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7 paralelos entre Ezequiel e Apocalipse
from EZEQUIEL em foco!
Pincelamos nas 3 notas anteriores algumas semelhanças entre as condições morais-espirituais de Judá antes de seu cativeiro final babilônico, e aquelas encontradas no último momento desta Laodiceia morna e multidenominacional, bem como do mundo ímpio que agora nos cerca.
Se as condições morais e espirituais se equivalem, então o castigo não poderá ser diferente. Seguindo assim as mesmas devassidões, crueldade e rebeldia, não deveríamos estranhar encontrar nos escritos de Ezequiel as mesmas regras de castigo que se encontram no livro final de Apocalipse. Aquele serviria como um tipo ou figura para este.
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A diferença marcante fica a cargo do alcance geográfico – Judá se limitava a um território minúsculo, enquanto a última geração apocalíptica é global, unificada e corporativamente contaminada. Assim, os castigos circunscritos e limitados que os judeus de então experimentaram, se alargarão a todo o planeta. Ninguém escapará – mais longe ou mais escondido se encontre.
Confrontemos então o grau de parentesco entre elas – distante quanto ao tempo, próximo quanto ao merecimento e equivalência da condenação. Traçaremos 7 paralelos, embora se encontrem mais.
1) Ambos os livros começam com uma visão gloriosa de Deus – o mesmo Deus Santo e Justo pronto a perscrutar tudo e todos, e recompensar suas obras.
“Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendose nela... E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes... o seu aspecto era como ardentes brasas de fogo, com uma aparência de lâmpadas” (Ez
1.4-5,13) – “E logo fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono... e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo... E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás” (Ap 4.2-6)
2) Tanto Ezequiel quanto João tiveram que comer um certo livrinho – doce na boca de ambos, amargo somente para João. O que significaria?!
“Filho do homem... enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Então o comi, e era na minha boca doce como o mel. E disse-me ainda:... vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as minhas palavras” (Ez 3.3-4) – “E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho...
Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel... E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos” (Ap 10.9-11).
3) Outra semelhança numérica está na divisão parcial do castigo – de terço em terço. Note-se porém que o julgamento único do cerco final de Jerusalém foi realizado em divisões proporcionais de um terço, enquanto o final apocalíptico, conquanto dividido inicialmente seus castigos nos mesmos moldes da terça parte (através das trombetas), ao término será global e único, abrangendo o que faltava daquele terço (através das taças).
“E tu, ó filho do homem, toma uma faca afiada e a farás passar pela tua cabeça e pela tua barba; então tomarás uma balança de peso, e repartirás os cabelos.
Uma terça parte queimarás no fogo, no meio da cidade, quando se cumprirem os dias do cerco; então tomarás outra terça parte, e feri-la-ás com uma faca ao redor dela; e a outra terça parte espalharás ao vento; porque desembainharei a espada atrás deles” (Ez 5.1-3)
– “E o segundo anjo tocou a trombeta... e tornou-se em sangue a terça parte do mar. E morreu a terça parte das criaturas que tinham vida no mar; e perdeu-se a terça parte das naus. E o terceiro anjo tocou... e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas. E o quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhasse, e semelhantemente a noite” (Ap 8.8-12).
4) Também a interjeição de espanto e condenação ‘ai’ é comum aos dois livros – 9 aparições em Ezequiel e 13 em Apocalipse.
“Então vi, e eis que uma mão se estendia para mim, e eis que nela havia um rolo de livro... e ele estava escrito por dentro e por fora; e nele estavam escritas lamentações, e suspiros e ais” (Ez 2.9-10) – “E olhei, e ouvi um anjo voar pelo meio do céu, dizendo com grande voz: Ai! ai! ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar” (Ap 8.13).
5) Uma santa marca imputada sobre os piedosos do cerco de Jerusalém em Ezequiel também tem seu paralelo apocalíptico. A misericórdia e a graça de Deus sempre O acompanham – “Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto” (Sl 89.14).
“E disse-lhe (ao homem de linho) o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela” (Ez 9.4) – “Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos selado nas suas testas os servos do nosso Deus” (Ap 7.3).
6) Quanto à justiça de Deus, base legal para Seus julgamentos mais terríveis, é declarada e assegurada pelos 2 profetas.
“Todavia, vós dizeis: Não é justo o caminho do Senhor; julgar-vos-ei a cada um conforme os seus caminhos, ó casa de Israel” (Ez 33.20) – “E ouvi o anjo das águas, que dizia: Justo és tu, ó Senhor, que és, e que eras, e hás de ser, porque julgaste estas coisas” (Ap 16.5).
Mas a mais interessante e intrigante semelhança apocalíptica entre os livros fica por conta de 7) uma certa imagem do ciúme, descortinada pelos 2 profetas após sua elevação espiritual ao trono de Deus.
Mas isto deixaremos para nosso próximo comentário: 666-1=665
Vai perder?!
É incrível e ao mesmo tempo desconcertante quando passamos pelas mesmas leituras centenas de vezes e algo tão óbvio nos escapa ao entendimento. É como bem atesta a Escritura – coisas espirituais se discernem espiritualmente e a carne sempre luta contra o Espírito para nos afastar dos propósitos maiores de Deus.
No estudo anterior comentamos 6 semelhanças entre os castigos impostos sobre Israel no passado e sobre o mundo impenitente do presente, ao confrontarmos Ezequiel e Apocalipse. Deixamos a 7ª e mais intrigante comparação para esmiuçá-la agora.
Comecemos pelo fim.
“E vi subir da terra outra besta... e faz que a terra e os que nela habitam 1) adorem a primeira besta... E 2) faz grandes sinais... E 3) engana os que habitam na terra... dizendo aos que habitam na terra que 4) fizessem uma imagem à besta... E foi-lhe concedido que 5) desse espírito à imagem da besta... E faz que a todos... 6) lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13.11 -18).
Estas são as 6 marcas distintivas deste elemento sombrio que se erguerá em breve. Subirá obviamente da terra de Israel levando toda adoração à primeira besta que emerge do mar romano-europeu, lembrando as visões de Daniel.
Esta segunda besta, através de seus sinais poderosos, leva à falsa adoração da primeira besta, engana o mundo já condenado pela operação do erro sinalizado pelo apóstolo Paulo, faz-lhe uma imagem, envia-lhe um espírito, e como coroação deste erro –implanta um sinal numérico global restringindo definitivamente o movimento econômico-social da humanidade, cenário este, aliás, já montado há 3 anos (desde 20/01/20 – ver notas sobre o livro de Jeremias), como num tubo de ensaio, através de propaganda e terror p@ndêmicos. Estas intervenções globais aumentarão vertiginosamente, englobantes e cada vez mais cínicas até o clímax do controle total pela marca ditatorial.
É da imagem morta que ainda receberá ‘espírito e vida’ que trata esta nota – de uma ‘simples’ imagem construída pela engenhosidade corrupta do sacerdócio judaico no passado, a uma figura ‘viva’ neste tempo presente. Para isto precisamos voltar ao texto de Ezequiel, que ora estamos examinando.
“Sucedeu, pois, no sexto ano, no sexto mês, no quinto dia do mês, estando eu [Ezequiel] assentado na minha casa, e os anciãos de Judá assentados diante de mim, que ali a mão do Senhor DEUS caiu sobre mim... E estendeu a forma de uma mão, e tomoume pelos cabelos da minha cabeça; e o Espírito me levantou entre a terra e o céu, e levou-me a Jerusalém em visões de Deus, até à entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o norte, onde estava o assento da imagem do ciúmes, que provoca ciúmes... E disseme: Filho do homem, levanta agora os teus olhos para o caminho do norte. E levantei os meus olhos para o caminho do norte, e eis que ao norte da porta do altar, estava esta imagem de ciúmes [ou que provoca ciúmes em Deus] na entrada [impedida pelo tempo divino de entrar]. E disse-me: Filho do homem, vês tu o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me afaste do meu santuário? Mas ainda tornarás a ver maiores abominações” (Ez 8.1-6).
Tanto Ezequiel quanto João em seu Apocalipse são erguidos acima da visão comum do homem– aliás único ponto vantajoso para uma visão ampliada do reino de Deus – para revelar verdades espirituais que ao homem comum são impossíveis. No caso do primeiro, ele via o seu presente – longe de sua pátria em cativeiro, foi elevado até Jerusalém para testemunhar as terríveis idolatrias em que se encontrava seu povo, mais especificamente o que se fazia por trás dos muros de seu Templo. Quanto ao segundo, João também se encontrava cativo, na ilha grega de Patmos usada por Roma como exílio aos indesejados. No entanto ele foi escoltado ao futuro distante (ou quase nosso presente), para testemunhar não só os juízos mais atrozes de Deus sobre todo o globo, como também antecipar outra imagem no mesmo Templo de Jerusalém que deverá ser reerguido.
A linha de continuidade entre estas duas visões se ofuscou ‘um pouco’ pela intromissão de um novo organismo – a Igreja corpo de Cristo que já dura pouco mais de 2000 anos. Quando esta Igreja – ou o remanescente fiel dela – for removida pelo arrebatamento, e Deus voltar a tratar com seu filho Israel, a imagem embrionária de Ezequiel ganhará vida à luz do mundo de então.
Daí a ligação numérica entre as duas visões – “no sexto ano (6), no sexto mês (6), no quinto (5) dia do mês” de Ezequiel – 665, e o número da besta de João –666. Aquele foi o primeiro passo em direção à corrupção do derradeiro. Assim como no passado os judeus rejeitaram e crucificaram o Messias de Deus –no futuro mais breve erguerão o seu próprio messias, saído das mãos de um novo mas falso Arão, como aquele bezerro de ouro feito por Israel lá no passado do deserto.
As palavras do povo naquele tempo se reprisarão, mas com um tom mais sombrio – “Mas vendo o povo que [seu messias] tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este [messias], o [Deus] que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu’ (Êx 32.1).
Este novo Arão que se levantará, cujo nome real a perspectiva divina trata de ‘segunda besta’, “tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro” (Ap 13.11) – ele será sacerdote e profeta, visto que levará toda adoração à primeira besta ao exercer seu governo global. Ele lhe fará uma imagem, nos mesmos moldes da idolatria e corrupção antevistas por Ezequiel, como transcrevemos acima. Acrescentará a ela no entanto um espírito que lhe dê – ou imite artificialmente – a vida.
À pergunta de Deus no passado – “Filho do homem, vês tu o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me afaste do meu santuário?”, Ele mesmo responde indicando o futuro – “Mas ainda tornarás a ver maiores abominações”.
O que o Filho de Deus evidencia e atesta em caráter escatológico – “Quando, pois, virdes [vós judeus em sua própria terra] que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo [no templo reerguido em Jerusalém]; quem lê, entenda...” (Mt 24.15).
E o apóstolo encerra – “...e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 Ts 2.3-4).
Mas temos que parar por aqui... até a próxima!
Vimos em nossa última nota a relação numérica entre a marca imposta pela ‘segunda besta’ de João e a data da visão de Ezequiel sobre certa imagem à entrada do Templo de Jerusalém.
Mas o que determinou esta ultrapassagem maligna do 665 para o 666? Ezequiel lança o alicerce –João em seu Apocalipse arremata a construção.
Comecemos pela segunda visão de Ezequiel na sequência daquela imagem externa que causava ciúmes – algo mais íntimo ocorria lá dentro.
“E disse-me: Filho do homem, cava agora naquela parede... Entra, e vê as malignas abominações que eles fazem aqui. E entrei, e olhei, e eis que toda a forma de répteis, e animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel, estavam pintados na parede em todo o redor... Então me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel 1) fazem nas trevas, 2) cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? Pois dizem: 3) O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou a terra” (Ez 8.8-12).
Três marcadores nefastos (às vezes precisamos cavar certas paredes ditas sólidas e exemplares para enxergar o que está oculto!) são os responsáveis pela decadência moral e espiritual, individual e coletiva, em todos os tempos – ‘trevas’, ’suas câmaras’ e ’o Senhor não nos vê’. É bem provável que esta sequência exata no texto indique, passo a passo, o desenvolvimento maligno de um sistema antiespiritual (como a semente de mostarda que, “crescendo... faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves [indesejáveis] do céu, e se aninham nos seus ramos” Mt 13.32) que culmina no senso distorcido e ridículo de que Deus já não vê.
1) Quanto às trevas de Israel... – “a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).
2) Quanto à posse daquelas câmaras que, a princípio, deveriam ser do Senhor... – “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos... Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?” (Is 1.11-12).
3) E se Deus abandonou ou não seu amado povo terreno... – “Porque Israel e Judá não foram abandonados do seu Deus, do Senhor dos Exércitos, ainda que a sua terra esteja cheia de culpas contra o Santo de Israel” (Jr 51.5).
Ezequiel foi direcionado, de fora para dentro, até o mais interior do Templo para que entendesse o ponto de vista divino – os motivos que se viam fora e os que se escondiam dentro. As trevas espirituais profundas em que se encontravam os líderes de seu tempo eram as coisas ocultas que eram amadas e idolatradas – que faziam com que as câmaras do Senhor fossem tomadas por eles como suas propriedades particulares – e que os fazia por extensão pensar que Deus não via ou não se importava mais.
Dentro de suas seguras câmaras religiosas, sem que o povo comum – mal iluminado intencionalmente
– soubesse o que se passava ali, o mal era forjado pelas trevas. Como diria o Messias para os religiosos de seu tempo mais à frente – “Se... a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mt 6.23).
O grande arquiteto por trás de tudo é e sempre será o pai das trevas – corrompendo, contaminando, tramando, mentindo – com vistas à sua entronização. O que ele ofertou para o primeiro casal era só a sombra do que ele mais desejava –“Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte” (Is 14.13).
As vertentes ocultistas dentro do judaísmo – e dentro mesmo do cristianismo –, alimentadas pela idolatria visível ou imperceptível, serviram de argamassa para construir um sistema maligno que domina todos os meios, criando um sistema global econômico-religioso-social anti-Deus.
A Igreja como um todo não se resguardou deste mal. Uma das características citadas por João quando realça as 7 faces desta Igreja corporativa, trata exatamente deste tema sombrio, silencioso e ininterrupto.
“Mas eu vos digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram, como dizem, as profundezas de
Satanás, que outra carga vos não porei” (Ap 2.24).
O mundo judaico, o mundo das nações e o mundo ‘cristão’ estão finalmente enlaçados no mesmo projeto maligno – ainda que muitos não o admitirão! –para levantarem uma imagem comum de fé exatamente como a descrita em Apocalipse.
Só cabe um direcionamento do Senhor a todos que tiverem ouvidos para ouvir o que o Espírito diz. Pois ninguém será isentado de responsabilidade ainda que por ignorância.
“E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela” (Ap 18.4-5).
Esta mensagem não teria sentido algum se o santo não estivesse perfeitamente acomodado e misturado ao profano. O joio e o trigo estão seguindo o mesmo triste destino e receberão o castigo pertinente, castigo este que começará brevemente com o vomitar desta igreja-morna em que vivemos, e culminará nos castigos descritos em Apocalipse a partir da abertura oficial dos selos pelo cordeiro-juiz divino.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
O tempo chegou!
O povo que ‘se’ juntou
Há sempre uma diferença sutil, mas crucial, quando examinamos – com cuidado – dois textos aparentemente iguais nas Escrituras Sagradas. Quando Deus repete é porque Ele quer que notemos algo com mais profundidade e interesse.
Examinemos então duas passagens interpretadas concordemente no livro de Ezequiel.
“Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim [Eu] buscarei as minhas ovelhas... E [Eu] as tirarei dos povos, e [Eu] as congregarei dos países, e [Eu] as trarei à sua própria terra, e [Eu] as apascentarei nos montes de Israel, junto aos rios, e em todas as habitações da terra. Em bons pastos [Eu] as apascentarei...” (Ez 34.1214).
“Depois de muitos dias serás visitado: no fim dos anos virás [Gogue] à terra que ‘se’ retirou da espada, e que ‘veio’ dentre muitos povos aos montes de Israel, que sempre serviram de assolação; mas aquela terra foi tirada dentre os povos, e todos eles habitarão seguramente [esta calmaria nunca se cumpriu]” (Ez 38.8 - ARC 1969).
A primeira passagem vem da ‘Almeida Corrigida Fiel’ que temos usado neste longo estudo desde Gênesis. A segunda provém da ‘Almeida Revisada e Corrigida de 1969’, que acreditamos passar o pensamento mais acertado.
Pareceria numa leitura rápida que as duas passagens tratassem do mesmo evento, ou seja, Deus iria congregar – em único momento – o povo judaico em sua terra prometida. Em verdade Israel andou espalhada entre as nações desde 70 de nossa era (quando o general romano Tito assolou aquela terra) até 1948, quando retornou milagrosamente – uma sofrida e longa diáspora de cerca de 1878 anos.
Mas há uma sutil e crucial diferença entre as narrativas acima. Uma é gloriosa e insistente quanto à atuação poderosa de Deus neste retorno. A outra nada fala do poder divino, focando apenas a ação humana. Na primeira, apenas nesta citação, por 6 vezes o ‘Eu’ divino entra em ação. Na segunda, o pronome reflexivo ‘se’ e a ação ‘veio’ conotam uma atuação própria, sem a ajuda incontestável e gloriosa do poder divino. Na primeira, Deus é o agente ativo na reunião. Na segunda, é o povo.
Isto não quer dizer que, conhecendo os longos caminhos do povo terreno de Deus pela Escritura e pela história, poderíamos inocentemente concluir que o retorno de Israel à sua terra depois de quase dois milênios não fosse milagrosamente um ato divino. Foi e tem sido um milagre Israel retomar a posse de sua terra, ainda que parcialmente, e mantê-la unida diante de tantos inimigos nestes últimos 75 anos.
Poderíamos colocar desta forma. Israel retornou à sua terra natal, mas não ao seu Deus – reavivou sua língua hebraica em desuso, mas não os pensamentos do Eterno – moldou-se à democracia-capitalista vigente, mas não ao sacerdócio-real que os enobrecera no passado.
Dois breves trechos de uma biografia de Ben
Gurion, o grande estrategista político por trás deste grande evento, mede a distância entre a terra conquistada e Seu Dono.
“Senhores... Hoje somos um país igual a todos os outros que existem na face da terra” e “O propósito da vida é aproveitá-la, torná-la mais agradável a cada ser humano. Não conhecemos outro mundo, de modo que devemos concentrar-nos neste. Nossa Bíblia não menciona outra vida posterior a esta” (Ben Gurion, Edição comemorativa do centenário do seu nascimento, Editora Três, ed. 1986, pgs. 109 e 189).
Se o líder mais proeminente da campanha de retorno de Israel à sua terra considera sua nação como qualquer outra, e ainda não pode ver outra vida além desta terrena, mesmo com farto material bíblico condenando estas visões, qual a esperança deste povo então?! Onde ficaram esquecidas, desprezadas “as firmes beneficências de Davi” (Is 55.3)?
Israel não voltou por causa de Ben Gurion ou da fidelidade de seu povo, mas apesar deles. Por isto o Eterno continua afastado deste povo – sem Templo, sem Deus, sem Messias. Voltaram à terra, mas seu
Deus se manteve e ainda se mantém longe, mesmo que dirigindo remota e milagrosamente seus destinos. Esta condição obviamente mudará em breve.
Queremos concluir enfatizando que Israel precisava voltar à sua terra para terminar o que foi iniciado no passado– uma imagem profana que estava do lado de fora do Templo (na visão de Ezequiel) precisava entrar agora sob uma nova perspectiva ou roupagem, como que enchendo o cálice da medida de sua rebeldia, como já abordamos anteriormente.
Mas este grave pecado lhes custará ainda mais caro que a negação de seu Messias. Pois será a confirmação – agora positiva – de que O divino e aprovado cordeiro de Deus não servia, mas o homem que virá energizado por Satanás será não somente aprovado, mas adorado.
Se a rejeição do primeiro culminou na expulsão de sua terra, a aceitação do segundo lhes custará nova e terrível perseguição.
“Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação...
Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas... porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem. E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas...” (Lc 21.20-25).
Os terríveis sinais cósmicos preditos aqui comprovam que a primeira desolação de Jerusalém sob Tito não havia sido definitiva, mas era somente uma figura do que viria ao final.
Resumindo – Israel retornou à sua terra, sob permissão divina, para encher a medida do cálice de sua rebeldia. Como profetizou seu Messias rejeitado –
“Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5.43).
O assunto é estimulante, controverso e complexo, mas teremos oportunidade de estendê-lo em nossa próxima análise – o não menos apocalíptico livro de