A NOIVA DE SAGEBRUSH
TANYA ANNE CROSBY TÂNIA NEZIO
A NOIVA DE SAGEBRUSH Direitos Autorais Dedicatória Elogios para A Noiva de Sagebrush Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Epílogo Sobre a Autora Sobre o Autor
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NOTA DO EDITOR: Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, eventos ou localidades é total e simplesmente uma coincidência.
COPYRIGHT © Tanya Anne Crosby Publicado por Oliver-Heber Books "MEB" Created with Vellum
Para Steven, porque seus cowboys e Ăndios foram os primeiros que conheci.
ELOGIOS PARA A NOIVA DE SAGEBRUSH
Ms. Crosby mistura a quantidade certa de humor nesta história tentadora. Fantástica e tentadora! — RENDEZVOUS
Escrito com uma mistura mágica de humor e perspicácia... Nunca um conto capturou minha imaginação e coração desta maneira. Faça o que fizer, não o deixe na prateleira! — AFFAIRE DE COEUR
”Os personagens de Crosby mantêm os leitores ocupados...” — PUBLISHERS WEEKLY
"Tanya Anne Crosby mais uma vez nos mostra uma boa época e o faz com humor, numa estória com um ritmo rápido e a quantidade certa de romance." — THE OAKLAND PRESS "Tanya Anne Crosby escreveu um conto que vai tocar a sua alma e viverá para sempre em seu coração.” — SHERRILYN KENYON #1 NYT AUTOR DE BEST-SELLERS
1
Agosto de 1865 – Território de Dakota
"E
u preciso de um homem." As palavras faladas num tom baixo tiveram quase o mesmo efeito como se elas tivessem sido gritadas. Pelo menos sete sobrancelhas e quatro abas de chapéu se levantaram para esta afirmaçã, três mãos foram colocadas horizontalmente em cima das mesas, e uma mandíbula caiu chocada em surpresa. A tempestade de vozes diminuiu completamente, e a cessação do som foi pontuada por um barulho ruidoso de canecas quando elas foram colocadas sobre as mesas de madeira. No silêncio que se seguiu até o gás das lamparinas parecia rugir nos ouvidos de Elizabeth Bowcock. O copo que Josephine McKenzie estava limpando caiu no chão, se quebrando. “Você está louca?" ela perguntou. Chegando ao balcão, ela colocou uma mão sobre a boca de Elizabeth para calar suas palavras impetuosas. "O que te faz entrar aqui e começar a falar besteira?" Seus olhos mostravam censura. Com um suspiro exasperado, Elizabeth tirou a mão da sua amiga para longe de sua boca. "Onde mais eu esperaria encontrar um homem?" Ela lutou contra o desejo desesperado de rastejar para trás do balcão do bar e poder verter suas lágrimas sobre os ombros de Jo. Apenas a certeza de que todos os olhos estavam fixos nela a manteve enraizada no lugar. Para tentar se acalmar, ela removeu seus óculos e soprou uma mancha de poeira inexistente. Mexendo suavemente ao acaso a ponta do seu nariz sardento, ela endireitou seus ombros e tentou reforçar seu orgulho. Ela nunca tinha sido nada mais do que a filha solteirona do Doutor Angus. Quando o pai dela morreu no outono, parecia natural que ela assumisse seu consultório. Doutora Liz, os homens a chamavam. E não, ela não atraia a atenção dos homens, com suas feições feias, suas roupas largas e sua trança loira espessa caindo pelas costas como o rabo de um burro, mas por um breve momento,
sem os óculos, ela se sentia... bem bonitinha. Talvez fosse simplesmente o efeito dessas quatro pequenas palavras: eu preciso de um homem. Mas de repente ela atraiu uma atenção incomum — especialmente porque havia falta de mulheres em Sioux Falls, mulheres que queriam casar e as que não queriam se casar. Orelhas animaram-se. Os olhos escuros de Jo brilharam. A pluma vermelha no seu cabelo ruivo se sacudiu ferozmente. "No meu bar você não vai conseguir — pelo menos não o tipo que acho que você está querendo!" Olhando de relance ao redor para uma audiência indesejável, Jo veio para perto do bar e segurou o braço de Elizabeth. "Veja bem o que você fez!" Ela deu outro olhar ansioso por cima do ombro. "Meu Deus, não — não faça isso! Vamos, vamos conversar lá nos fundos. Rápido," ela exigiu. "Parece que você já eclodiu uma grande bagunça, querida." Com o som de uma cadeira sendo arrastada atrás delas, Elizabeth percebeu seu erro. Tarde demais. "Agora, Miss Josephine, onde pensa que vai levar essa garota?" Dick Brady perguntou.
ELIZABETH PODIA CHEIRAR seu hálito de licor quando ele deslizou uma mão sobre o ombro dela e empurrou-a para pará-la. "Maldita, eu disse para esperar um minuto," ele gritou. Arrumando seus ombros, Elizabeth os balançou prestes a confrontar o homem com cara de fuinha. "Acredito que eu ouvi direito o que a garota disse Miss Josephine," Brady continuou, "ela disse que está precisando de um homem. Acho que você não pode ajudá-la com isso, não é verdade?" Ele passou a mão no seu queixo, seu rosto se contorcendo com o prazer brutal que ele sentia ao raspar o pelo do seu rosto. "Melhor é deixar esse negócio para mim," ele falou. "O que tem a dizer sobre o assunto Miss Lizzy?" Ele olhou para ela libertinamente. "Você quer que eu lhe ajude, minha doce Miss Lizzy?" Minha Doce Miss Lizzy? O estômago de Elizabeth na mesma hora começou a se revirar. E desde quando ela tinha se tornado minha doce Miss Lizzy? "Doutora Liz!" ela surtou. "Você devia ter vergonha de si mesmo, Sr. Brady — e não! Certamente não preciso da sua ajuda!" Ela começou a se afastar dele, estremecendo com nojo, recusando-se a permitir-lhe intimidá-la. Na verdade o homem era um rancheiro inepto, incapaz de encontrar um trabalho permanente com gente decente. Na maior parte do tempo ele estava apostando e trapaceando com vagabundos — e ele não fazia isso muito bem, pelos rumores que Elizabeth tinha ouvido. Como ele tinha conseguido ficar em Sioux Falls tanto tempo, ela realmente não sabia, fazendo as besteiras que ele estava sempre fazendo.
Aceitando a sugestão de Elizabeth, Jo virou-se, levantando os olhos para o céu em súplica. Ela esperava que isso acabasse logo, ela orava para acabar. Brady mudou-se para frente delas, bloqueando o caminho. Ele inclinou os cotovelos muito casualmente em cima do bar, ao mesmo tempo olhando obscenamente para Elizabeth. Lançando um olhar através da sala, Jo encontrou sua única chance de libertação numa pessoa com um sono profundo e com o chapéu no rosto, e ela murmurou uma maldição ininteligível. Como ousava Cutter dormir placidamente? Por um momento, na sua irritação, ela considerou gritar por socorro, mas então decidiu não fazê-lo. Quantas vezes ela tinha falado para Cutter que ela podia gerenciar tudo muito bem, e por conta própria? Além disso, se ela pudesse impedir derramamento de sangue hoje à noite era tudo o que ela queria. Não havia como saber como reagiria seu irmão se ela o despertasse de sua soneca, particularmente ao som de gritos dela. Brady coçou sua testa. Esse gesto enviou outro arrepio para a espinha de Elizabeth. "Bem, agora... Acho que é isso o que você quer Miss Lizzy. Você pediu um homem e aqui estou eu," ele disse com um sorriso significativo. Ele estendeu a mão e pegou a face de Elizabeth antes que ela tivesse percebido o que ele pretendia, olhando para as lentes brilhantes dos seus óculos, levantando uma sobrancelha emaranhada para ela. "Bem, olhe aqui," ele disse finalmente. "Acho que eu não esperava que houvesse uma verdadeira dama atrás desse pedido." Ele olhou para ela de uma forma significativa. "Que vergonha, Miss Lizzy. Você vai nos dizer o que mais está escondendo de nós pobres rapazes?" Com uma gargalhada pouco satisfeita, ele olhou em direção a mesa onde ele estava jogando cartas com seus amigos. Ele piscou o olho, o rosto terrivelmente contorcido por causa da bebida. "O que vocês acham rapazes? Acham que a Doutora Liz tem mantido segredos da gente?" Uma saraivada de risos respondeu sua pergunta quando um homem se levantou da mesa e foi na direção deles. Outro homem também se levantou, sem a menor cerimônia deixando cair a seus pés no chão empoeirado uma mulher mignon que estava sentada nos seus joelhos. "Espere aqui," ele exigiu, então tropeçou para perto dos seus companheiros, não querendo perder a promissora diversão noturna. Com a situação finalmente delineada, o coração de Elizabeth começou a bater mais forte, freneticamente. Ela tinha sido muito estúpida. Agora ela podia ver. Mas todo dia ela passava por esses caipiras na rua. Nunca tinha lhes dado um segundo olhar. Ela honestamente nunca tinha considerado sequer uma possibilidade para nenhum deles. Embora ela fosse uma médica, ela era apenas uma mulher, e como todos hesitavam em procurá-la para uma ajuda médica, também não pareciam valorizá-la. Ameaçar deixar a cidade sem um médico teria feito muito pouco para a causa dela. Com um suspiro, Jo chegou mais perto de Brady, jogando um olhar irritado na direção da figura confortavelmente sentada no canto. Ela forçou um sorriso e deslizou uma mão pelo braço de Dick Brady para diminuir a dor da sua repreensão. "Agora Dickie," ela disse, olhando em censura para
seus homens. "Rapazes... se é uma mulher que vocês estão procurando existem várias outras além da Doutora Liz!" Risos desenfreados explodiram. O sorriso de Dick Brady se tornou lascivo, mas o olhar dele permaneceu colado em Elizabeth. O rosto dela ficou vermelho com uma mistura de desgosto e revolta. Elizabeth deu um brilho de advertência para Jo, mas não disse nada. Ela e Jo não eram o que se pode chamar de amigas improváveis — ela a filha pudica do médico da cidade e a outra uma madame do salão da cidade — mas elas eram amigas. Jo nunca intencionalmente a difamaria, e ela sabia. Ainda assim, Elizabeth não conseguia conter sua indignação. Ninguém nunca tinha falado com ela tão rudemente! Embora não houvesse nenhuma maneira deles poderem saber de sua dor, a crueza de Dick Brady tinha sido imperdoável. Ela era o único médico da cidade — nenhum médico respeitável chegaria perto desta cidade. Ela merecia ser tratada com o mínimo de respeito "Mas elas custam caro," lamentou o homem mais alto. "E se a Miss Lizzy aqui está oferecendo gratuitamente..." Ele encolheu os ombros. "Bem, então..." A declaração foi deixada voando pelo ar, enquanto cada homem refletia sobre a declaração. No canto mais escuro do Salão Oásis, uma pessoa se levantou. Olhos pretos como a meia-noite, olhando analisando a mulher em questão. Com um esforço preguiçoso, Cutter McKenzie removeu suas pernas da pequena mesa de madeira e calmamente as colocou na frente de sua cadeira. Ele ouviu cada palavra, e claro, sua curiosidade finalmente tomou conta dele. A mulher, "Miss Lizzy," tinha dito muito pouco em sua própria defesa. Por outro lado, parecia que sua irmã estava perto de entrar em pânico por causa da moça. Provavelmente a pobre mulher estava assustada e Jo, naturalmente de bom coração, não suportaria deixá-la ser engolida por esses animais. Fechando um pouco os olhos para eles se ajustarem, Cutter olhou para a mulher e viu na penumbra seus olhos em chamas, a expressão dela irada, mais do que sua curiosidade ela realmente estava irada. Ele nunca tinha visto olhos tão brilhantes. Sem hesitação, ela arrebatou seus óculos das mãos grosseiras de Dick Brady. "Doutora Liz," a mulher disse, seu rosto pálido e comprimido com raiva, "e não estou oferecendo nada!" Ela enviou um olhar fulminante para Jo, e, em seguida, voltou-se para olhar para Brady. "E com certeza eu conheceria um homem pela sua parte posterior," ela assegurou piscando os olhos. "Especialmente a sua, Sr. Brady, desde que fui eu quem teve que suturar a ferida de faca do seu corpo." Ela deu-lhe um sorriso apertado, aconselhando-o sem palavras que ela tinha chegado ao ponto máximo de sua paciência... que era melhor ele se despedir antes que ela fosse forçada a lhe dar um murro.
BRADY ENTENDEU O SORRISO, quase como se ele tivesse fisicamente levado um murro, seu rosto num tom profundo, manchado de vermelho.
Miss Lizzy, por outro lado, Cutter pensou com um toque de respeito, parecia bem satisfeita com suas palavras, e isso fez ele dar uma risada satisfeita. "Já se passaram dois anos, não foi?" Elizabeth continuou encorajada pelo silêncio de Brady. "Droga, Brady, como diabos você ficou com uma faca presa na bunda?" o homem mais alto perguntou, coçando a cabeça. Brady engoliu convulsivamente. Ele olhou para Elizabeth e vendo seu olhar resoluto, rapidamente a evitou, batendo no ombro do seu amigo. "Vamos lá, rapazes, a Doutora Liz diz que ela não está se oferecendo... e com certeza a Betsy também não está se oferecendo. Vamos deixá-las em paz." "Não," o amigo recusou. "Eu a ouvi dizer que ela estava precisando de um homem, e acho que sou o mais qualificado para dar-lhe o que ela precisa." Ele ridicularizava Elizabeth, falando com Brady sem virar em sua direção. "O que ela fez com você, para que você fique que nem um esquilo assustado? A tensão se formou quando o homem se virou para perfurar Brady com um olhar acusador. Rindo da expressão aturdida de Brady, Cutter ficou de pé se alongando lentamente. Ele tinha certeza de que a Doutora Liz poderia defender-se; a megera nem parecia precisar da ajuda de sua irmã. Ainda assim, ele estava pronto para intervir se fosse necessário. Entretanto, ele ficou para trás, observando com um sorrisinho, a admirando enquanto ela colocava aqueles óculos horríveis no rosto. E maldição, se ele de repente não tinha um desejo ardente de ter a sua gratidão eterna. Ela não era bonita, não como era costume se achar, mas ela era bonita, apesar de seus esforços óbvios para provar o contrário. E ele tinha que dar mão a palmatória, ela tinha mais espírito do que Cutter já tinha testemunhado em uma mulher — além de sua irmã Jo que tinha vindo defendê-la. Alguns diriam que eles não eram os tipos mais agradáveis. O pai deles tinha sido um caçador irlandês, a mãe Cheyenne, o que os fazia nada mais do que de nenhuma raça, sem um lugar para chamar de seu. Não se encaixavam com os Cheyennes, não se encaixavam com os Americanos, também. Mas não importava. Ele preferia assim. A vida é mais segura quando você joga uma mão solitária. Ainda assim, Jo não reclamava. Ela entendia o quão sortuda ela era por ter o Salão Oásis, e ela dava o seu melhor, sabendo que o dinheiro e o nome do seu pai a tinham levado o mais longe do que ela jamais poderia esperar ir no mundo do homem branco. Além disso, as pessoas tinham um medo saudável de Cutter Colt. Qualquer um que tentasse se aproveitar de sua irmã, arrumaria confusão com ele. Ele tinha deixado isso muito claro. Apesar do fato do humor de Cutter se azedar de acordo com os seus pensamentos, sua expressão não revelava nada disso A discussão em curso estava tão aquecida que ninguém o notou até que ele colocou seu braço sobre a cintura de Liz. Ela ficou dura. Ele sufocou uma risada, enquanto a abraçava. "Mmmm, mmm," ele murmurou, abraçando-a como se ela fosse sua prima querida. "Você parece melhor do que nunca, garota."
O coração de Elizabeth se sacudiu violentamente com a voz profunda, desconhecida. Lábios quentes beijaram sua bochecha de forma familiar, deixando apenas uma fração de tempo bem pequena para deixar sua pele corada. Ela engoliu convulsivamente. Ele sussurrou em seu ouvido. "Tem que se descontrair, Doutora, se quiser ter uma boa aparência... Vamos lá," ele a persuadiu.
SUA VOZ rouca fez o pulso de Elizabeth bater disparado e o corpo ficou em paralisia repentina. Impotente para lutar contra ele, ela se ajustou a situação. Ela sentiu suas pernas vacilarem, e seu corpo se encontrava em total desordem perto dele. "É isso aí, olhos brilhantes; agora vire devagar," ele sussurrou, seus lábios queimando contra o rosto dela, "finja que você está muito feliz em me ver." Elizabeth suprimiu um estremecimento indefeso quando conseguiu juntar coragem para mudar e não bater no tolo que tinha se atrevido a se mostrar tão íntimo dela. Mas o homem que a olhava a deixava momentaneamente atordoada, sua garganta muito sensível para falar. Como ele era alto! Os olhos dela se recusavam a sair do rosto dele. Ela os obrigou e encontrou um cabelo escuro fluindo debaixo de um chapéu. Ele engatilhou uma sobrancelha para ela, seus olhos pretos se divertindo com a situação. Ele piscou e ela sentiu os joelhos dela ficarem instantaneamente fracos... ainda assim ela não conseguia tirar os olhos dele. Ele estendeu a mão para ajudá-la, mas Elizabeth continuava embasbacada, impotente para fazer qualquer outra coisa. Quanto mais ela olhava, mais ela jurava que ele não tinha pupila, seus olhos eram tão abençoadamente escuros... seu rosto tão moreno... suas maçãs do rosto muito altas. Mas eram os lábios dele que a enervavam: tão insolentes, presunçosos, puxados apenas um pouco nos cantos, como se ele não conseguisse sufocar seu humor às suas custas. Seu olhar se afastou, ociosamente a avaliando, deslizando sobre o seu corpo lentamente, sedutoramente, depois retornando ao rosto para aborrecê-la com uma expectativa silenciosa. Ele antecipou alguma reação dela, Elizabeth tentou pensar, mas não conseguiu — não conseguia pensar, ponto final. Olhando como se paralisada, ela tentou decifrar suas feições pétreas, mas seu cérebro estava tão inútil quanto seus membros. Mas ocorreu-lhe naquele momento confuso que talvez ele a tivesse avaliado com um leve interesse, e seu pulso acelerou-se com essa perspectiva. Ninguém jamais a tinha olhado dessa maneira. Ninguém. Aquele olho escuro a perfurando, e ele levantou com dois dedos a aba do seu chapéu, derrubando-o na saudação enquanto um pequeno sorriso aparecia nos cantos de sua boca. "Olá, Liz," ele disse. "Faz muito tempo, garota." Muito tempo?
Elizabeth balançou a cabeça, negando, pois se ela alguma vez tivesse visto o homem antes daquele momento, ela teria se lembrado. Ele não era do tipo para ser esquecido. Inconscientemente ela levantou um dedo para seu rosto, para o lugar onde ele a tinha beijado. A garganta dela se contraiu, parecendo de repente estar ressecada e ela passou a língua pelos lábios, em desespero, como se eles tivessem parado de falar. Para sua mortificação, nenhuma palavra veio a sua boca. Pela primeira vez em sua vida, Elizabeth Bowcock encontrou-se estupefata. Apesar da expressão divertida do homem, ele possuía um ar de ameaça em sua face como se fosse uma segunda pele, e um tremor a sacudiu quando ela evitou o seu olhar. Ele é perigoso, ela pensou quase abruptamente. O homem era perigoso. Ela não tinha deixado de prestar atenção no fato de que ele tinha preso em seu cinto, o mais perigoso revólver que ela já tinha visto, além dela ter acabado de ver uma faca presa na ponta das suas botas de couro desbotado. E as botas dele contavam uma estória elas mesmas, pois eram sem dúvida da cavalaria dos Estados Unidos e ameaçadoramente inconsistente com sua roupa de camurça. Havia pouco conforto uma vez que ele não usava as armas dele como Dick Brady usava: como jóias baratas. O fato de que ele mantinha sua lâmina escondida e usava a arma dele casualmente, como se não estivesse lá, disselhe tudo que ela precisava saber. Ele não era nenhum vaqueiro se exibindo com uma arma. Ele era real. E suas botas, ela poderia pensar em uma dúzia de razões, porque ele estava equipado desta maneira, nenhuma delas tranquilizadora. Um relance rápido para Jo disse-lhe que ela estava em perigo imediato. Os lábios de Jo estavam levantados nos cantos, e ela, também, estava à beira de um sorriso, com seus olhos cor de canela gentilmente quentes com humor. Sem entender por que ela se sentiu compelida a agir como ele, Elizabeth decidiu jogar o mesmo jogo dele. "Uh... hum...” Que Deus tivesse piedade, mas ela nem sabia o nome dele! Como é que ela ia fingir conhecê-lo, se ela não sabia seu nome? Em pânico, o olhar dela fugiu para Jo. "Cutter!" Jo deu uma risada, parecendo ler os pensamentos de Elizabeth. Os olhos dela brilharam com malícia. "Eu acredito que ela está com a língua presa, querido irmão. Acho que ela pensou que nunca mais ia te ver." Vendo a expressão confusa de Elizabeth, ela riu suavemente. "Não é verdade, Liz?" "Certo?" Elizabeth assentiu com a cabeça. Irmão de Jo? "Oh, sim! Pensei que eu nunca mais o veria de novo!" Ela assentiu obedientemente em benefício da audiência. Todos os olhos suspeitosamente se viraram para Cutter, deixando-a insegura sobre o seu duvidoso desempenho. Ela franziu a testa. Calor invadiu seus olhos quando ele colocou suas mãos suavemente sob seu queixo, como um irmão acariciando uma irmã mais nova.
Elizabeth de repente se sentiu muito quente, quase como se ela estivesse sendo assada em fogo lento. E o calor de seus dedos... demorou-se em seu queixo muito tempo depois dele ter retirado sua mão. Mortificada porque ele podia afetá-la dessa maneira, ela se virou para olhar para Brady. Ele estava olhando para ela com um olhar inabalável Seus olhos se estreitando em fendas sombrias, Cutter se virou na direção de Brady e seus homens, enviando para cada um dele um desafio silencioso. Brady nervosamente arremessou para Elizabeth um olhar duvidoso antes de sair. O resto dos seus homens o seguiu imediatamente, batendo no ombro um do outro. As sobrancelhas de Elizabeth se levantaram enquanto ela assistia à partida da tropa, impressionada com a facilidade com que Cutter tinha tratado Brady e seus homens. Ela abriu a boca para falar, mas as palavras ficaram presas na garganta como uma colherada de açúcar seco. O homem era muito presunçoso para seu gosto. Ele não tinha o direito de ser sentir tão familiarizado com ela, mas ela lhe devia gratidão, não importando quão relutante ela se sentia. "Suponho que devo lhe agradecer," ela disse. Cutter sorriu. "Na hora que você quiser doutora." Elizabeth sorriu com os dentes cerrados, acenando. Sua resposta soou tão satisfeita. E a maneira como ele falou a palavra Doutora — como se ele duvidasse de seu título — golpeou-a como uma corda. Assim como tudo o mais sobre ele. Jo empurrou Elizabeth pela mão de repente, levando-a para seu escritório. Sem ser perguntado, Cutter as seguiu surpreendentemente ágil atrás delas. Como um ladrão à espreita, Elizabeth pensou a contragosto. Ela pensou que este caminhar devia ser por causa de sua herança indígena. Ela olhou ansiosamente por cima do ombro. Ele realmente não parecia um índio, exceto por sua coloração de pele escura. Mas tampouco Jo parecia, no entanto, ela sabia que eles eram. Jo havia lhe dito. "Agora," Jo perguntou assim que ela tinha fechado a porta do seu escritório, "porque você precisa de um homem, Liz?" O olhar de Elizabeth nunca deixou o outro ocupante do quarto escassamente mobiliado. Ele passou por ela e se jogou em uma cadeira de couro. Enganchando a ponta curvada de sua bota sobre a perna de um banco nas proximidades, ele se aproximou para mais perto, sustentando suas botas de couro arranhadas em cima dele. Quanto mais ela olhava para ele, mais a sua presença arrogante a provocava. Com um gesto lento, Cutter ajustou seu chapéu para que fizesse sombra em seus olhos — mais por hábito do que necessidade, porque a luz do quarto era muito fraca. "Não se importe comigo," ele disse. Levantando sua sobrancelha escura e um canto de sua boca, ele se dirigiu para Elizabeth, com um sorriso irritantemente insolente. Pega no ato de olhar fixamente para ele, Elizabeth achou que não estava conseguindo ar para respirar. O que tinha nele que ela achava tão desconcertante? Meditando sobre isso, ela não percebeu
o que seu gesto revelava. Seus olhos se estreitaram quando enfrentou Jo. "Ele não é realmente seu irmão, certo?" ela perguntou cheia de ceticismo. Jo assentiu com a cabeça. Franzindo os lábios para impedir um sorriso, ela disse, "na verdade, ele é meu irmão mais novo." "Por que não o conheci antes?" Elizabeth perguntou. Os olhos de Jo cintilavam com alegria, e Elizabeth de repente podia ver uma clara e enlouquecedora semelhança entre os dois. "Por que você acha que deveria tê-lo conhecido? Eu só cheguei a Sioux Falls há dois anos. Cutter só ficou aqui o tempo suficiente para me ajudar a abrir o Salão Oásis. Desde então... bem... tem uma guerra acontecendo, você sabe." Jo deu um olhar manhoso para o irmão, admitindo com um suspiro, "embora ele tenha conseguido escapar uma vez ou duas... para me vigiar. Não é isso, querido irmão?" Cutter levantou a aba do chapéu apenas o suficiente para que Elizabeth vislumbrasse a falta de escrúpulos em seu olhar negro. Ele obviamente não se importava das pessoas saberem se ele era solícito ou não e não se preocupou sequer em negar o que sua irmã tinha dito — que parecia ter sido num tom de ofensa, se Elizabeth ouviu o tom certo. "Agora, lembre-se, ele não admite que me vigie," Jo continuou, franzindo a testa em benevolência. "Ele afirma que está apenas verificando o Oásis. O lugar realmente pertence a ele, não é meu, mas ele jura que não tem paciência para administrá-lo e deixou gentilmente esse fardo comigo." O irmão dela deu uma piscadela conspiratória. "O fato é que ele é muito generoso, mesmo sendo superprotetor." Ela suspirou com resignação. "Sempre lhe digo que posso cuidar muito bem de mim, mas ele não parece querer acreditar que eu posso." Cutter não disse nada às alegações de sua irmã, mas seu sorriso era de um patife. Ironia apareceu em seus lábios sensuais, e de alguma forma esse sorriso arrogante fez Elizabeth se sentir tão estranha como uma mula-sem-cabeça, especialmente porque ele tinha sido dirigido para ela. Mais do que tudo, ela queria golpear esse sorriso do rosto dele. Embora ela devesse estar grata, ela se lembrou. E apesar de sua expressão convencida, ela viu que não conseguia tirar os olhos dele. "Basta," disse Jo. "O que eu gostaria de saber, Liz, é porque você acha que precisa de um homem?" Elizabeth assentiu com a cabeça na direção de Cutter. Era muito difícil manter-se coerente com o homem olhando-a tão atentamente. "Ele não precisa ouvir isso, não é?" Jo considerou o que Elizabeth disse. "Bem, querida, eu vou tentar te explicar. Ele pode ir... se você puder convencê-lo a deixar seu próprio escritório. Mas mesmo que ele o faça, não há segredos entre nós. E é muito mais provável que ele descubra de qualquer maneira. Então você poderia dizer para nós dois antes que eu morra de curiosidade — por que você precisa de um homem?" As duas últimas palavras foram salientadas, como se fossem uma noção ridícula. Elizabeth tentou não senti-la como uma ofensa. "E o que poderia ser tão importante," Jo continuou, "que você arriscaria sua vida entrando no
Salão Oásis, a esta hora, tarde da noite? Você sabe muito bem!" ela repreendeu. Calor penetrou nas bochechas de Elizabeth enquanto ela olhava novamente para Cutter. Ele ainda estava olhando para ela, sua expressão ilegível, mas com um sorriso de zombaria em seus lábios. De repente ela sentiu que ela desejava que o chão se abrisse e a sugasse — qualquer coisa para escapar de seu escrutínio ousado. Para desespero de Elizabeth, o sorriso do canalha se espalhou por seus olhos insondáveis. Engolindo, ela tomou uma respiração profunda, e sentiu seu olhar atravessá-la como uma rajada quente vinda do sul no meio do deserto; era quase sua perdição. Que Deus concedesse força para ela, pois tudo o que ela sabia era que a qualquer momento ela iria explodir em lágrimas, e ela se recusava a chorar na frente do mal-educado. Ela decidiu que era melhor ignorá-lo. Se ele não ia sair... então ela ia fingir que ele não estava no quarto com ela — sentado pertinho dela... a apenas alguns passos. Ela forçou sua atenção em Jo. "Bem, eu recebi uma carta hoje," Elizabeth começou, com a voz um pouco trêmula. Ela engoliu convulsivamente. "Do sogro de minha irmã. Katherine..." K-Katherine, ela tentou novamente, mas a voz dela falhou. As palavras eram muito difíceis para ela falar. "Ela e o marido foram... bem, eles foram mortos. Ele não disse como." Ela tentou manter a emoção fora do tom dela e apenas tentou citar os fatos, mas os lábios dela tremiam traidoramente. "Parece que eles deixaram sua filha de quatro anos aos meus cuidados." Fechando os olhos, Elizabeth tentou firmar-se, sentindo, de repente, como se fosse desmaiar. Mas ela nunca tinha desmaiado antes e agora não era uma boa hora para começar. Não na frente dele. Mas então, ele não estava realmente lá, ela lembrou-se severamente. Ignore-o. Jo colocou um braço tranquilizador sobre a cintura de Elizabeth. "Coitadinha! Eu sinto muito!" ela declarou. "Agora, sente-se na minha cadeira." Elizabeth apaticamente se afundou na cadeira atrás da mesa, grata pela barreira entre ela e o irmão de Jo. Só que agora ela era forçada a enfrentá-lo. Seus membros se sentiram fracos. "Você vai ficar bem?" Jo perguntou. Elizabeth assentiu com a cabeça, e seu olhar foi atraído novamente para Cutter. Como uma mariposa infeliz atraída para uma chama mortal, ela pensou como ele era petulante. Seu sorriso tinha desaparecido, substituído com o que parecia uma expressão de desaprovação. Ele provavelmente achou que ela acabaria num pranto idiota, ela pensou — e o que era pior, ela se sentia uma idiota. "Então pule para a parte do homem," Jo solicitou, acenando sua mão com impaciência.
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"N ão posso reivindicar a filha de Katherine a menos que eu me case," ela disse sem rodeios. "O avô a ama e não vai desistir dela a menos que ele tenha a certeza de que ela vai para um lar decente." "Eu não entendo," Jo interrompeu. "Por que a criança não fica com ele, se ele a ama tanto?" "Porque ele diz que é velho demais para criá-la," Elizabeth falou. "E ele também escreveu que se eu não puder ficar com ela, ele vai ser forçado a dá-la em adoção para um casal temente a Deus que ele saiba que nunca foi abençoado com crianças." Ela mordeu o lábio inferior para não chorar, e seus olhos se fecharam por um breve instante enquanto ela lutava para manter a compostura. Quando ela abriu-os novamente, eles estavam enevoados. "Jo! Eu tenho que pegar essa criança! Katie era toda a família que me restava — preciso criá-la, você não vê? Não suporto pensar nela crescendo sozinha... em não conhecê-la." Os olhos dela eram pura melancolia. "Ela tem apenas quatro anos." Sua voz estava macia de dor. "Você me entende?" Jo assentiu com a cabeça. "Acho que sim, querida. Então o que você vai fazer?" Elizabeth limpou sua garganta, porque as palavras que ela estava prestes a falar pareciam ultrajantes mesmo para seus próprios ouvidos. "Bem..." Suas sobrancelhas se fecharam, ela começou, "Eu pensei que... Pensei que, talvez, eu pudesse contratar um marido." Um som repentino desviou a atenção de Elizabeth, e seus olhos se arregalaram, seu olhar voou para Cutter quando ela de repente se lembrou de sua presença. Para seu aborrecimento, um calor indesejável voltou para suas bochechas. Vendo Elizabeth se endireitar estoicamente, Cutter sentiu vontade de consolá-la. Ele ficou espantado dela não ter derramado nem uma lágrima, e ele a admirou por essa força de caráter. Ele sabia que a maioria das garotas iria sair jorrando líquido salgado como uma esponja torcida — com razão — ainda assim ela estava sentada, os olhos vidrados com tristeza e nem uma gota para se contemplar. Ainda assim, sua dor era uma coisa tangível, e alguma coisa mexeu nele lá no fundo. Ela parecia lidar com a raiva bem o suficiente, e então ele pensou em dar-lhe outro foco. "Pare de mimá-la, Jo. Ela não é uma criança idiota!"
Abocanhando a cabeça dela, Jo deu ao seu irmão um olhar incrédulo. Silêncio oprimiu a pequena sala por um momento desconfortável quando ela olhou para ele e disse, finalmente, "como você saberia dizer o que ela precisa seu bobo insensível!" Cutter levantou uma sobrancelha em uma surpresa divertida. "Eu estava sendo generoso," ele lembrou-lhe. Sem dar a sua irmã tempo para responder, ele levantou-se da cadeira e foi para o bar privado. Pegando algumas garrafas, encontrou uma do seu gosto, levantando-a juntamente com dois copos, colocando-os em cima da mesa em frente à Elizabeth. Jo olhou para Elizabeth, mas Elizabeth ainda estava olhando para Cutter. "Olha, Elizabeth, mesmo que você consiga realizar esse plano, de alguma forma... Tenho certeza de que esta não é a melhor época para viajar." O olhar de Elizabeth se voltou para Jo. "Ah, mas você vê... realmente é uma boa hora! Elias me disse que com tantas tropas na área, não devo ter nenhuma preocupação com relação à guerra..." Ela olhou pela janela ansiosamente e depois de volta para a sala, mastigando o lábio em busca de uma palavra. "Índios," Jo disse para ela. Ela compartilhou um olhar divertido com seu irmão. "Sim." Elizabeth disse. Cutter levantou o banquinho onde tinha apoiado os pés e o colocou para o lado da mesa com um barulho. Sem preâmbulo, ele tomou o seu lugar em cima do banco, e embora o banco fosse baixo, ele ainda ficou mais alto que Elizabeth em sua cadeira de couro luxuosa. "Isto," ele informou para as duas, embora ele mantivesse seu olhar fixo em Elizabeth, audaciosamente piscando o olho para ela, "é só o que a mulher precisa neste momento." Ele levantou sua bebida. As sobrancelhas de Elizabeth uniram-se em desaprovação. Seu cabelo estava puxado para trás de uma maneira por demais firme, fazendo seu rosto parecer esticado, mas os olhos de Cutter desconsideraram esse fato, focando-se apenas nos cílios pretos e grossos ampliados por suas lentes e suas sobrancelhas escuras tão em desacordo com o cabelo cor de mel e sua tez cor de pêssego. "Claro que é!" exclamou Jo em desgosto. "Não é esta sempre a resposta de um homem para tudo?" Ela acenou com a cabeça reprovando-o. Elizabeth, por outro lado, manteve-se calada. Quando ele jogou seu olhar para longe dela, ele olhou de relance para sua irmã e disse incisivamente, "Você não tem algum trabalho para fazer, algo para fazer?" Jo olhou furiosamente para ele. "Bem, sim, mas...“ Ela não podia argumentar com a verdade — ela não ousava deixar aquele bando de homens sozinhos no bar por muito tempo, e Cutter sabia disso. Pois eles certamente beberiam de suas garrafas às escondidas e ficariam dando beliscões nas garotas. As mãos dela foram para as ancas. "Comporte-se, Cutter. Se você ousar dizer alguma coisa para ferir os sentimentos da Elizabeth..."
Uma sombra de aborrecimento apareceu no rosto de Cutter, mas desapareceu tão rapidamente como apareceu. "Você me conhece melhor do que isso, Jo. O fato é que eu acho que posso ajudar. Agora, saia daqui e volte ao trabalho antes que não te reste mais nada para voltar." Seus olhos brilharam com firmeza, mas com suavidade. Elizabeth abriu a boca para objetar, mas antes que ela pudesse dizer uma palavra, Jo saiu da sala, fechando a porta firmemente atrás dela. Erguendo-se abruptamente, Elizabeth engasgou de frustração, com os olhos arregalados encarando a porta fechada. Como Jo ousava deixá-la sozinha, com o bandido do seu irmão! Ela se virou lentamente para Cutter, com uma expressão irada. "Eu precisava falar com ela, Sr. McKenzie!" Os olhos dela se apertaram o acusando. "Eu suponho que seu sobrenome é McKenzie?" ela perguntou. Cutter levantou a garrafa em frente dele, e em seguida, derramou uma pequena dose de uísque em seu copo. "É verdade," ele confirmou. Seus olhos escuros de falcão se dirigiram para ela enquanto ele deslizava o copo em sua direção. "Beba. Pode ajudar." A curva em seus lábios parecia desafiála. Fixando seu olhar para a borda da cadeira, Elizabeth deslizou o copo de volta em direção a ele, endireitando seus ombros. "Não, obrigada, Sr. McKenzie. Eu não preciso de álcool para elevar o meu espírito." Os olhos dela se estreitaram. "Nunca!" Encolhendo os ombros com indiferença, Cutter se serviu de dois dedos. Ele colocou a garrafa sobre a mesa que "acidentalmente" bateu contra os óculos de Elizabeth, fazendo com que o copo ficasse mais perto dela. "À vontade," ele disse, ajustando-se no banco. Ele se inclinou sobre a mesa, esticando as longas pernas na sua frente. Por baixo da mesa, a ponta da uma bota conseguiu encontrar seu caminho sob a bainha da saia de Elizabeth, encostando-se em seu tornozelo. Ela se afastou com um suspiro. Embora não rápido o suficiente, porque ela experimentou uma vibração como uma carícia inesperada. E esse toque fez seu pulso se acelerar e seu coração bater mais forte. Certamente ele não tinha feito isso de propósito? Ou ele tinha? Ela tinha que saber. Inclinando a cabeça ligeiramente, Cutter levantou seu próprio copo em uma saudação trocista. "Não se importa se eu beber," ele disse, sorrindo. Muito atrapalhada para falar, Elizabeth simplesmente acenou com a cabeça em resposta, pensando que ela realmente deveria se levantar e ir embora. Mas ela não saiu. Algo a mantinha enraizada na cadeira, e ela não podia nem forçar seu olhar para longe dele. Ele sabia o quanto sua presença a perturbava? Ele a estava gozando? De alguma forma essa possibilidade a angustiava. "Eu realmente desejo que você não sorria tanto." Cutter estudou a expressão no rosto dela sobre a borda de seu copo de uísque. Ele estava deixando-a nervosa, ele podia dizer. Mas ele não podia se conter. Ele estava se coçando de vontade de remover seus óculos, e passar seus dedos sobre seus cílios para ver se eles eram tão suaves como
pareciam. Ele manteve a mão ocupada com seu uísque barato em vez disso, o pulso acelerado, só por pensar em tocar nela. Engolindo, ele bateu com os dedos na mesa. "Por que isso?" ele perguntou. "Porque sim!" Ele pensou como seus cílios delicados se sentiriam ao serem beijados. "Por quê?" ele persistiu, seu tom mais brusco do que antes. "Porque — porque isso me irrita!" ela disse bruscamente. O sorriso dele se aprofundou. Novamente, os olhos dela se estreitaram. "Tudo bem, Sr. McKenzie, desde que eu realmente não entendo o que é tão divertido, talvez o senhor queira esclarecer-me?" Ele cruzou os braços. "Não acho que eu possa." Ela levantou-se, ombros eretos com orgulho. "Bem, então... se o senhor, por favor, me der licença! Não tenho tempo para esse absurdo!" Ela tentou se dirigir para a porta, mas viu que sua saia estava firmemente presa a um canto irregular da mesa. Ela parou abruptamente ao som do material se rasgando, momentaneamente paralisada só de pensar em enfrentar a expressão presunçosa de Cutter. Ela olhou para a porta, apenas a dez passos de distância, pensando que certamente Cutter estava rindo dela por trás daqueles olhos negros insolentes. A maior parte dela queria simplesmente tirar fora a sua saia idiota, alcançar a maçaneta, abrir a porta e correr para fora da sala. Mas isso não era o certo a fazer, ela sabia. Nem ela queria que Cutter pensasse que ela tinha medo dele. De repente era muito importante ela enfrentá-lo, mostrar-se confiante e não estar sendo afetada por ele. Ela fechou os olhos brevemente, respirou fundo e girou-se para enfrentá-lo, levantando seu queixo. Ela viu que agora ele estava de pé, uma sobrancelha ligeiramente levantada. Como ele fez isso, ela se perguntava irritada — mover-se tão rapidamente sem fazer nenhum barulho?
UMA MÃO ESTAVA em seus lábios, como se acariciasse seu sorriso, e ele se inclinou para retirar o vestido de sua armadilha. Mas ele não tirou imediatamente. Ele se inclinou a seus pés, olhou para seus tornozelos, os olhos brilhando quando ele levantou o pedaço da bainha de sua saia. "Você vai precisar disso, eu acho." Seu rosto dizia como ele estava se divertindo com a situação. Exasperada, Elizabeth arrebatou a bainha rasgada de suas mãos, grata ao descobrir que era apenas o babado que ela tinha acrescentado para alongar a saia. Seus dedos se fecharam sobre os dela, sem retê-los — embora ela não tivesse notado até que ela conseguiu tirar seus dedos facilmente alguns segundos depois. O choque da descoberta a deixou estupefata.
Ela estava pronta para fugir. Cutter podia dizer pelo seu olhar, então ele manteve cautela, recuando um pouco. Ele se sentou em cima da mesa, braços cruzados ociosamente sobre seu peito. Ele não estava pronto para deixá-la ir embora, mas sabia que não podia pedir-lhe para ficar. O desafio na expressão dela dizia que ela o faria somente para irritá-lo. "Você acha que Brady já foi embora?" ele perguntou conversando, sabendo muito bem que isso iria desviar sua atenção e intimidá-la de sair da sala até ele conseguir amansá-la. Surpresa apareceu no seu rosto, então consternação quando ela se lembrou a razão pela qual Jo a tinha arrastado para o escritório. Com um dedo delicado, ela empurrou seus óculos firmemente no seu nariz, parecendo considerar cuidadosamente a sua pergunta. Levantando-se da mesa, Cutter se afastou um pouco dela para dar-lhe uma maior sensação de segurança. "Minhas desculpas se a ofendi de alguma forma... Não queria. É que eu posso ver que Jo se preocupa com você." Suas emoções estavam tão transparentes que ele podia dizer o segundo exato em que ela começou a relaxar. "Realmente gostaria de te ajudar se você me permitir." Cutter viu o olhar dela, sem deixar de olhar para ela nem um segundo, mesmo quando ele derramou outra dose de uísque. Ele sentou-se, esticando as pernas, em seguida, sacudiu a cabeça, murmurando. "Maldita merda de uísque, forte o suficiente para apagar a mente de um homem." Obviamente não o suficiente para impedi-lo de levantar o copo para mais um gole. Elizabeth não achou que ele estava tão arrependido. Irritada pelo pensamento, ela assistiu ele engolir o uísque lentamente, e sentiu uma vibração no peito quando ele passou a língua por seu lábio inferior, a língua dele lambendo o persistente gosto de uísque. Ela tinha que se lembrar de respirar. Recusando-se a permitir que ele a tirasse da sala, ela levantou seu queixo, olhando-o da mesma forma impertinente. No momento, ele ainda era melhor escolha do que Brady. Ela não tinha nenhum desejo de sair do escritório até que Jo tivesse a chance de limpar o bar dos homens que quase a tinham atacado. Ela colocou as duas mãos em cima da mesa. "Tudo bem," ela perguntou, antes que ela pudesse parar a si mesma, "como é que você acha que é capaz de me ajudar, Sr. McKenzie?" O olhar de Cutter varreu todo o seu corpo, estudando os dedos longos, magros que se espalhavam tão corajosamente em cima da mesa, segurando a bainha da saia que ela segurava sob a mão direita, e depois voltou a olhar para seus olhos. Ele teve que manter sua determinação para domar sua reação. A maioria das pessoas não gostava de encarar seu olhar, muito menos olhar para ele diretamente nos olhos, no entanto, aqui estava esta potranca olhando para ele como igual, desafiando-o. Com as sobrancelhas erguidas, ele acenou para ela se sentar. Ela deu-lhe um olhar duvidoso,
então com relutância moveu a mão para a borda da mesa como se ela estivesse preparada para empurrar seu peso contra ele, no instante em que ele fizesse um movimento errado. Um movimento que ela obviamente esperava que ele fizesse a qualquer momento. Ele levou o copo até sua boca, segurando seu olhar quando ele derrubou outro gole. "Você não tem motivos para ter medo de mim, doutora." "Medo?" Não era bem a palavra para o que ela estava sentindo agora. Elizabeth deu uma profunda respiração, se acalmando, então estendeu a mão para o copo — não para beber, claro, mas para ocupar as mãos que tremiam traidoramente. "Eu não mordo," ele assegurou com um brilho estranho nos olhos. "Normalmente não. E quando mordo, não mordo muito profundamente." Elizabeth piscou os olhos. Por que ela achou que essas palavras tinham um duplo sentido? Misericórdia, ela estava se sentindo quente outra vez, embora não de constrangimento. Verdade fosse dita, ela estava se sentindo bastante incomum. Longos minutos se passaram sem uma palavra pronunciada entre eles. O rato teve pena dela e desviou seu olhar! Ela pensou. A maioria dos homens teria olhado para o outro lado. Bem, ela era feita de material mais duro, ele logo veria! Anos observando o pai dela lidando com as pessoas lhe deram uma vantagem. Ela tentou falar com um tom um pouco entediado, juntamente com um suspiro sofrido. "Talvez você possa explicar ainda neste século, Sr. McKenzie? Como é que você acha que pode me ajudar?" O sorriso em seus lábios a enervava e ela prontamente levantou o copo que estava segurando e levou-o aos lábios. Sem pensar, ela bebeu todo o conteúdo ao mesmo tempo em que olhava para Cutter sobre a borda do copo. De repente ela se sentiu queimando, o choque quase a fazendo cair da cadeira. Segurando a garganta em desespero, ela começou a tossir. Em nenhum momento, Cutter ficou sentado, ele foi para trás dela e suavemente bateu sobre suas costas. "Demora um pouco para se acostumar," ele tranquilizou, o tom de sua voz um pouco abafado. "O próximo gole vai ser um pouco mais fácil." Parecia que ele estava rindo dela, mas Elizabeth não ousou olhar para ele para ver se ele estava. Ela limpou sua garganta sem a mínima elegância, e assentiu com a cabeça e olhou para baixo através de seus óculos que pareciam de repente ligados as suas mãos. A mão de Cutter manteve-se em suas costas, esfregando-a com carinho. Irracionalmente, Elizabeth nem pensou em protestar contra essa intimidade. Parecia perfeitamente natural. Na verdade, o calor da sua palma exprimia simpatia no silêncio entre os dois, e ela teve que lutar contra a vontade de pular em seus braços e chorar a sua dor. "Melhor?" Elizabeth assentiu com a cabeça. "Tudo bem," ela respondeu, muito rapidamente.
"Tinha certeza de que você se sentiria melhor," ele garantiu com uma piscadela. Elizabeth podia jurar que ele estava acariciando o cabelo dela. Será que ele estava? Era difícil dizer, mas ela sentiu como se ele estivesse correndo os dedos reconfortantemente ao longo do comprimento de sua trança. E de repente a sensação parou. Ela olhou para cima para avaliar seus pensamentos, mas a expressão dele estava fechada. Como ele parecia não estar afetado pela sua proximidade, enquanto ela, por outro lado, nunca se sentiu tão agitada? O que se passava com ela que fazia com que ela quisesse olhar para ele tão descaradamente? "Diga-me uma coisa, doutora." Aquela voz. Tão profunda. Tão masculina. Enviou outro tremor pelo seu corpo. Ele estava tão perto que ela podia sentir o cheiro do couro que ele usava. E as calças de camurça pareciam tão bem modeladas sobre suas coxas que ela achou que não podia levar seu olhar para longe de suas delimitações musculares. Céu misericordioso, naquele momento hipnótico ela pensou que ela poderia fazer ou dizer qualquer coisa que ele pedisse. Ela assentiu com a cabeça, sem nem mesmo perceber o que tinha feito. "O que você fez para Brady para conseguir que ele se escondesse como um galo velho?" A boca de Elizabeth se curvou inconscientemente, tremendo com a necessidade de sorrir. E então, quando ela se lembrou da expressão alarmada de Brady, ela não conseguiu controlar a explosão de histeria nervosa. Era como se as emoções dela tivessem ficado malucas. Ela riu até a beira de lágrimas e, em seguida, olhou para ele, sabendo que ele provavelmente estava pensando que ela estava louca depois de testemunhar uma mudança tão brusca de humor. "Suponho que você gostaria de saber o que é que é tão engraçado?" Seu riso gutural sacudiu através de Cutter. Era genuíno e desinibido, mas soou muito pouco inocente, e deu-lhe uma imediata reação física. "Acho que eu gostaria," ele disse. Elizabeth abanou a cabeça e levantou novamente o copo dela, bebendo distraidamente e limpando a garganta dela antes de ter outro ataque de tosse. "Bem," ela disse, "Brady é um daqueles que gosta de beber um pouco demais." Cutter se mexeu desconfortavelmente. Para o bem dela, ele esperava que ela não tocasse na perna dele novamente. Ele não achava que fosse capaz de esconder o efeito que ela tinha sobre ele. Só lembrar a maneira que os olhos dela queimavam ligeiramente em inocente surpresa e sua pupila ficava dilatada quando ela olhava para ele tinha sido o suficiente para fazê-lo ficar permanentemente enraizado, e era visível. Ela tomou outro gole de uísque, limpando a garganta, e desta vez foi Cutter que se sentiu frustrado. Seus lábios eram sua melhor característica, ele decidiu. Cheios e carnudos, apenas implorando
para ser beijada. "... sempre tendo acidentes," ele a ouviu dizer. Ele balançou a cabeça para limpá-la dos seus pensamentos. "Uma noite," ela continuou, "ele veio depois de enfiar o dedo em sua arma — não me pergunte como ele conseguiu isso! De qualquer forma, ele e seus companheiros estavam atirando em latas, se vangloriando e lutando, chegaram e pediram a meu pai para só costurar. Mas o papai não quis fazê-lo sem lhe dar uísque primeiro — parece que o Sr. Brady não gosta de dor," ela explicou rapidamente. "Então, quando meu pai saiu da sala para procurar uma garrafa, Brady começou a acariciar uma das suas lâminas cirúrgicas novas." Ela olhou para ver se ele estava prestando atenção. A expressão dela amoleceu de repente, e ela deu uma risada tímida. "Papai e eu observamos da porta como o Sr. Brady lutava com um urso imaginário. Você devia ter visto, Sr. McKenzie!" "Bem que eu queria ter visto," ele disse, tentando ignorar seu desconforto crescente, tanto quanto ele podia. "Acredite ou não, eu pensei que ele podia perder a briga," ela disse suavemente.
APESAR DO FATO de que ela ainda estava olhando para ele, Cutter tinha a nítida sensação de que ela estava em outro lugar. Ele não conseguia tirar os olhos de sua figura através de suas roupas. Ela era provavelmente muito, muito magrela, ele disse para si mesmo... não tinha nem um pouquinho de carne. Ele levantou suas sobrancelhas, as narinas queimando enquanto ele sentiu o aperto repentino de sua garganta. "Então, como vocês ficaram sabendo que era com um urso que ele estava lutando?" Cutter viu que era melhor deixar Elizabeth falando... mantendo os dois ocupados. Jo provavelmente daria um tiro no seu rabo se ela o encontrasse no cio atrás de sua primeira e única amiga — enquanto a garota estava se queixando das suas tristezas. Ela acenou com a cabeça fracamente, como se para fugir da lembrança. "Bem, porque ele estava conversando com o urso, foi desta maneira que descobrimos. Ele esfaqueou e lutou com nada além de ar, e então ele o estripou e se esfaqueou —" ela olhou para ele de repente. "Onde?" Cutter perguntou inalando profundamente. Era a coisa errada a fazer, porque ele sentiu o cheiro dela nessa respiração. O mais doce perfume feminino. Seu sangue se aqueceu, surgindo como lava derretida em suas veias. "Sua er... sua... parte posterior inferior," sussurrou Elizabeth. Levou um momento para ele registrar o que ela disse, mas quando finalmente conseguiu, seu rugido de riso foi genuíno, quente e rico, tanto quanto o riso do pai dela costumava ser. E isso deixou Elizabeth imediatamente à vontade. "Agora eu posso entender," ele disse, ainda rindo enquanto derramava mais uísque no copo de Elizabeth. Ela olhou para o copo apaticamente, pensou brevemente sem protestar. Ela estava se sentindo
bastante agradável, de repente, até mesmo aconchegante. Ela exalou languidamente, e algo parecia desenrolar-se profundamente dentro dela. Talvez Cutter estivesse certo, ela pensou. Talvez ajudasse a esquecer só um pouquinho. "Você conheceu meu pai?" Elizabeth perguntou por um capricho. Ela tinha o maior orgulho de seu pai. Ele tinha cuidado dela e a tinha amado — e nenhuma vez ele a culpou por sua mãe e irmã os terem abandonado... apesar do fato de que ela muitas vezes tenha se culpado. Talvez se ela tivesse ajudado um pouco mais? Uma filha melhor? Mais conciliatória? Mais como a Katherine. Ele assentiu sobriamente. "'Um ano atrás — um bom homem, Lizbeth." O jeito como Cutter disse o nome dela a fez suspirar com prazer. "Ele era um bom homem," ela concordou. "Sinto falta dele.” Ela perdera a irmã dela também, embora ela não tivesse visto a Katherine durante muitos anos. A última vez que ela se lembrava foi quando sua mãe tinha morrido de peste há quatro anos. Anexada a carta tinha uma pequena foto de sua filha Katie, com cinco meses: uma coisinha roliça sem cabelo. Elizabeth tinha adorado aquela foto. Quatro anos? Ela pensou. Já tinha passado tanto tempo? Isso significaria que já fazia sete anos desde que sua mãe tinha fugido com Katherine para St Louis. Há muito tempo atrás... ainda assim aquele dia infeliz estava claro na memória de Elizabeth, como se fosse ontem. Encontrar a mensagem apressadamente rabiscada pela mãe dela tinha sido o momento mais doloroso da sua vida. Mesmo as palavras estavam indelevelmente gravadas na sua mente. Com cada fibra do meu ser, eu odeio este lugar infernal. Eu não posso — eu não posso sofrer mais. Perdoeme, Angus. Nem uma palavra sobre ela. Nada sobre, perdoe-me, Elizabeth. Nem um adeus. Nada de nada. Sendo a mais velha das duas e interessada em medicina, Elizabeth tinha ficado com o pai na época, ajudando-o a fazer o parto de um bebê. Por essa razão, e porque ela tinha entendido como a mãe dela desprezava o deserto e temia os índios, Elizabeth nunca a tinha culpado inteiramente por partir sem ela — especialmente desde que sua mãe tinha sido apenas a primeira de muitas a abandonar Sioux Falls. Pelo o ano de 1862, a maioria restante da população tinha fugido com medo de ataques. Ela e seu pai tinham ficado sempre juntos, então ela não queria ir embora de qualquer maneira. Ainda assim, doía saber que a mãe dela tinha ficado tão desesperada para abandoná-los que tinha fugido sem se preocupar em se despedir. O pai dela nunca foi o mesmo depois. "Onde você estava?" "Hmmm"? Ela abriu os olhos, sem saber por que ela os tinha fechado e olhou nos olhos negros de Cutter. Eles eram fascinantes, a maneira que eles pareciam brilhar sempre. Mas ela achou que tinha
detectado uma cintilação de piedade em seu olhar, e ela sentiu um nó na garganta. "Quando eu cheguei... Não me lembro de ter te conhecido." "Oh... bem..." Ela engoliu convulsivamente, limpando a garganta. "Ninguém nunca se lembra. Mas eu estava aqui," ela assegurou-lhe. Piscando de repente, ela abanou a cabeça. "Como — como — sempre," ela enunciou lentamente. "As — pessoas — só se lembram de meu pai." Ela parecia desinflar diante de seus olhos. Dobrando os braços na frente dela, ela colocou seu queixo para baixo em cima deles, e os seus olhos assumiram um olhar distante, quando ela falou novamente. "Acho que... seu coração ficou fraco..." As palavras dela se perdiam enquanto ela fechava os olhos. Cutter pensou que ela poderia ter desmaiado, mas ela deu um soluço. "Eu — eu acho que... realmente não sei... só — desejava ter ajudado mais.” Sua cabeça caiu para o lado. Ela estava sentada tão frágil, tão indefesa, que Cutter novamente sentiu uma vontade incrível de aninhá-la em seus braços, abraçá-la, protegê-la do mundo frio e duro. "Lizbeth," ele sussurrou, alcançando uma errante mecha de seu cabelo no seu dedo. Parecia seda. Se ela tivesse olhado para ele neste momento, ele temia que ela pudesse ter visto o desejo latente em seus olhos. "Você é adorável." Será que seus ouvidos estavam brincando com ela? Elizabeth pensou que sim, porque seus olhos certamente estavam. Cautelosamente, ela abriu um olho para ver que a sala estava, na verdade, girando. Com um sorriso triste, ela olhou para o copo vazio e o alcançou para agarrar a garrafa. Ela tentou levantá-la, mas achou que não tinha força. Calor tocou seus dedos. Quando ela olhou para cima novamente, ela encontrou a mão de Cutter segurando a sua. Inexplicavelmente essa descoberta enviou um tremor delicioso através do corpo dela. Mesmo sabendo que ela deveria, ela não podia tirar suas mãos. O corpo dela de repente se sentiu abençoadamente pesado.
"ACHO que você já bebeu o suficiente," ele murmurou. Quando ela não respondeu, ficando apenas sentada, ele perguntou. "Você não acha? A idéia era acalmá-la — seus nervos estavam tão tensos como um arco dos índios — e não te deixar bêbada." O polegar acariciava preguiçosamente a área entre seu primeiro dedo e o polegar, enviando um delicioso frio pela coluna. Fechando os olhos, Elizabeth saboreou a doce letargia do seu próprio corpo. Ela considerava dizer-lhe que era muito tarde, que ela suspeitava que pudesse estar um pouco bêbada, mas simplesmente não queria incomodar. Sua mão escorregou para debaixo da dele.
Enquanto Cutter olhava para ela, ele teve a certeza de que ela era muito inocente para seu próprio bem. Quem quer que ela contratasse para agir como seu marido iria tirar proveito desse fato. Ela não entendia os perigos que ela estaria enfrentando? Se não da própria terra cruel, então daqueles que lutavam tão ferozmente para reivindicá-la. Não era o suficiente os Estados terem terminado uma amarga guerra entre irmãos, mas o homem branco e os índios continuavam a lutar ferozmente pelo controle da terra. Ele tinha certeza que Elizabeth não tinha nenhuma idéia de como era arriscado sem adicionar os gostos de Dick Brady em seus problemas. Quanto mais ele pensava nisso, mais certeza ele tinha: fizesse chuva ou fizesse sol, ele não iria deixá-la se colocar em perigo mais do que ela já tinha se colocado. Mas ele podia ver o quanto significava para ela reivindicar a filha da irmã. E não era preciso um xamã para ver que Jo sentia algo especial por Elizabeth. Quanto a Cutter, esse era um motivo suficiente para tentar ajudá-la. Elizabeth tinha que ser uma mulher dos diabos para fazer amizade com uma dona de salão mestiça. Mulheres respeitáveis nem sequer entravam no bar. "Lizbeth," ele sussurrou antes de ele pode parar a si mesmo. "Deixe-me ajudá-la. Deixe-me ser o marido que você quer contratar — não quero dinheiro," ele disse para ela. "Deixe-me fazê-lo por... Jo. Sei que ela gostaria que eu o fizesse." Com algum esforço, ela abriu um olho para encontrar a face de Cutter bem perto do seu próprio rosto. Ela podia ter se afastado, mas obviamente ela se sentia muito lânguida sequer para piscar. "Por que você faria uma coisa dessas?" ela murmurou sonolenta. "Não sei," ele confessou, levantando o chapéu. Seus olhos brilharam, refletindo a lamparina. "Acho que é porque eu gosto de ajudar, é tudo." "Eu — Eu acho que não," Elizabeth disse-lhe, balançando sua cabeça. Ela queria deixá-lo, ela realmente queria. Mas ela tinha uma razão para não fazê-lo. Agora, qual era mesmo? Seus olhos se fecharam enquanto ela tentava se recordar — sim, porque ele era um mestiço arrogante. Ela não tinha nada contra mestiços, ela se lembrou, especialmente este. Ela suspeitava que ela talvez até gostasse um pouco demais. E Jo era a sua melhor amiga. Era só que se ela aparecesse com Cutter McKenzie como seu legítimo esposo, poderia ser pior do que aparecer sozinha. A maioria das pessoas não gostava muito de índios. Ela não podia correr o risco do sogro de Katherine ser um deles. Ele mencionou os índios — não muito favoravelmente — na sua carta. Se ele fosse preconceituoso... então não haveria porque ir, porque Elias Bass simplesmente a mandaria embora de mãos vazias. Ela não podia deixar isso acontecer. Ela bocejou, de repente, instintivamente deslizando a mão para cobrir sua boca, sentindo-se extremamente tranquila. Vagamente, ela sentiu seus óculos sendo tirados de seu rosto, mas não se preocupou em abrir os olhos. Realmente, ela não sabia por que ainda usava coisas antigas— devia ter comprado novos óculos há muito tempo. Ela tinha começado a usá-los com a idade de doze anos. Tão orgulhosa de seu pai usar óculos
como ela, ela somente queria ser como ele... e então ela os tinha pegado quando ele os tinha jogado fora. Ela teve que colocar novas lentes, pois as antigas estavam rachadas, eles pareciam muito antigos e autoritários para ela, mas ela os usava de qualquer maneira. E depois ela os achou úteis para manter os homens longe dela. Parecia que a maior parte dos homens não se sentia atraída por mulheres com óculos — e não importava se o aro fosse bonito — mas estava tudo bem para ela, porque tudo o que ela sempre quis foi ser médica e ser deixada em paz para seguir seu sonho. Será que Cutter a tinha notado? Certamente ele não tinha. "Lizbeth, garota, acorda. Olhe para mim," ele exigiu suavemente. "Quero ver seus olhos ousados." Agora, por que ele queria isso? Ela ponderou sonolenta. Ela tentou acalmá-lo, porque ele parecia estar preocupado, levantando a cabeça para olhá-lo fixamente. Ela balançava lentamente para frente. Incapaz de se sustentar, ela caiu contra o peito sólido de Cutter. Duro. Mas ele era quente, como o cobertor de flanela desgastado que ela adorava quando criança e então naturalmente ela se aninhou contra ele, esfregando seu rosto contra seu colete macio. Com um gemido e um suspiro, Cutter levantou o corpo mole de Elizabeth nos braços dele. Ele a levou de volta para a cadeira, e a colocou em seu colo com uma ternura que não era compatível ao seu tamanho e força. "Pelo amor de Deus," ele murmurou. A mulher só tinha tomado alguns goles. Ele mesmo não se sentia afetado, e aqui estava ela bêbada. Quem poderia imaginar? Mas ele viu que o seu tamanho pequeno representava um pouco na diferença dos efeitos colaterais — e ela tinha bebido muito rápido, além de estar numa grande tensão emocional. Ele olhou para ela por um longo momento, estudando suas feições pálidas na penumbra, pensando que ele gostaria de ser o único a deixar suas bochechas cor de rosa, e tirar os grampos e a fita amarela de seu cabelo... para passar as mãos por ele. Não havia nada errado com sua aparência, além do fato de que ela parecia teimar em se diminuir. Ela se mexeu, tornando-se mais confortável no seu colo, e sua reação física foi instantânea. Gemendo, ele fechou os olhos para reter o momento. Ele desejou que ela abrisse os olhos para que ele pudesse ver sua cor novamente. Ele nunca tinha visto olhos tão curiosos como os dela — pelo menos não em um ser humano. Eles eram como os olhos de um lobo, amarelo como ouro. Ele a sacudiu suavemente, sem sucesso. Mesmo assim ela não abriu os olhos. Diabos, ele pensou, irritado, ela não podia dormir... ainda não. "Lizbeth?" A mão fechada sobre seu ombro macio, amassando-o suavemente. Incapaz de ajudar a si próprio, ele se inclinou para beijar sua boca doce, carnuda e acabou mordiscando seu lábio inferior, encantado com o sabor dela. Ela suspirou, mas abriu sua boca e ele enviou uma onda de desejo incandescente atravessando-a tão ferozmente que ele queria apertá-la acordada e levá-la ali mesmo para a mesa de Jo.
A língua dele traçou a plenitude aveludada da boca dela e, em seguida, mergulhou entre os lábios dela para pesquisar sua língua. Ele ficou agradavelmente surpreendido quando ela o encontrou no meio do caminho com a ponta de sua língua macia e pequena. Seu coração martelava como um cinzel na pedra, e suas veias pulsavam com um calor de primavera enquanto sua boca se movia dentro dela, devorando sua doçura úmida com uma intensidade que o surpreendeu.
3
M acia... muito macia... muito fácil para ele se perder. Cutter demorou a registrar o fato de que Elizabeth não estava mais respondendo. Gemendo, ele foi verificar levantando a cabeça dela para olhar seu rosto. Ela parecia muito doce e frágil, parecia ser feita de porcelana, sua pele muito suave e pura e pálida, quando a maioria das mulheres tinha a tez bronzeada por causa da exposição ao sol. Suas sobrancelhas, tão perfeitamente desenhadas, pareciam indefesas no rosto dela. Ela precisava de alguém para protegê-la. Mas ela já tinha recusado a ajuda dele. Ele não ia dar seu braço a torcer. Ela não estava em condições de tomar decisões. Se ela estava tão determinada a contratar um marido... então ele sabia que ele era esse homem. Ele sentia seu traseiro na sela mesmo antes dele montar. Quando ela acordasse, eles já estariam a caminho, e não haveria nada que ela pudesse fazer. Ele não se preocupou em perguntar se ela estaria a salvo em suas mãos. Ele duvidava. Mas antes ele do que qualquer outra pessoa. Pelo menos assim, ele estaria certo de que ela chegaria inteira. Levantando sua longa trança sedosa, ele a colocou reverentemente em cima de seu seio. Por falar nisso, ele jurou que ele enviaria para o inferno qualquer homem que ousasse olhar muito para ela. A porta rangeu e Jo entrou completamente despreparada para a visão que a cumprimentou. "Cutter!" ela exclamou tentando esconder uma risadinha ao ver seu irmão segurando Elizabeth com possessividade — como um homem faria ao segurar sua primeira sela. Verdade fosse dita, ela nunca pensou que veria este dia. No entanto... Elizabeth não parecia consciente com o que estava acontecendo. "Ela adormeceu." Sua voz era pouco mais do que um sussurro rouco. Jo foi para frente dela em silêncio, franzindo a testa. "Ela só adormeceu? Assim de repente? Eu não acredito Cutter — o que você fez com ela?" Cutter levantou uma sobrancelha. "Não importa! Deixe-me ajudar você a acordá-la para que eu possa levá-la para casa," Jo
sugeriu. "Você pode segurar a barra aqui no bar enquanto eu estiver fora." "Encoste um dedo nela, minha querida Josie e eu vou te colocar deitada no meu joelho e te bater. Você não é tão velha pra apanhar." "Isso pode funcionar de duas maneiras." "Sério?" Cutter falou lentamente, seus lábios insinuando um sorriso beligerante. "Você acha que consegue fugir do meu joelho magrelo?" Ele balançou a cabeça. "O fato é, que esta impetuosa tolinha está determinada a contratar um marido, e tenho em mente poder ajudá-la. Momentaneamente estupefata, Jo simplesmente acenou com a cabeça. Não parecia ser seu cínico irmão tendo tanto interesse em alguém. Sua aparência jovial não a enganava. Ela conhecia a animosidade que ele escondia por trás de sua fachada. Ainda assim, ele parecia mais despreocupado, desta vez mais do que nunca, e ela tinha uma forte suspeita sobre o motivo. Era só um palpite, porque Cutter não era fácil de ler e entender. Você não está ainda agarrada àquela idéia do seu casamento, não é?" Por outro lado, ele parecia conhecê-la muito bem. Algo nos olhos de Jo se esmaeceu com a afirmação tranquila e polêmica de Cutter. "Achei que você poderia," ele disse. "Você é muito sentimental, Jo — deveria ter vendido a maldita coisa há anos." Ele sabia que Jo queria uma família própria, mas não havia muitas opções para uma mulher mestiça. Jo era uma lutadora, mas que não parecia ter muita garra quando confrontada com a questão de sua filiação. Ela tinha se casado, mas no momento em que o marido que parecia um lírio branco tinha descoberto a sua linhagem, ele a deixou rapidamente, sem nem mesmo se despedir. Infelizmente, Cutter suspeitava que nem mesmo o que ele tinha feito a tivesse impedido de amar este homem tolo. Jo deu dê ombros, disposta a discutir o assunto doloroso. "Você se importa de emprestar para nós?" Jo voltou a sufocar uma risada surpresa. "Nós?" "Nós." Ela deu-lhe um olhar de relance. "Claro que não," ela disse depois que viu que ele estava falando sério. "Só não vai perder." Cutter levantou sua mão direita. "Palavra de honra" assegurou. "Agora, por que não pega para mim." "Você quer que eu pegue agora?" "Não foi isso que eu pedi?" Tomando cuidado para não acordar Elizabeth, Cutter levantou-se, colocando-a por cima do seu ombro. "Cutter..." Jo olhou para Elizabeth. "Você não vai partir esta noite, certo?" Quando Cutter não respondeu, o olhar dela voou para os olhos dele. "Por piedade, ela está dormindo!" "Tente, completamente bêbeda," ele respondeu, desgostoso consigo mesmo por permitir que ela tivesse ficado assim. "Vá pegar o anel para mim e fique de boca fechada enquanto faz isso."
"Ah, Deus! Ela não sabe, não é? Não me diga — você ofereceu e ela recusou?" Cutter deu-lhe um olhar de aviso. Ela balançou a cabeça. "Você nunca foi de aceitar não como resposta, mas você realmente deveria considerar. Você não está só carregando ela por aí, você sabe." “Aonde eu vou levá-la de qualquer maneira?" ele perguntou, segurando Elizabeth possessivamente. Ela se virou para ele, com uma expressão de surpresa no rosto, as mãos nos quadris. "Deus, Cutter! Você não sabe para onde? Eu — eu não sei... Não acho que eu deva deixar você levá-la — deixe-me falar com ela primeiro." Cutter deu de ombros e levantou a cabeça de Elizabeth. "Fique à vontade." A expressão de Jo permaneceu incrédula quando ela foi para perto de Cutter e apertou o ombro de Elizabeth suavemente. "Elizabeth..." Elizabeth soltou um suspiro delicado, então se aconchegou mais confortavelmente nas costas de Cutter, e Jo balançou seu ombro com um pouco mais forte. "Liz," ela tentou persuadi-la, "acorda, querida." Ela deu um tapa no ombro de Cutter em frustração. "Tudo bem, que bebida você deu para a pobre menina?" "Não dei nada," Cutter assegurou-lhe. "A mulher só não pode beber, é tudo. Agora, deixe-a em paz e vai buscar aquele anel, por favor." "Elizabeth!" Jo continuou a chamá-la Finalmente, Elizabeth abriu um olho com grande esforço. "Elizabeth... Cutter quer —" "Cutter?" Elizabeth suspirou, esfregando a bochecha dela contra o colete do cortador. "Sim, Cutter! Ele quer —" "Mmmmmmhhhh" ela murmurou, aconchegando-se satisfeita. "Cutter... ele é tão quentinho," ela concluiu com um suspiro. Sua cabeça se virou e ela fechou o olho, terminando sua conversa unilateral de uma vez por todas. Sorrindo, Cutter se virou em direção à irmã frustrada, um brilho em seus olhos. "Satisfeita?" Jo deu de ombros. "Agora, qual é o destino?" "Porque eu diria para você?" Jo perguntou. "Parece-me, irmão querido, que se Elizabeth quisesse que você soubesse, ela teria lhe dito ela mesma." Os olhos dele pareciam furar os dela. "Se você não disser, eu simplesmente vou... e provavelmente vou perder um bom tempo andando na direção errada. Além disso, Jo acho que você se importa com essa garota e eu sei que você não quer que ela contrate tipos como Dick Brady — ou qualquer outro mal-educado." "Por que não espera até amanhã?" Jo pediu razoavelmente. "Vou falar com ela. Ela vai me ouvir, se eu —" "Porque ela é uma cabeça de mula, Jo. Posso ver nos olhos dela. Ela vai dizer não, e então ela vai contratar Brady. Sou melhor do que ele, você não acha?"
Jo suspirou com resignação. "Você está certo — como de costume. Mas desta vez acho que você está indo mais longe do que o normal." Ele riu. Jo balançou a cabeça. "Você está rindo agora," ela lhe disse. "Mas ela vai ficar muito brava, Cutter. Você não conhece Liz como eu. Ela é teimosa, mas tirando isso, ela tem o temperamento mais estranho que já vi. Ela teve que aprender a sobreviver desde que seu pai morreu. Mas" ela interrompeu, "se você está tão determinado é para St Louis que você deve ir — deixe-me ir lá em cima e arrumar uma mala com algumas das minhas coisas para ela. Espero que você saiba onde está se metendo," ela disse antes de deixá-lo sozinho com Elizabeth. Cutter não perdeu tempo pensando no alerta da sua irmã, nem na obtenção do consentimento de Elizabeth. Ele esperou não mais que dez minutos antes de Jo finalmente aparecer carregando uma mala. Vendo que ele já estava montado no cavalo e tinha as mãos ocupadas, ela colocou os sacos ao lado da sela, cheios de comida, um cantil e alguns outros itens indispensáveis. "Seus óculos estão lá dentro." Jo disse, indicando os alforjes. "Encontrei-os na minha mesa. Mas não consegui encontrar nenhuma roupa que ela usaria — apenas uma blusa — e há um pouco de dinheiro, também. Sei que você não precisa dele," ela disse, antes que ele pudesse protestar. "Mas nunca se sabe. Dê a Elizabeth. Devo-lhe, de qualquer maneira." Ela olhou para o irmão. "Só para constar... Eu pensei sobre isso lá em cima, e tenho certeza que você está fazendo a coisa certa. Isso só me pegou de surpresa, é tudo. Se você não tivesse se oferecido, acho que eu pediria a você de qualquer maneira." Ele sorriu, dando-lhe um aceno. "Eu suspeitava disso." Os olhos de Jo ficaram nublados; ela odiava o fato de passar tão pouco tempo com o irmão. Mas neste momento Elizabeth precisava mais dele. Ela aceitou esse fato... apesar de fazer muito tempo desde que eles tinham se encontrado, e ele ser a única família que ela ainda tinha, e dele ser a única pessoa que alguma vez cuidou dela. Seu pai tinha deixado o pouco que tinha ganhado como caçador para Cutter, e Cutter tinha usado cada centavo para ela. Para o Salão Oásis. Ela o amava intensamente por isso. Mas ela sabia que ele voltaria. "Cuide-se, meu querido." Ela acariciou seu joelho o afagando carinhosamente, depois recuou, seus dedos brincando com a franja de sua calça. Ela balançou a cabeça melancolicamente. "Você sempre tem que usar pelo menos uma peça para que as pessoas saibam: calças, colete, alguma coisa só para fazer você parecer mais... Índio." Ela deu-lhe um olhar de súplica. "Eu juro, Cutter, se você só usasse roupas normais, ninguém saberia." “Jo." Foi só uma palavra lacônica, mas ela dizia muita coisa. A discussão era sobre Cutter. Ela sabia que ele não gostava do fato de que ela tinha virado as costas completamente para a sua herança, mas ele respeitava a decisão dela. Ela tinha que respeitar o pensamento dele — mesmo que isso
significasse que isso pudesse significar que um dia ele poderia levar uma bala nas costas. Existem muitas pessoas que não lidam com respeito em relação a "raças." Cutter não fugia de sua herança, e ele não parecia índio também. Ele só parecia apreciar esse pequeno ato de rebeldia. Bem, ela consolou-se, pelo menos ele não parecia muito fora do lugar. Muitos homens de descendência anglo-saxônica usavam camurça, a diferença é que eles não eram metade "Índio" e não corriam risco ao usar. "Eu vou enviar um telegrama para St Louis," ela se ofereceu. E então sua expressão de repente ficou grave. "E não perca o meu anel!" Olhando para baixo, quase melancolicamente, para o objeto de prata brilhante que segurava entre os dedos, ela colocou abruptamente em sua mão. Sem olhar para ele, Cutter o escorregou para o seu bolso, sua mandíbula tensionada. Ele não contava com a raiva que ele sentiria só de ver novamente a coisa. "Até logo," ele disse ajustando a aba do chapéu. Então, forçando a aspereza de sua expressão, ele piscou para sua irmã. "Em breve," Jo concordou e ele gentilmente agarrou as rédeas e saiu, segurando protetoramente Elizabeth. Cutter odiava deixar Jo assim como ela odiava vê-lo ir. Mas pela primeira vez, ele sabia que ele a deixava em mãos capazes — as dela própria. Jo podia cuidar de si mesma — sempre tinha sido capaz, bastava ver a aparência dela. Ele nunca tinha percebido até agora. A memória de como ela tinha tratado Brady trouxe um sorriso em seus lábios. Apesar dele ser o mais novo dos dois, ele pensava nela como uma dependente, mas já não era assim. Será que ela tinha sido? Ou ele era simplesmente muito protetor? Jo sempre dizia que ele era. Ela nunca reclamou abertamente, mas ele suspeitava que ela ficasse um pouco magoada por sua falta de confiança nela. O tom da voz dela demonstrava isso. Seu olhar passeou ao longo da rua tranquila. Como de costume, as únicas luzes vinham de alguns bares e bordéis que ainda estavam em pleno vapor. Mais a maior parte da cidade não ia dormir tão tarde, então os edifícios estavam escuros, com as luzes apagadas. Havia menos de uma meia-lua para se ver fora dos limites da cidade. Mas era o suficiente. Ele pretendia seguir o Rio Grande até Sioux City e então o Missouri — pelo menos uma parte do caminho — e apenas o cheiro da água seria o suficiente para mantê-lo na rota certa. Em sua opinião, St Louis, com a carga que ele estava levando, levaria pelo menos uma boa semana de cavalgada, mas ele sabia que seu cavalo da raça Palouse poderia lidar com a jornada com bastante facilidade. A questão era, será que ele poderia? Quando ele chegou à periferia da cidade, ele tocou as esporas em seu cavalo, para acelerar o ritmo, ansioso para colocar a maior distância entre eles e Sioux Falls, o máximo possível quando Elizabeth despertasse. Ele não sabia quanto tempo ele ainda tinha. Uma hora? Duas? A noite toda? Quem saberia? O fato de que ela estava um pouco bêbada iria trabalhar a seu favor. Na maior parte, uma pessoa dormindo por estar bêbada tinha um sono profundo e quanto mais ela dormisse, seria
melhor. Uma vez que eles estivessem longe o suficiente, ela poderia criticar tudo o que ela quisesse, mas ele sabia que não seria fácil para ela voltar para casa. De repente as mãos dela deslizaram até suas costelas, distraindo-o e seu batimento cardíaco acelerou-se com a sensação da pequena palma de sua mão através da sua camisa. Luxúria o cercou enquanto seus dedos o esfregavam quase imperceptivelmente, o suficiente para deixá-lo louco apesar de ter sido apenas um instante. Com um gemido torturado, Cutter cobriu sua mão com a sua, acalmando seus movimentos durante o sono. Ele olhou para ela. A pequena luz da lua polvilhava pó prata sobre os cabelos finos de Elizabeth, fazendo-o parecer ainda mais leve. Fazia sua pele parecer pálida, também. Quase translúcida. Dormindo, sua aparência estava mais branda, mais delicada. Maldição, se ele pudesse entender como ela podia ficar com o cabelo puxado para trás e trançado tão fortemente. Impulsivamente, ele procurou e encontrou os grampos, removendo-os um por um. Os dedos delicadamente desfizeram a fita que prendia sua trança. Desamarrando-a, ele enfiou os itens no bolso junto com o anel, pensando em devolvê-los a ela mais tarde. Lentamente, metodicamente, ele despenteou seu cabelo, passando os dedos pelos seus cachos de seda até os fios ficarem totalmente livres explodindo na brisa suave. "Assim é outra coisa," ele murmurou. Mas ele não conseguia manter seus dedos distantes de passear ao longo do cabelo dela, várias vezes. Nada nunca tinha sido tão bom e gostoso para seus dedos calejados; ele se espantou que algo assim pudesse estimular sua carne tão marcada pela vida... mas estimulava, como penas sobre pedra. No momento sua cabeça descansava levemente na dobra do seu braço direito, e as pernas dela estavam balançando sobre sua coxa esquerda. Ele balançou a cabeça enquanto olhava suas saias volumosas, pensando que elas iam lhe dar dor de cabeça. Ele poderia jurar que ela estava usando um tamanho três vezes maior do que seu manequim. Seu corpo se perdia e se escondia nas dobras. Resistir ao impulso de levantar a bainha rasgada e ver por si mesmo, o fez se sentir ainda mais tenso. Ela parecia tranquila deitada nos braços dele, mas com o tempo passando, não havia nenhuma paz para Cutter. Ele sentia o sangue zumbindo através de suas veias e uma batida na sua cabeça, uma que o assombrava. Às vezes, na sua mente, ele podia se ver quando ainda era jovem, seu cabelo longo escuro e trançado, vestido com calças de camurça e mocassim, em pé sob a lua, ouvindo os sons da noite; a mãe dele se lamentando, seu pai bêbado, sua irmã de pés descalços correndo com medo pela floresta escura. E ele mais uma vez sentia a afluência de seu sangue, ouvindo os espíritos o chamando... e procurando sua paz no seu sangue nativo. Essa incrível sensação às vezes ainda o oprimia. Era algo que a irmã dele desesperadamente relutava. Conforto para ela era negar o legado de sua mãe; esquecer a língua, junto com tudo mais
que a mãe deles lutou tanto para instilar neles. Seu pai a tinha treinado muito bem. Mas Cutter recusou-se a esquecer. Você sempre tem que usar pelo menos um pouco do que sabe... Assim que ele olhou para a franja da manga de sua jaqueta, seus lábios se torceram cinicamente. Era um lembrete de que não importava o quanto firme ele parecia plantado no mundo dos brancos, sempre haverá uma música em sua alma — esse espírito que ele não podia negar não mais do que ele não podia ficar sem respirar. Era tão indescritível, como o som do uivo solitário de um lobo para a lua — ele gostando ou não, parecia ser o mais certo do que qualquer outra coisa. Tão certo quanto ele desejava ter essa mulher em seus braços, para querer enterrar-se profundamente dentro dela, alimentar sua fome implacável e protegê-la. Se contorcendo em seu colo, Elizabeth suspirou levantando a cabeça levemente. Os dedos dela se enrolando no botão frontal da camisa dele, e seu corpo reagindo adequadamente. Ele fechou os olhos, tentando se controlar, mas foi a coisa errada a fazer, porque em sua mente, ele a viu arrancando sua camisa, estourando os botões, beijando seu peito. Ele se viu soltando as rédeas, pegando a cabeça dela em suas mãos, colocando seus lábios nos dela. Quase febrilmente, ele a beijaria, lambendo a carne de seus lábios e pescoço, lembrando do sabor dela. Em sua fantasia, os olhos dela se abririam para encontrar os dele. Jogando sua cabeça de volta como uma deusa pagã, ela o convidaria sem palavras. Ansiosamente ele desabotoaria sua blusa. Sua mão amassaria suavemente sua carne e, em seguida, cairia para um seio aveludado. Com um gemido, ele imaginou como ficariam contra sua pele escura, os suaves globos brancos iluminados pela pálida luz da lua. "Tão escuro," ela sussurrou, surpreendendo Cutter de sua fantasia. Parecia quase à voz de uma criança melancólica, e ele estremeceu. Ele sabia que ela estava sonhando, porque seus olhos ainda estavam fechados. De qualquer maneira, ele diminuiu o trote do cavalo, na esperança de embalá-la de volta em um sono profundo com uma marcha mais lenta. "Shhh," ele murmurou, martelando seu coração — depois do efeito de sua imaginação fértil. "Está tudo bem," ele sussurrou com a voz rouca. Ele retirou o anel do bolso e colocou no dedo dela. "Você está comigo," ele disse e enquanto falava, sentiu a verdade dessas palavras e deu um suspiro satisfeito, sentindo-se mais satisfeito do que ele se sentia há muito tempo. Isto estava destinado.
CERTO COMO A CHUVA. Elizabeth aconchegou-se contra ele, enterrando o rosto no seu braço. Ele podia sentir a forma dos seus lábios através de sua camisa, e a batida de seu coração se intensificou. "Mmm," ela disse com um sorriso em seus lábios e Cutter, com uma carranca, começou a imaginar com quem ela pensava que estava.
"Muito escuro," ela choramingou. "Por favor..." Quase com ternura, como ele faria com uma criança, ele tirou o cabelo do rosto dela. "Por favor, o quê?" Ela gemeu alguma coisa ininteligível e, em seguida, choramingou novamente. O som lúgubre embrulhou seu estômago. Ele a sacudiu, embora não com força suficiente para acordá-la, apenas o suficiente para fazê-la falar novamente, querendo ter certeza que ela estava bem. "Lizbeth?" "Hum — para — mim..." Hum? Cutter franziu a testa. Ela queria que ele cantarolasse? Balançando a cabeça em perplexidade, ele deu de ombros, pensando que valeria a pena tentar se mantivesse seu silêncio. Ela recostou-se contra ele, como se ela de alguma forma se sentisse segura. E pela primeira vez em anos, Cutter cantou a melodia que ouvia sua mãe cantar quando ele era uma criança. Enquanto ele cantarolava, ele olhava para ela de vez em quando para verificar se ela ainda dormia. Jo tinha avisado para ele que ela ficaria furiosa. Quão louca ela ficaria? Com um sorriso, ele decidiu que ele gostava do brilho dos olhos dela quando ela estava com raiva e ele não podia esperar para ver a expressão dela quando acordasse. Ele continuou a cantarolar baixinho, lembrando e interpondo palavras no dialeto dos Cheyennes, uma frase aqui, uma frase ali, e Elizabeth foi completamente subjugada pelas vibrações que vinham de dentro do seu peito. Absorvido como Cutter estava com seus pensamentos na mulher sobre seu colo, ele não antecipou o soco de cotovelo na sua virilha. Tinha sido um movimento, com pouca força, mas o suficiente para ser impactante... Ou simplesmente dolorido. Por um breve segundo seu queixo caiu, como se ele não pudesse acreditar no que ela tinha feito. Resistindo ao impulso de saltar da sela, ele apertou a mandíbula sobre a dor que martelava suas “jóias” e ele mal ouviu as palavras que ela resmungava. "Gritos... não no quarto." Alheio à dor que ela tinha lhe causado, e sem esperar para ver aquele grito, ela suspirou em seu sono, se mexendo para ficar mais confortável. Esmagando a vontade de gritar em agonia, Cutter conseguiu segurar as rédeas enquanto ele pegava o braço dela e delicadamente recolhia seus pertences. Mesmo o menor movimento agravava a sua dor. Segurando a respiração dele por causa da dor, ele conseguiu levantar-se um pouco nos estribos, procurando desesperadamente uma posição tolerável. Não podia acordá-la — droga, não podia acordá-la — também não podia tirá-la de onde ela estava!
As mãos dele estavam ocupadas com outras coisas, ou ele teria se protegido. Se Elizabeth não estivesse no cavalo, ele iria se jogar no chão — e rezar por uma morte rápida. Diabos, se a mulher maldita não estivesse no colo dele, ele não teria esta maldita dor para lidar! Suor formou gotículas na sua sobrancelha, e as palmas de suas mãos estavam pegajosas quando ele segurou Elizabeth para ela não escorregar. Pouco antes dele ficar azul por falta de oxigênio, ele respirou profundamente, engolindo o ar doce da noite. Incapaz de manter sua posição por mais tempo, ele sentou-se novamente apertando os músculos da coxa contra o movimento do seu Palouse. E com braços que de repente sentiam falta de força, ele conseguiu mudar a posição de Elizabeth, e colocar sua nuca aninhada contra seu peito. Incrível, mas ela continuava a dormir alheia à sua crise. Apesar das manobras que ele tinha feito para sentá-la direito. Apesar da dor que ele continuava a sentir. Porra, mas seria uma boa idéia tirá-la logo que possível da sua própria montaria. Cada solavanco e salto serviam para incitar Elizabeth a um miserável estado de vigília. Ela não queria acordar. No fundo, algo lhe advertia contra ele. Ela rezou por misericórdia, mas o movimento continuou, balançando-a, até que ela já não podia ignorá-lo. A cabeça dela se sentia como se ela tivesse sido pisoteada por uma manada de búfalos, ela pensou amargamente. Espiando através de seus cílios, ela fez uma careta para a luz brilhante que esfaqueava suas pupilas, fazendo com que a cabeça dela parecesse que ia arrebentar.
ONDE ELA ESTAVA? Mais cedo ela tinha se feito essa mesma pergunta quando ela se tornou ciente do fato de que seus braços estavam sendo espremidos, sua panturrilha moída, suas costelas esmagadas. Ela estava morta e tinha ido para o inferno? Certamente ela se sentia torturada. E ela não estava confortavelmente em sua cama, isso estava claro. A realidade enviou um flash de alarme através do seu corpo. A última coisa que ela se lembrava, era estar sentada no escritório de Jo... com o irmão dela incrivelmente arrogante. Os olhos dela se abriram para encontrar-se sentada, montada em um cavalo na orvalhada luz do amanhecer, suas saias volumosas, fechadas ao redor de suas pernas, uma mão firme, explorando suas costelas. Seu coração se acelerou e a respiração ficou presa, suas dores ofuscadas pelo momento. Quem quer que ele fosse, era alto. E ela soube por que seu queixo estava descansando no alto da cabeça dela. Ele fungou, ao ver que ela tinha acordado, e uma onda de pânico correu através dela. Elizabeth não conseguia pensar direito. Tudo o que ela conseguia pensar era que ela estava em um cavalo estranho — com um homem estranho montado atrás dela.
Atraindo um fôlego de coragem, ela deu uma cotovelada no monstro. Ele resmungou, liberando-a, e ela tentou atirar-se do cavalo em trote. Mas sua perna estava muito lenta para dar o pulo, e quando o fez, um braço a apanhou firmemente pela cintura. Lutando contra sua posição, seu coração batendo forte, ela começou a se torcer descontroladamente em seus braços.
4
I gnorando o golpe Cutter conseguiu manter preensão em Elizabeth até que ela chegou perto de sua orelha e deu-lhe um soco. Com um grito rouco, ele a largou apenas o suficiente para ela ficar numa posição firme. A mulher era nervosinha! O que diabos ela achou que estava fazendo atirando-se de um cavalo em movimento? "Filha de uma —" ela estava caindo, e não havia nada que ele pudesse fazer! O mínimo que ele podia fazer era tentar impedi-la de cair sob os cascos, embora ele provavelmente quebrasse seu maldito pescoço no processo. Se lançando com ela, ele impulsionou os dois para longe do cavalo assustado, e ele caiu no chão com um gemido. Maldita seja — mulher maluca! Como um gato selvagem, ela ainda estava lutando para ficar livre dele. Será que a idiota sabia que ele estava tentando ajudá-la? Que eles estavam em perigo e poderiam levar um coice? Aparentemente não, ele concluiu quando ela prontamente deu-lhe outro soco. Ele rolou para a direita, tentando se afastar do casco do seu cavalo, seus braços fechados sobre ela protetoramente. Acima deles, o cavalo empinou em cima de suas patas e ficou a poucas polegadas da parte de trás da cabeça de Cutter. Ele rolou mais uma vez, uma manobra instintiva, quando o Palouse estabilizou-se e afastou-se para a direita deles. A força de seu impulso mandou Elizabeth precipitadamente para o chão. Um lado do seu rosto bateu no chão, e ela deu um pequeno grito de dor. "Ah mer—" ele não terminou o palavrão. A respiração saiu de seus pulmões quando ele rolou pousando em cima dela. “Você?" ela rosnou. "Me solta, seu cachorro!" Dividido entre querer rir por causa da grama que estava agarrada e movia-se com seus lábios e a raiva que sentia pela sua reação maluca, Cutter se conformou em ficar quieto. Apesar de todas as suas malditas camadas de roupa, ele nunca tinha ficado mais consciente do corpo de uma mulher sob seu próprio, cada curva, cada tentadora ondulação suave.
Caramba, como ele já tinha pensado que ela era magra? E os olhos dela, eles não eram de forma alguma dourados. Sem dúvida, tinha sido um truque da luz das velas, porque eles agora estavam marrons. Mas não era um marrom qualquer — era um marrom suave com faíscas de ouro âmbar irradiando nas pupilas escuras. Contra a sua vontade, sua respiração tornou-se difícil quando ele olhou para aqueles olhos lindos... aqueles lábios, fazendo-o se lembrar do sabor deles. Elizabeth encontrou dificuldade para respirar, mas tinha pouco a ver com o peso de Cutter, porque ele já tinha se levantado. Embora ela ainda pudesse sentir cada parte do seu corpo — seu peito largo, o corpo sólido; uma perna descansando na sua coxa direita, a outra apenas perto de sua perna esquerda... e algo entre as duas. Seu rosto brilhantemente colorido; porque ela sabia exatamente o que era aquilo. Ela era uma médica, e tinha visto essas coisas em algumas ocasiões. Mas foi o olhar intenso no rosto dele que roubou sua respiração. Seu maxilar estava tenso, suas pupilas dilatadas, suas narinas alargadas. "Eu — disse — sai — fora!" Ele saiu, e Elizabeth foi para trás, ficando a uma distância segura do irritante homem. Ela sentouse ereta, olhando para ele e cuspiu a grama de sua boca. Ela usou as mãos para tirar os pedaços que não tinham se soltado. Seu lábio palpitava, e o que era pior, ela pensou que tinha provado sangue! Examinando a mão, ela inalou profundamente quando avistou vermelho em seu dedo indicador. Ela deu um grito um pouco assustado e seu olhar voou até Cutter, mas ela não disse nada porque ela podia dizer pela sua expressão que ele também tinha visto, e seu olhar preto lhe disse que ela não queria ouvir nada do que ele tinha a lhe dizer. De pé em frente a ela, ele balançou a cabeça em sua direção, como se ela fosse uma tola. "O que diabos você está fazendo? Você quer nos matar?" "Eu?" Ela fungou sem nenhuma elegância, mexendo seus olhos tentando tirar para fora de sua cabeça a dor que não parava de martelar. A mão dela tremia enquanto ela as movia para sua têmpora, em um esforço maior do que ela estava preparada para fazer. "Você!" ela acusou. "O que você estava tentando fazer? E onde você acha que está me levando?" Ela olhou para ele novamente, ainda um pouco desorientada. À luz do dia, ele parecia diferente de alguma forma, talvez mais índio. Sinistro, definitivamente. Suas roupas eram as mesmas que ele tinha usado na noite anterior, exceto a bandana azul e branca que estava presa em sua testa. Parecia acentuar o comprimento do seu cabelo, e o tom moreno da sua pele. Gotas de suor pontilhavam acima da sobrancelha dele.
ESSA ERA A DIFERENÇA, ela pensou. Isso e o fato de que ele estava sem chapéu. Era incrível como essa pequena variação em seu vestuário tinha mudado todo o seu visual. Seu chapéu, seu único sinal da
civilização, obviamente tinha caído da sua cabeça durante a queda, porque ele jazia no chão a alguns passos de distância dos pés deles. Ela olhou para ele malevolamente enquanto balançava o pé dela, então dobrou seus joelhos cautelosamente, repetindo o ritual para o outro pé. Satisfeita que nada tinha quebrado abaixo de sua cintura, ela testou seus braços sob seu olhar atento, fazendo caretas por causa de uma pontada de dor no ombro. Tardiamente o olhar dela deslizou através da paisagem, vendo que não havia nenhum edifício, nada além do céu da manhã e de terreno descampado. A paisagem parecia um pouco estranha com o orvalho ainda no ar. "Onde diabos nós estamos?" "Calma, olhos brilhantes, eu estou apenas tentando ajudar." Colocando a mão no bolso, Cutter tirou um lenço limpo e colocou-o delicadamente na mancha de sangue do lábio dela. Ela recuou com o seu toque. "Estamos a caminho de St Louis," ele informou-a, dando-lhe um olhar preocupado. "Não se lembra de nada?" "St. Louis!" Esquecendo suas dores, Elizabeth se levantou, resistindo ao impulso de esfregar o corpo machucado por causa daquele sorrisinho irritante nos lábios de Cutter, e ela achava que ele lia seus pensamentos. Irritada ela deixou suas mãos caírem ao lado do seu corpo. A mente dela começou a juntar os pensamentos, tentando se lembrar dos eventos que a teria trazido a esta situação ímpia, mas por mais que ela tentasse não conseguia se lembrar de nada. Ela olhou-o com desconfiança. "St Louis"? Como uma erva daninha teimosa, um divertimento irritante voltou ao seu rosto e seu sorriso varria seus olhos escuros, embora ele não dissesse uma palavra, e apenas assentiu com a cabeça, fazendo Elizabeth ficar ainda mais irritada. Forçando uma respiração calma, ela olhou para a sujeira presa nas suas saias, na bainha rasgada e na blusa que já tinha sido branca, gemendo interiormente com a idéia de apresentar-se em St Louis, desta forma. Ela tentou de novo, os nervos dela rapidamente, atingindo um ponto de ruptura e disse, "Não me lembro." Seu olhar o desafiava, "Devo dizer... que eu me lembro de sua oferta, Sr. McKenzie... mas lembro-me também, de ter lhe dito não, obrigada. Mas tudo bem... digamos que eu tenha solicitado seus serviços...” Ela estava muito graciosa — ela falou a palavra com raiva "— de eu ter aceitado, mas não preciso de você para me acompanhar, afinal. Você pode me levar para casa agora." Seu sorriso aprofundou-se, e a raiva dela aumentou. "Você não entende inglês? Não quero que você me leve para St Louis! Eu quero que você me leve para casa neste instante!" Cutter abanou a cabeça. "Nós estamos longe demais para voltar. Além disso, eu estava contando com o dinheiro," ele disse. Ele andou em direção ao seu chapéu, bateu contra sua perna para livrá-lo da poeira e da grama junto com o orvalho. Os olhos dela se arregalaram incrédulo. "Não?" "Não."
"Não posso acreditar! Você tem que me levar de volta!" Ele colocou seu chapéu sobre sua cabeça, ajustando-o perfeitamente em sua cabeça, em seguida, foi em direção a seu cavalo, que estava esperando pacientemente, mordiscando a grama alta apenas a alguns passos de distância. "É verdade?" ele ofereceu sem se virar. Levantando as saias, Elizabeth marchou atrás dele, parando perto das suas costas. "É verdade!" ela declarou. "E por quê?" Ele ainda não se preocupava em virar de frente para ela. Em vez disso, ele se ocupava em alisar a sela e apertar os arreios. Nervosa, ela disse, "Porque sim!" Ela não sabia como dizer o que ela queria dizer. Porque você é um mestiço, Sr. McKenzie? Porque é impossível eu ter a guarda da filha da minha irmã com você posando como meu marido? Porque eu me sinto desconfortável na sua presença? Porque você é uma mula irritante! Porque você é bonito demais para minha paz de espírito? Não, nunca faria isso. Ela olhou-o zangada, frustrada, realmente não pretendia magoar os sentimentos dele — ele era irmão de Jo, afinal — mas ela não ia deixá-lo levá-la para St Louis. Como diabos ela conseguiu ficar tão bêbada que ela não se lembrava de tê-lo contratado? "Porque sim," ela surtou novamente, muito mais irritada com ela do que estava com ele. Ele fez um som estrangulado. "Você vai ter que inventar um motivo melhor." "Bem! Eu não tenho dinheiro para te pagar!" ela disse rapidamente. "Esta é uma boa razão?" Finalmente ele se virou para enfrentá-la. "Você não planeja me passar à perna, não é?" Uma sobrancelha dele levantou-se em censura.
"NÃO! Sim — quer dizer... Isso quer dizer, não tenho dinheiro comigo." "Uh-huh." Ele voltou sua atenção para a sela. "Você sabe o que acontece com impostores, não é?" "Eu-eu —" "Olha, você pode me pagar quando voltarmos, Miss Bowcock. Tenho algumas moedas podemos gastá-las se precisarmos." "Mas eu não tenho nada!" Elizabeth protestou. "Não tenho roupa! Nada! Não posso ir para St Louis!" Não com você, ela acrescentou silenciosamente. "Vou comprar tudo o que você precisa. Só adicionaremos ao custo do que você vai ter que me pagar," ofereceu se agradavelmente. "Você não acha um bom acordo?" Ela juntou seus dentes. "Não quero um vestido novo!" ela disse resistindo ao impulso infantil de bater os pés dela como uma criança rebelde. O homem a enfurecia além da razão! "E eu não quero este acordo! Só quero ir para casa!" ela disse com firmeza. Aparentemente tendo terminado os reparos na sela, ele virou para ela com um brilho determinado nos olhos. "O problema é, doutora... Jo já mandou um telegrama para St Louis para dizer que estamos
a caminho. Vão estar nos esperando. Temos que ir." Ele assentiu com a cabeça em direção a sua montaria. "Agora, suba. Vamos comer um pouco de poeira." Ele não ia levá-la para casa. Levou um minuto para Elizabeth se recuperar dessa revelação chocante. Ela abriu a boca para falar e então se calou novamente. "Jo?" ela perguntou finalmente. "É isso mesmo. Da onde você acha que surgiu esse anel no seu dedo?" Com essa declaração, Elizabeth olhou para a faixa de prata simples que agora enfeitava sua mão esquerda. O choque foi físico. Por mais que ela tentasse, ela ainda não se lembrava de nada. Certamente ela não teria se casado com o homem? Por piedade, ela nem o conhecia! Ela gemeu, num som angustiado. "Nós não estamos... nós não...!" O olhar que passou sobre o rosto dela era tudo menos cortesia. Ela parecia completamente assustada pelo pensamento de realmente ter se casado com ele. "Não vá ficar se achando o máximo, curandeira. Não estamos casados, só estamos fingindo," ele disse de um modo quase malcriado. "Me achando o máximo? Ah! Você! Como ousa falar comigo desse jeito! Você não tem esse direito!" Ela levantou o queixo dela, encontrando seu olhar duro. "Se — se você não vai me levar pra casa, eu vou, eu vou simplesmente andar! O bom Deus não me deu dois bons pés por nada!"ela informou-lhe com uma voz amarga. Cutter apenas encolheu os ombros. Seu peito se inchou, e Cutter fixou seu olhar no rosto dela, tentando não notar as ondas deliciosas de seus seios. O corpo dela tremia com raiva, seus olhos ardiam em chamas de fogo âmbar. "Diga-me qual o caminho para eu voltar para casa!" Ela ficou olhando enquanto ele se sentava na sela, antes de responder para ela. E então ele sorriu. "Você não sabe?" ele perguntou. Ele levantou o alforje, e escorregou sua mão dentro dele, pegando uma fatia enrugada de carne seca. Partiu-a ao meio, colocou um pedaço em sua boca, segurando-o firmemente entre os dentes como se fosse um palito de dente. A outra metade, ele segurou em sua mão, com a intenção de oferecer para Elizabeth. A expressão indignada dela era demais para ele. Ele riu. "Por esse caminho," indicando a direção correta para ela. Ele estava confiante no fato de que eles tinham ido longe demais para ela cobrir a distância a pé. Ele tinha certeza de que bem rápido ela ia ficar cansada o suficiente para ouvir sua razão. Os pés cansados e doloridos tinham um jeito de fazer isso com o corpo. A expressão dela era presunçosa, Elizabeth fez um grande barulho para limpar as saias e as mãos, como se estivesse se livrando de sua presença de uma vez por todas. Limpando discretamente sua parte traseira, ela então se virou na direção oposta da que ele havia indicado. A boca de Cutter se abriu quando ele viu que ela desafiadoramente marchava na direção para onde eles estavam indo. E ele quase começou a rir quando ele viu a marca de poeira da sua pequena mão firmemente plantada no seu traseiro esquerdo, mas o riso morreu em seus lábios, quando ele de
repente se imaginou colocando a mão sobre essa marca... de como ele se sentiria colocando sua palma da mão no seu traseiro. Tirando o chapéu com um gesto frustrado, ele balançou a cabeça, como se ele pudesse desviar seus pensamentos. "Você acha que eu sou tão ingênua, não é?" ele a ouviu murmurar. "Bem, você pode pensar outra vez, Sr. McKenzie!" "Bem, eu vou ser enforcado," ele jurou suavemente. E então ele riu, de repente, divertindo-se de que a pequena raposinha na verdade tinha achado que ele tinha mentido para ela. Ele pensou brevemente se ele deveria corrigi-la na escolha da direção e a resposta trouxe um sorriso diabólico nos seus lábios, porque ele tinha certeza que muito breve ela descobriria. Eles tinham cavalgado bastante esta manhã e seu cavalo estava pronto para respirar. Ele tinha a intenção de segui-la apenas até ela mudar de idéia e então ele a levaria para St Louis.
DESTA FORMA, não haveria nenhum desperdício de tempo. Na estrada havia apenas uma cidade pequena, mas grande o suficiente onde eles poderiam achar um lugar para pendurar o chapéu e deixar o cavalo descansado durante a noite... e talvez, se tivessem sorte, conseguir outro cavalo para Elizabeth. De alguma forma, ele não estava muito interessado que os dois continuassem montando o mesmo cavalo. Novamente, ele balançou a cabeça e sorriu, pensando do olhar de choque que ela usaria quando eles chegassem à cidade. Gatinha braba infernal!
5
Talvez ela estivesse muito envergonhada para admitir que ela não soubesse em qual
direção ele
tinha apontado? Maldita culpa que estava roendo suas entranhas. Uma carranca cruzou suas feições quando ele partiu outra metade da carne. Ele tentou dar um pedaço para ela, mas ela a recusou sem rodeios. Ele sabia que ela precisava de algum tipo de alimento, então ele procurou nos alforjes, retirando outro pedaço com a intenção de oferecê-lo novamente, acreditando que ela agora deveria estar faminta... e com sorte, tão faminta que iria ignorar seu orgulho feminino. Ele balançou a cabeça. Malditas fêmeas; você não pode viver com elas, e você não pode viver sem elas ou atirar nelas. Ele ficou olhando para ela enquanto ela andava. Ela certamente parecia uma mulher que pensava que sabia onde estava indo; os pés dela não vacilaram nem uma vez. Talvez ela fosse simplesmente para o lado contrário, ele decidiu. "Você está certa de que não quer uma carona?" ele perguntou, escondendo como estava se divertindo com a cena, enquanto ela, irritada, afastava a grama alta para fora do seu caminho. Eles não tinham outra opção para ir, mas ele mal podia esperar para ver a expressão dela quando passassem ao longo da cidade. "Obrigada, mas não quero sua ajuda, obrigada Sr. McKenzie — eu já fiquei muito tempo com você, chega!" Os ombros de Cutter se sacudiram com alegria. Ele nunca tinha entendido como uma mulher podia armazenar raiva por tanto tempo. "Cutter," ele falou com os lábios quase fechados. "Sr. McKenzie!" Elizabeth falou de volta através de dentes cerrados. A cada milha na temperatura quente, seu temperamento ficava cada vez mais irregular A cor cinza do céu da manhã tinha se tornado um azul sem nuvens, e o sol brilhava sem piedade. Ele balançou a cabeça em censura, seus lábios ligeiramente trêmulos com o riso. "Agora, Doutora, não tem necessidade de ser tão rude. Só achei que você gostaria do passeio, é tudo. Você está caminhando —“ olhando para o céu ele fez as contas na cabeça do tempo —"Ah... uma boa hora
e meia, pelo menos." E ela não sabia! Juntamente com a queda que ela teve o seu pé a estava quase matando. O rosto dela brilhava com raiva quando ela se virou para cima encarando-o. "Sr. McKenzie, por que eu montaria no cavalo com você? Para você poder me maltratar novamente? Por que eu deveria?" ela perguntou. Cutter ficou com o rosto vermelho. Diabos, ele tinha esquecido como ela tinha acordado e de repente se sentiu uma criança que tinha sido apanhada com as mãos no pote de biscoitos. Ele ficou totalmente sem palavras. Ele não tinha o hábito de abraçar as mulheres enquanto elas dormiam, mas ele não sabia como lhe dizer isso. E ele não tinha tocado em nada de importante — não muito, apenas uma perna e um braço ou dois, ele raciocinou. Ele só queria ter certeza de que ela tinha bastante carne em seus ossos... para a viagem. Ela parecia tão magra. Os minutos passavam enquanto ele pensava em como contornar a raiva dela, mas ele não conseguia achar uma maneira, então ele decidiu apenas esquecer o assunto. "Sirva-se você mesma," ele cedeu. Elizabeth deu-lhe um olhar arrasador. Tinha havido um tempo suficiente de silêncio entre eles e de alguma forma ela tinha conseguido esquecer o que eles tinham falado. Sirva-se você mesma? O que este homem queria dizer com esse comentário? Sirva-se você mesma? Nada neste passeio miserável lhe servia! Ela tinha perdido algo? Ela tinha estado tão perdida em suas próprias reflexões que ela tinha tirado ele de sua mente... quase que completamente. Ela estava muito consciente do fato de que ele estava bem atrás dela, seu cavalo trotando num passo bem lento, de lesma. Do jeito que ele a observava deixava-a ainda mais irritada, totalmente fora dela! De repente ele veio para o lado dela, se inclinado para frente na sela, seu antebraço repousando sobre o selim, seu sorriso irônico quando ele ofereceu-lhe a fatia da carne. Elizabeth não tinha percebido que estava com fome até que ele acenou a comida na frente dela, mas sua boca começou a salivar em antecipação. Ainda assim, ela olhou para a tira de carne como se fosse um pedaço de carne de cobra. O estômago dela resmungou em protesto quando ela não pegou a fatia imediatamente para comê-la, e ela olhou ansiosa pensando se ele tinha ouvido.
ELA VIU que ele ainda estava sorrindo — que o céu o amaldiçoasse! Ah, ela o desprezava. Que Deus a ajudasse! Elizabeth, que nunca tinha desprezado qualquer pessoa em sua vida — nem mesmo a mãe que a abandonou — realmente o desprezava! Dando-lhe a sua expressão mais letal, ela continuou a andar, mas ele não parecia nem um pouco
afetado pela sua negativa, o que a fez ficar mais irritada. Como ele ousava ser tão indiferente quando ela estava prestes a explodir em fúria! Porque ela deveria morrer de fome: só para irritá-lo? Sentindo sua presença ao lado dela, como um espírito, ela se virou, arrebatando a carne ainda estendida na mão dele. Empurrando-a com raiva em sua boca, ela mordeu uma fatia como se fosse a cabeça dele que ela estava arrebentando. Uma raiva como ela nunca tinha conhecido antes subiu em uma espiral através dela, fazendo com que sua visão escurecesse. Se ele rir... se ele der uma única risada sem consideração, insensível por causa de sua rendição... Cem palavras terríveis ficaram oscilando na ponta da língua dela enquanto ela andava vagarosamente para frente, cortando com os dentes e mastigando a carne seca. Como ela estava conseguindo se conter ela não sabia, mas ela conseguiu, porém com o peito cheio de raiva. Se ela fosse um pouco maior, ela poderia tê-lo arrancado da sela para conhecer seus punhos. Mas essa idéia parecia tão ridícula que ela meramente amaldiçoou-o sob sua respiração. Não demoraria muito, ela disse a si mesma com firmeza, antes que ela pudesse se livrar dele. E então, tanto quanto lhe dizia respeito, ela nunca precisaria pôr os olhos no homem novamente! Mas por que essa idéia pareceu incomodá-la? Ele não deveria incomodá-la de maneira nenhuma! Ela deveria estar pulando de alegria sobre a perspectiva... e ela ficaria, de fato, no momento que ela colocasse seus olhos em Sioux Falls. Ela olhou sobre o ombro dela, pegando seu sorriso arrogante — ela amaldiçoava esse homem! Olhando para baixo, ela observou, não pela primeira vez, que suas roupas estavam cobertas com grama e manchadas com a sujeira da estrada. Sua bainha rasgada arrastava-se no chão atrás dela. Ela pensou em como deveria estar seu visual. Ignorando os "porquês" da sua inquietação sobre esse fato, ela ponderou o que pensariam dela, suja como ela estava e sendo seguida por um idiota sorridente? Será que eles pensariam o pior? Para sua consternação, Cutter começou a assobiar e apesar de ser uma música bonita e ele ser afinado, não melhorou nem um pouco seu humor. Pelo contrário, piorou o seu humor. Claro que eles pensariam o pior! A estranha melodia era familiar, mas ela não conseguia se lembrar. Desesperadamente ela tentou ignorá-lo. Ela mal podia esperar para chegar em casa e tomar banho e foi esse o pensamento com o qual ela se consolou: um banho... Como seria maravilhoso se afundar numa banheira de água quente. Uma grande defensora da limpeza, Elizabeth amava seus banhos e tinha encomendado de um catálogo, uma banheira de porcelana, um dos poucos luxos que ela já tinha concedido a si mesma. Havia algo sobre o tratamento de enfermidades que se relacionava a se embeber uma vida inteira em água e sabão. Além disso, com o chão empoeirado que ela cobria atendendo em casa aos chamados dos seus pacientes, um banho era quase sempre necessário no final do dia. O banho a ajudava a se esquecer. Esquecer que seu querido pai já não estava ao redor a
cantarolando até ela dormir à noite. Por um tempo, depois que sua mãe se foi, ela teve medo do silêncio. Não tanto pela escuridão, porque ela nunca teve medo do escuro. Ela achava a escuridão bastante suave. Era do silêncio que ela tinha medo, porque no silêncio, ela estava sozinha. Então o pai dela se sentava em seu próprio quarto, ao lado do dela, e cantarolava para ele mesmo. Ela nunca tinha pedido para ele, mas ele sempre fazia isso. Para ela. Porque ele sabia — para tranquilizá-la e mostrar-lhe que ele ainda estava lá. O assobio de Cutter perfurou seus pensamentos, e novamente ela se concentrou no banho — um banho quente, um banho de limpeza. Seu pai, também, tinha sido um defensor da limpeza, e ela concordava com ele, apesar de não haver nenhuma evidência médica real que fundamentasse a limpeza como parte integrante de qualquer cura. Ela sempre limpava seus instrumentos antes de usá-los. Para ser franca, era a única coisa na qual o uísque servia — além de arranjar problemas para pessoas decentes. Para registro, esta manhã tinha sido um bom exemplo. Ela pesquisou a paisagem, preocupada. Nada! Afinal, nada parecia familiar para ela! Ela já tinha atendido bastantes chamadas nas casas que ficavam fora da cidade e ela já não deveria conhecer esta área? Mas para seu espanto, ela não reconheceu nada. Nada! Claro, ela se lembrou, era difícil ver por causa da grama alta. Pastagem era pastagem, afinal de contas e não havia muita diferença de um trecho para outro. Certo?
SIM, por isso ela não estava reconhecendo a área. Ela assentiu com a cabeça, como se para acalmar seus medos. E foi um choque completo quando de repente ela viu à distância uma reunião de edifícios desfocados, totalmente irreconhecíveis. Sua primeira reação foi tentar pegar seus óculos. E não os encontrou. Seus olhos se arregalaram apavorados. Como ela podia ter ficado tão absorvida em seus pensamentos que ela não tinha notado que estava sem seus óculos? Ela parou abruptamente, se virou para Cutter, mãos nos quadris. “Onde eles estão?" Cutter surgiu ao lado dela, sua testa se levantou em resposta a sua pergunta. "Onde está o quê?" "Meus óculos!" "Demorou bastante tempo para perceber que você não os estava usando, verdade?" Elizabeth ignorou sua resposta. Não era do interesse dele? Ela virou a palma da mão com impaciência, certa de que Cutter estava com seus óculos, e silenciosamente rogou-lhe para lhe dar de volta. Havia um brilho estranho nos olhos dele, quando ele olhou para a mão dela. Então seu olhar se desviou até os olhos dela. Eles eram tão escuros e a fixavam tão atentamente, que, por um momento interminável, Elizabeth sentiu que ele estava olhando direto para a sua alma, à procura de cada canto escuro para revelá-lo.
Sentindo-se insegura de si mesma, ela retirou a mão ligeiramente. O momento estava insuportável. Ela se sentiu totalmente exposta a sua análise, como se ele soubesse todos os seus segredos de alguma forma, cada medo, cada pequena dor no seu coração. Mais do que até ela mesma, mais uma vez teve a noção de que o homem estava com pena dela, e uma pontada estranha quase superou sua indignação. Quase. Um tremor atravessou sua espinha, quebrando o feitiço. "Bem?" ela perguntou. Corajosa, ela viu quando ele se virou e finalmente enfiou a mão no alforje, recuperando seus óculos. Sem falar, ela os aceitou, rapidamente colocou-os no rosto e se voltou para o aglomerado de edifícios à distância, esperando que eles ficassem reconhecíveis de alguma forma. A imagem só se tornou mais nítida, e o choque foi audível. Ela deu um grito um pouco assustada. Ela apontou para os edifícios. "O que é isso?" Cutter levantou ligeiramente a aba de seu chapéu, suas sobrancelhas subiram enquanto ele olhava especulativamente para os edifícios em questão. "O que," ele olhou para ela com zombaria, seu olhar imediatamente, revertendo para o dela, "não tenho muita certeza, Miss Bowcock, mas parece ser uma cidade." Sua boca ligeiramente levantada nos cantos, o que fez Elizabeth de repente alcançar seu ponto de ruptura. "Não é Sioux Falls, não é!" "Nunca disse que era." "Mas você... disse... e eu-eu pensei..." Dividida entre raiva e vergonha, ela gemeu, e as bochechas dela começaram a ficar vermelhas de novo. "Não acredito que você não me disse!" ela gritou em frustração. "Por que você não disse nada? Você sabia que eu estava andando na direção errada!" Para aumentar seu nervosismo, ele começou a rir estrondosamente e de repente Elizabeth não conseguiu se segurar. Ela atirou-se para cima dele, agarrando-o pelo braço e puxando-o para baixo com toda a sua força. Nunca ninguém a tinha enfurecido tanto! Para aumentar a sua raiva, ele mal se moveu da sela. Em vez disso, com seu braço livre ele a segurou do seu lado, enquanto ela puxava em vão seu outro braço. Chorando de frustração, Elizabeth começou a socar sua coxa. Seu riso se abrandou, e Cutter tentou agarrar os pulsos de Elizabeth, para salvar sua perna de qualquer lesão maior. Mas em sua fúria, Elizabeth foi mais rápida, e ele teve que segurar suas duas mãos. Sem aviso, ela se viu sendo içada do chão. Um braço a aprisionava enquanto ele simplesmente sentado ria com os lábios na massa esvoaçante de seu cabelo — outra coisa que ela não tinha notado! Como seu cabelo tinha conseguido se soltar de sua trança? Mas assim que ela teve esse pensamento, ela soube, e suas bochechas queimaram mais ainda com a certeza das liberdades que ele tinha tido com ela. O que mais ele poderia ter feito sem o conhecimento dela? E como ele ousava curtir com a
cara dela! Ela se mexeu, sem sucesso, tentando libertar-se do seu abraço impiedoso pela segunda vez no mesmo dia. "Pagão selvagem!" ela o acusou desta vez com fúria. Com as mãos presas por seu abraço, ela não tinha alternativa senão usar os dentes para ganhar sua liberdade. Ela atirou-se no pescoço dele, como uma víbora, mas o choque da sua carne quente masculina na língua dela a fez de repente parar com medo. Ou talvez tenha sido a reação de Cutter que a puxou para longe dele. Elizabeth não estava completamente certa. Tudo o que ela sabia era que ele tinha gosto de sal, um cheiro puramente masculino, um perfume tão intenso que seu corpo se descontrolou imediatamente em resposta. Ela se assustou tanto que ela simplesmente se sentou, olhando para ele em total perplexidade. Quando ele ouviu as palavras que Elizabeth atirou para ele, a alegria de Cutter cessou subitamente, e os olhos dele se estreitaram em cima da boca que quase tinha tomado um pedaço do pescoço. Na sua mente ele tinha o beijo breve que ele tinha roubado na noite anterior. E então sua mente se focou nesta palavra.
ROUBADO. Ela teria dado livremente. Ele cometeu o erro de olhar para os olhos dela, e seu estômago começou a revirar. Elizabeth estava olhando para ele, através dos seus óculos, como se ele fosse um roedor de duas cabeças. Ele sentiu a punhalada do preconceito muitas vezes antes, mas ela lhe falando insultos causaria cicatrizes que rasgaria e queimaria sua alma. Sua ira se inflamou. Por que ele pensou que ela seria diferente? Como ele pode se deixar esquecer? Porque ela era amiga da Jo? Ele deveria ter pensado melhor. E isso não devia incomodá-lo. Mas incomodou. Porque pela primeira vez em muito tempo, ele havia se permitido esquecer, por sentir-se fácil com alguém. Ele abaixou a sua guarda. O erro tinha sido dele, mas ele não faria isso novamente. "Eu não tentaria de novo," advertiu Cutter. Um calafrio saiu junto com as suas palavras, e ele olhou para ela. "Você tem uma maldita sorte por ser mulher." Apesar de sua calma exterior, havia um tom de ameaça em sua voz. Confrontada com a raiva dele, Elizabeth pareceu se envergonhar de sua explosão infantil. "Quão longe chegamos?" ela perguntou a contragosto, endireitando seus óculos. Por um longo momento, Cutter não conseguiu responder a sua pergunta tão simples. Ele devia voltar agora e levá-la de volta para Sioux Falls. Ainda assim ele não conseguiria fazêlo. Apesar de sua raiva, ele simplesmente não iria conseguir, e seu descontentamento com este fato queimava as suas entranhas. "Como eu disse antes, estamos longe demais para voltar para Sioux Falls. Se não estou enganado, aqui é Indian Creek. Você pode vir comigo, ou correr de volta para casa com seu rabo entre as
pernas. De qualquer forma, a decisão é sua, mas se você optar de voltar para casa, você vai sozinha." A mudança no seu comportamento era assustadora. Foi-se o mal-educado imperturbável. Em seu lugar apareceu outra pessoa totalmente diferente. O outro a provocava, a enfurecia, mas ela tinha hesitado em lhe responder a altura. Este homem, ela ainda não tinha certeza. Mas ela se lembrou que ele era irmão de Jo. Jo não deixaria nenhum mal lhe acontecer — nem mesmo por meio de seu irmãozinho. "Sei lá o que você pretende Sr. McKenzie? Você pode ser um lunático, ou um assassino." Seus olhos escuros, enigmáticos não revelaram nada. Ele assentiu com a cabeça lentamente, os lábios finos em desagrado. Sua mão pegou o braço dela, apertando com firmeza, mas sem dor. "É verdade. Mas você não acha que se eu quisesse lhe fazer mal, doutora... Eu já teria feito há muito tempo?" Seu tom macio a hipnotizou. Incapaz de parar de olhar para ele, ela engoliu, abriu a boca para falar, mas fechou-a de repente, sem palavras na sua língua. "Olha," Cutter disse, antes que ela pudesse reunir seus pensamentos. "Você não me conhece tão bem, isso é verdade, mas estou disposto a ajudá-la por nada — só Cristo sabe por quê! Você não pode dizer o mesmo de outra pessoa," ele disse sem rodeios. "Você não pode mesmo contar com ajuda de alguém sem pagar, porque quem vai impedi-los de tomar seu dinheiro e te mandar para o inferno? Talvez até mesmo colocar uma faca entre as suas escápulas — para garantir o seu silêncio?" Sua intenção era dizer a verdade brutal — toda a verdade — mesmo que a assustasse. Pela maneira de pensar de Cutter, Elizabeth precisava de uma dose de medo para fazê-la entender que não era um piquenique de domingo que ela estava planejando. Os olhos dela ficaram grandes como o punho dele apertado em cima de seu braço. Ela nervosamente tentou aliviar o seu braço, mas ele não soltou nem uma polegada. "Pare... por favor — pare!" ela gritou. "Você está me machucando!" "Bom. Eu estou te assustando, também? Com certeza espero que sim!" Sua mão livre achou o caminho para seus cabelos despenteados, os dedos ficaram em volta de seu pescoço para que ele finalmente soltasse seu braço. Seus olhos brilhavam perigosamente. "Porque eu odiaria ver isso —" ele puxou-a suavemente, trazendo-a para mais perto, para que seus lábios ficassem separados apenas por um sussurro "— pendurados em um cinto de couro cabeludo." Forçando sua atenção para longe de seus lábios, Elizabeth fez uma careta, encontrando seu olhar zangado. "E você não coleciona escalpos?" ela perguntou com mais calma do que sentia, e então ela murchou de repente quando um olhar estranho passou pelos olhos dele — dor — antes de sua mandíbula ficar tensa e seus olhos ficarem ásperos. Ele a largou abruptamente, e ela quase caiu do cavalo. Ela teve que segurar sua camisa para poder se estabilizar, mas o olhar dele não vacilou. Sua expressão era fria e orgulhosa. "Estou indo para a cidade," ele disse com uma voz suave, mas com um tom assustador. "E você
vem comigo, doutora. Tire a noite para pensar se você quer os meus serviços ou não." Seus olhos estavam negros, espumantes com fúria. "Então... amanhã de manhã bem cedo, eu vou esperar sua resposta. Você é quem vai decidir. Não pretendo te forçar, Lizbeth — ou implorar, também. A decisão é somente sua." Ele se inclinou para trás, atingindo os alforjes, tateando cegamente, sem tirar os olhos dela quando ele pegou uma pequena bolsa e colocou-a em sua mão. Assim que ela a pegou, ele a levantou colocando-a longe dele. Muito atordoada para falar, ela explorou o interior da bolsa com os dedos sem abri-la. Moedas. Ele tinha dado o dinheiro para ela. "Não posso aceitar isso," ela disse para ele. ”Fale com a Jo," ele disse. E, em seguida, ele reuniu as rédeas, inclinando-se brevemente contra as costas dela. Ela estremeceu, sentindo sua raiva em cada parte rígida de seu peito. "Se de manhã a minha resposta ainda for não?" ela perguntou, os ombros levantados levemente, sua expressão cautelosa. Ele se inclinou mais perto, seus lábios bem perto da parte superior de sua orelha enquanto ele falava totalmente sem emoção. "Então eu já disse tudo sobre o assunto que eu pretendia. Se você não tiver o bom senso de dizer que sim, Miss Bowcock... Não quero vê-la novamente. Use o dinheiro que Jo lhe deu para comprar uma passagem de volta para Sioux Falls." Tendo dito isso, ele tocou as esporas no seu cavalo, e ele começou a andar. A mão de Elizabeth pegou seus óculos, quando ela foi arremessada de volta para o peito de Cutter. Ela gritou com o impacto. Cutter, por outro lado, não soltou nem mesmo um grunhido quando seu corpo absorveu o golpe sem ceder uma polegada.
6
P assaram-se horas desde que Elizabeth tinha terminado seu banho e tinha apagado a lamparina, mas mesmo assim ela ainda não tinha conseguido dormir. Seus olhos estavam tensos das longas horas que ela estava tentando mantê-los fechados. Com um gemido, ela pressionou os dedos em suas têmporas, massageando-a suavemente. Por que ela não conseguia dormir? Ela queria... desesperadamente. E ela tinha tentado absolutamente de tudo, fazendo exercícios de respiração, mas sempre seus pensamentos se voltavam para Cutter. Não que ela estivesse esperando ouvir os passos dele passar por sua porta a caminho do seu quarto. Ela não iria ouvi-los de qualquer maneira, ela pensou irritada. O homem era muito ágil com seus pés. Ele provavelmente já estava dormindo no quarto ao lado, sonhando pacificamente, sem pensar nela. Como ele ousava invadir seus pensamentos tão profundamente! Eles tinham vindo para a cidade, sem dar uma palavra – um com o outro – e tinham ido diretamente para o único hotel que existia em Indian Creek. Cutter tinha conseguido os dois últimos quartos disponíveis, e deixou-a completamente sozinha. Para onde ele tinha ido, Elizabeth não sabia, mas ela não o tinha visto de novo, apesar de a cidade ser tão pequena como se fosse uma miragem. Pelo que ela tinha sido capaz de ver, Indian Creek consistia de um pequeno hotel, um banco, três bares — três, ela não queria acreditar; não um, não dois, mas três! — um armazém que vendia de botas até bacon e também servia como posto de correios e um pequeno estábulo. Ela tinha comprado um par de calças jeans masculina, porque essa era a sua única opção. Não importava, porque ninguém além de Cutter iria vê-la de qualquer maneira. Ela não viu nenhum consultório médico ou farmácia, e ela pensou como as pessoas da cidade faziam quando precisavam de ajuda médica. Ao todo, Indian Creek não era nem um pouco impactante, e não era a toa que ela nunca tinha ouvido falar da cidade antes, apesar do fato de que não ficava longe de Sioux Falls.
Porque eles chegaram muito cedo pela manhã, ela não podia simplesmente se isolar no quarto velho com cheiro de mofo que agora ela ocupava. A primeira coisa que ela fez foi descobrir onde achar uma refeição, que ela consumiu com a sutileza de um lobo voraz. Uma vez que a fome foi apaziguada, as coisas não mais pareceram tão sombrias e ela passou o resto do dia passeando pela loja escassa de produtos. Ela tinha comprado uma calça masculina, e sua justificativa era que sua saia estava rasgada. Além disso, ela disse a si mesma, que a saia dela era muito pesada para andar a cavalo. E ela comprou alguns outros objetos essenciais. Enquanto sua mente consciente xingava o homem, a inconsciente decidiu aceitar a oferta dele. Fazia sentido. E isso a fez pensar em outra questão. Porque Cutter tinha oferecido sua ajuda em primeiro lugar? Quais eram os seus motivos? Ele disse que ele a estava ajudando por causa da sua irmã. Mas isso não fazia muito sentido. Sua sobrancelha se levantou suavemente. Cutter McKenzie era totalmente errado para o lugar. Nada tinha mudado. Ele não seria um bom marido. E ainda assim... ele tinha feito bastante sentido esta manhã. Em quem mais ela poderia confiar? Não era uma questão de escolha; ela precisava, mais do que tudo, conseguir a guarda da preciosa filha de sua irmã. Ela gostava de ajudar os outros. Davalhe uma sensação de paz interior e foi por isso que ela quis tão desesperadamente se tornar médica, mas algo fundamental era a falta de ter uma vida privada... algo que a fazia se sentir vazia e com dor durante as horas solitárias. O que era realmente, ela não podia dizer, mas como um farol no meio da noite, a sobrinha dela a chamava. Para seu espanto, Cutter também. Eu teria notado você. Seu sussurro de seda voltou para assombrá-la. Será que ele teria? Ela se perguntava. Mas isso realmente importa? Não! Ela repreendeu-se, expulsando a voz dele. Como uma idiota frustrada, ela se virou para olhar para a porta. Ela tinha intenção de dizer para Cutter esta noite que ela ia aceitar a proposta dele... então eles poderiam começar bem cedo pela manhã. Mas neste ritmo, ela não seria capaz de abrir seus próprios olhos antes de meio-dia — maldito homem! Por fim, ela ouviu passos passando por sua porta, e sem pensar, Elizabeth jogou as cobertas para o lado e pulou da cama, esquecendo seus óculos na pressa. Ela ouviu vozes abafadas, mas ela reconheceu o sotaque inconfundível de Cutter. "Desculpe-me, minha querida... não esta noite... Aqui, pegue isso..."
ELIZABETH MORDEU O LÁBIO INFERIOR, tentando compreender o que ela estava ouvindo.
"Claro que sim, Cutter, querido," falou uma voz sensual feminina. "E eu sei fazer a coisa certa," sentenciou a mulher. "Não quero seu dinheiro... fique com ele... é por minha conta." Houve um profundo gemido e uma batida, como se algo ou alguém estivesse caindo contra a porta. A porta dela! Eles nem sequer tinham a decência de cair contra a porta do Cutter! Tinha que ser na dela, sério? "Agora... viu como foi fácil?" disse a mulher. "Agora, Bess... Bess. Ah que droga, Bess..." Cutter terminou sua queixa com um gemido, um som baixo e torturado. Seu coração batendo descontroladamente e sua mente tentando se recuperar, Elizabeth pressionou a orelha dela para mais perto da porta. Sem conseguir ouvir mais nada, ela abaixou-se freneticamente tentando espreitar pelo minúsculo buraco da fechadura. Ela sabia que era errado espionar, mas ela não conseguia se controlar. Na escuridão, ela não podia ver nada, e ela se sentiu frustrada. Mas ela podia ouvi-los suficientemente bem — lutando ruidosamente contra a sua porta! Seria muito bom, ela pensou, se ela abrisse a porta e expusesse os dois no meio de sua... de seus — do que eles estivessem fazendo! Mas claro, ela não estava com ciúmes! Que coisa ridícula! Ela e Cutter deveriam estar viajando como marido e mulher. Não deveriam? Se Cutter pensou por um instante que ela pretendia sentar e permitir-lhe trazer para casa mulheres como... como... como Bess, ele deveria pensar melhor! Como ele se atrevia a humilhá-la assim! "Agora, Bess... você tem que fazer isso aqui?" Cutter falou numa voz abafada, com uma rejeição frágil. "Bess...“ Bess deu uma risadinha de repente, o som claro e musical como o tilintar de sinos. "Claro que não," ela respondeu triunfalmente. Ouvindo Cutter gemer, Elizabeth tornou-se mais agitada a cada segundo que passava. "A chave está neste bolso, querido?" Houve um momento de silêncio e Elizabeth imaginou Cutter assentindo com a cabeça para a Jezebel sem vergonha. Gritos de frustração jorraram no fundo de sua garganta. "Mmmmm... bom... muito bom... Este aqui é o seu quarto?" Elizabeth não esperou para ouvir a resposta de Cutter. Ela tinha ouvido mais do que o suficiente! Ela abriu a porta. Cutter caiu juntamente com a sanguessuga do vestido vermelho. Seu chapéu caiu, aterrissando aos pés de Elizabeth. A sanguessuga gritou de surpresa, então falou um palavrão para Cutter que nunca deveria sair de lábios femininos. Bufando de raiva, ela levantou-se, limpou seu vestido com indignação. "Que diabos aconteceu?" Cutter, que tinha batido a cabeça no chão, simplesmente ficou deitado ali. Fechando um olho, ele gemeu penosamente.
“Cutter!” gritou a mulher de vermelho. Elizabeth recusou-se a ser intimidada. Não era ela que tinha rolado no chão tão descaradamente com o seu pretenso marido! Com as mãos nos quadris, confrontou os dois, num tom cáustico. "Sim, Cutter querido, conte o que aconteceu!" Cutter virou sua cabeça para olhar para Elizabeth, seus olhos brilhando. As linhas duras do seu rosto agora estavam mais leves, dando-lhe uma aparência quase pueril. Alívio percorreu seu corpo porque ela tinha ficado apavorada pensando que ele nunca a perdoaria por sua explosão mais cedo. Inacreditavelmente, ele sorriu para ela, um sorriso irresistivelmente devastador com nenhum vestígio de animosidade. Ele tinha mudado de roupa, e ele usava calças jeans no lugar da camurça. Sua camisa de cambraia era verde clara, fazendo sua pele parecer mais escura, e seu cabelo estava despenteado, uma bagunça. Um cacho ondulado caía descuidadamente na sua testa. Ele afastou-o dos olhos para revelar um olhar devastador. A respiração de Elizabeth se agitou. "Olá, Doutora," ele falou com uma voz arrastada. Elizabeth sorriu para ele, mas não havia nenhum humor em seu sorriso. Cutter estava bêbado. Ela poderia dizer pela expressão confusa do seu rosto. Além disso, tão bravo quanto ele tinha estado com ela de manhã, era simplesmente impossível ele olhar para ela como ele olhava agora — a menos que ele estivesse totalmente embriagado! "Cutter querido," ela disse em um tom suave. "Estou tão feliz por ter esperado por você acordada." Era tudo o que ela podia fazer para manter sua voz agradável. A raiva dela aflorando, ela se virou para dar um olhar contundente para a mulher. "Obrigada," ela disse com os dentes cerrados e da maneira mais agradável que ela conseguiu, "por trazer meu marido para mim. Mas eu acredito que agora eu posso cuidar dele."
O AMPLO peito de Bess inchou indignado, e ela olhou furiosa para Cutter. A testa de Cutter levantou-se com a declaração de Elizabeth, e então um sorriso se espalhou em seus lábios, tocando seus olhos escuros. Tirando seu olhar de Elizabeth, ele deu um sorriso torto para Bess. "'Receio que sim," ele disse confirmando. "Ela é minha esposa, com certeza." Ele assentiu com a cabeça se desculpando. O olhar da mulher se virou para Elizabeth examinando-a mais uma vez, avaliando-a astutamente, depois se voltou para Cutter com ira. "Bem, eu nunca!" ela exclamou. E com um floreio de suas saias de cetim, ela girou se afastando pelo corredor. Elizabeth ficou olhando até a mulher ser apenas um borrão vermelho no corredor escuro, em seguida, sua atenção voltou-se para o homem deitado aos pés dela. Metade dele estava dentro do quarto dela, a outra metade no corredor. Levantando a cabeça, Cutter ficou olhando Bess se afastar, assobiando baixinho. "Foi por
pouco!" De novo ele olhou para Elizabeth, seus olhos com exaustão... e alguma coisa mais. "Te devo uma, olhos brilhantes. Essa mulher louca não aceita um não como resposta." Com um grunhido e um suspiro, ele deitou a cabeça no chão. "Minha cabeça dói," ele se queixou. Elizabeth deu-lhe um olhar duvidoso. "Certamente não me pareceu que você estava lutando arduamente para fugir!" Cutter suspirou e fechou os olhos, e Elizabeth chutou-o com o pé descalço, irritada com ele. "Você é um ser desprezível! Levanta do chão!" Com algum esforço, Cutter abriu os olhos, reorientando o olhar dele. E então ele se virou lentamente para olhar os pés descalços de Elizabeth, em seguida seu olhar viajou até as pernas dela meio-escondidas pela camisola. De repente Elizabeth ficou pálida quando ela se lembrou o que estava vestindo — ou melhor o que ela não estava vestindo — e deu um suspiro assustado, cruzando os braços automaticamente para esconder seu seio. Os pés dela, por outro lado, não podiam se mexer. "O que diabos você está fazendo aqui vestida desse jeito!" ele gritou de repente, fazendo-a retroceder surpresa. Ele estava de pé antes de Elizabeth poder se refugiar nas sombras. "O que você achou que estava fazendo ao abrir a porta? Podia ser qualquer um!" Ele seguiu-a para o quarto e com sua bota chutou a porta para fechá-la atrás dele, olhando-a com desconfiança. Pegando o braço dela, ele colocou-a de frente para ele. “Você está louca, mulher?" A visão de Cutter desvaneceu-se momentaneamente com a perda de luz e, em seguida, retornou mais agudamente quando seus olhos se ajustaram à escuridão. Elizabeth só olhava com os olhos arregalados e a língua presa. Que diabos, Cutter pensou, se acalmando abruptamente. Como ele pode pensar que ela era magricela? Nem mesmo o que ele tinha descoberto no início do dia — quando ele caiu por cima dela — o tinha preparado para a realidade da mulher diante dele. Mesmo na luz fraca, ele podia ver através da camisola fina, a lavagem desgastada agarrada ao seu peito, abraçando a carne dela onde o pano a tocava. E sua calçola, apesar de um tamanho muito maior do que necessário, era demasiada translúcida para esconder muito. Seu olhar fixo no triângulo sombrio que ficava no ápice de suas coxas, e ele encontrou-se enfeitiçado por ela. A fome que tinha escapado de seu corpo quando a prostituta tinha ido embora agora tinha retornado, chocando-se contra ele com toda a força, e ele estava firme o suficiente para não lutar contra ela. Com um gemido, ele fechou os olhos, sabendo, instintivamente, onde isso iria levá-los, se ele não desviasse o olhar dele. Inclinando-se contra a porta, ele puxou Elizabeth. Sua cabeça caiu para trás, batendo na porta com uma batida. "Talvez," ela gaguejou, "v-você deva ir embora agora?" Houve um momento tenso de silêncio antes da cabeça de Cutter surgir novamente, seu olhar, perfurando-lhe através das sombras. Percebendo que ela estava sem óculos, ele se perguntou novamente por que ela usava óculos se não precisava deles. "Talvez," ele respondeu devagar,
enigmaticamente, sua mão mexendo em suas costas. "Mas acho que não vou." "M - mas-" "Shhh," ele disse, sua mandíbula tensa. Um músculo contorceu-se na sua bochecha quando ele lutou para se controlar... e perdeu. Ele afastou um fio de cabelo de seu rosto, seus olhos sensuais. "Você sabe o quanto eu pensei em você... assim como você está?" Elizabeth acenou com a cabeça com trejeitos bobos. Enquanto a mão dele subia pela sua coluna, ela começou a tremer — mas não era medo, era porque o corpo dela de repente ficou muito tenso, dolorosamente consciente do homem a quem ela estava pressionada tão intimamente. "Não?" ele sussurrou rispidamente, respondendo por ela. "Então por que não me deixa te mostrar, olhos brilhantes." Sua mão subiu por trás do pescoço dela, segurando firme quando ele inclinou a cabeça lentamente para lhe dar um beijo. Seus lábios primeiramente a beijaram levemente enviando gloriosas ondas de choque através do corpo de Elizabeth. Os aromas de tabaco e uísque a envolveram e ela inalou profundamente, respirando os aromas juntamente com outro mais evasivo... e excitante. Em resposta, seu íntimo se agitou imediatamente. Era como se ela estivesse faminta, de alguma forma, do que ele pudesse lhe dar, todos os seus sentidos regozijando-se... e finalmente despertando, depois de um sono sem fim. Então seus lábios se encontraram e ela se perdeu irremediavelmente neste momento. Senhor misericordioso, ela nunca pensou que poderia ser tão divino beijar a boca de um homem. Às vezes ela tinha espiado amantes em um abraço, mas somente agora, neste momento, ela compreendeu a urgência, o anseio, que os guiava. O seu corpo tinha uma vontade própria, Elizabeth pensou descontroladamente, e ela não podia pensar em nada enquanto Cutter sugava seus lábios. O choque deste ato era físico, enviando convulsões ao longo de todo o seu corpo. Cutter perdeu-se na doçura do beijo. Em seu estado meio bêbado ele não podia tornar o momento mais significativo por causa das consequências que poderiam acontecer mais tarde. Ele só podia sentir. Embora ele conhecesse Elizabeth apenas há vinte e quatro horas, parecia que ele tinha esperado toda uma vida para chegar precisamente neste momento. Muito tempo. E ela não estava lhe resistindo. Sugando sua boca fresca, doce, através dos dentes cerrados, ele escorregou uma mão para suas costas, esmagando-lhe para mais perto, querendo que ela sentisse sua excitação, incorporando-se profundamente no ninho de cachos macios, que ele ferozmente lutava para visualizar nos olhos da mente. Ela se enrijeceu levemente e com um suspiro tardio, ela empurrou a cabeça para trás, mas a mão de Cutter segurou a nuca dela, abraçando-a ainda mais forte. Ela choramingou em protesto, mas o
som macio só fez sua incursão na boca dela ficar mais frenética. A língua dele vasculhava mais profundamente, à procura dela, querendo uma resposta dela... novamente... saboreando-a, entrelaçando-se eroticamente com a língua dela. Seus joelhos desistiram e ela cedeu contra ele quando sua vontade de lutar fugiu e ela respondeu encontrando a língua dele com a dela, lutando com ele timidamente, quase que desajeitadamente. Cutter quase explodiu com o beijo. Ele colocou os braços em volta da cintura dela, esmagando-a contra ele, enquanto ele saboreava a doçura dos seus lábios. Ela podia não gostar do fato de que ele tinha sangue índio nas veias, mas seu corpo não sabia a diferença. Meu Deus seria tão fácil levá-la até o final... levantá-la contra ele... levá-la para a cama. Tão fácil Suas reações eram estranhas, mas ele tinha estado com bastantes mulheres para ver os sinais do despertar dos seus corpos. Ela queria isso tanto quanto ele. Sem fôlego, ela se arqueou para ele enquanto ele afundava os dedos em seu cabelo, inclinando a cabeça para trás para lhe dar melhor acesso. "Cutter," ela suspirou. Ele ouviu confusão quando ela disse o seu nome, e um pensamento indesejável emergiu dos recessos escuros da mente de Cutter, rastejando-se obstinadamente em sua consciência. Teimosamente ignorando-o, ele aprofundou o beijo, apenas para descobrir que o pensamento não iria embora. Ele tinha a irritante suspeita que se ele a levasse agora para a cama, tudo acabaria. Que acabaria aqui e agora. Ele tinha certeza de que inocente como Elizabeth evidentemente era, ela não sabia para onde isso a estava conduzindo. Caso contrário, a mocinha pudica já estaria tentando arrancar seus olhos para fora ao invés de incitá-lo com seu corpinho delicioso. Tão bravo quanto ela tinha sido com ele, ela nunca teria se submetido tão facilmente. Seu orgulho espinhoso não permitiria. Era verdade, ele poderia continuar... e ele duvidava que ela fosse colocar qualquer resistência... mas amanhã, ou talvez alguns segundos depois, ela ia entender o que eles tinham compartilhado e ela iria fugir como um coelho caçado. Não era o que ele procurava. Mas, caramba, estava tão bom! E — ainda assim — não iria levá-lo onde ele queria.
MALDIÇÃO. Lançando um olhar por cima do ombro, ele viu a cama pequena, imaginando Elizabeth lá, deitada embaixo dele em toda a sua glória, seu cabelo longo e sedoso, acondicionado em torno das coxas dele. Jesus, ele queria isso. Examinando a mobília atentamente, ele forçou-se para longe dos lábios
dela, beijando um canto de sua boca, antes dele inclinar a cabeça dela para o lado para ver melhor o seu destino cobiçado. Instintivamente, mesmo contra sua vontade, seus lábios sensuais foram atraídos para seu pescoço exposto, como um predador olhando para a sua presa. Seus dentes roçaram sua carne levemente, mordiscando-a, sua língua chicoteando levemente a língua dela, provando-a muitas vezes. Seu pulso ficou frágil e ele gemeu com esta sensação. Enquanto ele a saboreava, seu olhar novamente retornou à cama, pensando no que ele deveria fazer. Tão perto. Tão malditamente perto. E ainda assim eram os centímetros mais longos que ele jamais viu na vida dele. Fechando os olhos, ele respirou fundo, forçando-se a tirar sua boca de sua pele quente. Respirando com dificuldade, Cutter novamente deitou a cabeça sobre a porta. As mãos dele escorregaram obedientemente para os ombros dela. Atormentado, mas lúcido, ele afastou Elizabeth dele. Por um longo momento, ela ficou em um estado de estupor, a cabeça dela sedutoramente em seu peito, seus seios subindo e descendo com a respiração acelerada. Seus lábios sensuais se separando fracamente, franzidos em antecipação — inchado de seus beijos, ele observou com profunda satisfação. Deus, sua expressão era o paraíso, ele pensou naquele momento, e teve que usar de determinação para não deixá-la cair contra ele a fim de recuperar os lábios dela. Ele realmente esperava que ela recusasse sua oferta. Ela o tinha surpreendido no corredor quando tinha corajosamente reivindicado ele como seu marido. Mas ele ainda podia saborear o doce de triunfo que ele tinha experimentado com a sua declaração... e estava com fome para ouvir mais declarações como essa. Tão furioso como ele tinha estado com ela, ele queria ela... e ele queria que ela o quisesse. Com o feitiço quebrado, ela abriu os olhos. "Você não vai ficar desapontada... por aceitar a minha oferta, Elizabeth."
7
P iscando duas vezes, Elizabeth esforçou-se para remover as teias de aranha do seu cérebro. "Oferta? Ah, Ah, sim... a oferta que você me fez!" ela declarou. Endireitando-se rapidamente, ela fugiu do abraço de Cutter, seu rosto em chamas. Mais uma vez, ela se perguntou o que estava errado com ela, porque ela se tornava um “mingau” com apenas um único toque dele. Ela era tão sem vergonha quanto Bess! Tremendo do estranho olhar dos seus olhos, ela deu um passo para longe dele, recuando para as sombras protetoras. "Isto é, eu — eu pretendia," ela disse com raiva a fim de encobrir sua mortificação. Seu coração traidor continuava a bater freneticamente. "Até que você trouxe... aquela mulher —" Cutter permitiu que ela se afastasse, sem se mexer. Inclinando-se mais sobre a porta, casualmente, ele enfiou a mão no bolso da frente. "Só para constar, Doutora. Eu não trouxe nenhuma mulher em nenhum lugar." O tom de sua voz era suave e calmo, nada como a tempestade que aparecia em seus olhos. "A velha senhora me seguiu como um touro correndo." Aborrecimento vincou a testa de Elizabeth. "Ela não pareceu tão velha para mim!" ela respondeu petulante. "De qualquer forma, pensei sobre isso — o dia todo, na verdade — e você está certo. Não confio em mais ninguém para me levar para St Louis." O tom dela estava resignado. "Você ganhou, Sr. McKenzie." Levantou uma sobrancelha. "Eu ganhei?" ele perguntou baixinho. Ele se endireitou, retirou a mão do bolso, e Elizabeth deu outro passo cauteloso para trás. ”Fique aí!" ela disse ansiosa. "E... e vire-se, enquanto você estiver aí." Ela fez um pequeno movimento circular com a mão. "Por favor". Suspirando, Cutter jogou suas mãos para o ar e virou-se para a porta, balançando a cabeça. No momento em que ele se virou, ele ouviu seus pés descalços tamborilando suavemente através do assoalho de madeira. Ela levantou as colchas. "Eu não faria isso se fosse você." Elizabeth congelou. "Fazer o quê?" "Se esconder na cama," ele disse num tom lacônico. "Não seria uma boa idéia." "Não — é — o — que eu estava prestes a fazer, Sr. McKenzie!" Envolvendo a colcha sobre si
mesma como uma capa protetora, Elizabeth se afastou da cama, indignada que Cutter tivesse assumido que ela fosse fazer um convite tão flagrante — que de alguma forma, ele achasse que ela fosse fazer isso. "Eu não sou Bess," ela exclamou. "Você pode se virar agora." "É verdade?" "Sim, é. Agora... se eu vou permitir que você me escolte até St. Louis, McKenzie, mas existem algumas condições que você precisará cumprir." Depois desta noite, ela não estava tão certa de que era de Cutter que ela devia ter medo, mas dela mesma. Os pêlos na parte de trás do pescoço de Cutter se eriçaram. "Tais como?" Seu queixo se levantou. "Tais como," ela propôs, "você nunca, jamais, tentará — me beijar de novo! E você não vai me tocar. E você não vai gastar o seu tempo de lazer com — com mulheres como Bess! Não se esqueça que você vai viajar como meu marido." "Se você assim diz." "E," ela continuou, "Eu vou ter minha própria montaria. E minha própria cama," ela acrescentou às pressas. "Além disso, nós nunca vamos dormir na mesma cama — ou no mesmo quarto!" Cutter estava preparado para aceitar cada uma das suas exigências astutamente determinadas e se odiava por isso; a voz dele virou um pouco mais do que um sussurro. "Algo mais, doutora?" "Sim!" Elizabeth disse, desconsiderando o seu escárnio. "Eu queria contratar outra pessoa, assim que chegarmos - em segurança - a St Louis. Por razões óbvias, eu não posso apresentá-lo como meu legítimo esposo." Tão horrível quanto parecia, ela não tinha escolha, mas dizer a verdade para Cutter. Ele vacilou visivelmente, como se ela tivesse lhe dado um tapa, em seguida, sua expressão fechou. Elizabeth deu mais um passo para trás, pensando que ele parecia pronto para atacar e rasgar seus membros um a um. "Cutter," ela falou quando ele se virou abruptamente. "Tente entender!" Uma sensação terrível agitou-se em seu estômago quando ele empurrou a porta tão ferozmente, que uma rajada de ar bateu no rosto dela. "É só que eu não posso —" Cutter não esperou tempo suficiente para ouvir a explicação dela. A porta fechou-se tão violentamente que abalou o portal, "— a possibilidade de perder minha sobrinha," ela terminou sua frase. Atordoada pela saída brusca de Cutter, Elizabeth simplesmente ficou parada, olhando a porta, não tendo certeza do que fazer em seguida. Desnorteada, ela veio para frente e se inclinou sobre a porta, precisando de apoio. As pernas dela se sentindo estranhamente fracas. Certamente ele não iria recusá-la agora? Não depois de tudo que ela teve que suportar? Meu Deus! Ela devia ir atrás dele agora e pedir a sua ajuda? Foi um longo momento agonizantemente até ela perceber que não tinha ouvido a porta de Cutter
fechar — ou abrir — e seu coração disparou. Certamente ele não ia deixá-la onde ela estava... sem ter como voltar para Sioux Falls? Sem dinheiro também. Ela duvidava ter o suficiente para pagar o quarto e comprar um cavalo! Talvez ele já tivesse pagado o quarto. Será? Confusa como a mente dela estava, ela não se lembrava. Apaticamente ela trancou a porta e se inclinou contra ela, sua mente muito confusa. Depois de um longo momento, ela foi para a cama, tropeçando nas colchas enquanto andava. Ela ficou ali, pressionando a mão na sua têmpora. A dor de cabeça tinha persistido o dia todo e agora ameaçava explodir a cabeça dela. Cristo misericordioso, o que ela ia fazer? Pense, ela disse para si mesma com firmeza. Vamos lá, Elizabeth, não entre em pânico. "Não adianta nada," ela sussurrou para si mesma. Deslizando seu dedo na boca, ela começou a mastigá-lo. Ela fez uma careta de repente quando um pensamento ocorreu-lhe. Ela não duvidaria que McKenzie pudesse ter pagado seu próprio quarto, deixando a conta dela em aberto. Bem, ela deu um suspiro sincero, ela não podia se preocupar com isso agora. Havia muito mais para se preocupar. Sua cabeça batendo como um trovão, por exemplo. Cansada ela se deitou de volta na cama e cobriu a testa com a palma da mão. A primeira coisa que ela faria de manhã era ir até a cocheira para comprar uma montaria forte para ela. De qualquer forma — se ela fosse para St Louis ou voltasse para Sioux Falls — ela ia precisar de um cavalo de confiança para a viagem. Um pouco mais calma com essa decisão, ela deu uma respiração profunda. As coisas iam funcionar; certamente que sim. Precisava funcionar. Mas e se ela não tivesse dinheiro sobrando depois de comprar o cavalo? De alguma maneira ela ia dar um jeito de escapar do hotel... e se ela fosse capaz de levantar o dinheiro, ela voltaria para pagar imediatamente. Ou, ela poderia restituir o dinheiro mais tarde... quando ela estivesse em segurança. Ela simplesmente não podia arriscar deles... bem... a prenderem. A cabeça dela começou a bater sem dó nem piedade. Ela nunca teve problemas com a lei antes. Mas... eles não sabiam a identidade dela e não saberiam onde procurá-la, ela se consolou. Cutter não tinha — intencionalmente ou deliberadamente, ela não sabia — dado seu nome na recepção. No entanto eles têm a assinatura dele, e eles podiam ir procurá-lo, arrastarem-no para a cadeia e jogarem fora a chave. Balançando a cabeça, ela jogou fora esse pensamento horrível. Agora, ela se recusava a pensar sobre essa possibilidade. Amanhã ela poderia se preocupar. Esta noite ela precisava descansar. Ela ainda estava sentindo um rescaldo da bebida e do pouco sono — tudo culpa de Cutter! E com essa reflexão sóbria e um bocejo, ela se jogou dentro do cobertor de lã grossa que ela envolveu em torno de si mesma, puxando seus braços para dentro para proteger-se contra o ar frio da
noite. Tentando manter os pensamentos melancólicos na sua mente, ela virou de lado e olhou fixamente para o luar nebuloso através da janela. Ela assistiu desatenta algumas partículas de poeira rodando dentro do fluxo de luz, e depois de um tempo, ela conseguiu fechar os olhos e dormir. Sair do hotel foi mais fácil do que Elizabeth esperava. Ela acordou assim que o sol começou a brilhar pela janela do seu quarto. Após se vestir, ela ficou olhando para fora pelo menos meia hora, considerando a janela como uma saída possível. Não seria mais do que uma distância de dez pés até o chão, e tinha um toldo para abrandar a queda, o que tornava uma solução perfeitamente viável. O que a manteve longe de rastejar para fora foi pensar que alguém poderia pegá-la no ato. Pareceu-lhe mais digno, e não imoral, ela simplesmente sair pela porta da frente. E depois de reunir coragem, foi exatamente o que ela fez. O fato de não ter ninguém na recepção tornou absurdamente tudo mais simples. Ainda assim, sua consciência estava tendo um dia absolutamente agradável quando ela se dirigiu para o Hotel d'Horse. Nome tolo para um estábulo, ela pensou. Na verdade era um nome um pouco enganoso, porque o hotel em questão era pouco mais do que um celeiro esfarrapado, com placas tortas. Parecia perto de ruir. No entanto o funcionário do armazém, Sr. Monroe, tinha garantido para ela que o dono dirigia um negócio justo e cuidaria bem dela. Agora tudo o que ela precisava era ter a certeza que ela tinha dinheiro suficiente para comprar suprimentos..., bem como para contratar alguém, assim que eles chegassem a St Louis. Isto se Cutter concordasse em levá-la. Ela correu os olhos pela rua a sua frente. Notando a falta de pessoas na rua, ela começou a procurar por algum movimento dentro de cada edifício que ela passava. Ela não estava à procura de Cutter, ela disse a si mesma quando ela esticava o pescoço por cada porta. Ela não o tinha visto durante toda a manhã, e não achando nenhum sinal dele a fez admitir que ele talvez tivesse, de fato, deixado Indian Creek. "Espere até eu ver Jo," ela resmungou para si mesma. Certamente Jo não sabia que o irmão era um homem sem palavra! Sem dúvida, Elizabeth ia esclarecer os fatos para sua boa amiga, assim que ela a visse. Apesar do fato de Jo ter boas intenções, ela certamente tinha tomado parte neste malfadado esquema que trouxe para Elizabeth absolutamente nada além de tristeza. Parecia que aborrecimento estava se tornando rapidamente um estado natural para ela, e tudo tinha começado com Cutter. O odor de cavalos e feno agrediu suas narinas quando ela entrou no estábulo sombrio. "Olá," ela gritou. "Olá... tem alguém aqui?" Um homem alto e robusto saiu de dentro de um cubículo. Seu rosto aparentando aborrecimento, mas quando a viu, ele sorriu brilhantemente, revelando a falta de um dente na arcada superior. "Me desculpe se eu o incomodo?"
"Não, não," o homem assegurou tranqüilo, empurrando a porta do estábulo e vindo em sua direção. Ele limpou as mãos sujas nas calças imundas. "Eu estava limpando a baia um pouco... Nasceu uma égua." Ele deu um sorriso de culpa, depois limpou a testa com a manga. "De qualquer forma, meu nome é Pete Monroe, senhora; o que posso fazer por você?" Quando soube que seu nome era Monroe, a testa de Elizabeth vincou. Suspeito, para dizer o mínimo. Ainda assim, ela não tinha nenhuma escolha, mas lidar com o homem. Ela ofereceu a mão dela, tentando parecer tão temível quanto fosse capaz. "Elizabeth Bowcock e preciso de uma boa montaria, Sr. Monroe." Ele lhe deu um olhar cético. "Eu tenho dinheiro," ela assegurou, pensando que era sobre isso que ele estava pensando. "Sr. Monroe —“ ela enfatizou o nome "— no armazém." Sr. Monroe assentiu com a cabeça. "Ele disse que o senhor iria me tratar muito bem." Pete Monroe reconheceu esse fato com um breve aceno. "Sim?" Ele piscou para ela. "Bem, Miss Bowcock, se meu primo Will enviou você, eu tenho a coisa certa. Não estou vendendo meus cavalos, mas desta vez, eu vou fazer uma exceção." Ele sorriu. "Qualquer coisa para uma garota bonita como você," ele disse. Ele se virou e começou a entrar no prédio sombrio. "Só, por favor, nem uma palavra sobre isto, ou eu vou ter os habitantes da cidade na minha porta. Você vê... Não tenho tido qualquer sangue novo no estoque há um bom tempo e o velho Rutherford veio atrás de mim para vender para ele o que eu tenho... mas ele continua me pressionando e eu não estou disposto a deixá-lo levar nenhum dos meus cavalos. Eles são como família para mim.” Família? Não era provável! Quanto mais eles entravam no estábulo, o cheiro de feno obsoleto se tornava forte e azedo. Nenhum homem servia para suas famílias rações estragadas — pelo menos não se ele pudesse evitar. Mas então, talvez ele não pudesse evitar. Ela considerou isso um momento. Indian Creek não era exatamente uma cidade próspera. Sr. Monroe levou-a para a última baia, onde uma égua mustang ficou olhando-a com um olhar vazio, seus olhos escuros piscando para ela. Todos os pensamentos de duplicidade vieram a sua mente ao mesmo tempo quando ela viu apenas o reflexo de si mesma nos olhos de ébano: sofrimento, solidão, e ao mesmo tempo paixão. A égua esticou o pescoço para frente para investigar o mais novo invasor de sua baia. Elizabeth foi surpreendida com uma recepção calorosa; seus olhos se arregalaram ligeiramente e ela virou-se para sorrir calorosamente para o homem ao lado dela. “Ela é linda!" Ela estendeu a mão para passar na testa da égua, acariciando seu topete suavemente com os dedos. Seus sinais eram requintados: pontos brancos com algumas manchas dispersas, variando de ouro escuro até cacau. A mão de Elizabeth deslizou para suas narinas fulgurantes. Ela ficou algum tempo segurando-as, deixando o animal se acostumar ao seu perfume pessoal, ao mesmo tempo ficando alerta para algum sinal de que ela fosse se recusar a segui-la. Isso não aconteceu, e finalmente ela acariciou seu focinho fino.
A égua recuou um pouco, mas Elizabeth continuou a acariciar o animal tranqüilizado-a. Abruptamente, ela retirou a mão, colocando-a ao lado dela, esperando para ver o que o animal faria em seguida. Depois de um longo momento, a égua mudou-se para frente, como se a procura de seu toque suave, e o coração de Elizabeth inchou com orgulho. Ela ficou sem falar admirando a beleza do animal. "Eu vou levá-la," declarou Elizabeth, sem a menor hesitação. O Sr. Monroe sorriu astutamente, dando-lhe um aceno satisfeito. "Eu achei que sim," foi tudo o que ele disse. "Agora, quanto ao preço, Miss Bowcock."
8
A maldiçoando-se a si mesmo, Cutter bateu forte na porta de Elizabeth pela terceira vez. Dando uma última batida, ele forçou a maçaneta e encontrou a porta firmemente fechada. Se Elizabeth estivesse no quarto dela, ela teria respondido. Onde ela poderia estar? Ele se afastou da porta. Ele tinha vindo de manhã, depois de ter passado a maior parte da noite afogando seus problemas no bar Rushing Bull, xingando Elizabeth Bowcock. Para simplificar, ele tinha ficado acordado até tarde e tinha dormido demais. Diabos, ele a tinha trazido até aqui, e ele ia levar o acordo deles até o fim, apesar de suas exigências dadas com desprezo e do seu fanatismo. Era como um nó preso na sua garganta. O que ela achou que ele tinha feito toda a sua vida? Tudo que ele tinha eram poucas memórias do povo da sua mãe, a lembrança da intolerância de Jack McKenzie e os pontos de vista tacanhos do homem branco de um povo com quem eles geralmente se recusavam a ter empatia. Ele se sentia dividido entre dois mundos que provavelmente nunca se encontrariam. Mas isto não era nada de novo. Ele tinha ficado sentado em cima do muro à maior parte da sua vida. A pergunta era por que ele se sentia obrigado a rastejar para fora do jogo neste momento, quando ele nem sequer tinha considerado antes? Ele era o que ele era. Ao diabo com alguém que não podia aceitá-lo por isso! De repente imagens de Sand Creek voltaram para assombrá-lo, e ele tirou-as da cabeça, passando a mão pelo cabelo e os dedos pelo seu couro cabeludo. Apesar do fato de que o chefe Black Kettle lhe tinha garantido que ele estava sob proteção do Fort Lyon, e dele ter içado a bandeira americana na sua loja — bem como a bandeira branca da rendição — como um símbolo de boa-fé, Chivington e seus homens tinham entrado no acampamento sonolento dos Cheyennes, sem ter nenhuma piedade. Muitos dos abatidos eram crianças, ainda assim tudo o que o Coronel Chivington disse foi que "lêndeas fazem os piolhos." E eles chamavam os índios de pagãos filhos da mãe? Isto enojou Cutter até suas entranhas.
Embora ele tenha provado ser um batedor confiável para os militares americanos, ele também tinha deixado claro que ele era metade Cheyenne, e que, e ele não rastrearia seus parentes de sangue. Desertor, tudo bem. E ele não tinha problema em rastrear outras tribos indígenas, mas ele tinha ido muito longe quando recusou para seu comandante imediato a entregar o local do acampamento particular de inverno dos Cheyennes. Depois da carnificina de Chivington em Sand Creek, o governo temeu represálias de tribos vizinhas — e com razão. Pouco mais de um mês mais tarde, a diligência regular do correio expresso de Westbound, indo para Denver, tinha sido atacada apenas a seis milhas de distância de Julesburg. Mas que diabos, ele não era realmente um militar dos Estados Unidos; ele tinha simplesmente um contrato com eles, e não tinha a intenção de trair o povo da sua mãe — não quando tinham bastardos como John Chivington dançando sobre seus túmulos. Apesar de tudo isso, ele estava prestes a fazer o que ele tinha jurado nunca mais fazer. Através dos anos, ele teve muito pouco contato com o povo da sua mãe; ainda assim, ele sentia deslealdade em se declarar Cheyenne, e ele nunca tinha feito isso em proveito próprio. Mas era exatamente o que ele pretendia fazer agora. Ele mostraria para Miss Bowcock que ele não era diferente de qualquer homem. O problema era que ele odiava curtir com a cara de alguém! Então por que se incomodar? Indo pelas escadas, dois degraus de cada vez, ele desceu, sua barriga se apertando com a possibilidade que de repente passou por sua cabeça. Ela não teria ido de volta para Sioux Falls, por conta própria. Bem, inferno, será que ela teria? Alívio atravessou seu corpo quando ele entrou no átrio; ele a viu, sua feia saia e a grossa trança loira inconfundível. Se virando na recepção, ela viu o seu olhar, e por um breve momento, ele achou que ela tinha o mesmo alívio em seu olhar também. Então ela se recompôs e lhe deu um olhar que provavelmente ele nunca se esqueceria. Apesar de sua raiva, ele se viu rindo quando a seguiu para fora da recepção, suas pernas longas seguindo os avanços rápidos dela com muito pouco esforço. Resistindo ao impulso de gritar para ele "Vá embora," Elizabeth virou-se para confrontá-lo com ira. Ela podia se sentir irritada, mas ela tinha que admitir que precisava dele. Apesar disso, ela não podia pedir sua ajuda novamente. Ela tinha colocado as cartas em cima da mesa na noite anterior, e ele tinha se afastado. O próximo passo teria que ser dele, e ela se recusava a se humilhar ainda mais, implorando. Ele teria que aceitar a oferta dela ou não... De qualquer forma, havia pouco que ela pudesse fazer sobre isso. Se ele escolhesse não aceitar, ela teria, pela primeira vez em anos, que encontrar um lugar calmo e chorar até que não houvesse mais lágrimas dentro dela... porque não havia mais ninguém com quem ela pudesse contar. E ele sabia disso. Tentando ignorá-lo da melhor maneira, Elizabeth desceu apressada os degraus da frente, só para perceber que Cutter já não estava mais a perseguindo. Ela virou-se de uma vez para encontrá-lo em
pé sobre o degrau mais alto, apoiando-se com um braço casualmente contra o poste de madeira que segurava o toldo. Seus olhos brilhavam diabolicamente sob a aba de seu chapéu e sua boca com um sorriso cínico. Em saudação, ele tocou a aba do chapéu. Ela se viu o amaldiçoando, mas duvidava que ela soubesse as palavras para fazê-lo. E ela teria gostado de repreender-lhe por deixá-la se preocupar durante toda a noite, mas ela sabia que seria mais prudente não contrariá-lo. Ela notou que ele usava as mesmas roupas que ele tinha usado na noite passada, — jeans e uma camisa verde. E ele ainda não tinha feito a barba, fazendo com que seu rosto moreno parecesse mais escuro. Ele não disse nada, só observava, e Elizabeth foi em direção ao seu cavalo, disposta a ser a primeira a falar. A verdade era que ela não sabia como proceder para fazer as pazes com todo o tumulto que estava em sua alma. Ela tinha se preocupado a noite toda. Mesmo durante o sono, ela tinha sido atormentada por sonhos com ele. E esta manhã — não importava que ela não tivesse sido pega — ele forçou-a sofrer a humilhação de se esconder no hotel até ela ficar sabendo que ele já tinha pagado a conta! As bochechas dela ficaram vermelhas quando ela se recordou das palavras do recepcionista. O homem a tinha ridicularizado quando a informou, "está tudo certo, minha senhora... Ele deve ter ficado muito satisfeito com você." E então ele tinha piscado para ela. Ele tinha piscado. Senhor, ela tinha ficado mortificada! O cavalo dela estava amarrado perto do hotel, e ela foi até ele, abrindo o alforje e colocando seus pertences nele. "O que é isso?" "O que parece, McKenzie? É um cavalo,” ela disse respondendo a sua pergunta sem se virar para enfrentá-lo. "Um mustang, para ser mais precisa." "Eu conheço a maldita raça!" Cutter falou. "O que eu gostaria de saber é o que você está fazendo com ele." Quando ela se virou para encarar Cutter, o queixo de Elizabeth levantou-se ferozmente. Os olhos dela brilhavam com rebeldia. "Ela é minha, agora." O olhar dela voltou para a égua, seus sentimentos oscilando com orgulho, e o tom dela era mais suave quando ela falou novamente. "Ela é linda, não é?" Cutter desceu os degraus, ignorando os dois últimos, espalhando poeira. Um poço da poeira se alojando na saia de Elizabeth. Ela olhou para baixo, seus olhos se estreitando. "Espero que você não tenha pagado muito dinheiro. Ela não passa de um cavalo comedor de açúcar. Além disso, sendo uma Cayuse, ela é provavelmente o contrário do que parece." Ele arqueou uma sobrancelha para ela. "Como alguém que conhecemos." Desde que eles não tinham conhecidos em comum, além de sua irmã, isto reduzia a lista consideravelmente. Escolhendo ignorá-lo, Elizabeth fechou o alforje e começou a acariciar os flancos da égua. "Eu
realmente não acho que seja da sua preocupação saber quanto eu paguei por ela, Sr. McKenzie!" Ele estava de pé perto dela, e embora ele não tivesse tocado nela, Elizabeth podia sentir o calor do seu corpo. Ou era sua imaginação? Sua pele ferroava, e seu coração estava acelerado, saltando de uma forma errática. Mais do que tudo, ela queria que ele a deixasse em paz... e ainda o cérebro dela trabalhava febrilmente pensando numa maneira de mantê-lo com ela. Como ela poderia querer as duas coisas ao mesmo tempo — tão desesperadamente? "É se eu vou ser seu guia, Miss Bowcock," ele disse suavemente, zombando dela. Elizabeth tinha certeza de que isso era o máximo que ela poderia esperar dele como oferta para ajudá-la novamente. O hálito dele era quente contra a pele sensível de seu pescoço e ela teve que lutar contra o desejo vertiginoso de se inclinar contra seu peito largo. Um arrepio passou pela sua coluna, mas ela encobriu o sentimento rapidamente, voltando-se lentamente para Cutter, suas emoções tumultuadas. Então ele queria ajudá-la afinal? Ela sentiu uma incrível explosão de euforia e lutou contra a vontade de gritar de alegria e de abraçá-lo. Apesar de sua gratidão, ela não ousava tocá-lo novamente. Ninguém podia dizer o que poderia acontecer se ela o fizesse. Sua imaginação estava ficando cada vez mais sem controle. Ela ficava lembrando como ele tinha olhado para ela ontem. A fome em seus olhos.
SENHOR, ela se sentiu quente, e suas bochechas estavam queimando só de pensar. Mas ela odiava o fato de que ela precisava dele. "Não paguei muito caro por ela," ela admitiu relutantemente. "O dono fez um bom preço, por que... bem, ele disse que havia alguns inconvenientes que eu teria que superar." "Tais como...? Não me diga — o animal está sem ferradura?" Seu olhar foi direto para o casco do animal. Elizabeth agitou exasperadamente sua cabeça. "Não foi domado?" "Nada disso," Elizabeth lhe assegurou seu tom desanimado. "É só que ela é... bem, ela é Indianbroke." Cutter engatilhou uma sobrancelha para ela. "Só isso?" O tom dele era paternalista. "Não, tem mais," Elizabeth confessou, embora com relutância. "Ela tem alguns anos de idade. Mas fora isso, ela está perfeita." "Alguns anos?" Cutter perguntou, inspecionando o animal mais de perto. E então, de repente perdeu seu aspecto indiferente. "Droga, Lizbeth, este cavalo é isca para urubu! Você foi passada para trás! Quem a vendeu para você?" Ele a pegou pelo cotovelo. "Venha, vamos pegar seu dinheiro de
volta!" Torcendo seu braço, Elizabeth se libertou das mãos dele. "Não, não vamos! Eu não fui enganada — e o nome dele não é da sua conta! Para sua informação, Sr. McKenzie," ela falou sem pensar, "este cavalo era o último que o Sr. Monroe tinha em estoque! Ele não tem qualquer sangue novo já há algum tempo, e a única razão pela qual que ele a vendeu para mim foi porque o Sr. Rutherford continua querendo comprar todos os cavalos dele!" A expressão de Cutter permaneceu descrente, e Elizabeth irritada. ‘Ele não me enganou!"ela insistiu, percebendo tardiamente como sua estória devia soar. "Na verdade, ele não a teria vendido para mim se seu primo do armazém não tivesse me recomendado para ele." Isso, ela temia, soaria ainda pior. Ainda assim, ela não podia simplesmente mentir. Ele estava olhando para ela como se ela fosse uma tola. "De qualquer forma, ele fez um preço decente, e estou perfeitamente satisfeita com a minha compra! É meu dinheiro, afinal de contas — e se estou satisfeita, você não deve se preocupar — " "Quanto?" "Não lhe diz —" "Bem," Cutter surtou, cortando a explicação dela. O coração dela saltou quando ele se virou e voltou para a recepção do hotel. Ela conheceu um instante de pânico incrível. Ela não podia deixá-lo ir desta vez. Ela não podia! "É isso, Sr. McKenzie — vá embora! Outra vez!" ela gritou um pouco freneticamente. "Parece-me que é o que você faz melhor — saídas estratégicas!" Ele parou no degrau, de costas para ela. O poderoso conjunto de seus ombros deixava-a nervosa. Novamente, ela viu como ele era alto. Depois de um longo momento, ele girou para enfrentá-la, empurrando uma mão em seu bolso com um suspiro de resignação. "O fato é Doutora, se eu tivesse sequer metade de um cérebro, eu faria exatamente isso." Parecia que ele estava considerando essa afirmação seriamente, e então ele falou novamente. "Mas parece que de repente eu perdi meu bom senso." Ele balançou a cabeça com pesar. "Não, não vou embora — só vou buscar os meus pertences — a menos que você queira fazer isso por mim?" Retirando a mão do bolso, ele ajustou seu chapéu, dando-lhe um olhar severo. "Espero que você esteja pronta para partir quando eu voltar." Não foi uma pergunta. Foi um comando que Elizabeth tinha ouvido, mas ela preferiu responder de qualquer forma. "Eu vou estar pronta," ela disse. "Acredito que você vai estar," ele disse, e então se virou e desapareceu no hall de entrada, seu corpo musculoso, movendo-se com a graça fácil de um poderoso gato. Afinal, eles iam deixar Indian Creek depois do meio-dia, depois de fazer uma última parada no armazém para comprar alguns suprimentos. Elizabeth não ia montar até lá, mas optou por levar a égua, em vez disso. Por que ela se sentiu tão relutante, ela não sabia, mas no momento ela desejava mais do que qualquer coisa não ter que fazê-lo
na frente de Cutter. Ou talvez tenha sido por isso que ela tinha esperado? Sua presença, por algum motivo estranho, era reconfortante, apesar das hostilidades atuais entre eles. Para seu espanto, seu instinto se provou correto. Toda vez que ela tentava montar a égua, o animal se esquivava. Ela não sabia muito sobre cavalos — apenas o suficiente para cavalgar — mas ela simplesmente não conseguia entender o que ela estava fazendo de errado. Exasperada, suas bochechas vermelhas com o esforço — sem mencionar a humilhação de perseguir sua égua por toda a rua empoeirada — Elizabeth finalmente encontrou o olhar de Cutter. Seus olhos estavam cheios de diversão. Quando ela olhou para ele, pensando no que fazer a seguir, como pedir sua ajuda, seu sorriso transformou-se num entalhe de madeira. Ela bufou, virando-se, determinada que isso pudesse ser a última coisa que ela faria na vida, mas ela ia montar a maldita égua sozinha! Ela mordiscou seu lábio inferior, avaliando as chances de montar do chão. Certamente ela não era alta o suficiente para montar qualquer cavalo dessa forma, mas a égua era pequena o suficiente para que isso fosse possível. Mais determinada do que nunca, ela se aproximou novamente pelo lado esquerdo, mas desta vez sem os movimentos lentos, que ela tinha feito anteriormente. Se ela pudesse pegar o animal desprevenido talvez...? Com um salto, ela pegou o animal pelo pescoço, só que em vez de ficar parada como deveria, a égua deu um salto, e Elizabeth perdeu a coragem. Ela tropeçou em seus pés, quase caindo de rosto no chão, e simplesmente ficou parada olhando frustrada e irritada. Cutter riu. Virando-se indignada, suas mãos em seus quadris, ela perguntou, "Suponho que você conheça uma maneira melhor?" Havia provocação no tom dela, bem como uma nota de desafio. A boca de Cutter contorceu-se. Ele cruzou os braços, inclinando-se com uma indiferença tão irritante contra o poste atrás dele que Elizabeth se irritou ainda mais. "Talvez eu conheça," ele disse com um riso mal reprimido. Ele achava que ela iria tirar a maneira para fora dele? "Então?" A expressão em seu rosto era tão convencida que ela se sentiu como se estivesse dando um pontapé na sua maldita canela! Em curto espaço de tempo desde que ela o tinha conhecido, ele vivia zombando de sua natureza racional. Ela tinha exibido mais violência nos últimos dois dias do que ela tinha feito em sua vida inteira! "Lizbeth," Cutter disse baixinho, olhando para as pessoas que estavam começando a se formar em torno deles. "Acaso você sabe o que Indian-broke significa?" "Bem, é claro!" Elizabeth respondeu, mas ela não estava muito certa do significado. Com as mãos cheias de poeira e crina de cavalo, ela passou o braço na testa úmida de suor, sem se importar se o gesto era feminino. Senhor, como estava quente! "Suponho que isso signifique que ela foi domada por índios."
"Está certo," Cutter concordou. Havia um brilho em seus olhos quando ele levantou um dedo para ela. "Vem cá." A voz dele era tão suave que podia ser considerada um sussurro. Ou isso, ou Elizabeth estava ficando surda por causa da exposição excessiva ao calor. Ela mesma não estava ciente que o tivesse obedecido até que ela estava de pé diante dele, e seus lábios se separaram novamente para falar. Ele agarrou o braço dela delicadamente, trazendo-a para mais perto. O choque deste toque fez seu pulso acelerar. Ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido, e Elizabeth pensou que ele podia estar prestes a beijá-la. Ela deveria dar um tapa nele antes que ele sequer tentasse. Isso mostraria a ele, certo? "Tente montar pelo lado direito," aconselhou-a com uma risada profunda e uma piscadela brincalhona. "É o que Indian-broke significa." Horas mais tarde, Elizabeth ainda continuava irritada sobre a maneira paternalista que Cutter a tinha informado sobre esse detalhe especial. E pensar que ela achou que ele estava prestes a beijá-la! E ele tinha rido dela! Será que ele tinha lido sua mente? Apesar do fato de que o tempo não poderia estar melhor para viajar, dois semblantes tempestuosos podiam ser encontrados a leste do Missouri. Seguindo o exemplo de Cutter, Elizabeth cavalgava em silêncio, taciturna, mantendo sua atenção na paisagem. Na maior parte eles pareciam estar cavalgando perto de penhascos, embora o rio aparecesse em intervalos regulares, para depois desaparecer de vista completamente. Ele manteve o ritmo acelerado, e Elizabeth supôs que Cutter estava tentando mostrar a ela quão inútil sua montaria era. O mustang trotou sem protestar. Ela falaria se o cavalo ficasse sem fôlego, mas até o presente momento, ele estava bem. De vez em quando Cutter mudava o ritmo, mas eles já estavam andando há horas sem parar, e sua fiel égua estava começando a mostrar sinais de cansaço. Em breve, ela decidiu que falaria que era melhor darem uma parada. Ela pensou que seria melhor se fosse Cutter achar que era melhor fazerem uma parada, e talvez ele o fizesse se ela lhe desse uma oportunidade. Certamente ele não mataria seu cavalo só para chateá-la? Suspirando, Elizabeth conseguiu dar uma olhada nele. O perfil do seu rosto saliente era marcante, com a mandíbula forte e tensa. Seus olhos estavam ocultos por seu chapéu, que ele usava inclinado para frente para esconder o rosto do sol ardente. Ela pensou melancolicamente, que isso era algo que ela iria se arrepender por ter esquecido. O sol implacável já estava queimando a cabeça dela. Ela evitou seu olhar, mas como uma mariposa atraída para a chama, seu olhar era sempre atraído para ele, querendo saber o que ele tinha que a chamava para ele. Sim, ela podia negar para o mundo, mas não podia mentir para si mesma. Ela estava intrigada com Cutter McKenzie. Parecia haver um magnetismo sobre ele que a chamava. Algo que a seduzia. Fascinada, ela olhou para o cabelo escuro enrolado no colarinho da sua camisa, e ela engoliu sua
saliva com dificuldade. Seu olhar foi atraído mais para baixo, entre seus ombros.
O CALOR. Misericórdia, como estava quente! Desesperada ela esperava a noite chegar, quando o sol não seria capaz de empolar a pele dela — até a brisa da noite parecia preferível. Sentindo o calor do sol em seus ombros, e no alto da cabeça, juntamente com um estranho estado febril que vinha de dentro dela, Elizabeth se mexeu nervosamente na sela, à procura de uma posição mais tolerável, mas ela não conseguia encontrar uma. Era algo sobre a marcha do cavalo que a fazia se sentir inquieta. Sem ser convidada, a memória do beijo que eles tinham compartilhado surgiu na sua mente e o calor espalhou-se no âmago do seu ser. Compartilharam? De onde esse pensamento tinha vindo? Roubado! Roubado era a palavra certa! Ela se sentiu novamente inquieta. Tanto quanto lhe dizia respeito, ela não tinha feito nada para incentivá-lo. Ou ela tinha? O beijo, bem como os momentos antes do beijo, era um grande borrão na sua mente, sendo sua única lembrança a resposta que seu corpo traidor deu para ele. Ela tinha se agarrado a ele como... como a camisa encharcada de suor que estava agora colada em seu corpo... Meu Deus, os músculos dele eram perfeitos. O que há de errado com você? Não olhe, ela repreendeu a si mesma. Mas ela não podia evitar. Ela ficou olhando o movimento dos seus ombros e suas costas, a fácil postura do seu corpo enquanto ele cavalgava, e em seguida, percebendo que ela estava olhando fixamente de novo, ela forçou seu olhar para longe. Ela estava agindo tão desavergonhadamente quanto Bess. Se ele não a tivesse deixado na última noite... bem, ela odiava pensar o que poderia ter acontecido. Ele sabia que ela o queria? Quem se importava se ele soubesse? Ela se importava. Será que ele se importava? O coração dela disparou com essa probabilidade. De alguma forma parecia terrivelmente importante que ele não soubesse de sua carência. Ninguém jamais olhou para ela como Cutter às vezes a olhava. Ninguém. E enquanto ela tentava ficar apropriadamente horrorizada com a franqueza do seu olhar, ela não conseguia detestá-lo. Para seu espanto, ela sentia quase... bem, grata pela forma que ele a tinha cobiçado. Ele a tinha cobiçado? Foi isso que ela viu no seu olhar? Foi por isso que ele concordou em ajudá-la? Em resposta, ela abanou a cabeça, se saber no que acreditar. Será que ela estava certa? Ontem ela tinha sido acordada por suas mãos exploradoras. Embora ele não mais a tivesse tocado, a não ser, claro, se ela contasse o beijo. E mesmo que ela contasse, ele a tinha deixado imediatamente depois, quando poderia muito bem ter se aproveitado da situação. Em vez disso, ele
tinha ido embora. O homem era um emaranhado de contradições — um emaranhado que ela pretendia desvendar. Quando Cutter abrandou o trote do seu cavalo, Elizabeth aproveitou a oportunidade, ficando mais perto dele. Cutter apenas lhe deu um rápido olhar e um mais longo para sua égua. "Ela está indo muito bem, não acha?" Cutter deu-lhe um olhar severo. Ou ela o estava provocando... ou estava à procura de conforto. Ele não queria tomar parte em nenhum dos casos. Não estava a fim. De alguma forma ele se sentia frustrado. Ela o tinha aceitado, com certeza, mas ele tinha perdido algo na barganha. O que era ele não sabia, mas ele sentiu um vazio estranho. Quanto tempo ele planejava ficar com ela? Elizabeth se perguntava. Ele se divertiu às suas custas mais cedo. Ela não deveria estar com raiva? O mínimo que ele podia fazer era manter a sua pose. Ela não sabia como responder a sua rabugice. "Fico muito orgulhosa de que ela esteja indo bem," ela disse-lhe. E, em seguida, percebendo que ela tinha falado defensivamente, e que ela devia arrumar um assunto para os dois conversarem entre eles, ela falou. "O que você acha sobre Cacau?" ela perguntou. "Cacau?" Voltando-se para ela abruptamente, Cutter deu-lhe um olhar arredio. "O que eu acho?" Elizabeth carinhosamente acariciou o pescoço de sua égua. "Eu pensei que eu poderia chamá-la de Cacau." As bochechas dela aquecidas sob seu olhar, mas ela se recusou a ficar envergonhada. "Meu cavalo," ela esclareceu. Ela sorriu agradavelmente. "É um bom nome para ela, você não acha?" Ele ainda a olhava, mas o único som que alcançou os ouvidos de Elizabeth foi o trote de cascos contra o chão duro. Com um imperceptível balanço da sua cabeça, ele se virou. Elizabeth ficou ofendida por sua rudeza e sua boca caiu ligeiramente aberta. Se eles estavam cavalgando juntos, ela decidiu naquele momento, eles iam ter que fazer as pazes em algum momento. Eles não podiam cavalgar assim muito mais tempo! Seu cavalo era um bonito Appaloosa, escuro em todos os lugares, menos nas ancas, onde aparecia uma grande mancha branca prateada. E ele tinha uma mancha na orelha direita; que parecia ter sido cortada. Ainda assim era um bom e belo animal, e ela sabia que ele devia estar muito orgulhoso dele. "E o seu?" "E o meu?" Cutter repetiu indulgentemente, mantendo seu olhar focado na estrada. Ele não tinha necessidade de olhar para ela no momento. O tom dela tenso disse-lhe tudo o que ele precisava saber. Ele podia vê-la claramente na sua mente, seu cabelo trançado tão firmemente que esticava a pele pálida de suas bochechas, inclinando os olhos — o rosto dela preso como se ela tivesse chupando limões. Ele deu-lhe um vislumbre rápido — puramente por curiosidade — para ver que seus óculos tinham saltado até uma posição precária na extremidade do nariz, dando a impressão de que ela olhava para baixo, mas na verdade ela estava sentada muito mais baixo do que ele. O tumulto na expressão dela lhe disse que ela estava à vontade com suas próprias emoções, e ele teve a súbita
suspeita que ela tenha levado uma vida tão reprimida que ela agora não tinha noção de como cuidar de si mesma. Longe de se sentir tocado por essa revelação, ele ficou irritado, porque que ele estava preso a ela de uma forma que ele não deveria ficar. Ela empurrou seus óculos para cima do nariz. "Como você o chama?" ela perguntou de uma maneira agradável. Balançando a cabeça, Cutter deu-lhe um olhar de desdém. "Não chamo de nada," ele respondeu. "Não chamo de nada, mas simplesmente cavalo." Ele achou que Elizabeth não teve nenhuma reação, que o fez acrescentar, "somente novatos e quem faz xixi nas calças, colocam nomes nos seus animais." Seus olhos a desafiaram, sem vacilar enquanto aguardava sua resposta. Não importava como ele olhasse para ela, ele apenas não sentia-se bem como a tinha tratado. Elizabeth endireitou a espinha. "Entendo. Então em qual das duas categorias que eu me encaixo — novata ou... ou...“ "Que faz xixi nas calças," Cutter disse, sem escrúpulos. Ela não podia nem dizer a palavra, ele pensou. Onde ele tinha se metido? Que o céu o condenasse, se ele fosse deixá-la contratar alguém para passar por noivo dela. Louca, maluca, fêmea irritante — será que ela não sabia onde estava se metendo? Os olhos âmbar de Elizabeth aumentaram com a afronta. Xixi nas calças! A mente de Elizabeth guinchou. Xixi nas calças? Como ela ia responder a isso? Sua boca não conseguia começar a formar as palavras, mesmo se ela soubesse o que dizer. Tanto para conversar, ela se irritou, e viu que seu discurso estava definitivamente acabado, ela puxou irritada as rédeas, continuando a cavalgar. Quando ela olhou furiosamente as costas de Cutter, mais uma vez começou a ter dúvidas de fazer esta caminhada com o homem volátil diante dela. Menos de quarenta e oito horas antes, ela estava sentada, comovida, na sua mesa de cozinha, com uma carta na mão, destinada a mudar sua vida para sempre. Mesmo assim, se alguém tivesse dito a ela que hoje ela estaria cavalgando ao lado do homem mais teimoso que ela já tinha conhecido, ela teria chamado essa pessoa de mentirosa... Bem, talvez ela não tivesse. Mas aqui estava ela, no entanto, confrontando o dilema de fazer o melhor de uma situação que ela teria achado impossível. Sozinha com um homem. Um homem estranho, ela esclareceu a si mesma. E obviamente um trapaceiro. O que seu pai teria dito sobre isso? Ele nunca teria se deixado morrer se pensasse, por um segundo que ela seria tão insensata! Quantas vezes ele tinha avisado a ela "para não confiar em nenhum homem, a menos que ele estivesse dopado com éter ou morto"? Ele nunca falou muito, mas ela suspeitava que Angus Bowcock fosse preferir a última opção, se um homem estivesse sozinho com a filha dele. Tinha sido seu pai, afinal de contas, que tinha encorajado seu lamentável modo de se vestir. Pelo menos ele tinha no início.
Mais tarde, nos últimos meses da sua vida, ele insistiu que ela se livrasse dos vestidos disformes, que ela sempre tinha usado. Segurando as rédeas com bastante força até que elas clareassem a palma da sua mão, ela lembrou que ele tinha até comprado um belo pano de morim... para que ela fizesse um vestido para ela. Na época ela não havia entendido. Mas ela agora entendia. Ele sabia que estava morrendo, e ele queria que ela encontrasse um homem para cuidar dela. Por que ela não tinha sido capaz de ver isso na época? A tristeza em seus olhos quando ele vinha para casa e encontrava o pano ordenadamente enfeitando sua própria cama. Estava tudo tão claro para ela... mas só agora. Ah, papai, ela pensou, se ao menos você estivesse aqui. Ela suspirou melancolicamente. O fato era que ele não estava. E ele não voltaria. Mas ela pensou que ele poderia orgulhar-se dela, de qualquer maneira. Ela nem mesmo tinha chorado quando ele morreu. Sem temor ela continuou a fazer o que ele fazia, e mesmo quando os habitantes da cidade tinham se recusado a serem atendidos por ela porque não era de bom tom uma mulher cuidar deles, ela não tinha cedido. Se eles preferiram morrer, era problema deles. Mas ela tinha informado a eles corajosamente quando seus filhos adoeciam que ela não deixaria seus filhos sofrerem porque ela não era um médico homem. E finalmente, quando um homem ou seus entes queridos estavam doentes, não foi preciso de muita persuasão para fazê-los ver as coisas à sua maneira. Sobrevivência era o nome do jogo, e se era preciso uma mulher para realizar a tarefa, então que assim fosse. Ganhar a aceitação deles tinha tomado muito tempo, no entanto, tinha valido a pena. Agora quase todos os habitantes e os que moravam perto de Sioux Falls vinham voluntariamente até ela, se suas doenças eram grandes ou não. E pela primeira vez, ela tinha sentido uma pontada em deixá-los sem ajuda médica. Ainda, que ela pudesse se lembrar, que não havia nenhum doente até agora que não pudesse sobreviver com a sua breve ausência. Ela não tinha tido nenhuma escolha, mas mesmo que ela tivesse planejado quando fosse hora de ir embora, era duvidoso que ela pudesse ter encontrado alguém para substituí-la em num tempo tão curto. Ainda assim, ela tinha tentado. E tinha se preocupado quando ela não pode encontrar — e no final, perdeu um tempo precioso. Ela tinha muito que agradecer a Cutter, ela refletiu e deu outro olhar para as suas costas. Ele tinha, pelo menos, tirado essa decisão pesada das mãos dela. E isso a levou a outro pensamento. Como foi que ele a tinha deixado pensar que isto foi tudo tinha sido idéia dela? E a tinha deixado preocupada quando achou que ele a tinha abandonado? Ela não duvidava que ele tivesse planejado a coisa toda! Até o último detalhe! Perdida em seus pensamentos, ela estava completamente despreparada, quando um pássaro desceu na frente dela, assustando sua égua. Instintivamente as mãos dela apertaram as rédeas, sobressaltando Cacau. A égua deu um pulo para trás, bufando e cheirando com rebeldia. Antes de Elizabeth poder gritar por ajuda, ela foi jogada de cabeça. Aterrou no chão com um grito, rolou e ficou imóvel onde caiu.
9
C om a
intenção de pegar a égua antes que ela pisoteasse Elizabeth, Cutter pegou as rédeas e acalmou Cacau. Após fazê-lo, ele saltou da sua própria montaria e correu até onde Elizabeth tinha caído, e se ajoelhou ao seu lado. Seus olhos estavam abertos, mas ela nem sequer deu uma piscadela. Ansiosamente, ele passou a mão sobre os olhos dela. Ela piscou os olhos de repente e virou-se para ele, seus olhos embaçados e seu coração batendo cheio de vida. Soltando a respiração, que ele nem sequer tinha percebido ter prendido, ele perguntou baixinho, "Você está bem, Lizbeth?" Elizabeth assentiu com a cabeça, segurando a mão que ele tinha oferecido. Ela se levantou com a ajuda de Cutter. Vendo que ela não estava ferida, Cutter não se preocupou em esconder seu descontentamento. "O que acontece entre você e cavalos que faz você sempre cair sentada na sua bunda?" Uma solitária lágrima rolou por sua bochecha empoeirada, deixando um rastro molhado pelo caminho. "Bem, diabos, você está ferida!" ele rosnou. "Mostre-me onde!" Com a garganta seca para falar, Elizabeth abanou a cabeça impotente, as lágrimas ainda rolando. "Eu não... Eu não estou ferida," ela insistiu. Mas seu lábio começou a tremer traidoramente, e em seguida, para seu espanto, ela começou a soluçar. Era como se toda a dor que ela estava passando desde a morte do seu pai tivesse vindo à tona nesse momento infeliz quando Cutter olhou furiosamente para ela. Mortificada, ela escondeu o rosto em suas mãos. Obviamente sem entender suas lágrimas, Cutter sentou-se perto dela e colocou uma mão nas suas costas, esfregando-a suavemente. "Por favor, olhos brilhantes, não chore perto de mim," ele disse para ela, pressionando-a para mais perto, para o espaço entre suas pernas. Ela não precisou de muito estímulo. Com um soluço sufocado, ela inclinou-se para seus braços, enterrando seu rosto molhado contra sua camisa, empurrando-o para trás com o impacto de seu corpinho delicioso. Oscilando com o peso dela, Cutter puxou-a para seu colo suavemente como se ela fosse uma boneca de porcelana. Grata pelo conforto que Cutter estava lhe dando, mas com vergonha de sua explosão vergonhosa, Elizabeth escondeu seu rosto contra o peito dele e chorou silenciosamente, seus ombros tremiam
suavemente. Ela agarrou a camisa dele como se fosse a sua tábua de salvação e Cutter não pode fazer nada, mas sentar e tentar acalmá-la enquanto ela involuntariamente puxava sua camisa para fora de sua calça. Ele não estava bem certo por que ela chorava tão apaixonadamente e sentiu uma pontada de culpa por se preocupar com a camisa. A verdade era que se ela puxasse com mais força, poderia rasgar, e ele só tinha duas — esta que ele estava usando e outra que estava no seu alforje. Se aproximando, ele tentou aliviar a tensão em sua camisa favorita. Envolvendo seus braços ao redor dela, ele acariciou suas costas tranqüilizando-a, e apesar de sua determinação de não ceder a seus instintos mais básicos, suas calças cresceram rapidamente por causa da mulher que se inclinava tão intimamente em seus braços. Raios me partam, se ela não cheira bem. Apertando sua mandíbula, ele lutou contra o impulso de levantar o rosto dela, beijar suas lágrimas, porque ele sabia exatamente para onde isso levaria se ele o fizesse. Não importava onde eles estavam. Seu corpo não sabia a diferença entre um colchão de penas e um chão duro de terra. Mas ela sabia. E de alguma forma, era importante. Ontem à noite ele não tinha prometido para ela nada e com certeza ele não tinha qualquer sentimento nobre, mas ele queria que tudo estivesse bem entre eles quando acontecesse. E ele sabia que ia acontecer, mas primeiro ele queria a confiança dela. E a sua rendição incondicional. Com dificuldade para respirar, ele pressionou seus lábios em seu cabelo, enquanto sua mão fazia carinho em sua cabeça. Movendo os braços dela, seus dedos apertaram seus ombros, e ele congelou, proibindo-se a ir mais longe. "Lizbeth," ele disse com a voz rouca. "Você está ferida?" As lágrimas continuavam a cair na sua camisa, mas ela conseguiu balançar a cabeça em resposta. Cutter respirou fundo, tentando esquecer o perfume feminino e quente dela. "O que é, então?" Ele olhou por cima do ombro, para ver os cavalos, alguns metros de distância. Ele assegurou para ela, "não há nada para se envergonhar, olhos brilhantes. Todo mundo cai do cavalo pelo menos uma vez. Diabos, eu caí mais de uma vez." E o que importava se isso não era verdade? Ele discutiu consigo mesmo. Ela não tinha que saber, certo? Ele acariciava o pescoço dela como ele faria com uma criança, seus dedos deslizando ao longo de sua trança. Ela assentiu com a cabeça, e ele poderia dizer que ela tinha aberto os olhos dela, porque ele podia sentir seus cílios tremulando através da camisa molhada. Foi então que ele percebeu que ela não estava usando seus óculos, e ele procurou imediatamente por eles no chão. Ele fez uma careta quando o encontrou a alguns centímetros de distância, uma lente rachada e as hastes quebradas. "Da próxima vez," ele disse para ela, sem saber como dar a notícia, "não aperte muito as rédeas. Se você não tivesse tentado estrangular a maldita Cayuse, ela não ia derrubar você."
Ainda segurando na camisa dele, Elizabeth inclinou o rosto para ele com os olhos lacrimejantes. Ela não sabia o que dizer sobre isso. "Eu não estava tentando estrangular meu cavalo!" Mas mesmo quando ela disse, não estava certa de que era a verdade. Os dedos dela ainda doíam de segurar as rédeas com força. "Meu Deus! Jo estava certa!" ela surtou. "Você é um idiota insensível!" As sobrancelhas de Cutter levantaram. "Sim?" ele perguntou friamente, mas estendeu a mão para limpar o rosto úmido com o polegar. Ao mesmo tempo, Elizabeth recuou de seu toque. Pegou a mão dele e olhou para ver o que tinha irritado sua pele sensível debaixo de seus olhos. Primeiro ela ficou confusa e, em seguida, com horror, quando ela examinou seus dedos cheios de cicatrizes. Suas sobrancelhas colidiram violentamente quando ele tirou a mão dele para longe dela. "Não pergunte," ele avisou, antes que ela falasse qualquer coisa. Elizabeth só olhou para ele. Um olhar peculiar apareceu nos olhos dele, e tudo o que ele disse para ela foi: "Não é da sua conta! Pelo amor de Deus, você quer algo para se preocupar, então se preocupe com os seus óculos." Ele os pegou e sem preâmbulos, deixou-os cair em sua mão. "Eles estão quebrados." "Oh não!" Elizabeth passou as pontas dos seus dedos no rosto úmido de lágrimas. "Não!" ela gemeu. "Você tem idéia há quanto tempo eu tenho estes óculos?" ela chorou em pânico. Esquecendo tudo o mais neste momento, incluindo o seu desgosto, ela os inspecionou ansiosamente. Olhando para ela com ceticismo enquanto ela inspecionava as hastes, Cutter encolheu os ombros, com um toque irônico de seus lábios. "Não," ele disse, "mas acho que eu poderia dar um palpite e acertar." Desesperada Elizabeth tentou consertar a haste, mas não conseguiu nada. "Eles eram do meu pai antes de mim," ela explicou enquanto ela tentava consertar. "Sério?" Elizabeth deu-lhe um olhar afiado — não deveria ter feito isso, porque uma vez que ela olhou nos seus olhos profundos, escuros, ela não conseguiu desviar seu olhar. Ela se sentiu presa numa armadilha. Senhor, como ele era bonito. Bonito demais para se explicar em palavras. Os lábios dele... aqueles olhos... Que Deus a ajudasse, toda vez que ela olhava para ele, ele ficava cada vez mais impressionante. Nenhum homem tinha o direito de ser bonito daquele jeito. Ela esperava que ele olhasse para ela por um momento com nada mais do que pena? O coração dela pareceu despencar para o estômago. Os ombros caíram. Ela não tinha percebido a pressão que ela estava colocando em seus óculos até que uma das hastes saiu na mão dela. "Não!" ela chorou. "Oh, não... O que eu faço agora?" Cutter tirou-o das mãos dela. "Francamente, não achei que precisasse dele tanto assim," ele disse para ela. A sobrancelha de Elizabeth vincou de preocupação, enquanto seu olhar foi direto para os óculos na mão dele, e Cutter sentiu uma súbita vontade inexplicável de suavizar sua aflição. Mas recordando
o olhar de repulsa, que ela tinha lhe dado quando descobriu as cicatrizes em seus dedos, ele abstevese de tocá-la novamente. "Parece-me que você vê bastante bem sem eles," ele disse de um modo quase malcriado. "De perto vejo tão bem quanto você," ela admitiu, vendo sua preocupação crescente. "Mas não vejo bem de longe... e eu não consigo ler muito tempo sem ter dor de cabeça." Elizabeth engasgou. Era como se ela de repente tivesse ficado ciente da impropriedade de sua posição, porque ela imediatamente se afastou dele. Ele empurrou os óculos de volta para a mão dela, encontrando o olhar dela. "Não consigo fazer nada para consertá-los." Ela estava sentada sobre os joelhos, as mãos nas coxas, sua expressão triste. Por um momento muito longo seus olhares ficaram presos um no outro. Ela molhou os lábios nervosamente, sua pequena língua rosa se arremessou para fora para umedecer a parte inferior do lábio e um desejo insano apareceu nas entranhas de Cutter. Apesar de sua raiva. "Tem certeza que não está ferida?" ele perguntou. Elizabeth assentiu rapidamente. "Bom."
SUAS SOBRANCELHAS SE UNIRAM. "Você não tem que parecer tão descontente com o fato." "Filha da puta!" Cutter gritou de repente, levantando suas mãos. "O que diabos você quer que eu diga?" Elizabeth vacilou por causa do seu tom, mas não recuou. "E você não precisa me xingar!" Ela falou levantando a voz. "Maldita seja, se você não é tão obtusa quanto aquela égua-vaca Cayuse!" "Bem! Então por que você quer me ajudar se você me odeia tanto?" ela quis saber. "Eu tenho me perguntado a mesma coisa!" Cutter lhe disse. "Diversas vezes! Diabos, eu não sei! Talvez eu tenha um cérebro deficiente para pensar que você talvez apreciasse a minha ajuda. Talvez eu esteja fazendo por Jo! Ela parece gostar de você e eu pensei que você gostasse dela! Acho que eu estava errado." "Não!" Elizabeth retrucou. "Não!" E então, compondo-se, ela disse mais calma, a expressão dela doía "você não estava errado. Eu me importo com Jo. Ela é a minha melhor amiga." Um pouco mais suave agora. "A mais próxima que eu jamais tive." Um silêncio pesado caiu entre eles. Enquanto eles ficaram olhando um para o outro, alguma coisa passou entre eles, uma conexão não compreendida ou algo que os fez se sentirem pouco à vontade. Elizabeth foi a primeira a quebrar o contato visual. Nervosamente, pegando seu lábio inferior entre os dentes, ela olhou para baixo para seus joelhos trêmulos, depois olhou de volta para cima
para ver que Cutter ainda a olhava atentamente. Sua expressão era pensativa, como se ele fosse questioná-la de alguma forma, ou a ele mesmo e não gostasse das respostas que ele poderia encontrar. Bem, ela não se importava se ele não gostava dela, ela disse a si mesma. Ela não gostava dele também! Não tendo a certeza do que dizer, ela só sabia que não agüentava mais a maneira que ele a olhava e do seu jeito rabugento. "Por causa de Jo," ela começou "você acha... você acha que talvez pudéssemos ter uma trégua? Pelo menos até St Louis?" Intrigante como era, ela queria o outro Cutter de volta — o homem que ele parecia ser quando ela o tinha conhecido. "Você vai se livrar de mim," ela falou quando seus olhos se fecharam ligeiramente. Quando ela o lembrou do fato de que ela planejava contratar outra pessoa assim que eles chegassem ao destino, a mandíbula de Cutter ficou tensa, mas ele assentiu com a cabeça em resposta. Livrar-se dela? Ele duvidava que ele algum dia fosse conseguir, mas sim, ele poderia e precisava de uma trégua, por causa da viagem. "Tudo bem," ele concordou, sua voz rouca. "Vamos dar uma trégua. Mas você vai ter que cuidar de você mesma e me ouvir, Doutora. Quando eu disser para fazer algo, faça. Confie em mim para saber o que é certo. De acordo?" "De acordo."
10
No dia seguinte Elizabeth percebeu que foi uma trégua fácil. Pouco foi dito entre eles enquanto eles montaram o acampamento naquela primeira noite. Ela tinha muitas coisas na cabeça para gastar tempo com conversas inúteis. E apesar dele ter avisado que ela deveria tomar conta dela mesmo, Cutter cuidou de cada detalhe, de caçar uma refeição até preparar os sacos de dormir, fazendo com que ela não precisasse fazer nada, a não ser ficar sentada que nem uma idiota. Ela estava certa de que ele tinha feito tudo por consideração a ela, por causa de sua queda. Mas durante todo o dia seu comportamento foi brusco, sem nenhum tipo de conversa, mesmo que ela quisesse. Ela ficou calada e tinha pensado muito pouco sobre isso até agora. Ao fim da tarde, ela começou a suspeitar que Cutter estivesse arrependido do acordo que eles tinham feito, e ela se sentiu com vontade de enviá-lo ao inferno por fazê-la se sentir tão culpada. Isso certamente não tinha sido idéia dela! Tinha, de fato, sido dele. E agora que ele tinha conseguido convencê-la que era a melhor solução, ela não ia deixá-lo tão facilmente. Como ele ousava considerar esse fato, de qualquer forma? Ela não ia de maneira nenhuma se sentir culpada! Até o presente momento, poucas palavras tinham sido faladas entre eles. E mesmo assim só por necessidade. Como quando ela pediu para parar, para que ela pudesse se aliviar — outra coisa que ela não tinha pensado que iria acontecer. Ela duvidou que ela tivesse que se acostumar a ter que compartilhar esse detalhe constrangedor com outro ser humano, muito menos com um homem — muito menos com Cutter McKenzie! Verdade, ela era uma médica, e tais coisas eram supostamente familiar, mas por alguma razão, só de pensar que Cutter ficasse sabendo sobre essa privacidade... isso a afligia. Especialmente desde que ele parecia ficar particularmente divertido com isso. O que ele achava tão divertido, Elizabeth não tinha certeza. Em sua defesa, em várias ocasiões, ele perguntou para ela se estava tudo bem. E então seus lábios se torceram quando ela se recordou da primeira vez que ele havia perguntado. Apesar de seu traseiro dolorido, ela tinha prontamente garantido que estava bem, mas as manchas carmesins em
suas bochechas tinham dito o contrário. Observando-as, Cutter tinha sorrido seu primeiro sorriso do dia e então tinha lhe oferecido seu chapéu... dizendo com falsa gravidade que o sol estava queimando a pele dela, mesmo enquanto ele olhava para ela. O rato! Certamente ele não podia ser um cavalheiro quando dizia que ela estava corada. Mas ele nunca disse que era um cavalheiro, certo? Relutante ela aceitou sua oferta, rangendo os dentes quando pegou o maldito chapéu. A única outra vez que ela tentou iniciar uma conversa, ele praticamente arrancou a cabeça dela. Ela apenas perguntou por que seu cavalo só tinha metade da orelha direita. "Alguém quis fazer uma piada, fazer um trote" ele rosnou. O rosto de Elizabeth se contorceu. "Bem, eu certamente não acho isso engraçado," ela asseguroulhe. O olhar que Cutter lhe deu em resposta gelou até seu último osso. "Eu também não," Cutter respondeu. Mas acho que a pessoa também não está mais rindo. Jack Colyer e Cutter tinham trabalhado juntos por quase dois anos conduzindo gado. Como ele era um dos garotos mais velhos, Colyer fazia com que Cutter sempre acabasse com os piores trabalhos, os piores suprimentos, e ele era sempre o último a receber a comida. Diabos, se ele realmente tivesse apanhado o homem se gabando sobre cortar a orelha do seu cavalo. Sem dizer uma palavra, Cutter tinha caminhado para o círculo dos homens, alguns dos quais tinham o dobro de sua idade e tamanho, mas ele estava muito irritado para ter medo. Ninguém tinha se mexido. Ele ainda podia sentir o silêncio rastejando nas suas costas, enquanto eles o assistiam movendo-se propositadamente na direção de Colyer. Sua lâmina tinha cortado o ar tão rapidamente que Colyer não soube o que aconteceu até que ele viu a prova na mão de Cutter. "Uma orelha por uma orelha," Cutter falou. E então ele sorriu, sentindo uma satisfação que ele nunca deveria ter sentido por um ato tão violento. Ainda assim ele se sentiu satisfeito. Ninguém jamais o enfrentou novamente. Mas eles não o aceitavam. "Por que ele faria uma coisa destas para um cavalo inocente?" Elizabeth quis saber, trazendo de volta o triste e feio passado. O olhar que ele deu a ela foi terrível. "Pela mesma razão que você parece ter com a minha companhia." ele disse. "Ele odiava mestiços." "Eu não odeio mestiços!" Elizabeth protestou. Cutter deu de ombros. Ela podia não odiá-los, mas ela obviamente não gostava muito deles também. E a paixão no tom da voz dela dizia que ela estava falando a verdade, embora ele tivesse que continuar a testá-la. "Acho que ele não ficou satisfeito com a minha reação aos seus insultos," ele revelou. "Ele foi um pouco longe demais na tentativa de me provocar, é tudo." "O que você fez com ele?" O tom dela era desconfiado.
Uma sobrancelha levantou quando ele se virou para olhar para ela. Houve um longo momento de silêncio. "Talvez eu tenha escalpelado ele?" ele disse sem emoção. Elizabeth reprimiu um estremecimento. Contra a vontade dela, ela sentiu simpatia pelo homem que andava ao lado dela. Ele parecia tão difícil, mas por mais forte que alguém fosse o ódio sempre tocava esta pessoa. Ela se perguntou como ele devia se sentir por ter sido perseguido durante toda a vida por causa da sua raça e então sentiu a consciência pesada por tê-lo xingado. Ela não tinha se comportado melhor do que o homem que tinha cortado a orelha do seu cavalo. Ainda assim, ele a tinha provocado. Ela virou-se para ele e viu que ele a observava atentamente. "Você não quer saber," ele disse enigmaticamente. ... acho que o homem não está mais rindo. Elizabeth engoliu. "Acho que não," ela cedeu, estremecendo sobre sua observação enigmática. Sacudindo seus pensamentos mórbidos, ela resolveu ficar sozinha durante o resto do dia. Enquanto eles continuaram a cavalgar, o terreno mudou muito pouco, e ela se viu envolta em monotonia. E silêncio. E calor. A camisa dela estava úmida nas suas costas, e pequenos riachos faziam cócegas na carne sob os seus seios, fazendo-a sentir-se incrivelmente pegajosa. A vontade dela era arrancar a blusa para bem longe de seu peito. Ela silenciosamente amaldiçoou o clima excepcionalmente quente. Apesar da sombra do chapéu que Cutter emprestou para ela, seu rosto estava sempre quente, e ela suspeitava que seu nariz e bochechas estivessem ficando queimados. Instintivamente ela examinou a sensível ponta do seu nariz pensando, pelo lado positivo, que ela não tinha mais óculos para preocupá-la. E então, de repente, ela sentiu-se destruída quando ela refletiu sobre essa perda. De alguma forma, parecia que o pai dela tinha sido arrancado para longe dela de novo... e ela não aceitava isso muito bem. Era apenas fio e vidro, afinal. Ela suspirou, a emoção traída pelo som sombrio, o que lhe garantiu um olhar perspicaz de Cutter. Elizabeth sentou-se taciturna, ignorando os muitos olhares que Cutter dirigia para ela. Ele estava quieto demais, mas o silêncio dele tinha pouco a ver com raiva, ou mesmo arrependimento. Acima de tudo ele queria provar para ela quem ele realmente era. Será que ele poderia persuadir Elizabeth de vê-lo diferente e não como o selvagem pagão que ela achava que ele era? A partir do momento que ele tinha acordado esta manhã e a encontrou dormindo tão pacificamente, enrolada na manta como uma criança, nenhum outro pensamento tinha ocupado sua mente. Vê-la nesse momento no silêncio de manhã cedo, fez com que ele não conseguisse se mover. Quando ela finalmente acordou, só deu tempo para empacotar e voltar para os cavalos. Enquanto ele a olhava, ele continuou se lembrando do seu breve momento de riso, quando ela lhe contou sobre as peripécias de Dick Brady, e ele reviu a curva de seus lábios quando ela tinha sorrido
à beira da embriaguez. De alguma forma ele tinha a impressão de que ela não ria muito — não tinha muito porque sorrir. E ele parecia ansiar por seu sorriso. Não conseguia descobrir por quê. Ontem à noite ela calmamente tinha cantarolado para dormir, o som tão desolado como a lamentação de um cachorrinho perdido, e isso o deixou sentindo seu vazio. Por que ele estava atraído por ela? Ele se perguntou dando outro olhar para ela. Quando ela obviamente dava tão pouco valor a ele? Ele nunca pensou que se tornaria um otário com paixonite por senhoritas pudica. Ele rejeitava o fato dela ter dado suspiros sonhadores em seus braços. Ele não se enganara quanto a isso. Sua resposta para ele mesmo era que era isso que ele esperaria de qualquer menina inocente. Ele ainda não tinha conseguido dizer para ela, que ele não pretendia deixá-la contratar ninguém em St Louis — não sabia como fazê-la ver as coisas à sua maneira. Ele só sabia que ela não ia fazer da maneira dela — não se ele tivesse algo a dizer sobre isso. Só de pensar em outro homem deitado ao seu lado na cama — qualquer cama — queimava como uísque podre no seu intestino. Diabos, talvez isso fosse tudo o que tinha para ele. Talvez ela só não soubesse que para parecer real, ela ia ter que levar o acordo até o fim, até as últimas particularidades. E isso significava compartilhar o mesmo quarto — talvez até o mesmo travesseiro. Talvez tudo o que ele precisasse fazer era informá-la dos pequenos fatos. Talvez isso fosse tudo o que ele precisava fazer. Para satisfazer a fome do seu corpo. Talvez quando ele a tirasse para fora de seu sistema e renunciasse a pensar nos seios dela, a maneira que eles pareciam mal escondidos por sua camisola transparente.
ELE SENTIU uma agitação em suas calças e revirou os olhos. Pelo amor de Deus, não de novo. Ele olhou para ela bruscamente. Diabos, ele nem sequer tinha que olhar para ela para ficar todo excitado. Quando eles deram uma parada, a dor da parte inferior de Elizabeth começou a trabalhar a caminho dos seus membros. Até mesmo os dedos dela doíam onde ela tinha segurado as rédeas, mas ela não ousava reclamar. Flexionando-os, ela resolveu ajudar desta vez, e depois de decidir como, ela começou a apanhar lenha, enquanto Cutter partiu para o rio a fim de dar água para os cavalos. Ele voltou a tempo de tirar as selas dos cavalos e remover sua carabina da sela. Ele lhe perguntou, enquanto desembanhava sua Colt do seu coldre, "sabe como usar isso?" Colocando a lenha no chão no lugar que ela escolheu e limpando as mãos na saia, Elizabeth deulhe um olhar exasperado. "Se eu puder ver," ela murmurou, "eu posso atirar." Ele entregou-lhe a arma. "Bem," ele disse e virou-se. "Use-a sabiamente." Elizabeth olhou para a arma afrontada. "O problema é que eu não consigo ver," ela lamentou, mas ela não ia admitir essa falha para Cutter. Quando o alvo ficasse em seu campo de visão, seria mais provável e não tarde demais.
Olhando para o revólver com uma dose de ansiedade, ela decidiu que ela não usaria a maldita coisa, e isso era tudo. Cutter foi à sua direção. "O que você disse?" Elizabeth forçou um sorriso. "Nada," ela respondeu às pressas. Ele não parecia muito convencido, e ela deu-lhe um suspiro irritado. "Eu disse, que eu vou ficar bem! Não se preocupe comigo. Boa noite," ela murmurou. Ela tinha cuidado de si mesma a maior parte de sua vida. O pai dela tinha estado muito ocupado e mais frequentemente ela também tomava conta dele. Ela não precisava da preocupação de Cutter. Se é que ele estava preocupado. E não havia espaço para dúvida. Com um aceno e um sorriso, Cutter virou-se novamente. "Só não vise nada que esteja em pé na posição vertical," ele disse para ela, "a menos que fale primeiro e você tenha certeza que não sou eu." Elizabeth suspirou indignada. "Se precisar de mim, atire uma vez — para o céu. Não quero brigar com uma bala perdida." Ele se afastou sem olhar para trás, e Elizabeth teve a súbita vontade de apontar a arma para o céu e apertar o gatilho com toda sua força, só para assustá-lo — o homem era um pouco presunçoso para o seu gosto. Era quase indecente a maneira que sua calça se apegava nos seus quadris e coxas! Ela tinha tentado ignorar os músculos dele, mas era impossível. Ela nunca tinha visto um corpo tão duro quanto o dele! Maldito homem! Colocando a arma do lado, cuidadosamente, com uma pequena oração de que ela nunca iria precisar dela, Elizabeth terminou de amontoar a lenha. Ela esperava que Cutter encontrasse algo um pouco mais comestível do que carne seca para satisfazer sua fome. Tanto quanto lhe dizia respeito, ela já tinha comido mais do que o suficiente de carne desidratada, pelo resto de sua vida. Quando Cutter voltou, ela tinha conseguido colocar a lenha de uma forma que o ar podia fluir facilmente entre os gravetos. Dessa forma ele sairia rapidamente, como Cutter parecia preferir. Ela estava cuidando do fogo, e a primeira pequena chama estava lambendo seu caminho triunfalmente na pirâmide de madeira que ela tinha construído, quando Cutter gritou um palavrão que a fez dar um salto assustada. Girando em direção do som, ela viu sua expressão lívida e saiu de seu caminho enquanto ele se dirigia até ela. Atônita, ela se virou e viu quando ele apagou a chama que ela tinha trabalhado tão duro para começar. "Se não sabe como fazer alguma coisa, droga — pergunte!" Havia uma genuína perplexidade na expressão de Elizabeth. "Eu sei como fazer uma fogueira!" ela protestou. Os olhos pretos de Cutter se cravaram nela, enervando-a por causa da hostilidade que eles revelavam. "Você não está confortavelmente em sua casa, Miss Bowcock," ele disse, "com a lenha
empilhada ao lado de sua pequena lareira. Sem pedras ou algo do tipo para impedir que o fogo se espalhe você vai começar um incêndio como nada que você já pode ter visto desse lado do inferno!" "Não há nenhuma necessidade de dizer maldições para mim! Eu certamente não sabia!" Se possível, as bochechas de Elizabeth tornaram-se ainda mais quentes, se intensificando com a irritação. Como ela ia saber? "E você não tem que vir correndo para mim como... "Como um selvagem?" Cutter lhe ajudou. O queixo de Elizabeth subiu um pouco, e ela deu uma respiração profunda, em um esforço para manter a compostura. "Eu — não — ia falar — isso!" Os olhos dela irados. "Mas agora que você falou —" Os olhos de Cutter brilhavam perigosamente. "Não diga," ele advertiu. "Foi você quem começou!" Elizabeth se sentiu obrigada a dizer. "O que aconteceu com a nossa trégua? Parecia que eu estava cometendo o mais terrível dos pecados, quando eu estava apenas tentando ajudar!"
NÃO, apenas persuadir seu pensamento com relação a ela, era tudo o que ele queria. Cutter não conseguia nem caçar sem pensar nela. O que diabos ele se importava em saber o que ela gostava de comer? "Tudo bem, então agora você sabe," ele disse firmemente. "Agora vem cá e eu vou te mostrar como se faz corretamente." Elizabeth não se moveu. Ele começou limpando a área circundante de detritos. Ele se ajoelhou, tirou sua faca da bota e cavou uma trincheira com mais ou menos dois pés de comprimento, amontoamento a terra para um lado. Depois, ele reuniu algumas pedras e arranjou-as adequadamente. "É mais fácil construir acima do solo," admitiu. "Mas desta forma economiza combustível. Afora isso, não precisamos que ninguém saiba que estamos aqui. Tenho andado por aí há muito tempo para saber que não devo deixar vestígios." Ele olhou, para a expressão de Elizabeth. Ela não tinha nem mesmo ido para frente, embora ela estivesse olhando para ele, a expressão dela, curiosa e afrontada. "Você não acreditaria o quanto é importante o estudo de um acampamento abandonado," ele disse, em uma tentativa para se aproximar dela. Em sua declaração, Elizabeth olhou em volta. Não vendo nada, ela voltou sua atenção para Cutter, com as mãos nos quadris. "E quem você acha que está por aí?" ela perguntou abruptamente, odiando a maneira que os olhos dela se fixaram, não para o rosto dele, mas para os músculos dos seus braços enquanto ele trabalhava. Seus braços, musculosos e bronzeados do sol, eram um claro testemunho de uma vida de trabalho árduo. Não era possível ela dar as costas para essa perfeição, ela olhava hipnotizada. Pare de olhar, ela falou para si mesma. Parece que você nunca viu um homem! Cutter encolheu os ombros, sem olhar para cima. "Pode escolher."
Elizabeth estremeceu, sacudindo a cabeça como se para dissipar seus pensamentos. "Índios?" ela disse. Havia medo no tom dela, e Cutter estremeceu ao ouvi-la com medo. "Pode ser" ele disse da maneira mais insensível que ele foi capaz. Levantando-se, ele passou as mãos nos seus jeans, tentando limpar a sujeira de suas mãos, enquanto ele lhe dava um olhar irritado. Com um balanço de nojo da cabeça dele, ele começou a recolher o excremento de búfalo que ele tinha caçado. Em uma exibição incomum de imperícia, ele tinha deixado cair tudo ao vê-la de joelhos perto do fogo, o corpinho pequeno empinado enquanto ela estava curvada sobre sua tarefa. Ele tinha levado um momento para se recuperar após esse momento. Uma coisa era certa, a mulher tinha um traseiro dos diabos. Uma vez que ele tinha pegado o excremento, ele colocou-o no poço que ele tinha cavado e colocou por cima a lenha que Elizabeth tinha reunido. Vendo uma parte de excremento que ele tinha perdido, Elizabeth se dobrou para recuperá-lo, colocando-o também na trincheira. "E a fumaça?" lembrou-lhe laconicamente. "Que vai durar apenas o tempo suficiente para cozinharmos," ele disse, tirando um pedaço de pano e um cartucho do bolso da frente de sua camisa. Com isso ele produziu um fósforo e o acendeu. Colocou-o no pano, e por um momento, enquanto via o fogo pegar, ele olhou para ela de repente, seus olhos sondando. Ele não entendia como ela poderia olhar para a irmã dele e não ver o que ela era... e ela podia olhar para ele e ver apenas o que ele não queria que ela visse. Ele de repente amaldiçoou como a chama chamuscou seu polegar. "Você está bem? Quer que eu dê uma olhada?" ela perguntou. "Não," ele disse. "Estou ótimo!" Murmurando outro palavrão sob sua respiração, ele arremessou o pano para a fogueira, lançando um olhar rápido para Elizabeth enquanto ele colocava o cartucho de volta no seu bolso. Maldita mulher. Ela ia matá-lo antes de tudo acabar! "E sobre o frio?" ela perguntou abruptamente, olhando enquanto Cutter arrumava a lenha. "Não vamos precisar de fogo hoje à noite?" "Não," respondeu Cutter. Ele levantou a cabeça, e deu-lhe um sorriso. "Não vamos — mas não é como se estivéssemos no meio do inverno, Doutora. E nós temos cobertores." Seus olhos mantinham promessas que Elizabeth não compreendia completamente. Ainda assim, ela se sentiu inquieta por causa delas, e ao mesmo tempo, intrigada. "E se não for o suficiente?" ela se preocupou em voz alta. "Estava frio ontem à noite," ela acrescentou melancolicamente. Os olhos de Cutter a prendiam encantada. Se a saia dela estivesse pegando fogo, ela duvidava que ela pudesse fazer alguma coisa para apagar o fogo. "Nós temos um ao outro," Cutter disse, seus lábios ligeiramente curvados. "Nós podemos esquentar um ao outro, eu acho." Houve um súbito tremor selvagem no estômago dela. "Os cobertores nos manterão quente o suficiente," ela assegurou-lhe rapidamente. "Eu-eu estou certa de que eles vão!"
Cutter sorriu com a sua resposta óbvia e seu nervosismo e, em seguida, a expressão dele suavizou consideravelmente. "Já comeu um puddle-jumper?" ele perguntou.
"O QUÊ?" "Cascavel." "Ugghhh! Claro que não!" Elizabeth, na verdade, deu um passo para trás, acenando-lhe, como se quisesse mandar o medo embora. "E não pretendo comer nunca," ela declarou com certeza. Cutter sorriu de repente. O sorriso dele fez os dedos dos pés de Elizabeth ficarem com câimbras. Os olhos dele dispararam para um saco que estava esquecido perto da fogueira. "Nunca diga nunca, Doutora," ele aconselhou solenemente. O olhar de Elizabeth seguiu-o e, em seguida, voltou a olhar para Cutter, com suspeita que algo ruim estava para acontecer. O sorriso de Cutter se alargou, os dentes brancos piscando contra sua tez morena, seu rosto mais moreno ainda com sua barba por fazer. Sua risada era baixa quando ele veio, trazendo de volta aquele brilho irritante nos olhos. Inexplicavelmente, o coração de Elizabeth bateu mais rápido com a visão.
11
Nunca, veio mais cedo do que Elizabeth teria gostado. Com nenhuma outra comida disponível, ela foi forçada a pelo menos provar a cascavel. E verdade fosse dita, não era tão ruim, se ela não soubesse o que estava comendo. Mas ela sabia. E era tudo que ela podia fazer para que seu estômago parasse de roncar. E não ajudou muito ver que Cutter parecia estar gostando do seu mal-estar. Forçando pela garganta o último pedaço, ela se levantou e começou a arrumar o seu saco de dormir, sabendo que eles não teriam nenhum fogo quando a noite caísse. Pensando que ela pegaria o calor restante do fogo enquanto ele se apagava, ela se posicionou perto dele. Enquanto ela trabalhava, Cutter a assistia, sua expressão preocupada enquanto suas mãos estavam ocupadas com uma tira de couro cru e a cauda da cascavel. Depois de um tempo, ele puxou seu próprio saco de dormir, deitando do lado oposto da fogueira onde estava Elizabeth. Mais cedo do que ele esperava o sol apresentou sua despedida, numa gloriosa exibição de cores. Infelizmente, ao contrário da noite anterior, o sono escapou de Elizabeth. Ela esperava que seus olhos se fechassem com o pôr do sol. Mas não foi isso o que aconteceu. Miseravelmente, ela podia sentir cada protuberância abaixo dela, cada pedra, cada pedaço duro de grama. O corpo dela ainda estava doendo da cavalgada, não tanto quanto tinha doído na noite anterior, mas ainda assim doía. Eventualmente o fogo morreu quase completamente, deixando apenas algumas brasas brilhando e depois de um tempo, até mesmo a noite gentil parecia conspirar contra ela: o som constante dos grilos, o pio distante de uma coruja. Ela pensou em cantarolar baixinho para si mesma, mas talvez Cutter pudesse ouvi-la; a música dela parecia mais um rangido ímpio na brisa da noite do que uma suave canção de ninar. E Cutter... Ela estava muito consciente dele — apesar do fato de que sua forma era pouco visível através das sombras. Ela podia sentir a presença dele, tão certo como se ela soubesse que ele estava deitado quase ao lado dela. Ele, por outro lado, parecia não ter qualquer dificuldade de dormir! Ele dormia como uma pedra.
Na verdade, ela pensou que tinha mais de uma hora desde que ela tinha ouvido um único farfalhar de seus cobertores, e o fato de que ele podia dormir tão pacificamente quando ela não podia a fazia se sentir mais inquieta. E ofendida de alguma forma, embora ela não soubesse por quê. Apesar do fato dos olhos dela se sentirem pesados como chumbo, as borboletas no seu estômago estavam bem acordadas. Ou talvez fosse a cascavel se agitando dentro dela? Quando ela se lembrou da cascavel, os músculos de Elizabeth ficaram tensos abruptamente. Aonde ele tinha encontrado a coisa? Não em qualquer lugar na área, ela esperava. Mas... ele não tinha ido muito longe — ele devia ter achado nas proximidades. E se tivesse alguns bebês cascavéis deslizando em algum lugar? Mas não... Ela não achava que eles viajavam dessa forma. Eles preferem sua própria companhia... não é? Oh, Jesus... Alguma coisa mexeu na escuridão perto dela. Elizabeth voltou a ficar apreensiva. "Cutter?" ela resmungou. Cutter não moveu nem um músculo, mas lá estava aquele som novamente. Agora, o que ela ia fazer? Uma coisa era certa. Ela não queria acordar Cutter e vê-lo perturbá-la sobre isso de manhã! Mas ela também não estava disposta a ficar deitada indefesa no escuro! Ela pegou o cobertor de lã e tateou seu caminho ao redor onde Cutter dormia, arrastando o cobertor atrás dela pelo chão. Que mal poderia haver em descansar um pouco mais perto dele? Só um pouco? Ela gemeu quando o cobertor ficou preso sob o joelho dela. Ela o puxou freneticamente e caiu de barriga no chão quando ela o bateu muito rapidamente. No meio de uma nuvem invisível de poeira, ela se colocou de joelhos. Mais tarde ela iria voltar para seu saco de dormir... uma vez que ela sentisse que tudo estava bem e que o som tinha sumido. Cutter nunca precisaria saber. Certo? Certo. Oscilando em algum lugar entre o sono e a consciência, Cutter ouviu a voz dela. Mas ele vinha sofrendo a noite toda. Não só a música horrível que ela murmurava, se ela podia ser chamada assim, mas também o que ela tinha dito. Índios? Ele continuava ouvindo de seus lábios. Índios? Ele sentiu vontade de dizer-lhe para ir direto para o inferno, mas antes que ele pudesse expressar esses sentimentos poderosos, um sexto sentido o alertou para uma presença ao lado dele e seus olhos se abriram, e ele viu algo se rastejando como um ladrão para o seu lado. Ele sorriu de repente. Maliciosamente. Sem dúvida, ele sabia o que era. Ou melhor, quem era. Elizabeth. E por sinal, seu corpo respondeu imediatamente a sua proximidade. Ele virou-se abruptamente para que ela se deitasse do lado dele, vendo a reação dela alarmada através dos seus olhos. Sua forma escura congelou e, em seguida, começou a se mover sutilmente, e
ele sufocou uma risada malvada. Ela não ia muito longe — não quando ele finalmente a tinha onde ele sempre a quis. Subitamente o braço de Cutter serpenteava, segurando-a pela cintura. Ela se enrijeceu, e ele sonolento puxou-a para dentro do círculo do seu abraço, ao mesmo tempo fazendo carinho contra a parte de trás do pescoço dela. Ela resistiu silenciosamente, mas reagiu, se contorcendo com o aumento da força dele. Instintivamente, ele sabia que se ele não pensasse em algo rápido, ela ia dar uma cotovelada na sua virilha novamente — e esvaziar os pulmões bem no ouvido dele. E então uma idéia veio à sua mente, e seu sorriso se alargou. "Mmmm," ele gemeu de repente, envolvendo seus braços, mas possessivamente sobre a cintura dela. Quando a luta cessou por um breve instante, ele aproveitou, e deslizou a mão com ousadia contra suas partes íntimas. Sua boca deu um protesto chocado, mas antes que pudesse sequer pensar em remover a mão de onde estava, ele bateu sua traseira contra as coxas dele. A mão dele deslizou lentamente até a coxa dela quando ele balançou sonolento contra a sua traseira. "Mmmmmmmm," ele murmurou, "é... tão... bom. Rapaz, melhor do que nunca!” Antes que ela pudesse responder, ele acrescentou. "Bess." Como ele tinha esperado, Elizabeth congelou em seus braços. Seus lábios estremeceram com um riso que ele não podia dar. Bess? Ele pensou que ela era Bess? Não era ruim o suficiente ele sonhar com a vadia? Ele tinha que confundir as duas, também? Como ele ousava? Elizabeth se irritou. Ainda assim, ela não arriscou a se mover, porque ele obviamente não sabia quem era ela, e ela não queria se revelar. Se ela o acordasse agora, ela seria forçada a explicar por que ela estava dormindo tão perto dele para começar... quando ela o tinha praticamente proibido dormir dentro do alcance do braço dela. Como ela poderia possivelmente se explicar? A verdade era que ela duvidava que qualquer coisa que ela dissesse a faria parecer bem. Até mesmo para a sua própria mente, seu raciocínio soou coxo, na melhor das hipóteses. Ela decidiu que seria melhor esperar até que o patife caísse num sono profundo, e então ela podia escapar — ele era um cachorro podre peculiar! Enterrando o nariz na nuca dela, Cutter suspirou de puro prazer. Ela cheirava bem — sem colocar perfume, era só o aroma fascinante do cabelo e da pele dela. Ele se sentiu rindo em voz alta — embora ele não soubesse por que ele devesse se sentir tão satisfeito com ele mesmo de repente, quando ele tinha ficado tão irritado momentos antes, era uma pergunta que ele não queria pensar muito. O que ele não daria agora para desfazer essa trança grossa dela, e seus dedos poderem percorrer seu cabelo sedoso. Mas ele não queria que ela soubesse que ele estava acordado, então em vez disso, ele ia fazer o jogo de espera, um jogo que Elizabeth estava destinada a perder. Cruel como ele era, Cutter não afrouxou seus braços sobre ela. Nem um pouquinho. Depois que
ela esperou um longo tempo para ele aliviar o aperto, o corpo de Elizabeth começou a se abrandar em seus braços. No instante em que ele o fez, ele começou a mordiscar o pescoço dela, sonolento, movendo sua mão para o meio do seu corpo, acariciando sua barriga sedutoramente. Então o que ela deveria fazer agora? Elizabeth sabia que ela deveria protestar, mas ela não podia fazê-lo. Deus misericordioso... o que ele estava fazendo com ela? A cada carícia lenta de suas mãos, seu corpo parecia se agitar um pouco mais. Seus lábios quentes encontraram seu caminho em seu cabelo, mordiscando, queimando a carne dela. Incapaz de suportar, Elizabeth se arqueou, dando-lhe um melhor acesso. Cutter gemeu em resposta. Enquanto sua boca vagarosa devorava a carne dela, suas mãos se mudaram para o ombro e depois para ela de volta, puxando para baixo o vestido dela. Elizabeth não sabia que estava despida até que ela sentiu um ar fresco na sua coluna. Os lábios quentes de Cutter seguiram, junto com a língua, fazendo-a tremer. A respiração dela se acelerou e ela ficou dura. Ele estava acordado, então? Suspeita a invadiu. Nenhum homem podia ser tão sedutor em seu sono! Ou ele poderia? Ela esperava que ele ainda estivesse dormindo e não parou para pensar por que. Ela disse que era porque ela não queria que ele soubesse que ela tinha lhe permitido tanta liberdade. Mas ela sabia mesmo que ela achasse que não era verdade. Ela não queria que acabasse, pois ela achava que não poderia suportar se acabasse. Ainda assim, ela não deveria apenas...
“MMMM, Bess, "ele sussurrou novamente. Bess. Elizabeth fechou os olhos, tentando esquecer este nome e junto com ele, a dor ao ouvi-lo sendo falado por ele novamente. Apesar do fato de que o jeans de Cutter crescia e apertava e chegava a ser doloroso, valia à pena, ele pensou com satisfação sombria. Ele só estava agradecido que as calças eram confortáveis o suficiente para esconder sua excitação dela. Ele não tinha se enganado com o olhar nos olhos de Elizabeth, quando ela descobriu parte da sua anatomia no dia que ele tinha caído em cima dela. Ela podia ser uma menina inocente, mas ela sabia o que acontecia entre homens e mulheres e o que ela sentiria se ele se escorregasse contra sua bundinha doce agora. Ele sorriu fracamente contra suas costas macias. Ela era uma pessoa estranha: ingênua, mas não totalmente ignorante. Seus lábios se curvavam em um sorriso. No que dizia respeito a ele, ela tinha apenas o grau certo de inocência e conhecimento carnal nesses olhos ousados dela, fazendo com que ele quisesse ser o primeiro homem a se enterrar nesse corpo delicioso dela — apesar do fato dele não se sentir confortável com senhoritas pudicas. Mas ela não era isso, ele refletiu apesar dela querer aparentar isso. Elizabeth gemeu baixinho quando as mãos de Cutter escorregaram das suas costas, por baixo da
blusa dela que estava aberta. Ela ofegou quando seus dedos começaram a tocar o peito dela. Com movimentos lentos, sonolentos, ele a acariciou, seduzindo cada pensamento de protesto da sua mente. Que o céu a ajudasse, mas ela se arqueou ainda mais, para que ele pudesse aliviar a palma da sua mão. Tão quente. Muito quente. Ele apertou-lhe suavemente, e sua bunda se modelou em sua pelve. Lá ele congelou, sentindo a dureza. O coração dela estava quase saindo pela boca. Ela sentiu um prazer agridoce com a sensação dele, mesmo sabendo que não era para ela. Ele começou a se mover contra ela, e ela fechou seus olhos, engolindo, desejando que o corpo dela se negasse a sentir prazer. Mas foi em vão. Uma dor começou a se construir nas profundezas, mexendo por dentro dela tão fortemente que ela pensou que ela fosse morrer de tanto prazer. A mulher estava como sangue quente, Cutter pensou com satisfação quando Elizabeth inconscientemente movia-se junto com ele. Mas a verdade era que ela ainda não sabia. Tudo que ela precisava era de um pequeno empurrãozinho nessa direção. Estremecendo com antecipação, ele saboreou a dor em sua calça e pensou em todas as maneiras que ele a faria pagar quando chegasse à hora. Ele era arrogante o suficiente para saber que se ele a procurasse, ele conseguiria exatamente o que ele desejava esta noite... mas ele não queria nenhum arrependimento pela manhã. Ele queria que ela viesse com ele por conta própria. Ele a queria pronta, ele queria que ela não fosse capaz de negar-lhe o que ambos queriam. Não, ele só daria a ela algo para pensar até a próxima vez. Algo para desejar. Sua mão escorregou da sua blusa em direção aos quadris dela, até o ápice de suas coxas. Acariciando-lhe sobre a saia, ele pressionou um pouco mais profundo entre as coxas dela. Gemendo baixinho, Elizabeth apertou ainda mais suas coxas. Ela choramingou, tentando não ser ouvida. Mas já era tarde demais; quando Cutter pressionou os dedos entre as coxas mais uma vez e os levantou, ela estremeceu violentamente. Ele disse para si mesmo que ele estava satisfeito. Que ele tinha conseguido o que ele procurava. Que, no momento, ele estava contente em só abraçá-la. Mas não era verdade. Sentindo as convulsões do corpo dela, culminando em prazer, era tudo o que ele poderia fazer para não querer sair. Seu quadril contra seu corpinho pequeno poderia lhe dar sua própria libertação. Ele não se moveu. E foi a coisa mais difícil que ele já tinha feito. Deus, que dor. Ela de repente se enrijeceu em seus braços, mas Cutter segurou-a firmemente, sabendo que ela provavelmente estava envergonhada bem como confusa sobre o que tinha acabado de acontecer com ela. Ela provavelmente estava esperando ele libertá-la, então ela poderia sair fora. Mas ele não estava disposto a deixá-la ir. De alguma forma, embora ele não entendesse, ela estava começando a tecer-se inextricavelmente em seu ser. Sem tentar, ela tinha conseguido quebrar seus dedos
minúsculos firmemente em torno de seu coração sólido. Ainda assim, ele não se moveu. Ele sabia que ela tinha a suspeita de que ele estava acordado. Mas ele também sabia que ela estava esperando que ele não estivesse, e era mais fácil deixá-la continuar acreditando que ele ainda dormia. Passou um longo momento, antes de Elizabeth finalmente relaxar. Quando a respiração dela finalmente se acalmou, ele soube instintivamente que ela tinha caído no sono. E só então ele se permitiu dormir também. Curiosamente, foi o silêncio da manhã, ao invés da luz do sol gritante caindo no rosto de Elizabeth que a tirou dos seus sonhos. Ela se esticou ociosamente e então congelou. Os olhos dela se abriram para encontrar-se enfrentando o que recentemente tinha sido a fogueira. O poço estava cheio agora, as pedras enegrecidas, as cinzas espalhadas, e era impossível dizer que uma vez tinham feito parte de um fogo ardente.
A PRÓXIMA COISA que Elizabeth ficou ciente era que tudo já estava arrumado, incluindo o saco de dormir de Cutter. O saco de dormir de Cutter. Em algum lugar no fundo da sua mente, algo a incomodava. E então ela lembrou-se, lembranças indesejáveis. O coração dela deu uma cambalhota violenta quando ela ansiosamente reexaminou a cena diante dela, com esperança. Deus misericordioso... não era o saco de Cutter que estava arrumado, mas o dela! Desesperadamente, mordendo seu lábio inferior, ela tentou recordar através de suas lembranças confusas se ela tinha rastejado de volta para a cama em algum momento durante a noite. Mas estava tudo errado — estava óbvio mesmo tendo em conta a visão ligeiramente enevoada — e ela sabia que sem dúvida que ela não faria isso. Tomando uma grande respiração, Elizabeth reuniu coragem para se levantar da cama de Cutter para enfrentá-lo. Ela o viu, e graças a Deus ele estava de costas para ela enquanto preparava seus cavalos para a viagem do dia. Pelo menos foi o que ela imaginou que ele estava fazendo. Seus movimentos eram como um borrão na distância. Foi a primeira coisa que ela teria que fazer quando voltasse para Sioux Falls — comprar um novo par de óculos. Ela ainda estava olhando quando Cutter virou-se para ela, e viu que seu rosto estava carmesim com vergonha. O que ele deveria estar pensando dela agora? Depois da maneira descarada com que ela... Deus, não pense nisso! Isso não aconteceu. Além disso, ele estava dormindo no momento, então por que deveria ele se lembrar? Que explicação ela poderia dar por dormir na cama dele? Ela pensou em várias, mas nenhuma
lhe parecia certa, então ela não disse nada. Cutter foi em direção a ela, sorrindo quando deu seu chapéu para ela. "Use-o para baixo tampando seu rosto," ele disse solenemente, balançando a cabeça com preocupação. Ele quase não escondia o sorriso por trás dos seus lábios sensuais. Elizabeth suspirou, pegando o chapéu quando ele girou pelo ar em sua direção. Ela rangia os dentes com a sua expressão presunçosa. Ela esperava um cordial "bom dia" dele? Ah, não, ela não esperava nada tão atencioso de Cutter McKenzie! Ele não conseguia se esquecer de seu comportamento provocante. Como suas botas, ela pensou que ele nem sequer se incomodava de tirar. Era uma parte dele. Ela levantou-se, esmagando vingativamente o chapéu na própria cabeça e foi em direção ao rio. Não era muito longe de onde eles tinham acampado, e estava lindamente brilhando no sol da manhã, e ela repreendeu-se mentalmente por não ter pensado em ter tomado um banho depois do jantar na noite passada. Ela ainda tinha que colocar os sapatos nesta manhã e estava contente com esse fato, porque ela os tinha retirado na noite anterior. O interior de suas coxas estava ainda dolorido de tantas horas de cavalgada. Isso para não mencionar a força com que ela tinha cerrado suas coxas ontem à noite. Agora, por que ela tinha que pensar disso? Ela puxou a saia para cima, dobrando-a em sua cintura, olhando na direção do acampamento. Certamente se Cutter soubesse o que ela estava fazendo ele não faria a graça de se intrometer? Mas ela não podia ter a certeza desse fato, e então ela abandonou a escandalosa idéia tão rapidamente quanto ela tinha aparecido. A última coisa que ela precisava esta manhã era ser apanhada em suas roupas íntimas novamente. Tão rápido quanto ela foi capaz, ela resolveu suas necessidades pessoais e então, com um suspiro, tirou a saia que estava presa no cós da cintura. Com uma mão, ela segurou-a fora da água enquanto banhava seus pés no rio fresco. Inclinando-se, ela espirrou um punhado em seu rosto para refrescar-se e, então, ficou olhando para seu reflexo na água. Misericórdia, ela era uma visão! Ela pensou horrorizada quando correu a língua ao longo de seu lábio inferior... e ela tinha o mais horrível gosto em sua boca! Ela esfregou os dentes o melhor que pode sem pedir ajuda para Cutter. Ele parecia se divertir bastante com suas obrigações pessoais. Mas esta manhã ela estava desesperada para refrescar sua boca. Ela pegou um gole de água, balançando-o vigorosamente, bochechando, amaldiçoando-se por não ter disponível uma escova de dente e pasta, mas para seu espanto, não ajudou muito. Ela olhou ao redor para ver se achava algo útil... algo granulado para esfregar nos dentes e ajudar a limpá-los. De repente, um pensamento ocorreu-lhe, e ela se achou absolutamente brilhante. Areia, claro! Havia bastante perto do rio... e embora certamente não fosse agradável, não poderia ser tão ruim também. Com o rio tão baixo, havia bancos de areia por toda parte. Se aproximando de um dos
menores, ela pegou um punhado de areia limpa que ela pode encontrar, esfregando os dedos juntos, testando a consistência. Mesmo quando ela ficou satisfeita com a consistência, ela continuou a olhar para a areia por um longo momento, examinando-a para ver se achava algum bichinho. Não havia nenhum. Ainda assim ela estava relutante. E ela estava desesperada, ela se lembrou. Sem dar-se outro momento para reconsiderar, ela rapidamente colocou-a na boca, fazendo careta para o sabor. Embora, sinceramente, depois de um momento, não tenha ficado tão ruim. Ela pegou um punhado de água, e rapidamente cuspiu para fora da boca, e sentiu que seus dentes estavam consideravelmente mais limpo... embora não o suficiente. Novamente, ela pegou um dedo com areia, ignorando a voz interior que lhe dizia que isso era provavelmente a coisa mais tola que ela já tinha feito na vida, ela limpou os dentes com a areia, desta vez mais vigorosamente, o pensamento de que talvez ela tivesse descoberto um novo método de limpeza de dentes — A Perfeita Pasta de Dente. Talvez houvesse mesmo algum benefício de saúde que ela podia ter descoberto. Lama não era bom para a pele? Talvez areia pudesse ser bom para os dentes. A mente dela se encheu de possibilidades. "Você já acabou aqui?" Assustada em suas contemplações, Elizabeth girou abruptamente, a mão dela liberando sua saia e deixando seu chapéu voar. Ela ficou chocada ao encontrar Cutter tão perto dela. Ela não tinha ouvido a abordagem. Cutter olhava para ela, seu rosto se contorcendo com nojo. "O que é isso?" ele perguntou. Sentindo-se muito tola e percebendo que sua boca estava aberta, Elizabeth fechou-a e cobriu imediatamente com as mãos. As bochechas dela se inflamaram. "Jee-sus, Lizbeth!" Cutter murmurou. "Sobrou bastante carne seca se você estiver com fome." Então seus olhos se mudaram para seu dedo indicador sujo, e ele entendeu. Ele baixou lentamente as mãos até seu rosto, precisando olhar de novo para acreditar que ela realmente estava escovando os dentes com areia. Seus lábios se torceram quando seu olhar caiu para a bainha de seu vestido, e viu que ele estava absorvendo a água do rio. Ele balançou a cabeça, limpando a garganta. "Não importa," ele disse abruptamente, "não quero saber. Só não faça nada com o meu chapéu." Ele deu passos mais largos, seus ombros tremendo quando ele andou para longe dela. Elizabeth só foi capaz de se mover novamente quando ele estava a uma boa distância dela. Bem próxima a dizer algumas blasfêmias, ela cuspiu a areia da boca e depois bochechou de novo com a água do rio. Foi então que ela percebeu a crescente mancha molhada na bainha da sua saia. Como ela se esquecia de tudo — tudo — na presença de Cutter? Quando voltou ao acampamento, ela estava um pouco mais composta, embora ainda sentindo formigamento por estar indignada. Como ele ousava falar de sua higiene pessoal! Com certeza ele tinha muito das mesmas necessidades para considerar? Evitando seu olhar, ela rapidamente reuniu seus pertences restantes. Havia pouco tempo para escovar a poeira da sua saia antes de Cutter
colocá-la na sela. Já em sua própria sela, ele virou-se para ela de repente, seu sorriso envolvente, seus dentes brancos golpeando contra sua tez morena. Seus olhos brilhando com malícia. "A propósito," comentou casualmente, "Pergunte na próxima vez... Sinta-se a vontade em usar a minha escova... e a minha pasta de dente." E então ele teve a audácia de dar uma risada com bom humor. Virando, ele gentilmente açoitou o cavalo, deixando Elizabeth dando olhar de punhais para as costas dele. Ele nunca perdia uma oportunidade para dar uma agulhada? Ela se perguntava. No entanto, apesar de sua raiva, ele tinha plantado uma semente, e tão irracional como era, ela não conseguia banir a imagem sugestiva dela usando uma escova de dente novamente. Isso deveria tê-la enojado, mas em vez disso, deu-lhe uma estranha sensação trêmula no seu ser. Ao meio-dia, Elizabeth estava completamente exausta por ter passado uma noite tão inquieta. Seu único consolo era que Cutter não parecia estar se sentindo melhor. O brilho nos olhos dele quando ele olhava para o lado dela deixava-a enfurecida. E sua piscadinha — sua piscadinha a irritava, porque ela sentia como se ele estivesse zombando dela. Ter dormido pela segunda noite com suas roupas sujas, amarrotada, fez Elizabeth não ter nenhuma ilusão sobre sua aparência. Com certeza, ela nunca tinha sido muito bonita, mas agora ela tinha a certeza de que ela estava simplesmente feia. A saia dela, com sua bainha rasgada, parecia ter mais anos do que na verdade tinha, fora toda a sujeira que tinha acumulado. E a blusa branca? Bem, ela preferia não pensar na blusa. Na primeira oportunidade, ela planejava vestir uma roupa nova e esfregar as que ela usava no rio. Não importava que ela não tivesse sabão para lavar a roupa. Pelo menos, ela se sentiria mais limpa. E seria muito bom tomar um bom banho ao mesmo tempo, mas ela não sabia se ela se atreveria — ela não confiava em Cutter. Às vezes... às vezes... quando ele olhava para ela... bem, ela não estava certa. E depois teve o que — seja lá o que foi que ele fez com ela ontem à noite — e que ela estava tentando desesperadamente esquecer. Mas quem poderia esquecer? Houve momentos que ela se encontrou desejando que ela tivesse hipermetropia e não miopia, como ela tinha. Ela não queria ser capaz de vê-lo... aquele estranho olhar que ele lhe dava de vez em quando. Ainda assim, ela não conseguia tirar os olhos dele também.
ELA DEU-lhe outro olhar furtivo e pegou ele esfregando suas sobrancelhas autodeterminado. De perfil, seu rosto era positivamente surpreendente, suas maçãs do rosto altas, sua mandíbula escurecida consideravelmente porque há uma semana ele não fazia a barba. Mas eram os lábios dele que a faziam se sentir tão vulnerável... a maneira que ela sentia os lábios na pele dela, tão quente... tão hipnotizante. Ela estremeceu e inconscientemente correu a mão ao longo de sua trança, tomando nota de cada cacho solto.
Que visão, ela devia ser para ele! Ela tinha certeza que Cutter estava acostumado com a atenção das mulheres. Ele provavelmente podia escolher praticamente qualquer mulher que desejasse e ela ficaria emocionada com a oportunidade. Quantas mulheres tinham tentado ganhar o seu favor? Agora, por que essa pergunta parecia incomodá-la? Porque sua aparência importava tanto, quando nunca nada disso tinha sido importante para ela no passado? E por que ele a tinha beijado? Ela não conseguia nem começar a entender o que tinha acontecido entre eles na noite passada... Porque ela tinha deixado que acontecesse. Ela teve ainda que pensar no fato de que ele tinha acordado para encontrá-la na sua cama. Ela tinha nojo dele? O coração dela parecia parar de bater com esse pensamento. Deslizando suas mãos através de sua franja preta umedecida em suor, Cutter olhou de relance para o caminho, pegando seu olhar, e um sorriso curvou os lábios arrogantes dele. Atrapalhado pela malícia de seus olhos negros, Elizabeth rapidamente, evitou seu olhar, ao mesmo tempo xingando ele. Oh, o que ela não daria para ter um banho quente, roupas limpas... aqueles lábios... Não — sua mente estava enlouquecendo! Ela não precisava... ou... queria isso! Seu rosto aquecido, e sentindo o escrutínio de Cutter em cima dela, ela virou a cabeça escondendo a incriminatória cor vermelha nas bochechas. Cutter riu. Elizabeth escolheu ignorá-lo. Ele não podia saber o que ela estava pensando! Não... só o banho, ela reafirmou com um suspiro, tentando desesperadamente reorientar seus pensamentos. Isso era tudo o que ela queria — ou necessitava. Claro que se o céu ficasse mais escuro do que agora, ela não precisaria desejar ou se preocupar em tomar um banho. A chuva provavelmente cuidaria disso para ela. Mas não choveu naquele dia. Nem durante a noite. Embora ao fim da tarde do dia seguinte, o céu tivesse ficado negro como breu, e nuvens de tempestade pairassem no céu como sombras sinistras. De vez em quando, um raio cintilava contra o horizonte escuro, e Elizabeth fazia uma careta ao ver isso. Em ambos os lados por onde eles passavam, o rio bravateava alto contra o céu sombrio. Com o tempo, ficou tudo tão escuro que era difícil distinguir onde terminava o rio e começava o céu. Quando o vento começou, ela esmagou o chapéu de Cutter no topo da cabeça para ele não voar. Não foi nenhuma surpresa quando os primeiros chuviscos caíram sobre eles. Mas eles estavam no meio do nada, Cutter conhecia a região onde eles estavam, e embora lentamente as árvores fossem crescendo em número, Elizabeth duvidava que eles as usassem como abrigo. Ela tinha ouvido histórias de homens sendo atingidos por raios durante as tempestades. Na verdade, tinha havido uma mulher em abril passado que foi ver seu pai, alegando que seu filho tinha sido atingido quando um
raio atingiu uma árvore de mais de vinte pés de altura onde ele tinha tentado se abrigar. A pobre criança nunca se recuperou totalmente do uso de suas pernas. Mas parecia não haver nenhum lugar para eles se refugiarem contra a tempestade, e no ponto que eles estavam os penhascos eram muito íngremes para escalar, então eles os contornavam. Avaliando o céu mais uma vez, Elizabeth olhou ansiosamente para Cutter. Ele parecia estar pensando profundamente, examinando os céus. Seu longo cabelo negro agarrado na sua nuca. "Parece que vamos ter uma tempestade dos diabos!" Cutter rugiu de repente, olhando para ela. Como uma resposta, o vento aumentou colando a blusa molhada nos seios de Elizabeth. A saia voava ao redor dela. O vento vibrava descontroladamente, tão alto quanto à sobrecarga de trovão. Instintivamente, ela baixou a aba do chapéu de Cutter para proteger o rosto do vento. Inclinando a cabeça, ela olhou suplicante para Cutter. "Não é melhor encontramos abrigo ou algo assim?" ela perguntou para ele. O vento emplastrava o cabelo molhado na cabeça dele. A água da chuva escorria de sua franja para a sua boca enquanto ele falava. "O que você acha que eu estou tentando fazer?" Ele replicou. "Você vê algum lugar que eu não vejo?" Uma sobrancelha levantou-se em desafio, canalizando a água da chuva para seu nariz aquilino. Como ele a observava, sua mão passou pelo rosto dele e então em seu cabelo molhado, removendo a água ofensiva de sua testa. Ele continuava com a sua juba preta brilhante quando olhou para ela. Seus olhos foram diretos para a sua blusa molhada, e para o caminho que moldava os seios dela. Ele ergueu seu olhar para o rosto dela. De repente, seus olhos brilharam como ônix negro. Enquanto ela olhava para ele, um arrepio correu pela espinha de Elizabeth que tinha pouco a ver com resfriado. Respondendo a este desafio, ela começou a olhar para o horizonte. E então de repente ela girou Cacau, vislumbrando algo por cima do ombro. Com sua péssima visão mais a chuva, o local não estava muito visível para ela, mas estava lá — um sombreamento mais escuro nas pedras contra o penhasco — e ela girou a égua para examiná-lo mais de perto. Não importava quanto ela piscava, ela não podia ver claramente o suficiente. "O que acha?" ela perguntou. Cacau empinou agitada quando ela indicou a sombra preta na pedra. Ela realmente não podia ver muito a esta distância, mas não ia admitir isso para Cutter. Ela tinha que confiar que a visão dele era pelo menos um pouco melhor do que a sua própria. Cutter, para sua surpresa, não mostrou nenhuma reação. Ele sacudiu a cabeça e depois vendo outra possibilidade perto dele e admitiu: "Talvez." Seus olhos encontraram os dela e, em seguida, ele olhou para cima quando um raio iluminou o céu. "Pode ser tão bom quanto parece," ele advertiu. Com um aceno rápido, ele incitou Elizabeth a ir à frente. Um trovão explodiu em torno deles, o som muito alto e muito violento para que eles ficassem tranqüilos. Elizabeth encolheu-se, os olhos dela se alargaram de uma forma admirável. Ver sua expressão de medo, fez Cutter incitar seu cavalo e gritar para ela. "Corre!"
Elizabeth gritou e agarrou o selim como se estivesse agarrando sua prรณpria vida.
12
Tendo sido o primeiro a chegar no penhasco escarpado, Cutter acenou para Elizabeth ficar lá. "Por que você quer empurrar meu cavalo?" ela perguntou, buscando coragem em sua ira, mas ele ignorou-a, deixando-a aguardar no aguaceiro enquanto ele inspecionava a gruta. "Você poderia ter me matado!" ela gritou quando ele voltou. Pingos de chuva brilhavam em seus cílios, tornando-se difícil ver o rosto dele através da neblina. Furiosa Elizabeth passou a mão em seu rosto molhado, correndo os dedos por seu cabelo completamente encharcado, retirando-o do rosto dela. Sem dizer uma palavra, Cutter levou-a até uma pequena abertura imperceptível. Eles desmontaram, ele ficou de joelhos e rastejou pela fenda estreita, recuando quase que imediatamente. Ainda sem falar, ele ficou parado, e tirou Elizabeth fora de sua montaria. Ele pediu para ela ficar de joelhos. A chuva batia nas costas de Elizabeth sem piedade quando ela obedeceu. Mas quando ela começou a rastejar para dentro, um pensamento ocorreu-lhe, gelando seus ossos, e ela hesitou. "E o rio? Ele não vai subir com a chuva?" Morrer afogada era a última coisa que ela queria! "O rio está baixo!" Cutter gritou sobre o aguaceiro. "Ele vai subir, mas não o suficiente — agora, entre e tente ficar confortável!" Ele persuadiu-a. Um trovão estourou, e embora os lábios de Cutter continuassem a se mover, ela não podia ouvir suas palavras. “... Ficar... segure com força," ele terminou, saindo quase ao mesmo tempo. Quando ela percebeu que ele ia deixá-la, os olhos de Elizabeth se alargaram, e ela começou a segui-lo para fora, com medo de ser deixada sozinha. Cutter empurrou-a de volta com um brilho feroz. "Pelo amor de Deus, mulher! Eu disse para você ficar e eu quero que você fique!" Como num reflexo tardio, ele pegou o chapéu da cabeça dela e começou a recuar mais uma vez. Eles ouviram o barulho de um novo trovão, reverberando na rocha sólida. Até mesmo o chão parecia tremer debaixo deles. Em pânico, Elizabeth agarrou os dedos de Cutter, a única parte alcançável dele, seus olhos suplicando. "Cutter! P-por favor espere!"
Ele se livrou de suas mãos trêmulas, seus olhos negros brilhavam. "Confie em mim," foi tudo o que ele disse num tom inflexível, e ele foi deslizando para fora outra vez. Frenética, Elizabeth foi até a entrada para vê-lo passar, seu coração na garganta. Chuva e vento golpeavam o rosto dela, mas medo a tinha deixado imóvel, diante de seus olhos, sua forma era turva e ele foi engolido pela névoa cinzenta e pela chuva. Confiança. Aqui estava essa palavra novamente. Mas ela devia confiar nele... e ela confiava! Ela confiava nele. Pareceu para Elizabeth que ela ficou deitada no chão duro uma eternidade, olhando ansiosamente para fora, à espera de algum sinal do retorno de Cutter, e ao mesmo tempo repetindo essas palavras, até que elas se tornaram uma ladainha. Confiança. A chuva intensificou-se até que o eco era um rugido ensurdecedor sob o abrigo de pedra. "Confiança," ela repetiu lentamente. Ele não vai te deixar, ela assegurou-se, seu coração acelerado. Ele não vai te deixar! Mas a mãe dela tinha... e o pai dela também — ele a deixou para ela enfrentar o caos da vida dela. Ah, Deus... sozinha! Perto da histeria, Elizabeth começou a cantarolar baixinho. No início, Cutter tinha certeza de que ele estava ouvindo coisas. Ele poderia jurar que acima da chuva e dos trovões, ele a ouviu... cantarolando? Mas quando ele se aproximou do abrigo, ele viu que não estava imaginando. Era Elizabeth, sua voz aterrorizada e amedrontada... e ao contrário de quase todas as noites, a melodia que ela cantarolava era reconhecível e marcante. "Greensleeves?" Ela estava cantarolando "Greensleeves, a tradicional canção folclórica inglesa." Seu peito inchou com emoção, e ele pensou que ela ia cantar essa música toda maldita noite... por que ela o tinha feito cantarolar para ela na primeira noite. De repente ele ouviu a voz dela novamente. "Mas está escuro," ela choramingou. "Muito escuro... por favor..." "Por favor, o quê?" ele havia perguntado. "Lizbeth." "Hum — para — mim...." Novamente, seu estômago se revirou. Ela tinha pavor de ficar sozinha... tanto quanto ele não tinha. Era estranho, mas pela primeira vez ele podia lembrar, ele não se importava em confortar... não era contra o pensamento de companheirismo... não se importava em proteger... Desde que fosse ela.
Quando a silhueta escura de Cutter se materializou na tempestade, andando determinado em direção a ela, carregando o que parecia ser os sacos de dormir e tudo mais que ele podia carregar debaixo dos braços, o coração de Elizabeth voou para a garganta dela. Sua expressão finalmente ficou serena, tão intensa como o vento, quando ele se aproximou, seus olhos escuros, mais exigentes, e ela rapidamente tirou do seu rosto as lágrimas que ela nem sequer tinha percebido ter vertido até aquele momento e ela se mudou para a parte mais profunda do abrigo para dar-lhe mais espaço. No instante que Cutter colocou os olhos nela, ele sabia que ela estava chorando. Ele podia ver as marcas de suas mãos sujas onde ela tinha tentado limpar as evidências. Mas ele não sabia o que dizer, então, ele não disse nada. Ele queria colocar os braços sobre ela, acalmar seus medos, mas não sabia se devia fazer isso. Ou se ela aceitaria seu abraço. Insultando sua própria inépcia, ele abriu os sacos mais para dentro do abrigo, deixando-os fora de seu caminho, xingando novamente quando ele virou-se para puxar um dos cobertores do seu próprio saco. De alguma forma ele conseguiu colocá-lo por baixo dele. Então ele cutucou Elizabeth. "Levante-se," ele exigiu. Obedecendo, Elizabeth torceu para que Cutter colocasse o cobertor debaixo dela, e em seguida ela se colocou por cima da coberta. Obviamente, ela sentiu a tensão entre eles, olhos arregalados, quando Cutter finalmente virou as costas para ela. "Cristo," ele murmurou, atingindo o telhado baixo com a sua mão. E então ele olhou para ela, mas foi um erro. Os olhos dela pareciam procurar por ele. Ele não sabia o que fazer. "Aqui não tem espaço suficiente para balançar um gato," ele resmungou. Ainda assim, ela não disse nada, só olhava para ele, e Cutter finalmente desviou o olhar, inquieto com os sentimentos que ela tinha colocado no coração dele. Depois de medir a pequena caverna — se é que poderia ser chamada de caverna — ele se virou para olhar o teto de pedra e se perguntou como é que ele tinha conseguido se meter neste espaço. Em sua opinião, ela tinha não mais do que um metro de altura, e provavelmente um pouco mais de dois metros e meio de comprimento, com um e meio de profundidade. Algumas partes do chão eram de pedra, outras de terra, e a única abertura ficava do lado direito, se estendendo pelo comprimento do abrigo e deixando pouca luz acessível ao ambiente. O teto da entrada era mais baixo, e maior na parte de trás. Obviamente tinha sido feita pelo homem, mas para quê, ele não sabia. Somente uma coisa era certa... quem tinha feito obviamente desejava demorar a ser visto — mas quando uma pessoa chegasse perto, era fácil de ver. Ele deu uma respiração profunda — merda, ele já estava se sentindo sufocado — e o ar cheirava a mofo e a coisa velha, e não ajudava em nada. Determinado ele ignorou o odor que provocava suas narinas e se focou no som da sua respiração. "Tive que deixar os cavalos seguros," ele explicou finalmente. "Detestei fazer... mas tive que amarrá-los na árvore mais próxima." Ele olhou para o rosto de Elizabeth, se escorando em seu
cotovelo. Enquanto ele a olhava, o som da chuva tornou-se não mais do que um zumbido firme em algum lugar atrás deles. "Você está com frio?" ele perguntou para ela, sua voz mais rouca do que ele pretendia. Ele limpou a garganta. Elizabeth assentiu com a cabeça. Ele não conseguia desviar o olhar e ele não podia falar nada, pois a emoção estava evidente nos olhos âmbar de Elizabeth. Alguns fios de cabelo dela tinham desprendido da sua trança e estavam colados no rosto cheio de sujeira, um fio preso em seu lábio inferior. Delicadamente Cutter afastouo, alisando o rosto dela. "Você deve tirar essas roupas molhadas," ele sugeriu, sem deixar de olhá-la. O polegar dele esfregou algumas manchas nas bochechas dela, sem sucesso. Ela precisava de um banho, mas apesar disso, ela era uma festa para os olhos. Ela piscou, mas fora isso, não havia nada sobre sua expressão que indicasse que ela tinha ouvido o que ele tinha falado para ela. Ele tentou de novo. "Você vai secar mais rápido se você estiver usando menos roupa. Eu trouxe os cobertores. Eles estão úmidos, mas eles devem ser mais confortáveis do que a sua roupa molhada." Como se finalmente o tivesse ouvido, Elizabeth acenou com a cabeça em movimentos rápidos e espasmódicos, seus lábios ficando cada vez mais secos. "N-não — eu — eu não posso! Eu estou bem." O rosto de Cutter se contorceu. "Pelo amor de Deus! Não vou te tocar," ele disse. "Não seja boba! Você pode pegar uma pneumonia. Caramba, você é médica — use o seu bom senso!" A expressão dela mudou de repente, como se as palavras dele a tivessem ferido de alguma forma, em vez de tranqüilizá-la como ele tinha pretendido.
"VOCÊ É —“ ela engoliu, mortificada por ele adivinhar seus pensamentos tão facilmente, e se sentiu triste por sentir que ele queria quebrar... o que? Suas esperanças? Esperança de quê? Mas ele tinha razão, claro. Além disso, ele já a tinha visto em suas roupas íntimas e com a sua camisola... e havia pouca luz, suficiente para ele olhá-la com cobiça... Mas ela não ia sentir pena dela mesma, ela decidiu — não neste momento da sua vida. Era afinal, o que ela podia receber com as suas saias largas e aparência sombria. Ela queria que as pessoas a vissem como sua médica, não como a bela da cidade— não que ela pudesse ser. Ou que alguma vez ela tenha desejado isso. Ela realmente esperava que Cutter a visse de uma forma diferente? Ela assentiu com a cabeça. "Você tem razão... Que tolice da minha parte," ela disse. A mão de Cutter se mudou para a blusa dela, como se ela precisasse de incentivo para tirá-la. Instintivamente ela recuou, mas a sensação do algodão frio e molhado deslizando sobre sua pele quente causou-lhe um arrepio que correu por sua coluna. "Deixe-me ajudá-la," ele falou, seus olhos escuros implacáveis, mas de alguma forma carinhoso.
Ainda assim, eles nunca tinham parecido tão escuro, tão insondável, tão improvável, como naquele instante. Um arrepio correu pelo corpo de Elizabeth quando a mão dele deslizou lentamente do seu braço até o ombro dela, mas seu aperto foi tranquilizador. Ela assentiu fracamente. "Precisa de minha ajuda para desabotoar?" ele perguntou, sua voz ficando rouca novamente. Ou foi somente sua imaginação? Percebendo que não havia nenhuma maneira dela poder remover sua própria roupa no espaço limitado que estava disponível para eles, ela se virou ligeiramente, cheia de pensamentos indecentes. Inexplicavelmente, ela queria os braços de Cutter sobre ela, tocando a pele dela. Seus movimentos tornaram-se mais lentos. A sensação de seus dedos quentes puxando a blusa dela deu-lhe um pequeno tremor abaixo de sua coluna. Elizabeth fechou os olhos, saboreando o momento. O coração dela martelava contra o seu peito quando ela antecipou o calor de seus dedos. E então ela sentiu, e seu coração novamente bateu mais forte, muito mais do que antes. Suas pálpebras se fecharam uma vez mais e ela inclinou a cabeça para trás ligeiramente quando os dedos dele moveram-se por suas costas, rapidamente e habilmente liberando os botões de madeira, um por um. Removendo a blusa molhada, ele a expôs ao ar fresco, mas apesar disso, Elizabeth de repente sentiu-se muito quente. Incompreensivelmente, seus arrepios se intensificaram, correndo profundamente por dentro dela. Ainda de costas para ele, ela ajudou-o a tirar as mangas com as mãos trêmulas e em seguida, tirou a blusa do corpo dela, deixando-a apenas de combinação molhada para protegê-la dos seus olhos. Apesar da tempestade enfurecida do lado de fora, o silêncio estava impenetrável dentro da caverna, o ar intoxicante, como se o tempo tivesse sido suspenso. Assim que Elizabeth soltou sua blusa ela sentiu os dedos ásperos de Cutter nas costas dela, acariciando seus ombros tão suavemente que a respiração ficou presa na garganta dela. Antes que ela pudesse protestar da sua familiaridade com seu corpo, suas mãos circundaram sua cintura, abraçando-a como se fosse tirar sua medida, então ele deslizou suas mãos sedutoramente para os laços na frente de sua saia. Algo profundo dentro dela se emocionou com o seu toque. Com dificuldade em respirar naquele momento, Elizabeth ficou maravilhada em ver que mesmo por trás, seus dedos a conheciam. Isso porque ele era um ladino experiente, uma voz gritou dentro dela, mas ela se recusou a ouvi-la. No momento seguinte, Cutter puxou a saia dela completamente para baixo, deslizando-a sobre as pernas que tremiam. Ele demorou um pouco demais na curva dos quadris dela, e seu coração acelerou. Ela quis dizer-lhe para parar, para tirar suas mãos dela — ela realmente queria — mas as palavras não saiam. E tudo que Elizabeth podia fazer era respirar. Ela se sentiu paralisada, mas não com medo, e os olhos dela firmemente fechados, enquanto os peitos de repente vibravam com a
necessidade de ser tocada. Ela nunca suspeitaria que tais sensações pudessem existir... que houvesse uma felicidade carnal... que ela fosse querer tanto alguém. Novamente, ela se lembrou da maneira que ele tinha tocado nela, a ânsia que tinha acendido dentro dela e o prazer que ele tinha lhe dado, e ela imaginou que ele iria virá-la agora... colocar os braços sobre ela, seus dedos iriam apertar suas costas e cobrir sua boca com seus lábios quentes. Na verdade, ela estremecia de desejo por ele. Cutter tinha que deixá-la querer viver e amar. Ele pediu-lhe para confiar nele, e ele não pretendia trair essa confiança. Ainda assim, não sobrava muita coisa entre eles... só a camisola e as roupas íntimas... nada mais... e seria tão simples, ele pensou. Tão simples. Mas Elizabeth não era o tipo de mulher você podia pegar e largar. Ela não merecia isso. E ele não conseguia se imaginar assentado numa fazenda com um bando de pirralhos perseguindo seus calcanhares.
ELE DEU UMA PROFUNDA RESPIRAÇÃO, pensando que em algum lugar lá em cima, alguém devia indicá-lo para ser santificado neste exato momento. Um tumulto começou na cabeça de Cutter quando Elizabeth de repente se virou para ajudá-lo a remover a enorme saia. Ele odiava essa saia. Ele pensou que se ele tivesse uma chance, ele gostaria de queimá-la. Observando atentamente enquanto ela se virava para colocar a coisa obscena à parte, Cutter limpou a garganta. Com o feitiço quebrado, ele se virou para arrumar os sacos de dormir. Desenrolando-os, ele removeu outro cobertor e então colocou o cobertor sobre Elizabeth, protegendo-a da sua visão — ou, mais provavelmente, da tentação que ela representava. "Melhor?" Sua voz soou estranha aos seus ouvidos. Elizabeth assentiu com a cabeça uma vez, a expressão dela ainda atordoada. "Bom." Novamente, ele limpou a garganta, tentando concentrar seus pensamentos, e sorriu. "Você tinha que encontrar um buraco para nós como abrigo," ele disse suavemente. Na verdade ele estava começando a se sentir mais como se estivesse em seu próprio inferno particular, mas ele não disse isso para ela. Elizabeth deu de ombros, desviando o olhar em... decepção? Ela virou o rosto para longe dele. O suspiro de Cutter foi irregular, como se fosse preciso um grande esforço para liberar a tensão do seu corpo. Imediatamente ele deu outra respiração profunda, precisando de ar. Pelo menos eles estavam secos, ele disse para si mesmo. E o abrigo não era tão ruim. Uma chuvinha suficiente soprava neles por causa do telhado ser tão baixo. A única coisa que ele podia se preocupar era o fato de que a água estava começando a pingar dentro da caverna. Mas era um fluxo lento e ele duvidava que fizesse algum mal para eles... a menos
que a chuva não parasse. Mas se ele sabia algo sobre as tempestades de verão, e ele achava que sabia, era que elas terminavam rapidamente. Na verdade era provável ela terminar tão rapidamente quanto tinha começado. E se o pior acontecesse, tudo o que ele tinha que fazer era chegar para mais perto de Elizabeth. Ele olhou para ela, de repente, sentindo a tensão que tinha voltado com força total, quando ele se viu lançando-se para mais perto dela. Como um mosquito traquina, esse pensamento o importunava. Seus lábios se torceram cinicamente. Diabos, não era como se houvesse uma parede entre eles — embora pudesse ser uma maldição para ele se ele não achasse que tinha. Além disso, Santidade nunca tinha caído muito bem nele. Maldita Elizabeth — suas sobrancelhas se fecharam — se ela pensou por um minuto que ele fosse deitar aqui e congelar até a morte para proteger a sensibilidade de uma fêmea! Com uma maldição selvagem, ele desembainhou sua faca de sua bota esquerda, deixando-a de lado, e então ele a chutou. Enquanto ele abria os botões de sua camisa, ele lutou com a outra bota, cutucando os dedos dos pés descalços, incapaz de tirá-la rápido o suficiente. Não queria sair, e ele amaldiçoou novamente. Um olhar na direção de Elizabeth disse a ele que ela estava ocupada ignorando-o. Mas estava ótimo para ele. Tirando a camisa para fora das calças, deixando-a aberta, ele se moveu para tirar sua calça empapada — apenas o pensamento de estar livre do tecido restritivo aliviou o humor dele consideravelmente. Não tinha nada a ver com o fato de que, sem roupa, haveria uma barreira menor a superar. Inferno não, seus motivos eram puramente honrados... ou, pelo menos, não eram desonrosos. Bem, não realmente. Elizabeth ouviu o barulho quando ele abriu os botões do seu jeans molhado, e ela ficou tensa. Tendo ignorado os avisos anteriores — a bota dele deslizando para fora do seu pé, o amassar de sua camisa — ela tinha medo de se virar e olhar para Cutter. Puxando o cobertor mais para cima, ela perguntou "Muito bem, Sr. McKenzie. O que você acha que está fazendo?"
13
"O que você acha que eu estou fazendo?" ele falou para ela, sem nenhum sinal de receio no tom da sua voz. Na verdade, ele parecia mais como se ele estivesse... sorrindo? "Não está se despindo, espero?" Cutter deu uma gargalhada. "Você não pode!" ela gritou, recebendo seu riso como confirmação. "Você não pode ficar deitado aí sem roupa nenhuma — não ao meu lado! Você pelo menos tem seu... "Ela não podia sequer pensar na palavra — muito menos dizê-la! Cutter riu novamente. "Acho que você só vai ter que se virar e descobrir," ele disse para ela, sua voz tomada pelo riso quando ele se virou para remover a outra bota dele. As calças agora estavam embrulhadas sobre os tornozelos, sua remoção dificultada pela sua bota. Arrancando o cobertor sobre a cabeça, Elizabeth se envolveu ainda mais no cobertor de lã enquanto sua risada rouca soava em seus ouvidos... junto com outro som que parecia estranhamente como... O relincho de um cavalo? E parecia tão perto... mas não podia ser — mas era — e lá estava ele de novo! Cutter, também, ouviu e já não estava rindo. Cheia de curiosidade Elizabeth se desenrolou do cobertor e se virou para olhar para a chuva que caía lá fora. O corpo de Cutter ainda estava torcido, suas mãos congeladas como um punho de ferro em cima de sua bota direita, mas ele estava olhando para fora da melhor maneira possível. Entretanto, Elizabeth roubou o seu lugar, para se inclinar e ter uma melhor visualização, as costas dele tocando sua camisola. "Cutter, você viu aquilo?" A silhueta embaçada, mas orgulhosa de um índio, materializou-se na chuva e na neblina, junto com o seu cavalo. Elizabeth se arrastou para frente para ver melhor. Fechando os olhos, ela podia ver que ele estava com a cabeça na posição vertical, com orgulho. Duas grandes penas estavam
colocadas no seu cabelo, inclinadas para baixo de um lado, e o cabelo dele parecia estar solto, batendo logo abaixo de seus ombros largos. Ela piscou para ver melhor, ela reorientou seu olhar e mal conseguiu ver o peito nu, pintado com o que parecia ser listras vermelhas de um lado. Nas pernas, ele usava calças de camurça. "O que é?" Cutter perguntou nervosamente. De repente o índio bateu com o corpo na sela, e Elizabeth gritou. "Não — Ah, não! Ele está ferido!" Cutter rapidamente puxou seus jeans de volta. "Quem está ferido?" ele exigiu saber. Mas Elizabeth não respondeu; ela já estava rastejando para fora do abrigo, na tempestade, esquecendo-se de repente do medo, ignorando seu recato, o instinto assumindo. Ela tinha deslizado para fora antes de Cutter ter tempo para registrar a intenção dela. "Lizbeth!" Droga. Ela na verdade ia sair na tempestade? Em suas roupas íntimas! Grande! Simplesmente ótimo! Era apenas sorte dele estar preso com uma exibicionista! Tentando apanhar as pernas dela, Cutter tentou impedi-la, mas Elizabeth foi muito rápida. Sacudindo para cima, ele puxou os jeans sobre seu traseiro e tentou se levantar, batendo a cabeça no teto de pedra. Sua visão ficou preta por um instante. Praguejando violentamente, ele segurou a cabeça latejante e começou a rastejar para fora, atrás dela. Por que diabos ele tinha concordado com isso? Ele queria saber. Ele era masoquista? A mulher idiota estava determinada a se matar — e a ele, também, no processo! E então ele viu o que a tinha feito ficar tão aflita, e ele soltou um palavrão. "Lizbeth!" Em câmera lenta, ele a viu correndo através da chuva torrencial, a camisola colada ao corpo dela. Seu resistente sapato preto chapinhando na lama. "Não!" ele uivou. Maldição, ele não ia deixar a idiota se matar! Seu estômago se embrulhou. "Elizabeth! Não!" Era um golpe — ele tinha que detêla. O coração começou a martelar de medo, Cutter ficou de joelhos correndo atrás dela, parecendo como se estivesse possuído, um pé com bota o outro sem. Seu pé sem a bota pisou em algo afiado, cortando a sola, mas ele não sentiu dor. Na mente dele, ele podia ver o desgraçado dando um grito de guerra, se levantando e colocando a faca na garganta branca de Elizabeth. Em pânico, Elizabeth nem sequer considerou como o cavalo iria se portar com a sua abordagem imprudente, e ela parou abruptamente quando ele bufou, movendo-se para longe dela com medo. Com a força desse movimento, o índio caiu no chão. Agindo puramente por instinto, ela se abaixou para pegá-lo, mas afundou sob seu peso incrível. O cavalo foi embora imediatamente, acalmando-se à medida que se distanciava deles. Ela tentou apertar o índio no seu peito, mas caiu no chão encharcado em cima dele.
NESSE INSTANTE, Cutter a alcançou. Com um grito selvagem, ele a arrancou de perto do índio. Tropeçando, Elizabeth caiu sentada no chão, as mãos dela voando atrás dela para amortecer a queda. "Deus — maldição!" Cutter rosnou, encarando-a furiosamente. A violência e a raiva deixaram Elizabeth sem palavras. Ela olhou para ele como se ele fosse louco. Dobrando-se para recuperar o fôlego, pernas abertas, as mãos sobre os joelhos, camisa aberta, Cutter olhou para o homem inconsciente a seus pés. Gotas de chuva escorriam da extremidade do seu nariz. Estrias vermelhas fluíam de um ferimento no peito do índio, manchando sua calça de camurça. Apesar dessa prova do ferimento do homem, a raiva do Cutter não diminuiu. Poderia muito bem ter sido um ardil! Ele olhou furiosamente para ela. "Maldição, você tem o cérebro que Deus deu a uma cobra, mulher! O que você achou que estava fazendo?" Rangendo os dentes, Elizabeth olhou para Cutter com um olhar reprovador. "Não vê que o homem está ferido?" ela respondeu. Cutter bocejou para ela. Tudo o que ele pensava naquele momento era que ele tinha chegado perto demais para perdê-la, e ele não podia suportar este pensamento. Isso doía bem no fundo do seu ser. Como nunca tinha acontecido antes. Inclinando-se sobre o índio inconsciente, Cutter abriu os olhos do homem e então sentiu a pulsação no pescoço dele. Satisfeito com os resultados, virou-se novamente para Elizabeth. "E se ele não tivesse ferido? E se tivesse sido um truque — um golpe para tirar-nos da caverna? Então, doutora?" Elizabeth parou abruptamente, colocando as palmas das mãos sobre sua camisola molhada. "Mas não foi!" ela disse. "Ele está machucado — e eu sou uma médica. Ele precisa de mim, Sr. McKenzie, então se você não pretende ajudar, então apenas saia do meu caminho!" A inesperada voz autoritária de Elizabeth pegou Cutter de surpresa, mas ele não mostrou surpresa no rosto. Apesar de sua raiva, ele não podia argumentar com os fatos; o homem precisava de atenção médica imediata. Ele deu-lhe um aceno lacônico, cedendo, embora a contragosto. Acima deles, um raio de sol apareceu através da garoa quando Elizabeth apressou-se a ajudar o índio inconsciente. Passando por Cutter, ela decidiu ignorar o breve contato de seus corpos, mas não conseguiu. Mesmo em sua fúria, seu toque fez o coração dela reagir de forma estranha. Mas a reação do seu corpo por ele foi completamente esquecida quando ela olhou para o rosto do jovem índio. Sua pele estava de uma cor azul doentia, e ela sabia o que isso significava. Automaticamente, ela sentiu sua pulsação no pescoço. Sentiu, e embora fraca, ela deu um suspiro de alívio. Seu coração acelerou com esperança. "Ele está em choque," ela explicou para Cutter que estava atrás, assistindo.
O ferimento estava profundo, aberto e irregular — quase como se ele tivesse sido cortado várias vezes no mesmo lugar. Havia tanto sangue que era difícil dizer se existia ou não algum objeto estranho ainda no corpo dele. Engolindo a incerteza, ela enfiou o dedo na ferida e não encontrou nada. O que quer que tenha estado ali já tinha sido removido. Seu sexto sentido a fez olhar para uma faca pequena que ele tinha na bainha da sua calça. A alça estava com sangue... e ela sabia instintivamente o que tinha acontecido. Evidentemente ele tinha tentado remover tudo o que tinha estado no ferimento por conta própria... e tinha atingido uma artéria? Ou pior, ele tinha cortado uma artéria? Quanto sangue ele tinha perdido? Há quanto tempo ele estava sangrando? Mordendo o lábio inferior, ela olhou furiosamente para Cutter. "Bem! Não fique aí parado, Sr. McKenzie — ajuda-me a levá-lo para dentro!" A chuva havia diminuído consideravelmente e estava quase cessando completamente. "Não se preocupe," ela disse abruptamente. "Só leve-o para perto do abrigo." Sabendo que Cutter era perfeitamente capaz de transportar o homem sozinho, ela correu para recuperar a saia descartada, juntamente com seu saco de dormir. Ela rapidamente pegou o saco de dormir e então acenou para Cutter para colocar o índio em cima dele, enquanto ela se atrapalhava com a saia. Assim que pode ela colocou o homem deitado e começou a rasgar a bainha da saia dela. Ela não se lembrou do estado do vestido dela até que ela viu a saia caída no assoalho da caverna, e embora ela estivesse desconcertada em ser apanhada sem roupa em plena luz do dia, não havia nenhum tempo para se preocupar sobre isso... isso não era importante agora. A bainha do vestido estava incrivelmente imunda por ter sido arrastada no chão, e ela arrancou a parte mais suja. O resto ela dividiu em tiras. Imediatamente ela fez algumas compressas para a ferida, apertando a primeira bem em cima do ferimento enquanto ela preparava outra. Cutter assistiu-a trabalhar em silêncio. "Faça uma fogueira," ela exigiu de repente. Dando uma respiração profunda, ela tentou desesperadamente esquecer o olhar faminto que ela tinha visto nos olhos de Cutter, quando ela tinha rastejado para fora do abrigo, apertando a saia em seus dentes e empurrando o seu saco de dormir para fora antes dela. Não houve tempo para ela ficar eufórica com o desejo que tinha percebido, ela lembrou-se firmemente. Mas em algum lugar no fundo da sua mente... ela se emocionou ao pensar nele. Pareceu que Cutter demorou a compreender o que Elizabeth havia pedido para ele, mas quando ele entendeu, seu rosto se contorceu quando ele pensou que ela estivesse mentalmente desequilibrada. "Inferno não!" Elizabeth olhou para ele, ao mesmo tempo, enquanto aplicava uma pressão crescente para estancar o fluxo de sangue. "Eu tenho que cauterizar a ferida," ela disse. "Ele está perdendo muito sangue!" O olhar de Cutter não vacilou. "Não." Seu tom manteve-se inflexível.
"Por que não?" Elizabeth retrucou. Então, vendo sua mandíbula, ela falou de repente, "ele vai morrer!" Ela não podia acreditar que Cutter pudesse ser tão frio. "Não sabemos se ele está sozinho," Cutter afirmou com naturalidade. "Se ele tiver amigos lá fora, então é melhor nós não chamarmos atenção para nós mesmos. Além disso, Lizbeth, o homem está morto — eu vi esse olhar muitas vezes para não saber. Você não pode salvá-lo," ele disse sem rodeios. “Como pode ser tão insensível?" ela perguntou para ele. "Certamente eles entenderiam que eu quero ajudá-lo?" A expressão de Cutter permaneceu fechada enquanto ele abanou a cabeça, a mandíbula ainda mais fechada. "Não posso correr esse risco," ele disse. Se ele tivesse que se preocupar apenas com ele mesmo, ele teria feito isso sem pensar duas vezes. Mas ele não estava sozinho. E não queria colocar Elizabeth em risco. Furiosamente Elizabeth se virou. "Não acho que você entendeu Sr. McKenzie. Não pretendo deixá-lo morrer! O fato é, que se você não começar essa maldita fogueira, então eu vou!" Novamente, ela acrescentou uma compressa. "Ele já perdeu muito sangue... não pode perder muito mais." Ela olhou para Cutter, o coração nos olhos dela. "Por favor, Cutter," ela pediu. Enquanto ele observava seus olhos cheios de lágrimas, assustando-o com uma intensidade dilacerante. "Por favor." Quando ela falou dessa maneira, Cutter não poderia negar. Descontente com ele próprio, ele se afastou. Amaldiçoando a si próprio, ele abotoou a camisa e enfiou às pressas para dentro da calça. Como ele temia, o fogo levou muito tempo para acender por causa da madeira molhada, fazendo muita fumaça no processo. Nesse meio tempo, Elizabeth tinha limpado a área ferida, da melhor forma que podia sem remover as bandagens. Ela só podia esperar que a chuva tivesse conseguido limpar suficientemente, a laceração em si, porque ela não ousava remover o curativo porque podia começar a sangrar tudo de novo. Pelo menos não até que ela estivesse pronta para cauterizar. Ele já tinha perdido muito sangue. O sangue ainda estava fluindo, apenas muito mais lentamente do que antes. E enquanto isso, o índio corajoso estava deitado sem se mover, nem mesmo uma contração de sua sobrancelha. Ele parecia completamente inconsciente que alguém estivesse cuidando dele. Quando a fogueira ficou acesa, Cutter pegou sua faca, e segurou-a sobre as chamas, tentando em vão não ficar embevecido com as aréolas de Elizabeth através de sua camisola transparente. Era bom o índio estar inconsciente, ele pensou violentamente, porque talvez ele tivesse que matá-lo se ele colocasse os olhos em Elizabeth neste momento. Seus seios estavam tão perto do rosto do índio,... e por um momento ele se imaginou deitado no lugar dele, com seus lábios tão perto... Seu rosto se contorceu de repente. O que estava errado com ele? Um homem estava morrendo na frente dele — um homem a quem, em qualquer outro momento,
Cutter provavelmente mataria, tudo por causa do sangue que eles compartilhavam — e aqui estava ele pensando em um assassinato, por causa de uma mulher. Mas não era qualquer mulher. Tanto quanto ele odiava admitir o fato... Elizabeth Bowcock tinha entrado sob sua pele. O arrepio, que ele sentiu quando ele a viu correndo desenfreada em direção ao perigo era algo que ele nunca esqueceria... nem mesmo se vivesse cem vidas. De alguma forma, ela tinha se tornado tão vital para ele... como nada nunca tinha sido antes. E embora ele hesitasse em colocar um nome para esta emoção, ele suspeitava o que ele estava sentindo. E isso deixou suas entranhas se revoltando. Porque isso o fazia vulnerável e ele não gostava de se sentir assim.
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Uma vez que a lâmina estava quente o suficiente, Cutter entregou-a para Elizabeth, e assistiu em descrença como seu lindo ratinho fez o trabalho sujo, sem vacilar ou mesmo sem hesitar. A transformação nela tinha sido surpreendente. Ele viu as faíscas sob a superfície, mas a mulher diante dele parecia totalmente diferente da que ele achou que conhecia. Ele teria oferecido ajuda se não tivesse ficado tão atordoado pela sua eficiência. Ele não conseguiu manter seu olhar afastado, mesmo quando o cheiro de carne queimada atingiu suas narinas. Por um breve momento o índio abriu os olhos, e olhou direto para Elizabeth e ela imediatamente arrancou a faca do ferimento, não querendo feri-lo, mas seus olhos se fecharam novamente sem ele ter falado nada. Alinhando seus ombros, Elizabeth terminou de cauterizar a ferida e novamente começou a rasgar as tiras de sua saia. Com esses panos ela amarrou o peito do homem. E depois muito rapidamente — incapaz de suportar o seu vestido maltrapilho por mais tempo — evitando o olhar de Cutter ela tirou a saia que agora estava curta. Ajoelhando-se novamente, e suas bochechas tão quentes quanto o índio parecia estar, ela colocou um cobertor até o queixo dele a fim de conservar o calor do corpo. Ela balançou a cabeça gravemente, contemplou o brilho em seu rosto, e viu que ele precisaria de uma infusão para baixar a febre. Líquido — ela estava certa de que eles tinham um pouco de sal na mochila de Cutter. Ela iria acrescentá-lo também — para ajudar a substituir os fluidos do corpo. Claro, não havia como ela pudesse administrar alguma coisa enquanto ele estivesse inconsciente, mas ela certamente poderia deixar preparado para ele, para quando ele acordasse. Instintivamente ela examinou a testa do homem para medir sua febre, deslizando a mão pelo seu rosto até o pescoço. "Cutter," ela começou, pensando que certamente deveria haver algo... alguma erva que crescesse na área que ela pudesse usar para uma infusão. Tinha que haver. Ela olhou, examinando rapidamente a área. Casca de salgueiro branco seria perfeita, mas ela só podia ver apenas pinho e carvalho... assim como alguns vidoeiros. Incapaz de ajudar a si mesmo, Cutter encarou o perfil digno de Elizabeth enquanto ela, por sua
vez, examinava a paisagem, seus cílios escuros, seus olhos ligeiramente abertos enquanto ela se concentrava na área em volta. Inadvertidamente, encontrando seu olhar, ela desviou-o rapidamente, deslizando a mão por baixo do cobertor de lã para sondar a carne nua do índio. Contra sua vontade, o corpo de Cutter sacudiu em resposta, reagindo puramente por instinto, sentindo o calor de sua mão como se fosse seu próprio sangue. Maldito, ele rosnou — ele nunca teria acreditado com quanta paixão ela estava tratando o índio. Parecia não importar para ela que ele não era nada mais do que um selvagem pagão — suas próprias palavras — só que ele era um homem, e precisava dela. E esse conhecimento machucava sua armadura. E maldita ela também, porque mesmo sem tentar, ela tinha conseguido chegar e preencher uma parte dele que uma vez ele pensou que nunca mais veria a luz do dia novamente. Nos confins do seu coração duro como o inferno. Inquieto com a intensidade da emoção que ele estava sentindo de repente, ele limpou a garganta, Elizabeth finalmente olhou para ele, sua expressão preocupada. Se ela podia sentir tanto amor por um estranho, ele pensou, quanto ela poderia sentir pelo homem que ela amasse? Se amaldiçoando, ele sacudiu a cabeça para se livrar do pensamento e se afastou. "Cutter?" Ele parou, embora com relutância e virou na sua direção. "Você cuidaria dele? Por favor... enquanto procuro localizar algumas ervas?" Os olhos dela pareciam lhe implorar, embora eles não precisassem, porque de repente se tornou importante para Cutter salvar o homem, como parecia ser importante para ela. Ele viu, que para ela não era difícil ser sentimental por alguma coisa, por pessoas, cavalos, ou mesmo a própria vida. Ele tinha aprendido há muito tempo que neste mundo, as coisas vinham, e então elas simplesmente iam embora de repente. E ninguém podia fazer nada. Ele não tinha nenhum sentimento pelo índio — ele podia ter jurado que o homem estava morto na sela. Mas talvez, só talvez, Elizabeth pudesse salvá-lo. O desejo dela para salvá-lo era contagioso. Talvez apenas sua vontade pudesse fazê-lo. "Ele está muito quente," ela falou, confundindo sua hesitação com relutância. Cutter assentiu, e Elizabeth sorriu com gratidão, dando um salto para abraçá-lo rapidamente, antes que ele pudesse pensar de mudar de idéia. Com a bota no pé, ele chutou uma moita de grama molhada e depois afundou o pé no saco de dormir. "Fique onde eu possa vê-la," ele murmurou atrás dela. Quase uma hora mais tarde, para desespero de Elizabeth, ela não havia encontrado nada para usar. Ela encontrou algumas plantas - echinacea, liatris, talinum calcycinum, até mesmo alguns dephiniuns — todas inúteis? Bem, a intenção dela era curar o pobre homem, não matá-lo. Quando finalmente ela desistiu e voltou para o acampamento, ela voltou de mãos vazias. Vendo sua aproximação, Cutter ficou parado, balançando a cabeça para a pergunta implícita nos olhos dela. Batendo no chapéu — que ele tinha recuperado na ausência dela, junto com a outra bota
— sobre o joelho dele, ele deu-lhe um toque sombrio de lábios e então colocou o chapéu na cabeça com um suspiro profundo. Na revelação não dita, os ombros de Elizabeth murcharam um pouco mais. Com um suspiro, ela foi para o lugar onde Cutter tinha estado acenando desanimada quando o olhar dela se voltou para o índio inconsciente. Cutter olhou para ela, antes de virar-se um momento. Ele sabia que não podia deixá-la para ir caçar — não enquanto ela estivesse tão distraída. Ele tinha certeza de que o homem não estava sozinho. Mesmo que ele estivesse, estava saindo tanta fumaça da fogueira — provavelmente enviando sinais por milhas. Ele olhou para a fogueira, seguindo a fumaça para o céu. O rio estava à vista, então ele encontrou uma vara resistente, junto com uma árvore grossa para descansar suas costas enquanto ele trabalhava. Esparramando-se para trás e levantando um joelho, ele desembainhou sua espada e começou a talhar uma lança para pescar, ao mesmo tempo olhando Elizabeth à distância e admirando sua dedicação profissional ao índio. Ela trabalhava diligentemente, sem abandonar a esperança. Não foi até ela examinar o rosto do homem e sua testa para ver a febre pela enésima vez, sem um único sinal de recuperação, que ele balançou a cabeça sobre a inutilidade de tudo. Ele tinha quase terminado quando o latejar de seu pé começou a incomodá-lo. Levantando-se, ele foi até o rio. Sentado, ele tirou sua bota e suspirou quando examinou o corte no arco do pé esquerdo. Ele não tinha idéia onde tinha pisado. Mas ele já tinha tido cortes piores, então lavou seu pé no rio da melhor maneira possível e voltou para o acampamento, no caminho passou por um arbusto de amoras. Eles não tinham comido nada o dia todo e ele sabia que Elizabeth com certeza devia estar faminta, então reuniu um punhado e carregou com ele, despejando sem a menor cerimônia as amoras no colo dela. Não lhe surpreendeu muito quando ela a princípio não se mexeu. O que dizia respeito a ele, no entanto, era que mesmo depois de um longo momento, ela ainda não parecia perceber que ele estava ali a observando. Como uma estatueta sombria, ela continuava a tomar conta do índio inconsciente. E quando ela finalmente o viu, demorou um tempo longo para verificar que ele tinha colocado algo na sua saia. Mas finalmente seus olhos se iluminaram. Seus olhos se arregalaram ligeiramente. "Amoras?" ela sussurrou com um tom de entusiasmo. Cutter a olhou um pouco incerto. "Onde você conseguiu?" Ela perguntou, pegando uma, inspecionando-a com um brilho estranho nos olhos. Cutter abriu a boca para responder, mas ficou calado. "Senhor misericordioso!" ela exclamou de repente. "Por favor, me diga, tem mais!" Diabos, Cutter pensou, ele sabia que deveria estar com fome, mas pela vida dele, ele não imaginaria essa reação. Franzindo a testa para ela, ele esfregou sua barba com preocupação. "Ah, Cutter!" Elizabeth, exclamou alegremente, olhando para ele brevemente e, em seguida,
voltou a comer a amora. "Você sabe o que é isso?" Ela riu contagiante. "Você sabe o que é isso?" Ela repetiu, com alegria, ainda o encarando, os olhos abertos, segurando a amora como se fosse uma pepita de ouro. Inclinando-se para olhar direto nos olhos dela, Cutter agarrou Elizabeth pelo ombro, forçando sua atenção nele. Conseguindo capturá-la, ele assentiu lentamente. "Sim. Amoras." Ele se perguntou se ela finalmente tinha perdido o juízo. "Lizbeth, você está bem?" Sem aviso, os braços de Elizabeth voaram e pegaram seu pescoço, apertando-o com alegria, sufocando-o. Reflexivamente ele removeu seus braços, afrouxando o aperto. "Estou ótima!" Elizabeth respondeu com alegria. "As folhas vão fazer maravilhas para a febre!" O calor dos seus lábios se moveu como calor líquido contra seu rosto. Quando ela recuou para olhar para ele, seu olhar se transformou diante de seus olhos, de desesperança para algo semelhante à adoração, e deixou-o momentaneamente surpreendido. Ele teve que lutar contra a vontade de puxá-la e cobrir a boca dela com a sua própria. "Uma infusão das folhas vai ser perfeita," ela explicou, mas Cutter não estava escutando, ele não conseguia tirar os olhos para longe da boca dela. "Perfeito!" ele a ouviu repetir alegremente, e então ela de repente beijou ele — no olho. Com um sorriso animador, ela se virou novamente para seu paciente. "Agora, não se preocupe," ela disse com alegria. Ela levantou um joelho, preparando-se para levantar. "Eu vou fazer você ficar bom rapidinho! Você vai ver!" Ela acariciou o braço dele para tranqüilizá-lo. Como se fosse dar uma resposta, o índio abriu abruptamente seu olho, e Elizabeth balançou para frente em ambos os joelhos ao mesmo tempo, como se esse pequeno esforço, de alguma forma tivesse batido nela de volta. Ela deu um grito pouco assustado. O olhar negro era vago, as pupilas dilatadas e enormes. Observando isso, Elizabeth sentiu-se mal de repente. Tarde demais, foi seu primeiro pensamento, mas ela esqueceu rapidamente. Ele não ia morrer! Ela não ia deixar! Esta era a primeira vez desde a morte do pai dela que a vida de um paciente estava em risco... a primeira vez que alguém dependia unicamente de suas habilidades para sobreviver. Ela não podia falhar — o pai dela não teria falhado, e ela não falharia. Ignorando as implicações que ela viu nos olhos do jovem índio, ela colocou a palma da mão corajosamente sobre sua testa, suas sobrancelhas inclinadas desanimada com a sensação de sua carne. Alguns momentos antes ele estava quente como ferro de passar roupa, mas sua pele estava rapidamente perdendo a matiz rosada, tornando-se tão pálida como se ele já estivesse morto. Um nó se formou em sua garganta. "Se apenas... se ao menos eu pudesse fazer... a infusão," ela falou, sua voz pegando a última palavra como se de repente fosse muito difícil falar. Uma garoa suave começou. Cutter observou enquanto Elizabeth pegou a mão do índio na sua,
agarrando-a teimosamente. Uma lágrima solitária escorria pela bochecha dela e ela deu uma respiração tremendo quando as pupilas do índio se contraíram diante de seus olhos. "Não," ela sussurrou catastroficamente. "Não, não morra. Eu não acabei ainda..." Seu fundamento soou patético, como uma criança abandonada pedindo para ser confortada. Quando, um instante mais tarde, o índio deu seu último suspiro com um leve tremor dos membros, seus ombros imediatamente começaram a tremer. Mesmo sabendo que não havia nada mais que pudesse fazer Elizabeth não conseguia tirar os olhos dele, não conseguia soltar a mão dele. Deixá-lo ir era deixá-lo escapar para sempre. Seus lábios começaram a tremer enquanto suas pupilas se tornavam mais vazias, seu olhar parecendo vidro preto. "Oh, papai," ela chorou baixinho, ainda incapaz de largar a mão do índio. Nem podia desviar o olhar. "Oh, não... Não... Não...“ Ela olhou para cima, implorando. "Oh, Cutter," ela chorou, engolindo o caroço que tinha se formado em sua garganta. Contra a palma da sua mão, a névoa continuou a cair, enquanto contra a palma da outra mão, a carne do índio se tornava mais fria como a névoa. E ela sabia tão certa quanto ela respirava, que ele tinha ido embora para sempre. "Não é justo!" ela gritou de repente, e com um soluço de asfixia, ela pôs a mão fria reverentemente em cima do peito imóvel. Vagamente, ela estava ciente de Cutter. Ela se voltou para ele, e se jogou em seus braços.
15
"A vida não é justa," Cutter sussurrou. Consolando-a da única maneira que ele sabia, acariciando suavemente as costas e os ombros de Elizabeth, profundamente comovido por sua compaixão para com o índio. Ele levantou seu queixo para que ele pudesse ver seu rosto coberto de lágrimas, mas ela teimosamente evitou seu olhar e manteve os olhos abaixados enquanto outra lágrima deslizava por seus cílios escuros. Seus próprios olhos ardendo contra sua vontade, ele limpou o rosto dela com o polegar. Desta vez ela não protestou do seu toque calejado. "Seu primeiro?" ele sussurrou com a voz rouca. Elizabeth assentiu com a cabeça, soluçando. . "Foi o que eu achei," ele disse bruscamente. "Me ouve, olhos brilhantes, não tinha mais nada que você pudesse ter feito para salvá-lo. Nada." O tom dele era suave, calmo, embora seu sangue estivesse começando a ficar quente com a sensação de tê-la nos seus braços. Ele querendo ou não, naquele momento se sentiu mais atraído por ela, do que alguma vez pensou que fosse possível. Mais do que ele já tinha ficado atraído por qualquer outra mulher. Finalmente Elizabeth olhou para ele por meio de seus cílios umedecidos, mas seus olhos pareciam mais escuros de alguma forma, mais profundos do que antes, como se esta única morte tivesse de alguma forma a abalado profundamente, bem no fundo. "Eu deveria saber o que fazer!" ela gritou melancolicamente. A palma da mão espalhada em cima de seu peito, os dedos dela brincando nervosamente com o botão da camisa dele. Com este gesto tímido, o sangue de Cutter começou a ferver lentamente. Maldição, se ela não estava brincando com ele. Ele forçou seu olhar para longe de seus mamilos. A reação inocente do seu corpo a ele tanto o emocionava como o atormentava simultaneamente. "Eu deveria ter salvado ele. Eu poderia ter — meu pai teria! Deve ter alguma coisa que eu me esqueci de fazer... alguma coisa que eu não fiz direito... algo..." ela acabou olhando para Cutter com olhos suplicantes. Lágrimas brilhavam em seus olhos. Com uma vontade própria, as mãos de Cutter deslizaram para a cintura dela e, em seguida, avançaram para ela de volta quando ele beijou a testa dela, com firmeza, sentindo seu corpo tenso. E
de novo seu controle desaparecendo a cada segundo que ela continuava em seus braços. Ele deu uma respiração profunda, mas foi a pior coisa que ele poderia ter feito, porque assim o perfume dela encheu sua alma. Ele gemeu e pensou com nojo dele mesmo, que ele não sentia muito mais do que irritação pelo índio ter morrido de uma maneira tão inconveniente. Inferno, ele sentia muito que o homem tivesse morrido, mas não tanto quanto ele sentia por Elizabeth. Era inadmissível, mas seu corpo não parecia ter compreendido a gravidade da situação. Felizmente, sua mente ainda se apegava a um pingo de sanidade. Sua voz soou rouca, torturada. "Você fez tudo o que pôde para o homem, Doc." Os dedos dele afastaram um cacho úmido do rosto dela. "Não me chame assim!" Elizabeth protestou fracamente, se afastando de seu toque, batendo na mão dele quando ele a colocou de novo no rosto dela. Sem entender a reação dela, Cutter suspirou e suavemente a afastou dele. "Eles tinham razão para duvidar de mim," ela murmurou com tristeza, "todos eles! É só que... que... eu — eu tentei tanto... tentei muito...“ Cutter poderia imaginá-la de repente, lutando incansavelmente para ganhar a aprovação dos habitantes da cidade. Apesar do fato de que ela tivesse seguido os passos do pai dela, não seria uma tarefa simples ganhar o respeito deles. Mas realmente ela tinha ganhado, porque sempre ouvia eles se referirem a ela como Doutora e sempre com respeito. Ele não podia deixá-la começar a duvidar de si mesma agora. E ele não ia deixar isso acontecer. Impulsionado pela necessidade de aliviar sua dor — para não mencionar a influência de suas regiões inferiores — seus lábios tocaram seus cílios salgados, pressionando suavemente contra seus olhos, então se mudou para a ponta do nariz para plantar outro beijo carinhoso. A garganta dele densa com emoção. "Shhh, olhos brilhantes." Os lábios dele roçaram os dela enquanto ele falava. "Não chore." De repente a boca dele cobriu a dela avidamente, com uma intensidade selvagem, esmagando-a, enviando ondas de choque em espiral através dela. Ela foi surpreendida por sua resposta ansiosa; ela não podia rejeitá-lo, então ela se abriu para ele por vontade própria. Ele agarrou os ombros dela tempestuosamente, e o choque da língua dele mergulhando suavemente entre seus lábios trêmulos a aquietou e ela parou de soluçar. Sua respiração parou inteiramente quando uma mão mudou-se para segurar a nuca dela, restringindo-lhe para que ela não pudesse fugir do beijo mesmo que ela quisesse. A outra mão nas suas costas, forçando-a a um contato total com o seu corpo. Impotente para contê-lo, Elizabeth choramingou profundamente, incapaz de suportar o intenso prazer... imaginando como ela poderia experimentar uma alegria enorme com um beijo... quando um homem jazia morto aos seus pés! Mas Deus, ela queria isso... mais do que tudo... queria o conforto que ele poderia dar para ela. Deus misericordioso, o que estava errado com ela?
Com um grito torturado, Elizabeth de repente empurrou Cutter, com repulsa por suas ações, e sabendo que se ela não o parasse agora, ela em breve iria implorar-lhe para continuar. "Como você pôde?" Ela perguntou sem fôlego. Como ela pôde? Sua mente gritou questionando-o. Os olhos de Cutter estavam tão negros que ela teve uma vontade momentânea de mergulhar a cabeça em suas profundezas turvas. Ela se sentiu completamente privada de sua própria vontade. Somente o autodomínio de Cutter a manteve de se envergonhar ainda mais. O elevar de sua testa enviou um curioso frio em sua espinha. "Calma, Doc," ele respondeu, e seu corpo vibrou onde os olhos de Cutter olharam para ela tão corajosamente. "A parte mais difícil foi manter-me longe disso." Seus lábios riram ironicamente. Hipnotizada por sua revelação, Elizabeth olhou atônita para ele, descrente de sua insensibilidade, mas secretamente emocionada com suas palavras. "Pedi para você não me chamar assim!" ela disse, desviando os olhos. Mais do que um pouquinho confusa por seu olhar penetrante, ela fingiu estar ultrajada — antes que ela pudesse sentir-se tentada a se atirar na sua compaixão. Cruel como Cutter era, ele não a mandou embora, ela estava certa. Lutando para não chorar, ela tentou levantar-se, mas Cutter a impediu colocando uma mão em seu ombro. Sabendo muito bem que o momento tinha acabado, Cutter suspirou com pesar. Ciente do fato de que Elizabeth se fortalecia quando estava com raiva, ele falou levantando lentamente sua testa, "Talvez tenha razão, Doc. Talvez você não tenha o que é necessário, afinal de contas. Talvez o homem tivesse ficado melhor sem você. Você não acha — Doc?" Um longo momento confuso por causa de suas palavras insensíveis passou, e então os olhos de Elizabeth aumentaram-se ofendidos. Ela deu um tapa nele. "Não!" ela chorou. "Eu não acho! Fiz tudo o que sabia fazer!Tudo! Tudo!" Com o gesto dele de aprovação, Elizabeth calou-se abruptamente, seus ombros tremendo e seu rosto se contorcendo de dor. "Me desculpe!" Lágrimas brotavam dos seus olhos, sufocando sua voz. "Oh, Cutter," ela choramingou. "Eu fiz tudo — eu juro, eu fiz. E ainda assim... não foi o suficiente!" Cutter esfregou seu queixo, onde ela tinha lhe batido, e Elizabeth o olhou tristemente, os lábios trêmulos. "Já vi tantas mortes — homens, mulheres, irmãos, bebês. Não é a morte em si que dói tanto... só que desta vez —" ela bateu suavemente em seu peito, mais uma vez voltando a chorar, chamando sua atenção de volta para a camisola transparente "— eu era a única coisa que separava a vida da morte... e eu falhei — miseravelmente!" Cutter pegou-a pelos ombros, segurando-a firmemente. "Você não falhou, Lizbeth," ele disse sem rodeios. "Isso é o que tenho tentado lhe dizer! O homem já estava a sete palmos abaixo da terra, quando ele caiu do cavalo! Eu tentei te dizer — você se lembra? Mas você não quis me ouvir. Não havia nada mais que você pudesse fazer." Ele suavizou sua voz, querendo que ela entendesse. "Como o povo da minha mãe costumava dizer, A Sombra já o tinha deixado, ele estava apenas respirando. Pelo amor de Deus, mulher, será que você não vê o orgulho que eu tenho de você?" O olhar de Elizabeth voou para o dele. "O-orgulho?" ela perguntou hesitante.
Cutter assentiu com a cabeça, enxugando suas lágrimas. "Orgulho," ele repetiu com um aceno lento e firme. Então, com um gemido atormentado, ele passou a palma da sua mão em sua bochecha, sentindo sua doce suavidade. Agora não era o momento certo, ele sabia, e nem o lugar. Mas em breve... muito em breve. Ele não podia esperar muito mais tempo. Seu corpo estava literalmente doendo com necessidade dela. "Muito orgulhoso" ele sussurrou novamente, quase reverente desta vez. E então, com uma piscadela, ele tocou seu lábio inferior com o dedo, rolando-o suavemente para tocar a carne macia do interior. Elizabeth estremeceu. Por um longo momento, nenhum deles conseguiu desviar o olhar, tão forte era a atração entre eles. Em seguida, erguendo-se abruptamente com um suspiro triste, Cutter puxou Elizabeth para ele. "Venha, Doc, vamos dar ao homem um repouso adequado e seguir em frente, rio abaixo." Ele não queria que ela ficasse se recordando o que tinha acontecido neste lugar e sabia que ela só conseguiria esquecer quando eles estivessem longe. Não tendo pá disponível para enterrar o índio, Cutter decidiu colocá-lo dentro do abrigo. A abertura era pequena o suficiente para que ele a fechasse com algumas pedras grandes. Depois de retirar seus pertences da gruta, eles colocaram o índio. E enquanto Cutter trabalhava para tapar a tumba, Elizabeth rapidamente colocou sua camisa e foi colocar as selas nos cavalos como ela tinha visto Cutter fazer tantas vezes.
QUANDO CUTTER TERMINOU, era impossível alguém dizer que alguma vez tinha existido uma abertura na estrutura de pedra. Mesmo para um olhar perspicaz, parecia não ser mais do que um monte de pedras de tamanho irregular, todas agrupadas juntas. Finalmente ele falou algumas palavras sobre a cripta improvisada, e Elizabeth colocou um buquê de sálvia branca no topo, se sentindo de alguma forma responsável pela morte do índio — mesmo sabendo que era ridículo se sentir culpada. Ainda assim, ela pensou que jamais iria esquecê-lo. E era difícil deixá-lo sozinho no seu descanso final. Apesar do fato de que ela não soubesse absolutamente nada sobre o pobre homem, ela sentia alguma ligação estranha com ele... e sabia que lá no fundo ela sempre teria. Sempre. Cheia de tristeza, seus olhos se levantaram em direção as falésias escarpadas, e ao rio que corria imprudentemente através de um prado cheio de flores intercalado com árvores. À frente deles, o Missouri parecia eterno. Apesar de tudo, era um lugar muito solitário. "Ninguém nunca saberá que ele está aqui," ela lamentou, seus olhos brilhando. Batendo seu chapéu na coxa, Cutter disse. "Oh, não sei." Colocou o chapéu na cabeça, e abaixou-
o sobre os olhos. "Eu espero que alguém um dia saiba." Os olhos de Elizabeth imediatamente seguiram o caminho que ele tinha tomado, encontrando absolutamente nada. Engolindo o caroço que tinha sido formado em sua garganta, ela se virou e montou no cavalo. Tanto ela quanto Cutter deram um último olhar para a caverna. Eles não foram muito longe, apenas fora da vista da tumba. E apesar de Elizabeth achar que não poderia comer qualquer coisa depois do calvário que eles tinham passado, assim que eles acamparam de novo, Cutter pescou o jantar, e ela comeu com tal voracidade que ela pensou ser capaz de comer um rio inteiro cheio de trutas. Depois do jantar, para sua surpresa, em vez de apagar a fogueira, Cutter adicionou mais lenha. Mantendo-se ocupada, para não pensar mais no índio, Elizabeth abriu seu saco de dormir e o de Cutter também, pensando como ela iria suportar a idéia de dormir onde um homem tinha morrido. Ela não achou que pudesse. Apesar de estar preocupado, Cutter não perdeu o olhar de perplexidade que Elizabeth tinha lhe dado, mas ele não falou nada. A única explicação que ele poderia ter dado era que com certeza ele ia fazer amor com ela essa noite, e ele queria ver cada polegada de seu corpo enquanto ele estivesse fazendo amor com ela. Seu pé doía muito, mas outra coisa doía muito mais. E ele estava cansado de ser um cavalheiro, cansado de não dormir de noite porque ela estava dormindo tão perto dele que ele não conseguia tirar o cheiro dela de sua cabeça, de sua alma, e ele estava cansado de queimar. Se ele tivesse opção, ele não seria mais um cavalheiro. Era contra sua vontade. Além disso, parecia que eles tinham alguns anjos da guarda caminhando com eles, e ele duvidava que alguém se aproximasse hoje sem ele saber. Ele tinha visto três índios logo depois do enterro. Ele só não sabia por que eles tinham permanecido fora de vista, escondidos, ao invés de vir ajudar a enterrar um dos seus próprios — a menos que eles não confiassem nele? Ainda assim, se houvesse apenas três deles, era provável que eles não tivessem se aproximado porque eles não estavam armados. E essa foi a outra razão pela qual ele tinha decidido sair de perto do túmulo. Carregando armas ou não, Cutter tinha certeza de que eles queriam recuperar o corpo do seu amigo — ou, no mínimo, conferir o seu trabalho. Em ambos os casos, ele não tinha nenhum desejo de ficar no caminho deles. Para ele não havia motivo para se preocupar se eles iriam tentar roubar o acampamento hoje à noite, porque ele tinha propositadamente deixado o cavalo do índio morto para eles como prova de boa fé. Ele estava feliz por que Elizabeth não tinha perguntado sobre ele. Felizmente, ela estava tão perturbada que ela nem tinha notado o cavalo pastando no prado quando eles saíram. Mas ele tinha a certeza de que os índios tinham visto, mesmo que ela não tivesse. Com um rápido olhar sobre o cair da noite, ele se sentou no chão colocando suas costas contra
um tronco. Já tinha passado pelo menos uma hora desde que ele tinha visto os índios, e a menos que ele tivesse perdido sua intuição, eles provavelmente estariam no túmulo, até agora. E isso era perfeito para ele. Seu olhar foi imediatamente atraído para Elizabeth. Andando direto para as suas mãos, como uma borboleta atraída para uma teia de aranha, ela se aproximou dele, a bainha de sua saia totalmente esfarrapada. Seus sapatos pretos resistentes estavam sujos como o inferno, e ele se concentrou neles quando ela se sentou sobre o tronco ao lado dele. Passando os dedos sobre as rugas vincadas da saia dela, ela mais parecia uma pequena órfã suja, tentando impressioná-lo com seu autocontrole — quando ele sabia que no fundo ela ainda não tinha acabado de chorar. Ela estava segurando o choro estoicamente e ele a admirava por isso. "Certamente a comida foi satisfatória," ela comentou conversando, aludindo aos peixes que ele tinha pescado. "Muito melhor do que carne seca ou..." Ela olhou para ele timidamente. "Do que você chamou? Poça que pula?" Cutter riu dela. "Saltador," ele corrigiu. "Salta-pocinhas." Os olhos dela ainda mantinham um brilho forte na luz que se desvanecia. Sem ser perguntado, Cutter levantou-se e sentou ao lado do tronco, se inclinando para frente para descansar seus braços sobre os joelhos, as pernas se espalhando até perto das dela. Lá ele permaneceu, olhando para o chão num momento sóbrio, antes de olhá-la nos olhos. O pulso de Elizabeth acelerou quando os olhos pretos fumegantes se encontraram com os dela. Ele estava muito perto. Tão perto que se ela mudasse sua perna apenas uma fração para a direita, eles iriam se tocar. Ela se atreveria? Que Deus lhe desse força. Eles estavam tão próximos que o calor do corpo dela estava queimando. Como um pavio de combustível, ela sentiu seu calor inebriante infiltrando-a, alimentando-a de alguma forma desconhecida, tornando-a inquieta. Engolindo em seco, firmemente, ela olhou para suas mãos poderosas que agora estavam caídas na sua frente, e ela fechou seus olhos por causa da súbita necessidade de estender a mão e tocá-las. Ela estava sentada tão perto, parecia impossível ela não tocar as mãos dele. E antes que ela pudesse negar para si mesma, ela fez exatamente isso. Mais do que ela imaginava, sua carne queimava onde os dedos dela tocavam, enviavam relâmpagos através de seu corpo, para as pontas de seus seios. Ela estava eletrizada com a textura de sua pele — tão masculina, e tão quente. Ela resistiu ao impulso de tocar suavemente os pêlos ao longo do braço de Cutter. Fascinada pela sensação de tocar nele, ela teve que conseguir segurar cada grama de vontade de prazer que a envolveu, e ela tentou desesperadamente parecer casual. Mas a voz dela não parecia muito normal, mesmo para os seus próprios ouvidos. “Obrigada, Cutter, pela compreensão... quando eu mais precisei." Ela engoliu convulsivamente, limpando sua garganta. "E... e pelas suas palavras amáveis." O olhar de Cutter encontrou brevemente com o dela. "Não tive intenção de ser bondoso, eu
garanto. Falei somente a verdade. Você trabalhou muito bem, doutora." "Você achou que eu tinha ganhado meu título de presente?" ela perguntou sem querer ofendê-lo. Muitos tinham querido saber o mesmo sobre seu diploma para que ela culpasse Cutter de ter suas dúvidas. Ele deu-lhe um sorriso culpado. "Acho que eu estaria mentindo se dissesse que não. O pensamento me passou pela cabeça uma vez ou duas." Os olhos dele se voltaram para a mão no seu braço, os dedos trêmulos, em seguida ele olhou de volta para o rosto dela, como se quisesse alertá-la de alguma forma. Ela suspirou um pouco trêmula. "E você não estaria errado. Não estudei em nenhuma escola chique do leste." Ela olhou nos olhos dele. "Mas eu fui uma aluna ávida das instruções que recebi do meu pai — e ele ganhou o seu diploma. Além disso, devorei todos os livros sobre cura e ervas que caiu em minhas mãos." Os olhos dela se moveram para onde Cutter ainda estava focado. Nos dedos dela. Mas, mesmo que ela tentasse, ela não podia removê-los do seu braço, mesmo sabendo que ela devia parecer espantosamente descarada. Em algum lugar, lá no fundo, ela sabia que ela o estava convidando... e não conseguia parar de fazê-lo. Seus cílios vibraram fechados com essa revelação, e ela deixou sua respiração se acalmar. Quando ela abriu os olhos novamente, o coração dela bateu violentamente. O calor inconfundível que apareciam nos olhos pretos de Cutter a assustou. Seria possível? Ela se atreveu a ter esperança. Que ele podia desejá-la, também? De repente, ela se sentiu tonta. Com todas as coisas terríveis que Elizabeth tinha ouvido falar sobre autocontrole dos homens, era impossível acreditar que Cutter não fez nada mais do que beijá-la, quando eles tinham passado tanto tempo sozinhos juntos. Ainda assim era verdade. E embora ela dissesse para si mesma que o que ele fez estava certo... que ela estava feliz porque somente isso tinha acontecido... também doía quando ela pensava. Agora o coração dela dançou com a possibilidade. Ele a tinha olhado várias vezes, mas parecia inconcebível que ele poderia — que alguém poderia. Ainda assim a prova estava bem ali nos olhos dele. Uma combustão lenta, uma fome latente, acendendo uma chama profunda dentro dela. Antes que ela pudesse parar ela mesma, seus dedos deslizaram corajosamente até sua mão, acariciando-a suavemente e expondo sua deformidade. Mais uma vez, seus olhares se encontraram nenhum dos dois capazes de romper qualquer força que os aproximava. Cutter não disse absolutamente nada. Mas Elizabeth não esperava isso dele. Ele não era o tipo de homem que revelaria alguma coisa facilmente. No entanto, ela sentiu que o momento estava certo. E ela precisava saber. "Como —" As sombras se aprofundaram nos olhos de Cutter, tornando-os insondáveis, como se uma pessoa pudesse cair nas profundezas deles e nunca, nunca, encontrar seu caminho de volta para a luz... como se tivessem visto mais do que um homem poderia ver. "Deixa estar, Doc. Você não quer saber."
O olhar de Elizabeth nunca oscilou. Apesar de sua expressão fechada, ela sentiu sua vulnerabilidade. "Sim, eu quero," ela insistiu, sua voz suave, mas determinada.
CUTTER SUSPIROU COM TRISTEZA, balançando a cabeça, enquanto aceitava o conforto que ela oferecia, sem querer desperdiçar. Sua voz soou rouca."Não é nada que valha a pena desenterrar, Liz... foi há muito tempo." Agindo por impulso, bem como querendo dar de volta o conforto que ele tinha lhe dado antes, Elizabeth levantou a mão dele para os lábios, apertando-a com compaixão. E então, antes que ela pudesse parar, ela estava beijando cada dedo, demorando em cada um deles, como se ela os beijasse, pudesse curá-los. Enquanto ele a observava com suas pálpebras semi-abertas, as entranhas de Cutter se agitaram. Sua garganta estava apertada. "Lizbeth," ele disse. "Acho que você não sabe o que está fazendo, garota." Elizabeth escolheu esse momento para fixá-lo no seu olhar, e tentar descobrir o que podia ser revelado nas profundezas deles. Droga, se essa pequena feiticeira não estava tentando seduzi-lo! Por que ele de repente se sentia obrigado a avisá-la, ele não sabia. Mas ele a avisou. Ele tinha a sensação de que ela estava agindo por instinto, que muitos dias viajando com um homem a tinha feito ficar vulnerável, e ele não a queria desse jeito. Ela beijou outro dedo com compaixão, os olhos fechados mostrando a intensidade do seu sentimento. "Lizbeth," ele gemeu. Mas as palavras não vinham na sua boca — para o inferno com boas intenções! Com um gemido torturado, ele a levantou colocando-a entre suas pernas. Enfraquecido pelo tremor de seus membros, Elizabeth não podia ajudar, mas ficou de joelhos com um suspiro de surpresa. Com um gemido de satisfação, ele envolveu seus braços sobre ela, transportando-a contra si mesmo. Ele colocou suas mãos no pescoço dela, o polegar por baixo do queixo, levantando-o. Elizabeth não pensou em protestar. Ela sabia que ele iria beijá-la... rezou para que ele o fizesse... ela queria muito. O olhar dele ficou mais pesado, enquanto ele se aproximava dela, como se ele quisesse puxá-la para dentro de si mesmo e depois, muito lentamente, sua boca se inclinou para ela, quente, dura e inflexível, e Elizabeth jurou que de repente ela tinha morrido e ido para o céu.
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E le
beijou-a profundamente, febrilmente, como se ele estivesse se perdendo cada segundo que passava, e Elizabeth encontrou-se agarrando, arqueando-se em direção a ele desesperadamente, seu corpo buscando o corpo dele instintivamente. E ela se sentia tão bem. Tudo parecia tão certo... o desejo tão profundo. Um calor começou como um espiral profundo dentro dela, rastejando por todos os seus membros, tornando-os lânguidos de desejo. Mais do que tudo, ela queria se entregar a Cutter. E realmente ela não se importava com o que poderia vir dele mais tarde. Nada importava. Apenas isto — o momento. E ela tinha a intenção de aproveitá-lo. Ela teve tão poucos bons momentos em sua vida... tão poucos... e este ela não podia negar a si mesma. Que Deus a ajudasse, mas ela não podia. Toda a sua atenção estava na interação de suas bocas e ela nem viu Cutter desfazer suas tranças. Mas de repente ela o sentiu passar a mão por seu cabelo, separando os fios longos como se fosse uma seda cara, recém-lavada, em vez de úmida e despenteada. O olhar de prazer intenso no rosto dele enviou uma "vibração" quente através dela. Seus lábios estavam queimando sua orelha. "Até que enfim," ele sussurrou. "Quis fazer isso por tanto tempo." Ele beijou o lóbulo dela, mordiscando-o suavemente, ao mesmo tempo passeando seus dedos através do comprimento dos seus cabelos. Inclinando a cabeça, ele afagou um lado do seu rosto, suspirando em seu cabelo. A ternura do seu toque era quase insuportável. "Lizbeth," ele sussurrou, "você não tem vontade de deixar seu cabelo... solto?" Ela tinha vontade. E às vezes essa vontade a oprimia. Às vezes... às vezes ela ansiava por nada mais do que tirar os pesados sapatos que ela usava e correr descalça através dos campos... de rir... Quanto tempo tinha passado desde que ela tinha rido? Rido verdadeiramente? Sem perceber, Elizabeth assentiu com a cabeça, o corpo dela se moldando em seus braços. Qualquer coisa que Cutter quisesse dela, ela queria dar-lhe naquele momento. Absolutamente tudo. Reverentemente, ele espalhou o cabelo dela sobre seus ombros. Sem vontade própria, Elizabeth se apegou a ele irresponsavelmente, a cabeça inclinada sedutoramente, seus olhos fechados de
prazer. "Se você vai me deixar," ele começou com uma voz rouca, sussurrando promessas, seus lábios adorando o rosto dela, "Posso te mostrar como é fácil você me fazer eu me apaixonar por você... como pode ser bom para nós." Os nós dos dedos dele passaram pelos mamilos de Elizabeth, e eles brotaram instantaneamente assim que ele os acariciou deliberadamente. "Você sente prazer?" ele sussurrou enquanto ela choramingava. Enquanto isso, ele acariciava a ponta do seu peito com a palma da sua mão. Parando de repente, ele gentilmente beliscou o mamilo, passando amorosamente seus dedos ásperos. A dor mais doce apareceu bem no meio do peito de Elizabeth. Perdida no êxtase sensual, ela assentiu com a cabeça, sua voz tinha fugido completamente. Embora seus olhos estivessem abertos, ela não conseguia ver nada através da neblina doce de prazer. "Basta você dizer a palavra," Cutter disse com um implacável brilho em seus olhos. Elizabeth não sabia o que dizer. Não sabia como dizer. Alguma parte dela compreendeu que ela concordar era contra tudo decente que já tinham lhe ensinado. E apesar dela querer muito, mais do que tudo, ela não podia agir dessa maneira. Ela se arqueou novamente, implorando sem palavras, e Cutter compreendeu. Com um grunhido, ele baixou a boca para seu peito, que ela ofereceu com disposição e alegria, mordiscando-o febrilmente, beliscando-o através de sua camisa de algodão. Bebendo da vontade que ela sentia por ele, os olhos de Elizabeth nunca deixaram de olhar para os dele enquanto sua mão abria seus botões. Um a um, rapidamente, habilmente. Sua respiração vinha com suspiros pequenos, ela o deixou segurá-la com uma mão firme em suas costas, enquanto mais uma vez, a sensação do algodão deslizando para fora do seu corpo enviava arrepios pela sua coluna. Com seus dedos fortes, ele abriu sua blusa, levantando sua combinação, expondo seus seios para o ar fresco. Ele baixou a cabeça para sugar um mamilo com ansiedade, enquanto ele acariciava o outro. A textura grossa dos dedos de Cutter contra a sua pele macia mandou uma onda de prazer que ondulou por todo o seu corpo. Não conseguindo se conter, Elizabeth gemeu de pura alegria. Sua mão deslizou instintivamente para o pescoço dele. Nada em toda a sua vida poderia tê-la preparado para as arrebatadoras sensações que naquele momento faziam seu corpo estremecer. Enquanto ele chupava seu mamilo, um fogo queimava os alcances mais secretos do seu peito, e ela queria muito que ele a tocasse... lá. Mais uma vez. Ela gritou de repente. Perigosa como era a idéia, ela se sentiu escandalizada por um instante, mas muito rapidamente, o desejo superou, removendo todo o pensamento coerente de sua mente. Os dedos dela se enrolaram no cabelo de Cutter. "Cutter," ela suspirou. "Ah, Cutter..." As palavras murmuradas por ele queimaram a carne dela. "Venha comigo, Lizbeth. Não se reprima," ele disse para ela, num selvagem sussurro. Sem dar uma pausa no banquete que o corpo de
Elizabeth tinha se tornado, ele olhou para ela através de seus cílios grossos, escuros, vendo sua expressão atenta, nos seus olhos escuros ardentes. Sem palavras agora, Elizabeth balançou a cabeça dizendo que não, que ela não ia se reprimir, e para que Cutter a entendesse, ela apertou a cabeça dele possessivamente no peito dela, perto do coração. As mãos dela se enroscaram ainda mais profundamente em seu cabelo, puxando-o suavemente em desespero. Esse era todo o incentivo que Cutter precisava. Sem dizer uma palavra, ele a ergueu, levando-a para o seu saco de dormir. Ele a deitou com reverência, se ajoelhando ao seu lado, seus lábios curvados em sua direção. Os olhos dela permaneceram fechados, como se ela não suportasse ver o que ele estava prestes a fazer. Ele beijou seus lábios para tranqüilizá-la, ficando com o cativante sabor dela nos lábios. "Lizbeth," ele sussurrou, seu hálito quente contra sua boca. "Abra seus belos olhos para mim, garota." Ela abriu, fazendo-o perder o fôlego com a emoção aninhada nas profundezas dele. A respiração dele se acelerou, parecendo que ele tinha corrido uns dez mil metros. "Diga não agora..." Ele a beijou suavemente, esperando que ela estivesse demasiado longe para ouvir ou compreender os conselhos dele. "Se você não tem dúvidas... vai ser muito tarde quando eu...“ Gemendo enquanto ela acariciava seu rosto com seus dedos macios e aveludados, ele seguiu em frente, empurrando uma mão por baixo dela e levantando-a contra sua dureza. "Que eu seja amaldiçoado, se já não é tarde demais," ele murmurou sem arrependimentos. A outra mão cobriu o peito dela quando ele enterrou seu rosto no pescoço macio dela. "Muito tarde," ele sussurrou. Seus dedos começaram a descer pelo corpo dela, deslizando por todo o comprimento da perna, da coxa, levantando a saia dela, queimando sua carne onde ele a tocava. Como um homem possuído, ele começou a beijar a parte interna de suas coxas, enviando um delicioso tremor através dela. Enquanto ele a beijava e a acariciava lá, as mãos dele trabalhavam com os laços da saia dela. Libertando-a, ele começou novamente a mordiscar os lábios dela enquanto ele puxava a saia para baixo. Com ansiedade, Elizabeth ajudou-o no esforço, levantando seu corpo à sua vontade. Depois foi a blusa dela, a combinação... suas roupas íntimas — ele tirou tudo antes que ela pudesse sequer pensar em protestar. Enquanto isso ele beijava seus lábios magistralmente, perversamente, sua língua mergulhando dentro dela, em seguida, ela sentiu uma sensação contagiante porque ela nem sequer tinha percebido sua nudez até o ar fresco da noite beijar sua pele que estava queimando com a língua dele. Fascinada, ela assistiu enquanto ele desabotoava sua própria camisa. Tirando-a, ele a jogou para o lado. Nu, ele se ajoelhou sobre ela, examinando cada polegada do seu corpo, e pensando como ele a tinha desejado tanto tempo, sem poder tocá-la, no entanto, isso só tinha aumentado o seu desejo. Nunca ninguém a tinha olhado desse jeito, com tanto calor, como se ela fosse bonita. Nunca. E para sua vergonha, ela se alegrou com o olhar dele. Agora já tinha escurecido, a luz da fogueira lançava um matiz rosado sobre a pele de Elizabeth,
seus seios, mesmo nas aréolas escuras. Lembrando o sabor doce dela, Cutter imaginou seus filhos mamando nela e sentiu um desejo ardente percorrendo seu corpo. Impaciente para estar dentro dela, ele abriu a fivela de seu cinto. Removendo-o ele colocou suavemente do lado enquanto Elizabeth assistia com os olhos arregalados. O som áspero de seus botões se abrindo, enviou um momentâneo arrepio de alarme através dela, mas ela o afastou. Ela queria isso, ela disse para si mesma. Muito. E parecia tão certo. Mais certo do que qualquer outra coisa que já tinha acontecido na vida dela. Mesmo assim um caroço de medo subiu por sua garganta, quase a estrangulando. Tão rapidamente quanto ele podia, Cutter tirou suas botas, sua calça e de repente ele estava livre, o ar da noite pairando sobre a pele umedecida pelo suor, aumentando seu prazer. Desta maneira, ele pensou, era a forma certa para um homem viver. Livre. As mãos de Cutter tocaram os joelhos de Elizabeth, fazendo as pernas dela se abrirem. Elizabeth engoliu convulsivamente, resistindo instintivamente. "Eu — eu não posso!" “Não resista," ele sussurrou. "Você quer isso tanto quanto eu." Elizabeth abanou a cabeça. Os olhos de Cutter a devoravam. Sua mão escorregou entre as pernas dela, e ele sorriu de repente. "Para o inferno que você não quer!" ele sussurrou.
ELIZABETH ESQUECEU SEU MEDO, lembrando-se apenas do prazer que ela sentia cada vez que ele a tocava. Ele penetrou entre suas coxas, cobrindo seu corpo, sua carne queimando até a sua alma. E sua dureza cutucou descaradamente seus lugares reservados. Pegando seu rosto em suas mãos, Cutter beijou os lábios dela febrilmente, então com um gemido torturado, encheu a boca dela com o calor de sua língua. Seu corpo quase explodiu quando ela instintivamente ergueu seus joelhos, inclinando-se para darlhe um acesso perfeito. "Tão doce" ele gemeu. "Tão bom." Em resposta as suas palavras, Elizabeth levantou ainda mais as ancas. "Isso mesmo," ele disse, tremendo de prazer, seu sussurro atormentado. Suor em sua testa. "Abra para mim, olhos brilhantes." Novamente ela se inclinou, gemendo em êxtase com a prometida usurpação. "Por favor, Cutter," ela respirou. "Por favor...“ Cutter não se mexeu, só estremeceu violentamente em algum lugar, dentro dela. Sem aviso, Elizabeth levantou as ancas com força, pressionando-o para dentro dela, enchendo-se com seu calor. A dor era mínima — o prazer era imenso para poder ser chamado de dor. Com um gemido alheio, Cutter começou a se mexer dentro dela, e fora dela, penetrando e se retirando. Elizabeth clamou para ele ir mais fundo ainda e com os dedos agarrou suas costas,
silenciosamente implorando pelo prazer que ela sabia que ele poderia lhe dar. Instintivamente as mãos dela deslizaram até sua bunda. Seguindo sua liderança, moveu o quadril junto com o dele, choramingando com o requintado ritmo que ele tinha criado, seguindo-o desesperadamente. De repente, sem aviso, seu corpo teve uma convulsão, fragmentando-se em algum lugar nas profundezas. Tal como tinha acontecido na primeira vez. Apenas num grau muito maior. Muito, muito maior. Ela gritou, beijando seu ombro, novamente, e novamente, grata de uma forma como ela nunca tinha sentido antes. Ao sentir seu corpo apertado em torno do dele e ao ouvir seus gritos macios, Cutter se entregou. Com um grito primitivo, ele a penetrou com uma ferocidade que teria assustado Elizabeth se ela estivesse consciente. Com um último gemido, ele caiu em cima dela com uma satisfação mais profunda do que ele alguma vez já tinha experimentado. Beijando seu corpo, ele rolou para o lado para não esmagá-la e então a carregou contra seu corpo, abraçando-a ferozmente. Ele não disse nada durante muito tempo, apenas acariciou seu quadril e sua coxa distraidamente. Parecia obsceno manchar o que eles tinham compartilhado com meras palavras. Seu corpo brilhando de suor, ele ficou ouvindo o som ao redor, concentrando-se na implacável batida do seu peito. Foi só quando Elizabeth tomou sua mão e levantou-o para o rosto dela contra sua bochecha que ele sentiu-se compelido a falar. Ele engoliu a ira que ele tinha na garganta. "Eu consegui marcando gado," ele disse rispidamente, engoliu novamente. "Eu tinha quinze anos... e era demasiado estúpido para acreditar que eu apenas seria um homem quando tivesse ferro em brasa nas mãos para marcar o gado." Ouvindo em silêncio, Elizabeth passou a mão na bochecha dele. Por um breve momento, Cutter podia rever a curva dos lábios dos homens quando eles curtiram com a cara dele. Aos olhos deles, ele era apenas uma criança mestiça inútil, que servia como uma distração para o tédio que eles estavam sentindo. E, diabos, ele era muito verde e muito desesperado para provar a si mesmo para ver o desprezo nos olhos deles. Ele tinha aprendido o jogo rápido demais. Abraçando Elizabeth zelosamente, ele sentiu de novo a queimadura da haste de metal na palma da mão queimando seus dedos, e o cheiro de queimado da sua pele. E então, com um tremor feroz, ele colocou suas lembranças novamente para o cemitério de sua mente... onde ela pertencia. "De qualquer maneira, agora você sabe," ele disse com naturalidade, sem emoção, "e por isso você fica me devendo." Ele tirou o cabelo suavemente para longe do seu rosto, beijando sua testa. "Fale-me sobre Greensleeves," ele sussurrou, apertando-a suavemente para encorajá-la. "Greensleeves?" Por um momento confuso, Elizabeth não entendeu o que ele estava falando, então ela se lembrou e sentiu seu coração constrito. Como ele soube? Não importava. Ela não estava pronta para se abrir para qualquer um. Por muito tempo ela tinha se mantido longe de tudo a não ser do trabalho dela, e apesar do momento amoroso que eles tinham acabado de compartilhar, ela não podia se abrir para
seu escrutínio — não sabia se ela jamais poderia. Seus olhos se enevoaram. Sua garganta começou a queimar. "Era a canção preferida da minha mãe," ela disse com dificuldade, endurecendo um pouco em seus braços. "Ela costumava cantar para mim quando eu era criança. Isso é tudo." Isso não era tudo e Cutter sabia, mas ele não queria forçá-la. Ele deu-lhe um pequeno aperto tranquilizador, e então beijou sua nuca com um suspiro. Ouvindo uma fungada sufocada, ele perguntou, "Você já vai começar a se arrepender?"
ELIZABETH ABANOU A CABEÇA, amaldiçoando-se por ser uma idiota chorona. Por que, ela se perguntava, suas emoções estavam ultimamente tão perto da superfície, quando nunca tinham ficado antes? Ela sempre tinha se orgulhado de ser tão forte e tão sóbria. O que tinha acontecido com ela desde que ela tinha conhecido Cutter? "Bom," ele sussurrou, virando-a de repente e plantando um beijo na ponta do peito dela. "Porque eu não ainda acabei com você." Ele se posicionou sobre ela mais uma vez, ele sugou-a suavemente e com um gemido, Elizabeth arqueou em direção a ele, espantada que ele pudesse tão rapidamente trazer seu corpo de volta a vida, admirada que ele pudesse se recuperar tão depressa quando ela própria se sentia como um profundo-osso saciado. Quase com reverência, ele correu as mãos ásperas ao longo do corpo dela, colocando calafrios pela sua coluna subindo por seus braços. O último pensamento coerente que Elizabeth teve foi que Cutter McKenzie era muito, muito bom em afastar os demônios, enquanto ironicamente, Cutter se perguntava se ele estava na verdade procurando afastar os dela... ou os seus. Cutter não tinha certeza qual som o tinha despertado. Normalmente ele tinha um sono muito leve e sempre acordava bastante alerta, mas não desta vez. Sua mente estava ainda dormindo num sono exausto. Suas orelhas estavam sempre atentas em captar sons, mas agora não era um som que ele conseguisse distinguir. Ainda assim, seu instinto lhe disse que alguém estava por perto. Ele podia sentir o cheiro do intruso no ar purificado de chuva. Apesar do fato dele sentir a presença, saber que a pessoa estava lá, quando seus olhos finalmente se ajustaram à escuridão, ele foi sacudido por um rosto inexpressivo, muito perto deles, pairando acima dele e de Elizabeth. Luz prata cintilava ao luar, e ele ficou parado olhando. Ele soube imediatamente que era um dos três índios que ele tinha visto, e seus olhos examinaram rapidamente a área. Ele acreditava que os outros dois estavam perto dos cavalos. Eles estavam pelo menos a dez jardas de distância, juntamente com o cavalo do índio morto — observando em silêncio. Embora sua adrenalina tenha subido, Cutter resistiu ao impulso de ficar de pé. Amaldiçoou-se por sua imprudência. Diabos, ele tinha esquecido que os índios estavam por perto. E por causa desse fato, a vantagem era deles.
E eles também sabiam. A arma dele estava acima de sua cabeça, mas se ele a pegasse agora, ele iria encontrar a lâmina do índio na sua traquéia antes que o pensamento terminasse de atravessar sua mente. Muito lentamente, Cutter moveu a mão debaixo das costas de Elizabeth, tentando não acordá-la. Seria melhor se ele não o fizesse. "Sua mulher o fez ficar descuidado," o índio disse com naturalidade, na língua Cheyenne, admoestando Cutter com a sua faca. "Mas ela tem fogo no seu espírito e nas mãos dela," Cutter disse friamente, "e vale uma dúzia de mortes para qualquer homem.” Seu olhar não deixou o índio. Ele olhava para o olho do homem, falando o que ele pensava para o índio saber. O índio assentiu prudentemente, guardando sua faca. "Eu tinha uma mulher com fogo uma vez, mas ela foi morta pelo Ooetane." Elizabeth ociosamente se esticou ao lado dele. "Ela conhece os caminhos do nosso povo," ele disse, mas foi mais uma pergunta espantada do que uma declaração de fato. Intempestivamente, antes que Cutter pudesse responder, Elizabeth abriu os olhos. Vendo o estranho índio pairando acima deles, Elizabeth sufocou um grito aterrorizado, mas o manteve em seus olhos. A cara do índio se contorceu. Elizabeth não entendeu nada do que Cutter e o índio falavam. Tudo o que ela sabia era que o índio parecia irritado. E de repente Cutter virou-se para ela, seu olhar acusador. "Você colocou sálvia branca no túmulo?" "Eu — eu fiz o que?" ela gaguejou. Instintivamente, ela puxou o cobertor para esconder sua nudez. Cutter, por outro lado, sentou-se virado para o Índio, tão nu como no dia em que ele nasceu. Ele parecia tão calmo, e parecia incrível que ele pudesse permanecer tão totalmente composto quando ela estava tentando suprimir um grito horripilante. Agarrando o cobertor para proteger seus seios, ela avançou para as costas de Cutter, refugiando-se atrás dele. "Ele quer saber sobre a sálvia," Cutter repetiu bruscamente. "Você colocou?" Mil torturas visitaram a mente de Elizabeth, cada estória horrível que ela já tinha ouvido em relação aos índios — ridículas como elas podiam ser quando ela as tinha ouvido Eles cortavam línguas, tiravam escalpos, raptavam as mulheres e as crianças, roubavam suas almas! "Oh, Deus tenha piedade — não foi de propósito, Cutter!" Os dedos dela apertavam seus ombros nus, quando o índio deu-lhe um olhar cético. "Eu juro! Eu realmente não queria fazer nada de mal!" ela declarou para o índio, em pânico. "Eu — eu apenas juntei um punhado de flores sem pensar!" Sua expressão não amoleceu. "Eu — eu não sabia!" ela insistiu. Cutter suspirou com impaciência, balançando a cabeça. "Lizbeth." "O quê!" "Cale-se." O comando não era menos convincente por causa da maneira suave como foi falado. Nem foi cruel. Seu sorriso voltou quando ele se virou para falar com o índio em sua própria língua.
O índio assentiu com a cabeça uma vez e respondeu vivamente, então sorriu largamente quando Cutter acrescentou algo. De repente o índio riu e se levantou para ir embora. "O que você disse a ele?" Elizabeth perguntou. "Nada que te interesse saber," Cutter disse-lhe honestamente, dando-lhe um olhar rápido. Satisfeito por ver que todo o seu corpo estava coberto, ele se virou novamente para assistir o índio indo embora, ouvindo-o rir com os outros. Ao mesmo tempo os três riram e olharam novamente para a Elizabeth, todos eles acenando compreensivos. Cutter sorriu, compartilhando um momento raro com membros do povo da sua mãe — não eram da tribo de sua mãe, mas isso não importava. A conexão ainda estava lá. Ele assistiu a camaradagem fácil entre eles, com uma mistura de inveja e orgulho — sentiu o sofrimento deles por causa do amigo morto. Nenhum deles olhou para trás para onde o homem morto estava, mas o movimento do corpo deles disse para Cutter que eles estavam conscientes dele, e suas vozes eram suaves, como se estivessem em deferência ao seu sono eterno. Até suas gargalhadas demonstravam uma nota de tristeza. Quando eles se foram, Elizabeth começou a ver o leito toscamente construído e atado atrás do cavalo sem cavaleiro. Ela viu uma forma escura deitada imóvel, coberta em trapos, e seu coração se apertou dolorosamente. Ela puxou o cobertor mais firmemente sobre seu peito. Era o índio morto, ela sabia. Eles tinham vindo para reclamá-lo. "Você fez-lhes uma honra," Cutter disse para ela. "A sálvia branca purifica. Colocando-a em cima do túmulo, você manteve as sombras longe dele até eles poderem prepará-lo para sua viagem para Seano." Seu olhar se fixou nela brevemente e, em seguida, ele voltou a olhar para os índios. "Eles se separaram durante a tempestade." Seus olhos tinham um brilho estranho, e ele voltou a olhar para ela. "Eles sabem que você tentou salvá-lo, quando não precisava." Elizabeth não sabia o que dizer. Ela podia sentir uma emoção profunda dentro dela. Embora ela sentisse vontade, ela não desviou o olhar. "Seano?" ela perguntou, sua voz com um som estranho. "O lugar dos mortos," Cutter respondeu suavemente. "Aqueles que morrem seguem a Estrada Celeste acima de Heammawihio." Elizabeth assentiu com a cabeça. Trêmula, ela assistiu quando Cutter jogou sua cabeça para trás e olhou para o céu, lembrando-lhe um lobo solitário, latindo para a lua. E a lua — ela não podia ajudar, a não ser seguir o seu olhar para cima — e o céu pareciam tão grande hoje à noite, e ao mesmo tempo tão solitário. Como Cutter. Maior que a vida, apesar de sua indiferença irritante, ainda havia uma solidão inerente sobre ele que atingia o coração dela. “Estrada Celeste?" ela perguntou num sussurro. "A Via Láctea," Cutter explicou com outro olhar rápido. Elizabeth franziu a testa, e acenou com a cabeça. "Oh." Em silêncio, eles assistiram os três índios na estrada, escolhendo habilmente o caminho na escuridão. "E onde estão levando ele agora?"
"Para casa," Cutter respondeu rispidamente. "Estão levando-o para casa. Uma parte dele sofreu muito com aquele lugar, que ele nunca conheceu. Que ele nunca tinha conhecido. Por isso eles estão levando-o para casa.” "Eles explicaram como foi que ele foi ferido?" Elizabeth se aventurou a perguntar. "Não." Os olhos de Cutter não mudaram de posição, apesar de agora o trio não ser mais visível através da escuridão. "Não perguntei." "Bem, o que eles disseram?" Recordando suas palavras estranhas, e a duração da conversa, ela estava morrendo de curiosidade para saber mais sobre eles. Quando Cutter virou-se para ela, as sombras desapareceram de seus olhos. Ele sorriu lentamente, os dentes brancos brilhando no meio da noite. "Ele queria saber por que você falou tão fortemente na presença deles — você os odiou por causa da cor da pele deles?" "Claro que não!" Ela engasgou com o choque. "O que você disse para eles?" Para ela isso não era algo para rir! Cutter riu. "Disse-lhes que não — que você não os odiava." "Isso não foi tudo o que você disse para eles," ela perguntou, batendo na parte de trás da cabeça dele. "O que mais você disse Sr. McKenzie?"
"DROGA, mulher, você tem uma mão pesada!" ele disse. E então ele estendeu as mãos para se afastar dela. "Eu disse-lhes que você sempre falou bruscamente," ele disse rapidamente, "e que você faz amor com os olhos amarelos de uma loba... e que se eles não acreditassem, eles poderiam verificar as marcas que você fez nas minhas costas — dói como o diabo!" Ofegante e indignada, Elizabeth reuniu suficiente dignidade para bater em Cutter novamente, desta vez com um pouco mais de força; ele pegou o pulso dela sem esforço. "Não!" ela protestou sem fôlego, seu rosto queimando. Um sorriso relutante tremeu em seus lábios. Os ombros de Cutter começaram a tremer, e então ele riu sem rodeios. "Oh, você não fez isso!" ela gritou. "Diga-me que não!" Cutter começou a rir tanto que ele caiu para trás sobre o saco de dormir. Rindo histericamente, ele olhou para Elizabeth. "Receio que sim," ele disse para ela, mal conseguindo falar. Elizabeth apertou suas mãos livres e teria batido em Cutter novamente se uma voz não a tivesse assustado. De algum lugar ao longo da estrada, a voz do índio soou claramente no meio da noite. "Néá'eše!" ele disse com paixão, e enquanto ele continuou a falar, sua voz parecia quase um eco estranho para os seus ouvidos. Um calafrio passou pelo corpo de Elizabeth, embora ela não tivesse nem idéia do que estava sendo dito. No final da pronúncia, todos os três índios começaram a gritar. Ela procurou por eles freneticamente ao longo da estrada, mas não conseguia ver nada, só podia adivinhar suas ações.
Eles pareciam agitados sobre algo. O riso de Cutter parou subitamente, e ele, também, tremeu com os sons no meio da noite — não por medo. Sem aviso, ele estendeu a mão, pegando Elizabeth apaixonadamente em seus braços, se sentindo mais ligado a ela do que qualquer outra pessoa em sua vida. "O que eles disseram?" ela sussurrou ansiosamente, os lábios tão perto dele, que eles podiam compartilhar a mesma respiração. Por um longo momento, Cutter não pode responder, ele pode apenas ficar deitado sentindo o coração dela palpitar contra a batida do seu próprio coração, seu peito se sentindo cheio de orgulho. Tomando uma respiração profunda, ele acariciou suas costas e fitou o rosto de Elizabeth. Ainda havia uma pitada de riso no tom dele quando ele falou novamente. "Ele disse obrigado." "E?" Elizabeth perguntou, sabendo que todas essas palavras possivelmente não podiam ser apenas uma frase simples. Cutter sorriu, segurando-a firmemente, antecipando sua reação indignada. "Sim, bem... ele também disse... Black Wolf, que esteve entre nós, era meu irmão, mas — um tremor passou através dele, levantando os pêlos dos seus braços — ela que arranhou suas garras nas costas do homem para sempre será chamada de minha amiga."
17
M uitas
horas depois, Elizabeth ainda era incapaz de apagar o som da voz do índio de seus pensamentos. Nem ela podia esquecer a ternura nos olhos de Cutter, como ele a havia amado, e a sensação de suas mãos quentes vagando possessivamente sobre seu corpo. Ela nunca se sentiu mais viva. Nas primeiras horas da manhã, sem esperança de dormir uma vez que o sol estava começando a subir no horizonte, eles se vestiram. Ela trocou a blusa por uma que Cutter lhe entregou: branca com botões na frente e renda nos punhos e na gola. Por mais distinta que ela fosse, ela a reconheceu imediatamente como uma das blusas de Jo. Mas, apesar do olhar desaprovador de Cutter, ela estava se sentindo bem e a vestiu com a sua fiel saia com a bainha esfarrapada. Ela não tinha ainda coragem para usar a calça de homem que tinha comprado, mas muito em breve ela não teria muita escolha. A saia estava literalmente se desfazendo! Levantar o acampamento foi rápido, porque eles tinham muito pouca coisa para guardar. Finalmente Elizabeth montou, com a ajuda de Cutter. Mas quando Cutter se virou para montar seu próprio cavalo, o som de cavaleiros se aproximando fez com que ele não subisse em seu Palouse. Ele se virou para ver quem era. Eram dois homens vestidos com o uniforme azul do exército da União. O chefe usava uma barba cheia, junto com seu uniforme imundo. Seus cabelos eram compridos e estavam despenteados, embora ele ainda pudesse ser considerado bonito, por causa de suas características faciais bem marcantes, se não fosse a frieza em seus olhos cinzentos. Eles eram gelados e sem expressão, sem qualquer emoção, mas com uma malícia que ele não se preocupava em disfarçar. "McKenzie," o homem disse em saudação, com uma surpresa evidente em seu tom. Apesar disso, a palavra conseguiu soar profana vinda de seus lábios severos. Se Cutter ficou surpreso com sua aparição inesperada, ele não demonstrou. Ele acenou a cabeça, dando uma rápida olhada para Elizabeth, pedindo sem palavras para ela ficar em silêncio. Como se ele não tivesse ouvido o homem falar, ele virou as costas para a dupla e montou. Uma vez que ele estava sentado na sela ele virou-se para eles novamente, batendo com a mão no chapéu. "Sulzberger,"
ele respondeu amargamente. Ele cumprimentou o outro com a cabeça. "De quem é o sangue que vocês estão procurando nesta parte, rapazes? Vocês sabiam que a guerra acabou?" O homem, Magnus Sulzberger, cuspiu no chão uma saliva amarelada de tabaco. "Você sempre foi um espertalhão, McKenzie... e você está totalmente certo... a guerra acabou". Ele tinha enfatizado a palavra "totalmente” e alargou seu sorriso. E então os olhos dele se estreitaram novamente, brilhando com hostilidade. "Mas ainda há uma guerra acontecendo. Acho que você não ouviu sobre Platte Bridge?" "Não," afirmou Cutter. "E não quero ouvir." Magnus continuou como se Cutter não tivesse falado nada. "Três, talvez quatro mil bastardos pele-vermelhas atacaram um destacamento da cavalaria e dizimaram um comboio de suprimentos militares." Cutter deu de ombros com desdém. "Não é nada com que eu deva me preocupar." "Bem, McKenzie... pelo que eu ouvi dizer... nunca foi. De qualquer maneira, agora você deveria se lembrar de ter cuidado quando abrir a boca e tomar partido dos selvagens, porque você já não tem mais a proteção do governo. Atualmente acho que você deveria se preocupar a quem você aborrece." Suas sobrancelhas se levantaram abruptamente. "Você não acha?" Um sorriso demoníaco se espalhou em seus lábios quase inexistentes. Cutter sorriu em retorno, mas não havia nenhuma benevolência na sua expressão. Os olhos dele se estreitaram em fendas escuras, predatórias. "Se você fosse eu," ele disse incisivamente, seu tom baixo, mas claro. "Mas sabemos muito bem que você não é." A maneira de Cutter pensar, qualquer homem que pegasse uma criança, e a trespassasse com sua baioneta a sangue frio, como se ela fosse uma truta, era um covarde da pior espécie, e Magnus tinha feito isso e outras coisas piores em Sand Creek. Muito piores. Se fosse por Cutter, o homem não estaria usando suas listras de oficial, muito menos o sorriso convencido que ele usava como um distintivo de honra. Mas não era da alçada de Cutter e não havia chance deles aceitarem a palavra de um mestiço contra um homem branco puro-sangue. E então ele manteve sua maldita boca fechada e cuidou da sua vida. O sorriso de Magnus desapareceu, e apareceu de repente uma fúria fria em seus olhos. Com um dedo Cutter levantou o chapéu para fora de seus olhos e, com um movimento suave, abriu a tira de couro que mantinha seu revólver no coldre. A fluidez de seu gesto foi um aviso em si. "Diga a que veio e continue o seu caminho," ele disse-lhes. "Oh, e Sulzberger... seria bom você se lembrar de que essa proteção que você falou funciona de duas maneiras." Um pequeno sorriso tocou seus lábios e penetrou em seus olhos. "Significa que não tenho mais ninguém a quem responder."
A BOCA de Magnus assumiu uma torção zombeteira. "Eu ouvi você," ele disse reajustando seu tabaco antes de dar outra cusparada. "Eu te ouvi, McKenzie." Ele olhou de relance para Elizabeth. "Estou
pensando senhorita, se você sabe com quem está sendo andando?" Seus olhos cinzentos brilhavam com malícia dissimulada quando ele pegou no seu lamentável vestido. Elizabeth evitou o olhar, e Magnus riu com vontade, um riso obsceno. "Caramba, querida, talvez você saiba," ele disse enigmaticamente. Não havia nenhuma dúvida na mente de Elizabeth, que o homem tinha problemas, e ela, de repente, não podia esperar para ficar longe dele. “De qualquer forma," ele continuou, "não estou procurando encrenca contigo, McKenzie. Acontece que estamos caçando um bando de renegados. Atacaram um acampamento que estava cerca de 30 milhas a leste de Fort Riley. Roubaram comida e suprimentos." Ele olhou novamente para Elizabeth, e o olhar que ele lhe deu deixou arrepiados os minúsculos pêlos na parte de trás do pescoço dela. "Eles mataram um dos meus homens quando estavam saindo," ele continuou com repugnância. "O' Neill viu sua fumaça ontem à noite e.... bem, de qualquer forma, você não é um deles. Mas por acaso você os viu?" Havia uma indisfarçável desconfiança na sua pergunta, como se realmente não importasse a resposta de Cutter. Ele claramente não acreditava nele. Cutter ficou em silêncio um longo instante. "E se eu tiver visto?" Cutter perguntou casualmente, a testa levantada em desafio. Magnus respondeu com um olhar de desprezo. "Bem então... acho que você deveria dizê-lo." Um dos lados dos lábios de Cutter se levantou em desprezo. "Você acha?" Seu sorriso penetrou em seus olhos. "E você diz que eles mataram um oficial?" Ele esperava que fosse um dos colegas de Magnus, e ele ficou com pena do garoto que estava ao lado de Magnus. Sulzberger conhecia a arte de intimidação muito bem. "Isso mesmo," Magnus falou. Cutter deu-lhe um aceno. "Bem, agora parece que me recordo que eles foram para esse lado." Ele apontou na direção que os índios, na verdade, tinham ido. "Foi ontem, à tarde. Quatro deles." A respiração de Elizabeth parou, e seus olhos se arregalaram. Ela não podia acreditar que Cutter tinha entregado os índios! Será que ele não sabia o que estes homens vis fariam se conseguissem apanhá-los? Ela não achou tão difícil de acreditar que os índios talvez tivessem matado um homem. Eles pareciam ser perfeitamente capazes, mas por alguma estranha razão, ela sentia-se ligada a eles. E uma voz no fundo da sua mente lhe dizia que eles não mataram por esporte, que talvez fosse por fome... ou mesmo por vingança, pois mesmo em Sioux Falls, ela tinha ouvido falar sobre o que tinha acontecido em Sand Creek. Ainda assim, ela absteve-se de dizer qualquer coisa para refutar Cutter, porque ela sabia que não adiantaria mesmo que ela o fizesse. Mais uma vez Magnus olhou a caminho, avaliando-o, e seu sorriso de resposta era maligno. "Muito obrigado," ele disse de um modo quase malcriado, sem ter dado uma olhada para Elizabeth. Então ele virou seu cavalo. "Ah e, McKenzie..." Cutter não respondeu, apenas sentou-se na sela e cruzou os braços, observando os homens diante dele, com olhos ansiosos.
"Acho que você deveria saber... o General Sully está procurando você." Cutter deu dê ombros apaticamente. "Então deixe ele me procurar," ele respondeu laconicamente. "Você vai continuar feliz enquanto ele não me encontrar, Sulzberger." E com isso, ele tocou a aba do seu chapéu se despedindo, estimulando sua montaria para perto de Elizabeth. Pegando as rédeas das mãos dela, ele virou as costas para os dois e a levou embora sem falar nem mais uma palavra. “Vejo você por aí,” Magnus falou. "Se você acha,” Cutter respondeu sem se virar. Elizabeth, por outro lado, por mais que tentasse, não conseguia tirar seu olhar para longe da dupla, Quando o jovem tocou no coldre do seu revólver, ela ficou tensa e começou a olhar para Cutter para avisá-lo, mas Cutter a olhou com severidade. Elizabeth ficou dura, e Cutter disse, novamente sem se virar. "Pegue essa arma, menino de azul... e é melhor você estar preparado para usá-la." Espantado que ele soubesse, e atordoada pela mudança peculiar que ela tinha testemunhado, Elizabeth ficou para trás e se virou para olhar em suas costas algo semelhante à reverência e depois novamente para o par descontente atrás deles. Magnus deu ao jovem uma agitação vigorosa de cabeça, e o jovem imediatamente largou o revólver dele, murmurando uma maldição inaudível. "Como o maldito filho da puta soube?" Elizabeth o ouviu perguntar. "O selvagem nele avisou," Magnus respondeu, estimulando sua montaria na direção contrária da que Cutter tinha indicado. "O último homem que o subestimou acabou com uma bala de calibre 44 entre seus olhos azuis — mas não se preocupe O' Neill, um dia ele vai receber sua própria bala. Muito em breve — seu desertor amante dos pele-vermelhas!" Com essa declaração, ele deu um olhar para trás, sorrindo para Elizabeth como se estivesse fazendo uma promessa. Tirando o chapéu, ele bateu na sua égua. Quando eles finalmente desapareceram de vista, Elizabeth colocou Cacau ao lado da montaria de Cutter; "Como você sabia, Cutter?" "Com esse olhar em seu rosto?" Cutter deu de ombros. "Era evidente que alguém estava pegando a arma. Sulzberger está há muito tempo na estrada e me conhece... então restou o menino de azul." Ele balançou a cabeça. "Garotos como esse estão sempre ansiosos para usar a sua arma. E é assim que ele vai conseguir acabar a sete palmos da terra, antes que ele consiga fazer a barba e o bigode." Ele levou-a para a estrada, seguindo o mesmo caminho que os índios tinham tomado, deixando o rio atrás deles. Novamente, Elizabeth ficou para trás... meditando sobre o que ele havia revelado. "Não," ela disse, finalmente, alcançando-o mais uma vez. "Não é isso. Como você sabia que aqueles homens iriam pegar a direção oposta?" Cutter ajustou seu chapéu e se ajustou na sela para vê-la melhor. Havia admiração nos olhos dela. Ele sorriu cativante. "Não sabia," ele admitiu com um brilho nos olhos. "Nunca pensei que alguém pudesse fazer e acreditar o contrário quando ouvissem uma verdade de Deus... até conhecer você. Só fiz uma aposta, e valeu à pena."
Elizabeth suspirou, seus olhos se alargaram. "O contrário! Você está... está só... só... "Ela não conseguia encontrar as palavras certas para descrevê-lo. Que tipo de homem podia fazer amor com uma mulher e logo depois insultá-la? "O pior deles!" Rindo, Cutter respondeu, "tão ruim assim, é?" E com isso, ele piscou para ela, voltando sua atenção para a trilha íngreme diante deles. Eles alcançaram o topo do penhasco e viram a sua frente pequenas colinas ondulantes, carvalhos e álamos. Tendo abandonado o leito do rio e o penhasco, Cutter fez uso do bebedouro que eles tinham encontrado. Enquanto os cavalos se alimentavam no final da tarde, eles almoçaram, depois voltaram a montar e não pararam até que eles alcançaram o Rio Grande. A essa altura, Elizabeth tinha adormecido na sela. Quando a viu vacilando, Cutter colocou-a em sua própria sela para não ficar preocupado. A primeira vez que ela tinha dormido em seus braços, ela tinha dividido um cavalo com ele, mas ele não podia deixá-la cair de cansaço — embora fosse tentador. Enquanto eles cavalgavam, ele não conseguia parar de pensar naquele dia. E por causa disso, ele estava tão cauteloso quanto um garanhão no estábulo com uma égua. Já tinha passado mais de uma hora quando eles pararam para passar a noite. Com murmúrios sonolentos Elizabeth permitiu Cutter colocá-la em seu saco de dormir. Ele colocou seu próprio saco ao lado do dela e tendo satisfeito sua fome no início do dia, roeu um pedaço duro de carne seca enquanto ele pensava na noite anterior. Lizbeth tinha coragem — ele tinha que dar esse crédito a ela. Com um sorriso, ele pensou no seu temperamento, decidindo que ela devia ter um puro-sangue escocês pendurado em algum lugar na sua árvore genealógica. Ele fechou os olhos, e pensou que eles tinham feito uma boa caminhada este dia Mas tempo era uma coisa que estava rapidamente acabando para ele. Ele se deslocou inquieto, seus olhos buscando a forma exausta de Elizabeth. Ele engoliu o último pedaço de carne seca. Lembrando o colar de cascavel que ele tinha feito para ela, ele puxou-o do bolso da calça, olhando para ele por um longo instante. Ele cuidadosamente colocou-o sobre a cabeça de Elizabeth, reverentemente deixando-o cair no espaço entre dois dos seus botões. Ele tinha que fazê-la ver as coisas à sua maneira — ele não podia deixá-la alugar outra pessoa. Ele só não sabia como convencê-la disso. Tentando não pensar sobre a dor no seu pé, bem como em suas calças, ele colocou seu próprio cobertor sobre Elizabeth — dois cobertores não iriam fazer mal a ela — e, em seguida, ele jogou um braço protetor sobre ela e deitou-se para dormir. Na manhã seguinte ele ainda estava pensando sobre uma maneira de convencer Elizabeth para deixar que ele aparecesse como seu marido, enquanto se preparava para fazer a barba. Após o café, ele pendurou seu espelho numa árvore e então encheu um copo com água. Ele tinha esfregado seu rosto e depois colocou sabão no seu bigode, e estava pronto para passar a navalha no seu queixo
quando Elizabeth caminhou até ele, com um pacote de roupas sujas esmagadas em seus braços. Ele assistiu sua abordagem pelo espelho, admirando a oscilação suave dos quadris dela — ou pelo menos o volumoso, feio, e esfarrapado tecido que o cobria. “Cutter?" Com a mão ainda no ar, ele olhou para ela. Cutter estava com o peito nu, sua pele esticada e escura e era difícil manter-se coerente com a visão dele. Elizabeth tinha pensado, quando ela sentiu o tapete de cabelo no peito e nos braços, juntamente com a tensão da pele entre as costelas e a barriga, que nada poderia ser tão incrível. Mas vê-lo desse jeito, tirou seu fôlego. "Eu — eu queria lhe agradecer pelo colar," ela disse hesitante tremendo enquanto ela agarrava o pacote de roupas. Ela ansiava em estender a mão e tocá-lo, mas não podia, porque suas mãos estavam cheias. Com o colar, ele lhe deu uma lembrança, algo tangível que ela podia agarrar e lembrar-se... depois que ele partisse. Algo que provaria que ele tinha sido real e não um sonho maravilhoso, mágico — a mais bela noite da vida dela. Ela não queria se enganar; ela tinha ficado disponível para ele, e era isso que ele precisava. Ele só não era o tipo de se casar, ela sabia, nem iria funcionar para ela... não quando ela queria sua sobrinha tão desesperadamente. Ela não podia correr esse risco. Ele ainda olhava para ela, os olhos dele sondando como se ele estivesse tentando ler sua alma. E então ele deu-lhe um aceno e retornou ao seu espelho, seus pensamentos obviamente preocupados. Enquanto ela assistia, ele levantou a navalha. "Você fez isso da cascavel que comemos?" Elizabeth perguntou olhando para dentro da tigela, em seguida para a sua barba e depois para a navalha na mão dele. "Sim," Cutter respondeu e então se virou para olhar para ela novamente, pensando que ela tinha feito um longo caminho — de não ser capaz de sequer mencionar os chamados inatos do seu corpo até se sentir à vontade para olhar para seus próprios desejos. Havia algo inerentemente satisfatório nesse fato, Cutter meditou, e então ele percebeu que ela estava examinando seu rosto muito atentamente. "Eu pensei que os índios não tinham que fazer a barba," ela disse abruptamente, obviamente confusa pelo fato de que ele estava prestes a fazer isso. "Eu sempre ouvi dizer, que você... e os outros... bem, eles não têm qualquer pelo no rosto — então por que você tem?" Sua pergunta, feita tão inocentemente, pegou Cutter de surpresa, e ele não respondeu imediatamente. Elizabeth parecia tão interessada em sua resposta que ele não tinha coragem de dizer a ela que era provavelmente a pergunta mais estúpida que ele já tinha havia ouvido. Com um olhar confuso, ele passou seu polegar sobre sua testa. "Que inferno, Lizbeth, como posso saber? Talvez seja a parte branca em mim, acrescentou causticamente.” Desviando o olhar, Elizabeth assentiu com a cabeça, encolheu os ombros, obviamente com vergonha por ter feito uma pergunta tão pessoal. "Só queria saber, é tudo." Puxando sua trouxa mais
estreitamente contra os seios dela, ela se afastou, e por um momento Cutter apenas olhou para ela, aturdido, enquanto ela se dirigia para o rio. E então ele se perguntou por que ele não tinha pensado nisso antes. Vendo-se de repente sob uma luz diferente, ele estudou seu reflexo no espelho embaçado. Diabos, ele pensou, talvez Jo tivesse razão... ele realmente não parecia muito como um índio — menos ainda com uma barba. Se não fosse por sua coloração escura, e a maneira que ele usava as roupas, a maioria das pessoas provavelmente nunca suspeitaria. Seu sangue irlandês era tão proeminente como seu sangue índio, mostrando-se na textura ondulada do cabelo... e o cabelo do corpo — não tinha muito, mas... mais do que ele deveria ter. Ele não tinha certeza quanto tempo ele ficou parado olhando para si mesmo, sua expressão incrédula, mas seus olhos escuros ficaram de repente astutos. Um sorriso aflorou em seus lábios quando ele lavou a espuma do rosto e secou-se vigorosamente com uma toalha pequena. Então ele meticulosamente aparou a barba e, uma vez satisfeito com sua aparência, foi em busca de Elizabeth. Ele a encontrou esfregando roupa no rio, as mangas arregaçadas até seus cotovelos, a saia dela encharcada de água. Ela estava lavando sua camisa verde favorita, colocando o coração e alma nela, e ele sorriu para a imagem. A visão dela, com a roupa úmida aderindo-se as suas curvas delicadas, mudaram a natureza de seus pensamentos, e seu sorriso ficou de repente desonesto. "Se importa de esfregar outra coisa para mim?" Assustada por sua voz, Elizabeth pulou, quase perdendo na corrente do rio a camisa que estava lavando. Cutter estava parado na margem, os braços cruzados, os olhos dele cheios de malícia. Por algum motivo, sua forma imperiosa a perturbava. "Não, não, mas será que você sempre tem que me surpreender —“ o protesto terminou abruptamente com um suspiro de surpresa. "Você não pode — Cutter!" Ele riu da expressão dela, mas suas mãos não pararam de desabotoar sua calça. "Não há nada aqui que você ainda não tenha visto Doc," ele disse-lhe friamente. Ou sentido, Elizabeth queria acrescentar, seu rosto se aquecendo ferozmente. Ainda assim, não era nem um pouco adequado. "Cutter," ela protestou fracamente. Mas o olhar dela não vacilou quando ele começou a tirar as calças... e depois a cueca, jogando as duas para o lado. Finalmente ele parou diante dela pelado como o dia em que nasceu — sem vergonha e até um pouco arrogante em sua postura. Para seu espanto, ela permaneceu paralisada, o coração dela batendo mais rápido. "Se houver qualquer coisa que precisa lavar, são estas," ele revelou, colocando as peças em questão na pilha de roupa que ela tinha deixado na beira do rio. Como Elizabeth estava boquiaberta, ele nadou no rio fresco e mergulhou sob a superfície ondulante. Para seu espanto, ela nem sabia que ela continuava a olhar, seus dedos agarrados na camisa molhada nas mãos dela, até que ele reapareceu perto dela, balançando a cabeça como um cachorrinho molhado, arremessando gotículas de água em todos os lugares. Mesmo quando as gotas caíram no rosto dela, ela continuou olhando.
"Precisa de ajuda?" ele perguntou.
A ÁGUA ESTAVA na altura do tórax dele, mas enquanto ele olhava na direção dela, a água estava na altura da cintura, na altura das coxas... na altura dele... "S-socorro?" Elizabeth gaguejou, quando ele finalmente ficou diante dela. "Eu — eu —“ com alguma dificuldade, os olhos dela olharam direto para o rosto dele quando ele começou a pegar o pano encharcado de suas mãos. Com um aceno de cabeça, ele jogou o pano em cima dos outros que estavam na beira do rio, e em seguida, virou-se para enfrentá-la, seus olhos ardentes, com aquela mesma fome que ela recordava vividamente. E depois um tremor passou através dela escurecendo tudo diante dos seus olhos. "Socorro," ela repetiu, seus dedos tocando os ombros dela, segurando-os firmemente e então os amassando por um momento. As pernas de Elizabeth ficaram moles como a água, ela estava parada. Os dedos dele foram para a sua trança, desfazendo-a, enquanto ela ficou, como uma tola, olhando para ele. "Eu gosto dele solto," Cutter revelou, sua voz morna e masculina que enviava tremores e calafrios pela sua pele. Ainda assim, ela não podia se mover. Seus olhos cintilavam enquanto ele espalhava os cabelos dela sobre os ombros, alisando com os dedos. A mão dele mudou-se do cabelo para o rosto dela, os dedos acariciando no início e depois segurando o rosto dela como se fosse seu maior tesouro. Ela se sentiu tão bonita, ele fazia com que ela acreditasse que era bonita... "V-você gosta?" ela sussurrou. "Sim," ele disse com um aceno de cabeça, e então ele lentamente mergulhou sua cabeça para a boca dela. Os joelhos de Elizabeth estavam fracos quando ele começou a descer pelo corpo dela. Seus lábios a tocaram brevemente, então se retiraram e voltaram em um beijo abrasador. A boca dele mudava-se com uma sutileza lenta, pedindo uma resposta dela. Instintivamente Elizabeth se abriu para ele, tremendo quando sua língua deslizou profundamente como veludo ao longo dela. "Cutter." "Sim?" “A roupa..." Estendendo-se instintivamente, Elizabeth enroscou os dedos nas ondas de seus cabelos grossos. "Ela pode esperar." Elizabeth assentiu em profundo acordo, sua mente tornando-se mais enevoada a cada momento que ele a segurava. Seus braços agarraram sua cintura, levantando-a, até que ela podia sentir cada polegada molhada, sólida dele através das suas próprias roupas. Ele estava excitado... ela podia senti-lo, e sua respiração acelerou-se em resposta. Ela jogou a cabeça para trás, oferecendo-lhe tudo que ele quisesse dela... qualquer coisa.
Como um homem bêbado de desejo, Cutter permitiu a seus lábios uma festa no pescoço dela. "Eu mesmo vou te ajudar quando nós terminamos," ele prometeu para ela, sua respiração fazendo cócegas perto do seu ouvido. Mas não era a sua respiração, Elizabeth de repente percebeu... era a sua barba. "Você não fez a barba?" ela perguntou como se estivesse sonhando. "Não," Cutter concordou, tentando não rir com o som da voz dela. Suas pálpebras estavam se fechando, e ele levantou o rosto dela, beijando-as, divertindo-se com a reação meiga dela para ele. "Pensei que eu ficaria melhor." "Mmmmmmhhh," Elizabeth concordou com ele. Ele deu pequenos beijinhos nos lábios dela, e ela suspirou. "Melhor... para quê?" ela perguntou sem fôlego. Cutter recuou e considerou não responder à sua pergunta — pelo menos não até mais tarde — mas foi para isso que ele veio até o rio, ele se lembrou. Com um suspiro de resignação, ele obrigouse a falar, sabendo que seria muito fácil abster-se. "Você não vai contratar outra pessoa," ele disse, preparando-se para a raiva dela. Por um momento longo Elizabeth permaneceu no seu estado de sonho, os olhos fechados de prazer, e então ela abriu os olhos.
18
"O que você quer dizer, que eu não vou contratar outra pessoa?" Cutter a soltou de repente. Elizabeth quase caiu de costas no rio. Ela tropeçou, estabilizou-se, e colocou as mãos nos quadris. Sua expressão facial demonstrava apenas uma difícil e fria determinação. "Só o que eu disse." "Você sabe que eu não posso deixar você ser meu marido, Cutter!" A voz dela estava resoluta, mas ele respondeu com um sorriso que a deixou rangendo seus dentes. "Eu não estava pedindo, Elizabeth. Eu estou dizendo a você como vai ser." Seu nome completo nos lábios dele deixou-a congelada, e sua expressão implacável era irritante, mas o que a deixou mais desconcertada foi o fato de que ela estava discutindo com um homem nu. "Não é possível!" Como não era possível discutir de uma forma razoável com sua nudez a encarando tão insolentemente! Ela balançou a cabeça, tentando desesperadamente não olhar para qualquer parte do corpo nu dele por muito tempo — especialmente não aquela parte! Minutos atrás ela não tinha se sentido estranha, ela tinha sido envolvida em seu calor e não tinha pensado que ele estava nu. "Por quê?" ele perguntou muito suavemente. "Não me faça dizer, Sr. McKenzie," ela suplicou, não querendo ofendê-lo. "Por que, raios?" Ela vacilou com seu tom áspero, mas olhou-o com ira nos olhos, enfurecida por ele colocá-la em tal posição. "Você sabe precisamente por que!" ela gritou de volta. Um arrepio passou por ele, quando ele disse em voz baixa, "Dê uma boa olhada em mim, Liz — uma boa olhada!" Senhor tenha misericórdia, mas ela não queria! Elizabeth inflexivelmente abanou a cabeça. "Olhe para mim!" "Não! Não preciso!" Ele agarrou o queixo dela, mas Elizabeth retirou seu rosto da mão dele. "Eu me lembro muito bem!" Cutter agarrou os ombros dela e tentou forçar o seu olhar sobre ele. "Não!" ela gritou. "Deixe-me ir, Sr. McKenzie!" Ela empurrou seu peito, mas ele não pareceu ceder.
Agora perto da histeria, Elizabeth se libertou das mãos dele. Levantando a saia, ela tentou correr para a margem do rio, mas mover-se contra a corrente era difícil, e ela tropeçou. Segurando-a pela parte de trás, Cutter trouxe-a de volta para perto dele, mas o puxão foi tão forte que rasgou a saia dela. Gritando em protesto, Elizabeth tentou desesperadamente segurar a saia, mas Cutter foi mais rápido. Ele a atirou rio abaixo. Horrorizada, Elizabeth simplesmente ficou parada somente com as suas roupas íntimas molhadas, olhando impotente enquanto a corrente do rio que levava a saia dela. De repente, ela se virou para ele. "Você — não tinha o direito de fazer isso!" “Verdade? Bem, por que não me pergunta se eu me importo!" Antes de Elizabeth poder se recuperar do choque das ações e das palavras de Cutter, ele a levantou pela cintura e levou-a em direção a margem. Ela lutava, mexendo seus braços e chutando descontroladamente, mas sem sucesso — ele a segurava com muita força. "As regras foram feitas para serem quebradas," ele escarneceu. "Você sabia?” E então ele amaldiçoou seu pé machucado. Ele sacudiu a perna, largando Elizabeth no chão sem a menor cerimônia. Ela estremeceu quando sua cabeça bateu no chão. Ela tentou levantar-se, mas Cutter segurou-a com uma mão firme no peito dela. Com raiva ela empurrou-o, e o encarou. "Não me toque!" ela cuspiu. "Só não me toque! Você não entende — e não quer tentar entender! Já perdi minha mãe e minha irmã por causa do seu povo. Se não fosse por seus parentes assassinos invadindo e matando, elas nunca teriam nos abandonado em primeiro lugar! E talvez — apenas talvez — elas ainda estariam vivas! Não vou perder minha sobrinha por causa de você também!" Seu povo. A maneira que as palavras foram arremessadas de seus lábios, com tanto ressentimento, deu uma sacudida momentânea em Cutter. Seus parentes assassinos. Não importava que ele não tivesse sido criado como Cheyenne. Sua mãe tinha morrido dos abusos de seu pai antes que ele pudesse ter sido capaz de perguntar sobre a sua cultura. Inferno não! E não importava que tudo o que ele sabia era o meio de vida do seu pai — que seu pai tinha tentado enterrar tudo o que poderia parecer índio nele. Elizabeth via somente a parte Cheyenne dele.
"NÃO!" ela soluçava, confundindo a expressão dele. De repente os olhos de Cutter se estreitaram, e ele se dobrou para frente muito lentamente, como um animal predatório perseguindo sua presa. Ele a prendeu embaixo dele, entre seus braços. "Então você prefere arriscar?" ele disse com uma suavidade letal. A mente de Elizabeth gritava para que ele a deixasse, mas as palavras não surgiam na sua boca. O olhar calculista nos olhos de Cutter a paralisou completamente.
Cutter deslizou sua mão direita corajosamente em seu corpete. Sentindo o calor dele, Elizabeth instintivamente inclinou sua cabeça para trás, fechando os olhos, lutando contra seu corpo traidor. Antes que ela pudesse reunir seus pensamentos para protestar, ele arrancou os botões com seu punho, enviando-os voando no ar. Vários deles caíram ameaçadoramente na água. E naquele momento, ela perdeu toda a sua incerteza. Por um momento ela tentou ficar livre, mas a mão dele desceu rapidamente para travar sua fuga. "Besta!" ela gritou, resistindo a vontade de socar seu peito. "Selvagem?" Cutter falou com um sorriso gelado, seu tom não menos assustador apesar da maciez rouca. "Eu não disse isso!" Elizabeth protestou, de repente, compreendendo a veemência dele. "Não desta vez," ele concordou, "mas você pensou muito bem — não é? Você quer um selvagem, Lizbeth? Isto," ele disse com os dentes cerrados, um músculo batendo em seu rosto, "é selvagem!" Ao mesmo tempo ele ficou de joelhos entre as pernas dela, obrigando-as a se abrirem. Ele a pegou pelos cabelos, puxando até que ela gritou. Ela não o queria desse jeito, ela não o conhecia assim! Não queria conhecê-lo! Embora seus olhos fossem frios, eles queimavam dentro da sua alma. "Por favor, Cutter," ela choramingou. "Você está me assustando!" A boca dele baixou até seu mamilo, mordiscando-o suavemente através de seu corpete, mas sua mão no cabelo dela apertava e ela gritou novamente, mais assustada do que qualquer outra coisa. Sua fúria estava mal controlada. Ela podia sentir em seu aperto, ver em cada músculo de seu corpo e rosto. Era tão tangível como a angústia em seu coração. "Por favor-" Novamente ele puxou o cabelo dela, o joelho, empurrando com mais firmeza as suas pernas. "Cutter, por favor, por favor, não!" Os olhos dela se encheram de lágrimas enquanto sua boca se mudava para a outra mama, banqueteando-se brutalmente. Ele puxou o cabelo dela novamente, silenciando-a de uma vez por todas, mas ela não se atrevia a falar novamente. Lágrimas quentes começaram a cair dos olhos dela, gota a gota por suas bochechas. Desprezando-se pela brutalidade que ele estava exibindo, Cutter se amaldiçoava sob sua respiração. Mas ele conseguiu mostrar o que ele queria, e neste caso ele estava convencido de que o fim sempre justifica os meios. Ele não podia —não poderia — deixá-la fazer a mesma coisa com outra pessoa. Outra pessoa não cuidaria dela como ele fazia. Outra pessoa não cuidaria... Amá-la? Seu rosto estava pálido e os lábios dela tremiam. Ele queria tanto baixar sua boca e beijá-la, curar a dor dela — fazê-la vê-lo de uma forma diferente. Com um gemido torturado, ele cobriu sua boca, mas seu beijo era dolorosamente amoroso, desmentindo sua raiva.
Elizabeth gemeu em protesto, mas se rendeu a ele, soluçando como se sua língua a apunhalasse no calor de sua boca, provando e saboreando. Sua excitação não tinha diminuído. Mesmo em sua ira, ele era duro como uma pedra e crescendo a cada segundo. Ele estava perdendo sua razão. Elizabeth empurrou-o abruptamente, olhou para ele, e ele a largou, embora seus braços continuassem embaixo dele. "Você entende agora?" ele perguntou com a voz rouca, sua voz áspera e instável. Elizabeth abanou a cabeça. "N-N-não," ela chorou. Cutter prendeu suas mãos para os lados, e com uma maldição sobre seu fracasso, ele balançou a cabeça para ela, fúria fazendo seus olhos negros brilharem ainda mais. "Pense sobre isso, Liz. Isso é exatamente o que vai acontecer se você convidar um estranho para se passar por seu marido — as chances são mínimas que você encontre alguém que não espere receber tudo junto! E se você recusar, ele vai tirar de você! Seu plano já está afundando?" Uma desolação apareceu em seus olhos, espelhando as emoções dela, e ele disse sem querer aliviar, "vejo que está." As lágrimas dela continuavam fluindo, e culpa torcia o estomago de Cutter como uma lâmina cega. "Para parecer verdadeiro," ele tentou explicar, sua voz perdendo um pouco de sua dureza, "você vai ter que dividir o quarto — não existe um homem nesta terra que não seria tentado a pegar o que está tão facilmente acessível. E o que você faria então? Gritar? E perder a sua sobrinha? Acho que seria um pouco inútil — ainda mais estúpido do que arriscar a ser casada com um mestiço inútil! Você não acha?" Com um gemido, Elizabeth se afastou, odiando ver que ele estava usando a consciência dela contra ela, odiando a verdade de suas palavras e sentindo-se uma perdedora como se ela já tivesse sido despojada de tudo o que ela queria. Cutter tinha conseguido fazê-la entender, forçando-a a ver que ele tinha razão. "Amor de graça! Você não acha que eu tive todas as chances que eu quis para te estuprar e fazer sexo com você!" Sua voz estava suave e suplicante quando ele falou novamente, e seus olhos pediam para ela entender. "Pense nisso — eu não fiz de tudo para provar para você que você podia confiar em mim? Maldita seja... tenha um pouco de fé!" Ele fez uma pausa, esperando ela responder. "Eu posso fazê-lo," ele sussurrou, sua voz tensa e a respiração difícil. Elizabeth se virou incapaz de encontrar seu olhar. Apesar do fato de suas palavras serem verdade não aliviou a dor de cabeça dela. Ela apertou as pálpebras bem fechadas, cortando o fluxo de lágrimas, acenando desesperadamente. Com certeza agora, ela perderia Katie. Era demais esperar que Elias Bass fosse negligenciar o fato de que seu marido era um mestiço. Porque, ah, porque, ela alguma vez, ousara ter esperança? Por quê? Ela quase gritou a pergunta, mas não conseguia falar por causa do tremor dos seus lábios. Por que Cutter tinha que estar certo? Ela se virou para olhar para ele, sua voz fraca em derrota. "Tudo bem," ela disse com uma
suavidade desesperada, "Vamos fazer da sua maneira, Sr. McKenzie." Cutter estremeceu ao liberar a tensão. Vendo o gesto, Elizabeth o desprezou por isso. Um soluço escapou de sua garganta e raiva fluiu pelo seu corpo, mas ela não saiu do lugar. Ela estava entorpecida demais para tentar fazê-lo. "Só saiba que," ela acrescentou uma lágrima escapando e rolando por sua bochecha. "Se eu perder minha sobrinha por causa de você, Cutter McKenzie, juro por Deus que vou te desprezar até o dia da minha morte! Eu juro!" ela gritou com emoção, engolindo suas lágrimas. "E se você estiver errada, Elizabeth? E se, Elias me aceitar? Por que! Porque você está tão certa que ele não vai?" Sua pergunta a sacudiu momentaneamente. Por que ela achou que Elias não iria aceitar Cutter? Por quê? Será que isso poderia ser verdade? Será? Ela acenou com a cabeça em negação... mas lá no fundo, ela sabia que era o que ia acontecer. E então a esperança aumentou dentro dela. Talvez Elias não usasse isso contra ele. Talvez Elias nem visse. Não se importasse. E talvez ele se importasse. E foi essa possibilidade que fez seu coração doer. Cutter deve ter lido seus pensamentos, porque algo em sua expressão escureceu abruptamente. Sua mandíbula ficou tensa, e seu semblante se fechou com um olhar de dor que se transformou rapidamente em fúria. "Acho que você é o problema, Elizabeth e não Elias?" Sua mandíbula ficou mais apertada. "Deus — maldita, você é não melhor do que —" ele virou a cara dele. "Não!" Elizabeth, gritou. Não podia ser verdade. Seu olhar passou por ela, e a voz dela falhou. "K-Katie é tudo que me resta neste mundo... Se... se por sua causa ela for embora..." Lágrimas começaram a rolar por sua face. Ela sentiu Cutter endurecer com o que ela dizia, mas ela não conseguia segurar as palavras apaixonadas. "Se eu perder a oportunidade de criá-la por causa de você... Eu nunca, nunca, vou te perdoar por isso!" Com esse juramento furioso, Cutter saiu de perto dela, como se tivesse sido picado por suas palavras. Ainda xingando, ele puxou suas calças sobre suas pernas molhadas, não se incomodando em colocar sua ceroula e enfiando suas botas, coxeando de volta para o acampamento, não sendo capaz de enfrentar a raiva ou a dor, nos olhos dela. Nem dentro de sua alma. No momento, ele se detestava pela forma como ele a tinha deixado. E ela, pela falta de fé que tinha nele. Acima de tudo, ele temia que ela estivesse certa — que ele iria custar-lhe a sobrinha. E que ela cumpriria a sua promessa. Que ela iria odiá-lo até o dia da morte dela. Ainda assim, era um risco que ele tinha que enfrentar. Só de pensar em outra pessoa na cama dela
queimava como ĂĄcido em seu estĂ´mago.
19
C ruzar o rio grande provou ser bastante fácil. Tão superficial e estreito, como era, o ponto em que Elizabeth tinha lavado a roupa e se banhado podia ser facilmente ser atravessado a pé. Os dois cavalos cruzaram sem hesitação, embora Cacau parecesse menos propensa para a tarefa. Parecia para Elizabeth que desde a briga deles, Cutter só falou com ela o absolutamente necessário. Ele parecia odiá-la. E ele não parecia ter ficado feliz ao vê-la vestida em calças masculinas, também, embora ele ainda não tivesse dito nada. Ainda assim ela poderia dizer pelo jeito que ele olhava para ela. Quando ela o pegou olhando, ele balançou a cabeça e virou com desgosto. "Eu não precisava usar essa roupa se você não tivesse jogado fora a minha saia!" ela disse defensivamente. Ainda assim, ele não reagiu. Só os olhos dele entregaram sua desaprovação. E considerando que ele tinha feito questão de evitar a civilização no passado, ele os conduziu diretamente para Fayette bem tarde no dia seguinte, conseguindo quartos individuais. Quando Elizabeth começou a protestar, ele estreitou os olhos para ela e disse bruscamente, "o que te faz pensar que eu pretendo dormir aqui com você esta noite, Doc?" Círculos pretos tinham aparecido sob os olhos dele durante a noite, parecendo afundar acima dos altos contornos do seu rosto moreno. O olhar em seus olhos escuros era inconfundivelmente hostil e impediu Elizabeth de proferir alguma palavra. E mantendo a sua promessa, Cutter não compartilhou o quarto dela, e também não tentou quando eles chegaram à cidade de Fulton, no dia seguinte. Ele a deixou naquela noite, como ele a tinha deixado antes, e ela não o viu novamente até de manhã. A batida na porta chegou mais cedo. Elizabeth abriu para encontrar Cutter encostado no portal, seus músculos teimosamente definidos mesmo na sua postura casual. Apesar de não querer, o coração dela acelerou-se com a visão dele. Ele estava vestido com seus jeans, mas a camisa preta que ele usava era nova e bonita. A barba,
embora não muito cheia, tinha crescido consideravelmente, fazendo com que seu rosto parecesse magro por baixo dela, enquanto as sombras sob os olhos dele eram profundas. "Henry Elias Bass o homem que você está procurando?" Ele tirou o chapéu de sua cabeça, juntando sua franja umedecida de suor do rosto. "Ele teve um filho chamado John?" Apesar de sua aparência abatida, pareceu para Elizabeth que Cutter ficava cada vez mais surpreendentemente bonito, toda vez que ela colocava os olhos nele. Ela assentiu com a cabeça, seu coração doendo. Cutter olhou para a sua calça, e em seguida, com uma agitação da cabeça, inclinou-se ainda mais contra o batente da porta, enfiou a mão no bolso, e retirou um punhado de notas. "Eu sugiro que você saia hoje e compre uma roupa nova. Parece que ele não está em St Louis. Ele mora umas trinta milhas a leste daqui, ouvi dizer que ele tem negócios em St Louis." Ele cutucou a porta aberta um pouco para vê-la melhor. Essa maldita calça que ela usava a estava engolindo. Ele honestamente não podia dizer o que era pior, a calça ou a saia que ele tinha jogado fora. Ainda assim, não havia como duvidar de qual sexo ela era. Não com um cabelo como o dela. Ela o usava para baixo, as cascatas macias fluindo sobre seus ombros como ouro líquido, e as bochechas dela bronzeadas pelo sol. O ar livre e o sol eram apropriados para ela, ele decidiu quando pressionou o dinheiro na mão dela. "Vamos ficar aqui na cidade esta noite... saímos amanhã. Está bem para você?" Elizabeth assentiu com a cabeça, desejando que não houvesse tal constrangimento entre eles. "Se sairmos cedo e andarmos com vontade, vamos chegar lá pelo início da tarde, o mais tardar." "Tudo bem," Elizabeth respondeu suavemente. Um silêncio impenetrável se seguiu quando eles simplesmente se olharam. Finalmente, Elizabeth desviou o olhar dela. "Bem," disse Cutter, mudando de assunto, "Acho que vejo você amanhã, então." Novamente, Elizabeth assentiu perdida, sem saber o que dizer para consertar as coisas entre eles. Algo estava faltando, ela sabia, mas ela não tinha idéia o que era. Ele estava zangado com ela antes, mas não desse jeito. "Até amanhã, Doc," Cutter disse laconicamente, e então ele deliberadamente fechou a porta, como se ele não suportasse ver o rosto dela por mais tempo. Com um suspiro, Elizabeth inclinou o queixo contra o portal. Tirando o chocalho pendurado em seu pescoço e colocando-o em seu punho, e ela o balançou uma vez e então ouviu o eco das botas de Cutter contra o piso de madeira. Quando ele finalmente diminui, ela saiu de perto da porta. Desanimada, ela voltou para a cama e começou a chorar. Ela não se sentia tão vazia desde a morte do pai. Mas ela sabia que chorar não iria fazê-la alcançar absolutamente nada. E havia muito a ser feito antes de amanhã. Com um suspiro, ela se levantou e começou a trançar o cabelo, estudando seu reflexo no espelho. A mulher que a olhava era muito diferente da que ela se lembrava. Sua cabeça se inclinou de repente e sua expressão se tornou melancólica quando ela se lembrou do sussurro de Cutter. Eu gosto dele
solto. Quase distraidamente, ela começou a arranjar o cabelo dela solto sobre os ombros. Seria tão errado fingir — enquanto ela pudesse — que ela era mulher dele? Esposa de Cutter. Quão maravilhoso isso soava. Ela fez um som que era parte suspiro, parte gemido, e em seguida, balançando a cabeça contra a sua própria loucura, ela recomeçou a trançar o cabelo. Parecia maravilhoso, mas ela não podia sonhar. E ela não ousava sonhar desde que era um bebê nos braços da sua mãe. E sua mãe já tinha ido embora há muito tempo... e a irmã dela... e o pai dela... Só Katie tinha ficado e ela não ia perdê-la, também, ela estava determinada. Não se ela pudesse lutar. E eu não mudei para provar para você que você podia confiar em mim? Maldita seja... tenha um pouco de fé... Elizabeth começou a ouvir a voz na sua cabeça, e por um momento, em vez de seu próprio reflexo no espelho, ela viu Cutter, e o apelo sincero em seus olhos sombreados. Acho que você é o problema, Elizabeth e não o Elias? Elizabeth olhou para o espelho por um longo momento, horrorizada com a dor que ela viu nos olhos que a acusavam e gritou de repente, desfazendo a trança. Não podia ser! Isso, ela resolveu, sua expressão determinada, ia ser o desempenho mais convincente que ela poderia ter na vida. Se Cutter pensou que ele pudesse fazer... então, por Deus, ela ia dar apoio a ele enquanto ele tentasse. Ele sabia o quanto isso significava para ela, e ela sentiu instintivamente que ele não ia falhar com ela. Era, afinal de contas, uma questão de confiança. Como Cutter havia previsto a viagem até a casa de Bass levou quase toda a parte da manhã e início da tarde. Durante todo o caminho, os modos de Cutter ficaram menos rudes do que tinham sido ultimamente, embora ele ainda parecesse cansado de alguma forma, e as olheiras permanecessem no seu rosto. Mas pelo menos ele estava falando com ela, Elizabeth pensou. "E então o marido de Katherine foi morto na guerra?" Elizabeth perguntou, tentando ignorar a dor que estava crescendo na sua traseira. Cacau, em seu cansaço, tinha diminuído sua marcha o que era absolutamente brutal para a parte posterior. Dando um tapinha no seu chapéu, Cutter assentiu com a cabeça e estranhamente, absteve-se de comentar sobre sua careta de dor. "Parece que sim," ele disse, passando seus dedos por sua barba. Ele estava com vontade de sorrir, com a visão doce da bunda dela, saltando para fora da sela. Ele estava se divertindo, mas não quis demonstrar. "Tanto quanto sei, Elias teve apenas um filho." "Quando ele morreu?"
"Em Petersburgo," Cutter respondeu. Seus olhos se encontraram com os dela, em seguida viajaram através do seu corpo com admiração. Ela estava usando sua roupa nova, uma saia cor de turquesa para equitação e uma camisa combinando. O cabelo dela estava solto e brilhava como sol amarelo nas costas dela. Elizabeth mordiscou o lábio inferior, um momento e então anunciou, "não acredito que o Senhor Bass me preocuparia como ele o fez. Em sua carta ele escreveu que os dois tinham sido mortos — mortos," ela salientou, seus olhos procurando os olhos de Cutter. Havia um brilho peculiar neles, quando ela perguntou, "você pode imaginar como isso me fez sentir? Ele me fez pensar que Katherine e o marido dela tinham tido um acidente — ou que tinham sido assassinados!" Ela balançou a cabeça com nojo, uma expressão sombria crescendo a cada segundo. "Elias Bass tem muito a aprender sobre o fraseado de suas palavras." Ela não poderia podia deixar de especular que sua irmã podia ainda estar viva... que sua filha podia não ser órfã... se sua mãe não tivesse levado Katherine... se ela não tivesse tanto medo de ser escalpelada viva e não tivesse fugido para St Louis sem nem mesmo dizer adeus. Ela olhou para Cutter de repente para descobrir que ele estava olhando para ela. Como ele estava certo; a vida não era justa! "Como você conseguiu descobrir tanta coisa em tão pouco tempo, de qualquer maneira?" Ele levantou uma sobrancelha. "Basta pagar algumas bebidas e as perguntas corretas sempre terão respostas."
AS SOBRANCELHAS de Elizabeth se levantaram quando ela se lembrou da noite que ela tinha conhecido bebida alcoólica. Parecia ser o truque favorito dele — colocar as pessoas bêbadas para ele conseguir o que quisesse delas. Contra sua vontade, ela de repente encontrou-se perguntando se ele tinha recolhido a informação de alguma Jezabel como Bess. "Enquanto você estava no bar... por acaso não descobriu como foi que Katherine morreu?" Cutter suspirou. "Não," ele disse, "mas não vai demorar, muito até você poder perguntar para Bass. Parece que chegamos." Ele falou. Elizabeth se virou e viu o deslumbrante reflexo do sol da tarde nas vidraças distantes. Elas brilhavam como jóias. O rancho e as construções ao redor eram cercados por álamos e carvalhos. Quando eles se aproximaram, a casa grande começou a tomar forma e Elizabeth pensou que era o lugar mais bonito que ela já tinha visto na vida dela. Então, ela ficou maravilhada, porque era aqui que Katherine tinha chamado de seu lar. Com dois andares e a fachada de tijolos caiados de branco, era o lugar mais grandioso que ela jamais tinha colocado os olhos. No entanto, havia uma beleza solitária no local, enfatizado pelo fato de que não havia ninguém trabalhando, e ninguém tinha vindo recebê-los. O gramado, com a grama alta, sem ser tratada, dava a entender que ninguém tomava conta do local e flores silvestres de todas
as cores apareciam em todos os lugares. A Elizabeth pareceu mais um pasto do que o gramado bem cuidado de uma casa. Dois álamos, um de cada lado do caminho, o exuberante verde das folhas contrastando com o branco da casa. O efeito era surpreendente. A beleza aumentava com as treliças das janelas pintadas de branco construídas contra o tijolo. Rosas vermelhas em plena floração subiam obliquamente. Alguns ramos cresciam livres da treliça e caíam desordenados, as folhas manchadas e amarelas, enquanto outros ramos tinham apenas os espinhos e um aglomerado de flores vermelhas na extremidade. O pensamento que veio imediatamente à mente de Elizabeth foi que a guerra tinha passado por aqui também. Era óbvio que alguém, em algum tempo, tinha se importado muito com o lugar... e que agora ninguém parecia se incomodar. Nenhum empregado tinha trabalhado na pequena horta que ficava à direita da casa — ou tinha se preocupado em pintar a pequena cerca que a rodeava, A parede caiada estava lascada e descascando. Quando eles estavam chegando perto da casa um pequeno cão malhado de preto e branco animou seus ouvidos e em seguida latiu sucintamente, como se o esforço fosse mais do esperado que ele fizesse. Mais uma vez ele latiu, balançando o rabo, como se lutasse contra o desejo de se estender preguiçosamente no chão. "Preguiçoso," uma voz de criança gritou enquanto eles se aproximavam. "Não se preocupem... ele não vai machucar vocês!" Como se concordasse com a afirmação, o cão se agachou, mantendo suas orelhas baixas e seus olhos fixos nos invasores. Surpreendida pela voz, Elizabeth sentiu seu coração bater mais forte. Ela freou seu cavalo, seus olhos começaram uma busca frenética e desesperada por um vislumbre da criança que tinha falado. Tinha que ser Katie, ela sabia intuitivamente. E parecia que ela tinha esperado e pensado neste momento por uma eternidade. Como ela seria? Com quem ela se pareceria? Como ela era? Onde ela estava? "Nós o chamamos de Preguiçoso porque meu pai quis," a voz revelou docemente. Novamente, Elizabeth girou sobre sua égua, pesquisando. Finalmente ela viu a pequena garota precariamente sentada em cima de uma janela no segundo andar e seu coração deu um pulo no peito dela. Ela era tão pequena, que os ramos da árvore tinham a escondido completamente. Enquanto Elizabeth olhava enfeitiçada, seus batimentos cardíacos aceleraram. No mesmo instante ela se sentiu cheia de orgulho... e sentia tantas outras emoções, que ela não conseguia entender todas elas. Enquanto ela observava, a criança se moveu para frente, quase perdendo seu equilíbrio, e a respiração de Elizabeth quase parou. Ela congelou na sela, totalmente apavorada que a criança
pudesse cair e morrer diante dos seus olhos. "Bem... você..." A garota deu de ombros e voltou ao assunto com naturalidade. "Ele era chamado de Smiley," ela disse inteligentemente, "mas meu pai disse que ele era por demais preguiçoso para sorrir." Ela mostrou uma mão delicada, deu uma pausa como se quisesse se lembrar, e então sua expressão se fechou penosamente. "Meu pai se foi," ela revelou, com a franqueza inocente que somente uma criança possui. "Ele foi para o céu durante a guerra". Elizabeth estava muito abalada pela quase queda da criança além de estar surpreendida por sua revelação, para responder. Ela não estava nem mesmo ciente de que Cutter já não estava ao lado do seu cavalo até que ela o viu na treliça, subindo rapidamente como se tivesse nascido para isso.
"QUEM É VOCÊ?" a garotinha perguntou corajosamente, inclinando para frente para ver melhor. Elizabeth gritou em pânico, finalmente descobrindo sua voz. "Por favor — sente-se, por mim!" ela instruiu, à beira da histeria. Imediatamente ela desmontou de Cacau, correndo para frente, até que ela ficou embaixo da janela da criança, olhando para cima. Ela lutou para concentrar sua visão nela. De repente ela ficou cega para tudo, a não ser para a criança acima dela. Um pouco embaçada, a mais bonita carinha olhava para onde ela estava... nariz pequeno, arrebitado, ela se parecia — com Katherine, ela pensou com melancolia. Cabelo escuro, uma massa de cachos — talvez do pai dela? E os olhos? A esta distância, não podia dizer. Enquanto Elizabeth olhava, lágrimas quentes passaram em seus olhos. A garganta dela se contraiu. "Meu nome é Katie Lizabeth," a criança declarou impulsivamente, numa voz delicada. E mais uma vez o coração de Elizabeth pulou. Um soluço escapou na garganta dela enquanto ela sussurrou o nome com reverência. Katie Elizabeth. Katherine não tinha se esquecido dela, afinal de contas. Contra a sua vontade, sua visão começou a ficar nublada. Ela nunca tinha ficado incomodada de não ter uma visão perfeita, mas neste momento, ela odiava ter esse problema. Elizabeth engoliu o nó que subiu na garganta dela. "Katie Elizabeth?" Elizabeth repetiu com a voz rouca. A criança assentiu com a cabeça uma vez, com fervor, sorrindo. "Qual é o seu nome?" ela perguntou corajosamente. "Meu nome"? A voz de Elizabeth estava emocionada. “Meu nome... é... Elizabeth, também," ela respondeu lentamente, os olhos ardendo. "Oh," Katie respondeu pensativamente. Ela enrugou o nariz dela lindamente, considerando esse fato por um momento. "Bem... "Ela sacudiu um dedo para Elizabeth impetuosa." Mas aposto que você não sabe que eu tenho uma tia chamada Lizabeth, e que ela vem me buscar — meu avô me disse.” De repente seus olhos se arregalaram. "Oh! Você é a minha tia?" ela perguntou. E então, com um pouco de ceticismo, ela acrescentou: "Você não é minha tia, ou você é?"
O coração de Elizabeth batia mais rápido de emoção. Sim! Ela queria gritar. Sim! Oh sim! "Bem," ela começou lentamente, seu estômago agitado descontroladamente. Ela tentou dar um sorriso. "Sim," ela disse, finalmente, contendo suas lágrimas. E então, com mais força, ela repetiu, "Sim, Katie, eu sou." Com um grito de prazer, Katie começou a bater palmas com suas mãos, chutando o tijolo nos seus pés. "Não, Katie! Sente-se, antes que você caia! Onde está seu avô?" "Não se preocupe," ela se gabou para Elizabeth, "Eu nunca caí!" Mas naquele momento, Cutter chamou sua atenção. Ela olhou para ele, curiosamente, oscilando ainda mais. Elizabeth mordeu o lábio, enquanto assistia Cutter acelerar seu ritmo, apenas para escorregar quando uma ripa podre cedeu. Ele recuperou o equilíbrio e começou a subir mais uma vez. Silenciosamente, Elizabeth pediu-lhe para se apressar. "Esse é o meu tio subindo?" Katie queria saber. "Eu já escalei muitas vezes antes, mas a minha mãe bateu na minha bunda," ela disse gravemente, acenando. E então seus olhos se arregalaram em especulação. "Aposto que você vai bater nele! Não é?" Elizabeth ouviu a risada suave de Cutter, mas não sabia como reagir. Seus pensamentos estavam focados apenas na escalada de Cutter. Quanto mais ele subia, mais lento ele parecia estar se movendo. "Aposto que você não sabia que eu já era grande!" Katie, exclamou de repente, encontrando mais uma vez o olhar de Elizabeth. Ela levantou o que parecia ser os cinco dedos e então se esforçou para tirar o quinto. Falhando miseravelmente no empenho, ela empurrou com a outra mão seu polegar para baixo... perdendo o equilíbrio. "Katie!" Elizabeth gritou, mas no momento que a criança estava quase caindo, Cutter a pegou colocando sua mão no seu pequeno tórax. "Calma aí, garota," Elizabeth o ouviu dizer. "Ah, mas eu nunca caí!" Katie, exclamou indignada. "Eu não caio nunca!" ela insistiu olhando para o rosto de Cutter. "Bem, eu caio," Cutter falou. "Já caí de uma árvore, quando eu era apenas um pouco maior do que você. Tenho medo de alturas desde então," ele jurou com tanto ênfase que Elizabeth começou a sorrir. Katie se engasgou. "Você tem medo de altura?" Cutter assentiu com a cabeça lentamente, e Katie deu uma risadinha, como se fosse algo ridículo. "Eu não!" ela se vangloriou, as mãos nos quadris. "Aposto que você está com medo agora. Não é?" "Acho que sim," Cutter admitiu sobriamente. "Ah, pobrezinho," Katie disse com uma preocupação paternal que fez Elizabeth rir. Acenando gravemente, Katie adicionou, "Você quer que eu te puxe? Você quer? Eu poso te salvar!" declarou solenemente.
"VOCÊ PODE REALMENTE?" "Oh, posso sim!" Katie jurou com vigor, os olhos brilhando. "Você só tem que olhar para mim e ver! Dê-me a sua mão," ela exigiu. "Oh... Eu não sei," disse Cutter, resistindo à vontade de fazer isso. O pé dele estava preso na treliça, sofrendo como o inferno. "Talvez você deva entrar e me puxar? Acredito que tenho muito medo de te dar a minha mão a menos que você esteja segura dentro do seu quarto. É seu quarto, não é?" "Uh-huh, sim... mas por quê?" "Porque nós dois podemos cair," ele explicou, "e não quero quebrar meu braço novamente." "Oh!" Katie, exclamou. "Deve ter doído! Boa idéia!" Ela mexeu para baixo da soleira. "E sabe o que? Acho que vou ficar mais forte no meu quarto. Mas por que você subiu se você está com um maldito medo?" ela quis saber. "Maldito?" Cutter a repreendeu. "Uh-huh. Meu avô diz isso o tempo todo, ela explicou sombriamente. Você nunca ouviu essa palavra? As pessoas dizem maldito quando estão com raiva, você vê, e às vezes elas dizem..." Ela sussurrou uma palavra. “Não diga," comentou Cutter, conseguindo parecer levemente divertido. Ele olhou para Elizabeth e enviou para ela o que parecia ser uma piscadela. "Oh, claro," Katie disse com naturalidade. "Você nunca ouviu essa palavra também?" "Temo que não," Cutter mentiu. Katie conversava incessantemente, mas com a ajuda de Cutter, ela logo colocou seu pé em segurança dentro de seu quarto. Uma vez lá dentro, ela estendeu a mão para ele. Admirada com a cena diante dela, Elizabeth assistiu quando Katie estendeu seus pequenos dedos para Cutter. E ela não pode deixar de rir quando Cutter fingiu deixar Katie puxá-lo para dentro, grunhindo e gemendo. Sentindo um pouco de magia, ela olhou para o par na janela. Quando Cutter estava de pé dentro do quarto, ele falou com Katie suavemente, acariciando sua cabeça. E Elizabeth continuava a olhar, sentindo carinho no seu coração o que a deixava assustada por causa da intensidade. Do que ela podia se lembrar, Katie parecia com Katherine quando ela tinha a sua idade. E Katherine tinha sido uma criança linda. A única diferença que ela podia ver era o cabelo. Katherine tinha um cabelo cor de ouro tão rico como o trigo antes da colheita e liso como o dela. Não foi até Cutter ficar dentro por um tempo que ela começou a se perguntar se ele não pretendia sair. A expressão dela ficou de repente descrente. “Cutter?" Nenhuma resposta. Ela só conseguia ver o borrão de uma janela aberta. "Cutter!" ela chamou. O cachorro latiu atrás dela, mas Cutter não reapareceu. "Cutter!”
20
"V ocê não pode me deixar aqui!" Elizabeth, gritou para a janela vazia. "Cutter McKenzie! Volte aqui neste instante! Você não pode —" Repentinamente a porta da frente se abriu e o rosto redondo de uma mulher desconhecida olhou procurando, primeiro de uma forma incomodada e depois atordoada. Enquanto ela olhava, seu queixo caiu e seus olhos se arregalaram. De repente ela inclinou a cabeça dela, como se quisesse fazer uma pergunta. "Uhh... hum... O-Olá," Elizabeth gaguejou. "Eu - Eu-" "Chega!" a mulher falou de repente, tão alto que Elizabeth pulou um degrau. Seu rosto estava pálido, como se ela estivesse olhando um espectro. "Mas não! Não pode ser!" ela continuou, enquanto vinha lentamente para frente, fazendo um meio círculo em torno de Elizabeth. Elizabeth a observava com cautela, seguindo seus passos, virando quando ela se virava. "Meu Deus, que estranha semelhança!" finalmente a mulher disse. "Você deve ser Elizabeth!" Elizabeth assentiu lentamente. A mulher assentiu com a cabeça, também. E com um berro abrupto, de deleite, ela pegou Elizabeth pela mão. "Oh! É sempre assim!" ela exclamou. "Estávamos esperando você, mas o Sr. Bass não está aqui agora! Ele está viajando a trabalho, você não poderia saber." Ela bateu levemente na mão de Elizabeth e, em seguida, largou-a. "Mas entre e não se preocupe comigo! Meu Deus, eu só não posso acreditar nos meus olhos! Katie vai ficar muito feliz de vê-la, finalmente. E meu Deus, você se parece tanto com a mãe dela!" As sobrancelhas de Elizabeth se enrugaram. Ela se parecia? Com Katherine? Mas ela não se lembrava de parecer com a irmã! Totalmente sem palavras, ela seguiu a mulher para dentro e foi levada para um grande hall de entrada. Nele se via duas colunas de mármore, uma a direita a outra a esquerda e uma dupla escadaria curva no centro. Além da escada, havia o que parecia ser uma pequena sala de estar. A mulher parou ao pé da escada, chamando na sua voz estridente, mas quente, "Katie, querida... por favor, desça!" Ela então virou-separa Elizabeth.
Elizabeth meramente ficou olhando, seus pensamentos rodopiando na sua cabeça. Dobrando suas mãos nervosamente na frente dela, ela sorriu, e a mulher rindo alegremente, veio para frente para segurar mais uma vez sua mão. "Posso te dizer que a criança lá em cima queria saber todos os dias, desde que recebemos o seu telegrama, quando você chegaria. Ela mal podia esperar!" E então, ela acrescentou, "acredito que você vai ficar com as mãos ocupadas com ela." Seus olhos tristes, ela evitou seu olhar. "Katie!" ela chamou de novo, olhando para cima desconfortavelmente. Elizabeth olhou ansiosamente, amaldiçoando Cutter por deixá-la sozinha. Ele com certeza ia descer pela treliça e ver que ela não estava mais lá. E então? Com certeza ele ia perceber que ela estava dentro da casa? Ele iria bater na porta, certo? Ele não ia deixá-la? Ela fez uma careta com este pensamento. Com o humor que ele estava ultimamente, ela não duvidaria de nada vindo dele. O olhar dela se dirigiu para a imponente escadaria. O que na terra ele poderia estar fazendo lá em cima por tanto tempo? Ela se perguntou nervosamente. "Você está tão quieta," a mulher observou. "Sua irmã era tão tagarela — que Deus abençoe sua alma — como a sua filha." Elizabeth permaneceu sem palavras, acenando muda, lembrando que a irmã dela, na verdade, era muito comunicativa quando era criança. "Deus!" a mulher disse de repente, franzindo a testa como se recordando algo e se desaprovando por não ter se lembrado antes. "Como sou negligente." Ela deixou Elizabeth subitamente e foi até a porta, abrindo-a. Espreitando por cima do ombro dela, Elizabeth procurou por um vislumbre de Cutter. Não o encontrou e franziu a testa. A mulher virou-se para Elizabeth, perplexa. "Bem, pensei ter visto dois cavalos lá fora. Onde está seu marido?" ela perguntou com genuína perplexidade. As sobrancelhas de Elizabeth se levantaram em surpresa. "M-marido?" Ela repetiu estupidamente. "Oh, sim! Meu marido!" Olhando inquieta, ela desejou para Cutter uma dúzia de maldições. "Bem!" ela começou, sua mente correndo descontroladamente. Impulsivamente, ela estendeu a mão dela. "Eu — eu sou Elizabeth B-B — McKenzie," ela alterou rapidamente. Ela acenou com a cabeça desconfortavelmente, não tinha mais idéia do que dizer. A mulher parecia estar se divertindo, seu sorriso continuava no seu rosto. "Sim," ela disse, e seus olhos brilhavam com bondade. "Sim, eu sei. E eu sou Mimi," ela disse, estendendo sua mão em boasvindas. Elizabeth segurou os dedos dela, sacudindo-os distraidamente, ao mesmo tempo dizendo em sua mente um monte de blasfêmias para Cutter. Ela cerrou os dentes. Mimi continuou a sorrir com bondade. "Ele veio com você, não veio?" Elizabeth sorriu de volta, embora sentisse vontade de chorar e gritar. "Oh, sim," ela admitiu balançando a cabeça distraidamente. Miss Mimi começou a acenar, e ao mesmo tempo suas sobrancelhas se levantaram. Ela esperou pacientemente por uma resposta que Elizabeth não tinha, e
Elizabeth desprezou Cutter naquele momento. A mente de Elizabeth continuou com mil pensamentos diferentes. "Seu marido?" Miss Mimi perguntou. "Oh! Bem, veja," Elizabeth continuou inquieta, "ele está... ele... bem, ele com certeza —" "Eu o salvei! Eu o salvei, Miss Mimi!" A voz de Katie gritou acima delas. Elizabeth e Miss Mimi olharam para Katie ao mesmo tempo — Miss Mimi viu Katie saltando com alegria nos ombros de um estranho, com as mãos dobradas sob o queixo dele. Demorou um momento antes que Elizabeth pudesse realmente ver os rostos, e sentiu-se estrábica quando seus olhos conseguiram se focar. "Cutter!" ela engasgou com horror. "Eu o salvei!" Katie, exclamou alegremente, abraçando o pescoço de Cutter. Miss Mimi ofegou em surpresa, o olhar dela se mudando para Elizabeth, sua expressão claramente chocada e um pouco desconfiada. Recuperando-se rapidamente, Elizabeth ofereceu um sorriso manso de desculpas, uma mancha quente subindo por suas bochechas. "Uhhh... meu —" ela tentou não pensar na mentira quando ela falou a palavra e fechou os olhos brevemente "— m-marido," ela gaguejou, acenando sombriamente quando abriu os olhos. "Ele é... ele é... bem... ele já está den... dentro da casa," ela disse tão brilhantemente quanto podia. Ainda assim, Miss Mimi não disse nada. "Como... como você pode ver." O rosto de Elizabeth queimava, mas ela conseguiu encontrar os olhos escuros de Cutter, e ele lhe tranquilizou com apenas um piscar de olhos. E então seu olhar foi atraído para cima, para a criança sentada em seus ombros de olhos arregalados. A criança olhou em volta, liberando o queixo de Cutter com surpresa. Para o choque de Elizabeth, os olhos de Katie eram escuros como... os de Cutter. Eles eram olhos que podiam se aproveitar de você, chegar até a sua alma. Olhos que mostravam tristeza e alegria, ao mesmo tempo... olhos que apesar da diferença de cor, eram tão familiares, que fazia o coração dela doer. "K-Katie?" ela engasgou ao falar. Miss Mimi estava ao lado dela, em silêncio, observando a cena se desenrolar, suas exigências para uma explicação deixadas de lado enquanto Katie se contorcia animadamente, tentando encontrar uma maneira de descer pelos ombros largos de Cutter. Amavelmente Cutter a girou para baixo, segurando seus pés para ela não cair. "Temos que ser amigos," Cutter assegurou, piscando para Elizabeth. Ignorando o coração dela que batia descontroladamente, Elizabeth caiu de joelhos, abrindo os braços para saudar a criança, mas Katie ficou paralisada. Finalmente, depois de um momento excruciante, Katie deu um passo para frente, e quando Elizabeth pensou que ela iria correr para os braços dela, ela passou por ela, deixando Elizabeth ajoelhada de mãos vazias. Ela fechou os olhos e engoliu enquanto escutava os pés da criança correndo para longe dela. Era de se esperar, ela disse a si mesma. Afinal, Katie não a conhecia. Ela abriu os olhos para contemplar Cutter. Havia força no seu olhar, e ela se sentiu mais forte.
Havia lágrimas em seus olhos, e a ponta de seu nariz ficava cada vez mais rosa De repente ela ficou ciente de que os pezinhos corriam para ela, dando uma parada na frente dela. E antes que Elizabeth pudesse falar, uma pequena moldura foi empurrada na frente dela, com a foto de três pessoas, mas estava tão perto dela que não era mais do que uma grande mancha negra. Alcançando-a, ela colocou longe do seu rosto para vê-lo melhor e, em seguida, afastou um pouco. Ela segurou a respiração, quando a foto começou a tomar forma. Katie se balançou para frente nas pontas dos pés, as mãos dela cruzadas atrás das costas. "Você parece muito com a minha mãe," ela sussurrou reverentemente, um toque de tristeza em seu tom calmo. Seus pequenos olhos vidrados enquanto Elizabeth olhava a foto, mas seu sorriso terno não conseguia negar sua dor. "Ela foi para o céu, também. Mas não na guerra," ela confiou num sussurro, olhando de repente para Miss Mimi esperando que ela a ajudasse. Miss Mimi veio para frente, colocou uma mão reconfortante no ombro de Katie, apertando-o suavemente, seus próprios olhos tristes.
COM O CORAÇÃO DOENDO, Elizabeth abraçou os dedos pequenos de Katie nos seus. Para sua alegria, Katie não se afastou de seu toque, mas em vez disso, pisou para mais perto dela. Miss Mimi limpou sua garganta. "Katherine, você vê..." ela começou, mas parou de repente. Ela enxugou seus olhos. Sabendo instintivamente o que Miss Mimi estava prestes a dizer, Elizabeth trouxe Katie em direção a ela, na esperança de protegê-la, ou pelo menos, emprestar-lhe sua própria força. Para sua surpresa, Katie atirou-se nos braços de Elizabeth, como se ela estivesse faminta pelo calor que ela estava oferecendo. "Sabe," Miss Mimi continuou, "sua irmã faleceu durante o nascimento do seu segundo filho... um garotinho. Joshua Elias," ela engasgou. "Nós o enterramos ao lado da mãe." Como se sua vida dependesse disso, Katie agarrou-se a Elizabeth enquanto Miss Mimi falava, e Elizabeth deu-lhe um abraço reconfortante. "Há uns seis meses atrás," Miss Mimi continuou com a voz triste. Ela encolheu os ombros. "Acredito que a notícia da morte de John levou sua força —" ela engasgou de repente com suas palavras. Elizabeth manteve a criança firmemente em seus braços, lágrimas quentes enchiam seus olhos, e então ela olhou para baixo, por cima do ombro de Katie, para a foto na mão dela. Três pessoas sorrindo olhavam de volta para ela: Katie, talvez com dois anos, o cabelo mais curto, mas tão encaracolado como agora, o rosto doce; um homem que ela achou que deveria ser o marido de Katherine, John, seu cabelo escuro, ondulado, na altura dos seus ombros, seus botões de latão reluzentes; e Katherine, aparentando exatamente como Elizabeth se recordava. Linda, a linda Katherine.
Elizabeth colocou o quadro suavemente nas mãos de Katie enquanto uma lágrima escorria por sua face. "Só preciso saber..." Ela vacilou sobre as palavras dela, olhando para Miss Mimi. "Minha irmã foi feliz?" Enxugando os olhos novamente, Miss Mimi assentiu com a cabeça. "Oh, querida, sim!" ela exclamou. "Ela foi muito feliz"! Elizabeth assentiu com a cabeça, fechando os olhos dela, ela não conseguia falar. Isso era tudo o que importava, não era? Que Katherine tinha sido feliz? Que sua vida tinha sido boa? E agora era seu dever tomar o lugar de Katherine como mãe da criança preciosa que estava nos braços dela. Ela pensou em um momento de revelação, que isto era a razão pela qual ela havia nascido. Ela se sentia bem. Sua mão deslizou pelos cachos de Katie, esfregando-os suavemente. "Não chore," ela a acalmou. Katie a abraçou com mais força, enterrando o rosto no cabelo de Elizabeth. "Eu nunca choro!" veio uma exclamação abafada, mas a criança a apertou ainda mais, depois fungou, desmentindo sua alegação. Elizabeth sorriu com compreensão. "Claro que não," ela concordou, lembrando-se vividamente de outro tempo, outro lugar: Katherine tinha caído e tinha ralado seus joelhos. Elizabeth tinha limpado a sujeira do vestido da irmã e depois dos joelhos. "Olha! Veja, é principalmente sujeira!" "Meu vestido!" Katherine tinha lamentado penosamente. "Não se preocupe, Katie, a mãe vai entender. Olha, agora já passou! Não chore!" Com seu rosto doce e o azul do céu refletindo no brilho dos olhos dela, Katherine tinha jurado com veemência, "Eu não estou chorando. Eu nunca choro!" Mas lágrimas brilhavam nos olhos dela. Que Deus a ajudasse... se fosse a única coisa que Elizabeth pudesse fazer na vida dela, ela faria com que a irmã ficasse orgulhosa dela. Nunca deixaria Katie esquecer. Pela primeira vez, alguma coisa além de seu papel como médica a fez sentir no fundo de sua alma, algo importante — mais do que importante, porque não havia algo tão intrinsecamente mais gratificante do que embalar esta criança nos braços. Ela sentia como se o seu corpinho fosse a coisa mais importante do mundo. Uma lágrima solitária escorreu em seu rosto. Miss Mimi deu-lhes um momento mais e então se juntou ao abraço, chorando sem moderação, dizendo para Elizabeth como a irmã tinha falado bem dela — como ela tinha sido elogiada. E novamente, como ela era parecida com a irmã. E então, enquanto Cutter transportava seus pertences, Elizabeth ouviu um silêncio quando Miss Mimi expressou o profundo pesar de Katherine, porque elas tinham perdido contato uma com a outra. Mas ela não conseguiu encontrar absolutamente nenhuma resposta quando Miss Mimi levou-os para o quarto que eles iriam ocupar durante sua estadia. Havia pouco que poderia ser dito que fosse preencher a perda de sua irmã — uma perda que, embora tivesse acontecido anos antes quando ela partiu com a mãe, só agora estava completa. Havia algum tipo de conforto por saber que Katherine tinha pensado nela — apesar de não ter
sido o suficiente para elas se corresponderem, pelo menos de vez em quando. Ainda assim doía ver que através dos anos a separação tornou-se tão absoluta, que se não fosse pela carta de Elias Bass, ela talvez nem sequer tivesse conhecido sua única sobrinha.
UMA VISÃO VEIO-LHE ABRUPTAMENTE, os três juntos — ela e Katie... e Cutter. Sacudindo a cabeça para dissipar a visão, ela mudou seus pensamentos para Elias Bass. Que tipo de homem ele seria? Como alguém poderia não querer a adorável Katie? Seu olhar foi atraído para a criança que estava à frente deles. Abrindo uma porta, Katie lançou-se para dentro do quarto enorme, e quando os três chegaram à entrada, ela estava brincando sobre a cama de dossel grande. "Espero que vocês gostem do quarto," Miss Mimi disse. Ela sacudiu um dedo de advertência para Katie, mas Katie desconsiderou a reprimenda, sem parar de pular na cama. Sem perder tempo, Miss Mimi virou-se para Elizabeth e disse, "o armário está vazio. Se quiser, pode usá-lo. Ah, e eu pensei que você gostaria de tomar um banho?" Elizabeth sorriu com apreço, os olhos dela admirando o quarto. "Sim. Obrigada. É muita gentileza sua." Ela colocou sua maleta em cima da cama. Sem dizer uma palavra, Cutter colocou seu saco ao lado do dela e depois foi para a janela, colocando as mãos nos bolsos. "O quarto é lindo," Elizabeth assegurou-lhe enquanto ela olhava para ele. "Estou certa que vamos ficar muito bem instalados." Um guarda-roupa grande ocupava a parede esquerda, enquanto a cabeceira da cama ficava do lado direito. Atrás dela ficava a porta, e uma pequena janela se situava numa parede mais distante, ao lado de uma cômoda. Ao lado da cama, tinha um aparador e sobre ele um lavatório, com um jarro de porcelana e marfim. Uma cadeira de madeira estava ao lado do guarda-roupa. "A falecida esposa do Sr. Bass ordenou tudo da costa leste," revelou Miss Mimi. "Que Deus abençoe sua alma — ela já nos deixou há dez anos." Elizabeth assentiu com a cabeça, sem ter idéia do que dizer em resposta, e começou a desfazer as malas. "Ela tinha bom gosto," ela disse tardiamente, mas a tempo de ver que Miss Mimi tinha um sorriso de carinho e acenava em profundo acordo. Olhando para seus pertences, Elizabeth suspirou. Havia tão pouco de seus próprios itens que ela demorou-se sobre cada um, na esperança que Miss Mimi não notasse. "Katherine morava aqui, também?" ela perguntou conversando, tentando desviar a atenção de Miss Mimi. Miss Mimi abanou uma mão. "Oh, meu Deus, não — mas eles não viviam longe," ela disse. "Se você quiser conhecer a casa, estou certa que o Sr. Bass poderá levá-la lá amanhã." "Posso ir, também," Katie disse, em vez de pedir, caindo em cima da cama. Ela quase caiu em cima do saco de Cutter. E, tardiamente, o rosto dela se mostrou incerto. "Eu posso ir, Miss Mimi?" "Claro, Katie," Miss Mimi assegurou-lhe com uma piscadela. "Isto é... se estiver tudo bem com
sua tia Elizabeth." "Claro," Elizabeth concordou, sorrindo ansiosamente quando ela pegou seu último pertence. Os olhos dela caíram imediatamente sob o saco de Cutter. Ela se perguntou se deveria desfazê-lo também. Olhando para cima, ela viu que Cutter não estava mais na janela, ele estava encostado na parede direita, com seu pé esquerdo apoiado casualmente atrás dele, seus braços cruzados. E então seu olhar voltou para Miss Mimi, que a estava examinando curiosamente. Ela olhou ansiosamente para os pertences de Cutter. O que estava errado com ela? Ela pensou. Eram apenas roupas, certo? Junto com sua escova de dente, pasta e lâmina de barbear, ela acrescentou mentalmente. Seu rosto aquecido com a memória de quando Cutter a encontrou no rio com areia na boca. Não importava o que a fazia se sentir estranha no seu íntimo... tocar os pertences dele. Não importava que trouxessem de volta memórias vergonhosas, porque se eles, na verdade, fossem casados, então se esperava que ela como esposa desfizesse o saco e arrumasse seus pertences, e isso era exatamente o que ela ia fazer! Além disso, ela lembrou a si mesma, ela já tinha visto, bem como já tinha tocado nas suas roupas — quando ela as tinha lavado no rio. Ainda assim, ela hesitou, olhando brevemente para Cutter. Ele estava sorrindo seu sorrisinho torto novamente, e os olhos dela se estreitaram em censura. Engolindo, Elizabeth forçou-se para alcançar e tocar a camisa verde de Cutter e o ouviu rir. Enquanto Miss Mimi reclamava sobre não haver horas suficientes em um dia, Elizabeth tirou a camisa do saco, apertando-a, seus dedos se lembrando da textura dela. E então, sem pensar, no mais íntimo dos gestos, ela trouxe para perto do seu nariz, respirando profundamente o sabão que ela tinha usado para limpá-la... e o perfume masculino mais indescritível que já fazia parte das fibras da camisa. Um desejo atravessou o corpo de Cutter como um relâmpago enquanto ele a observava. Ele não estava mais consciente da presença de Miss Mimi, ele ouvia a voz dela como um zumbido distante. Naquele momento, ele ansiava por Elizabeth mais do que alguma vez ele pensou que fosse possível. Mas era mais do que o calor intenso em sua anatomia inferior que o tinha despertado, que o tinha perturbado, que o fazia ficar inquieto. Era a satisfação que ele sentia com um simples gesto dela — uma intimidade para ser compartilhada apenas entre um homem e sua mulher.
SUA MULHER. A frase o perseguiu como um lobo faminto nos seus calcanhares. Fascinado, ele assistiu Elizabeth dobrando a camisa dele, colocando-a ordenadamente dentro da gaveta. O olhar dele ardeu, com a memória gratificante da lavagem dessa mesma camisa no rio. Ele queria que ela fizesse sempre essas coisas para ele. Não que ele não pudesse se defender por si mesmo, mas deu-lhe um profundo prazer
vê-la tocar em seus pertences dessa forma... sem nem mesmo precisar tocá-lo. Isso o deixou queimando por dentro. Mesmo absorvido como estava Cutter imediatamente sentiu a presença de uma nova pessoa, e os pêlos na parte de trás do seu pescoço se eriçaram. Suas deliberações terminaram abruptamente quando ele viu na soleira da porta, um homem mais velho, de pé atrás de Miss Mimi, observando-os sem falar nada, com uma postura calma. Ainda assim a expressão do homem era vigilante. Cutter endureceu. Ninguém parecia ter notado sua presença, e ele não disse nada para alertá-los. Por um longo instante seus olhares se encontraram, um avaliando o outro e ele soube instintivamente que ele era Elias Bass. O homem que iria decidir o destino dele e de Elizabeth. Tão certo como o inferno era quente, se Bass se negasse entregar a criança para Elizabeth... Ela iria odiá-lo. Era óbvio que ela já estava cheia de amor pela criança. E não tinha demorado muito. Seria muito fácil para ele se afeiçoar também... se ele se permitisse. Mas ele não podia se dar a este luxo de... e não iria. "Olhe tia Lizabeth!" Katie virou na cama e então congelou quando ela viu o avô na porta. "Vovô!" ela gritou, olhando para ele por meio de suas pequenas pernas. Ela pulou da cama, correndo como um pequeno raio direto para seus braços.
21
E lias Bass era um homem alto, magro, com cabelos prateados e olhos azuis com rugas profundas nos cantos. As linhas de riso em sua boca eram proeminentes, apesar de que no momento elas mostravam um sorriso inquieto. Esforçando-se para subir, Katie aconchegou sua bochecha contra a barba prata do avô. "Oh, Vovô!" ela murmurou alegremente, percorrendo seus dedinhos por sua barba. "Minha tia Lizabeth está aqui com meu tio Cutter! E sabe o que?" ela disse sobriamente. "Ele subiu pela parede da casa! Ah e quer saber mais? Ela nem mesmo vai espancá-lo!" Elias Bass riu incrédulo com a expressão da sua neta e, com sua mão livre, acariciou seu queixo. "Sim?" ele perguntou jovialmente. Ele olhou para Cutter, e então, ajustando Katie nos braços dele, entrou no quarto, estendendo a mão para dar boas-vindas para Cutter. Cutter se afastou da parede e veio para frente, apertando o ombro de Elizabeth no caminho. "Cutter McKenzie," apresentou-se formalmente, inclinando-se para apertar a mão do homem. Elias a apertou firmemente. Em seguida, com um grunhido ele colocou Katie no chão. Sem tirar os olhos de Cutter. Ao mesmo tempo, ela voltou para a cama, arremessando-se em cima dela. "É um prazer saber que vocês conseguiram chegar," Elias disse, largando a mão de Cutter. Cutter acenou com a cabeça e então, pegando Elizabeth pelo pulso levou-a para frente. "Minha esposa," afirmou, com tanto orgulho que o coração de Elizabeth sacudiu violentamente ao som das palavras dele. Soou tão genuíno. Os olhos dela se encontraram com os de Cutter brevemente e depois se viraram para Elias. Ela engoliu nervosamente, mas a mão de Cutter nas suas costas lhe deu a coragem que ela precisava. “Eu... Eu... – É bom te conhecer... finalmente," ela terminou com suas pernas vacilantes. Elias sorriu, acenando, e embora ele não tenha lhe dado um abraço como Miss Mimi tinha feito, naquele instante o olhar dele estava lhe dando boas-vindas. Ainda assim, Elizabeth se sentiu pouco à vontade na presença dele, ciente da mentira como se fosse algo tangível entre eles.
"Foi uma viagem difícil para Liz," Cutter explicou como se estivesse sentindo seu mal-estar. Ele esfregou suas costas suavemente, num gesto carinhoso. "Imagino que sim," Elias falou, passando seus dedos longos por sua barba. Ele tossiu repentinamente, olhando rapidamente para Miss Mimi e em seguida limpou a garganta, olhando diretamente para Elizabeth. "Vocês vieram de trem?" Elizabeth tentou em vão esconder o pânico que ela sentia. Seu olhar a penetrava tão profundamente que ela estava certa de que ele podia ver a mentira. Seus pensamentos e voz fugiram. Ela tentou falar, para lhe dizer que não... Mas a voz dela simplesmente tinha sumido. Certamente ela perderia Katie! Não era possível enganar Elias Bass! Ela não podia! Como ela nunca tinha pensado nisso? Cutter deu-lhe um empurrão suave, pressionando-a sem palavras para falar. Quando isso não funcionou, sua mão escorregou para o seu traseiro, apertando-o suavemente. "Não!" ela engasgou, colocando sua mão nas costas para retirar a mão de Cutter de sua bunda. Elias deu um passo cauteloso para trás. Ele tossiu e limpou a garganta, olhando para sua governanta com as sobrancelhas levantadas. Miss Mimi se desviou, obviamente tendo visto o gesto também, e Elizabeth se sentiu inundada de vergonha por ter chocado a mulher. "Bem," Elias começou com um sorriso lento que se espalhou por seu rosto, "acho que vocês dois devem estar bem cansados.” Ele e Cutter compartilharam um olhar, e Cutter deu um sorriso, juntamente com um aceno de cabeça. Elizabeth entendeu claramente o que Elias não tinha falado em voz alta. Eles precisavam de um tempo para ficar sozinhos? Mas antes que ela pudesse proferir um protesto, ele estava ordenando para Katie sair da cama e a enxotando para fora do quarto. "Fora, Katie," ele disse suavemente, e em seguida, olhando para Cutter, ainda sorrindo, ele acrescentou, "deixaremos vocês por agora. Acho que vai haver muito tempo para nos familiarizarmos mais tarde." Cutter assentiu com a cabeça mais uma vez. "Acho que sim. "Mas eu quero ficar!" Katie opôs-se batendo o pé. "Você pode voltar mais tarde," Elias prometeu. "Agora vamos embora." Elizabeth abriu a boca para dizer que não havia nenhuma razão para que Katie não permanecesse com eles, quando a mão de Cutter escorregou mais uma vez para o seu traseiro. Ela deu um pulo com seu toque, e ela girou com veneno em seus olhos. Espere, ela prometeu silenciosamente. Apenas espere. Virando-se novamente, ela viu que Elias já estava empurrando Miss Mimi para a porta. E Katie também saiu, correndo, e seus passos foram sumindo no corredor. Seu protesto morreu na garganta dela. Miss Mimi abanou a cabeça. "Essa criança nunca caminha," ela reclamou. "Um dia ela vai se matar naqueles degraus!" Ela suspirou cansadamente e percebeu o que ela tinha dito e o motivo da visita de Elizabeth, ela olhou para Elizabeth, a expressão um pouco triste e ao mesmo tempo feliz.
Houve um momento de profunda compreensão entre as duas e então Miss Mimi sorriu e virou-se para Elizabeth. "Vou colocar um banho para você," ela falou tentando soar alegre. "Não, não, Mimi," Elias refutou, piscando para ela. "Você não vê que esses dois jovens precisam de um tempo sozinhos? Foi uma longa viagem para eles — pobre mulher está tão nervosa como um sapo. Dê-lhes tempo para respirar, pelo amor de Deus. Não se preocupe com o banho, Sra. McKenzie," ele falou já fora do quarto. "Podemos aquecê-lo depois quando você estiver pronta. Não tenha pressa." Seus passos ecoaram no chão de madeira, e então de repente eles foram interrompidos repentinamente. Miss Mimi gritou. "Elias — pára com isso!" Elias gemeu - metade riso, metade irritado. "Não acho que perdi essa tosse lá!" Miss Mimi falou. "Você não está bem! Não disse para você que ir e vir de St Louis a cavalo seria demais neste calor!" "Eu estou bem," Elias assegurou-lhe. Miss Mimi fungou em desacordo e então suspirou. "Não acha que ela se parece com Katherine?" ela perguntou, mudando de assunto. "Parece um pouco," Elias admitiu. "Oh, Elias," Mimi o censurou, sua voz tornando-se fraca na distância. "Você não deve ter olhado para o rosto dela! Eu disse parecida com Katherine! A risada de Elias era quase inaudível, e então Miss Mimi grasnou novamente, produzindo uma gargalhada final. Quando eles se foram, finalmente, e não havia perigo de alguém voltar, Elizabeth voltou seu rosto para Cutter, seu olhar indignado. "Como você pôde? Eles viram você fazer isso!" Com movimentos ágeis e musculosos como um gato de montanha, Cutter fechou a porta, e inclinou os ombros grossos contra ela, seu sorriso claramente predatório. "Viu o que?" ele perguntou com seus olhos brilhando com malícia. "Não finja que não sabe sobre o que eu estou falando Sr. McKenzie! Como pode fazer tal coisa?" "O quê?" ele perguntou numa voz rouca. "Ser tão familiar com a minha mulher?" Ele encolheu os ombros. "Acho que não consegui pensar em uma melhor maneira de mostrar para eles. Pelo amor de Deus, Liz, era só te dar mais um momento, e você poderia ter confessado ao homem todos os pecados que você já cometeu na vida. Não podia acontecer isso, concorda? Além disso, se eu fosse você não me preocuparia em chocar aqueles dois," ele disse com um sorriso. "Eles provavelmente nos ensinariam uma coisa ou duas." Primeiro a expressão de Elizabeth pareceu chocada e depois descrente. Ela perguntou: "Elias e Miss Mimi?" Cutter sacudiu os ombros, passando uma mão na franja umedecida pelo suor. "Oh — como você sabe?" Elizabeth perguntou. Pegando o resto da roupa de Cutter do saco, ela enfiou imprudentemente na gaveta aberta. Ela é a governanta, por piedade!"
Desfrutando de sua ira, Cutter sorriu. "Eu sei," ele respondeu com naturalidade. Ele gostava bastante da maneira que os olhos dela se iluminavam quando ela ficava escandalizada. "Você não poderia saber depois de apenas alguns instantes!" ela rebateu, jogando uma mecha de cabelo branqueado pelo sol por cima do ombro. Os dias de caminhada tinham transformado seus cabelos loiros em ouro, como se o sol os tivesse beijado, fazendo com que os fios mais claros emoldurassem seu rosto. E a pele dela o lembrava de pêssegos e creme; apesar do tempo que tinham passado no sol, parecia apenas um pouco mais escura. Seus lábios se curvavam maliciosamente. "quer apostar?" ele perguntou. O tom dele era sedutor com uma suavidade sedosa. Irritada, arrebatando um par de meias de Cutter, que ela tinha perdido pela cama, Elizabeth jogou-a, na gaveta aberta, fechando-a com raiva, desejando que ela tivesse atirado Cutter ao invés da meia. "Não, não quero apostar!" ela respondeu. "E..." Ela virou, sacudindo um dedo para ele, estreitando os olhos. "E outra coisa! Eu não posso acreditar que você me deixou sozinha do lado de fora, gritando para uma janela vazia! Você não escala a casa de alguém, entra e fica na casa, Sr. McKenzie! Isso não se faz!"
CUTTER LEVANTOU UMA SOBRANCELHA. "Não se faz?" ele perguntou se divertindo. "Não! Não se faz!" "Nesse caso —" Cutter tirou seu peso da porta rapidamente "— eu vou ter que me lembrar na próxima vez que eu entrar pela janela de alguém. Não é Sra. McKenzie?" Ele sorriu. Elizabeth deu um passo para trás, mas endireitou os ombros, olhando tão feroz quanto foi capaz. "Não ouse me chamar assim — e você pode parar de se divertir às minhas custas! Eu sei o que eu estou fazendo, Sr. McKenzie!" "Você sabe?” Ela estendeu uma mão para mandá-lo embora. "Afaste-se!" O sorriso de Cutter aumentou. Elizabeth recuou mais um passo, suas costas ficando rente ao guarda-roupa. "Cutter," ela avisou. Ele colocou uma mão acima da cabeça, apoiando-se. E então, depois de um momento interminável, ele a tocou, os dedos agarrando-a pela cintura — tão quente, onde ele a tocava — e os joelhos dela ficaram fracos. "Cutter," ela respirou, suas pernas tremendo. O braço serpenteava sobre a cintura dela, pegando-a, trazendo-a para ele, e seu coração disparou. Ela ficou mole em seus braços enquanto ele saboreava lentamente a sensação dela, seus corpos tão pertos, como se fossem um só. "Você é linda," ele disse baixinho. "Por favor, não... não minta pra mim," ela implorou. "Eu não sou... nunca fui." "Linda," Cutter disse, acariciando seu rosto suavemente. "Não me deixe jamais ouvir você dizer
o contrário." A fome em seus olhos pretos de ébano a fez sentir que ele estava falando a verdade. Que ele realmente quis dizer cada palavra. E o coração dela disparou. Seus olhos se fecharam. "Cutter..." Seus dedos passaram por seu cabelo, seus olhos brilhando. "Seu cabelo," ele sussurrou com tanta intensidade que enviou um arrepio pela coluna dela. Como fogo, seus lábios roçaram os dela, como um sussurro que foi direto para sua alma. Então, novamente, ela sentiu o calor aveludado dos lábios dele roubando qualquer vontade dela. "E a sua boca..." Novamente, seus lábios a tocaram, mas desta vez ele mordeu-lhe suavemente. Seus lábios se separaram com um gemido. Especialmente a sua boca. Ele inclinou a cabeça dela para trás. Colocando-a contra o guarda-roupa, e ele mergulhou para beijar seu pescoço, saboreando-o como se fosse a única coisa que ele queria na vida. Mas não era. E ambos sabiam. Elizabeth estava queimando, também. Era impossível de suportar. Todo o seu corpo doía; seus seios ansiavam o seu toque, seus lábios queriam o beijo dele. Seus lábios pressionados contra os dela e, em seguida, delicadamente ele cobriu sua boca, com um beijo lento, deixando-a sem fôlego. Sem aviso, sua língua a apunhalou profundamente, deixando sua boca ardendo como fogo, e a respiração dela simplesmente fugiu. Um calor se expandiu profundo dentro dela, se infiltrando em cada parte dela, fazendo-a tremer. Que Deus a ajudasse, ela também queria. Mas ela não podia. Ela balançou a cabeça, negando-lhe, negando-se, mas não podia falar, não podia dizer as palavras. Era uma coisa lá fora, sozinhos... mas aqui na casa? Os passos de pezinhos invadiram sua consciência, mas antes que ela pudesse se recuperar, a porta se abriu. Gritando com surpresa, Elizabeth enfiou o rosto no peito de Cutter, seu rosto com um rubor culposo. "Katie?" Elizabeth suspirou, a mão voando para o cabelo, alisando-o nervosamente para longe do seu rosto. Katie sorriu. "Eu só queria te mostrar uma coisa," ela sussurrou em voz alta, olhos grandes e redondos, como se quisesse enfatizar o segredo de sua visita. Ela veio para frente lentamente. E com os olhos fixados em Elizabeth, ela mostrou sua mão, palma para cima. Nele, para choque de Elizabeth, estava um pequeno medalhão que ela reconheceu imediatamente. Ela pegou-o reverentemente, e colocou-se de joelhos para se colocar ao nível dos olhos da Katie. Ela levantou a pequena mão de Katie, engoliu o nó que apareceu na garganta dela e olhou para ele por um longo instante. Lentamente, ela o abriu para encontrar dois retratos pequenos. Katherine... e ela. Quando ela olhou para ele, as lembranças começaram a assaltá-la. Tirando seu olhar para longe do medalhão, ela encontrou Katie olhando para ela com expectativa.
"Onde é que..." Elizabeth se engasgou com as palavras dela. "Ah, Katie...“ "É para você," Katie sussurrou encantada com o presente dela, bem como a expressão que ela tinha visto no rosto de sua nova tia. "Minha avó deu para minha mãe, e então minha mãe me deu antes de Deus levá-la para o céu." Ela levantou seu queixo, piscando um olho tão docemente que o coração de Elizabeth começou a doer pela perda que ela estava aceitando tão bravamente. "Oh, Katie, você tem certeza? Isso é tão especial. Talvez sua mãe quisesse que você ficasse com ele." "Bem... se você me levar para a sua casa," ela sugeriu com um doce sussurro "Então, poderíamos compartilhar." Ela levantou as mãos como se dissesse: você vê quão fácil pode ser? "Claro," Elizabeth respondeu, com o coração partido por cada gesto de Katie, e com cada palavra que ela tinha dito. "E nós vamos compartilhar." Lágrimas brilhavam nos olhos dela. "Nós certamente vamos." "Porque meu avô disse que ele está muito cansado," Katie revelou com naturalidade, e o coração de Elizabeth se torceu novamente. "Você está bem?” Elizabeth engoliu o caroço que tinha se formado em sua garganta. "Sim e graças a você, Katie." Ela levantou o medalhão. "Eu vou guardar isso para sempre." Ela procurou em vão pela coisa certa para dizer, mas não conseguiu pensar em nada. Lá de baixo, a voz de Miss Mimi a chamou e os olhos de Katie cresceram instantaneamente. "Não diga nada!" Ela falou num sussurro ansioso. "O vovô disse que você estava cansada e que você ia dormir... e que eu não devia te incomodar." Ela levantou uma mão e a sacudiu. "Mas eu não incomodei... então não diga nada... está bem?" Ela parecia tão insegura de si mesma que Elizabeth teve que sorrir. "Tudo bem," Elizabeth concordou, fechando o seu punho contra o medalhão de prata. "Não vou contar." Os olhos escuros de Katie brilharam, e com um sorriso enorme, ela de repente se virou e saiu em disparada do quarto, esquecendo-se de fechar a porta na sua pressa. Lentamente, aproveitando o momento, Elizabeth virou-se para encontrar Cutter observando-a atentamente. Ele inclinou-se casualmente, um ombro no guarda-roupa, na sua postura usual. Mas ele não disse nada, mas seu olhar enviou um formigamento pelo seu corpo. O que ele devia pensar dela? Como ele continuava a investigá-la, ela sentiu um profundo sentimento de vergonha pela situação que eles tinham sido apanhados. Por ninguém menos do que Katie! Não era a primeira vez que ela se perguntava o que estava errado com ela, porque ela se esquecia de tudo, inclusive de respirar, quando estava na sua presença? O que tinha acontecido com toda a cautela e bom senso, que o pai dela tinha incutido nela? Ela se tornava tão fraca com apenas um olhar de Cutter, e ela estremecia interiormente quando pensava em seus lábios contra os dela. E então seu olhar foi atraído para a cama, a única cama no quarto, e ela mordiscou nervosamente seu lábio inferior.
"Esta certamente foi por pouco," ela disse abruptamente. Cutter não respondeu somente levantou uma sobrancelha, e o embaraço de Elizabeth transformou-se rapidamente em aborrecimento. "Sobre esta noite, Cutter... Acho que não devemos... não deveríamos..." Que Deus a ajudasse, mas ela não podia dizer. Ela viu como a mandíbula de Cutter se trincou e ela sentiu um tremor em volta dela. Ela tentou novamente. "Não espero — bem, porque eu sou mulher, eu devo dormir na cama..." Seu olhar foi atraído para a cadeira de madeira, e ela estremeceu, pensando como deveria ser desconfortável dormir sentada nela. Mas então, o único outro recurso... seria dormir debaixo do céu aberto, ela pensou. Ela não achava que era certo, e ela não envergonharia a si mesma, ou a família de sua irmã, dormindo com um homem com quem ela não era casada. "Vou dormir na cadeira," ela concluiu, mordiscando suavemente o lábio. "Você pode ficar com a cama." Com um aceno lacônico, Cutter se desencostou do guarda-roupa. "Entendi," ele disse, seus olhos ardentes, quando ele veio para perto dela. "É certo compartilhar o saco de dormir, mas não a sua cama?" Balançando a cabeça em desgosto, Cutter passou por ela, dando-lhe um olhar de relance enquanto ele passava. Ele abriu a porta e parou. Sem olhar para ela, ele disse, "não se incomode com a cadeira. Você é bem-vinda na cama!" Ele queria acrescentar que ele não voltaria, mas as palavras não saíram da sua boca. E em sua frustração, ele percebeu que aquele era o cerne de tudo; ele sabia que ia voltar. Ele bateu a porta quando saiu, deixando-a de pé, no meio do quarto, em silêncio.
22
Não tinha um músculo em seu corpo que não estivesse firmemente enrijecido de fúria quando Cutter se inclinou sobre a cerca, agarrando-a, e ainda assim ele esperava parecer casual quando ele olhasse para os campos. Trigo, ele pensou. Hectares e hectares de trigo. Ele apertou a madeira até a palma da mão ficar branca, sem fluxo de sangue. O sol estava começando a se por, e a grama balançava suavemente com a brisa, a extremidade dourada-marrom se misturando contra a luz dourada do céu... A cena era tão discretamente sedutora como ela era. Diabos, ele devia ter previsto. Então por que ele não tinha? Ele balançou a cabeça com raiva dele mesmo. "Arranjou confusão com a patroa?" Ouvindo a voz de Elias, Cutter enrijeceu subitamente, os minúsculos pêlos na parte de trás do seu pescoço eriçados. Disposto a tirar a tensão do seu corpo, ele se endireitou e virou as costas para a cerca para ver Elias Bass andando em direção a ele, sorrindo. Ele se inclinou e cruzou os tornozelos, assumindo uma postura negligente, olhando brevemente para a casa, depois de volta para ele. "Você pode dizer isso," ele concordou com tristeza. Elias riu e parou diante dele, cruzando os braços. De novo Cutter desviou o olhar — tempo suficiente para guardar suas emoções vulcânicas — e depois ele voltou a olhar para ele. Ele não podia deixar Elias ver sua ira — ele não podia fazer isso com Elizabeth, ele corrigiu a si mesmo. Desde quando ele tinha ficado com um interesse pessoal nisto? "Acredito que ela esteja com medo de que nós tenhamos dado uma má primeira impressão," ele disse. "E você?" Elias perguntou. Cutter deu dê ombros. "Eu acho que ela já está meio apaixonada por sua neta," ele disse sem rodeios. "E ela está morrendo de medo que você possa mudar de idéia — que você vá nos desaprovar por algum motivo estranho." Ele olhou meticulosamente a expressão de Elias, vendo uma cor de culpa que imediatamente impregnou o rosto do homem. Elias assentiu com a cabeça. "Você é realmente uma pessoa direta, mão é McKenzie?" Ele olhou
para baixo, para as botas dele e chutou o chão, então novamente olhou para Cutter. "Bem, eu gosto disso," ele anunciou. Cutter apenas acenou com a cabeça. Claro que sim... Ele gostava — mas! Droga, ele quase podia sentir a palavra como se ela estivesse suspensa entre eles. Uma coisa tangível. Ele preparava-se para o som dela. "Sobre esse motivo estranho, McKenzie... Estou feliz que vocês vieram." Elias virou as costas para a cerca e arrastou-se para o topo, sentando-se na parte superior ao lado de Cutter e enganchou o salto das botas sobre o degrau mais baixo. Ele suspirou pesadamente, o olhar cansado. "Há algo que precisamos conversar." Mais uma vez o cabelo da nuca do Cutter se eriçou. Ele apertou sua mão direita. Lá estava — ele podia senti-las. Estava no tom da voz de Elias, e ele se xingou novamente; por ele ter acreditado que poderia ser de outra forma, por achar que Elias Bass aprovaria Elizabeth — e por ter deixado Elizabeth entrar na sua maldita vida! Seu olhar mudou repentinamente para Elias, o coração dele martelando, seu estomago se torcendo violentamente. Elias estava olhando para ele cuidadosamente. Cutter tirou um momento para afastar suas emoções e então perguntou calmamente, "Você tem um problema com este motivo, Bass"? Mais uma vez houve um silêncio enquanto os dois homens se olhavam, medindo um ao outro. "Não," Elias respondeu depois de um momento sombrio. Suas sobrancelhas subiram. "Você tem algum problema McKenzie? Agora, espere um momento antes de você falar!" ele acrescentou quando as sobrancelhas de Cutter colidiram ferozmente. Ele estendeu uma mão entre eles. "Eu acredito que tenho o direito de uma resposta! Katie é a minha única neta! Juro por Deus, McKenzie, não tenho nenhum problema com você — não importa o que você é!" Cutter endireitou-se abruptamente colocando-se totalmente ereto. "O que eu sou-" "Só me permita terminar! O que você é afeta a minha neta, e ambos sabemos disso. Eu me importo muito com ela e não quero discutir isso com você! Parece-me que você é um homem decente. Não sou cego — eu sei o que eu vi lá em cima, entre você e Elizabeth e isso é bom. Isso diz muito! Mas eu só preciso saber se vocês sabem no que vocês estão se metendo — no que vocês estão metendo a minha neta!" Só precisava saber? Sem mas? Afastando a exaltação que ele sentiu no que ele não estava ouvindo, Cutter resolveu voltar a se recostar na cerca e cruzou os braços. Ele podia ouvir o apelo na voz do velho. Sem parar de olhar para Elias, seu maxilar permanecendo esticado, ele tinha medo de que ele estivesse confundindo o que Elias estava dizendo. Elias abanou a cabeça gravemente, escolhendo suas palavras com cautela. "Tenho que saber que ela vai ficar bem, McKenzie — que você vai cuidar dela... que você não vai deixá-los chegar até ela." Não havia necessidade de esclarecer quem eles eram. Ambos sabiam. Ainda assim Cutter não respondeu. Um músculo tremeu perto do seu queixo, embora ele não tivesse certeza de que não foi
por simples alívio. Não tinha nenhum mas. "Você vê, eu sei," Elias começou com cuidado, olhando para Cutter com firmeza. "Eu sei como as pessoas podem ser cruéis." Cutter deu um aceno, reconhecendo o que Elias estava dizendo. Ele olhou para a casa e disse, "já faz muito tempo, Bass, desde que alguém tenha tido a coragem de fazer qualquer coisa errada..." Seu olhar voltou-se para Elias. "Na minha cara ou de qualquer outra forma. Ainda assim não posso prometer para você como as outras pessoas vão agir. Mas garanto que eu vou saber lidar com o que acontecer. E..." Ele olhou para o outro lado, incapaz de olhar Elias nos olhos enquanto ele falava o resto. "Ela vai ter um lar bom e amoroso.” Era verdade, ele sabia — com ou sem ele na foto. "Bem," respondeu Elias, "eu-" "Vovô! Vovô — espera por mim! Eu tenho que te dizer uma coisa!” A porta da frente da casa bateu à distância. Tanto Cutter quanto Elias olharam em direção ao som da voz exuberante de Katie. Cada um deles assistiu sua abordagem entusiasmada com uma mistura estranha de alívio e frustração. Cutter foi o primeiro a olhar para ela. Ele balançou a cabeça, de repente, recordando sua interrupção anterior. "Ela sempre tem esse péssimo sincronismo?" ele perguntou sem rodeios, apesar de seus lábios estarem à beira de um sorriso. Seu rosto tinha sido invadido por um sorriso largo quando ele virou seu rosto para Cutter, malícia brilhando em seus olhos. "Sempre," ele jurou enfaticamente. Só então, Katie alcançou-os. Ela olhou para eles, amassando o nariz em desgosto. "Tia Lizabeth tem que tomar um banho!" ela exclamou com desgosto. "Por que Miss Mimi sempre quer dar banho em todo mundo? Eu — Preguiçoso!" ela enumerou. "Agora na tia Lizabeth!" Elizabeth estava tomando banho. Um arrepio involuntário percorreu Cutter ao ouvir esta declaração, e ao mesmo tempo seu olhar foi atraído para a casa. O que ele não daria... "E nós ainda nem brincamos!" Katie exclamou. Cutter se livrou de seus pensamentos carnais, e riu da expressão descontente de Katie. Ele inclinou-se no nível dos olhos dela. Ainda rindo, ele perguntou, "O que você me diz, parceira? Acho que devíamos encontrar um esconderijo antes que a Miss Mimi saia atrás de nós para nos esfregar também?" Katie riu e acenou com a cabeça vigorosamente. O banho que Miss Mimi tinha prometido foi maravilhosamente relaxante, e pela primeira vez em mais de uma semana, Elizabeth sentiu-se renovada. Apesar do fato da casa proporcionar mais luxos que Elizabeth jamais tinha conhecido e jamais podia imaginar existir sob o mesmo teto, o ritual do banho foi pouco diferente do que era em sua própria casa de três quartos pequenos — na cozinha, com água aquecida do fogão. Apenas, e verdade fosse dita, a banheira era muito mais agradável e
muito mais confortável. A banheira em que ela agora se encontrava era maior que a bacia pequena que ela costumava lavar suas roupas em casa. Era um banho, com água limpa e morna, e Elizabeth nunca pensaria em se queixar. Foi incrível como rapidamente ela ficou imune às dores da cavalgada — para ser sincera — e quão rapidamente elas retornariam no final da jornada. Na verdade, ela estava com medo de olhar, mas ela podia jurar que sua bunda estava machucada e devia estar azul. E a parte traseira das coxas? Ela fez uma careta interiormente. Se elas não estivessem, seria um milagre. Miss Mimi, que Deus abençoe sempre a sua alma, permaneceu perto dela para lavar seu cabelo, sabendo que seria uma tarefa impossível para ela mesma lavar na banheira que ela estava sentada. "Não consigo evitar e dizer o quanto você se parece com Katherine!" Miss Mimi jurou enquanto lhe esfregava. Elizabeth estremeceu com as unhas de Miss Mimi sobre seu couro cabeludo. "É estranho ouvir você dizendo isso," ela admitiu fazendo caretas. "Porque eu nunca me achei parecida com ela. Katherine foi sempre tão bonita." "Sim, ela era," Miss Mimi concordou sobriamente. "Mas você já se olhou no espelho, Elizabeth? Você certamente não pode se menosprezar! Porque, aposto que todos os homens em Sioux Falls choraram no dia que você se casou!" Elizabeth sorriu para a afirmação ridícula, lembrando-se da mentira dela. "Acredito que não," ela admitiu, odiando desapontar Miss Mimi. "Mas nunca me senti mal por isso," ela racionalizou, "porque eu nunca conheci muitos homens que já não fossem casados. Sioux Falls não é exatamente cheia de pessoas nos dias de hoje." "Que pena" Miss Mimi lamentou. "Mas deu tudo certo para você, não foi, querida?" Terminando de lavar o cabelo de Elizabeth, ela mergulhou um jarro na banheira. "Feche os olhos," ela mandou, e Elizabeth imediatamente fez o que ela pediu. "Seu homem é realmente algo agradável para se olhar," Miss Mimi comentou casualmente, mergulhando o jarro mais uma vez. "Eu certamente vejo por que você o escolheu. Porque," ela declarou, com uma risadinha, "se eu não estivesse —" ela piscou e continuou um pouco mais sobriamente. "Bem, se eu não fosse tão enervantemente velha, e ele não fosse seu marido..." Elizabeth se enrijeceu se sentindo culpada enquanto Miss Mimi derramava mais água sobre a cabeça dela — desta vez sem avisar Elizabeth para fechar os olhos... e a boca, que estava aberta. Elizabeth balbuciou, vomitando água. Com uma última tossida, ela se recompôs. Com certeza ela não podia continuar a sentir-se tão pouco à vontade, sempre que Cutter fosse mencionado... ou a palavra marido. Não teria um jeito mais certo para ela perder Katie. Ainda assim, ela tinha que admitir que Miss Mimi estivesse certa. Cutter era bonito como o diabo. Ele certamente era o homem mais fascinante que ela já tinha conhecido. Recordando a maneira que ele tinha falado com ela apenas algumas horas antes, ela não pode
conter o suspiro ofegante que passou nos seus lábios. O que será que ele estava fazendo agora? Ela se perguntou. E então, ela se lembrou do olhar irado que ele lhe deu antes de sair de seu quarto com sua testa sulcada. Quanto tempo ele pretendia ficar zangado com ela desta vez? “... De qualquer forma, eu espero que você não cometa o mesmo erro em seu casamento," Miss Mimi estava dizendo. Percebendo que seus pensamentos tinham ficado à deriva enquanto Miss Mimi estava tagarelando, e que ela tinha perdido o último assunto que ela tinha falado, Elizabeth assentiu distraidamente, tentando descobrir o que era que elas estavam falando. "Não! Diga que não!" Miss Mimi a repreendeu, vendo seu assentimento. "Ah, Elizabeth! Perdoeme por falar tão abertamente, mas dói-me ver um casal tão lindo perder tanto em sua relação por um problema de recato!" Ela suspirou. "Mas... como eu disse, Katherine era assim, também." Franzindo a testa, ela veio para frente da banheira, arrastando um banquinho. "Você, pelo menos, tem uma desculpa — embora não depois de hoje, você não vai ter!" Com uma expressão grave, Miss Mimi sentou-se de frente para Elizabeth. "Agora," ela começou, "percebo que seu pai nunca deve ter lhe dito essas coisas, mas eu não tenho tal relutância. O discurso de Frank não me incomoda nem um pouco." Elizabeth assentiu em silêncio, não tendo absolutamente nenhuma idéia o que tinha deixado Miss Mimi tão irritada. Ela olhou fixamente, tentando não parecer tão confusa quanto ela se sentia. "Sua pobre irmã tinha a falsa impressão — e não vou dizer quem foi que a deu, mas tenho certeza que você sabe... De qualquer forma, não é verdade que você deva apenas deitar e simplesmente fazer o seu dever." Elizabeth estava mais confusa do que nunca; sua sobrancelha arqueou-se mais profundamente e de repente seus olhos se arregalaram e ela afundou-se dentro da banheira, humilhada. Para seu espanto, ela finalmente estava começando a entender o tema. Chocada, ela evitou os olhos dela. Aparentemente, vendo a reação de culpada dela, fez Miss Mimi ficar ainda mais irritada. "Onde tal noção ridícula começou, eu nunca vou saber! Mas isso, minha querida — e tenho certeza de que você sabe muito bem o que quero dizer — é tão especial para uma mulher, como é para um homem. E essa é a verdade de Deus— eu juro!" Muito desconcertada para responder, Elizabeth simplesmente olhava para as bolhas de sabão, assistindo-as explodir, uma por uma, pensando que ela queria estar em qualquer lugar, mas não nessa banheira, nesta cozinha — ouvindo Miss Mimi. Nunca ninguém tinha falado com ela sobre essas coisas, e ela não sabia como reagir. Obviamente ela tinha conseguido fazer com que Miss Mimi não ficasse chocada com ela mais cedo. Nada podia chocar a mulher! Elizabeth estava certa. “Agora pense em Miss Katherine," Miss Mimi continuou sombriamente, "eu sei que ela amava muito o John, mas aquela pobre criança acreditava em tudo o que sua mãe lhe tinha dito — cada pequena asneira! E eu vou te dizer agora precisamente o que eu disse para ela. Não há absolutamente nada de errado em amar seu homem. É a coisa mais natural do mundo você querer amar o seu homem
— e não pense que carregar um bebê muda isso. Você não ouse ter vergonha se acontecer de você querer ele ainda mais durante esse período. É assim que deve ser! Você vai ver," ela prometeu, acenando um dedo em reprovação. "Eu sei o que eu vejo nos olhos daquele seu homem — ele é vigoroso. Basta você não lutar. Prometa-me que você vai fazer isso."
COM AS BOCHECHAS cada vez mais vermelhas, Elizabeth afundou ainda mais dentro da banheira. "Você entende o que estou dizendo?" Se forçando para olhar para Miss Mimi, Elizabeth assentiu rapidamente, seu rosto em chamas. “Oh, pelo amor de Deus Elizabeth, pare de corar a cada minuto!" Miss Mimi a repreendeu. "Não há absolutamente nada para se envergonhar. Nós somos mulheres crescidas, não somos?" Elizabeth assentiu com a cabeça novamente, o rosto ficando cada vez mais vermelho, e Miss Mimi sorriu para ela. Então de repente ela deu um tapinha em seus joelhos. "Bem isso é tudo o que tenho a dizer sobre o assunto. Sinceramente, só não quero que se sinta culpada e então faça seu homem se sentir culpado por algo que Deus sempre quis que fosse assim como certamente ele fez a chuva!" Para imenso alívio de Elizabeth, Miss Mimi se levantou, pegando uma toalha da mesa e entregando-a para ela. "Agora, vamos sair daí," ela afirmou. "Com certeza Elias colocou seu marido para trabalhar — ele já está há tanto tempo sem seu filho. Há tanta coisa que não posso mais fazer por conta própria," Ela lamentou com um suspiro. "Isso realmente o incomoda, sabe? De qualquer forma, eles com certeza vão chegar famintos — então para fora! Para fora!" Durante todo o jantar, Elizabeth não conseguiu olhar para ninguém por muito tempo. Se Miss Mimi sorrisse para ela, ela iria recordar a conversa delas e morreria de vergonha. Mesmo agora, seu rosto ficava vermelho só de pensar, enquanto ela pegava um pedaço de sua cenoura cozida. Quando Cutter nem mesmo olhou para ela, ela corou até suas raízes, com medo de olhar para Miss Mimi porque ela poderia estar vendo como um olhava para o outro. Quando Elias Bass olhou para ela por um longo momento, ela se sentiu culpada por sua mentira. Graças a Deus parecia que Cutter estava certo sobre os dois, porque na maior parte do tempo, Elias e Miss Mimi pareciam muito preocupados um com o outro para prestar atenção neles. O único refúgio parecia ser Katie. Katie tinha saído com Cutter e seu avô durante o banho de Elizabeth, para vê-los trabalhar e parecia realmente ocupada com Cutter. Os olhos dela nunca se desviam dele. Quando a conversa mudou para falar sobre Petersburgo, Katie de repente raspou sua cadeira para trás, deslizando-a pelo piso. "Katie?" Elias advertiu. Ela congelou com apenas um pé no chão. "Oh!" ela respondeu com uma careta. "Esqueci. Será que eu posso me levantar e sair da mesa? Eu quero dar comida para o Preguiçoso," ela explicou com os olhos tristes.
Elias colocou o garfo na mesa, e lançou um olhar para Elizabeth. "Tudo bem," ele finalmente permitiu. Olhando para Katie. Ele tossiu discretamente. "Pode ir." Katie imediatamente pegou seu prato da mesa e saiu. "Katie." Ela parou subitamente, voltando-se novamente para enfrentar o avô. “Leve isto, também." Katie foi até onde Elias estava sentado, sorrindo quando ele colocou um osso grande, da carne de porco no prato dela. "Preguiçoso vai gostar!" ela informou a todos. Seu olhar foi atraído para Elizabeth quando ela explicou. "Porque ele gosta dos ossos grandes." E então ela se virou e saiu correndo da sala, segurando o prato com ossos e restos de comida. Elias suspirou cansadamente. "Não parece gostar de ouvir sobre o pai dela," ele disse com tristeza na voz dele. Pela primeira vez desde sua chegada, Elizabeth encontrou o olhar de Elias sem vacilar. "Às vezes é muito doloroso," ela revelou. "Quando minha mãe foi embora, nem eu nem meu pai falávamos sobre o assunto... nunca." Seus olhos ficaram distantes por um momento, antes de se focarem novamente em Elias. Ela deu de ombros. "Só dói muito, tenha certeza." Elias deu um aceno de acordo, olhando automaticamente para a porta pela qual Katie tinha desaparecido. "Katherine e John eram muito bons para ela, você sabe. Os melhores. Tem sido muito difícil para ela ficar sem eles. Por muito tempo ela não os deixou ir... especialmente sua mãe." Elizabeth assentiu, entendendo perfeitamente. "Katherine... ela morreu de febre puerperal, não é?" Os olhos dela ficaram triste, melancólicos, quando ela se perguntava se não teria havido alguma coisa que ela pudesse ter feito para impedir a morte da irmã. Miss Mimi assentiu com a cabeça, com melancolia nos olhos. "Sim, foi assim que ela morreu. Eu estava com ela, você sabe. Na verdade, foi nos últimos momentos de vida que ela falou que queria que você criasse sua filha. Acho que ela sabia — "ela olhou para Elias. "Bem...“ Elias limpou a garganta. "Você vê... bem, ela sabia que Miss Mimi e eu... bem já temos uma certa idade... e não é tão fácil... bem, meu Deus — realmente não sei como dizer isto..." "Não precisa," Cutter disse. "Nós entendemos, não é Elizabeth?" Ele olhou do outro lado da mesa para ela. Elizabeth parou de mastigar e assentiu com a cabeça às pressas. O olhar de Cutter se deslocou para Elias. "Eu e a Liz vamos tratar muito bem da sua neta, Sr. Bass. Ela é uma boa menina." Para surpresa de Cutter, ele viu que ele realmente sentia cada palavra que ele tinha dito. Ele olhou para Elizabeth para ver se ela parecia chocada pela intensidade da sua declaração, assim como ele se sentia. Seus olhares se encontraram e nenhum deles capazes de fugir. "Eu sei que vocês vão," Elias respondeu após um minuto de silêncio. "Se eu tive alguma dúvida antes... Agora já não tenho mais. Eu vejo que vocês dois se amam muito, e isso tira uma carga grande
dos meus ombros." Novamente, os olhares de Elizabeth e de Cutter foram atraídos um para o outro. "Você acabou?" Elias perguntou para Cutter. Cutter não respondeu. Ele ainda estava encarando Elizabeth, seus olhos procurando. "McKenzie?" Levantando as sobrancelhas, Cutter deu uma respiração profunda quando ele levou seu olhar para longe de Elizabeth. Ele assentiu com a cabeça. Elias levantou-se. "Ótimo" ele respondeu. "Pensei que podíamos jogar um pouquinho." Cutter se levantou, jogando seu guardanapo na mesa. Ele piscou para Elizabeth, rindo quando ela corou, querendo que ela soubesse que ele não estava zangado, mas estava se divertindo. "Mostre o caminho," ele disse para Elias. Como se estivesse sentindo seu sorriso brilhante, Elizabeth dirigiu seu olhar para Miss Mimi. Quando Cutter virou as costas para a mesa, Miss Mimi acenou com uma colher, seu sorriso se aprofundou, como se estivesse dizendo, eu não te disse, querida.
23
E lizabeth fez o que pôde para ajudar Miss Mimi com os pratos... e então ela subiu as escadas para o quarto dela, completamente exausta. Uma vez lá, ela disse para si mesma que não queria ser apanhada nua, então não tirou logo suas roupas. E foi uma coisa boa, porque depois de um tempo, Katie veio até o quarto na ponta dos pés para dizer boa noite, novamente, sem se preocupar em bater. Sorrindo, Elizabeth a abraçou e então a levou de volta para o quarto dela, colocando-a na cama e puxando os cobertores até seu queixo. Sem pensar, ela começou a cantar: "Ai de mim, meu amor, você errou quando me deixou partir, e eu te amei tanto, deliciando-me com a sua companhia. Greensleeves era toda a minha alegria, Greensleeves era a minha —" Ela parou abruptamente, quando de repente percebeu o que estava fazendo, sua testa franzida, a batida do seu coração descontrolada. "É uma canção muito bonita, tia Lizabeth." Elizabeth assentiu distraidamente. "Sim. Sim, é." Ela olhou para Katie. "Sua avó costumava cantá-la para sua mãe e para mim quando éramos crianças," ela explicou. "E sua avó cantava para ela." Ela sorriu com a lembrança, olhando pela janela melancolicamente, para a noite, vendo fios dourados que saíam de uma lamparina brilhando na distância, e duas meninas com cabelos cintilantes, seus rostos juntos sob os cobertores. Katherine tinha se agarrado a ela tantas noites, fazendo carinho pelo seu cabelo. "Canta de novo, Beth," ela podia ouvir uma voz dizendo novamente em sua mente. E então um suspiro. "Mais uma vez, Katie. Só mais uma vez.” Elizabeth novamente olhou para a filha que sua irmã tinha trazido para este mundo. Outra Katie para amar. "Às vezes até mesmo," ela revelou num sussurro dolorido, comovido, "eu cantava essa música para tua mãe. Ela gostava muito mais do que eu." Os olhos de Katie estavam abertos. "Vocês conseguiam dormir juntas todas as noites?" ela perguntou com medo... "Eu nunca tive ninguém para dormir comigo — exceto minha mãe, às vezes." Elizabeth sorriu, segurando as lágrimas. "Sim, Katie, nós conseguíamos." Delicadamente, ela
tirou os cachos da testa de Katie. "Tínhamos apenas um quarto, —" a voz dela estava recheada de emoções. "E... e tínhamos que compartilhá-lo. Mas então sua mãe se mudou e eu tive que dormir sozinha. Assim como você. "É muito, muito difícil dormir sozinha, ela admitiu. "Não é?" Silenciosamente, ela aceitou o fato de que ela nunca tinha se acostumado a isso. E ocorreu-lhe de repente que mesmo ela não tendo passado as últimas noites com Cutter, ela não cantou para adormecer — não desde a noite que Cutter lhe perguntou sobre "Greensleeves". Pela primeira vez em anos, ela tinha esquecido o medo dela de dormir sozinha todas as noites: ela acordava numa casa vazia, com um coração vazio. Mas a verdade era que sua casa estava vazia, no entanto, o coração dela nunca tinha estado tão cheio. Katie balançou a cabeça. "Sim, mas você nunca viu um fantasma quando você estava sozinha? Eu vi!" ela jurou enfaticamente, mudando os pensamentos de Elizabeth. Elizabeth riu do tom dela. "Não," ela respondeu tão sobriamente quanto possível, sacudindo a cabeça, pensativamente. "Não acredito que já tenho visto. Gostaria de saber como era seu fantasma," ela ponderou em voz alta, tocando delicadamente o cabelo macio de Katie. "Como a minha mãe," Katie respondeu imediatamente, enviando um arrepio pela coluna de Elizabeth. "E eu não fiquei com medo," Katie disse, "mas meu avô disse que era um fantasma que apareceu no meu sonho, e que de qualquer maneira e eu não deveria ficar com medo. Quer saber o que o fantasma me disse?" ela perguntou, com o toque certo de intriga. Elizabeth acariciou com as costas dos seus dedos a bochecha de Katie, sorrindo com carinho para ela. Sem mesmo tentar, Katie tinha se tornado, de alguma forma, uma parte dela. E tinha acontecido facilmente e rapidamente. "O que o fantasma disse?" Os olhos de Katie se alargaram. A luz da lamparina caindo no seu rosto fazia sua pele ficar pálida, e seus traços etéreos. "Ela me disse que você ia ser a minha mamãe agora." A declaração inesperada fez o coração de Elizabeth se acelerar. "Eu perguntei para o meu avô, e ele disse que você agora é a minha mãe. Agora você é minha mãe?" ela quis saber, seus olhos escuros redondos e esperançosos. Novamente, Elizabeth sentiu seu peito se apertar. "Você quer que eu seja a sua mamãe?" ela perguntou com a voz trêmula. Um sorriso doce tocou os lábios de Katie, e ela assentiu lentamente. Sorrindo fracamente, com o coração tão cheio como nunca tinha estado, Elizabeth se dobrou para beijar a criança na testa, levando o cobertor para mais perto do seu pequeno queixo. "Então eu gostaria também, muito, muito!" ela assegurou-lhe. Ela se levantou, mas os dedos dela continuaram a acariciar o rosto de Katie. "Boa noite, querida."
COMO UM GATO SATISFEITO, Katie se esticou, e Elizabeth quase podia sentir a tensão deixando-a. "Boa noite, tia Lizabeth," ela respondeu. Elizabeth diminuiu a lamparina lentamente, esperando por um protesto. Quando ele não veio, ela
a apagou completamente e então se dobrou novamente para beijar a macia bochecha de Katie, pensando, com um suspiro, que este dia tinha sido um dos mais emocionantes que já tinha acontecido na vida dela. Os olhos cintilantes de Katie a seguiam, quando ela foi até a porta. "Doces sonhos," Elizabeth sussurrou, sentindo de repente tanto amor como ela nunca tinha sentido. Ela fechou a porta atrás dela, tocando-a brevemente, fechando os olhos quando se virou. No caminho de volta para o quarto dela, Elizabeth decidiu com um suspiro que seria muito tolo aguardar a noite toda, esperando Cutter completamente vestida. Cutter e Elias podiam muito bem "jogar" até tarde da noite e não fazia sentido ela não ir para a cama. Além disso, não havia uma razão para ela esperar. Com a decisão tomada, uma vez que ela já estava no quarto, ela rapidamente tirou suas roupas, colocou a camisola, e então ela desfez a cama tirando a colcha e colocando-a em cima da cadeira para Cutter. Saboreando o luxo de lençóis limpos contra sua pele, ela se espalhou na cama. Distraidamente, ela apagou a lamparina, aconchegando-se profundamente nos lençóis. Pouco mais de quinze minutos tinha passado quando Cutter entrou. Fechando a porta, ele imediatamente começou a desabotoar a camisa na escuridão. Elizabeth não disse nada, só observava, uma pequena parte dela se sentindo culpada, porque ela estava se esticando através das sombras para conseguir qualquer vislumbre dele. Para sua decepção, ela não podia ver nada, porque as cortinas estavam fechadas e a escuridão era impenetrável. Como se ele estivesse lendo os pensamentos dela, Cutter de repente foi em direção da janela, descartando a camisa no caminho e soltando-a na extremidade da cama. Abrindo as cortinas, ele deixou o luar prateado penetrar no quarto e Elizabeth apertou a coberta, não querendo que ele soubesse que ela ainda estava acordada. Um momento depois, quando o silêncio do quarto despertou sua curiosidade, ela abriu os olhos. Ele estava de pé, olhando pela janela, de perfil para ela. A luz que caia em cima de seu corpo o fazia parecer cruel. Fazia seus ombros largos brilharem. Enquanto ela olhava, ele se virou repentinamente, e ela mordeu seu cobertor. Através de seus cílios, ela assistiu-o abrir o botão da sua calça, e o som dele tirando-a enviou um arrepio de lembrança por seu corpo. Ele se sentou na cadeira para remover a calça. Ele puxou uma bota e então se mudou para tirar a outra, gemendo enquanto a libertava. Finalmente, ele a empurrou para fora, mas não sem emitir o que parecia um gemido suspeito... Era dor que ele estava sentindo? Com uma maldição, ele atirou a bota para o chão e o resto da calça de seu corpo. Tirou suas meias, suspirando longamente enquanto elas caíam no chão também. E então, Elizabeth não podia dizer o que ele estava fazendo, mas parecia que ele estava inspecionando a sola do seu pé na escuridão. Por qual motivo, ela não sabia, mas ela esperava que ele pegasse a lamparina para iluminar. Sinceramente, como é que ele esperava ver qualquer coisa no escuro? Ele se virou em direção da janela, de repente, levantando o pé esquerdo para sondá-lo pela luz da lua. "Maldição," ele disse.
Esquecendo-se de sua preocupação de fingir que ela deveria estar dormindo, Elizabeth se moveu. Ela piscou os olhos, tentando obter um vislumbre do seu pé, mas não viu nada. Ela amaldiçoou a escuridão. Ouvindo os lençóis farfalhar, Cutter deixou o pé cair, e olhou para a cama. Elizabeth congelou. "Você está acordada?" Cutter suspirou irritado quando não houve resposta. Ele tinha a esperança de encontrá-la acordada, mas quando abriu a porta encontrou as luzes apagadas, em vez disso, e Elizabeth confortavelmente aconchegada nas cobertas, e ele não teve coragem para acordá-la. Diabos, o pé dele estava doendo bastante e ele queria que ela desse uma olhada, mas não queria acordá-la só para isso. Ele já tinha passado por dores piores. Além disso, ele tinha derrubado suficiente bebida pela goela abaixo o que deveria já tê-lo anestesiado, ou provavelmente isso aconteceria em breve. "Maldito pé," ele murmurou. O calor úmido da bota dele não tinha feito bem para o machucado. Mas agora que o ar fresco estava acalmando a dor, e o pé parecia bem melhor. Inclinado para frente, ele descansou seus antebraços em cima do colo dele, deixando as mãos cansadamente oscilar entre as pernas, enquanto ele tristemente olhava para a cama. Como ela tinha feito isso? Ele se perguntava. Roubado seu coração sem nem ao menos ter tentado? Ele balançou a cabeça com nojo dele mesmo. Ele devia estar ficando mole na sua velhice, porque essa sobrinha de olhos cor de chocolate tinha conseguido fazer o mesmo com ele. Ele podia olhar nos olhos da garota e quase acreditar que ela era dele e de Elizabeth.
COM ESSE PENSAMENTO, ele fechou os olhos, e com um prazer primitivo, tentou imaginar como uma criança deles seria apenas para perceber o erro que ele tinha feito ao seguir este curso de pensamento. Seu corpo respondia a uma sugestão nua de acasalamento, estimulando-o em segundos. Diabos, ele estava andando ao redor em um estado de excitação metade do dia porque seu orgulho não o deixava fazer amor com ela novamente sem ela lhe pedir para fazê-lo. Esta tarde ele tinha chegado perto de abrir sua alma para ela, e ele não a tinha emocionado de modo algum. Ainda assim ela o tinha irritado quando disse que preferia dormir na cadeira a dormir na cama com ele. Levantando o cobertor que ela tinha deixado para ele, Cutter sacudiu-o com uma carranca, então tentou se aconchegar na cadeira. Sustentando os pés em cima da cama, ele cobriu-se e então enfiou seu pé lesionado para fora do cobertor. Ele resmungou com nojo dele mesmo quando o cobertor cobriu seu corpo, formando uma tenda. Ele olhou para ela como se fosse uma traidora suja. Se ela não queria compartilhar sua cama, ele lembrou-se, então ele não a queria. O problema era convencer o “Judas” do seu corpo desse fato, porque parecia que ele não queria aceitar sua decisão. Nesse ritmo, ele com certeza não ia conseguir dormir.
Colocando a cabeça para trás, ele encarou as sombras no teto, disposto a dormir, esperando que a tenda se fechasse e o acolhesse. Quando isso não funcionou, e a dor na virilha dele se intensificou, ele tentou mudar sua concentração para a dor no seu pé, esperando que ela dominasse a outra dor. Não funcionou. Diabos, ele na verdade ouvia sua respiração se acelerando... o coração dele batendo mais rápido? Não, mais como se estivesse tamborilando. Seu corpo tenso e consciente, mas passou mais um segundo confuso antes de Cutter perceber que a pequena batida que ele ouviu não era dele próprio... vinha do corredor. Passou mais um instante antes que ele descobrisse que o som eram os pezinhos de Katie... e Miss Mimi chamando atrás dela, e que elas estavam se aproximando... "Katie!" Seus reflexos rapidamente apareceram. Quando o punho na porta a abriu, Cutter já estava na cama sob os lençóis com Elizabeth, seu próprio cobertor espalhado no chão como uma trilha do outro lado da cama. A cabeça dela aparecendo em surpresa, Elizabeth sufocou um grito quando o corpo de Cutter ficou rente ao dela. Encontrar Elizabeth acordada surpreendeu Cutter, e então ele recobrou os sentidos antes de colocar a cabeça perto da dela e a porta se abriu e Katie voou em direção da cama. Ela não tinha dado mais do que dois passos quando Miss Mimi a pegou pela parte de trás da sua camisola. "Katie!" ela a repreendeu. "O que você acha que está fazendo, filha?" "Eu falei para você, Miss Mimi," Katie lamentou. "Eu me esqueci de dizer boa noite para o meu tio Cutter! Tio Cutter, você está acordado?" ela perguntou num sussurro secreto o mesmo que ela tinha usado anteriormente. Sonolento Cutter levantou a cabeça, abriu um olho. Quando Elizabeth tentou se levantar, ele segurou-a com uma mão firme. "Meu Deus!" Miss Mimi declarou, vendo a expressão sonolenta no rosto de Cutter. "Me desculpe acordá-lo, Sr. McKenzie." Ela acenou com a cabeça em desespero. "Entrei para dizer boa noite para Katie e cometi o erro de perguntar se ela tinha dado um beijo de boa noite em vocês dois." Katie gritou em protesto, quando ela não pode chegar perto o bastante da cama. "Tudo bem," Cutter respondeu rispidamente, estendendo sua mão no rosto de Elizabeth. Seu dedo mindinho parou no canto da boca dela, enquanto dois outros dedos se espalharam pelos seus olhos, bloqueando sua visão. Tudo o que Elizabeth não podia fazer era morder seu dedo. Mas ela entendeu o que Cutter estava tentando fazer e sabia que ela tinha que parecer que estava gostando. Mas era que ele estava pressionado contra ela tão intimamente. Sentindo aquela determinada parte dele aninhada nela tão descaradamente, ela não conseguiu abafar um gemido mortificado. Felizmente para ela, Miss Mimi não pareceu ouvi-la. Ela estava obviamente muito ocupada se preocupando com a intrusão imperdoável de Katie para ouvir o pedido de socorro de Elizabeth.
"Ela já estava no meio do corredor antes que eu soubesse onde ela estava!" Miss Mimi exclamou tentando se desculpar. Novamente, Elizabeth tentou levantar a cabeça, mas Cutter a manteve retida, acariciando seu rosto com firmeza. "Está tudo bem, querida," ele murmurou, soando rouco com sono. "É só a Katie... e a Miss Mimi." Assim que ele acabou de falar, tirou a mão do seu rosto, finalmente, permitindo-lhe levantar a cabeça, mas ela encolheu-se quando ele deslizou sua mão para o ombro dela, acariciandoo suavemente. Ela resistiu a impulso de dar uma cotovelada na barriga dele.
"ESTÁ CERTO de que está tudo bem?" Miss Mimi perguntou. Cutter fingiu um bocejo, a mão dele, deixando o ombro de Elizabeth por um breve segundo e depois voltando para apertá-lo suavemente. Elizabeth estremeceu com a ternura do gesto. "Claro," ele disse com bom humor e uma piscadela para Katie. Katie sorriu com alegria. Assim que Miss Mimi a largou, ela se atirou na cama, e esticou o pescoço sobre Elizabeth para beijar a bochecha de Cutter. "Não conseguia mesmo dormir pensando que eu tinha perdido meu beijo de boa noite," Cutter assegurou-lhe. Com um sorriso tão largo quanto o Missouri, Katie deslizou para fora da cama, caindo ágil sobre os pés dela. "Presumo que sua tia Lizbeth já recebeu o dela?" ele perguntou ao mesmo tempo acariciando Elizabeth no ombro e no braço, como se fosse a coisa mais natural para ele fazer. E poderia ter sido... se eles fossem marido e mulher. Mas eles não eram. E não seriam. O coração de Elizabeth chorava com esse lembrete, e seus olhos se encheram de água. "Sim, senhor," Katie respondeu enquanto ela era forçada para fora do quarto. "Boa noite!" ela falou da porta. "Boa noite," Elizabeth e Cutter, responderam simultaneamente. A expressão de Miss Mimi estava envergonhada. "Obrigada," ela disse fervorosamente, "uma boa noite para vocês." Lançando seu olhar para o céu, ela abanou a cabeça e fechou a porta. "Foi por pouco," Elizabeth suspirou de alívio, quando estavam a sós. Por um longo instante não houve resposta. E então, Cutter concordou, "Sim." Ele continuou a acariciar seu braço, enviando arrepios, e depois calafrio na sua coluna. A cabeça dela se inclinou lentamente para trás, seduzida pela suavidade de seu toque. Ela sentiu seus lábios se moverem contra a nuca dela, ouviu sua respiração controlada. "Acho que eu devo voltar para a cadeira," ele disse com pesar. Elizabeth não respondeu. Ele se atreveu a ter esperança. "Você não acha?" Parecia que tanta coisa dependia dessa pergunta que Elizabeth não ousou responder por medo de que o momento terminasse... que tudo acabasse. Ela não queria que acabasse nunca. Sacudida por
essa revelação, ela sentiu o coração dela começar a dar cambalhotas contra suas costelas. Como se Cutter lesse seus pensamentos, suas carícias aumentaram naquele instante, à deriva, sedutoramente sobre o quadril, a coxa — em todos os lugares, mas não no lugar onde ela cobiçava seu toque. Se sentindo devassa, ela estremeceu com seus pensamentos descarados. E então, quando ela menos esperava, a mão dele de repente se espalmou sobre a parte mais feminina dela, atraindo-a firmemente em direção a sua excitação, querendo que ela o sentisse... para saber o que ele queria. Elizabeth estremeceu com a antecipação. Ela queria também. Como algo que parecia tão certo podia ser tão errado? Não podia ser errado. Cutter não tirou a mão, mas em vez disso, demorou, pressionando-a mais provocante, despertando-lhe ao aumentar a pressão. Apesar da intensidade de sua paixão, ele acariciou-a com lentidão controlada, seu corpo estremecendo por trás dela. Ele enviou outro arrepio através dela. Elizabeth foi incapaz de conter o gemido que escapou de sua garganta. Com todo o seu coração, ela desejou que ele a virasse para beijá-la agora, dessa mesma maneira, devagar, na forma rítmica que ele a tinha beijado antes, mas ele não a virou. Seu corpo tenso ficou atrás dela, até que ela pode sentir cada polegada firmemente enrolada dele. Cada polegada firmemente presa a ela. "Lizbeth," ele sussurrou, ainda acariciando-a. "Você quer que eu volte para a cadeira?" Um pânico estranho a assolou com o mero pensamento de ele sair da cama. A voz dela falhou, Elizabeth apenas abanou a cabeça, querendo que ele ficasse ainda incapaz de falar. Cutter beijou a nuca de Elizabeth, acariciando com o queixo seu cabelo de seda. "Então me peça para ficar," ele sussurrou, seus lábios tão perto de seu pescoço que queimavam, "Porque eu não vou ficar a menos que você peça." "Fique!" ela gritou. Cutter prendeu seu ombro, forçando-a a olhar para o seu rosto. Ele tinha suor no seu rosto quando ele teceu os fios dourados do cabelo de Elizabeth por entre os dedos. "Diga novamente," ele exigiu suavemente, seus olhos, cortando, penetrando em suas defesas. Um brilho de umidade apareceu sobre seus ombros e peito; uma gota escorreu lentamente por sua têmpora, brilhando ao luar. "Eu quero ter certeza que te ouvi corretamente." Seus olhos se abriram quando Cutter mais uma vez começou a acariciar seus braços de uma maneira tão macia, tão devagar, tão sedutora, que tirou qualquer palavra de seus lábios, mesmo ela sabendo que não teria coragem para falar. Ela suspirou, tremendo com todo o prazer que ele estava trazendo para ela. "Fique comigo, Cutter. Fique..."
COMO RESPOSTA, Cutter gemeu, colocando sua boca na dela, saboreando o calor suave de seus lábios,
a princípio suavemente — com mais ternura do que ele jamais tinha agido — e então, quando ela gemeu contra os lábios dele, ele vagarosamente aprofundou o beijo, deslizando sua língua, como fogo líquido, entre os dentes. Sua respiração falhou com o choque renovado, as mãos dela indo ao redor do pescoço dele. O sabor dele e o cheiro dele era de uísque quente. Inebriante. Com um gemido, Cutter colocou a língua dele nas profundezas doces da boca de Elizabeth, saboreando o sabor incrível dela. Enquanto ele a beijava, sua mão circulava seu rosto trêmulo, domesticando o tremor. A resposta do ritmo do pulso dela contra as pontas dos dedos dele quase o enlouqueceu. Sibilando através de seus dentes, perdendo sua razão, ele deslizou a mão mais para baixo, empurrando o cobertor para longe de seus preciosos seios com um entusiasmo que o surpreendeu. Naquele momento, ele ansiava apenas a plenitude de sua carne contra seus lábios. Lentamente as mãos dele levantou sua camisola, seus lábios em busca de sua recompensa. Mas ao vê-la seminua, ele fez uma pausa para beber a deliciosa visão de vê-la sob ele. Incapaz de negar prazer a si mesmo, ele se deliciava com os mamilos que brotavam sob o calor do seu olhar. E então, mais reverente, ele posicionou a palma da mão sobre seu peito, inalando profundamente, como se inesperadamente ele tivesse um tesouro em suas mãos — uma oferta mais magnífica do que qualquer uma que ele já tivesse recebido. Com um gemido de paixão, ele amassou suavemente, perdendo o controle sobre a sensação acetinada contra sua pele áspera. Ele se sentia tão bem — tão certo em sua mão. "Tão quente" Elizabeth gemeu. Seu toque era tão quente — tão deliciosamente quente. Como um gato, ela se arqueou contra ele, dando-lhe tudo, tudo, e então, de repente, ele estava tirando os cobertores completamente, afastando-os com uma urgência que a assustou. No instante seguinte, ele estava em cima dela, mas Elizabeth gostou de ter o peso dele sobre ela, ela se sentia alegre. Ela gemeu com o profundo prazer que ele estava lhe dando. As mãos dele percorriam como fogo seu corpo, escaldando, onde ele a tocava. Com um ritmo excitante, ele balançou-se contra ela, em seus lugares mais íntimos, provocando até que ela pensou que certamente perderia sua sanidade. Incapaz de se manter afastada dele por mais tempo, Elizabeth levantou os dedos trêmulos para o peito de Cutter, querendo tocá-lo de todas as maneiras que ele tinha tocado nela. Seguindo sua liderança, as mãos dela deslizaram ao longo do corpo dele, deliciando-se nas texturas masculinas do corpo dele. Em resposta, Cutter aprofundou o beijo, a língua desbravando rapidamente a boca dela, e pela primeira vez, Elizabeth percebeu o que aquele gesto significava... Porque ela queria também... em outro lugar... com o mesmo fervor e profundidade que ele estava dando a boca dela... E muito mais. Encorajada por sua própria paixão crescente, ela deslizou as mãos para sua bunda, sondando-a suavemente. Mas ele a empurrou, sibilando através de seus dentes. Com medo que ela pudesse machucá-lo, Elizabeth tirou a mão, mas ele a pegou de volta, colocando-a no mesmo lugar. "Não," ele murmurou, "foi gostoso." Ele estremeceu ao sentir seus dedos pequenos, se movendo
como asas de borboleta na coxa dele. "Muito bom." Ele deslizou as mãos pela suas costas, indo até a sua bunda e em seguida, pressionando-se contra ela, balançando suavemente contra o calor e se sentindo trêmulo sobre a intensidade de sentimento que subia através dele. Mais do que tudo, ele queria ela nua agora — despida em seus braços. Até seu coração ele queria nu. Ele queria ver direto em sua alma. Para saber se ele estava lá. Como ela estava na dele. Elizabeth gemeu, levantando-se contra ele, buscando-o, dizendo-lhe sem palavras o que ela desejava. Cutter sorriu, quase ferozmente, uma fera brilhando em seus olhos. "Diga-me o que você quer," ele sussurrou. Se ele não conseguisse o que ele queria dela, então ele queria pelo menos ouvir de sua própria boca o que ela queria dele. Elizabeth seguiu seu corpo com seus quadris, ainda incapaz de falar. E de repente ele ia deixá-la, e ela gritou com a provável separação. Mas ele não foi longe. Ajoelhou-se em cima dela, sorrindo enquanto seus dedos lhe acariciavam mais uma vez, sedutoramente escorregando para suas partes íntimas. "Isto?" ele perguntou com um brilho nos olhos dele. Com uma lentidão que fez os seios dela doerem, seus olhos se fecharam com o fascinante prazer, ele tirou suas peças íntimas. Ela assentiu inconscientemente com o calor que subia através dela, saboreando cada sensação, enquanto o suave pano de algodão deslizava por suas pernas. Com um rosnado vitorioso, Cutter colocou o dedo dela em sua boca, beliscando-o suavemente, pressionando seu polegar, antes de tirar inteiramente suas peças íntimas. Descartando-as, ele se dobrou para beijar suas panturrilhas, seus joelhos, suas coxas, fazendo o seu caminho lentamente de volta para cima. Enquanto ela se contorcia impotente com a incrível necessidade que ele estava demonstrando para ela, as unhas de Elizabeth agarravam os lençóis, agarrando-os para manter sua sanidade. E então de repente ele estava no peito dela, puxando o mamilo dela firmemente em sua boca, sugando-o suavemente, como se fosse sua maior alegria, seu tesouro mais precioso. Para sua surpresa, ondas de êxtase entraram por ela, em surdina, explodindo em algum lugar nas suas profundezas. "Cutter," ela gritou. "Oh... Cutter — não pare — não pare — não pare nunca!" Como resposta, a respiração de Cutter sibilou e ele mais uma vez sugou o mamilo dela, e então se mudou para o outro mamilo, sugando e mordendo com o mesmo cuidado que ele tinha dado ao primeiro, deixando Elizabeth sem fôlego e ansiando cada vez mais. Enquanto Cutter se deleitava, seu coração batia desenfreadamente. Gemendo com o êxtase de tudo, ela passou os dedos pelo cabelo dele, trazendo-o ainda mais perto mesmo sem perceber.
Vagamente ela tornou-se ciente de que suas mãos estavam passeando levemente por sua pele, ficando ainda mais perto daquele lugar íntimo. A respiração dela quase parou quando ela sentiu sua mão escandalosamente acariciando-a lá. Ainda, por sua própria vontade, as pernas dela se separaram para lhe dar melhor acesso, confiando nele totalmente... querendo que ele fizesse sua mágica. Mágica. Não havia nenhuma outra maneira de descrever o que ele estava fazendo com ela. Ele sabia exatamente como tocá-la para que ela tivesse prazer. E então a mão dele deslizou, e muito lentamente ele inseriu a ponta de um dedo, fazendo pequenos movimentos, rodando dentro dela, com mergulhos lentos, hipnotizantes, indo cada vez mais fundo, como se ele estivesse agitando ela e degustando seu doce néctar. O sentimento era requintado além das palavras, e ela quase já não estava agüentando. "Elizabeth," ele murmurou, mal podendo se conter com a imagem de seu calor fluindo por sua mão. "Você é tão gostosa...” A seda de sua barba acariciava a barriga dela quando ele baixou a cabeça, respirando o perfume dela. "Aposto que o seu sabor é ainda melhor." Ele riu perversamente e estremeceu com antecipação do prazer, movendo-se para baixo para descobrir se era assim. O topo da cabeça dele recuou, até... "Não!" ela gritou, fechando as pernas dela, antes que ele pudesse alcançar seu objetivo pretendido. "Eu — eu não posso... não... ainda não." Ainda? Inclinando a cabeça para olhar para ela com aqueles olhos negros, ele a examinou por um momento, com fome em seu olhar. Então, sem aviso, ele se mudou para se deitar ao lado dela, capturando-a sobre a cintura e elevando-a sem esforço acima dele por um breve segundo. "Então monta em cima de mim," ele murmurou. Apesar do fato de que Elizabeth não sabia o que ele estava pedindo para ela, seu coração começou a bater sem controle, o corpo dela emocionado com o pedido. Instintivamente, ainda sem compreender totalmente, ela separou as pernas para sentar-se montada sobre ele, e antes que ela pudesse encontrar palavras para perguntar, ele a colocou na posição certa, a ponta dele, dura, implorando entrada. Ela choramingou com a sensação dele entrando tão devagar, preenchendo-a tão completamente. O corpo dela se acomodou no mesmo instante, pairando sobre ele, com pouco esforço, atraindo-o com o seu próprio corpo com tal facilidade que parecia que tinham sido feitos para ficarem unidos. Apesar de estar tremendo, ela sentiu sua pulsação abaixo dela. Ainda que ela não estivesse entendendo, ela sentia uma vontade incrível de recebê-lo totalmente, e ela assim o fez, inclinando os quadris instintivamente. De novo Cutter estremeceu. Mas Elizabeth apenas sentou-se, confusa quanto ao que fazer em seguida. Seu coração batendo forte, ela bebeu a intensidade de sua expressão. Seu rosto estava cheio de tensão, seus olhos fechados, o maxilar tenso. Os músculos de seus braços tensos, e os dedos na sua cintura... tremendo? Ele a tocou mais firmemente, guiando o comprimento dele. "Monta em mim, Lizbeth," ele a incitou, com um olhar de prazer intenso que guerreava com dor no rosto. Novamente, ele estremeceu,
levando-a suavemente para baixo durante a ereção. E então ele abriu os olhos escuros, perfurandolhe com o calor do seu olhar. Eles eram latentes — chegando perto de alegar do que ele era capaz. "Monta em mim." ele sussurrou, seu pescoço arqueando, empurrando a cabeça de volta para a cama. Finalmente compreendendo, Elizabeth assentiu, balançando as ancas, lentamente, deixando-o entrar nela completamente. Cutter sacudiu o corpo abaixo dela. "Sim," ele murmurou. "Cristo, você é muito gostosa!" Sua mandíbula apertada. Elizabeth começou a tremer, seus olhos se alargaram ao ver o poder que ela exercia sobre ele. Ela não precisava de nenhuma outra prova. A cada movimento que ela fazia sobre ele, ela morria mil vezes. Era a tortura mais doce que ela já tinha sofrido — em toda sua vida! Ela estava no controle. Ela se deliciava com o poder que o corpo dela tinha sobre o dele — sobre o seu próprio. O olhar no rosto dele era suficiente para fazê-la sentir um prazer como ela nunca tinha sentido — e ela não estava preparada para que isso acabasse tão cedo. Não podia. Era bom demais. Muito quente. Também... também... Querido Deus, — era bom demais! Clamando por esta sensação requintada, Elizabeth apoiou suas mãos sobre seu peito febril. Sua pele estava úmida com suor, os músculos no pescoço e ombros pareciam como fios desencapados, e ele permitiu que ela andasse no seu próprio ritmo. De repente um grito abafado forçou seu caminho através de dentes cerrados dele e ele puxou ainda mais o seu quadril, consolidando-se profundamente, firmemente, dentro de seu corpo. Jogando o pescoço para trás, Elizabeth gemeu com a incrível sensação dele pulsando dentro dela. Seu corpo se pressionou à sensação, latejando para sua própria libertação. Mas Cutter segurou-a firmemente, grunhindo, como se estivesse com dor quando ela se movia, e então ela ficou com medo de se mexer. Mas ela não podia suportar não se mexer... e então, sem aviso, o corpo dela começou a se contorcer em cima dele. Ela choramingou, querendo desesperadamente empurrar-se para o incrível abismo de prazer que acenava ao seu alcance... tão perto, tão perto... "Cutter!" ela engasgou. Ele sentiu a vibração dela, ele se mudou repentinamente para cima dela, sem permitir que seus corpos se separassem, querendo lhe dar todo o prazer que ele sabia que ela procurava. Com um último gemido, ele se jogou nas profundezas dela, estremecendo com a dor aguda, gastando o último de si mesmo tão profundamente dentro dela que ele estremeceu com a ferocidade da erupção. Abaixo dele, Elizabeth gritou. E então ela fechou os olhos, com a respiração tremendo, sua libertação tão consumada que ela simplesmente se rendeu. E ainda assim, Cutter se movia dentro dela, até o último sopro e suspiro, que ele podia receber de seus lábios. Ele a embalava com ternura, querendo que ela nunca se esquecesse desse momento. Ele queria que ficasse marcado nela, queria que ela gritasse o nome dele e só dele... o resto de sua vida. Mesmo quando a violência de sua libertação se tornou passado, e os tremores de Cutter cessaram, suas emoções permaneceram altas. Ele a abraçou, não querendo deixá-la ir. Ele lutou
contra a insistência de seu corpo dolorido enquanto suas pálpebras tornavam-se pesadas e ele acariciava o cabelo para longe do seu rosto úmido quando ele cansado tentava não fechar os olhos, por medo de que o sol nascesse sobre eles, quando ele os abrisse novamente. A manhã só iria aproximá-los de Sioux Falls. E ao final do seu faz de conta. O pensamento de que ela não precisaria mais dele então torceu o seu estomago, fazendo-o ficar violentamente doente. Mas ele lutou contra uma imprevista onda de náusea, nunca mais disposto a libertá-la de como eles estavam naquele instante. Toda a sua vida algo tinha acenado para ele. Toda a sua vida ele tinha tentado encontrar. E só agora, neste momento, ele finalmente e realmente entendia o que era que tinha levado ele sempre para frente, com um desejo de viajar mais forte do que qualquer um já tinha conhecido. Sua busca finalmente tinha acabado, e ele sentiu-se profundamente à vontade com esse conhecimento — o único problema era convencer Elizabeth. Enchendo os pulmões com o perfume doce dela, ele aliviou o peso dela, então, seduzido pela tentação de suas curvas exuberantes, abaixou a cabeça para o peito dela, beijando-o reverentemente, antes de se aninhar para ouvir a batida do seu coração firme. Sem olhar, ele sabia que ela estava dormindo, mas ele não podia — não com o coração dele martelando tão impiedosamente... não com seus braços tão carinhosamente juntos ao seu pescoço, os dedos ainda entrelaçados em seu cabelo. Ele se sentia muito bem.
24
Oque
ela esperava? Elizabeth repreendeu a si mesma. Que ela exigisse que eles continuassem atuando o resto de suas vidas? Por que ele desejaria isso? Só porque ela jamais queria que acabasse? Além disso, quanto mais tempo eles ficassem juntos, mais difícil seria sair deste faz de conta. E ela estava certa em pressionar Cutter para ir embora. Ela tinha obrigações em Sioux Falls. "Nada dura para sempre,” ela lembrou-se petulante. Cutter arqueou suas sobrancelhas escuras. "O que foi isso?" Katie, que estava sentada no colo de Cutter — usando seu chapéu — olhou para seu novo tio, e Elizabeth sentiu mais do que uma pontada de culpa por enganar a pobre criança. Como ela vai se sentir quando souber que o tio que ela estava começando a se apaixonar, a confiar, não é tio dela afinal de contas, mas apenas um homem contratado para o papel? Porque alguma vez ela achou que isso seria uma boa idéia? Era uma idéia ridícula! E corações seriam partidos — o de Katie bem como o dela próprio! Apesar de Katie estar obviamente animada sobre a viagem para Sioux Falls, ela também parecia estar triste. Elizabeth pensou que era provável que ela já estivesse sentindo falta do avô, mas não havia muito que ela pudesse fazer. Elias tinha deixado claro que, embora ele amasse sua neta, ele estava muito velho para criá-la. E ele provavelmente estava certo. Além disso, ele e Miss Mimi mereciam um tempo para eles próprios. "Acho que a tia Lizabeth disse que esta viagem vai durar muito tempo," Katie disse a ele com um suspiro exasperado. "E acho que ela está certa! Acho que vai durar para sempre e sempre e sempre!" Cutter riu, e Elizabeth sorriu para o tom indignado da voz de Katie. "Porque estou com sono!" Katie acrescentou melancolicamente. "Eu sei" Cutter condoeu-se. "Acho que você pode ficar acordada mais algum tempo?" Desde o momento que ele conheceu a garota, ele se apaixonou por ela como Elizabeth tinha se apaixonado. Quando ele olhava para ela, às vezes, ele quase podia acreditar que ela era sua própria filha, com seu cabelo e olhos escuros. Fazer o papel de pai podia ser muito fácil. "Uh-huh," Katie respondeu enquanto ela começou a contorcer-se.
Mas Cutter não notou seu gesto desesperado, e mesmo se tivesse, ele não teria entendido o que significava. Seus pensamentos estavam em outro lugar. Ele acariciou a cabeça dela em resposta, puxando-a de volta para ela descansar sua cabeça contra seu peito. Ela tinha montado nas últimas três horas na sela dele, falando pouco, apenas uma palavra aqui e ali para seu cachorro chorão. Ela insistiu em trazer Preguiçoso — jurou que ela não podia viver sem o vira-lata. E Cutter entendeu. Pelo o que ele tinha entendido, Preguiçoso tinha se tornado sua âncora. Preguiçoso, por sua vez, parecia um pouco menos leal. Às vezes o cão parava para se lamentar e abanar o rabo, e em seguida ele dava alguns passos para trás, apenas para parar novamente e latir para eles olharem para trás. Mas porque não havia nada que Cutter pudesse fazer sobre a aflição do cão, ele o ignorou, e Katie geralmente conseguia resolver esse problema por conta própria. Com apenas uma ou duas palavras suaves, Preguiçoso mais uma vez a seguia cegamente, abanando o rabo enquanto ele perseguia os cascos do Palouse. Cutter sabia que Katie tinha sido criada junto com o cão, e Preguiçoso era o único link que a ligava ao passado, que ela não podia deixar ir embora — não podia, pelo menos era o que ele achava. Mas esse era o problema. Ele enfiou a mão sobre sua cintura, abraçando-a carinhosamente, enquanto ele reconhecia os fatos: no que lhe dizia respeito, Katie não era legalmente sua preocupação. Nem mesmo Elizabeth era. E ele estava pensando qual seria o melhor modo de voltar a debater esse assunto. E imaginando como ele seria recebido quando o fizesse. Elizabeth realmente ia culpar sua ascendência contra ele? Ela disse que tinha perdido a mãe e a irmã por causa de seu povo. Ele poderia apenas perguntar o significado disso. Ela realmente o culpava por causa do seu sangue Cheyenne queimando em suas veias? Sangue que queimava por ela. Com um suspiro, ele esfregou seu queixo, seu olhar atraído como um imã para Elizabeth. Apesar do fato de que ela estava exausta de uma noite sem dormir, ela estava sentada ereta na sela; o único sinal de fadiga era o fato de que os olhos dela estavam vesgos. Katie começou a balançar freneticamente. "Tenho de ir!" ela sussurrou com urgência, mas apenas um minuto depois, antes de Cutter poder até mesmo piscar um olho, um calor rastejou sob seu traseiro. Katie ficou dura. Cutter congelou, olhando para baixo com cautela para a criança em sua sela. Não, ele pensou, balançando a cabeça. Ela não podia ter feito isso. Ou podia? Seu rosto se contorceu com descrença. Droga, se não parecia ser o que ele achava! Suas narinas se alargaram e ele jurou que podia sentir o cheiro, também. Mas, diabo, não podia ser! Não em sua sela nova? A maldita sela tinha pouco mais de dois meses!
"QUER SABER, tio Cutter?" Katie disse impetuosamente, levantando o queixo dela alto. Mas ela não olhou para ele enquanto falava, e seus ombros ainda estavam tensos. Cutter temia suas próximas palavras.
"Estou tão orgulhosa de mim mesma!" Tão certo quanto ovos eram ovos, a umidade escoou de sua sela para seu jeans. Cutter silenciosamente amaldiçoou sua pressa. Atordoado, como estava ele não encontrou voz para responder a garota. Ele realmente pensava que seria um bom pai? Diabos, ele não tinha sequer considerado perguntar se ela tinha que se aliviar! Nem Elizabeth tinha se preocupado com isso. Ele se virou para olhar para ela e ficou surpreso ao descobrir que ela estava olhando para ele. "Por que você está orgulhosa?" Elizabeth perguntou para Katie, quando ficou evidente que Cutter não ia. Katie balançou a cabeça sobriamente. "Porque, tia Lizabeth. Eu segurei minha urina por muito tempo!" Havia orgulho indisfarçável no tom dela. Os olhos de Elizabeth se alargaram com a revelação de Katie e seu primeiro instinto foi rir, mas ela não o fez por causa da carranca enojada de Cutter e da ansiosa expressão de Katie. Sua mão voou para a boca. "Filha da-" "Cutter!" Elizabeth suspirou, sufocando sua alegria. E então, incapaz de se conter, ela explodiu em risos de histeria, dobrando-se na sela com a força deles. Cutter só lhe deu um olhar atravessado, avisando-a sem palavras que ela ia pagar com a pele da bunda dela, se ela não parasse de rir. Maldita seja ela de qualquer forma — Katie não proferiu uma palavra até que ela realmente estava mijando no seu colo! Como é que ele ia saber quando perguntar sobre suas necessidades pessoais? A esse respeito, a garota tinha tudo em comum com a maldita tia; uma preferia mastigar areia a pedir uma escova de dente emprestada, enquanto a outra fazia xixi onde estava sentada sem mencionar o fato de que ela tinha que mijar. As fêmeas malditas! Elizabeth, que tinha tentado desesperadamente se controlar por causa da expressão sombria de Cutter, de repente começou a rir novamente. Segurando as rédeas e fazendo uma volta com o cavalo, Cutter deu a Elizabeth seu olhar mais letal. "Vamos pegar o trem," ele latiu. Na referida declaração, Elizabeth gritou mais alto. "Há quanto tempo você acha que eles já foram?" Ainda atordoado com tudo o que tinha sido falado para ele, Elias, com sua tez pálida, apenas encolheu os ombros e balançou a cabeça debilmente. Ele olhou fixamente para o papel meio amassado nas mãos dele e leu a assinatura na parte inferior da página pela quarta vez: BrigadeiroGeneral Alfred Sully. E então ele voltou a ler a mensagem mais uma vez. Estava simplesmente escrito: C MCKENZIE PARA RELATAR AO BRIGADEIRO-GENERAL A SULLY, O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL RE: AUSÊNCIA SEM LICENÇA SERÁ CONSIDERADA LENIÊNCIA SEM DIREITO A
CLEMÊNCIA "Deserção?" Miss Mimi repetiu mais uma vez, os lábios tremendo e colocou a mão na boca alarmada. Uma lágrima apareceu nos olhos dela quando ela olhou para Elias e depois voltou a olhar para o Tenente do exército dos Estados Unidos sentado no garanhão. "Eu — não sei — mas não deve ter sido há mais de duas horas. Você tem certeza de que ele é perigoso?" O Tenente Magnus Sulzberger balançou a cabeça num gesto de frustração que estava longe de ser fingido. Colyer tinha se encontrado com ele uns dias antes enquanto ele e O’ Neill estavam na perseguição de alguns índios renegados. Colocar os olhos nesse doce documento tinha feito o dia dele, e ele alegremente havia parado de perseguir os índios para ter um ganho maior. Apenas, quando eles retornaram para onde o mestiço do McKenzie tinha montado acampamento, ele e a mulher já tinham ido embora. A partir daí, ele e seus homens tinham vindo direto para a fazenda de Bass, apenas para descobrir que, mais uma vez, eles já tinham saído. Mas ele não ia deixá-lo fugir. Ele poderia: se o General Sully não estivesse à procura de McKenzie; se Doolittle, o chefe do Comitê do Senado para Assuntos Indígenas, não estivesse determinado a fazer rolar algumas cabeças; se McKenzie não tivesse empilhado acusações pelo caminho antes de sair e não renovar seu contrato com o exército; se Sully não tivesse que ir atrás do homem mestiço que ele odiava tanto quanto Magnus; e finalmente, se isso não fosse uma oportunidade de ouro nas mãos dele. Ele poderia ter deixado pra lá.
MAS SULLY TINHA ENVIADO COLYER na expedição. E era só uma questão de tempo antes de Sully apanhar McKenzie. Para Magnus isso não ia acontecer. Se Sully se embreasse por Dakota, ele ia precisar dos serviços de Cutter McKenzie. Sem isso, ele não ia encontrar nada. E por causa disso, não havia muita chance de Sully desistir. Sully precisava de McKenzie, e ele ia encontrá-lo, chovesse ou fizesse sol. Como Magnus via as coisas, o blefe de Sully não ia funcionar, de qualquer maneira. Furioso como McKenzie tinha ficado sobre Sand Creek, não havia nenhuma chance que ele pudesse dar assistência — maldito amante dos mestiços selvagens! A única coisa que McKenzie era susceptível de fazer era xeretar os inquéritos em curso— três deles se Magnus tinha ouvido corretamente estavam corretos; dois pelo Congresso e um pela Comissão Militar. E pelo diabo, se eles estavam procurando alguém para a Corte Marcial, com certeza não ia ser ele! Ele não tinha feito nada errado em Sand Creek, não mais do que os outros tinham feito... e McKenzie não ia viver para testemunhar o contrário. Inconscientemente, Sully tinha visto isso. Embora a maioria das pessoas pudesse achar que McKenzie era pelo menos um desertor moral, ele, na verdade, não era um desertor. Seu argumento com Sully tinha sido sobre o fato de que, por causa do massacre de Sand Creek, McKenzie, que era um soldado comissionado, não queria
continuar a servir ao exército. Magnus estava ciente desse fato — mas o documento na mão de Elias Bass dizia outra coisa, o que era bom o suficiente para Magnus. Não existia homem vivo que não o aplaudiria por atirar num desertor... mesmo que o tiro fosse dado pelas costas — especialmente se ele fizesse parte de uma raça mestiça. "Senhora..." Magnus suspirou para dar ênfase, enquanto ajustava o tabaco na boca. "Olha, eu sei por que você não está inclinada a acreditar em mim. A segurança da sua neta está em jogo... mas tenho certeza — eu estou seguro!" Impulsivamente, ele olhou por cima do ombro para os dois homens esperando silenciosamente no seu flanco. Ele acenou para um deles. "Por que não pergunta ao Colyer sobre sua orelha?" Arranhando sua barba, ele viu a expressão no rosto da velha mulher atentamente quando o homem chamado Colyer cutucou seu cavalo para frente e afastou o cabelo para longe do seu ouvido, saboreando sua repulsa ao ver apenas a metade de uma orelha onde devia ter uma inteira. A animosidade nos olhos verde gelados de Colyer negava seu charme infantil, fazendo Miss Mimi dar um passo para trás. "Ele cortou minha orelha, senhora," disse o jovem, sem emoção. "Sem eu ter feito qualquer provocação." Os olhos dele se estreitaram, derramando ódio, embora ele tentasse esconder. "A mais assustadora cena que eu jamais vi. Num minuto, McKenzie estava são como você ou eu, e em seguida —" Magnus de repente cuspiu o tabaco. "Já chega, Colyer," ele disse. "Será que você não vê que a velha já está com medo? Não pode ouvir mais nada." Ele fez um movimento com a cabeça, e Colyer imediatamente levou o cavalo para trás para esperar com O' Neill. Como era previsto, Miss Mimi parecia pronta para desmaiar. Com uma expressão de dor, ela se virou, segurando no braço de Elias. "Oh, Elias," ela gemeu. "O que fizemos?" Seu rosto ficou branco, Elias endireitou sua coluna e pegou a mão de Miss Mimi na sua, trazendo-a para seus lábios. Sua ira era aparente em cada linha do seu rosto. "Nós fizemos o que achávamos melhor, Mimi. Não havia nenhuma razão para não confiar neles," lembrou. Miss Mimi assentiu com a cabeça, sua expressão de dor. Com um aceno, Elias largou a mão dela e virou-se para enfrentar o Tenente, um suor nervoso aparecendo em cima do seu lábio superior. "Se McKenzie é tão perigoso," ele acusou "Então, porque que diabos você demorou tanto para chegar aqui? Raios — eu passei um telegrama para Sully sobre ele, assim que soube que ele e sua esposa estavam a caminho." Magnus levantou uma sobrancelha. "Não sei quem é a mulher," ele interrompeu, "mas ela não é esposa dele." Miss Mimi se sentiu sufocada com a notícia, os dedos dela foram para sua garganta, mas Elias apenas lhe deu um olhar por causa de sua preocupação com Katie. "Ela é Elizabeth Me — diabos, eu não sei o sobrenome dela — deve ser Bowcock se não é McKenzie. Ela é irmã da minha nora!" Magnus levantou a outra sobrancelha. "Você tem certeza sobre isso, Sr. Bass"? "Claro que eu tenho," Elias rebateu. "Dane-se as pessoas! Eu fui informado que o McKenzie era um desertor do exército? Inferno não! Maldito seja eu, também, por não ter investigado mais! Cristo
— não dou a mínima sobre a parte mestiça dele, mas isso é tudo o que vocês se preocupam!" Ele acenou o papel para Magnus em ultraje. Magnus colocou seu cavalo mais perto do velho e da mulher, arrebatando o documento da mão de Elias. "Agora," ele disse com um tom paternalista. Ele se inclinou para frente na sela com lentidão. "Não acho que você deva falar nesse tom comigo, Sr. Bass. Viemos o mais rápido que pudemos." Ele olhou de volta para seus homens, em seguida, novamente para Elias. "Foram vocês que confiaram naquele selvagem jagunço e entregaram sua neta para ele," ele teve um grande prazer em lembrá-los. "Não fomos nós que fizemos isso." Seu lábio se franziu de repente. "E se você já sabia tanto sobre ele, Sr. Bass, então você devia ter pensado um pouco mais e se prevenido. Raças são raças. Eles não são diferentes! Os selvagens são capazes de tirar seu escalpo." As veias na testa de Elias destacaram-se quando ele balançou a cabeça em negação. "Não, senhor, Tenente Sulzberger," Elias rebateu, "já conheci uma grande parte de mestiços, e isso não é verdade. Mas não importa — é da minha neta que estamos falando. Se o que diz sobre McKenzie é a verdade, então ao invés de ficar aqui me encarando, você devia estar procurando por ela." Os olhos de Magnus brilhavam com desprezo agora. "Sim, senhor, Sr. Bass," ele concordou. "Nós deveríamos. Por isso é que eu acho que você deveria nos dizer para onde eles foram." Miss Mimi começou a soluçar. "Elias," ela suplicou, sua voz falhando. "Não podemos arriscar em deixar Katie com eles." Elias deu-lhe um olhar de frustração intensa antes de olhar para o Tenente. Ele se considerava um bom juiz de caráter, e o quadro que Sulzberger tinha pintado não o tinha convencido. Ainda assim, ele não podia arriscar, não podia colocar sua neta em risco. E o homem estava com documentos — assinado pelo General Sully. Ele olhou para o documento com repulsa. Ele nunca podia imaginar que Cutter McKenzie era um desertor — ou, Elizabeth uma mentirosa. "Sioux Falls," ele falou. "Mas eu vou com você! Deixe-me entrar e pegar a minha arma." Ignorando sua declaração, Magnus foi para perto dos seus homens. Permanecendo em seus estribos, ele acenou para os homens à frente com uma avidez que enviou um frio na coluna de Elias. "Vocês ouviram ele, rapazes! Prá frente, com força total! Cidade de Fulton — no caso de eles decidirem irem pelo Golfo. E você, senhor," ele gritava, sua cabeça se virou para Elias, "não vai a lugar nenhum." Seus olhos eram intimidantes e brilhavam de alegria. "Este é um negócio do exército, senhor, e você vai ficar aqui." Ele tirou o chapéu num falso gesto de respeito. "Voltamos a nos ver em breve." Falando isso, ele bateu no cavalo e saiu com a maior rapidez possível. A expressão dele transbordava desconfiança, Elias assistiu o Tenente correndo a toda velocidade com os seus homens na sua cola. Todos os três de repente jogavam vitoriosos socos no ar, e então um deles, Colyer, desembainhou um rifle e o ergueu, atirando para cima, enquanto os outros urravam de alegria. "Mimi," ele disse ameaçadoramente enquanto continuava a assistir a cena, "algo não está certo." E não estava. Todos os três pareciam ter um entusiasmo não muito natural pela tarefa para a qual eles
tinham sido nomeados. Ele foi em direção a casa, com passos largos, com a intenção de pegar seu rifle. "Eu vou atrás deles," ele gritou. "De qualquer maneira, Katie vai precisar de mim."
25
Distraído pela plataforma invulgarmente lotada, Elizabeth olhou à sua volta e pensou que a multidão aguardando para embarcar no trem podia ser o resultado do recente fim da guerra. A estação estava repleta de soldados da União, que evidentemente ainda estavam tentando chegar em casa. Um pequeno grupo de homens fardados chamou a atenção dela, quando ela notou que eles estavam rindo de algo mais para baixo da pista. Seguindo o olhar deles, Elizabeth avistou um homem gordo, com o rosto vermelho, desesperadamente tentando enfiar sua vaca em um dos compartimentos. Ela sorriu e em seguida, voltou sua atenção para Cutter que estava ao lado dela, e ela o encontrou observando-a atentamente. Sentindo-se como uma idiota, Elizabeth ficou parada, os dedos dela entrelaçados com os de Katie enquanto ela e Cutter simplesmente olhavam um para o outro. Estranho, depois de ficarem juntos quase todos os momentos, esta breve separação parecia como se fosse um adeus. Mas não era ela se lembrou. "Então... vamos vê-lo no trem?" ela disse, mais para seu próprio benefício do que para o de Katie. Uma luz tênue cintilava no fundo dos olhos pretos de Cutter, como se ele soubesse quais eram os seus pensamentos. Perturbada pelos pensamentos, ela evitou o olhar dele, olhando para Katie. Como uma deixa, Cacau começou a relinchar com impaciência, salvando Elizabeth de um momento embaraçoso. Cutter riu do seu olhar de alívio, olhando por cima do ombro para a queixosa égua. "Fique calma, Marronzinha," ele murmurou. Katie explodiu em risos com o seu comentário ridículo, e Elizabeth deu-lhe um olhar raivoso. Ele a estava provocando, ela percebeu — carinhosamente, e não maliciosamente — e ela se viu sorrindo contra a vontade dela. "Cacau," ela corrigiu. Incrível, ela pensou como aquela sagacidade causal dele uma vez a tinha irritado tanto, porque agora ela via que tinha desfrutado o combate entre eles imensamente — embora ela nunca tenha admitido. "Se você o diz," Cutter falou, descendo para pegar o queixo de Katie. "Acho que você pode cuidar de sua tia, até eu voltar?" perguntou-lhe com uma piscadela.
Katie cansada esfregou os olhos. "Oh, sim!" ela assegurou-lhe. "Esta é a minha garota." Ele acenou com a cabeça suavemente, olhando para Elizabeth. "Eu vou encontrar vocês assim que eu colocar os animais no vagão próprio," ele disse, colocando o chapéu na cabeça e passando o braço na sua testa úmida de suor. Mas tendo dito isso, ele ficou parado, mudando o chapéu para as mãos dele. Elizabeth assentiu com a cabeça, mas não se mexeu incapaz de mudar a direção de seu olhar. A seus pés, Preguiçoso começou a latir impacientemente, e Katie imediatamente largou a mão de Elizabeth, dobrando-se para pegar sua patinha. "Não se preocupe, Preguiçoso... não se preocupe," ela sussurrou. "Tio Cutter vai cuidar de você! Certo, tio Cutter?" Relutantemente mantendo seu olhar afastado, Cutter olhou para baixo, a tempo de ver Katie sorrindo para ele, e a piscadela que ela lhe deu foi inestimável — a piscada mais longa, mais inocente, que ele jamais tinha recebido. Encantado por ela, ele inclinou-se para fazer um afago na cabeça de Preguiço junto com Katie. "É verdade," ele disse para ela. Olhando para Elizabeth, ele deu uma piscada de olhos, se sentindo mais leve do que ele jamais tinha se sentido na vida. O olhar que ela lhe deu fez seu coração bater mais forte e seu corpo se apertar ao mesmo tempo. Fazendo careta, ele trocou o peso de seu pé direito, e dando um tapinha no cão, ele levantou-se para enfrentá-la. A sobrancelha de Elizabeth levantou. "Cutter? Você está bem?" "Estou bem," ele disse com um sorriso apertado. Ela olhou-o um pouco com dúvida, e ele falou suavemente. "Nunca estive melhor." E era a verdade; as coisas tinham ido tão bem, tão bem, que nada poderia estragar. Os últimos dias tinham-lhe dado mais prazer do que alguma vez ele pensou possível ter. Ele passou a mão pelos pêlos da face, suavizando a expressão dele. Para Elizabeth, todos os sons pareceram desaparecer naquele momento quando os olhos escuros de Cutter se fixaram nos olhos dela — todos os sons exceto o bater do seu coração. De alguma forma, eles continuavam se olhando, sem dizer uma palavra... e ela sabia. Não haveria mais despedidas mais entre eles. Nunca mais. Era hora de ela deixar seus medos irem embora. "Cutter," ela começou e depois perdendo a coragem, mordeu seu lábio inferior, olhando para longe. Os dedos de Cutter agarraram sua cintura naquele momento, levemente, muito levemente, o que fez o coração dela sacudir de alegria com esta sensação. Elizabeth era incapaz de suportar a intimidade incrível de seu toque; os olhos dela vibraram fechados e ela ficou lá, parada, joelhos fracos, enquanto o mundo desaparecia na frente dela.
NAQUELE INSTANTE, eles podiam estar sozinhos, ou não. Não faria diferença. Sem aviso, Cutter a balançou no círculo do seu abraço, seu chapéu nas suas costas e inclinou sua cabeça lentamente, torcendo para encaixar a boca sobre a dela. O coração dela começou a dar pulos assim que seus lábios desceram sobre os dela, uma sensação inebriante demais para suportar. Impotente para contê-lo, ela gemeu com a carícia aveludada de sua língua, seu coração pulando cada
vez mais enquanto o beijo se aprofundava, atingindo sua alma. O tempo parou. Com um gemido relutante, Cutter deixou sua boca livre. Resistindo ao impulso de arrancá-la e levá-la embora para algum local isolado, ele descansou a testa contra o topo da cabeça dela. "Elizabeth," ele sussurrou com a voz rouca. "Você me faz perder o controle, garota." Segurando a parte de trás do seu pescoço, ele se dobrou para provar seus lábios mais uma vez, fechando os olhos, como se estivesse drogado pelo aroma e pelo sabor dela. Sua respiração sibilando através de seus dentes, ele deu beijos minúsculos em cima de seu queixo, seu pescoço, mordiscou a orelha dela... Um puxão repentino urgente na sua calça chamou sua atenção. "Tio Cutter! Tio Cutter!" Katie gritou em pânico. "Eu acho que... Eu acho que você machucou os sentimentos do Preguiçoso!" Absorvido como ele estava com o beijo, Cutter demorou um longo momento para recuperar seus sentidos, e outro para digerir o que Katie tinha dito. Ele olhou para ela com uma expressão de surpresa atordoada no rosto, na verdade tendo se esquecido de que ela estava lá. Elizabeth não sentiu a mesma desorientação. Surpreendida pela voz de Katie, ela se afastou de Cutter de uma só vez. Curvando-se para levar Katie pela mão, ela olhou para ele com culpa, em seguida, de volta para Katie. "Preguiçoso"? "Sim!" Katie gemia, apontando. "Veja! Ele está fugindo! E ele não vai voltar!" Cutter olhou por cima do ombro, a tempo de ver a cauda do cachorro abanando desaparecendo no meio na multidão. "Ah, inferno!" ele exclamou, colocando o chapéu de volta à cabeça, ajustando-o rapidamente. "Vá, suba, vá para bordo!" ele disse a ela e ele começou a correr atrás do cachorro. E então ele voltou de repente, arrebatando Elizabeth em seus braços para beijá-la profundamente. Liberando-a abruptamente, agarrou as rédeas e correu atrás do cachorro. Elizabeth olhava enquanto Cutter se esquivava da melhor maneira possível através da multidão de pessoas, para longe do trem, percebendo seu coxear pela primeira vez. Eles tinham passado tão pouco tempo juntos nos últimos dias, porque ele e Elias tinham ficado ocupados consertando as cercas. Ela o tinha visto apenas brevemente durante o jantar e então à noite, mas tanto quanto ela podia se lembrar, ele não tinha se queixado de qualquer dor na perna. Sua testa ficou cheia de sulcos de preocupação, mas ela colocou Katie a bordo do trem Gulf Mobile Ohio. "Venha, agora, querida," ela disse. "Vamos pegar um assento na janela. Tudo bem?" "Está bem — mas e o Preguiçoso?" ela quis saber. "Não se preocupe. Cutter vai pegá-lo," Elizabeth assegurou-lhe. "Agora, suba — e cuidado com o degrau — tenha cuidado." "Eu nunca caio!" Katie, exclamou: a mãozinha dela segurando os dedos de Elizabeth mais apertados. Elizabeth riu suavemente. "Claro que não," ela concordou com um sorriso. "Mas você nunca deve dizer nunca. Uma vez eu disse que eu nunca comeria uma cascavel... mas adivinha."
"O quê"? Katie respondeu automaticamente, e Elizabeth começou a dizer-lhe tudo sobre o cascavel que ela tinha sido forçada a comer, enquanto elas iam pelo corredor até suas cadeiras. Alternando entre assobiar e praguejar, Cutter foi andando até o depósito, longe do trem. Não importava o quão alto ele chamava Preguiçoso, ele parecia não ouvi-lo — ou não queria ouvi-lo. O maldito cão correu como uma bala e continuava a correr, com o rabo abanando freneticamente. Só quando ele chegou perto o suficiente para pegar o cachorro, Preguiçoso disparou para baixo de um cavalo que cochilava. O animal se assustou, suas orelhas ficaram em pé e suas narinas bufavam. Sabendo que o cavalo estava alarmado e sentindo o perigo, Cutter levou as duas éguas por meio de uma multidão de pessoas a fim de escapar. Quando finalmente conseguiu se desvencilhar da multidão, ele imediatamente viu para onde Preguiçoso estava se dirigindo. Elias Bass. Ele estava descendo uma das ruas laterais, a espingarda debaixo do braço e assobiando enquanto o cachorro pulava, abanando sua cauda, dando-lhe boas-vindas. Elias ignorou o vira-lata. Por alguma razão, vendo que Preguiçoso tinha vindo sozinho pareceu fazê-lo ficar muito mais agitado. "Elias!" Cutter gritou em saudação. Ouvindo seu nome, Elias se virou, mas no momento que ele viu Cutter, o rosto demonstrou pura raiva. Ele não disse nada, apenas começou a marchar em direção a Cutter. Quando ele estava perto dele, ele arremessou sua arma no chão. Indo na direção de Cutter, ele deu um soco no meio da barriga dele. Surpreendido pelo ataque, Cutter largou as rédeas, que ele estava segurando em sua mão, caindo para trás e segurando seu estômago. As costas dele bateram no chão, tirando o ar dos seus pulmões. Segurando o peito, ele conseguiu rolar para longe dos cavalos. "Seu filho da puta!" Elias rosnou, indo em direção a ele de novo. "Seu enganador filho da puta!" Seu rosto escarlate com raiva, Elias deu outro soco inesperado que pousou logo abaixo do olho de Cutter. “Que diabo está errado com você, Bass? Se você tem uma queixa de mim, cuspa!" Ele tinha passado tempo suficiente com Elias para saber que tinha que haver uma boa razão para o homem agir tão irracionalmente, então Cutter conteve-se. Elias deu outro direito que foi direto para o maxilar de Cutter, com tanta força que fechou a sua boca. Ele abanou a cabeça, dizendo-se que não havia nenhuma maneira dele ser instigado a brigar com um homem velho — especialmente aquele que provavelmente sentia que tinha boas razões para estar fazendo o que ele fazia. "Maldito, seu velho esquisito!" "Não tão velho que eu não possa avançar para cima de você!" Elias se voltou, dando-lhe outro soco. "É por ter mentido para mim, seu filho da puta!" Cutter abaixou a cabeça. Xingando, Elias atirou-se na direção de Cutter, agarrando-o pela camisa. "Onde está a minha neta?" Ele pegou a camisa de Cutter para dar outro golpe em seu maxilar.
Cutter pegou a mão dele desta vez, lutando com ele no ar. "Ela está bem!" ele disse, começando a perder a calma e não revidando. Maldito seja o velho, mas ele tinha uma direita poderosa para um cara com uma aparência tão frágil. "Tudo bem, Bass, você já brincou. Agora, porque você não me diz por que você está tão irritado?" Elias não respondeu; em vez disso, ele atirou o seu punho esquerdo. Cutter o bloqueou, derrubando Elias com um golpe. Caindo de joelhos, Elias esfregou sua mandíbula, imediatamente jogando suas mãos para o ar, mas Elias veio atrás dele novamente. "Você me fez fazer isso uma vez, mas não vou trocar socos com você, velho, então é melhor você se acalmar e me dizer o que está errado." Elias deu-lhe um olhar acusatório, mas colocou-se a postos, o peito soprando com fúria. "Katie está bem!" Cutter repetiu. "Agora, o que diabo aconteceu com você para você vir até mim atirando socos sem explicações?" Seus olhos vermelhos de raiva e com o lábio sangrando pelo golpe de Cutter, Elias esfregou sua própria mandíbula. "Você é a único que tem que dar explicações, McKenzie — seu desertor!" Ele começou a tossir violentamente. Cutter levantou um joelho para levantar-se e então congelou. Um calafrio desceu pela sua coluna, suas sobrancelhas se colidiram violentamente. "Do que você me chamou?" Neste momento, a multidão estava começando a aumentar em torno deles, e se ouvia murmúrios assustados. Elias limpou a garganta, os olhos dele com água. "Você é um mentiroso desertor, é o que você é!" ele cuspiu, limpando a gota de sangue de seus lábios com as costas da mão dele. Uma fúria negra apareceu no rosto de Cutter quando ele ouviu à acusação de Elias, mas ele sabia que essas palavras tinham que ter vindo de outra pessoa. E foi esse pensamento que fez levantar os pêlos na parte de trás do seu pescoço. "Quem diabo disse para você que eu sou um desertor?" Foi a calmaria na voz de Cutter que fez Elias dar uma pausa. Suas sobrancelhas se levantaram com a resposta de Cutter, e pavor escorreu pelo seu corpo. Ele encontrou o olhar de Cutter sem vacilar, querendo ver a verdade nos olhos dele. "Tenente Sulzberger," ele respondeu devagar. "Ele nos mostrou os papéis do General Sully e queria saber onde podia encontrar você —" Elias abriu os olhos e assistiu perplexo, quando Cutter se levantou e correu na direção de onde ele tinha vindo. Assumindo o seu caminho através da multidão, ele deixou os cavalos para trás, com Preguiçoso agachado aos pés de Elias. Elias olhou para o cão se lamentando enquanto Cutter se retirava e seus olhos se alargaram quando ele percebeu o perigo. Arrebatando seu rifle, de repente, ele correu atrás de Cutter. "Mas eu não o vejo!" Katie insistiu, o nariz pressionado contra a janela. "Não se preocupe, Katie. Cutter vai pegar Preguiçoso. Saia da janela agora.” Katie se afastou da janela e foi para o colo de Elizabeth, e Elizabeth aconchegou-a mais perto, pensando que haveria tanta coisa para fazer, uma vez que elas chegassem a Sioux Falls — apesar do fato de que tinham
trazido tão poucas coisas de Katie: apenas alguns dos seus vestidos, uma boneca pequena e o cachorro dela. Assim que chegassem, Elizabeth planejava levar suas coisas para o quarto do pai dela. Katie ficaria no dela. E então Elias tinha prometido trazer o resto dos pertences de Katie no outono, quando seria mais fácil para viajar. O que ela diria para Elias quando ele viesse e não encontrasse Cutter? Bem, ela iria pensar em algo. Entretanto, ela só esperava que Cutter fosse capaz de pegar Preguiçoso. Mas então suas sobrancelhas se sulcaram quando ela considerou outra questão. Como ela iria criar Katie e continuar a sua prática médica ao mesmo tempo? Ela olhou para a criança, confortavelmente enrolada no seu colo e resolveu que qualquer coisa que precisasse ser feito, seria feito. Se era para deixar Katie sempre ao lado dela como o pai dela tinha feito com ela, que assim fosse. E se ela tivesse que contratar alguém para tomar conta de Katie quando Elizabeth não fosse capaz, isso podia ser arranjado, também. Entretanto, não parecia haver muito sentido em se preocupar sobre isso. Como seu pai costumava dizer, tudo costumava acontecer como deveria ser e no final tudo sempre dava certo. "Senhora"? Assustada Elizabeth olhou até encontrar um par de olhos verdes intensos, olhando para ela. Além de sua boa aparência impressionante, o homem usava o uniforme militar azul da União e um sorriso que desarmava qualquer pessoa facilmente. "Minha senhora?" ele perguntou novamente, arqueando seus lábios. "Você é a Sra. McKenzie?" Elizabeth hesitou um momento pensando sobre a falsidade, encarando o homem como se tivesse perdido o juízo momentaneamente. Mas então ela olhou para Katie e Katie olhou de volta tão ansiosa que ela voltou seu olhar imediatamente para o soldado. "Sim," ela disse com firmeza. "Sim, eu sou." Ela levantou seu queixo como se para ele não se atrever a discordar dela. "Há algo de errado?" O soldado sorriu. "Bem, não, senhora... é só que... bem, seu marido me pediu para lhe dizer que ele precisa de você e pediu para você se juntar a ele do lado de fora." As sobrancelhas de Elizabeth se levantaram em confusão. "Mas eu não entendo. Ele me disse para esperar a bordo do trem — que ele se juntaria a mim, logo que ele... Oh, é isso? Ele teve problemas para garantir a passagem para os cavalos?" O soldado engatilhou uma sobrancelha para ela, e mais uma vez Elizabeth ficou impressionada com sua beleza. A única coisa que a diminuía era o fato de que seu cabelo era muito longo sobre as orelhas e um pouco despenteado. Além disso, sua aparência era impecável. "Não sei, senhora," ele disse. "Seu marido pediu-me para entregar a mensagem, isso é tudo. Ele ainda está com os cavalos. Mas você pode perguntar a ele, se quiser... Eu vou lhe acompanhar diretamente até ele." Algo sobre a maneira como o homem olhou para ela enviou um arrepio de apreensão pela espinha de Elizabeth. Seu sorriso, apesar de quente, não parecia muito genuíno. Sentindo um sentimento de mal-estar, Elizabeth ficou irritada com uma sensação sufocante de paranóia que ela
tinha recentemente desenvolvido. Porque ela deveria suspeitar que o homem quisesse lhe fazer mal? Claramente Cutter tinha lhe pedido para vir — caso contrário como ele saberia que eram marido e mulher? Além disso, ele era um oficial do exército dos Estados Unidos, e tinha jurado proteger os cidadãos... e eles iam sair do trem em plena luz do dia, além disso. Que mal poderia possivelmente acontecer? "Sim, claro," ela disse de forma decisiva. "Obrigada." Ela começou a subir ao mesmo tempo, estimulando Katie e levantando-a em seus braços. Katie se apegou a ela. "Espero que ele não tenha perdido Preguiçoso," ela murmurou sonolenta. Elizabeth deu-lhe um tapinha tranquilizador. "Não, querida, estou certa que Preguiçoso está bem." Orando a Deus, que fosse verdade, ela se dirigiu para o corredor reajustando o peso da Katie no seu colo. "Por aqui," o soldado falou mostrando o caminho. "Mas eu pensei que o gado e os cavalos fossem carregados pelo outro lado," ela disse. "Eles são" ele disse rapidamente, "mas eu acho que ele não conseguiu embarcá-los. Parece que todo mundo decidiu levar seus cavalos no mesmo dia." Ele riu e então ela parou e começou na direção que ele tinha indicado, segurando-a pelo ombro. "Talvez você devesse deixar a garota aqui?" ele sugeriu com um movimento breve da cabeça. "Deixá-la? Aqui"? Elizabeth olhou para o assento que ela tinha ocupado e então lhe mandou um olhar incrédulo. "Acho que não, Sr.... Sr... "Colyer," o homem respondeu com um sorriso cativante. "Jack Colyer." "Sim, bem... "Elizabeth deu-lhe outro olhar de reprovação e então se virou para fazer seu caminho até o corredor." Eu nunca conseguiria deixar Katie esperando aqui sozinha," ela disse. A cabeça de Katie caiu no ombro de Elizabeth, sua sonolência cada vez maior. "Sim! Porque eu só tenho isso," ela foi rápida para informá-lo. Ela mostrou os cinco dedos, olhou para eles e então empurrou um para baixo. Colyer deu de ombros. "O que vocês acharem melhor," ele disse. "Não quis obrigar você a fazer nada, garota — só pensei que você poderia guardar o lugar para sua mãe, é tudo." “Ela é a minha nova mamãe!" Katie começou a dizer-lhe. "E você sabe o que? Agora, vamos para minha casa nova. E meu tio, ele assustou o meu cão, mas não se preocupe, ele vai trazê-lo de volta," ela assegurou-lhe brilhantemente.
26
Tão
logo Elizabeth desceu do trem, Colyer tirou a mão de Katie da dela. "Aqui," ele ofereceu graciosamente, "Deixe-me ajudar. Ela parece ser muito pesada para você." "Não — não mesmo!" Elizabeth protestou, as mãos dela voaram para pegar Katie de volta. Colyer deu-lhe um olhar que enviou um arrepio de apreensão através dela. "Eu insisto," ele disse para ela com firmeza, e então ele se inclinou para sussurrar no ouvido dela para que Katie não pudesse ouvir. "Ande, ou eu corto a garganta da garota." Elizabeth deu uma parada abrupta, muito atordoada para acreditar no que ela tinha ouvido. O queixo dela caiu e ela pediu para ele repetir, mas o olhar em seus olhos fez com que ela tivesse certeza de que tinha ouvido corretamente. Ela balançou a cabeça. "Ande," ele instruiu, abrindo um pouco o casaco para revelar a bainha de couro onde sua faca estava colocada. Elizabeth congelou com a visão da faca. A cor completamente sumiu do seu rosto. Seu coração acelerou com medo, e ela considerou gritar por socorro, mas Colyer deu-lhe um olhar que a fez tremer até a alma, paralisando-a momentaneamente, e ela se perguntou como ela podia ter achado ele bonito. O olhar dele se transformou completamente. "Ande," Colyer rosnou, quando Elizabeth estava parada somente olhando. "E, no caso de você estar pensando em gritar, lembre-se que temos seu marido amarrado como um peru de Ação de Graças, pronto para ser estripado." Ele riu maliciosamente, deixando-a saber, que ele sabia, sem sombra de dúvida, que Cutter era apenas seu amante. Ele empurrou-a para frente abruptamente, e ela tropeçou em seus pés. Mas ela se virou e conseguiu fazer o que ele tinha mandado, sua mente pensando em mil possibilidades. "Pelo menos me deixe levar a Katie," ela disse rapidamente, com a voz um pouco oscilante. Colyer a empurrou para frente novamente. "Acha que sou burro?" ele perguntou violentamente. "Comece a andar, gata... antes que meus dedos comecem a coçar." Elizabeth não precisava de nenhuma outra advertência. Ela caminhou cegamente pela multidão, ciente do fato de que Colyer estava diretamente atrás dela, pronto para empurrá-la quando ela não se
movesse rápido o suficiente. Ela também estava com o destino de Katie estava em suas mãos. E onde estava Cutter? O que ele podia querer com ela? Com Katie? Ela não conseguia entender. Mordendo o lábio inferior para abafar um grito de pânico, ela acenou com a cabeça em negação, pois não havia nenhuma razão que ela conseguisse descobrir. Os edifícios pelos quais Elizabeth passou tornaram-se um borrão, as pessoas sem rosto. O coração dela martelava com medo. Inesperadamente Colyer colocou uma mão em seu ombro, empurrando-a para um beco, onde dois homens esperavam, um deles montado a cavalo. Ela reconheceu imediatamente os dois. Mas não havia sinal de Cutter, e ela soube imediatamente que Colyer tinha mentido. O nó apertou sua garganta enquanto ela pensava freneticamente em algum meio para fugir. Não havia nenhum meio — não enquanto Colyer ainda estivesse com Katie no colo. “Ela está assustada, por favor! Deixe-me segurá-la agora!" Elizabeth disse ansiosa e tentou pegar Katie dos braços dele. "Nós faremos como você diz," ela jurou. "Deixe-me segurá-la!" Colyer se livrou dela, impulsionando Katie para os braços de O’ Neill. O olhar no rosto de O' Neill espelhou terror no coração dela. "Você não disse que ia trazer a garota," O' Neill opôs-se, seu sotaque irlandês saindo agitado. "Não quero ter nada haver com a morte de uma criança!" Katie começou a choramingar em seus braços. Elizabeth tentou pegá-la de O' Neill, mas Colyer a agarrou pela cintura e arrastou-a. Ele ficou parado atrás dela. Magnus alinhou o nariz do seu cavalo mais próximo ao de O' Neill, e o conjunto hostil de seu corpo fez com que Elizabeth não conseguisse respirar direito. "Você tem um problema com isso, menino de azul?" ele perguntou, pegando emprestado o apelido que Cutter tinha usado para ele. "Se tiver... você pode ir embora agora." Ele fez um movimento com a cabeça para que O‘ Neill saísse, mas ele enfiou a mão no seu revólver como um aviso. "Só dê meia volta e vá embora." O olhar de O' Neill mudou de Magnus para Colyer com a criança em seus braços e depois de volta para Magnus. "Eu não sou estúpido, homem. Eu viro este cavalo e você me dá um tiro nas costas. É assim que funciona?" "Bem, agora," Magnus disse dando uma espécie de sorriso. "Por que não tenta e vê?" O' Neill balançou a cabeça lentamente. "De maneira nenhuma!" E então, como se de repente percebesse sua posição tênue, ele disse-lhes. "Estou com vocês agora — não duvidem disso. Eu só não sou a favor de matar a garota, é tudo. Não está certo! Além disso, você disse que a gente ia matar somente a mulher — você disse que ela não era importante porque ela é uma puta amante de mestiços!” Ele deu de relance uma rápida avaliação para Elizabeth e então seus olhos rapidamente voltaram para Magnus, mas Elizabeth observou o fato de que ele inconscientemente estava acariciando as costas de Katie, acalmando-a. Apesar de ele tentar reconfortá-la, os olhos de Katie estavam escancarados com susto e o coração de Elizabeth chorava por ela.
Magnus notou também, e deu a O' Neill um olhar carrancudo. "Sim?" Ele jogou um olhar para Colyer e, em seguida, voltou para O' Neill. "Bem, não se borre todo por causa disso, garoto. Vamos embora daqui antes que McKenzie nos encontre. Este não é o lugar que temos em mente." Ele virouse para piscar para Elizabeth e então acenou para O’ Neill se mover à frente dele, antes que ele fosse para trás para montar ao lado de Colyer. "Pensei que você tinha dito que a garota ia junto," Colyer murmurou para Magnus. "Tudo o que precisamos é essa criança nos causando problemas agora!" Magnus deu um olhar frio para Colyer que incluiu Elizabeth. "Nós cuidaremos disso," ele disse simplesmente, e em seguida mudou-se para assumir a liderança. Elizabeth endureceu com essas palavras, mas Colyer riu em resposta, colocando seu nariz na parte de trás do cabelo dela, fazendo carinho. Este gesto enviou outro frio por sua espinha. "Você nunca vai conseguir fugir," ela sussurrou encolhendo os ombros em desgosto. Colyer atirou-se para frente repentinamente, pressionando-se contra ela, empurrando Elizabeth contra a crina do cavalo. O selim apertou dolorosamente seu estômago, mas Elizabeth resistiu à tentação de gritar de dor, sentindo que era o que Colyer queria. "Vou conseguir, gata," ele informou-a com desprezo. "Já consegui." Sua língua serpenteava de repente, passando rapidamente pela nuca de Elizabeth através de seu cabelo, e ela seguiu em frente para longe dele o máximo possível, encolhendo-se contra a sensação revoltante. Colyer riu maldosamente. "Fico pensando, gata... se você é tão gostosa quanto o seu sabor.” Com uma sensação de mau agouro, torcendo seu estomago, Cutter subiu no vagão em que Elizabeth e Katie tinham estado. Com rapidez, ele transpôs o caminho rapidamente. Correndo, ele abriu a porta indo pelo corredor, ignorando os olhares e as maldições que atiravam nele enquanto, como um homem possuído, ele inspecionava cada assento ocupado. Ela não estava lá. Cristo, ela não estava lá — ela não estava em nenhum lugar! "Elizabeth! Katie?" Ele agarrou uma pequena criança que corria pelo corredor em direção a um assento onde uma mulher estava olhando pela janela. O cabelo loiro dela foi tudo o que Cutter viu naquele instante. A mulher no banco era loira. E a criança era morena, mas a menina definitivamente, não era Katie, e ela começou a gritar assustada. A loira sentou-se ereta no seu assento e começou a gritar para ele. Ela atirou-se para frente, os olhos dela com medo e pegou a criança dele, agarrando-a protetoramente. Cutter não se importou em parar para acalmá-la. "Você viu isso?" a mulher gritou em suas costas. "Ele tentou roubar o meu bebê!" "Acho que ele é louco!" gritou outra. As sobrancelhas de Cutter se elevaram quando ele pensou qual seria sua próxima jogada. Cristo todo-poderoso, ele se sentia insano! O trem deu um salto para frente nesse momento, tirando a decisão de suas mãos. Seu estômago se revirou. Não tendo nenhuma escolha, a não ser examinar cada vagão, ele foi em direção a parte traseira do trem, ignorando a dor que queimava sua perna esquerda.
Depois de duas horas exaustivas de cavalgar com Colyer em sua sela, cada músculo no corpo de Elizabeth gritava do constrangimento de se esticar para frente. Das conversas, que ela tinha conseguido ouvir, ela foi capaz de concluir que era de Cutter que eles estavam atrás, e não de Katie ou dela. Eles claramente o desprezavam; Jack Colyer, por algum dano feito à sua pessoa. Qual, ela não sabia, mas tinha a certeza de que ia descobrir em breve. As razões de Magnus eram um mistério. O simples fato de Cutter inalar o mesmo ar que ele, o provocava. As palavras da boca dele era "selvagem" - "mestiço" — ou alguns outros menos lisonjeiros. Dos três, O' Neill parecia ser o menos amargurado. Ele não disse nada quando eles montaram, mas ele demonstrou muito cuidado com Katie. Nele, Elizabeth sentiu sua maior chance de ter ajuda para fugir. Mas ela não ousava encarar seu olhar por muito tempo para confirmá-lo. Nem ela falou com ele por medo de chamar atenção por seu cuidado com Katie. Por ser tão solícito, o medo de Katie pareceu diminuir consideravelmente, e Elizabeth era grata por isso. Ainda assim os olhos de Katie pareciam estar à beira de lágrimas e Elizabeth estava atormentada porque ela não podia pegar sua sobrinha em seus braços, não podia confortá-la. Seus olhos pareciam vidrados cada vez que ela via a expressão estóica no rostinho lindo de Katie.
AINDA ASSIM, ver era melhor do que não ver. De vez em quando, O' Neill ficava fora do seu campo de visão, e o rosto da Katie se tornava nada mais do que um borrão sombreado. Era nesses momentos intermináveis que o coração de Elizabeth batia acelerado, pois ela queria desesperadamente saber que Katie estava segurava. Ela tentava ouvir qualquer barulho, e por não ouvir nada, Elizabeth tinha que finalmente concluir que Katie estava bem. Ela não chorou nem um momento. Eles não pararam até o final da tarde e apenas para dar água aos cavalos. Sem explicação, Magnus empurrou Elizabeth para um tronco caído para esperar. Depois de um momento, uma sonolenta Katie foi empurrada para os braços dela. Olhando para seus raptores com um nó na garganta, Elizabeth sentou-se, balançando Katie e sentindo raiva por todas as blasfêmias que Magnus falava sobre Cutter. Mas ela não disse nada, só ouvia e tentava desesperadamente manter seu controle. Por causa da Katie, ela suprimiu a raiva sob a aparência de indiferença. Mas se ela estivesse sozinha, ela poderia ter arrancado os olhos de Magnus por causa dos insultos que ele falava sobre Cutter na sua ausência. Como ele era corajoso para insultar um homem que não estava presente para se defender! Quanto mais ela ouvia, mais difícil ficava manter-se calada diante de seu fanatismo. Quando Magnus insultou Cutter novamente, dizendo que ele não era um homem, que ele era um animal que só servia para ser esfolado como um búfalo, Elizabeth não conseguiu manter-se calada
por mais tempo — apesar de sua determinação para não chamar atenção para si mesma por causa da Katie. Ela deu um olhar de desdém para Magnus, e devolveu Katie para os braços de O' Neill antes de virar-se para encará-lo. As pernas dela vacilaram um pouco. "Não me lembro de você ser tão vulgar e insultuoso quando estava frente a frente com Cutter," ela o hostilizou em voz baixa, tensa e com raiva. "Talvez você também não seja um homem, Sr. Sulzberger?" Magnus apenas sorriu, e então ele virou-se para Colyer com um sorriso beligerante. O olhar que eles trocaram a enfureceu. "Ela vai cavalgar na minha sela agora," ele disse com prazer, e então ele se voltou para olhar maliciosamente para ela. Colyer começou a rir. "Já era tempo de você mostrar alguma emoção, gata. Eu estava começando a me preocupar de ter pegado a mulher errada." O olhar dela foi de volta para Magnus quando ele cuspiu tabaco a seus pés, mas Elizabeth ficou firme, ignorando a sua crueza. Magnus assentiu com a cabeça concordando. "Não vi nenhum sinal daquele bastardo nos seguindo também," ele acrescentou. "Por um momento eu comecei a pensar que aquele mestiço inútil podia até não gostar o suficiente para vir atrás dela." A excitação inflamou-se em seus olhos quando ele se virou para enfrentá-la. Ele sorriu. "De qualquer forma, você acabou de fazer com que eu me decidisse, querida. Ele vem. E quando ele vier... Eu vou ter prazer em te mostrar, enquanto ele vai poder assistir, o que é ser um homem de verdade. Agora," ele falou, "coloca essa bunda linda na minha sela." Seu sorriso se alargou, seu olhar percorreu persistente o corpo dela, fazendo com que Elizabeth se sentisse desnudada diante dele. Ela estremeceu com seu olhar. "Nós vamos fazer algumas cavalgadas poderosas, você e eu," Magnus jurou. Um frisson de pânico percorreu o corpo de Elizabeth e seu rosto ficou pálido quando ela se lembrou do apelo apaixonado de Cutter — monta em mim, Lizbeth, monta em mim — e a crueza da voz dele. Ela fechou os olhos momentaneamente, pedindo a Deus que ela não tivesse noção do que essa palavra significava entre homens e mulheres, mas ela sabia, e pelo olhar no rosto satisfeito de Magnus ele sabia que ela tinha entendido muito bem. Dedos frios abateram-se sobre ela quando ele a pegou, e ela engoliu com nojo, estremecendo interiormente, com repulsa ao pensar que um mero imbecil podia revoltar seu estômago. Desviando os olhos dela, ela olhou por cima do ombro para Katie. Ela ainda estava dormindo — graças a Deus! Ela não podia suportar se Katie pudesse ouvir. "Bem, quem diria, o mestiço te treinou muito bem." Ele olhou para ela com um desprezo frio quando ele a agarrou pela parte superior do braço. Ela deu um grito assustado, sua garganta fechando com medo. "Agora," ele zombou dela, "por que você apenas não cavalga para que possamos ver que tipo de movimentos você aprendeu para nos dar prazer."
27
"B astardos querem que a gente os siga," Cutter falou por entre seus dentes. Ele quase não conseguia segurar sua fúria, gotas de suor pontilhavam sua testa, sua boca estava sombria. Cavalgando em silêncio ao lado de Cutter, Elias olhou para o rifle que ele estava examinando. "Como você sabe?" ele perguntou, percorrendo com os olhos a área diante deles antes de voltar seu olhar para Cutter. O olhar de Cutter estava fixado no horizonte, seu maxilar estava tenso com uma raiva que vinha crescendo desde o momento em que ele tinha descoberto que Elizabeth e Katie estavam desaparecidas. Ele tinha verificado até o último vagão do trem e corrido de volta para cidade de Fulton para encontrar Elias esperando por ele, pronto para cavalgar atrás delas. Elias já tinha colocado a sela em Cacau, e por uns trocados extras, o homem responsável pelo estábulo tinha colocado uma coleira no Preguiçoso e tinha prometido alimentar o vira-lata até que eles voltassem. Neste meio tempo, Cutter tinha achado a trilha de Magnus, e eles os estavam seguindo desde então. Até o presente momento, Sulzberger não parecia ter percebido isso. "Porque nós deveríamos estar seguindo uma trilha falsa," Cutter finalmente respondeu, "e não estamos." Ele virou-se para olhar para Elias, com sombras em seus olhos mostrando uma preocupação profunda. Ele não sabia se o velho sabia quais os problemas que eles iriam encontrar — e eles pareciam muito ruins para Cutter — mas não havia escolha. Porque Sulzberger era um jogador sujo, e Cutter sabia que ele precisaria de toda a ajuda que ele pudesse obter. Além disso, ele não estava se sentindo muito bem — não sabia bem o que é que estava errado, mas sabia que tinha a ver com o pé. O último homem que ele conheceu com uma infecção no pé, tinha ficado sem a perna, e ele com certeza não estava disposto a viver sem a dele, então era melhor deixar as coisas como estavam, porque ele sabia que o machucado ia melhorar. Mas não melhorava. O fato de que ele estava queimando de febre disse-lhe que o machucado era sério. Ainda assim, ele não podia perder tempo para vê-lo agora. Além disso, ele nunca tinha conhecido um cirurgião que não fosse nada além de um Serra-feliz e ele se sentia bastante preso à sua perna —
particularmente não queria se separar dela. "Sulzberger cavalgou muitas vezes ao meu lado para saber como deixar um rastro de lixo, se ele quiser. Ele nem sequer está tentando disfarçar." Ele salientou as faixas molhadas no solo enquanto eles passavam. "Ele começou a andar mais rápido, mas desde o final da tarde, ele está se movendo em passo de caracol. Agora que estamos no mato, sem testemunhas, para o que ele está planejando, ele não está com pressa." Ele olhou novamente para Elias e, em seguida, para o céu, para fiscalizar a linha do horizonte, recordando com uma torção no estomago como Magnus tinha cobiçado Elizabeth. Ele jurou para si mesmo naquele momento que o bastardo pagaria com sua vida se ele movesse um dedo no corpo de Elizabeth — ou, no de Katie. "Além disso,” ele acrescentou, "eles parecem ter saído do caminho para mergulhar seus pés na água — a trilha está molhada logo depois... é mais fácil identificar dessa maneira." Ele segurou as rédeas abruptamente, algo chamando sua atenção à distância. No instante seguinte, ele desembainhou sua carabina Spencer e estava segurando-a em seu colo, inspecionando-a para certificar-se de que ela estava carregada. Quando Cutter tinha completado sua inspeção, ele olhou para cima novamente, estudando o céu à distância. "A não ser que eu esteja errado," ele disse, "eles estão bem na nossa frente." Ele levantou o cano da sua carabina, destacou uma coluna de fumaça que se enrolava para cima como uma serpente malvada no céu grisalho. Elias abanou a cabeça. "Não faz sentido," ele murmurou em perplexidade. "Por que eles arriscariam um incêndio? Parece-me que se eles vão raptar alguém, eles devem ter a certeza de não serem apanhados." Cutter deu-lhe um olhar rápido, seus olhos negros brilhando ferozmente. "Faz todo o sentido do mundo," ele respondeu. "Só que eles não contavam com você vindo comigo, Elias. Há três deles, não é? Devia ser somente um de nós. Ou seja, eu." Sua boca tinha uma linha sinistra. "Acho que eles pensam que eu não sou páreo contra três — não sozinho... e não em uma emboscada." "Você acha que eles sabem que estamos aqui?" Cutter abanou a cabeça. "... Ainda não... acredito que eles estão ocupados se vangloriando. Não acho que eles esperam que nós tenhamos sentido o cheiro deles tão facilmente e rapidamente. A julgar pelos sinais que eles deixaram para nós, eles acham que estão deixando iscas para um idiota." Ele inclinou a cabeça em direção a um pequeno bosque de árvores à direita deles. "Por acaso você sabe como subir em árvore?" Elias assentiu com a cabeça, embora a expressão dele tenha ficado perplexa. “Bom. Porque tenho a certeza de que não pretendo dar para aqueles filhos de uma puta o que eles estão querendo ter esta noite." Um silêncio frio cercou-os naquele momento, e então ele acrescentou: "Não até saber o que eles realmente querem." "Agora, um momento, McKenzie.” Elias abanou a cabeça veementemente, tossindo discretamente. "Você não pode deixar Katie e Elizabeth no acampamento deles a noite toda — não quero nem pensar
o que eles podem fazer com elas!" Cutter deu para Elias um olhar letal, começando a se perguntar se ele deveria fazer com que Elias voltasse para casa. O velho tinha tomado muito cuidado para esconder a sua fadiga, mas estava ficando aparente o seu cansaço. Que par eles dois formavam! "Isso é o que eles estão contando que a gente faça," ele respondeu finalmente. "Mas como eu disse... Não pretendo ser óbvio." Ele apontou sua carabina casualmente para a colina em questão. "Se eu estivesse do outro lado, eu faria um acampamento onde eu pudesse ver tudo ao redor, sabendo que não seriam capazes de me avistar até chegarem à colina. Em minha opinião, você pode estar certo de que eles vão ter suas armas prontas assim que chegarmos." Ele apontou sua carabina para o bosque de árvores à sua direita. "Em vez disso, vou subir através daquelas ali, escalar os bastardos e depois passar a noite assistindo cada movimento que eles fizerem." Ele deu a Elias um olhar frio e calculado. "Talvez eles façam algum erro, talvez não — mas eu não vou correr o risco de Elizabeth ou Katie, terem suas cabeças estouradas." O olhar de Cutter voltou de novo para a colina, mas sua expressão estava ilegível, como se ele estivesse pesquisando para além dela. "Vamos jogar nosso próprio jogo," ele disse subitamente. "E se eles encostarem a mão em qualquer uma delas... Eu vou fazer que cada um deles se arrependa de alguma vez ter respirado." Sentindo que Cutter tinha sido sincero e de uma forma violenta em cada palavra que ele tinha dito, Elias estremeceu com a promessa cruel que ele viu na expressão facial de Cutter. Apesar das profundas sombras sob os olhos de Cutter e do suor que escorria de sua testa, demonstrando sua fadiga, Elias podia sentir sua vontade de ferro e a determinação que emanava dele. Assim como o perigo. Assim como ele tinha decidido quando colocou os olhos em cima de Cutter McKenzie, mestiço ou não, ele era o homem que Elias queria ter ao lado dele, e não o contrário. Ele deu um aceno conciliador, não que isso você mudar a escolha na decisão dele. O tom da voz de Cutter não convidava a perguntas. "Tudo bem, McKenzie... acho que você sabe melhor do que eu." Mais uma vez, ele acolheu o rubor da face de Cutter, um rubor que persistia apesar do fato de que o sol já tinha começado a se por e o ar tinha esfriado e ele ficou preocupado. "Você está bem?" ele perguntou cautelosamente, observando a expressão de Cutter. Algo não estava certo com o homem. Algo que ele não podia compreender. Talvez o homem pudesse estar doente. Mas Cutter não tinha dito uma única palavra para indicar que estava. Inclinando a cabeça, Cutter colocou a parte de trás do braço na sua testa, absorvendo o suor com a manga da camisa. "Tudo bem," ele respondeu bruscamente. Ele fez uma careta de dor ao tirar o pé do estribo. "Você tem certeza de que você está bem mesmo, velho?" "Tanto quanto você," Elias, rebateu. "É a minha neta que está por aí," ele lembrou para Cutter. Cutter assentiu com a cabeça, sabendo que eles estavam num impasse. "Tudo bem," ele disse, "Vamos colocar nossos traseiros naquele matagal antes que alguém nos veja."
Katie agarrou-se ao pescoço de Elizabeth, gritando quando Magnus tentou erguê-la separando-as. O olhar de maldade dele deixou-a cheia de pânico, mas ela não tinha a intenção de ser uma vítima. Prometendo fazer com que a violação de sua pessoa fosse a conquista mais difícil que ele já tinha tentado, Elizabeth levou seu braço para fora de seu alcance. E ele não ia tocá-la na frente de Katie! Ela jurou. "Me solta, seu porco!" Ele sorriu maliciosamente. "Vejo que finalmente você encontrou sua língua, hein?" "Você realmente não tem qualquer consciência?" Elizabeth cuspiu, ignorando sua provocação. "Você não tem coração? Você está assustando a criança!" Magnus apenas riu. "Não fique se gabando, vaca. Não pretendo tocar em um fio de cabelo da sua cabeça. Bonito como ele é... não me atrai em nada." Ele fez um movimento com o queixo, sorrindo através de sua barba. "Agora, Colyer ali pode sentir de forma diferente. O fato é que talvez ele queira marcar um gol no placar." Elizabeth seguiu o olhar para onde Colyer estava de pé com as costas contra uma árvore. Ela não podia ver seu rosto, apenas sua silhueta. Ainda assim, havia uma aura sobre ele que enviou um calafrio de apreensão pelo seu corpo. Tentando esconder sua histeria, ela virou-se novamente para Magnus, o tom dela tão calmo quanto ela conseguia, por causa da Katie. "Se é a batalha dele, então o deixe lutá-la por si mesmo. Por favor... deixe-nos ir...“ Ela deu para Colyer um olhar mordaz, em seguida, sentindo essa tática falhar, ela se virou para implorar para O’ Neill, que estava fielmente de pé ao lado de Magnus. "Como você pode agüentar machucar uma criança inocente? Como você pode nos envolver? Tenha piedade!" Ela tentou olhar diretamente para os olhos dele, para tentar se comunicar com ele, mas ele evitou-a firmemente. "Covarde!" ela cuspiu. Sentindo-se derrotada, ela virou novamente para Magnus, sua voz ainda cheia de desprezo. "E o que você tem a ganhar com tudo isso?", ela perguntou. "Certamente alguma coisa". "Os mortos não carregam estórias," ele disse enigmaticamente, inclinando o olhar em direção a O' Neill. "Meu Deus, vocês todos são uns grandes covardes — todos vocês! Vocês têm muito medo de encarar Cutter McKenzie sozinho e então vocês precisam usar uma criança como escudo?" Disparando para frente, seu rosto vermelho com fúria, Magnus a pegou pelo braço e empurrou-a para o chão. "Puta! Cale-se antes que você e essa garota barulhenta ganhem uma sepultura precoce!" Agarrando o braço Katie, que agora gritava, Elizabeth tentou aliviar a queda ao solo com o outro braço. Os lábios dela tremiam quando eles começaram a formar a pergunta que a tinha assombrado o dia todo. Muitas vezes ela tinha evitado perguntar, com medo de Katie a ouvir: "Diga-me... o que você pretende fazer com a gente?" Magnus arqueou uma sobrancelha para ela. "Bem, agora, por que não apenas esperamos para ver," ele disse de uma maneira insultante. Elizabeth balançou a cabeça lentamente, engolindo o caroço que subia na garganta dela. Os olhos
dela estavam cheios de lágrimas, mas ela ergueu seu queixo bravamente. Ela tinha fé absoluta, ela sabia que Cutter viria salvá-las, mas ela odiava o homem por usar Katie como sua isca. "Você é um covarde, Sr. Sulzberger." "Eu disse cale a boca, sua vadia! O ' Neill amarre as mãos e pés dela! Nas costas dela. Agora!" Os gritos de Katie intensificaram o seu comando, e o coração de Elizabeth se torceu dolorosamente. "E você," Magnus latiu, apontando um dedo para Elizabeth, "Faça essa pirralha chorona ficar calada!" De seu esconderijo no topo da árvore, Cutter podia ver quase tudo. Ele manteve sua carabina apontada na direção de Colyer, sabendo que até que ele descobrisse o motivo de Magnus, Colyer, dos três, era o que tinha o motivo maior para ter feito o sequestro. Ele teve que se segurar para não apertar o gatilho quando Magnus jogou Elizabeth no chão. Covarde filho da puta que ele era. Ele gostava de usar seus músculos com mulheres e crianças. Cutter sacudiu sua cabeça, de repente, a imagem de Sulzberger empurrando para o chão um pequeno grupo de crianças Cheyenne, e atirando com sua baioneta até no mais novo deles, voltou a sua mente com uma clareza doentia. A arma de repente se virou para Magnus. O suor caía sobre a testa e as laterais do rosto de Cutter enquanto ele lutava contra o comando de sua alma que o mandava atirar. As conseqüências de Sand Creek estavam tão vívidas naquele momento que ele saboreou o sabor do seu próprio sangue enquanto ele lutava contra as imagens na sua cabeça. Mulheres. Crianças. Mutilados. Magnus e os seus homens indo atrás de uma criança pequena, não muito mais velha que Katie, escondida sob a areia. Eles puxaram para fora suas pistolas e atiraram nela, depois a arrastaram para fora e atiraram nela novamente, deixando-a ao relento para morrer. Cristo, ele nunca quis matar alguém como naquele instante... como ele queria agora. A única coisa que o impedia era o conhecimento de que uma vez que ele puxasse o gatilho, que ele iria pagar e sua vida seria um inferno. Não existia um mestiço em solo americano que pudesse derramar sangue branco e não acabar na prisão. Se eles tivessem sorte poderiam ter um julgamento legal antes da cadeia. Se não — seria o inferno! Ele não tinha conseguido viver todo este tempo sendo descuidado! Seu olhar se mudou abruptamente do seu alvo para Elias Bass, que estava escondido num galho acima dele. Se ele tinha negócios para acertar, então a última coisa que ele precisava era de testemunhas. Ele tinha conhecido homens bons, mestiços, que tinham sido contratados por John Law para fazer seu trabalho sujo, e assim que a missão era cumprida, Johnny sempre lavava as mãos. Só que desta vez, não parecia que ele ia ter muita escolha. Novamente a arma deslocou-se... para Colyer, ofuscando sua visão. Apertando os olhos para esquecer a dor no pé dele, Cutter piscou duro, virando a cabeça para olhar para Elias, que estava olhando para ele por um buraco. Droga, o que
estava errado com ele? "McKenzie? Você está bem?" "Estou bem," Cutter rosnou, seu olhar deslocando-se abruptamente para Colyer. Murmurando um juramento, ele assistia em silêncio, quando os três homens pegaram seus equipamentos e foram embora, deixando Elizabeth e Katie em paz. Elias observou Cutter por mais um instante, e então, sem mais uma palavra, virou-se para assistir enquanto Magnus e seus homens montavam acampamento cerca de quinze metros de distância de onde Elizabeth estava. A área onde ela estava sentada era desprovida de árvores, atapetadas somente com grama alta, enquanto a que Magnus estava tinha moitas, como o terreno onde Cutter estava escondido. Apesar do fato de que Elizabeth estava no meio deles, Cutter ainda tinha como dar um tiro certeiro em Magnus... se ao menos não estivesse ficando escuro... se apenas seus olhos não estivessem pregando peças nele. O que estava errado com ele? Ele balançou a cabeça, tentando se livrar de uma faixa negra que estava lentamente obscurecendo sua visão.
O QUE O intrigava era o fato de que Magnus não estava fazendo nada para tentar esconder seu acampamento. Era como se ele estivesse usando Elizabeth como isca. Mas por quê? Ele se voltou novamente para Elias, seus olhos se estreitando, brilhando na luz fosca — o sol estava se pondo rápido. Talvez, então, ele pudesse fazer sua jogada. "Você disse que Magnus tinha papéis?" Elias assentiu com a cabeça olhando na direção de Cutter, percebendo que as mãos que momentos antes tinham segurado firme a carabina agora estavam oscilando. "É verdade". Cutter balançou a cabeça distraidamente. E seus olhos concentraram-se então mais uma vez. "Que tipo de papéis?" Os olhos de Elias se estreitaram, e ele suprimiu uma tosse. Seu instinto lhe disse que Cutter não iria admitir fraqueza para ninguém, nem para ele mesmo. "Uma carta do General Sully," ele disse. "Te acusando de deserção... oferecendo clemência em troca de cooperação." "Que tipo de cooperação"? "Não dizia." "O filho da puta estava blefando." Elias deu um olhar na direção de Elizabeth e Katie. "Não parecia que ele estava blefando comigo." E depois se voltando para Cutter. "Isso é uma acusação muito grave, McKenzie." Cutter sabia que não era possível. Ele não era um militar dos Estados Unidos, a não ser sob contrato, e seu contrato não tinha sido renovado. "O documento me acusava de deserção? Ao pé da letra?" Elias voltou a olhar para sua neta e então mirou sua carabina no Tenente Magnus Sulzberger.
"Bem, não... não exatamente. Havia três linhas — tinha algo escrito como... em referência a uma ausência sem licença... será considerada leniência sem direito a —" seu olhar retornou brevemente para Cutter, e ele limpou a garganta "— clemência, eu acredito que era isso." Cutter assentiu com a cabeça, satisfeito. "Como eu disse, o filho da mãe estava blefando." "Não faz sentido. Por que ele faria isso?" "Homens desesperados fazem coisas desesperadas," Cutter respondeu, balançando a cabeça vigorosamente, piscando novamente para afastar a neblina que se fechava como um véu sobre os seus olhos. "A carreira de Sully pode depender de sua próxima campanha. Acho que ele pensou que eu ficaria louco o suficiente para ir à procura dele. E ele estava certo. Tenho certeza que ele imaginou que conseguindo me pegar seria metade da batalha, porque então ele poderia tenta me dobrar, me subornar, qualquer coisa. Veja bem, ele precisa algo de mim e eu não vou desistir." Elias deu-lhe um olhar cético e então assentiu com a cabeça. "Ele quer que você seja batedor para ele? Parece um monte de problemas para ele passar somente para convencê-lo a ser seu batedor. Por que ele não te pediu?" "Ele pediu," Cutter respondeu friamente, focando sua visão sobre o cano da sua carabina. "E?" "Eu disse para ele ir se enforcar." Seus olhos se estreitaram. "Nunca pretendi fazer parte de uma nova Sand Creek!" O silêncio que se seguiu foi pesado. "Acaso você sabe como Sully sabia onde me encontrar?" ele perguntou de repente. O silêncio continuou pesado. "Sim," Elias respondeu finalmente. Cutter deu-lhe um breve olhar. "Sim?" As sobrancelhas de Elias se franziram. "Eu tinha todo o direito de usar minhas conexões para examiná-lo, McKenzie, e isso é precisamente o que eu fiz — tão logo soube pela sua irmã que você e Elizabeth estavam a caminho. Você faria a mesma coisa!" "Sim," Cutter falou depois de um momento, dando outro relance rápido para Elias. "Acho que sim." Ele voltou sua atenção para o pequeno grupo à distância. Com o efeito da luz, seus alvos estavam se tornando muito indistintos. E maldição, parecia que ele estava pegando fogo. Ele não podia acreditar que um pequeno corte iria derrubá-lo. Diabos, ele tinha cicatrizes de feridas maiores que não tinha incomodado nem metade. Suor aparecia em cima do seu lábio. "O que não entendo é que papel Sulzberger tem em tudo isso," ele meditou em voz alta. "A menos que...“ "A não ser o que?" "A menos que ele tenha seus próprios planos — a menos que ele pretenda usar essa carta de Sully em seu benefício." As sobrancelhas de Elias subiram. "Como é isso?" Na escuridão crescente, os olhos de Cutter buscaram Elias novamente. Eles brilhavam como vidro preto, com a última luz do dia. "Para lubrificar a bala que ele gostaria de colocar nas minhas
costas,” ele respondeu sem emoção. "É por isso." Houve um silêncio, um momento, e então ele acrescentou: "Elias... Quero que você volte para cidade de Fulton. Para trazer a lei com você." "Do que você está falando, McKenzie," ele sussurrou furiosamente. "Eu sou um homem velho, com certeza, mas não tão inútil que eu não possa ajudar aqui! Minha neta precisa de mim!" "Sim... e é precisamente por isso que você vai," Cutter respondeu friamente, dando-lhe um aceno de cabeça firme. "Porque sua neta precisa de você." Os dois se olharam num silêncio estático. Os olhos de Elias se estreitaram. "Está tentando me dizer algo, McKenzie?" Era dolorido para Cutter ter que reconhecer qualquer fraqueza... mas era isso... ou perder Elizabeth e Katie por causa de um orgulho teimoso. Ele não podia fazer isso. Não. Ele assentiu, estremecendo quando mudou sua posição ligeiramente. A dor trespassou sua perna esquerda, e ele grunhiu quando ela explodiu em seu quadril. "Acho que estou," ele respondeu com a voz rouca. "Se você for agora, Elias, você pode voltar antes do amanhecer. Você tem minha palavra de que não vou atrás deles sozinho, a menos que algo aconteça e eu tenha que ir.” A indecisão estava clara nos olhos azuis de Elias assim como os olhos de Cutter estavam atormentados. "Eu te dou a minha palavra" Cutter assegurou. Suor escorria na sua testa. "E se eles se retirarem, eu vou te deixar um rasto que até um cego poderá seguir." Mesmo assim Elias não respondeu. "Custe o que custar, eu não vou permitir que ninguém prejudique um fio de cabelo da sua neta." Elias amaldiçoou sob sua respiração. "Eu sei," ele disse desviando o olhar. Houve um longo silêncio, e então ele disse, "Eu sei sobre vocês dois... sei que vocês não são casados." "Sulzberger disse isso, também?" Cutter rosnou. Elias assentiu, e Cutter analisou suas perspectivas quando ele finalmente se virou para enfrentálo, mas não havia nenhum sinal de desprezo. Nenhum. Ele assentiu, admitindo o fato. "Isso não importa para mim," Elias revelou, olhando novamente para Katie e Elizabeth e depois de volta para Cutter. "Posso dizer que você a ama. Se você puder dar a minha neta metade do amor que você sente por ela... ela vai ser uma garota de sorte. Não depende de mim para te julgar — nenhum de vocês dois. Você vê... Eu e a Miss Mimi..." De repente, ele evitou o seu olhar. "Estamos juntos há anos... e, bem..." "Você não precisa me dizer," Cutter falou. "Eu sei." Elias assentiu com a cabeça. "Sim, sim. Você vê... Quero ficar esse tempo com a Mimi. Eu passei muito pouco tempo com a minha esposa antes dela morrer. Muito pouco tempo com meu filho. E não pretendo cometer esse erro novamente. Eu amo a Mimi já faz alguns anos... não quero mais adiar a viver minha vida... porque eu não queria ofender o meu filho. Mas agora John se foi, e eu sei que você vai ser um bom pai para Katie," ele continuou, olhando para baixo, para o chão. "De qualquer forma, só queria que você soubesse antes de eu ir." Ele olhou para cima abruptamente, buscando a expressão do Cutter. "Você planeja se casar com a garota, não é?" ele perguntou. Os olhos de Cutter se estreitaram ligeiramente. Ele queria garantir ao velho que ele gostaria se
Elizabeth também quisesse, mas o orgulho não o deixava. "Isso é entre Elizabeth e eu," ele disse com os dentes cerrados. "Agora... é melhor você ir." Elias assentiu lentamente. "Acho que é melhor," ele concordou com um suspiro, "eu ir para voltar antes do amanhecer...“ Desde o momento que Katie abriu os olhos, ela começou a gemer descontroladamente. E apesar do fato de que sua boca estava entupida com pano, ela continuou a gritar na escuridão, se agarrando freneticamente no pescoço de Elizabeth. Mordendo o lábio dela, Elizabeth rezou para que Magnus e Colyer não ficassem irritados de novo. Por outro lado, ela estava certa que Katie e seus gritos eram a única coisa que impedia Colyer de abusar dela. Resmungando sobre prostitutas e gritando sobre pirralhos, todos os três tinham se afastado para longe delas, para o calor e a luz da fogueira, deixando Elizabeth e Katie no frio, na escuridão vazia. Dando um olhar fugaz de desculpas, O' Neill tinha amarrado suas mãos atrás das costas e então os pés dela, firmemente, para que ela não pudesse escapar. Para ter certeza de que a corda não estava cortando sua circulação, Magnus a inspecionou várias vezes. Para onde eles esperavam que ela fugisse? Eles estavam no meio do nada, por piedade! Porque eles tinham sido incapazes de levar Katie para longe dela, ou mesmo fazê-la ficar em silêncio, eles tinham amarrado as mãos da criança no pescoço de Elizabeth. Suas perninhas estavam esticadas em torno da cintura de Elizabeth, e então eles tinham enfiado uma meia na boca dela, e colocado um lenço imundo ao redor de seu rosto. Era tão grande que ele cobria a maior parte do rosto de Katie, e Elizabeth teve que puxar o lenço com os dentes para que Katie pudesse ver alguma coisa. Quão cruel as pessoas podiam ser? A culpa a atormentava quando ela reconheceu o fato de que, se não fosse por sua própria determinação em criar a criança como se fosse dela, Katie não estaria sofrendo neste momento. Os dentes dela estavam rangendo, mas não era por causa do ar frio da noite, mas do medo que ela sentia por essa criança inocente. As lágrimas apareceram nos olhos dela, e ela começou a tremer enquanto ela balançava Katie, e tentava acalmar seu choro. “Cutter," ela sussurrou, sua bochecha contra a pele aveludada do minúsculo rosto de Katie. “Onde você está?" Ele sabia o que tinha acontecido com elas? Querido Deus, e se ele achasse que ela tinha deixado ele deliberadamente? Não importava o que Elizabeth fazia, ou dizia, nada parecia acalmar Katie e ela continuava a chorar. Deus sabia que ela compreendia o medo de Katie, entendia sua histeria — na verdade, ela também sentia vontade de gritar — mas o pânico de Katie a fazia se sentir um fracasso. O que teria feito Katherine? Ela se perguntou melancolicamente. Balançando para frente e para trás, roçando sua bochecha nos cachos úmidos de seda de Katie, Elizabeth segurou suas próprias lágrimas, sabendo que sua própria histeria não era susceptível para
ajudar Katie. "Katie," ela sussurrou. "Katie, querida..." Um soluço escapou, mas ela mordeu o lábio, segurando seu choro. "Não permitirei que eles te façam mal, querida... Eu juro — oh, Deus! O que eu fiz?" Ela engoliu outro soluço antes que pudesse conseguir escapar da garganta dela. "Katherine... Ah, Katherine, peço desculpa. Por favor, me ajuda." Impotente para fazer qualquer coisa, a não ser colocar Katie perto dela, ela se deitou cansadamente em cima da grama, pensando em todos os sonhos que ela tinha começado a tecer em torno da criança aninhada contra ela. Cada um deles incluía Cutter. Depois de um momento, os soluços chorosos de Katie finalmente se tornaram um choro sonolento quando ela ficou mole de cansaço. Revidando sua própria fadiga, Elizabeth fechou os olhos. Seus pensamentos voaram para o dia em que ela tinha conhecido Cutter. Difícil acreditar que tinha sido há tão pouco tempo atrás; parecia que tinha passado toda uma vida. Tanta coisa tinha acontecido desde então. Tanta coisa havia acontecido com ela. Ela estava diferente, regenerada, como uma borboleta que tinha conseguido sair de seu casulo. Arrogante e irritante como o homem era, de alguma forma ele tinha conseguido se infiltrar no coração dela, um coração que ela tinha pensado que estava morto há muito tempo. Por tanto tempo, ela tinha sido cuidadosa para não deixar ninguém — ninguém mesmo — entrar na vida dela, porque então ela não teria que sofrer a dor de ver a pessoa saindo de sua vida. Com Cutter... parecia estar valendo a pena correr o risco. Não importava o que ele era. Nunca tinha importado, ela percebeu naquele momento. E se ela algum dia tivesse chance, ela faria com que ele visse isso, também. Querido Deus, ela o amava! Seu coração começou a bater, e ela tornou-se instantaneamente alerta, plenamente consciente das coisas a sua volta, cada barulho na noite. Ela sufocava a vontade de gritar o nome dele, sentindo sua presença. Ela podia quase sentir o cheiro dele na brisa ligeira, mas não podia ver nada. Sem lua, a escuridão estava impenetrável.
28
Ocoração de Elizabeth quase voou para fora de seu peito quando dedos quentes roçaram sua perna inesperadamente. Sufocando um grito de pânico, ela se deitou da maneira que pode, com medo de acordar Katie. Por favor, por favor, que seja Cutter, ela implorou silenciosamente. Querido Deus, e se não fosse? E se fosse Colyer? Ela não aguentaria. Tinha que ser Cutter! Por que ele não falou? Bem, claro, ela sabia por que ele não tinha falado! Ela ralhou com ela mesma histericamente. Doce céu que me protege! Desajeitadamente a mão tateou sobre a parte inferior de suas pernas, sentindo algo e depois que encontrou, parou na corda grossa que prendia os pés dela. Ela esperou sem sequer respirar, ouvindo o som da faca cortando as cordas. Na última corda as pernas dela ficaram livres, entorpecidas, mas livres. O coração dela batia mais rápido, ela ficou olhando, seus olhos largos, enquanto a sombra se arrastava até o rosto dela... tão perto que ela podia ouvir a respiração entre eles... mas a escuridão era muito intensa. Ela não podia ver o rosto. "Minha senhora?" a voz falou suavemente. Elizabeth recuou instantaneamente. Não era Cutter! Sua mente gritou. Ah Deus — não era! Naquele momento ela se sentiu mais próxima da loucura como nunca tinha se sentido em sua vida. Ela deve ter feito algum som apavorado, porque no momento seguinte, uma mão escorregou firmemente sobre sua boca, prendendo seu grito na garganta. "Minha senhora? Sou eu, Jacob O' Neill. Não grite. Eu não vou lhe machucar —" as palavras de O' Neill foram cortadas repentinamente quando o cano de uma espingarda bateu em suas costas. "Maldito, você não vai mesmo, menino de azul!" ouviu-se um sussurro efervescente. Era a voz de Cutter, finalmente, Elizabeth sentiu seu coração bater mais rápido no seu peito. Ela engoliu incapaz de falar momentaneamente porque diferentes emoções jorravam dentro dela. Alívio. Alegria. Raiva!!! Por que ele demorou tanto tempo?
"É mais fácil eu te ver no inferno," continuou Cutter. Apesar do fato de que sua força estava se exaurindo, e seu corpo parecia surpreendentemente à beira do abismo, sua voz parecia rude. "Agora, levante as mãos onde eu possa vê-las," ele disse entre dentes. A mão de O' Neill subiu lentamente, o luar brilhando sob a faca. "Eu ia deixá-la ir, senhor — eu juro! Se você chegasse um segundo depois, você teria me ouvido dizer para ela ir embora. Eu estava a um passo de cortar as cordas e deixar suas mãos livres, é tudo... Ainda vou... se você me deixar?" Um silêncio frio acompanhou sua declaração, e ele continuou sem ser solicitado. "Senhor,” ele aconselhou num sussurro nervoso. "Se eu vou libertá-la, temos que correr, porque meu turno vai acabar em vinte minutos." Ainda assim, ele não teve nenhuma resposta. "Se você não vai me deixar," continuou O' Neill, engolindo com dificuldade, "então você pode meter uma bala nas minhas costas, porque Sulzberger vai se você não o fizer. Se não for ele, então vai ser Colyer— ele não gosta muito de você porque você cortou a orelha dele." "Algumas pessoas não têm o mínimo senso de humor," Cutter disse tão baixinho que enviou um frio pela coluna de Elizabeth. "Que pena. Pensei que ele já tinha se esquecido disso." Ele não gosta muito de você porque você cortou a orelha dele, Elizabeth ouviu novamente. Ela estremeceu com a violência moderada da resposta de Cutter — isso e o fato de que eles trocaram uma lembrança — no dia que ela tinha lhe perguntado por que seu cavalo tinha apenas metade da orelha direita. "A idéia de alguém sobre uma brincadeira," sua voz ecoou no ouvido dela. “... Não acho que o homem continue rindo... Ele só foi um pouco longe demais na tentativa de me provocar, é tudo." "O que você fez com ele?" "Você não quer saber." Seus ombros tremiam fracamente, enquanto Katie, encostada em seu peito, começou a se mexer, choramingando baixinho durante o sono. "Tudo bem," Cutter concordou, golpeando O' Neill nas costas mais uma vez. "Deixe-a ir, então." "Sim, senhor!" Jacob chegou perto de Elizabeth imediatamente, quase com ansiedade. "Acho que você pode se sentar de frente para mim, minha senhora?" Elizabeth assentiu e percebeu que ele não podia ver seu gesto, ela disse, "Acho que sim..." E ela tentou, mas sem os braços para usar para se equilíbrar, junto com o peso da Katie, ela caiu. Ela rolou ligeiramente acordando Katie. Na mesma hora Katie começou a choramingar por trás de sua mordaça.
"FIQUE CALADA, querida," sussurrou Elizabeth freneticamente. "Cutter está aqui para nos levar para casa. Não chore." Enquanto ela acalmava a Katie, Jacob ajudou-a a se sentar e imediatamente começou a cortar a corda que prendia suas mãos às suas costas. "Fica bem quieta, agora, minha senhora... não quero lhe cortar... Só mais um pouquinho —"
De algum lugar dentro da escuridão, tiros irromperam sem aviso. O comentário de O' Neill terminou com um gorgolejo abafado, quando uma bala atingiu sua traquéia. Elizabeth gritou quando ele caiu para frente, no colo dela. Katie gritou com medo, e Elizabeth alcançou-a instintivamente, arrancado o último pedaço de corda. Em poucos segundos, outra bala passou zunindo por eles. E depois outra, atingindo o chão à sua direita. Recuando para trás, Elizabeth gritou em pânico, tentando se libertar e a Katie, do corpo de O' Neill. Ele era muito pesado! "O' Neill — seu bastardo!" ela ouviu a voz rouca e sonolenta de Magnus. Com um grito de guerra selvagem, Cutter empurrou o corpo de O' Neill para longe de Elizabeth. Elizabeth automaticamente se atrapalhou com o corpo do garoto, tentando alcançá-lo, para ajudálo, para arrastá-lo para um lugar seguro. Seu dever — era procurar ficar segura e dar segurança para Katie. Outro tiro passou por eles, vindo da direção oposta, desta vez, e em algum lugar ela ouviu pés se arrastando. "Ajude-me, Cutter — ele está ferido!" "Ele não está ferido.” ele disse "Ele está morto! Agora vamos lá, doutora!" Cutter a pegou pelos cabelos, tentando trazê-la para perto dele. "Pelo amor de Deus, mulher," ele rosnou quando ela resistiu. "Você não pode consertar este também! Acabou!" Quase a arrastando, ele se embrenhou na escuridão, puxando Elizabeth, tentando não prejudicar Katie enquanto ele colocava as duas atrás de uma pedra pequena que mal conseguia encobri-los. Acima deles, balas cantavam. Uma atingiu a pedra, ricocheteando na escuridão. Cutter tirou seu Colt do seu cinturão e entregou-o na mão de Elizabeth. "Fique abaixada e tente atirar no alvo!" ele exigiu. "Vamos desamarrar a Katie." "M-mas eu — eu não posso ver!" Elizabeth suspirou, a mão dela tão instável quanto a voz. "Não posso ver nada para atirar!" "Pelo amor de Deus!" Cutter estendeu a mão e apontou a arma na direção que ele queria que Elizabeth atirasse e então, com um movimento rápido, ele retirou a faca da bota, cutucando Elizabeth quando ela não o obedeceu imediatamente. "é só apertar o amaldiçoado gatilho!" Outra salva de tiros passou zunindo por eles, mas Elizabeth já não podia dizer se eles estavam indo ou vindo. Ela congelou. "E-em qualquer lugar?" ela perguntou freneticamente, os dedos tremendo violentamente. "Em qualquer lugar, mas não em mim!" Cutter atirou de volta. "Se você não pode ver — não se dê ao trabalho de olhar. Apenas mantenha a arma firme e aperte o gatilho.” Ele rapidamente cortou a corda que prendiam os pulsos de Katie, libertando os braços que estavam ao redor do pescoço de Elizabeth, depois os pés dela. Livrando-a do pescoço de Elizabeth ele murmurou uma maldição, e removeu a mordaça da boca de Katie. Ele empurrou Elizabeth para baixo outra vez quando a cabeça dela subiu, e tardiamente ocorreu-lhe que ela ainda não tinha disparado um único tiro. Ele falou para ela, com firmeza. "Atire!" Tendo libertado Katie, Cutter virou-se, indo para cima de uma rocha. Ele apontou sua carabina
para a noite escura, atirou, e logo depois recarregou a arma. Seus ouvidos se esforçavam para pegar os sons que ele precisava, ele disparou novamente, repetindo o processo com calma e proficiência. Então, recarregando rapidamente, logo depois que ele disparava. Cutter se sentia prejudicado por causa da falta de luz, ficando surpreso quando ouviu um gemido de dor. Mas ele sorriu para a escuridão e atirou outra vez. Elizabeth apertou o gatilho de sua arma. Enquanto ela disparava um tiro, outra bala atingiu a rocha, ricocheteando na pedra, caindo ao chão nas proximidades. "Katie," Cutter disse, sua voz torturada, voltando-se para pegá-la pelo braço. "Você confia em mim, não é?" As coisas não iam bem como ele havia planejado. Diabos, ele esperava que Elias voltasse antes que ele fosse forçado a entrar no acampamento do inimigo. Mas ele tinha ouvido Elizabeth choramingando e tinha reagido puramente por instinto. Apavorada, como ela estava Katie balançou a cabeça uma vez em reconhecimento quando ela respondeu para ele com a confiança antecipada de uma criança. Cutter sentiu o gesto mais do que ele viu. Alívio caiu sobre ele, porque ele com certeza precisava da confiança dela. "Boa garota!" ele disse, enquanto sua mente procurava uma solução. Ele tinha esquecido que Elizabeth não podia ver ao longe, na distância. De noite ela era cega como um morcego. Ele tinha planejado que ela fugisse junto com Katie, em quanto ele cobria a retaguarda e corressem para a segurança, mas Elizabeth provavelmente iria levá-los direto para o inferno assim. Não, Katie ficaria melhor sem ela. Na verdade ele não ia deixar Elizabeth sozinha — sem saber para qual caminho ela deveria correr quando chegasse à hora. Se ele a deixasse agora... ele não estava certo de que ele conseguiria recuperá-la. Ele se sentia preso entre a cruz e a caldeirinha. Ele balançou sua cabeça e agarrou a mão de Katie firmemente. "Esta tudo bem agora, Katie. Ouça-me... Quero que você rasteje — direto como você puder — rápida como você puder. Eu..." Droga, ele não tinha escolha. Não podia deixá-la ir sem proteção. "Eu estarei bem atrás de você," ele falou, seu estomago se revirando. Katie assentiu com a cabeça novamente, mas seu pequeno corpo estava tenso e Cutter fez carinho nos seus cachos para acalmá-la. "Eu estarei bem atrás de você," ele repetiu. Os tiros diminuíram momentaneamente, então parou por um instante, e Cutter a empurrou. "Vá!" ele sussurrou. Katie correu tão rapidamente quanto suas mãozinhas e pés conseguiam, e era tudo o que Cutter podia fazer para mantê-la viva. Levou um momento aterrorizante para Elizabeth perceber o que tinha acontecido, para ver que ela estava sozinha. Mas no momento em que ela viu, o medo atingiu seu coração como aço frio. Ela tentou desesperadamente impedir que o pânico invadisse seu corpo, sufocando a respiração. O coração dela martelava com medo, enquanto ela apertava sua arma. Mas mesmo antes do último tiro, Cutter materializou-se da escuridão para tirar a arma de suas mãos, como se ele tivesse previsto isso.
Mantendo-se abaixado no chão, Cutter puxava Elizabeth para frente, cada vez que ela ficava para trás. Finalmente, após evitar as balas, eles conseguiram chegar numa pedra muito maior. "Katie?" Cutter sussurrou enquanto ele arrastava Elizabeth para trás da pedra. Katie murmurou algo ininteligível, e Cutter imediatamente se levantou, deixando Elizabeth procurando por ela. Ela procurou por Katie na escuridão, chamando o nome dela suavemente. Com um gemido um pouco assustado, Katie mergulhou em seus braços, e Elizabeth pediu para ela ficar em silêncio. A escuridão era uma bênção e ao mesmo tempo uma maldição — ela os escondia, mas também protegia os homens que disparavam sobre eles. Enquanto o tempo passava, os tiros tornaram-se mais esporádicos, cada lado pensando em poupar munição, cada lado, com o objetivo de ganhar. Foi com alívio que Elizabeth sentiu a vinda da luz do dia. Quando as primeiras listras rosa da aurora começaram a brilhar no céu, ela se amontoou perto de Katie, tentando ter o mínimo possível de distração. Vendo Cutter atentamente, ela acalmou a criança, passando os dedos através dos caracóis do seu cabelo. O coração dela balançou quando Cutter de repente vacilou em seus pés. Piscando duro, Cutter balançou a cabeça para fugir da escuridão. Apesar do fato de que a noite estava acabando, sombras começavam a convergir em sua mente, e elas chegavam rapidamente. Não havia dúvida sobre isso agora. Ele lutou enquanto podia. Ele não tinha muito tempo. Novamente, ele piscou e balançou a cabeça, caindo de joelhos. Ele sabia que não podia entrar em pânico. Pânico os colocaria a sete palmos da terra. Mas sua força estava se desvanecendo rapidamente. Ele se virou subitamente, suas costas batendo contra a rocha quando ele caiu para trás, seu cabelo e roupa encharcados de suor. Sem dizer uma palavra, ele levantou seu Colt do cinto dele e começou a colocar as balas na arma. "Cutter?" Vendo os olhos dele se fecharem brevemente, Elizabeth se assustou. Chorando, ela tirou Katie do seu colo e foi para perto dele. "Cutter!"
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I mediatamente,
Elizabeth começou a procurar por uma ferida, lágrimas inundaram seus olhos, ameaçando obscurecer sua visão. Com sua última força, Cutter afastou a mão de Elizabeth e continuou a carregar sua arma, mas ela retornou teimosamente, sondando-lhe, segurando seus soluços enquanto ela procurava. Suor escorria da testa de Cutter, enquanto ele passou a arma carregada para Elizabeth. "Onde?" Elizabeth perguntou, o desespero tomando conta dela. Ela podia senti-lo desmaiando e não tinha noção do que estava errado. "Não vejo onde atiraram em você!" Ela estava perdendo seu controle. Querido Deus, Cutter não podia morrer. Ele não podia deixá-la! Ela o amava. "Cutter," ela gemeu. "Lizbeth, garota... estamos num mato sem cachorro..." ele falou para ela, oscilando à beira da inconsciência. Sombras passavam diante de seus olhos quando ele lhe entregou o Colt carregado. Sua boca estava seca. Como a morte. "Preciso da sua ajuda," ele disse com a voz rouca. Elizabeth abanou a cabeça, empurrando a arma. Ela estava apavorada achando que se ela tocasse na arma, ele fosse sumir. Desesperada, ela continuou a sondar o corpo dele tentando achar a misteriosa ferida, sem entender porque ela não conseguia encontrá-la. Cutter a olhava fixamente, os olhos vidrados e pequenos. "Elizabeth," ele disse com firmeza. "Pegue a maldita arma... aponta para os bandidos... e atire." Ele deu a arma para ela e a empurrou fracamente. "Pegue," ele suplicou suavemente, piscando com os olhos vesgos. Combatendo sua histeria, Elizabeth arrebatou a detestável arma de suas mãos, com a intenção de colocá-la de lado enquanto ela continuava a buscar o ferimento, mas no momento em que ela pegou, os olhos de Cutter se fecharam, e ele caiu para o lado. "Não!" ela gritou, agarrando seus ombros com desespero. "Oh, não — Cutter, não!" As balas continuavam a salpicar a rocha, arremessando fragmentos na pedra. Uma única lasca bateu no braço de Katie. Ao mesmo tempo Katie começou a gritar, correndo para perto de Elizabeth. Elizabeth empurrou-a para baixo para que ela ficasse deitada ao lado de Cutter, era seu instinto de sobrevivência. Ela disse uma pequena oração para todos eles, e se levantou com os joelhos trêmulos.
A arma vacilou nas mãos dela, enquanto ela olhava sobre a rocha, e mais uma vez ela teve que enfrentar o pânico. Ah, Deus! Ela não podia ver nada! Nada mesmo! Ela balançou a cabeça, virou-se se afundando com desânimo contra a pedra fria. Mas não adiantou. "Meu Deus, tenha piedade de nossas almas," ela disse e resolutamente voltou a ficar de joelhos, esperando para encarar a morte. Ela não conseguia ver nada além da grama que balançava ao vento — nem mesmo a rocha que ela e Katie e Cutter tinham usado anteriormente para se abrigar. Tudo, tudo, além do seu campo de visão era um borrão no amanhecer nebuloso cinza e rosa. Outra bala assobiou passando pertinho de Elizabeth. A seus pés, Cutter gemeu, deixando-a mais nervosa. "É só um arranhão," ele disse delirando, seus dentes rangendo com dor. Elizabeth se sentiu dilacerada, querendo ir para o lado dele, sabendo que não poderia. Ela olhou novamente por sobre a rocha. Outra bala passou zunindo, quase a atingindo, e ela apertou sua arma e atirou acidentalmente. Com as mãos tremendo, ela murmurou uma maldição que ela tinha aprendido com Cutter e olhou para trás por sobre a rocha, apontando a arma dela, tremendo, mas sem atirar. Ela não podia ver nada para atirar e não ousava desperdiçar balas. Oh, Deus... ela não podia matar o que ela não podia ver! E ela não podia ver nada! Não é verdade! Ela disse a si mesma. Você pode ver tudo o que você precisa! Não entre em pânico. "Não entre em pânico," ela disse a si mesma com firmeza. Ela mordeu o lábio inferior, quase dolorosamente, susteve a respiração e esperou. Por um longo momento, nada aconteceu. Nenhum barulho. O som de tiros parou abruptamente, e ela ouvia apenas o som da brisa que agitava a grama. A cada segundo de silêncio, o medo dela aumentava. E então de repente ela ficou tensa, ao ver um rosto... Ah, Deus, um rosto... uma cara barbuda! Magnus estava se arrastando no chão como uma cobra através da grama! Ele estava sorrindo — sabendo que ela era incapaz de impedi-lo sozinha. Mas ele estava errado. Ela podia fazer isso! Mantendo a mão firme tanto quanto era capaz, ela tentou com toda a sua força mirar direto no seu foco, fechando os olhos, enquanto ele se aproximava esperando o momento certo. Mais perto. "Tia Lizabeth!" Katie gritou de susto. "Fique abaixada, Katie!" Elizabeth apertou o gatilho, mas ele deu um clique, o tambor estava sem bala. Cutter não tinha colocado bala em todos os cilindros do tambor. Quantas balas ele tinha carregado? Ela não se lembrava. "Cutter?" ela choramingou. O sorriso de Magnus se alargou. Encorajado, ele veio de joelhos, ficando rapidamente de pé para alcançá-la mais rapidamente.
Pânico tomou conta dela. Alguma parte de Elizabeth só queria pegar a arma e atirá-la em cima de Magnus, sabendo que não havia nenhuma maneira que ela conseguisse atirar e atingir seu alvo... mesmo se tivesse balas... mas tinha que ter balas! Ela viu Cutter carregar a arma! Tinha que ter! E ela tinha que tentar, ou Magnus ia matar os três sem hesitação. Essa tinha sido sua intenção desde o início, ela lembrou-se amargamente. Reforçando a coragem dela, ela se endireitou, estabilizou a arma na mão dela e focou na barba de Magnus. Com um grito desesperado, ela apertou o gatilho novamente. A adrenalina acelerou através dela quando a arma disparou. De novo ela atirou. E depois de novo. E depois de novo. E então ela piscou, sem acreditar no que ela via. Diante dela, Magnus vacilou um momento, depois caiu de joelhos na grama, segurando suas costelas... uma flecha perfurando seu coração. Sangue saía por sua boca. Ah, Deus... uma flecha! Elizabeth olhou aturdida para ele. Ela assistiu quando ele deixou cair sua arma de prata na grama e em seguida caiu em cima dela. Chocada, ela virou-se para ver que Katie tinha enterrado seu rosto ao lado de Cutter. Então ela olhou para cima... e viu outro rosto se aproximando, um rosto com olhos tão negros quanto os olhos de Cutter. Mas era um rosto familiar e ela não gritou, apesar de por um momento ela ter sentido medo. Ela engoliu, percebendo que era o mesmo índio que tinha vindo para perto dela e de Cutter enquanto eles dormiam. O mesmo que tinha falado com Cutter. Que tinha lhe agradecido por ela ter colocado a sálvia na sepultura do seu irmão Black Wolf. Ela balançou a cabeça, quase não acreditando no que ela estava vendo. O índio se dobrou sobre o corpo de Magnus, colocando uma mão na frente de seu nariz e depois na garganta dele. “Enaa'e.” Elizabeth balançou a cabeça freneticamente, não entendendo. "Enaa'e!" Ele apontou para Sulzberger e fez um movimento rápido de corte com a mão. "Enaa'e!" "M-morto?" ela gaguejou. "Morto?" O índio parecia compreendê-la, e ele de repente apontou para longe deles, na direção que Sulzberger tinha vindo. "E-e tdhtahe!" "C-Colyer?" ela perguntou timidamente apontando na mesma direção. "M-morto, também?" Ela tentou se lembrar o que Cutter tinha lhe falado sobre a morte na tribo Cheyenne. "Seano?" ela deixou escapar. Ela apontou na mesma direção que o índio tinha apontado. "Colyer... Seano?" As sobrancelhas do índio se colidiram, embora parecesse que ele estava se divertindo, e não estava com raiva. Ele balançou a cabeça e apontou outra vez. Então, ele estendeu a mão. Dois dedos dele correram pela palma de sua mão. "E-e tdhtahe," ele repetiu. Elizabeth abanou a cabeça, ainda sem entender. De repente seus braços se abriram, e ele enrolou os dedos como garras. Ele gritou a palavra novamente. Katie gritou, se atirando nas costas de Elizabeth, seus braços voando para o pescoço de
Elizabeth. Elizabeth não se atrevia a se mexer. "E-e tdhtahe!" o índio disse novamente, apontando para Katie. Ele imitou o medo de Katie, fazendo círculos com as mãos no ar. Sua boca estava entreaberta com um grito que nunca se materializou. A imagem era tão cômica que se Elizabeth não estivesse tão tonta, ela poderia realmente ter rido. De repente ele parou, e ela estremeceu com a rapidez do seu movimento, quando ele apontou novamente para a direção pela qual Sulzberger tinha chegado. Só para ter certeza de que ela compreendia, ele virou a palma de sua mão mais uma vez e passou seus dedos através dela. "E-e tdhtahe!" ele repetiu. "Medo," Elizabeth sussurrou com um aceno de cabeça. Seu coração batia ferozmente, no entanto, ela sabia instintivamente que ele queria dizer que não faria mal a nenhum deles. Colyer tinha fugido com medo, ela supôs. Ela fez o mesmo movimento com os dedos e acenou com a cabeça para o índio. "Colyer fugiu com medo," ela concluiu, e então ela começou a tirar os braços de Katie do pescoço dela. Ela trouxe Katie para frente dela para abraçá-la. "Ele não vai te machucar," Elizabeth assegurou para ela, sabendo em seu coração que era verdade. "Ele quer nos ajudar." O índio assentiu com a cabeça e sorriu, como se ele tivesse entendido. Ele olhou para baixo de repente e chutou o corpo de Sulzberger violentamente. Elizabeth estremeceu, mas Sulzberger não se mexeu. Satisfeita porque o índio tinha vindo em paz, Elizabeth não perdeu mais tempo e voltou sua atenção para Cutter. Com Katie ainda agarrada a ela, ela se virou e começou a examiná-lo sob o olhar atento do índio. Rapidamente ela começou a desabotoar a camisa dele, retirando os braços das mangas. Ele era muito pesado para ela conseguir remover completamente a camisa, então ela deixoua para que ele ficasse deitado sobre ela. Enquanto Elizabeth sondava os braços de Cutter, ela viu que o índio estava arrastando Sulzberger para longe deles. Quando ele finalmente se foi, Katie conseguiu largar o pescoço de Elizabeth, embora ela não a tenha liberado completamente. Seu pequeno punho estava agarrado na saia da Elizabeth. O suspiro de Katie era instável. "E-ele é um índio, T-Tia Lizabeth?" Elizabeth mordiscou o lábio inferior vendo o olhar assustado de Katie. "Sim," ela respondeu. "E-ele é um índio bom?" Elizabeth não conseguia afastar o olhar dela. Havia tanto das suas próprias emoções espelhadas nos olhos de Katie. "Sim, ele é," ela respondeu com mais certeza do que ela sentia. Engolindo, ela voltou sua atenção para Cutter de novo. "Tio Cutter vai para o céu, também, tia Lizabeth?" Elizabeth foi surpreendida com a pergunta inocente; os olhos dela voaram para Katie. Lágrimas atormentavam seus olhos, mas ela segurou as lágrimas, contendo-as com raiva. "Não sei," ela
respondeu honestamente. Ela olhou para o peito de Cutter, colocando a mão em cima dele. Ela mordeu o lábio inferior para não chorar em voz alta. Sua respiração estava fraca, e ele ardia em febre. Medo se alojou na garganta dela quando ela o virou ligeiramente, olhando por baixo de suas costas. Nada. A cor dele estava boa, ela disse a si mesma. Enquanto ele ainda estivesse com febre, ele estaria lutando. Mas como ele poderia estar com febre se ele não tinha sido baleado? Ela balançou a cabeça. Não era possível. E então, ela se lembrou dos tiros que tinham matado O‘ Neill. Cutter podia ter sido atingido, também — há tantas horas atrás — e ele não tinha dito nada? Ainda não fazia sentido. "Katie," ela disse tentando não ceder à histeria, "Vire-se, querida." "Por quê?" Mais uma vez Elizabeth olhou para cima, suplicando a Katie para entender. "Porque eu tenho que olhar um lugar que você não pode ver," ela disse sem rodeios. Katie concordou, vendo algo assustador nos olhos de Elizabeth. Ela se virou obedientemente, e Elizabeth imediatamente começou a desabotoar a calça de Cutter, puxando-a para baixo sem remover as botas dele. Nada. Intrigada, ela levantou ligeiramente uma perna, depois a outra, olhando por baixo. Ainda nada. Estupefata, ela retirou sua faca da sua bota esquerda, colocou-a de lado e começou a puxar a bota direita. Ela saiu sem dificuldade, mas quando ela tentou remover a esquerda, parecia que ela estava colada ao pé dele. Grunhindo, ela colocou toda sua força para arrancá-la. Finalmente, quando ela estava quase fora do pé, ela viu de relance uma risca vermelha, e sua respiração parou. Seu coração bateu quando ela puxou outra vez, mais freneticamente desta vez, liberando a bota com um som de sucção. Ela caiu para trás por causa da força que ela tinha feito. Balançando a cabeça, ela endireitouse imediatamente e começou a remover sua meia. Ela deixou de lado em descrença, seu coração se enchendo com uma dor insuportável. "Meu Deus!" ela exclamou. "Posso ver?" A Katie pediu. "Não, Katie... não," Elizabeth soluçou. A risca vermelha subia pela perna, proveniente de um corte no pé esquerdo e subindo por sua perna. Ela não tinha percebido que ele tinha se cortado! Como ela saberia? Por que ele não tinha falado? Ele não confiava em você, ela ouviu uma voz na sua cabeça, enquanto ela puxava sua calça freneticamente, para removê-la. Cutter não acreditava em sua habilidade como médica mais do que qualquer outra pessoa. Ele viu você matar um homem com sua ignorância, a mesma voz zombou dela. Mas ela podia ter feito algo. Alguma coisa... qualquer coisa seria melhor do que não fazer nada!
Ela engoliu o caroço que subia na sua garganta, pois naquele momento, doeu profundamente ver que ele tinha preferido sofrer — ou mesmo morrer — ao invés de tê-la como sua médica! Talvez ele tivesse bons motivos para duvidar dela, ela zombou de si mesma. Ela não tinha sido capaz de evitar a morte do índio, certo? Mas ela tinha tentado. Querido Deus, com todo seu coração ela tinha tentado! Ele não confiava nela. O índio escolheu aquele momento para retornar. "Eháomóhtâhéotse," ele disse hesitante quando viu o pé inchado de Cutter. Katie enterrou seu rosto no colo da Elizabeth, escondendo-se dele, e neste momento Elizabeth nunca se sentiu mais ferida; ela queria acalmar Katie, queria ajudar Cutter, queria chorar. Elizabeth "Está infeccionado," ela informou-lhe vivamente, mesmo sabendo que ele não entenderia. Ela estava tentando segurar sua emoção. Exceto a raiva que penetrava em seu coração. Raiva porque Cutter tinha deixado passar tanto tempo sem ter lhe pedido ajuda. Raiva porque ele não confiava nela. Raiva que ele pudesse morrer por causa de sua teimosia. Raiva por ter se deixado amá-lo. Porque, ah, por que ela tinha se permitido amá-lo? Suas mãos começaram a tremer incontrolavelmente. "Preciso que você faça uma fogueira," ela disse, olhando para o índio, os lábios tremendo e seus olhos brilhando. "Fogo!" Ela afastou Katie para o lado e fez um movimento desesperado com a mão, depois se lembrou do cartucho que Cutter geralmente mantinha no bolso, e tentou encontrá-lo. Ela não achou, então começou a fazer mímica como se estivesse construindo uma fogueira, e depois cozinhando e depois comendo o que ela tinha cozinhado. O índio assentiu com a cabeça. "Meséestse!" ele disse com um sorriso e sem mais uma palavra, começou a trabalhar na tarefa que lhe tinha sido atribuída. Quando ele começou a fazer a fogueira, Elizabeth voltou sua atenção para Cutter, satisfeita que ela tinha conseguido passar a mensagem para o índio. Seu coração doeu quando ela viu a pose de medo de Katie. Ela estava segurando seus joelhos junto ao peito e assistindo o índio através de suas mãozinhas. "Katie," ela falou suavemente, "não tenha medo, querida. E não esconda seu rosto,” ela acrescentou firmemente. "Ele não vai te machucar, e você vai ferir os sentimentos dele." Katie acenou com a cabeça em silêncio e deixou cair suas mãos, olhando para Elizabeth com olhos ainda irradiando medo. A mão de Elizabeth foi para sua boca para segurar um soluço. Seus lábios fechados para contê-lo. Olhando por cima do ombro, ela viu o olhar compreensivo do índio. Não havia nenhuma barreira de linguagem entre eles naquele instante. Ele parecia ver tudo o que estava em seu coração. Ele voltou para sua tarefa, e Elizabeth voltou-se para Cutter, suas emoções demasiado turbulentas para serem vistas. Ela estava muito amargurada. "Eu te odeio, Cutter!" ela falou engasgada de repente, suas mãos voando para a boca, seus lábios tremendo. Não... Você não! Você o ama, a mesma voz falou ferozmente. Você o ama!
"Tia Lizabeth!" Katie soluçou. O índio não disse nada, só via suas emoções em seu rosto. Quando o fogo foi aceso por fim, ele saiu sem dizer uma palavra. A garganta dela parecia fechar quando ela levou a faca de Cutter para o fogo, assistindo-a reluzir vermelho brilhante dentro das chamas azuis brilhantes. Quando a faca estava suficientemente aquecida, ela a tirou do fogo, removendo a cinza preta na saia dela, sem se preocupar que ela pudesse chamuscar seu vestido, sem se preocupar que ela podia queimar sua pele. E depois, com as mãos tremendo, ela começou a cortar a ferida inflamada na sola do pé. "Tia Lizabeth!" Katie gritou em protesto. "Não olhe Katie!" Elizabeth exigiu firmemente. "Não olhe querida!" Havia pouco sangue e muito pus. Ela engoliu convulsivamente. Mas não era a ferida que a deixava doente. Era a falta de ferramentas junto com o medo do fracasso. Não havia nenhuma panela para ferver água. Não tinha água para ferver, mesmo se tivesse uma panela. Sem álcool para esterilizar a ferida. Nada. Nada mais do que a faca nas mãos dela. Usando o melhor de suas habilidades, ela drenou a ferida, limpou suas lágrimas porque elas atrapalhavam sua visão. Vagamente, ela estava ciente de que o índio tinha retornado. Como se ele tivesse antecipado as necessidades dela, ele colocou dois cantis de água ao lado dela, juntamente com um cobertor. "Mahpe," ele disse, apontando para a cantina. "Mahpe." "Água," Elizabeth falou olhando para os cantis. O índio assentiu com a cabeça. "Wat-er!" ele repetiu e saiu. Lágrimas brilhavam em seu rosto pálido quando Elizabeth olhou fixamente para os cantis, percebendo que um tinha sido feito de estanho coberto com couro. O outro tinha sido feito unicamente de pele de animal, e ela sabia que este pertencia ao índio. Com uma imediata onda de excitação, ela ergueu o cantil feito de estanho, inspecionando-o rapidamente, e colocou-o no fogo, observando ansiosamente enquanto o couro se inflamava diante de seus olhos e queimava. No momento que ela sentiu que estava quente o suficiente, ela encontrou uma pedra e jogou-a no cantil. E depois outra e outra, até que a cantil estava cheio. Não se importando que isto pudesse queimar seu vestido, ela usou sua bainha para proteger os dedos dela quando ela levantou o cantil, retirou a tampa e derramou uma gota aquecida nas costas de sua mão. A gota a queimou, mas ela apenas sorriu com alívio. Ela tinha pouco tempo para desperdiçar, então cortou uma faixa da camisa de Cutter, amassou o pano, segurando-o na sola do pé de Cutter e jogou água fervente sobre a sua recém cortada ferida, limpando-a completamente. "Dói?" Katie perguntou enquanto assistia.
Elizabeth assentiu com a cabeça, sem olhar para ela. Ela não conseguia olhar no rosto de Katie e ver medo espelhado na sua face. "Eu tenho que machucá-lo, para ajudá-lo," ela revelou, deixando de lado o cantil. Ela esfregou a sujeira restante da ferida com o pano embebido de água e então novamente derramou água quente na ferida. Quando até o último grão de terra foi removido da ferida, Elizabeth levantou mais uma vez a lâmina da faca sobre o fogo, assistindo até o metal brilhar. Ela mordeu o lábio inferior com força e virou-se para segurá-la contra o pé de Cutter. Seu pé bateu, mas foi um movimento mais reflexivo, do que de dor, porque seus olhos permaneciam fechados, e seu rosto estava pálido. Não havia nenhuma ajuda para isso. Sabendo que ela o tinha machucado para ajudá-lo, como ela tinha falado para Katie, ela colocou a lâmina escaldante na ferida mais uma vez, esterilizando-a e cauterizando-a com o calor. Finalmente, quando ela tinha feito tudo o que ela podia fazer, ela cobriu a ferida. Com a ajuda do índio, ela abriu o saco de dormir de Cutter e colocou-o sobre ele, dobrando o cobertor amorosamente sobre ele. Preocupada, ela colocou uma mão trêmula na testa dele. "Ele está ardendo," ela comentou suavemente, sua voz ainda trêmula de emoção. "Ardendo?" Katie perguntou. Elizabeth olhou de relance para Katie, com a intenção de tranquilizá-la, mas não conseguiu. "Ele está ardendo de febre," ela explicou. "Fiz tudo o que pude por ele," ela acrescentou. "Agora não há nada a fazer a não ser esperar." Katie olhou confusa. "Você realmente o odeia?" ela queria saber. "Você não odeia meu tio. Não é?" Querido Deus, o que ela tinha feito? O caos que ela tinha trazido à vida da pobre Katie— como ela poderia se perdoar por isso! "Não, querida," Elizabeth falou. "Não... Eu nunca poderia odiá-lo." Ela olhou de volta, mas não foi o rosto de Katie que ela viu naquele momento... foi o de Cutter. Você fez muito bem, Doutora, ela ouviu-o sussurrar. Ela fechou os olhos, quase capaz de sentir o calor da sua respiração contra sua orelha. "Oh, Cutter," ela chorou, apertando suas pálpebras, bloqueando o eco das palavras de Cutter. Ela tinha feito o melhor que pôde... e não tinha sido suficiente. Black Wolf tinha morrido apesar de tudo. Querido Deus, ela não sabia o que ela faria se Cutter morresse, também. Ela não aguentaria. Lágrimas quentes e silenciosas passaram por seus cílios. Você achou que eu tinha comprado o meu diploma? Ela zombou de sua própria voz. Bem? Ela se desprezava. Afinal, será que ela não tinha?
30
A febre de Cutter continuou alta durante o dia. E embora ele não estivesse delirando, ele acordou uma vez, com os olhos vidrados para o sol da tarde. Segurando as lágrimas de frustração e de medo, Elizabeth passou uma mão sobre os olhos, fechando suas pálpebras para proteger suas pupilas do brilho. Ela não podia esquecer o olhar de Black Wolf, não conseguia parar de comparar... Nem para comer ela saiu do lado de Cutter, o Irmão de Black Wolf caçou para Katie, tentando alimentá-la, enquanto Elizabeth continuava na vigília. Ele lhe ofereceu comida, mas Elizabeth recusou. “Méseestsel!" disse ele, levando a carne à boca, mostrando-lhe o que ele queria que ela fizesse. "He-Méseestse!" ele repetiu, empurrando a lebre cozida para ela mais uma vez, pedindo-lhe para comê-la. "Mâhe'haná!" Elizabeth olhou para Katie, que estava comendo em silêncio, surpreendentemente sentada perto do índio. E então ela virou novamente para olhar para ele. Ele estava olhando carrancudo para ela, porque ele tinha lhe dado uma opção — ofendê-lo, ou não ofendê-lo — Elizabeth pegou a carne de suas mãos. Havia algo para agradecer, ela pensou enquanto mastigava. Pelo menos Katie parecia estar com menos medo. Eles realmente tentaram se comunicar, e se Elizabeth não estivesse tão cansada e com tanto medo, ela podia se divertir com a interação. O índio parecia querer persuadir Katie com itens estranhos de sua pessoa. Somente quando ele ofereceu-lhe uma pena colorida ela cedeu e se aproximou para inspecioná-la. Pelo menos, Colyer não tinha voltado. E Katie, tendo suportado na noite anterior uma noite tão estressante, caiu no sono antes mesmo do sol se por totalmente. Depois de colocá-la abraçada num cobertor, o índio veio se sentar junto ao fogo, fazendo companhia a Elizabeth em silêncio, observando-a intensamente enquanto ela mantinha sua vigília sobre Cutter, e reavivando o fogo quando ele ameaçava apagar. Em absoluto silêncio eles ficaram sentados juntos... até tarde da noite. E a febre de Cutter mantinha-se alta, embora as estrias escarlates na perna tivessem diminuído. Se sentindo cansada, Elizabeth se inclinou sobre Cutter, colocando a cabeça levemente sobre o
peito dele, ouvindo a batida irregular do coração. Só mais algumas horas e o dia ia nascer. Ela tinha que aguentar... não podia dormir... não devia... "Ne-toneseve-he?" Piscando quando ouviu a voz dele, Elizabeth levantou seu queixo e encontrou seu olhar. "O que?" ela perguntou, balançando a cabeça em confusão. "Ne-toneseve-he?" ele repetiu, apontando para ela. De repente, ele apontou para si mesmo. "Natsesevehe Hestano-vahe," ele disse, batendo no peito com um punho fechado. "Hestanovahe!" E então ele apontou em direção à forma exausta de Katie. "Kay-tee," ele disse, repetindo a palavra que ele tinha ouvido Elizabeth usar. E mais uma vez para ele mesmo. "Hestanovahe!" E então ele apontou para Elizabeth. "Ne-toneseve-he?" Ela assentiu com a cabeça, compreendendo finalmente. "Elizabeth,” ela revelou. "Meu nome é Elizabeth." "E-li-za-beth," ele repetiu. Elizabeth assentiu com a cabeça e então olhou para Cutter. Engolindo o caroço na garganta dela, ela colocou a mão no peito de Cutter e de novo olhou para o índio. "Ne-toneseve-he," o índio sussurrou, antes que ela pudesse falar. Ele apontou para Cutter e enunciou lentamente. “Ne-toneseve-he." Elizabeth não sabia que nome ele tinha dado para Cutter, mas da forma solene como ele falou, obviamente ele tinha dado um nome de grande respeito. Ela achou que não tinha mais lágrimas para derramar, mas uma pequena gota deslizou silenciosamente de seus cílios. O índio aproximou-se de repente. Ele levantou seu cabelo dourado em suas mãos, e começou a acariciá-lo com temor. "Ta'se Vehone-ma-kaeta," ele sussurrou. Ele assentiu com a cabeça e levantou o cabelo para ela ver. Ao mesmo tempo, ele enfiou a mão numa bolsa, e pegou um objeto dourado brilhante. Um pequeno medalhão, que ele colocou perto do cabelo dela. "Vehone-ma-kaeta," ele disse de novo. Elizabeth não tentou aparecer chocada quando ela olhou para o medalhão. Jo tinha um semelhante a este— uma medalha simbólica da Educação Católica do pai — e ela ficou se perguntando quem tinha possuído esta anteriormente. Certamente não o índio. Vagamente, ela podia ver a imagem de ouro da Virgem Maria, segurando seu filho. Seus olhos se fecharam quando ela sussurrou uma prece para Cutter. Ela engoliu um soluço, incapaz de falar por causa da emoção que a envolveu. Vendo suas lágrimas, o índio colocou o medalhão de volta na bolsa e em seguida começou a limpá-la. "Naóotséotse!" ele disse baixinho, fechando os olhos e inclinando a cabeça. Quando ela não obedeceu, ele novamente inclinou a cabeça dele e fechou os olhos, colocando sua cabeça sobre a mão dele. "Naóotséotse," ele sussurrou.
ELE
QUERIA QUE ELA DORMISSE,
ela percebeu. Ainda incapaz de falar, Elizabeth assentiu fracamente e
colocou sua cabeça no peito do cortador. Satisfeito, o índio levantou-se abruptamente. "Na-ase," ele disse e virou-se, e Elizabeth, pensou que talvez ele pretendesse deixá-la, porque ele levantou o cantil, estudou o local por um instante e depois o colocou para baixo novamente com um breve olhar para ela. Ela se sentiu tocada pelo gesto. Saber que ele deixaria para ela algo tão precioso como seu cantil de pele. "Obrigada," Elizabeth sussurrou com a voz rouca, sua garganta queimando com suas lágrimas. O índio virou-se para ir embora, e ela sabia intuitivamente que ele ia, de fato, deixá-la. "Obrigada!" ela falou um pouco mais alto. Ele parou subitamente, e se virou para olhar para ela, mostrando preocupação. Elizabeth queria perguntar-lhe por que ele tinha vindo... implorar-lhe para não ir... para não deixar ela e Katie sozinhas. Mas ela sabia que não era do seu interesse permanecer. Ele perderia sua vida se alguém viesse que ele estava com elas. Muitos o odiariam por sua cor. Ele já devia conhecer isso há muito tempo e determinou que tinha chegado o momento dele ir embora. Ela sentiu que foi a desconfiança que tinha retornado para ele. No entanto, sua vinda tinha sido um presente, uma benção divina que ela nunca iria se esquecer, que ela e Katie sempre seriam gratas por sua presença, e procurou pela palavra Cheyenne que Cutter lhe tinha ensinado para dizer obrigado. "Ne-esh," ela repetiu do jeitinho que ela se lembrava. Ele levantou suas sobrancelhas curiosamente com a sua pronúncia da palavra; no entanto, ele pareceu entender, porque o mais lindo sorriso apareceu em seus lábios enquanto ele acenou em despedida. "Ne-sta-va-hose--voomatse," ele enunciou lentamente. Ele olhou brevemente para Katie acenando, e em seguida andou para além da luz da fogueira. E apesar do fato de que ela não podia vê-lo, e não podia ouvi-lo, Elizabeth sentiu sua presença por muito tempo depois dele ter ido. Em algum lugar, ele ainda a estava protegendo. Grata por esse ato de bondade que ela recebeu de um estranho, ele se afundou ainda mais no corpo de Cutter, repetindo as palavras ininteligíveis, com uma apatia envolta nela. Ela concentrou-se na batida do coração de Cutter, o ritmo da sua respiração. Lágrimas vieram aos seus olhos, quando ela os fechou. Vendo o rosto do Cutter, ela imaginou que ela pensou que tinha ouvido ele falar com ela. “Eu falhei — miseravelmente!" "Não, você não falhou, Lizbeth. Isso é o que tenho tentado te dizer. O homem já estava a sete palmos de terra, quando ele caiu do cavalo. Eu tentei te dizer isso... mas você não quis ouvir... Não havia nada mais que você pudesse ter feito. Como o povo da minha mãe teria falado a sombra já tinha há muito tempo o tinha deixado, ele apenas respirava — pelo amor de Deus, mulher será que você não sabe o orgulho que eu sinto de você?" "O-orgulho?" “... Muito orgulho!" ... Você não sabe o orgulho que eu sinto por você?
Não havia nada mais que ela poderia fazer. Nada mais. A sombra já tinha deixado ele há algum tempo, e ele apenas respirava... ele apenas respirava... apenas respirava... Chorando em seu sono, Elizabeth se agarrou na camisa encharcada de suor de Cutter, segurando-a como se com esse gesto ela o segurasse para a vida. Ela não podia deixá-lo escapar, também... não poderia viver sem ele. Os olhos dela voaram de repente, para constatar que o fogo tinha morrido há muito tempo, e mais uma vez, a cor rosa sombreava o céu acima. Os olhos de Cutter estavam fechados, mas sua temperatura não estava mais quente e seu cabelo e roupas estavam encharcados de suor; um bom sinal. A memória de Black Wolf deitado a beira da morte perto dela, a fez entrar em pânico. Fechando seus olhos cansados, ela começou a cantarolar e quando ela percebeu o que ela estava fazendo, seu rosto se contorceu e ela finalmente se rendeu aos soluços convulsivos que a sacudiam por dentro. "Você não pode em deixar," ela sussurrou aflita. "Você não pode — eu não vou deixar," ela disse segurando firmemente sua camisa encharcada de suor. Com seus lábios tremendo, ela beijou sua boca, provando o sal de suas lágrimas enquanto elas deslizavam pelos seus lábios rachados pelo vento. Os olhos de Cutter se abriram, mas Elizabeth não notou. Seus próprios olhos fechados, seus cílios brilhando com lágrimas, enquanto ela implorava por sua vida, saboreando seus lábios. A visão dela curvada, beijando-o com tanta ternura, o encheu de alegria. Ele tinha acordado mais cedo e a viu dormindo por cima dele, mas exausto como estava, ele voltou a dormir. E em poucos minutos, ele voltou a dormir. "Quem vai me ajudar a educar Katie?" Elizabeth soluçou entrecortada. "Não posso fazer isso sozinha... Eu preciso de você, Cutter. "Ela implorou. "Volte para mim... por favor. Katie merece um pai... Preciso de um marido... "Ela deu uma risadinha sufocada de repente, enterrando a cabeça dela contra o pescoço dele, beijando-o." Não posso criá-la sem um marido, você sabe... O que as pessoas diriam?" ela perguntou um pouco histericamente. Seu pomo de Adão mexeu. Elizabeth deve ter sentido. Sua garganta mexia de emoção, Cutter sussurrou. "Shhh, olhos brilhantes... não chore." Ele estendeu a mão, tocando uma mecha de seu cabelo, acariciando-o reverentemente entre seus dedos, assegurando-se que ela era real, e que ele não tinha morrido e ido para o céu. Assustada pelo som de sua voz, e o toque inesperado da mão dele, Elizabeth olhou-o de relance, as lágrimas brilhando em seus olhos. Um grito partiu de seus lábios. "Cutter?" "Você não estava me chamando para ir ao rio com você, estava, doutora?" Confusa, Elizabeth acenou com a cabeça suavemente, repetindo suas palavras. "P-passeio no rio?" "Compartilhar uma tenda," ele disse com ênfase tranquila.
"Compartilhar uma tenda?" ela falou seu coração acelerado. Uma lágrima alegre deslizou sobre seus cílios e deslizou para sua bochecha quando ela começou a entender o que ele estava perguntando. "Eu não sei nadar," ela respondeu de forma imprudente. Como no dia em que ela tinha colocado os olhos sobre ele, seus olhos estavam escuros, insolentes, provocando-a. "Cega como um morcego, também," ele observou, "e não posso atirar para salvar sua vida... mas estou disposto a te ensinar..." Vendo a diversão nos olhos dele, Elizabeth conseguiu uma risada, lágrimas quentes deslizando pelo seu rosto. Os dedos dela reverentemente acariciaram a barba dele, os olhos dela sonhadores, cheios de saudades. "Eu posso atirar," ela sussurrou, "e eu acredito que vejo muito claramente, também, Sr. McKenzie — isso significa que você está aceitando?" Ela sorriu timidamente, a batida de seu coração se acalmando enquanto ela aguardava sua resposta. Por um momento, ele a estudou atentamente. "Depende," ele respondeu com um sorriso fraco, derrubando os sensuais cantos de sua boca. "Do quê?" ela perguntou-lhe. Os olhos dele cresceram abertamente se divertindo, desafiando-a. "O que você está pedindo." Elizabeth olhou para ele, sem acreditar bem no que ele estava falando — que ela na verdade estava pedindo para ele se casar com ela. Ela na verdade estava pedindo... Nada podia fazer pará-la. Nada podia impedi-la naquele momento. Ela se sentiu tão descarada quando ela soava. Por um instante os olhos dele ficaram sérios, "não vai ser fácil... ser esposa de um mestiço. È como descer as corredeiras." Elizabeth se engasgou com um soluço exultante. Não importava. Nada importava, exceto o fato de que ela amava Cutter McKenzie... queria passar a vida com ele... queria ter seus filhos. “A-Acredito que estou pedindo, ela murmurou, meio rindo, meio chorando. Quentes, e exultantes lágrimas escorreriam pelo seu rosto. "Você está pedindo?" "Estou." Um brilho satisfeito apareceu nos olhos de Cutter de repente e seu sussurro rouco alcançou sua alma. "Então eu vou aceitar, Miss Bowcock." Com um grito alegre, Elizabeth seguiu em frente, beijando sua boca apaixonadamente, soluçando sem parar. "Eu te amo, Cutter McKenzie!" Ela retirou-se de repente, colocando a testa contra seu queixo. "Mas que susto!" Ela levantou seu olhar angustiado dele. "Por que você não me disse que estava ferido?" "Acho que eu pensei que seria muito difícil ser derrubado por um arranhão," ele lhe disse sinceramente. Um alívio passou por sua alma quando ela ouviu que não era falta de confiança nela. "Não foi um arranhão. Não faça isso outra vez. Prometa-me que não vai fazer!" Ele assentiu.
"Prometa!” "Eu juro," ele sussurrou fervorosamente, pedindo para ela mais um beijo com gosto de seda, pretendendo selar seu voto com um beijo. Ela suspirou ofegante, gemendo quando ele beijou seu queixo e, em seguida, os lábios dela. "Não suportaria perdê-lo," ela confessou. Cutter respondeu com um gemido, cobrindo sua boca com a dele beijando-a com toda a emoção que ele tinha escondido por tanto tempo, dando tudo de si. Lançando seus dedos atrás do pescoço dela, assim evitando que ela se retirasse se ela quisesse, ele esticou a língua possessivamente em sua boca, divertindo-se com a doçura e o calor que ela lhe ofereceu, seus braços agarrando o corpo ela... "O que você vai para fazer para eu desviar o olhar agora?" uma voz interrompeu com desânimo, assustando os dois. "Vovô sempre me faz desviar o olhar!" Elizabeth se afastou em alarme, e Cutter a largou prontamente. De alguma forma eles tinham conseguido esquecer a presença de Katie. Cutter limpou a garganta. Corando com as palavras de Katie, Elizabeth olhou em choque para Cutter por longo momento, não tendo certeza de que ela tinha entendido corretamente. E então, quando ela se lembrou do discurso improvisado de Miss Mimi e o insight de Cutter, a boca dela se abriu. Ela não conseguiu falar nada. Cutter deu-lhe um olhar longo e arqueou a sobrancelha direita, como se para dizer, eu te avisei e então de repente começou a rir da expressão dela. Incapaz de contê-lo, Elizabeth começou a rir também, abrindo seus braços para Katie. Katie voou para eles, espremendo Elizabeth com toda sua força. E então a cabeça se levantou ao ouvir o latido de um cão. "Olha!" ela gritou de repente, apontando por cima do ombro de Elizabeth. "Olha! É o Preguiçoso com o vovô!" Ela começou a correr na direção deles. Cutter levantou a cabeça para vigiá-la, junto com Elizabeth. E ocorreu-lhe naquele instante, enquanto a via correr pela grama alta em direção a seu cachorro, que Elizabeth tinha salvado sua vida, bem como a de Katie e a dela própria. Sem Elias, porque Elias estava retornando somente agora. Ele se virou para olhar para Elizabeth espantado. Ela estava olhando para Katie, também, o perfil dela lindo de onde ele estava deitado. Seus olhos brilharam cheios de amor, e ele pensou naquele instante que ele poderia ser o homem mais sortudo que já tinha existido. "Cutter?" ela perguntou de repente, olhando para ele. "O que significa nesta vah hosay voomats?" Cutter endireitou a perna, fazendo uma careta de dor. "O que você disse?" Elizabeth deu-lhe um relance de olhar e tentou novamente. "Nesta," ela começou de novo, "vah hosay voo mats." Suas sobrancelhas se levantaram de repente quando ele percebeu que ela estava tentando falar a
língua Cheyenne. Ele riu. "Ne-sta-va-hose- voomatse"? Elizabeth assentiu com a cabeça. "Cheyenne," ele disse para ela. "É Cheyenne. Significa 'Vou ver você outra vez." Ele pegou uma mecha de seu cabelo, abraçando-o preguiçosamente sobre seu dedo. "Por quê? Eu disse isso para você no meu sono?" Elizabeth abanou a cabeça, pensativamente mordendo o lábio inferior quando ela olhou para cima a tempo de ver duas formas borradas enfrentando uma a outra e caindo no chão. "Não," ela disse quando ela acenou para as pessoas que se aproximavam. Eles estavam ainda muito longe para ela vêlos claramente, mas um acenou de volta com ânimo, e ela supôs que fosse Elias. "Ele voltou," ela pensou, quando ela assistiu essa pessoa a cavalo arrebatar Katie nos braços dele. Lágrimas retornaram aos olhos de Elizabeth. Apesar do fato de que ela realmente não podia ver a cena comovente, ela podia imaginar, e isso trouxe agitação na sua mente. O batimento cardíaco de Cutter se acelerou. "Quem te ajudou?" ele perguntou. "O índio. Eu acho que ele disse que seu nome era Estano-vah, Ela repetiu o melhor que podia. Silêncio seguiu a sua declaração, e ela olhou para a face de Cutter. O que significa?" Ele teria rido da pronúncia dela exceto que um alarme disparou na sua espinha. "Aquele que Tira a Vida." "Aquele Que Tira a Vida," Elizabeth repetiu solenemente, olhando para trás para a cena nebulosa na distância. "Isso não combina com ele," ela decidiu com um pequeno sorriso triste. Havia uma sensação de paz em sua expressão que tocou Cutter na sua alma. "Ele não levou nada," Elizabeth revelou solenemente. "Só deu." De repente, ela olhou para Cutter. "Ele te chamou... Acho que foi 'Notsemah-em.“ Outro arrepio desceu a espinha de Cutter. "Meu sangue," traduziu para ela, sua voz mais do que um sussurro rouco. Elizabeth entendeu que essas palavras eram um presente, mas o olhar no rosto de Cutter revelava apenas como o presente era magnífico. "Nunca quis culpar você, ou seu povo, por minha mãe ter ido embora," ela disse sabendo instintivamente que ele precisava ouvir. "Minha mãe nos deixou porque ela queria e por nenhum outro motivo. Perdoe-me," ela suplicou, estendendo levemente sua mão contra a mandíbula de Cutter. As palavras dela trouxeram um choque ao coração de Cutter. Elas significavam mais para ele do que o reconhecimento de seu parentesco por Aquele Que Tira Vidas. "Não precisa perguntar," ele assegurou-lhe, puxando-a para cima dele. Ele não deu a mínima para quem os podia ver ou não, Elias, os homens que o rodeavam, Katie ou até mesmo o próprio Deus. "Eu a perdoei no momento que você disse," ele falou. E embora ele não tivesse percebido até aquele momento, esta era a verdade. Ele sabia que era verdade no momento que ele disse. Ainda assim, ele não ia deixá-la tão facilmente... Ele começou a conceber formas engenhosas para que ela pudesse recompensá-lo todos os dias do
resto de suas vidas. Ele beijou com ternura o lóbulo da sua orelha, fazendo carinho na cabeça dela e inadvertidamente olhou por cima do ombro... Ele decidiu parar a demonstrar sua paixão, com um gemido de arrependimento, quando viu que eles tinham uma audiência. Ele sussurrou algo ao ouvido de Elizabeth, e ela saiu. Juntos eles assistiram a abordagem dos cavalheiros; Cutter sorrindo amplamente e Elizabeth corada. Enquanto ela vivesse, ela nunca entenderia o que acontecia com ela quando Cutter lhe tocava! Apesar de tudo, ela estava certa de que ela iria gostar de tentar encontrar a resposta dessa pergunta. E ela ia perseguir a resposta. . Diligentemente.
EPÍLOGO
E lizabeth tinha poucos clientes; com dois novos médicos em Sioux Falls, a competição era muito grande. E não ajudava muito ela estar nos últimos dias de gravidez. As mulheres não pareciam se incomodar com este fato. Os homens, por outro lado, não pareciam capazes de olhá-la nos olhos sem corar. A maioria deles parecia hesitante que ela desse a luz de um momento para outro e então preferiam qualquer um dos outros dois médicos do sexo masculino. Pelo menos parecia que eles pensavam assim. Quando Jo correu, apoiando Dick Brady para que ele não caísse diante dela, Elizabeth ficou naturalmente em êxtase. Ela se levantou tão rapidamente quanto foi capaz, indo em direção a eles, com um sorriso enorme. Uma pálida Katie corria atrás deles. "Ele tropeçou no Preguiçoso," exclamou Jo. "Mas ele tem medo dele, por isso!" Katie acrescentou melancolicamente. "E é por isso que ele o mordeu também!" E não demorou muito para ver onde, Elizabeth pensou quando ela inspecionou o rosto do Brady. As marcas de dentes do cachorro apareciam no nariz, e ele estava sangrando. "Cachorro com cabeça de cobra," Brady murmurou embriagado. "Ele se virou contra mim — e eu não fiz nada. Se você me perguntar, só posso dizer que ele estava doido para me morder!" Ele sorriu de repente e piscou. "Mas eu disse para Miss Jo aqui que você ia me consertar, então aqui estou eu." Suas palavras emocionaram Elizabeth, embora ela não tenha demonstrado. Na verdade, ele tinha escolhido vir ater o consultório dela? Ela tinha que lembrar-se de ser um pouco gentil. O homem estava sofrendo, afinal. Ela colocou sua expressão mais solene. "Dói muito?" Brady balançou a cabeça e, em seguida, acenou com a cabeça. As sobrancelhas de Elizabeth levantaram-se em confusão. "Está doendo? Não está?" Ele balançou a cabeça. Brady assentiu com a cabeça. "Oh, coitado!" ela disse, dando-lhe a compaixão dela enquanto ela olhava para Katie. Havia tanto de si mesma em Katie, mais a cada dia que passava, os olhos arregalados, enquanto Elizabeth tratava dos pacientes, à maneira como ela defendia as pessoa que amava, mesmo quando eles estavam errados.
"Mas tia Lizabeth!" Katie, protestou. "Preguiçoso só estava tirando uma soneca! Isso é tudo!" Cutter apareceu na porta, enchendo a sala com a sua presença. Não precisou falar para Elizabeth saber que ele estava lá. Ela sentiu-o e olhou por cima do ombro, dando-lhe um sorriso acolhedor quando ela levantou a tampa de um recipiente de vidro com gaze. Ele estava vestindo uma camisa preta, calça preta, mas sem armas e sem chapéu, e o sorriso que ele usava quando ele se inclinou contra o batente da porta lhe deu uma aparência quase pueril. Ele piscou para ela, passando uma mão pelo cabelo dele. "Lutando contra ursos de novo, Brady?" ele perguntou casualmente. Surpreendido pela instrução, Elizabeth deu a Cutter um olhar perplexo. Como ele soube disso? E então ela se lembrou, e seu olhar voou para Brady, e a expressão de Brady estava tão comicamente confundida que ela mordeu os lábios para não rir. Ele torceu os dedos juntos quando ele olhou para baixo para o assoalho de madeira, e de repente Elizabeth não podia conter sua alegria. Ela imaginouo esfaqueamento e a luta com o urso e começou a rir, suavemente no início e depois com hilaridade, agarrando instintivamente seu abdômen. Ao mesmo tempo tanto Jo quanto Cutter se apressaram para o lado dela. Apesar do fato de que Cutter estava mais distante, ele chegou perto dela primeiro. "Elizabeth"! O rosto de Jo empalideceu com preocupação. "Você está bem?" O rosto da Katie empalideceu, também. Juntos, Cutter e Jo começaram a levar Elizabeth pelas escadas para seu apartamento em cima do escritório. "Não!" Elizabeth suspirou, afastando Jo. "Fique, fique com o Sr. Brady! Não o deixe perto de —" ela tentou sussurrar um aviso no ouvido de Jo, mas veio outra dor, fazendo-a dar um grito "— das facas!" Quando Elizabeth se dobrou, Cutter a segurou em seus braços, carregando-a para o andar de cima, direto para o quarto que eles compartilhavam, deixando Jo lá embaixo com Katie. Ele deitou-a suavemente em cima da cama e então removeu os óculos novos. "A água," Elizabeth gemeu, tentando levantar-se. "Devagar agora," Cutter disse. "Jo vai saber o que fazer! Já passamos por isso!" Elizabeth fechou os olhos. "Tem razão," ela cedeu. Colocando a cabeça dela contra os travesseiros, ela forçou um sorriso. As palavras de Cutter eram tranquilizadoras, mas o tom dele estava frenético, e ela sabia que ela precisaria manter-se forte para ensiná-lo o que fazer. De repente, Katie veio correndo com Preguiçoso. "Ele está sangrando, tia Lizabeth! Ele está sangrando!" Dentro de segundos, Jo apareceu também. "Katie Elizabeth, tire esse cachorro daqui!" "Oh, sim, senhora!" Katie chamou Preguiçoso. Vamos, rapaz! Venha cá!"Segurando o cão pela coleira, quando ele chegou perto o suficiente, Katie tirou-o do quarto. Jo seguiu-a até a porta, fechando-a por trás de Katie, e então ela se virou
para Elizabeth. "Esse homem!" ela declarou. O rosto de Elizabeth se clareou com temor, juntamente com outra contração. Mais uma vez, ela tentou levantar-se. Cutter a forçou de volta para a cama, olhando para ela. "Não. Não é nada disso," Jo assegurou-lhe. "Então o que?" Elizabeth perguntou. "Ele não estava sangrando quando eu o deixei!" "Droga, Liz, não se preocupe com Brady!" Cutter interrompeu. "você está trazendo nosso bebê ao mundo, e isso é tudo que você precisa estar pensando agora." O olhar de Elizabeth voltou para o marido. "Nosso bebê," ela sussurrou com reverência e então outra contração apareceu, e ela cerrou os dentes com dor. Quando acabou, ela engoliu e abriu os olhos para olhar para Cutter. Sua expressão estava cheia de preocupação. "Cutter está certo," Jo disse-lhe. "Você não precisa se preocupar sobre Brady. Além disso, ele apenas se socou," ela revelou. "Só um pequeno sangramento nasal é tudo que ele tem." Elizabeth e Cutter olharam para Jo. "Você bateu nele?" perguntaram simultaneamente. "Bem, sim! Achei que ele já tinha aprendido se afastar daquelas suas patas sujas de mim!” Ela sorriu para Elizabeth, piscando. "Você vê, eu sabia que você ia estar um pouco ocupado, então eu pensei que talvez eu pudesse fazer o curativo ... e o idiota me beliscou." "Onde?" Cutter exigiu saber. "Agora, Cutter, ele não fez por mal," Jo respondeu. "É o efeito dos olhos vermelhos dele. Ele pode ser um perfeito cavalheiro quando está sóbrio. Elizabeth fez uma careta. "O problema é que ele raramente —" está ela grunhiu com outra contração "— sóbrio!" Ela gritou, agarrando-se desesperadamente no braço de Cutter. "Homem de sorte," Cutter disse ferozmente. Elizabeth piscou surpresa com o comentário e tentou se lembrar de respirar. "Por que isso?" Perguntou Jo. "Por que... se eu não estivesse ocupada agora bancando a doutora, quebraria o nariz do filho da puta! Seria melhor você ir até lá e dizer que me sinto tentada a terminar o trabalho que você e o Preguiçoso começaram." Elizabeth resmungou, concentrando-se na voz e no som relaxante de Katie que estava do lado de fora. Ela estava falando suavemente com Preguiçoso, e ela imaginou que Katie estava acariciando o cão — como Cutter estava fazendo com ela agora. Ela desejou que ele parasse, mas não teve coragem de lhe dizer para parar! "Não se preocupe!" Katie sussurrou. "Não se preocupe! Tudo vai para dar certo... Tia Lizabeth não quer ir para o céu ainda! Ela não quer!" Querido Deus é isso o que ela pensava? Ela achou que a mãe dela tinha uma escolha? Elizabeth,
ela prometeu falar com Katie, assim que ela fosse capaz — fazê-la compreender que ninguém iria deixá-la por opção. Ela era muito especial. Ela olhou suplicante para Jo. Jo assentiu com a cabeça, entendendo o silencioso apelo de Elizabeth. "Eu vou ficar com ela," ela disse, "mas primeiro eu vou buscar água e cobertores". Sete cansativas horas depois, Cain Michael McKenzie nasceu pelas mãos de seu pai. Agarrando seu filho protetoramente, Cutter correu para a porta, gritando, "nós temos um filho! Um filho!" Ele voltou para a cama e caiu de joelhos. Jo e a Katie correram imediatamente para cumprimentar a mais recente adição, deixando Preguiçoso lamentando e arranhando a porta. Elas bajularam Cain então Cutter levou-o para dar-lhe um banho, comparando suas mãos com as de Katie enquanto Elizabeth o segurava. "Oooh! Os dedos dele são tão pequenos!" Katie se maravilhou. "Você acha que ele vai gostar de Preguiçoso, tia Lizabeth?" Elizabeth assentiu com a cabeça sonhadora, os olhos dela se fechando enquanto ela observava a cena diante de seus olhos. Olhando para cima, Jo deve ter pegado a expressão cansada dela e se levantou da cama. Ela pegou Katie levando-a para fora, explicando que Elizabeth e Cain estavam com muito sono. Quando elas se foram, Elizabeth olhou para seu filho, seus olhos cansados, refletindo o seu orgulho. A dor tinha sido maior do que ela jamais poderia ter imaginado, mas tinha valido a pena, ela pensou quando ela olhou para o marido. Ela simplesmente não podia acreditar. E Cutter tinha agido tão bem, dando-lhe força, quando parecia que ela não tinha nenhuma. "Você salvou minha vida," ela sussurrou com dedicação. "Não," ele murmurou, levantando a mão dela e beijando-a com tanta emoção que Elizabeth pensou que ela ia explodir em lágrimas. "Eu até gostaria de levar o crédito," Cutter disse para dela, com sua voz rouca, "Eu apenas segui as direções. Você fez todo o trabalho." Ele olhou para ela, e depois para o filho deles. O cabelo preto e os olhos tão azuis que pareciam mais negros que azul. "Além do mais..." ele sussurrou enquanto acariciava a cabeça felpuda do filho. Ele se deliciava com a sensação do cabelo sedoso contra as cicatrizes dos seus dedos... tanta suavidade em sua vida. "Mesmo se fosse verdade... você salva a minha vida todos os dias. Antes de você, Liz, eu estava morto por dentro e nem sabia disso." Elizabeth engoliu, combatendo a onda de exaustão que abraçava seu corpo. "Você estava?" Lágrimas brilhavam em seus olhos. Os olhos de Cutter se abriram ainda mais, lágrimas brilhavam em seus olhos negros, fazendo-os brilharem como tinta num vidro. "Eu estava" ele assegurou-lhe com uma piscadela. Seu olhar baixou brevemente para a criança que estava deitada entre eles e depois ele se voltou para o rosto da esposa, ainda descrente que ela era realmente dele. Dele. Ela tinha lhe dado tanto. Tudo o que ele já tinha procurado estava lá, em seus olhos dourados. "Sou mais rico do que Midas," ele disse a ela com um brilho nos olhos, "e
pretendo ser tão ganancioso quanto ele. Não posso ter bastante de você... eu quero muito mais." “E... Eu te amo, Cutter." Cutter tirou o cabelo dela para longe de sua testa e se dobrou para beijar seus olhos fechados. "E eu amo você, Doutora," ele sussurrou. Elizabeth sorriu e deixou sua cabeça cair contra o travesseiro. Ao fazer isso ela ouviu o os sons que Caim fazia enquanto era amamentado. "Mais do que você jamais vai saber," sussurrou Cutter. Mas Elizabeth não ouviu. Ela tinha adormecido. Não importava. "Porque eu vou provar para você todos os dias do resto de nossas vidas," ele jurou. Ele levantou seu filho em seus braços, os olhos cheios de calor e de um orgulho arrogante quando ele abraçou o cobertor em torno do seu menino. "Você vai ter que cuidar muito bem dessas pequenas jóias, filho. Vai ter que me dar muito netos." Ele sorriu enquanto olhava para o rosto de Elizabeth dormindo, "só seja sincero com a mulher que você pretenda se casar." Ele se afundou de volta na cadeira mais próxima, sustentando suas botas em cima da borda da cama para ter uma longa conversa com seu filho primogênito. Caim riu alegremente e enrolou seus dedos pequenos ao redor do polegar de Cutter. "Sim," Cutter concordou, sua voz suave quando ele encarou os dedos pequenos segurando os seus dedos. O coração estava inundado de alegria. "É isso mesmo..." Ele assentiu com a cabeça com orgulho engrossando sua voz. "Como seu pai, você vê..." Sem o conhecimento de Cutter, Elizabeth deu um sorriso profundo.
SOBRE A AUTORA
Os romances de Tanya Anne Crosby já figuraram em diversas listas de bestsellers, incluindo as do New York Times e do USA Today. Conhecidos pelos enredos carregados de sentimento e humor e repletos de personagens imperfeitos, seus livros vêm recebendo elogios dos leitores e comentários entusiásticos da crítica. Tanya vive como marido, dois cachorros e dois gatos temperamentais no norte de Michigan. Para mais informações:
@tanyaannecrosby tanyaannecrosby www.tanyaannecrosby.com tanya@tanyaannecrosby.com