acostumar a recolocar sua confiança em Deus, graças a uma pastoral de fraternidade, marcada também por formas específicas como o oratório ou serviço. Cidadania Digital Particular atenção, revelaram alguns relatórios, deve ser colocada no mundo digital, quer por seus aspectos positivos no campo da evangelização, como pelos aspectos negativos, como a pornografia e o cyberbullying, em resposta aos quais o Sínodo exortou à elaboração de protoco-
los adequados para a promoção de uma cidadania digital responsável. Os bispos expressaram, também, preocupação com aqueles jovens que transcorrem tempo demais em tablets e smartphones, tornando-se dependentes e condenando-se à solidão de um mundo irreal onde as amizades são apenas virtuais. E mais ainda, os Círculos Menores recordaram a necessidade de incentivar as escolas e as universidades católicas, capazes de uma formação integral da pessoa que seja de qualidade, interdisciplinar e promotora da cultura do encontro, porque educar é um ato de amor e fermento de comunhão. Justiça Social Os Relatórios dos Círculos Menores também se concentraram na urgência de um maior compromisso em favor da justiça social: a opção preferencial pelos pobres - lugar teológico do encontro com Deus - coincide frequentemente com aquela pelos jovens, que muitas vezes são indigentes. E é nesse contexto que os jovens católicos podem criar uma aliança ecumênica, inter-religiosa e em diálogo com os não-crentes, porque somente partindo dos pobres é possível sonhar com um mundo mais justo. A formação da juventude na Dou-
Com informações do Vatican News
trina Social da Igreja, ou melhor, sua inculturação – acrescentam os Padres - torna-se essencial também para enfrentar, por exemplo, a corrupção, e promover a paz e a salvaguarda da Criação. Os jovens, de fato, podem ser construtores da civilização do amor, guardiões da Casa Comum, transformando a partir do interior, com os valores do Evangelho e da misericórdia de Deus, o mundo da política, da economia, da saúde e da mídia. Trata-se, em essência, de assumir o compromisso de santificar a arena secular. O Sínodo também pediu maior atenção para os cristãos vítimas de perseguições, cujos testemunhos ressoaram nos dias do Sínodo, bem como aos migrantes, que devem ser acolhidos, protegidos e integrados. Ao mesmo tempo, sugeriu-se que se promova a sua ajuda na própria pátria, através das Igrejas particulares. Nesse contexto, os jovens podem ser um válido apoio, tornando-se verdadeiros apóstolos dos migrantes porque muitas vezes há muitos jovens entre eles. É preciso uma pedagogia para a cidadania ativa e para a política: é necessário propor a Doutrina social da Igreja, um estilo de vida sóbrio, uma ecologia humana integral e contrastar a corrupção galopante. Para esse fim é importante, num mundo sempre mais multicultural, a colaboração entre as religiões. O chamado à santidade Ao refletir sobre o chamado à santidade, evidenciou-se que os jovens anseiam pela santidade da vida e desejam receber conselhos práticos para ajudá-los nesse caminho. Por esta razão, é importante não negligenciar a dimensão espiritual, porque permite aos jovens discernir o caminho que Deus abre diante deles. Por um lado, é preciso de acompanhantes competentes que apoiem os jovens a fazerem as escolhas certas; por outro lado, é necessário elaborar um estilo de vida cristã próprio dos jovens: por exemplo, um estilo de oração, uma lectio divina ou um modelo de celebração eucarística específico para eles. De fato, é necessário ensinar aos jovens que a Missa é um encontro com Deus, um momento em que somos toca-
dos por Cristo, e, como lugar privilegiado de evangelização, o mistério eucarístico, com seu encanto, deve ser mais acessível aos jovens, graças a uma linguagem adequada, artístico-musical e poética. Representatividade e Diversidade O Sínodo dos Bispos reúne as mais diferentes realidades vividas pela juventude num grande ambiente de debate e análise para que os jovens sejam ouvidos, respeitados e acompanhados. Frederico Zanatta, jornalista de 30 anos, natural de Jundiaí (SP), responde: “a Igreja tem que ser mais rápida em dar as respostas de que os jovens precisam. O jovem, no seu cerne, é um ser que busca conhecimentos, aventuras e experiências, mas também busca respostas. Acho que a Igreja tem que dar mais estabilidade, mais respostas para o jovem. E eu acredito que esse encontro dos bispos, com as experiências que eles trazem de todas as partes do mundo, é muito importante”. O prefeito da Congregação dos Institutos para a Vida Consagrada e as Sociedades da Vida Apostólica, cardeal João Braz de Aviz, destacou a importância de aprender a escutar. “Sair de onde estamos e sair na direção dos jovens onde eles estão, e conviver (...). Não nos acomodar – ir ao meio dos jovens – fazer isto na atitude da escuta, do estar presente (...). Aprender a entrar no ambiente digital, no seu modo de pensar (...). Toda a reforma começa no coração de uma pessoa, o testemunho nasce dentro”. Jovens buscam respostas claras e concretas Com efeito, os jovens querem indicações claras, não confusas, sem desvios da linguagem de Cristo ou em conformidade com as tendências modernas das mídias. Daí a exigência de uma catequese que considere as interpelações de sentido e a sede de amor como objetivos aos quais responder. A formação para o matrimônio representa muitas vezes uma ocasião de reaproximação à comunidade eclesial, mas é preciso intervir antes. A resposta é uma pastoral vocacional mais eficaz e finalizada a um envolvimento dos jovens nos pro-
O Brasil no Sínodo
Este sínodo contou com a presença de representantes brasileiros. Além do cardeal Sérgio da Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que foi nomeado pelo papa Francisco como Relator Geral, participaram: •
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Dom Vilsom Basso, bispo de Imperatriz (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude; Dom Eduardo Pinheiro da Silva,
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bispo de Jaboticabal (SP), ex-presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB; Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente para a Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada; Dom Gilson Andrade da Silva, bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador; Dom João Justino de Medeiros, ar-
cessos de decisão e na evangelização de seus coetâneos, sugere o Sínodo. A amizade é lugar privilegiado para a transmissão da fé no cotidiano. Deve-se levar em consideração na catequese que a teoria precisa ser harmonizada com a vida concreta: uma evangelização que não alcança o coração é como um verniz que fica somente na superfície. Também nos seminários a formação deve ser conjugada numa dimensão mais humana. Documento Final Com um longo e caloroso aplauso, marcado pelas aclamações dos jovens, os participantes saudaram a apresentação do projeto do Documento Final na manhã do dia 23 de outubro, na Sala do Sínodo. O projeto do documento final foi elaborado a partir do Instrumentum Laboris, texto base de referência. Todavia, enquanto este último é fruto dos dois anos de escuta do mundo juvenil, o Documento Final é fruto do discernimento realizado pelos Padres no decorrer do Sínodo. Fontes do Documento Final são, além do Instrumentum Laboris, também os pronunciamentos, os relatórios e as emendas surgidas dos trabalhos do Sínodo. Tratam-se, portanto, de documentos diferentes e complementares, que juntos dão “uma visão da complexidade das questões levantadas e dos dinamismos em ato no caminho para enfrentá-los: são lidos juntos – prosseguiu o purpurado – porque entre eles há uma referência con-
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cebispo coadjutor de Montes Claros (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Educação e Cultura; Dom Antônio de Assis Ribeiro, bispo auxiliar de Belém (PA); Padre Valdir José de Castro, Superior Geral da Sociedade de São Paulo; Padre Alexandre Awi Mello, secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida;
tínua e intrínseca”. Os temas do Instrumentum Laboris, portanto, encontram-se no Documento Final, mas aparecem mais aqueles que foram mais debatidos ao longo dessas três semanas. O primeiro e principal destinatário do Documento Final - recordou o Relator Geral - é o Papa. Com a aprovação do Pontífice, de fato, “ele será disponibilizado a toda a Igreja, às Igrejas particulares, aos jovens e a todos aqueles que estão comprometidos com os jovens na pastoral da juventude e vocacional.” Povo de Deus, ponto de partida e chegada O ponto de partida e o ponto de chegada é o povo de Deus “na variedade de situações socioculturais e eclesiais” que os trabalhos fizeram emergir. O caminho sinodal de fato – acrescentou o cardeal Sérgio da Rocha - ainda não terminou, porque prevê uma fase de implementação. “Será importante que as Igrejas particulares e as Conferências Episcopais possam assumir de maneira criativa e fiel a dinâmica do Documento, a fim de adaptar ao seu contexto o que surgiu durante os trabalhos”. O processo do Sínodo, portanto, não termina com “receitas pastorais a serem assumidas (seria o oposto do discernimento)” e, se a linguagem do texto elaborado não é propriamente jovem, recorda-se que foi decidido preparar uma Carta dirigida a todos os jovens por parte dos Padres Sinodais.
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Filipe Alves Domingues, doutorando em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, especialista em Ética e Mídia; Lucas Barboza Galhardo, representante do Movimento de Schoenstatt internacional, membro do Comitê de Coordenação nacional para a Pastoral Juvenil da CNBB; Padre Alberto Montealegre Vieira Neves, assistente da Secretaria Geral.
COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA
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comunicações aniversários novembro Natalício 2 Padre Bruce Éder Nascimento 3 Monsenhor José dos Reis 4 Padre Luiz Gonzaga Lemos
5 Padre Darci Donizetti da Silva 6 Padre Paulo Sérgio Barbosa 7 Padre Norival Sardinha Filho 13 Padre Juliano Borges Lima
agenda pastoral
2 Finados 4 Solenidade de Todos os Santos 7 Reunião do Conselho de Presbíteros em Guaxupé 8 Reunião dos Presbíteros do Setor Guaxupé - Seminário São José 9 - 11 Encontro Vocacional no Seminário São José - Guaxupé 10 Reunião da Coordenação Diocesana da Formação de Leigos - Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana da Catequese - Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana da RCC - Guaxupé Reunião do Setor Famílias - Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana de CEBs - Guaxupé Reunião do Conselho Diocesano do ECC - Claraval 11 Ultréia Diocesana do Cursilho - Guaxupé Cenáculo Diocesano RCC
23 Padre Antônio Garcia Ordenação 9 Padre João Batista da Silva
12 Reunião dos Presbíteros dos Setores Alfenas e Areado – Paróquia São Pedro - Alfenas 14 Reunião dos Presbíteros do Setor Passos – Fortaleza de Minas 13 - 15 Assembleia Regional de Pastoral em Belo Horizonte - MG 15 Proclamação da República 17 Reunião com os formadores das SMP - Setores Missionários 20 Dia da Consciência Negra 21 Reunião dos Presbíteros do Setor Poços de Caldas – Paróquia São Fransciso e Santa Clara – Poços de Caldas 22 Reunião dos Presbíteros dos Setores Cássia e São Sebastião do Paraíso – Capetinga 24 Assembleia Diocesana de Pastoral – Guaxupé 25 Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo Dia do Leigo - Encerramento do Ano do Laicato
atos da cúria • Nomeação do padre Rovilson Ângelo da Silva como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Cabo Verde;
• Nomeação do padre Antônio Batista Cirino como Vigário Paroquial da Paróquia Sagrada Família e Santo Antônio, em Machado;
• Nomeação do padre José Hamilton de Castro como Vigário Paroquial da Paróquia São José, em Machado.
CF2019
CAMPANHA DA FRATERNIDADE TRATARÁ DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
B
uscando estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade, a Campanha da Fraternidade 2019 terá início em todo o país no dia 6 de março. Com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela Justiça”, a CF busca conhecer como são formuladas e aplicadas as Políticas Públicas estabelecidas pelo Estado brasileiro. Como forma de despertar a consciência e incentivar a participação de todo cidadão na construção de Políticas Públicas em âmbito nacional, estadual e municipal, a Comissão Nacional da CF preparou o texto-base, que contou com a participação e contribuição de vários especialistas e pesquisadores, bem como com a consulta a lideranças de movimentos e entidades sociais. Dividido no método ver, julgar e agir, o subsídio aponta uma série de iniciativas que ajudarão a colocar em prática as propostas incentivadas pela Campanha.
Como exemplo dessas ações, o texto-base além de contextualizar o que é o poder público, os tipos de poder e os condicionantes nas políticas públicas, fala sobre o papel dos atores sociais nas Políticas Públicas. A participação da sociedade no controle social das Políticas Públicas é outro tema de destaque no texto-base. “Política Pública não é somente a ação do governo, mas também a relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais ou coletivos, envolvidos na solução de determinados problemas”, afirma o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner. Ainda segundo dom Leonardo, devem ser utilizados princípios, critérios e procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas que garantam aos povos os direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em outras leis. Por isso, segundo ele, a temática se fez necessária para a CF de 2019. “Políticas Públicas são as ações discutidas, aprovadas e programadas para que todos os cidadãos possam ter vida digna”, afirma dom Leonardo.
12 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ
14 Padre Maurício Marques da Silva 25 Padre Antônio Carlos Maia 25 Padre Leandro José de Melo
Além do texto-base, outros materiais foram produzidos para dar apoio nesta missão: círculos bíblicos, que trazem aprofundamento da Palavra de Deus; sugestão de celebração ecumênica, para reunir pastores e representantes de outras Igrejas na preparação desse evento; a Cartilha Fraternidade Viva, rodas de conversa com a perspectiva de aprofundar-se no tema e a vigília eucarística e celebração da misericórdia. Todos eles estão disponíveis no site da Editora da CNBB. Cartaz CF 2019 Levando em consideração que as Políticas Públicas dizem respeito a toda a sociedade em suas várias dimensões, e que visam assegurar os direitos humanos mais elementares para que cada pessoa tenha condições de viver com dignidade, o autor do cartaz da CF 2019 padre Erivaldo Dantas, buscou ressaltar na arte, através de silhuetas, a presença de algumas categorias sociais que considera importante para a reflexão da Igreja e da sociedade.