URBANO Arte | MĂşsica | Cinema | Fotografia | Moda | Literatura
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CONTEÚDO URBANO | 1
06 EXPEDIENTE 07 COLABORADORES 09 EDITORIAL ARTE MÚSICA CINEMA FOTOGRAFIA MODA ENTREVISTA GONZO COLUNA
10 ENCONTRO 16 ZonaLIVRE 19 SÓ QUEM É TORCEDOR SABE... 20 FORA DE FOCO 42 inGYN
CRÔNICA
43 Arte
INFOGRÁFICO
44 Cinema
GASTRONOMIA
46 Música 48 Moda 50 Gastronomia 52 GONZO 55 TARJA PRETA 56 CULTURA ESQUECIDA
O que os urbanos andam vestindo por aí? É o que vamos responder. Ou melhor, mostrar.
Inovação na noite goianiense! Musicalidade excepcional e diversificada já é destaque no cenário cultural da cidade.
Um infográfico com os principais museus de Goiânia, cultura esquecida pelos seus moradores.
Muito além do campo, da vitória e do gol. Futebol é uma poesia jogada com os pés e sentida com o coração. Desde 1989 o Cine Cultura proporciona a aproximação das pessoas com a cultura, fazendo florescer a paixão pela sétima arte. Confira ainda a programação para este mês
O que Recife, Minas Gerais e Goiânia têm em comum? Samba alternativo pra quem tá vivo!
Um passeio pelo que passa despercebido ao olhar do goianiense. O grafite está em toda parte...basta aprender a enxergar
A alternativa de sabor na terrinha + um espaço que combina serviços com um bom cafézinho
UR B A N O
EXPEDIENTE | COLABORADORES URBANO | 1
REDAÇÃO Comissão Editorial Bonny Henrique Guilherme Ataíde Mirella Abreu
06 07
Direção de Arte
Guilherme Ataíde
Revisão
Mirella Abreu
Colunista
Bonny Henrique
Texto
Bonny Henrique Guilherme Ataíde Mirella Abreu
Fotografia
Bonny Henrique Guilherme Ataíde
Projeto Gráfico
Guilherme Ataíde
Diagramação
Guilherme Ataíde
Impressão
Digital Impressos
Tiragem
5 mil exemplares
Mês
Novembro
Contato
contato@revistaurbano.com.br
URBANO © Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade dos respectivos anunciantes. Todas as informações e opiniões emitidas nesta revista são de responsabilidade dos criadores.
COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO Ilustração
Ravenna Correa
Agentes Culturais
Decy Morbeck Lucas Manga (El Club) Baú Novo GOTOGO Café Coreto Pitanga “Sabor e Equilíbrio” Museu de Arte Contemporânea Museu Pedro Ludovico Teixeira Museu Estadual Professor Zoroastro Artiaga Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás Museu de Escultura ao Ar Livre Museu de Arte de Goiânia (MAG) Museu de Ornitologia José Hidasi Memorial do Cerrado
NOSSA CAPA Um dos grafites perdidos pelo Setor Sul estampa a capa desta edição. Traços simples de um homem invisível traduzindo a sensação de esquecimento e abandono. Essa é a realidade do grafite que a URBANO vem mudar. UR B A N O
EDITORIAL
URBANOFAGIA
Quando o palco das manifestações culturais é a cidade
G
oiânia, capital de Goiás, situada no coração do Brasil. Somos uma periferia quando o assunto é cultura. A visão de fora para dentro ou de dentro para fora é que todos os goianos nasceram escutando sertanejo, tocando berrante e que somos “caipira, pira, pora”. No final das contas fica o estereótipo e a falta de espaço para outras manifestações. Bom, pelo menos a sensação. Falta um empurrãozinho. Cada dia mais evidente, a cidade, a rua, o urbano tem se tornado o palco principal para as mais variadas expressões culturais. A Revista Urbano é feita de pessoas para pessoas. O pleonasmo é verdadeiro. Basta caminhar por alguns segundos pelas ruas de Goiânia com um olhar menos técnico, mais poético, e perceber os encantos. Eles estão por toda parte, por todos os olhares. Falar de cultura numa cidade como a nossa parece uma tarefa simples de fazer. Todos parecem estar tão saturados, parecem tão acomodados, sem vontade. Falta manifestação? Falta entusiasmo? Faltam novos estímulos! Por entre as enormes paredes de concreto ainda é possível enxergar o verde, o azul, o amarelo, o vermelho, uma realidade nada acinzentada, uma realidade colorida. Urbano é cor, urbano é expressão, manifestação. É um convite às pessoas a pararem, respirar fundo três vezes, sentar num montinho de grama e observar. Largar o relógio, perder tempo (intencionalmente) aproveitando o hiato com cultura. Urbano é cidade! Construções, pessoas e suas histórias, lugares verdes ou de concreto. Fagia é um sufixo que expressa ação de alimentar-se de algo. Unindo o conceito proposto pela revista com a urbanofagia, queremos que o leitor se alimente de cultura, deixando-o livre para escolher o que consumir. Seja música, arte, cinema, moda, gastronomia, enfim, independente do prato favorito, que o pecado da gula cultural seja cometido o máximo possível. Afinal, nunca é demais mesmo. Tem uma sanduichería natural, tem arte em meio ao asfalto, música para ouvidos não treinados, até moda. Não sabe onde? Então agora é hora de praticar o urbano. Parta para novas experiências sonoras de quinta a sábado numa das casas de danças e drinks que mais cresce no meio alternativo. Nos acompanhe a um passeio pelo Setor Sul (calce um tênis confortável) redescobrindo arte nas paredes abandonadas. Se aventure ainda pelo maior festival de música sertaneja não só de Goiânia, mas do país inteiro. Mas não precisa se apressar. Devore as próximas páginas degustando um bom cafezinho e redescubra sua cidade natal (ou que você tenha adotado mesmo, não importa). Seja biológico ou adotivo, Goiânia está aí para todos seus filhos. U RBANO
ENCONTRO
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Nossa capital é famosa pelo constante estereótipo de que as boates não duram mais que um ou dois anos. Programação pouco interessante, músicas transformadas em batidas, um verdadeiro lixo sonoro e espaço pouco agradável são algumas das causas para o pouco sucesso. Goiânia tinha carência de festas bem planejadas, que agradassem vários tipos de público e fugisse da segmentação.
Rua Cento e Quinze, n º 1038, Setor Sul
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ma casa, um título, mas vários adjetivos, um diferente para cada dia e cada festa. Na quinta, a música eletrônica domina o espaço, na sexta a pista é meio hipster, moderninha, variando entre o Indie, o Hip Hop e os anos 90. Já aos sábados há total entrega ao melhor do Pop e um esculacho divertido com o funk desse brasilzão. Junte à música uma variedade quase infinita de drinks insanos e um cardápio extenso de cervejas que promete agradar aos mais diversos paladares. Em três anos de existência, o El Club (carinhosamente chamado de Clubinho) se consolidou como referência musical e de entretenimento, livrando-se de preconceitos e estereótipos, unindo púbicos e gostos. Querendo ou não, a música da noite acaba determinando o público. Isso é óbvio, cada um tem sua preferência, por isso a diversidade. E não adianta falar que não gostou. Com quase uma semana de antecedência os eventos são publicados na página oficial no Facebook, discriminando
valores, música, horários, tudo muito bem explicado. O Clubinho teve uma receptividade muito grande do público gay, o que, segundo o idealizador e empresário responsável pela casa, Lucas Manga, foi muito positivo para disseminação do projeto. A intenção nunca foi criar um ambiente GLS, ou uma casa alternativa. Mas o público faz o nome do espaço. É uma boate focada na música, independente de estilo (acredite, sertanejo também tem sua vez). Não é um lugar para ostentação, não é para gastar muito dinheiro (mas cuidado hein, os drinks podem te dizer o contrário). O espaço já passou por algumas reformas, alterando a estética, mas mantendo o tom underground, com ilustrações em suas paredes e funcionários receptivos, fazendo com que os clientes se sintam em casa. O encontro deste mês é com o empresário responsável pela casa de diversão que completa três anos de existência, com direito a quatro dias de festa e um público muito fiel.
URBANO - Como surgiu o El Club? Lucas Manga - Eu trabalhava numa loja e fiz uma festa lá como sócio, e essa festa deu errado e acabou que tinha que pagar essas contas. Aí um amigo e eu começamos a fazer festas no Metrópolis pra arrecadar dinheiro, aí que eu comecei a fazer festas e a discotecar. Assim fui conhecendo um pouco mais desse mercado. Metrópolis já é bem pioneiro nessa história de começar com música alternativa, de um público que não está mais tão mainstream. Nesse período eu conheci a Carol Maia, minha sócia. Fizemos uma festa na Pop House, começamos meio que a trabalhar juntos, esquema de amizade mesmo. Só que faltava algo nas festas que a gente fazia. As ideias que tínhamos não cabiam no Metrópolis, porque lá toca muito rock. Não cabiam na Pop House, porque lá era só diruno. Tínhamos as ideias, mas não o lugar. Numa dessas eu queria investir em alguma coisa. Fizemos o projeto do Club em quatro meses, reformamos a casa em três meses e abrimos. Nesse processo todo gastamos, apenas sete meses. E a proposta do público? Não queríamos levantar bandeira nenhuma! Nunca tivemos a intenção de que o El Club fosse uma casa GLS. Primeiro, por-
que eu acho o rótulo super brega, da mesma forma que casa alternativa me irrita. Queremos fazer um lugar com tipos de música diferentes dentro de uma sala underground, e as pessoas que gostam desse tipo de música vão vir, independente de orientação sexual. Obviamente no começo a gente não conseguiu, e hoje temos um ambiente que ainda cabe muita coisa, mas a principal ideia foi: vamos segregar nosso público pela música. Numa quinta-feria será um tipo de música, na sexta será outro e assim também no sábado. E independente de tudo, se a pessoa gostar da música, ela estará aqui. O público gay foi mais aber-
to às nossas ideias e à proposta, então eles praticamente dominaram o lugar. E isso foi ótimo! Ajudou muito na disseminação da ideia e da manutenção. Com o tempo um público mais alternativo, heterossexual, foi se rendendo à proposta, e chegamos num processo mais maduro desde nossa abertura que é a quinta-feira ligada em música eletrônica underground de bastante qualidade. Na sexta temos uma viagem indie aos anos 90, bem hispter, moderninha, e aos sábados nos entregamos ao pop. Assim conseguimos saber exatamente qual é o nosso público. Nunca levantamos bandeira nenhuma, a não ser tocar música pra quem gosta de música. Não que a gente não se conecte com causas, mas estamos numa geração que não precisamos levantar bandeira mais. A galera gay não precisa mais ficar se identificando, há uma liberdade maior de expressão, então, obviamente, a convivência entre públicos é clara. E o projeto da casa, a estética? Sempre procuramos manter a casa assim, numa estética
“A forma do El Club é ser El Club. Ideia boa, buraco no mercado, projeto muito bem escrito. Quando começamos a reforma, sabíamos exatamente qual nicho queríamos abocanhar, tanto que nunca mudamos nosso produto, ele sempre foi o mesmo.” Lucas Manga UR B A N O
ENCONTRO bem underground, tudo feito com propósitos. Quebramos paredes, grafitamos outras, colocamos luzes negras, entre outras, enfim, não nasceu pra ser um lugar onde se gasta muito dinheiro, pra se ostentar, nasceu pra ser como é agora. Claro, sempre aberto a mudanças e melhorias. Acredito que o El Club chegou aonde pensamos que ele chegaria. E como foi o trabalho para chegar a essa “essência El Club”?
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A gente tinha uma ideia boa e percebemos um buraco no mercado, algo que realmente não existia e até hoje não tem. Conseguimos preencher uma lacuna. Contratamos um consultor há um ano e meio pra fazer consultoria financeira e uma pesquisa de mercado pra saber “qual a forma do El Club?”. Podemos levar essa mesma estrutura para outro lugar, um espaço mais aberto, pode ser em outra cidade. A forma do El Club é ser El Club. Ideia boa, buraco no mercado, projeto muito bem escrito. Quando começamos a reforma, sabíamos exatamente qual nicho queríamos abocanhar, tanto que nunca mudamos nosso produto, ele sempre foi o mesmo. Demos muita sorte também. Algumas casas da cidade começaram a fechar, a exemplo da Royal, Pacha, e esse público começou frequentar e conhecer o Club e se tornaram clientes fieis. Então uma série de fatores dentro da cultura noturna
goianiense contribuiu para isso. Mas o principal foi o projeto bem feito. Mesmo que algo não funcionasse direito em determinado momento, nunca mudamos de ideia. Muita dessa essência foi solidificada com a Garag.E (festa voltada para o house, deep, techno e disco)... Foi, a Garag.E. O público de sexta e sábado vinha por falta de opção e tinha outras baladas em Goiânia que não faziam o papel que a Garag.E exerce hoje. As outras casas ficavam preocupadas com concorrência, mas esta é a essência do mercado. Hoje nós temos concorrentes, mas parceiros, que estão muito firmes num segmento, a exemplo do Diablo e do Metrópolis. Então a abertura da Garag.E trouxe isso. O cara que vinha aqui na sexta por falta de opção, agora tem a Garag.E.
As festas mais comentadas
Conseguimos distribuir mais o público, deixá-lo mais feliz e conquistar clientes. As pessoas se identificam mais. E isso ajudou ainda no posicionamento dos nossos concorrentes, conseguimos, sem passar por cima um do outro, criar uma história de concorrência legal. Conversei com algumas pessoas que frequentam o El Club que já viajaram o mundo e eles compararam a música do Club e a estrutura com as festas do exterior, comentando não encontrar a qualidade musical daqui nas baladas europeias... Fiquei um mês em Nova Iorque, inclusive muitas referências do Club eu peguei viajando, e realmente não se vê muito um lugar que oferece um mix de música tão legal e tão definido em dias tão firmes. Uma noite de sexta a gente consegue fazer com
bar e já vai querer um drink, sente um alívio por já estar aqui dentro, então tudo conflui pra que a festa seja a melhor que a pessoa vai ter na noite. E daqui pra frente?
O local possui capacidade para 350 pessoas!
que uma pessoa curta e goste de todos os tipos de música, assim também é o sábado. Isso foi fruto de pesquisa. A Carol e eu temos uma história musical muito legal, sempre trabalhamos com música, e sempre fazemos reunião de pauta, um planejamento, pensando em fazer uma festa em que eu vou querer estar nela. Não me vendo a algo que eu não gosto. Musicalmente então, não mesmo! Quando convidamos algum DJ, se eu não gostar, não curtir o trabalho dele, se não acreditar que ele vá agregar algo à proposta da casa, não vai rolar. Em termos qualitativos, o Club já é bem reconhecido pelo público goianiense? Já, mas assim, nós que já estamos inseridos no processo, conseguimos mensurar muito menos sobre qual o efeito do El Club na cidade. Vejo muito resultado pelo Facebook, mas em larga escala não sei qual o resultado. Temos algumas poucas falhas aqui. Não temos assessoria de imprensa, não temos alguém que vá abafar algum problema, que vá potencializar uma qualidade, por isso acabamos meio perdidos nesse processo, e entendo o Club ainda como um processo. Já consegui-
mos sair do estigma goianiense, de fechar com um ou dois anos. Sei que temos importância cultural na cidade, isso é um fato, veio à tona quando ficamos interditados: muita gente veio falar comigo, reclamando não ter pra onde ir sem o Club. Mesmo que estejamos no olho furacão. Alguns falam que a fila é muito grande, o bar é muito cheio, a pista é muito quente, mas aí quando fechamos o pessoal começou “nossa...saudade da pista quente”, “saudades estar na fila do El Club”. A gente se propôs a oferecer um serviço de qualidade, mas o padrão sempre vai aumentar. Não fico chateado com reclamação, não bato boca com cliente, mas sempre respondo todo mundo à medida do possível, porque eu sei realmente o que está acontecendo, estou aqui de segunda a segunda. Sei que há um problema na fila, mas é impossível resolver agora e isso vem da estrutura da casa mesmo. Chegamos num patamar que não queremos mudar muito, a cara do El Club é essa! A fila gera uma festa muito divertida, claro que não quero que uma pessoa fique uma hora e quarenta numa fila, mas se ele ficar meia hora, quarenta minutos, ele vai entrar na festa com uma vibe diferente, vai chegar no
Vamos focar em programação. Ficamos mais de um ano sem trazer atrações. Conseguimos vender uma ideia de festas legais sem precisar agregar nomes, sem ter um blogueiro foda, sem ter um DJ que está na mídia porque precisávamos investir em estrutura. Abrimos o Club com um vigésimo da grana que ganhamos depois que inauguramos. Inicialmente foi X, depois de três anos, investimos 20 X. Tudo que ganhamos, muito do dinheiro, ficou aqui e agora em estrutura não vamos mudar muita coisa. Então daqui pra frente, cara, é programação, quero fazer algo grande. Estamos com Disclosure pré-fechado. Vamos começar a fazer putas festas fodas [sic], esse é o grande objetivo. Já estamos nos preparando pro aniversário do ano que vem. No desse ano tivemos o Xis, o Mau Mau de volta, o Jillionaire do Major Lazer, mas pro ano que vem a gente quer o Diplo. O foco é, agora, fazer musicalmente o que a gente veio aqui pra fazer. Não aguento mais Halloween, festa junina, Festa da Fantasia, chegou nossa hora de arriscar e fazer uma festa foda. Arriscar uma terça, envolver mais o Club no circuito cultural. Estamos com uma parceria fechada pro Goiânia Mostra Curtas do ano que vem, fazer algo gastronômico, enfim, tornar o Club um esquema mais cultural que não envolva só música; que envolva todo um lifestyle, meio que uma geração inteira. Parece muito pretensioso, mas não é prepotência, queremos fazer uma história meio Club Kids, tipo, naquela época, em Goiânia, teve o El Club e o El Club foi massa. Queremos criar história. U UR B A N O
ZonaLIVRE
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O artista, o espaço urbano e sua obra Conjunto de pinturas e ilustrações criam verdadeiras galerias de arte a céu aberto
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isualize uma parede, grande, cinza, ainda com o aspecto sem graça do cimento. Uma realidade de inúmeros muros levantados dentro de Goiânia. É comum encontrarmos pichações aleatórias, até mesmo naqueles que se atrevem a colocar o mínimo de cor. Letras, dizeres não identificáveis para quem não está familiarizado com tal realidade. Mais comum ainda é ver (e ouvir) pessoas passando em frente a tais muros e verbalizar um “nossa, que horror, fica feio demais”. Para aqueles mais afeiçoados pela cidade onde moram, isso é vandalismo e deixa o lugar um tanto...feio! Mas duas pessoas propõem uma revitalização dos espaços urbanos através de uma técnica muito simples e que é bastante conhecida: arte! Artistas plásticos e grafiteiros, Decy e André Morbeck transformaram grande parte da cidade, mais precisamente o Setor Sul. Possivelmente você já deve ter passado por alguma das obras deles, mas passou direto, reto, rápido. Não percebeu. Estão em todos os cantos: ruínas, becos, praças e quadros telefônicos. Decy e André Morbeck trabalham em parceria, contribuindo para a revitalização destes vários espaços ou elementos urbanos, sendo que em mui-
tas das obras é comum ver a assinatura dos dois, geralmente no canto inferior esquerdo. Trazendo o realismo e surrealismo das grandes cidades, retratando o negro, o índio, o imaginário e ainda o fantástico, as obras são sempre impactantes. A maior concentração da arte de Decy e Morbeck juntos é encontrada no Bacião, apelido de uma das esquecidas e misteriosas praças do Setor Sul, com uma extensa área verde abandonada, pista para skatistas e mais acima uma quadra de esportes em estado de deterioração. Mas mesmo o visual “feio” do lugar é embelezado, tem outro significado com tais obras em exposição. Parecem até que foram feitos um para o outro. A destruição é completada pela esperança de que haja mais cor, mais vida, mais idealizações, efeitos causados pelas paredes grafitadas. Foi raríssimo encontrar pessoas admirando a arte não só pelo Setor Sul, mas pelos outros pontos de Goiânia, e detalhe: era sábado, 16 horas. As pessoas estavam em casa, sem tempo para admiração. Alguns viam a movimentação das câmeras e, forçados, percebiam que aquele lugar havia sido modificado, para melhor!
Hobby, influência, vida Decy não vive de grafite. Ele trabalha ainda com letreiros e outros serviços particulares. Ele encara o grafite como hobby, muitas vezes patrocinado por alguns moradores que gostam e contemplam a arte dele, e com isso cedem seus muros para que também passem por essa interferência visual. André Morbeck possui uma bagagem cultural extensa, a qual ele aplica em suas obras. Em 2009 ele largou diversos planos de vida e seguiu rumo à Austrália em busca de novos ares, um caminho novo, diferente. Lá encontrou um estilo de vida totalmente novo, dada à liberdade de ir e vir, viajar, o fizeram abraçar as artes plásticas e dedicar um bom tempo de sua vida a elas. Nesta última década a arte urbana, não só em nível local, mas em nível mundial, está em foco. Os profissionais evoluíram muito e sua obra passou a ser valorizada por um público apreciador que cresce expressivamente. Morbeck já passou pelo design gráfico, tatuagem, animação e ilustração, mas foi através das técnicas do grafitti que ele encontrou a liberdade expressiva que precisava para se firmar como artista urbano. Pai de um filho, autodidata e eterno aprendiz (sic), Decy se orgulha muito de sua arte, espalhada por toda cidade. Ele diz que cerca de 20% da região do Bacião já está pintada, mas pretende transformar o restante com o passar do tempo. Se depender dele e de Morbeck, o processo será mais rápido do que se imagina. Infelizmente, barreiras ainda são encontradas. Nem todos são receptivos ao trabalho dos artistas. Morbeck mesmo já foi barrado por pessoas que não conseguem enxergar a beleza do trabalho. Há uma ilustração de um bebê gigante no viaduto da Unip paralisada pois denunciaram a ação dele, caracterizando o ato como vandalismo, indo parar ainda no 8º Distrito Policial, onde assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Passado tal episódio, ele agora elabora um projeto a ser apresentado às leis municipal, estadual e federal, como forma de incentivo à cultura.
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LETRANDO
Só quem é torcedor sabe...
A
cordo diferente. Abro os olhos, olho ao meu redor. Lá está ela, a camisa do meu time, o manto sagrado. Nada pode estragar o dia de hoje. Levanto da cama, tomo banho, escovo os dentes, troco de roupa e saio para a faculdade. Chego à faculdade e fico pensando como que o time vai entrar em campo, lamento pelo tal jogador estar machucado. Converso com alguns amigos e troco ideia sobre o jogo que está para acontecer. Discuto, falo mal, brinco e dou palpite com amigos e desconhecidos que logo se tornam amigos do futebol. Boa parte da manhã e da tarde é de tensão. É como se eu estivesse em concentração junto com os jogadores. Cada tic-tac do relógio é um bate mais forte do coração. Quando chega a o final do dia é hora de ir ao estádio. Vestida com a blusa do meu time, pego a bandeira e o ingresso. Dentro do carro ligo o som, conecto a rádio e fico escutando o narrador falar sobre o jogo. Confiante na vitória do meu time penso: - “Impossível perder hoje”. Chego ao estádio, o palco do grande show. Sinto o clima. A euforia mistura com nervosismo e com o calor do momento. Escolho o lugar para sentar, junto com mais de 60 mil torcedores. Sou apenas um pontinho branco dentre os milhares de torcedores na arquibancada. Todos gritando, cantando e rindo. Tudo antes do apito inicial da partida. Os times entram em campo e começa a guerra de cantoria no estádio. É só festa! O juiz dá o apito inicial da partida, começa o jogo. Meu time está em campo, jogando, dando show. A torcida linda vibrando a cada passe. Isso é futebol. A euforia batia no meu rosto. Toda bola ao gol é um palpitar do coração. O sangue ferve, quando o time rival tenta o gol. Quando o goleiro voa na bola e fecha o gol é um grito de alegria. A torcida continua a fazer a festa e o juiz apita: - “Fim do primeiro tempo”. No intervalo eu renovo as energias tomando água e comendo um churros. Comento com alguém do meu lado sobre os lances do primeiro tempo. E quando avisto os times retornando ao campo, fico tensa e ansiosa. Quando recomeça o jogo a tensão volta. O jogo é pegando. O time no atacante faz uma bela jogada, dando uma caneta e um chapeuzinho no seu adversário, com isso a torcida vai à loucura. Faltam alguns minutos para o fim do jogo, meu time precisa de um gol para ser campeão. O coração está para sair do corpo. A torcida não para de incentivar o time. Surge um escanteio, a torcida fica eufórica, os batimentos cardíacos vão a mil. Ninguém respira. Um segundo a bola viaja no ar. Os jogadores se movimentam dentro da área. O zagueiro sobe mais alto que todos. Parece que está tudo em câmera lenta, não ouço nada. De repente... A bola está no fundo da rede. Uma explosão de ânimos toma conta do estádio. Mais de trinta mil torcedores vão ao delírio. O juiz apita o fim da partida. Meu time é campeão. O êxtase toma conta de mim, só sei sorrir igual boba. Na saída, a torcida e a cantoria me levam, não sei para onde eu vou. Meu time é campeão. Só quero comemorar. Quero brindar. Todos ficam perguntando, mas porque você está assim? Eu respondo só quem é torcedor sabe o que é sentir seu time campeão.
Mirella Abreu adoraria substituir o jogador machucado UR B A N O
FORA DE FOCO
O incrível mundo do 20 21
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anifestação artística em espaços públicos. Assim pode ser definida a arte do grafite. O aparecimento contemporâneo data de 1970, em Nova York, nos Estados Unidos, com algumas marcas deixadas nas paredes de diversos subúrbios. Algum tempo depois, tais marcas foram se aperfeiçoando e hoje possuem técnicas de desenho. Ligado a diversos movimentos, o grafite se popularizou com o Hip Hop, refletindo uma realidade distante dos grandes centro urbanos: a realidade das ruas, a realidade dos oprimidos. Antigamente havia muita confusão entre o grafite e a pichação. Esta é uma forma de vandalizar espaços públicos ao invés de atribuir uma nova identidade visual. Um meio de evitar que prédios, casas e milhares de muros sejam poluídos pela pichação, é realizar uma parceria com os artistas responsáveis pelas mais belas obras de arte feitas
no Setor Sul com materiais que variam das latas de spray ao látex. Mas muitas dessas obras não estão “visíveis”. O olho nu não enxerga. Calma, é possível, mas é preciso tempo, treino e olhos atentos. Escondidas, essas obras encantam qualquer um que avistá-las. Grama, terra, brita, entulho. O acesso não é tão complicado, mas recomendamos usar seus pés. São tantas conexões, tantos espaços alterados artisticamente, que você pode se perder. Ative a visão panorâmica e abra sua mente e coração. Consuma arte em uma de suas formas mais primitvas. Convide seus amigos, sua mãe, sua avó. Passeie pela cidade. Tire um sábado. Não, melhor. Tire um sábado e dois domingos. Leve uma garrafa de água (ou duas) e se aventure pelos oito cantos do Setor Sul (tanta arte não caberia em quatro). Convidamos você a tirar sua venda, abrir os olhos e enxergar a pura arte.
Praça Maria Angélica da C. Brandão | Setor Sul
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Rua 120 | Setor Sul
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inGYN
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46 Música 48 Moda 50 Gastronomia
Antes de mais nada, o conteúdo desta editoria não é fixo. Cinema, arte, música, moda e gastronomia estreiam a inGYN desta primeira edição. Este espaço é reservado para dicas sobre lugares, atrações, novidades que merecem destaque dentro da URBANO. E você pode fazer parte dela também. Envie sua sugestão para nosso email que nossa equipe vai atrás conferir. E ainda ganha um espaço aqui.
Arte
Poesia versus concreto As mais variadas formas de ver e praticar arte em meio aos prédios, casas, trânsito e o vai e vem da cidade
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nxergar a cidade em tom de admiração não é uma tarefa comum para os moradores dela. Isso é coisa de turista, certo? Errado! Com o objetivo de criar ações que estimulem as pessoas a viverem a cidade de Goiânia em sua melhor forma, nasceu o coletivo vivAcidade. Juliana França, publicitária goiana, é a idealizadora do projeto. Já morou em Porto Alegre, São Paulo e até na Espanha, e percebeu que sua terra natal poderia ser explorada e contemplada de uma forma melhor e por seus próprios habitantes. Inspirada pelo Coletivo Transverso, ela desenvolveu o coletivo vivAcidade. Buscando despertar um novo olhar sobre o espaço público, criando laços de afeto com a cidade, o coletivo promove um espaço de livre discussão e criação de movimentos que busquem transformar Goiânia numa cidade para pessoas, num lugar melhor para morar. Algumas das ações do coletivo compreendem piqueniques, colagem de lambes nos espaços urbanos, música, poesia, arte, enfim, tudo com uma nova visão da cidade. Ficou interessado no projeto? Acesse a página do coletivo vivAcidade no Facebook e entre para o grupo que promete mudar a forma com que você enxerga Goiânia. Ah, o coletivo é aberto e totalmente colaborativo. Compartilhe suas ideias!
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Cinema
Circuito não comercial 44 45
Quando a sétima arte é usada para aproximar pessoas e cultura, fazendo florescer a paixão pelo cinema, sem limitações
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uem não gosta de pegar um cineminha naquele fim de tarde, ou mesmo no fim de semana com os amigos, namorados e namoradas, família. As produções cinematográficas hollywoodianas encantam gerações e gerações por proporcionar emoções, imagens incríveis e efeitos visuais espetaculares. Mas e quando decidem unir cinema, um espaço de convivência, reflexão e debate? O resultado é o Cine Cultura. Inaugurado em 15 de julho de 1989, em uma pequena sala com 98 lugares, o espaço privilegia o que de melhor se produz no cinema contemporâneo não-comercial. Com a digitalização do cinema mundial, o acesso aos filmes em maiores quantidades se tornou um processo mais democrático, fenômeno recente, do século XXI. A possibilidade de estreitar laços, aumentar o contato entre as pessoas e poder aproximar o público com a cultura é o combustível que motiva a equipe do Cine Cultura a seguir desempenhando seu papel. O cinema é dirigido por Antônio Segatti, diretor de fotografia de inúmeras produções cinematográficas em Goiás (a exemplo de Crueldade Mortal – 1976). O Cine Cultura (Centro Cultural Marietta Telles Machado fica na Praça Cívica, Centro de Goiânia. Os ingressos custam R$ 8 a inteira e R$ 4 a meia.
Aposta dos urbanos Um dos filmes em exibição é o Exercício do Caos, dirigido por Frederico Machado. No filme, um pai autoritário vive com suas três filhas adolescentes em uma fazenda afastada, no interior do Maranhão. As meninas sofrem com a ausência da mãe, supostamente desaparecida, e ao mesmo tempo precisam lidar com a exploração de um capataz, que se aproveita de suas inocências e fragilidades. Sessões: 21h (segunda a sexta) / 19h (sábado e domingo). Ficha técnica: Exercício do Caos Direção: Frederico Machado Drama | 2013 | 71min | Brasil 16 anos
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Música
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Goiânia de samba Música que vai além do sertanejo e do rock! Goiânia está revelando artistas dos mais variados ritmos, que usam da criatividade para conquistar de ouvidos experientes àqueles prematuros
E
ra só mais um passeio pela rua, quando Deny Robert entrou na Padaria Doce e Vida, no Parque das Laranjeiras, e escutou Kátia pela primeira vez. A partir dai foram várias visitas à padaria e conversas jogadas, até que uma nova banda de samba surgiu em Goiânia. Foi esse começo de amizade, em uma padaria de um bairro afastado de Goiânia, que a Baú Novo ganhou voz. Os dois amigos largaram tudo, juntaram com mais três músicos e entraram com voz, cavaco, violão e percussão no mundo da música goianiense. O resultando: a criação de uma das bandas de samba mais originais da cidade. De lá para cá já são 20 músicas compostas, vários festivais de música no currículo, entre eles,
o line-up do Studio Bouga Festival 2013, em Goiânia; o 2º Brasil Park Fesival, em Anápolis e o Breakout Brasil, promovido pelo canal de TV fechado Sony Spin. “É uma alegria muito grande ver que o projeto tem dado certo”, afirma o vocalista Deny Robert. Numa cidade onde o sertanejo aflora em cada esquina e a todo momento, há mais ou menos dois anos, a Baú Novo surgiu da periferia e está ganhando espaço no grande cenário musical de Goiânia. Uma banda tentando fugir do paradigma da música produzida na capital com o lema “Samba para quem tá vivo”. Hoje é referência no circuito da música alternativa em Goiás. É a partir de uma batida de samba bem marcante, que a banda tem como base de sua
produção artística a mistura de vários ritmos com o samba. E é justamente esse o principal conceito de samba alternativo desenvolvido pelos integrantes que vem conquistando o público, mantendo viva a essência da música popular brasileira. Um samba para todos, com a missão de dar uma cara nova não apenas ao samba local, mas em nível nacional. O som da Baú Novo já conseguiu a atenção de grandes produtoras, festivais e premiações no país, dando identidade própria a cada música. Influenciados pela MPB, valorizam desde as preciosidades de Noel Rosa até a desenvoltura e poesia bem ritmada de Criolo e Luísa Maita.
Pensamento longe, com os pés no chão e música no coração Apesar de terem começado em 2012, a Baú Novo tem um repertório de 20 músicas e a pretensão de lançar um EP com seis faixas. Será uma espécie de prévia do álbum completo, ainda sem data definida para o lançamento. A banda pretende começar o trabalho de divulgação através das rádios e redes sociais, a grande aliada na difusão do trabalho. As expectativas são as melhores. Acesse soundcloud.com/baunovo e conheça a provocação sonora que a Baú Novo faz aos ouvidos. Destaque para Grito e Goiânia de Samba.
Fotos: divulgação
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Moda
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Moda pessoal, o estilo de cada um Site mostra o estilo de rua através de fotografias de pessoas, cores e misturas culturais espalhadas pela capital
B
asta um olhar atento, uma câmera e inspiração para que as passarelas da moda se tornem ruas, parques, asfalto e tudo aquilo que compõe a estrutura do mundo urbano. Tendo pessoas como modelo, nada esqueléticas, e através do olhar aguçado, os blogs de moda urbana tomam conta do espaço virtual, trazendo tendências para o mundo real. A principal tendência encontrada nestes sites é o streetstyle, ou estilo de rua, onde o importante é a personalidade das pessoas e não a marca. Foi a partir desta ideia que o gotogo surgiu, um site pioneiro em Goiânia quando o assunto é moda urbana. Fazendo uma atribuição ao coolhunting, termo da década de 90, o gotogo trás um olhar voltado para pessoas com a finalidade de definir novas tendências, misturando a moda com o estilo de vida da capital goiana. Os criadores Guta Guerra e Raphael Remiggi comemoram um ano do site, que está no ar desde novembro de 2012 e conta com mais de 250 pessoas registradas. Fugindo dos paradigmas de revistas de moda, o site não tem uma abordagem mainstream,
onde “pessoas informam o que estão vestindo no inverno 2013, nem a cor do esmalte do verão”, mas um espaço para se inspirar, onde se destaca os mais variados estilos de nossa cidade. Um meio de mostrar o estilo que anda pelas ruas. O gotogo é um convite para conhecer a cidade e seus potenciais que passam despercebidos no dia a dia, é um lugar de riquezas e conhecimento dos encantos das ruas. É possível notar, tanto nas fotos quanto nas matérias do site, os encantos revelados. Em um site de moda urbana o que interessa é o lado mais humano e menos comercial. Comunicando diretamente com o leitor, mostrando e aprendendo cada vez mais com o internauta. Um espaço onde as passarelas e as revistas são esquecidas. Mostra o estilo de cada um, cheios de personalidades e tendências comportamentais e de expressão cultural. Não é um lugar para julgar e determinar o que vai ser usado, é um lugar intimo e autoral de mostrar como você enxerga o mundo, transformando-o em estilo de vida. Pois moda urbana vai e vem, vem da rua e volta para rua, é aquilo que está para além das portas.
Ideia que fez ir-para-ir Guta ficou seis meses em Londres fazendo um curso de CoolHunting na Central Saint Martins. Quando chegou ao Brasil ela se sentiu vontade de aplicar os conhecimentos adquiridos no curso. Fazendo várias pesquisas, ela percebeu o crescimento da área dos blogs streetstyle e reparou que havia poucos no Brasil e nenhum em Goiânia. Foi quando conversou com o Raphael Remiggi, na época estudante de medicina e bastante empreendedor, sobre a ideia e a oportunidade de mercado, e juntos começaram a planejar e depois de um ano lançaram o gotogo. gotogo.com.br
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Gastronomia
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Sabor alternativo e equilibrado Uma alternativa saudável de sanduícheria com direito a um ambiente agradável, caseiro e que deixará você com sensação de familiaridade
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m banco de madeira aqui, um carretel de fio elétrico ali, volumes da enciclopédia Barsa, grama, árvores, concreto. Falando assim de uma vez parece uma bagunça, não é mesmo? Mas acredite, tem coerência, coesão e faz todo sentido. Fazendo jus aos três R’s (reduzir, reutilizar e reciclar), o Pitanga “Sabor e Equilíbrio” vem com uma nova proposta: aliar comida saudável com ambiente agradável e familiar. Uma alternativa saudável de sanduícheria gourmet e sucos naturais onde você não vai apenas para comer. Você vai para passar um bom tempo com os amigos, compartilhar histórias, risadas, se aventurar pelo slackline, uma biblioteca e uma cama elástica. O espaço é um daqueles lugares raros que encontramos vez ou outra pelas andanças na cidade. Considerado como o jardim secreto dos sanduíches naturais, o Pitanga fica na Rua 70, nº 401, no Jardim Goiás. Já pode imaginar né, está cercado de andares e mais andares de concreto. Mas isso não vai interferir na sua experiência gourmet. Tudo é artesanal e fresco, comida caseira e saudável. Bia Borges, chefe de cozinha, se inspirou neste estilo de vida saudável após três meses de convivência com a Califórnia. Conheça e se encante! O Pitanga fica aberto de terça a sexta, das 11h às 21h e aos sábados e domingos das 9h às 21h.
Fotos: divulgação
Café quentinho para acompanhar Compre, converse, divirta-se! Um espaço que une o útil ao agradável
U
m espaço para visitar, conhecer novidades, comprar, conversar, divertir-se ou apenas tomar um ótimo café. Essa é a proposta do Café Coreto, um ambiente tranquilo e agradável que dispõe uma série de serviços que prometem agradar ao público. Aberto de segunda a sexta, das 9h às 19h e aos sábado das 9h às 18h, os cafés Spress e Nespresso são a principal atração do espaço. E eles explicam! O Spress foi escolhido pelo seu caráter gourmet, com o diferencial de ser produzido em solos vulcânicos em Minas de Gerais. De sabor equilibrados, mínima acidez, um cheiro suave e doce de chocolate, o gosto ficará na sua boca por um bom tempo! Já o Nespresso pela sua variedade de perfis aromáticos, vindos dos mais diversos lugares do mundo. Além do café, o espaço ainda possui uma loja com diversas marcas garimpadas pelo Brasil, além de outras partes do mundo. O pessoal do Café Coreto ainda desenvolve projetos especiais de identidade visual para profissionais liberais, empresas produtos e eventos. Ah, falando em eventos, o pessoal ainda organiza aniversários, batizados, chás-de-panela, lingerie além de eventos corporativos. Curtiu? Então corre pra Rua 142, nº 221, ali no alto do Marista para se encantar com o espaço. Delicadeza, pequenos grandes prazeres em produtos delicados e lindos!
Fotos: divulgação
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GONZO
Goiano nada sertanejo no Villa Mix 52 53
Entre quase 60 mil pessoas, um leigo sobre a chamada música sertaneja universitária passa o sábado no maior festival do gênero do país
G
oianiense amante de samba, indie, r&b e pop. Tenho um gosto bastante eclético, mas a massificação do sertanejo em todo o estado me dá vertigem. Goiânia é vista país a fora pelas boates sertanejas e shows desse gênero, e para quem não curte esse tipo de música sobra muito pouco. Nasci na terra do sertanejo, já sei como funciona a produção, as duplas que surgem todos os dias dessa música que costumam tocar em bares, botecos e em sons altíssimos dos carros e nunca tinha ido a um show de música sertaneja. Resolvi então sair da minha casa e ir ao Villa Mix Goiânia 2013. Tinha ganhado o ingresso, meu setor não possuía mordomias, isso é para poucos. Tive o direito de entrar mesmo, e só! Se quiser beber e comer leve dinheiro, muito dinheiro. Não fui só, levei dois amigos. Ao chegarmos percebemos que seria difícil segurar boa parte do show sem beber. Então, a caminho do estacionamento do estádio Serra Dourada comprei uma garrafa de vodca e segui de taxi, mas a bebida não deu conta de nos animar. Quando chegamos à porta do evento reparamos em um monte de tendas de bebidas, paramos e compramos um garrafa de catuaba e o resto de uma vodca, muito ruim, com essência de baunilha, que o vendedor dizia ser de chocolate. No final das contas o vendedor devia estar mais bêbado que a gente porque ganhamos muitas “amostras grátis”.
Agora aquela garrafa de catú parecia não terminar nunca. Acendi um cigarro para disfarçar a pausa na bebida e de repente chegaram duas meninas, menores de idade, sem acompanhantes e que não conseguiam entrar no show. Uma delas, chamada Lorraine, era negra e alta, dizia ter 17 anos. Ela queria que eu, na minha descendência galega, passasse por tio dela, sendo que não tínhamos nada a ver no nome para tentarmos burlar os seguranças e o conselho tutelar. Resolvi ajudar, e lá fomos nós ao posto do Juizado da Infância e Juventude para tirarmos uma autorização, mas Lorraine, esperta, não estava com nenhum documento. Quase implorando, a menor queria convencer os funcionários da justiça de todas as formas que a deixassem entrar. Passado um tempo de conversa a garota começou a gritar com um funcionário, que já estava sem paciência de lidar com aquilo na cordialidade, mas mantinha a calma. Vendo que não ia conseguir nada ela desistiu e voltou para o lugar onde estávamos bebendo. E depois de uns 25 minutos e toda essa desconfortável situação, a catuaba não tinha acabado. Aquilo já estava me causando náuseas. Por fim, as “menores” foram atrás de outra pessoa para tentar se infiltrarem no show. Depois de uns 5 minutos finalmente a garrafa de catuaba acabou. Meus amigos e eu continuamos a beber, viramos um shot dessa vez. Parecia que
só tinha bebida e abadás. É, abadás, daqueles de show de axé, aquele dia parecia um festival: onde as meninas disputavam para ver quem estava com a blusa mais curta e os homens com o bíceps mais malhado. Nada contras, mas reparando um pouquinho, me dei conta que não havia como diferenciar as pessoas: todas montadas iguais, tentando estar na moda e aparecer bem na foto. E ainda nem tínhamos entrado na arena Villa Mix. Por fim, entramos! De primeira reparamos o quanto iríamos ficar longe do palco e, em hipótese alguma, dava para ver quem estava cantando. Quando chegamos, a Paula Fernandes já estava quase finalizando o show, fazendo um cover de Man! I Feel Like A Woman, de Shania Twain. Cantou... sem inovação e parecia que estava assistindo ao show da própria Shania, já que eu não enxergava nada além de cabeças, câmeras e celulares. A sertaneja terminou cantando Pássaro de Fogo (C-L-Á-S-S-I-C-O). Parada para ir ao banheiro, toda aquela bebida não estava caindo bem, embora eu já imaginasse isso. Foi um desafio entrar em um banheiro
Divul gação
químico, porém ninguém ali tinha opção, além de encarar uma nojeira sem comparação. Passados 30 minutos entraram no palco, Bruno e Marrone, uma dupla com um repertório enorme, mas não cantaram mais de dez músicas. Fiquei estupefato e sem entender muito bem se o show deles tinha mesmo acabado. Um palco gigantesco, uma “megaprodução” de estrutura e de cobertura da mídia e uma das duplas sertanejas mais consagradas do país cantou pouco mais que meia hora. Enfim, saíram de cena e houve o intervalo. Ou melhor, o merchandising da TV Anhanguera. Os que estavam mais próximo do palco viam o ator global, Murilo Rosa, falar, falar e falar sobre a filial da Globo, seus 50 anos, completados em Outubro de 2013 e vários outros produtos que patrocinaram o festival. Lembro-me da dupla Jorge e Mateus, pois eram os mais esperados da noite. A qualidade de áudio perfeita fazia o som da voz deles ficar muito agradável. E no fim da primeira música comecei a ouvir a banda de um jeito diferente. Estava até
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curtindo, mas meus amigos não aguentavam mais aquela muvuca. Logo após a segunda música da dupla fomos embora todos os três passando muito mal. Um festival regado a muito álcool e a uma ostentação por parte dos homens que insistem em conquistar as meninas mostrando o corpo definido e roupas de marca. Do outro lado as meninas com roupas customizadas em seus corpos esculpidos em horas de academia e cabelos perfeitos. Saímos desestimulados pelas letras com inspirações pífias e suor no rosto causado pela multidão presente no local. Não é a toa que Goiânia tem o título de capital da música sertaneja. Na cidade acontecem três grandes festivais sertanejos todos os anos, sendo o mais famoso deles a exposição agropecuária e seus shows.
Não é exclusivo de Goiânia...
Brasília Niterói
Belo Horizonte 54 55
Manaus
São Paulo
Fotos: divulgação
TARJA
Se fala mal é porque ama! Amor e ódio pela terra do pequi
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sse trem quente pra dedéu, do tipo que vai ao shopping e encontra todo mundo e por coincidência ninguém tinha nada pra fazer e de lá vai pra um boteco ou pit-dog. Resumindo, Goiânia é um ovo de cidade. Tudo é lindo fora daqui, mas infelizmente estamos aqui e temos que aturar a nossa rotina. O eixão, a falta de opção para sair e sentir a sensação de morarmos bem no meio do nada, sendo que é preciso ser milionário para ir às melhores baladas de Goiânia (mas seja rápido, antes que elas entrem em falência) e ainda tem os shows internacionais, isso uma vez a cada dois ou três anos e torça para o Governador financiar o evento de um cantor bom, porque só ele pra trazer algo. Você que volta pra Goiânia depois de uma viagem perfeita para o litoral, vê aquele “moderno aeroporto” e indo pra casa em pleno domingo à noite você pensa: que droga de cidade. Sem praia, sem a agitação, enfim, sem muitas opções o que nos resta é: boteco, parque, um x-morte na Rua 10 ou shopping, que você vai encontrar todo mundo lá porque Goiânia tem outro detalhe, ela é mesmo um ovo. Goiânia é tristemente tediosa. Mas espera um pouco! Só quem nasceu e mora em Goiânia pode falar mal dela, porque ninguém faria esse papel melhor do que um goianiense que não aguenta mais a rotina nesse ovo de 1,3 milhão de pessoas. Falo ovo porque que as pessoas resolvem ir para o mesmo lugar, tipo um funk shui que atrai as pessoas, e se você está com algum amigo que conheça muita gente, pronto! Não sai mais do lugar. Mas que tal um programinha cult? Como saber onde vai ter alguma coisa? São perguntas mais frequentes quando procuramos algo diferente para fazer em Goiânia e que esteja extremamente fora do sertanejo, do rock e do pagode improvisado, que só os goianos dão conta de fazer. Os programas culturais na capital são mal divulgados e se ficamos sabendo de algum evento é sempre no dia ou bem em cima da hora. Fala-se mal porque é ruim, mas na verdade o que se despreza é o que se dá valor. Esse clichê nada bobo é a mais pura verdade e todo esse ódio, realmente, é amor demais por essa cidade. Segundo pesquisas, essa é uma síndrome que acontece em praticamente todos os lugares do mundo. Quando alguém distante da nossa realidade vem falar mal de Goiânia já saímos em defesa, e nesse momento encontramos inúmeras qualidades o que torna ela uma cidade paraíso, fazendo parecer não existir lugar melhor para viver. Goiânia tem os seus defeitos, mas quem faz as cidades são as pessoas e a calorosa hospitalidade dos goianienses é incontestável, todo esse verde, o pit-dog, que não existe em lugar nenhum no mundo, a culinária divinamente caseira (tem pamonha, pequizada, empadão... yummy yummy). O clima é ótimo, somos a cidade com a maior área verde por habitante do mundo e temos uma produção cultural imensa e se tratando de rock e sertanejo somos referência. Por fim! Eu nasci em Goiânia e tenho orgulho da minha cidade e sou goianiense de coração, pois aqui cresci e construí muita coisa. Aqui existem um milhão de defeitos, mas as qualidades dessa linda cidade superam qualquer coisa. Bonny Henrique ama sua cidade natal: Goiânia. UR B A N O