Apostila de oratória

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ORATÓRIA

COMO SE APRESENTAR EM PÚBLICO André Luiz Clímaco


Introdução Oratória: trata-se de método de discurso, da arte de como falar em público ou o conjunto de regras e técnicas que permitem apurar as qualidades pessoais de quem se destina a falar em público. Na Grécia Antiga, e mesmo em Roma, a oratória era estudada como componente da retórica (ou seja, composição e apresentação de discursos), e era considerada uma

importante

habilidade

na

vida

pública

e

privada.

Aristóteles e Quintiliano estão entre os mais conhecidos autores sobre o tema na antiguidade. Fale-me para que eu te veja - diziam os gregos. A oratória surgiu em Siracusa, na Sicília, no século V a.C. É de lá o primeiro manual sobre a retórica de que se tem notícia, de autoria de Córax e Tísias. Outros surgiriam nos anos seguintes, mas o mais renomado é ainda a "Arte Retórica de Aristóteles". Foi na terra das Olimpíadas que a oratória encontrou campo fértil para o desenvolvimento. Para os gregos, saber falar adequadamente em público era uma das mais importantes qualidades que um homem poderia demonstrar. Antes restrita a poucos cidadãos de destaque, aos poucos, a eloqüência e a capacidade de falar em público passou a ser considerada uma capacidade que podia ser adquirida e desenvolvida através de estudo e treinamento. Estudos apontam que as palavras prendem apenas 7% da audiência. A voz vem com 38% da atenção e a maior parte -55% da platéia - fixa-se na comunicação não-verbal, que é a entonação e o ritmo da voz, os gestos e a postura do apresentador. Portanto, uma comunicação eficaz está muito além de uma bela voz.

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1. O Orador Em discursos, palestras e seminários existem três elementos que se equalizam: o orador com sua bagagem de conhecimentos, experiências e personalidade; a explanação com o seu conteúdo pertinente e o auditório com quem o orador partilha seus argumentos. O elemento integrador em um espaço de comunicação é quem fala. O orador é, portanto, um dos principais fatores determinantes do sucesso. Objetivando capacitar o orador, tecemos considerações sobre: pré-requisitos, aspectos físicos, voz e medo. - Pré-requisitos Existe uma grande diferença entre estarmos sozinhos e estarmos diante de um grupo de pessoas que nos aguardam como orientadores de um conjunto de idéias sobre uma determinada área do conhecimento humano. É imprescindível que tenhamos: Aparência agradável Pois dificilmente mudamos a primeira impressão que fazemos de alguém. Portanto, é altamente recomendado: . manifestar equilíbrio através da aparência física; . estar trajado adequadamente, inclusive observar os ditames da moda; . procurar usar ornamentos adequados e sem exageros. Presença eloqüente

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Expressamos muito mais fisicamente do que verbalmente. O orador ainda não começou a falar e já temos uma idéia do andamento do discurso. É indispensável: . postar-se com elegância e descontração; . expressão fisionômica de harmonia, serenidade e satisfação; . movimentar-se com naturalidade, transmitindo autoconfiança; . expressar pleno domínio das circunstâncias; . por-se no comando: expectativa para expressar a grandiosidade de suas idéias ao auditório; . maturidade/autenticidade: evitar artificialismos e jamais imitar terceiros.

Congruência A apurada integração entre expressão verbal e a não verbal dá o tom que movimenta suavemente as chaves internas da razão e da emoção dos ouvintes. Caracterizam a presença congruente: - identidade constante: não pode parecer ser, precisa ser e manter, durante todo o contato, uma postura coerente; - sinergia entre idéias e ações: através da expressão física e mental estabelecer a liga entre:assunto, orador e ouvintes - facilita a intelecção e estimula a ação;

- sensibilidade: permite desenvolver a acuidade perceptiva visual, auditiva e cinestésica, propiciando em poucos momentos a integração das forças atuantes.

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Flexibilidade A dinamicidade da comunicação supõe autoconhecimento, autoconfiança e acentuado gosto pelo saber. Ao tornar pública a maneira como pensa e sente, o comunicador não pode pretender a unicidade de pensamento, mas estimular o pensar, o sentir e jamais pretender padronizar como se deve conceber a realidade:

- incentivar o livre pensar: estimular a reflexão sobre o assunto em análise;

- admitir a diversidade: identificar, desde os momentos de pesquisa, todas as linhas de raciocínio, os ângulos, as conclusões possíveis e favorecer o diálogo entre elas; - reconhecer-se em formação: transmitir consciência do intenso dinamismo do saber que caracteriza o final do século, da constante revisão dos enfoques, das concepções e das conclusões sobre os mais diversos temas.

Qualidades Literárias O exercício da comunicação verbal supõe a sedimentação das regras básicas da língua em que se expressa - consequência natural do estudo da gramática e do elevado padrão de leitura. O uso correto dos verbos, advérbios, preposições, pronomes, etc, potencializa as vantagens competitivas do comunicador. Evitar, a todo o custo, o preciosismo, a erudição exagerada mesmo em meio acadêmico. A probabilidade de ser enfadonho e de dificultar o entendimento das idéias é proporcional a adequação da linguagem ao nível cultural dos ouvintes. A estrutura gramatical empresta ao discurso, dentre outras qualidades: - clareza: a fluência e amplitude do vocabulário permite a correta construção dos pensamentos

viabilizando

a

expressão 34

precisa

das

idéias;


- adequação: o auditório é sempre a razão última de qualquer discurso; a receptividade dos ouvintes está sempre na razão direta da capacidade do orador em adaptar o vocabulário e nível de raciocínio. - Aspectos Físicos Observações pertinentes ao domínio do púlpito. Trata-se da congruência entre o que o orador expressa verbalmente e o que expressa fisicamente através da postura, dos movimentos, dos gestos e do olhar. Faremos também menção e análise dos cacoetes físicos, enquanto fator dispersivo ao comunicar-se.

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2. Postura Expressa quem somos e revela o grau de desenvoltura: - em pé ou sentado: sempre com naturalidade; - estando em pé: apoiado sobre as duas pernas; - manter-se sempre de frente para o auditório; - nem arcado para a frente (medo, insegurança), nem arcado para trás(arrogância: medo, insegurança; - cabeça naturalmente alinhada; - braços - quando n?o gesticulam, devem estar caídos ao lado do corpo; naturalmente apoiados sobre as pernas ou sobre a mesa, quando falar sentado; - expressão corporal forte - fazer uso também da linguagem não verbal ao expressar as idéias; - ao expressar-se em pé - não apoiar-se em cadeiras, mesas, quadro-negro, aparelho de som, mas ser o seu próprio eixo. Movimentos Propiciam

maior

dinamicidade

e

poder

de

concentração

dos

ouvintes:

- postura física correta revela autoconfiança e segurança;

- não devem ser lineares, pois cansa o auditório devido ao movimento de cabeça dos ouvintes;

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- não podem ser circulares, pois estaríamos dando as costas ao auditório; - não podem ser uniformes, movimentos repetitivos provocam monotonia, cansaço e sono; - o melhor movimento é o que propicia dinamicidade em pequeno espaço: trata-se do

movimento

triangular

realizado

sempre

de

forma

diferente;

- não movimentar-se demasiadamente depressa ou demasiadamente devagar; - deve transmitir convicção pessoal em relação as idéias que expressa; - a exploração do corpo através da expressão física auxilia muito a comunicação, pois revela nosso pensar e nosso ser.

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3. Gestos Enquanto as palavras transmitem as idéias, os gestos expressam os sentimentos. O discurso eloqüente supõe uma perfeita congruência entre a comunicação verbal e a não verbal, entre as idéias e as emoções, entre os conceitos (abstrações) e os exemplos (fatos concretos). Não se restringem aos movimentos das mãos, mas refere-se a tudo o que manifestamos exteriormente - passo atrás, à frente, sorriso, testa franzida, olhar com todas as nuances, posição dos ombros, posição do corpo para frente ou para trás. Gesticular é expandir o aparelho fonador. Observações essenciais relativos aos gestos: - o que melhor caracteriza a expressão física é a autenticidade: qualquer gesto nasce do interior do orador e se manifesta em sua fisionomia, mãos, pés e todo o corpo; - sempre adaptado aos mais diversos assuntos e auditórios; - surgem como complemento do aparelho fonador e orientam os ouvintes; - necessitam ser naturais, originais e jamais imitados; - devem acontecer segundos antes ou concomitante à expressão verbal, nunca deverão vir após, pois assim cairão no vazio; - não podem ser exagerados, espalhafatosos, mas comedidos; - devem ser flexíveis e variados: verticais baixo, médio e alto; horizontais baixo, médio e alto; e em diagonal; - explorar expressão fisionômica: a expressão fisionômica é a mais autêntica manifestação do nosso estado interno, ocomunicador deve treinar a expressão da fisionomia.

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4. Olhar É o que torna possível uma conversa e uma comunicação de massa eficaz. Olhar para o auditório com firmeza, mas sem altivez, nem superioridade ostensiva. Como distribuir o olhar quando falamos com uma pessoa, com um grupo de pessoas ou com um grande público? - criar contato com os ouvintes: comunicar-se com o olhar; - direcionar e distribuir o olhar por regiões do auditório, em um primeiro momento; - num segundo momento, atingir cada pessoa com seu olhar: todos os participantes devem e gostam de ser percebidos; - o olhar deve ser na regi?o entre os olhos e levemente acima do nariz: ao olhar nesta região atingiremos o interlocutor frontalmente. Por que olhar para os ouvintes? - para possibilitar o feedback(auto-avaliação); - conseguir adaptar o máximo possível as idéias ao auditório a que se fala; - possibilitar identificar resistências ou idéias não bem compreendidas e saná-las prontamente. Falar em público não é um monólogo, mas um diálogo com uma multidão. O auditório se comunica tempo integral com o orador. Este por sua vez, precisa decodificar as mensagens e ir adaptando o seu discurso e viabilizando um interesse intenso e uma profunda intelecção.

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5. Cacoetes físicos São jeitos e trejeitos executados pelo orador enquanto explana suas idéias. Prejudica a plasticidade da comunicação e desfoca a atenção dos ouvintes em detrimento do entendimento e assimilação do assunto. Por que são executados? - por mero hábito; - para desviar a atenção dos ouvintes sobre a sua pessoa; - por nervosismo: objetiva aliviar tensões. Alguns cacoetes mais comuns: - colocar e tirar os óculos ou recolocá-los no lugar; - coçar a nuca, as faces, a barba, o queixo, a cabeça ou nariz; - ajeitar o paletó que vai apertando à medida em que se movimenta e gesticula; - puxar a calça para cima; - apoio das mãos nos bolsos ou na cintura; - alinhar o cabelo repetidamente. Mecanismos para elimininá-los: - ter consciência do problema e da necessidade de superá-los; - identificar o que o motiva a fazê-lo; - canalizar a tensão nos gestos, movimentos e tom de voz; - evitar conscientemente executá-los.

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Em oratória não devemos buscar fórmulas, mas princípios adaptáveis à nossa estrutura pessoal. Deverão ser praticados conscientemente até constituir-se em hábitos e, portanto, perfeitamente integrados à nossa maneira de ser.

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6. A Voz É um dos instrumentos mais poderosos que o ser humano possui. Saber utilizar bem a voz significa, muitas vezes, o sucesso em muitos dos nossos empreendimentos. Portanto, um capítulo de fundamental importância num curso de oratória é a dicção ou califasia que permite uma melhora significativa na impostação da voz. A comunicação verbal oral acontece em quatro níveis: a palavra, a colocação da palavra na frase, a inflexão/entonação e o feedback. A dicção é a ciência que propicia a excelência na comunicação verbal oral. O que caracteriza a dicção ou a califasia? Que predicados tornam a voz expressiva? Que relação existe entre aparelho fonador, a correta respiração e a califasia? - Califasia ou Dicção A expressividade verbal supõe habilidade em colocar a voz. Impostar corretamente a voz torna o orador distinto, provoca disposição e estimula a receptividade dos ouvintes. Caracteriza a boa dicção: - articulação perfeita das letras que compõem as palavras - fonação: uso correto dos órgãos fonadores permitindo a produção perfeita do som, tanto das vogais como das consoantes; - pronúncia correta das palavras: dizer as palavras do início ao fim - comumente ouvimos: "tá bem" ao invés de está bem; "ocê qué?" substituindo você quer?;" preu" no lugar de para eu; "finalment" substituindo finalmente; troca do l pelo r : "pranta" (planta); troca do b pelo v: "badio" (vadio);

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- expressividade: modulação da voz variando altura, volume, intensidade, e a velocidade;

acentuação

adequada

ao

dizer

e

musicalidade

da

voz;

- agradabilidade: correta formação das frases evitando cacófatos: uma mão (mamão) e a devida intercalação de sílabas tônicas e átonas evitando aspereza nos sons ao dizer. Predicados da Voz A voz é a mais autêntica expressão do nosso estado interno. A entonação cria ritmo tornando a exposição dinâmica e atrativa. - flexibilidade/sonoridade: harmonização do timbre (personalidade da voz), da intensidade (grau de força), do volume (quantidade), da altura (aguda/grave) e da velocidade (ritmo); - docilidade: trata-se da qualidade que causa empatia, express?o de segurança pessoal e de conhecimento vasto do assunto; - vibração/envolvimento: integração perfeita entre orador, assunto e ouvintes; as palavras, as idéias são expressas através da personalidade do orador para o auditório. Aparelho Fonador O que denominamos aparelho fonador e articulatório trata-se de uma adaptação ao longo da evolução humana, dos órgãos relacionados à respiração e à digestão. A atuação sinérgica desses órgãos torna possível a expressão verbal oral - a voz humana. Do interior para o exterior, observamos: - produtores: traquéia, pulmões, diafragma; - vibrador: cordas vocais (laringe);

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- ressoadores: câmaras nasais e paranasais, boca, faringe; - articuladores: lábios, língua, dentes, palato duro/mole e mandíbula. Respiração Os pulmões são a base de sustentação da voz. Respirar de forma inadequada prejudica a qualidade da comunicação. Quais são as características da respiração correta quando se fala em público? - respiração diafragmática ou completa: permite o pleno uso dos pulmões, dando maior poder de sustentação à voz; - não falar com pulmões vazios ou quase vazios: a falta de oxigenação adequada do cérebro causa tontura e a ausência de ar nos pulmões limita o poder de lançamento da voz; - quando respirar? Em intervalos pequenos que existem entre a expressão de uma idéia e o início da próxima. É importante respirar de maneira quase imperceptível.

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Exercitando a Impostação da Voz O parto da voz requer respiração diafragmática, flexibilidade nos articuladores, sinergia entre os órgãos ressoadores, vibradores e produtores(fonação), pronuncia correta das palavras (gramática), entonação fluente e cuidado em torná-las agradáveis. Flexibilização dos articuladores: Exercícios que propiciam maior descontração, agilidade e precisão dos órgãos articuladores dos sons. . lábios: - abrir e fechar os lábios com a boca fechada; - soprar língua- de- sogra, encher bexigas, assoprar velas que estão 2 a 3 metros distantes; - colocar uma caneta nos dentes incisivos e ler textos. língua: - dobrar a língua e encostar no palato mole; desdobrá-la tocando nos dentes frontais seguidas vezes; - com a boca fechada girar a l?ngua tocando na parte externa das gengivas; - abrir a boca, tirar a língua para fora e, girar para a esquerda para a direita. . mandíbula: - abrir e fechar a boca repetidas vezes; - movimentar a mandíbula da esquerda para a direita e da direita para a esquerda. Evitar os cacófatos e os vícios de linguagem.

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- cacófatos: inadequadas construções das frases permitindo encontros vocálicos que possibilitam a formação de palavras ou fonemas impróprios para o momento que se fala, por serem desagradáveis ou obscenos. Exemplos: - prefiro não pensar nunca nisso(caniço); - meus olhos por ti são(tição); - minha vida é amar ela (amarela); - o problema é a prática dela (cadela). - vícios de linguagem: refere-se a expressões verbais que denigrem a estética do discurso do orador. - cacoetes verbais: consiste na repetição exagerada de uma palavra ou fonema que venha a truncar a fluência da comunicação. Por que acontecem? - por mero hábito adquirido ao longo da vida; - necessidade de ver o auditório confirmar ou retrucar idéias; - busca de apoio no auditório; - conquista de tempo para pensar o que vai dizer depois. Quais são os mais comuns? - né, tá, ééé, ooo, uuu... - então, daí, bem, bom, assim... Em conversas, reuniões conferências e discursos, faz-se largo uso da voz. Otimizar

a

personalidade

da

voz,

34

traz

resultados

comprovadamente


compensadores, no mĂ­nimo, amplia os diferenciais que torna o profissional mais competitivo.

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7. O Medo Existem dois oradores distintos morando dentro de uma pessoa e prejudicam a sua auto-avaliação. Dicotomia entre o orador imaginado - que passou por uma experiência pouco positiva e; o orador real - que expressa autenticamente sua personalidade. A suscetibilidade é o principal sintoma do orador que se encontra tímido. A autoconfiança, ainda por fazer-se, o torna vulnerável mediante manifestações referentes às suas atitudes, à maneira como analisa o tema ou ao seu enfoque sobre o assunto. Manifesta-se no receio de mostrar-se, de ser observado e de ser o centro das atenções. Não é genético ou inato, mas conseqüência de formação inadequada. O maior entrave é não acreditar poder superá-lo. A postura com maior poder e velocidade de transformação é entender que o erro é inerente ao processo da aquisição da habilidade de expressar-se em público com desenvoltura. Portanto, é altamente recomendado, olhar para dentro de si mesmo, permitir a mais pura expressão do eu interior, soltar-se, identificar as arestas e exercitar incansavelmente. - medo: visão distorcida da realidade interna e externa e que bloqueia a expressão integral do indivíduo. - segurança: conhecimento da real potencialidade interna e domínio sobre o contexto que permitem a manifestação plena da personalidade. Quando exposto, o portador do medo inibe-se, sente-se travado, perde a naturalidade. Dificulta a conquista do espaço social e, principalmente, profissional. À medida em que vai experienciando o expressar-se em público, vão desaparecendo um a um todos os fantasmas que de início amedrontam. Internamente vão se formando, proporcionalmente, referências bem sucedidas que nos deixarão plenamente à vontade sobre nossas pernas diante de um público perscrutador.

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Qual é o nosso limite real para falar? Quanto posso expandir-me, otimizar-me quando em contato com o publico? Vencer o medo potencializa o ser humano em todas as suas dimensões. O falar em público, com desenvoltura, traz em si efeitos correlatos que predispõem ao sucesso pessoal e profissional. - Principais características da presença do medo: enquanto sentirmos tais sensações

estamos

sob

os

comandos

tirânicos

do

inconsciente.

- sentir-se deslocado, sem graça, não à vontade; - mãos, axilas suadas em demasia (ou transpirar demasiadamente); - mudança da cor do rosto: ficar pálido, branco ou vermelho; - garganta seca ou excesso de saliva: devido ao descontrole no processo de ensalivação; - náo saber como e onde posicionar as próprias mãos; - ausência de movimentos: quando existe espaço para movimentar-se à vontade; - sorrir demasiadamente ou semblante muito fechado; - perder a seqüência de idéias: ocorrência do "branco"; - auto-avaliação imprecisa: devido a decodificação inexata das manifestações do auditório; - manifestar impaciência, pressa na abordagem do assunto; - insistir na sensação de não estar agradando o auditório: subestimar-se; - ter receio dos olhares dos ouvintes; - voz embargada: rouquidão, pron?ncia inadequada das palavras;

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- mediante manifestações contrárias à sua opinião, sente-se inferior, pois perde a base de sustentação - o próprio auditório; - monólogo interno(self-talk): "não levo jeito para a coisa"; "não é o meu ponto forte"; "que tal em uma outra oportunidade"; "posso cometer uma gafe"; "não sou muito bom em gram?tica"; "pode ocorrer um branco geral". - Autopercepcão do medo: - quais circunstâncias públicas ou privadas que acionam o medo ao expressar-se? - enquanto está se expressando em público, como percebe o tom de voz, os movimentos,

os

gestos,

o

olhar

e

a

fluência

natural

das

idéias;

- como interpreta (decodifica) as mais variadas manifestações do auditório, tais como,

expressões

fisionômicas,

questionamentos,

saídas

do

recinto;

- que sensações passo a ter a partir do momento em que aceito o convite para realizar apresentações, discursos, palestras, workshops; - sensações acentuadas de disparo geral, mormente em relação às idéias que parecem sempre serem insuficientes ou não pertinentes. A timidez manifestada em nossa maneira de expressar tem causas remotas e imediatas:

Remotas: - influência familiar: adquiridas pelas informações e posturas assimiladas no primeiro ambiente de socialização - "não fale se você não tiver certeza", "como você é desastrado", "seu irmão é muito mais desenvolto do que você", "você é estúpido", etc. - ambiente escolar: estratégias educativas castrantes e inibidoras da livre expressão do pensar e do ser - postura apática, passiva - "quantas vezes preciso explicar até você conseguir entender?" "vamos, fale logo e com suas próprias palavras"; 34


- busca de auto-afirmação na adolescência: convivência em grupos cujos pseudolíderes coibiam a auto-expressão dos demais membros - "você é um panaca, meu? babaca", "se quiser ficar no grupo, vai ter que ser assim". - imediata internas: - tentativas de realização de certas atividades em público: seminários, reuniões, nas quais percebeu claramente não ter atingido o objetivo; - sensação de inadequação intelectual: carência de conhecimento relativo ao assunto específico, gerando despreparo em relação à profundidade e a seqüência adequada das idéias a serem expostas; - não se permitir errar: a dor que associa a possível auto-imagem machucada trava o corpo e o cérebro; - crença de não ser extrovertido e expressivo o suficiente. - imediata externas: - contexto repressivo: em âmbito político, social, cultural ou profissional; - perceber-se trajado inadequadamente e carente de material audiovisual apropriado. - Soluções Pré-requisitos que auxiliam na eliminação do medo oratório: autoconhecimento consciência das potencialidades, das características, do estilo pessoal de comunicação e o uso estratégico dos recursos para o desenvolvimento do autoconhecimento, tais como - espelho, gravador e vídeo-teipe; identificá-lo em si mesmo e encontrar razões fortes para transpô-lo.

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Atuaremos em três frentes para eliminar a presença do medo oratório e suas conseqüências físicas e mentais: mental (autoconcepção), falar (ação) e conhecimento específico (mapa mental). - mental (autoconcepção): o medo está alojado em nosso cérebro. Especificamente,

o

medo

de

apresentar-se

em

público,

localiza-se

no

inconsciente. Todas as manifestações exteriores elencadas acima aparecem automaticamente e impõem-se tiranicamente, apesar do poder de ponderação do consciente. Criamos esta auto-imagem inadequada através da nossa imaginação e de experiências pessoais que supervalorizamos, que agora se encontram totalmente fora de contexto, em detrimento da nossa real potencialidade Quais estratégias viabilizam a mudança da auto-concepção nos níveis consciente e inconsciente? Fazendo uso de estratégias de vanguarda em psicologia e adaptando-as aos objetivos aqui propostos, temos: . tornando consciente e se reprogramando: conquistando eloqüência. Deite-se em decúbito dorsal, solte-se, relaxe. Respire calma e profundamente por alguns momentos. Desligue-se de tudo. Em nível alfa traga à tona um fato da infância, adolescência ou profissional que tenha sugestionado negativamente a autoexpressão em público. Veja o todo e os detalhes nitidamente, ouça os sons com perfeição e reviva as sensações intensamente. Imagine-se hoje à frente de um grupo de pessoas. Observe-se claramente. Veja como está vestido, penteado. Ouça a própria voz e todos os sons do ambiente. Sinta nitidamente todas as sensações de estar falando para este grupo de pessoas, de forma congruente e eloqüente. Basta agora diminuir os aspectos visuais, auditivos e cinestésicos da até torná-la inexistente e, portanto, inoperante. E em relação à proceder de maneira inversa. Ressaltar todos os aspectos visuais, auditivos e cinestésicos.

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. referências internas fortalecedoras: trazer à tona uma série de acontecimentos em que efetivamente participou e que segundo sua avaliação e de outras pessoas que presenciaram, foi significativamente bem sucedida: - quando ainda pequeno e em âmbito familiar algum fato ou elogio recebido e que ainda lembra; - em alguma competiç?o esportiva em que se destacou ou foi premiado; - qualquer trabalho escolar que tenha realizado e recebeu nota máxima ou foi mencionado perante o grupo;as primeiras aproximações para fazer amizades; - os primeiros flertes em que teve êxito ao aproximar-se,conquistar, namorar ou casar; - realizações profissionais de destaque, promoções, convites ao ocupar cargos de destaque; - qualquer menção de destaque sobre alguma virtude percebida e mencionada por pessoas do convívio social ou profissional; - identificar habilidades que adquiriu através dos anos, em qualquer área. Voltar inúmeras vezes a todos esses fatos extremamente expressivos para nós mesmos, referentes à nossa valiosíssima história pessoal e por longos momentos revivê-los na íntegra. E, para potencializar estas referências fortes, trazê-las à tona na imaginação, reforçar suas características visuais, auditivas e cinestésicas, expandindo e acentuando seu poder de ação nas convicções e crenças sobre nós mesmos. . ancoragem: o simples fato de pertencermos a um contexto estamos susceptíveis a âncoras. A ancoragem é uma associação consciente ou inconsciente de estímulos específicos internos ou externos. O orador que possui estado forte interno é capaz de colocar o audit?rio em uma vibração muito semelhante a sua e propiciar clima de concentração, entendimento e assimilação.

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Estratégias para o cultivo de estado interno rico de recursos ao expressar-se em público, usando ancoragem: - por associações de imagens: reviver uma experiência extremamente positiva e que esteve em estado intenso, centrar a atenção e revivê-la intensamente e, quando estiver no auge das sensações, mudar o foco de atenção transferindo este estado para a experiência de expressar-se em público e visualizar comunicandose com desenvoltura; - por associações de sons: trazer à tona uma experiência rica em que alguém se dirigiu a você e disse como estava bem vestido, ou que realizou um ótimo trabalho profissional. Concentrar-se intensamente nos sons daquele momento e transferir este estado interno para o expressar-se em público e, escutar sua própria voz falando para o público; - por associações de sensações: reportar-se a um fato que o colocou em um estado emocionalmente rico de recursos. Concentrar- se nas sensações físicas e energéticas. No momento mais intenso, transferir este estado interno rico de recursos às sensações ao apresentar-se em público, ampliá-las intensamente e mantê-las. Quanto mais rápido fizer a transposição das experiências, mais rápida e segura ocorre

a

ancoragem.

Pode

ser

feito

dias

antes

da

exposição

e,

principalmente,minutos antes, enquanto aguarda ser chamado para falar. Esta estratégia garante um começo forte que permite expressar todo o potencial intelectual e sensibilidade humana. O ser humano integrado e totalmente seguro do seu potencial, comunica-se por inteiro, permite descontração, entendimento e assimilação profunda das suas idéias por qualquer auditório. - falar (ação): uma das soluções mais seguras a respeito do medo é eliminar as fantasias, isto é, realizar aquilo que causa o medo. Portanto:

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- sempre que convidado a falar em público, aceitar prontamente; - criar um estado interno positivo: predisposição interna para falar; - provocar oportunidades para expor-se diante de um grupo de pessoas; - observar-se: como e quando começa a sentir o medo, e aos poucos, aprender a mudar o foco, pois assim mudará o estado interno; - enquanto fala, centrar-se no quê diz e, fazer uso da linguagem não verbal o mais natural possível. Contra fatos não há argumentos. Uma vez que provamos a nós mesmos de que somos capazes de resistir aos olhares menos otimistas ou nada aprovadores a nosso respeito, criamos referências internas que acionarão nosso grande potencial de auto-expressão e passamos seguramente a ter gosto pelo falar em público. - conhecimento específico: a certeza sobre a natureza do assunto e seus principais argumentos propicia inigualável segurança. O orador expressivo é necessariamente um grande leitor. Portanto, adquire-se segurança na medida em que se dispuser a: - conhecer muito bem o assunto sobre o qual vai discorrer; - organizar um quadro-de-idéias, no qual consegue localizar perfeitamente cada item a ser explicitado; - ter certeza de que as idéias estão atualizadas; - estar consciente da expectativa, do enfoque e do grau de profundidade de análise aguardado pelos ouvintes.

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8. Técnicas de Apresentações Já presenciamos muitos expositores. Em qual deles nos concentramos mais facilmente? Este é um tema que em oratória merece capital importância. Tantos professores, conferencistas, políticos encontram-se sobejamente preparados quanto ao tema, porém descuram-se quanto à apresentação e, comumente, perdem oportunidades de conquistar um excelente espaço profissional e social. Analisaremos várias estratégias, desde a menos recomendável até a que temos por ideal. A estratégia escolhida dependerá sempre do tipo de assunto, do momento da exposição e do auditório a quem dirigiremos a palavra.  Ler o Discurso Mesmo em se tratando de um grande leitor, o que lê como se estivesse conversando com o público, com os devidos acentos fraseológicos. Esta estratégia só deve ser usada em ocasiões peculiares. Aspectos principais: - Quanto à preparação - tipo de papel: evitar papel que provoque brilho, dar preferência para as cores bege, cinza ou azul claro; - datilografia: espaço dois, letras de tipos médios (16, 18, 20), usar apenas os 2/3 superiores da página; - disposição das folhas: soltas e numeradas, evitar grampeá-las para facilitar a movimentação das mesmas enquanto discursar; - preparação do texto para leitura: através de convenções pessoais, assinalar previamente as palavras ou expressões que deseja dar ênfase: . em negrito: palavras ou expressões de ênfase acentuada;

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. em itálico: palavras ou expressões de ênfase média; . letras normais: palavras ou expressões pronunciadas normalmente; . / : pausa maior; . \ : pausa menor. - treinando a leitura: . primeira leitura: localizar palavras, expressões e idéias que serão ressaltadas e fazer a sinalização: Exemplo: Já presenciamos muitos expositores./ Em qual deles nos concentramos mais facilmente?/ Este é um tema que em oratória\ merece capital importância./ Tantos professores,\ conferencistas, \ políticos encontram-se sobejamente preparados quanto ao tema,/ porém descuram-se quanto à apresentação/ e comumente\ perdem oportunidades de conquistar um excelente espaço profissional e social. . segunda à quinta leituras: ler em voz alta numa tentativa de adquirir desenvoltura na interpretação dos sinais do texto e habilidade em segurar adequadamente o papel - uma posição que possibilite ver o texto e o auditório, sem movimentar muito a cabeça na vertical; . sexta à décima leituras: confirmação e automatização dos sinais indicativos do texto e aquisição da destreza na distribuição da atenção ao auditório; . décima primeira leitura: consiste no discursar propriamente dito (leitura) – estar adequando ao espaço e ao tempo, elegância ao segurar o papel, volume e modulação da voz, mostrar-se envolvido com o que lê e distribuir o olhar entre texto e auditório. Obs: A leitura em voz alta e teatralizada consiste em um eficiente exercício para a reeducação e integração dos elementos constitutivos da voz. - Quanto ao orador

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- perda de expressão física e verbal: decorrente do fato de estar preso às laudas; - questionamento do auditório sobre a capacidade intelectual do orador; - contato reduzido com o auditório: dificulta a comunicação e também a percepção do impacto e da ressonância que as idéias causam sobre o auditório; - dificulta a vibração e o envolvimento do orador com o assunto: o papel tolhe, limita, impede a livre expressão e a adaptação das idéias; - segurança: elimina os elementos que caracterizam o improviso, tais como seqüência correta das idéias ou em que palavras expressar, pois o texto já está pronto; - riqueza gramatical: foi pormenorizadamente elaborado, inclusive com escolha das palavras certas, corretas conjugações verbais e nominais, colocações adequadas dos pronomes. - Quanto ao auditório - inibe a participação: dado o caráter pouco flexível, o auditório se sente desautorizado a fazer perguntas, complementar ou reforçar as teses expostas; - sente-se distante do orador e do tema: tem pouca interação com o orador e suas idéias, levando à dispersão muito facilmente; - cria indisposição: quando percebe que o orador tem 10 a 30 laudas e que, portanto, será demorado; - quando bem lido e adequado ao momento, consegue causar boa impressão, pois foi elaborado sob medida.

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- Recomendado - em solenidades de quaisquer natureza: quando o que se vai expressar carece ter justeza de expressão, onde cada palavra e, inclusive, a seqüência delas têm caráter decisivo no conteúdo da fala; - em pareceres da área do Direito: quando envolve afirmações, citações de artigos, parágrafos, incisos nos quais estão embasados os argumentos que apóiam a conclusão a que se chegou; - em situações peculiares: em se tratando de expositores pessoalmente inseguros ou que n?o têm ou não tiveram tempo de adquirir profundidade de conhecimento e clareza para a exposição das idéias. Como percebemos pelos argumentos apresentados, dentre as Técnicas de Apresentação, é uma estratégia, às vezes, conveniente. Porém, quando queremos conquistar espaço, é preciso lançar mão de estratégias que favoreçam a projeção do orador e o perfeito adornamento das idéias. A leitura do discurso impede o expositor de explorar ao máximo o seu potencial humano e profissional, dificultando, dessa maneira, a otimização da oportunidade em que fala.  Decorar o Discurso É a Técnica de Apresentação mais antiga ao falar em público. O orador elabora textualmente o discurso e o memoriza ipsis literis. A flexibilidade é o que caracteriza os tempos modernos. Requer do expositor, portanto, uma estrutura maleável em seu corpo de idéias ao analisar um assunto. A exposição decorada de um discurso ou conferência torna-a rígida e estática. Não obstante, trata-se de uma opção possível para expressar nossos conhecimentos. - Quanto à preparação

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- montagem do texto: começa-se por uma tempestade mental, levando em consideração o assunto e o respectivo auditório: . encontrar o enfoque e os argumentos que apresentará, tanto para defender como para refutar, bem como idéias que usará para introdução, desenvolvimento e conclusão do discurso; . elaboração do texto rascunho: delineamento da seqüência lógica das idéias em forma de texto; . burilamento do texto: dar plasticidade à expressão escrita das idéias através da sintaxe, da morfologia, do vocabulário, das figuras de pensamento, das figuras de linguagem e da ortografia; . tamanho do texto: devido a dificuldade natural de memorizar é conveniente não ultrapassar 700 a 1000 palavras, isto é, três a quatro laudas; . numerar cuidadosamente as páginas. - memorização do texto: . observar a lógica do assunto: ler o texto identificando os pontos-chave; . identificar as palavras usadas para expressar as idéias interiorizadas; . repetição ativa: repassar algumas vezes buscando sempre o sentido lógico das idéias que compõem o discurso. - Quanto ao orador - requer horas de treino: tanto para reter no cérebro as informações, como também para adquirir fluência integrando texto com o contexto; - caráter artificial: requer habilidade para conseguir expressar com naturalidade, como se o discurso estivesse sendo criado no momento em que se fala; - estático/rígido:praticamente impossível adaptá-lo a realidade, caso esta se

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apresente diferente da imaginada; esta dificuldade acentua-se ainda mais mediante eventuais perguntas dos ouvintes; - vulnerável ao esquecimento: requer excelente poder de memória do expositor; - semblante fechado/tenso - conseqüência do grau de concentração exigido para não perder a seqüência de frases que está expondo, o que dificulta a intercomunicação orador e auditório; - aparente segurança: o orador eliminou quase todos os elementos que caracterizam o improviso; se ele tiver autoconfiança, não correrá risco de ser vítima do nervosismo, que costuma bloquear o banco de dados mental (ocorrência do "branco"); - aparente domínio do assunto: decorrência de apresentar-se para os ouvintes sem necessidade de consultar apontamentos; - texto bem burilado: correção gramatical e aprimoramento do estilo; - comunicação satisfatória com o auditório: nada se coloca entre o expositor e os ouvintes, porém se o feedback não for o esperado, estará limitado a continuar ignorando as manifestações do auditório ou improvisar dali para frente, o que provocará acentuada insegurança e manifestação de nervosismo. - Quanto ao tema - trabalhoso: requer muito tempo para elaborar o texto e acentuada paciência para memorizá-lo; - adjornamento: necessidade constante de adaptação quando convidado a expor para outros auditórios e dificuldade de atualização. Portanto, requer reelaboração de novos textos e, conseqüentemente, nova memorização dos mesmos; - segurança quanto ao conteúdo: fato decorrente da memorização de todas as palavras mencionadas durante o discurso. Porém, se houver perguntas, acaba constrangendo o expositor, principalmente, se limitou a preparação aos itens específicos que ora expõe.

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- Quanto ao auditório - boa impressão: se o expositor conseguir reunir vários elementos, tais como: lógica, fluência, entusiasmo e impostação da voz; - caráter superficial: caso deixe transparecer que foi previamente elaborado na íntegra, acaba por transmitir falta de conhecimento profundo do tema sobre o qual discorre; - bloqueia envolvimento do auditório: o ritmo de análise, nestes casos, costuma ser um pouco acelerado, inibindo as ponderações, as perguntas e eventuais participações dos ouvintes. O expositor evita, a todo o custo, a interrupção pois perderia com facilidade a seqüência das frases. - Recomendado - eventos específicos: os que requerem exposições de palavras específicas, expressões precisas ou citações de capítulos, artigos, incisos, etc, sob pena de comprometer a fala; - falta de conhecimento profundo do assunto: as palavras não surgirão espontaneamente pois não se tem vocabulário específico em abundância, recorrese, então, a termos e expressões previamente preparadas; - aos oradores acentuadamente acadêmicos: caracterizam-se por serem pouco flexíveis e aversos a improvisos, sentem necessidade de que tudo esteja previamente preparado e claramente estabelecido; - uso adequado do tempo: ter o discurso pronto facilita, quando o orador dispõe de um tempo exato para expressar suas idéias. Temos, portanto, quase todos os inconvenientes do discurso lido, acrescidos de outros que lhe são peculiares. Ademais, decoramos uma conversa que teremos com alguém? Percebemos que basta concentrar-se nas idéias e as palavras surgem espontaneamente. Se falar em público é dialogar com o coletivo, porque então insiste-se tanto em decorar os discursos palavra por palavra? Trata-se, portanto, de estratégia pouco recomendada.

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9. O desafio "trava-língua" O rato roeu a roda da carruagem do rei de Roma. Três tigres trituram três pratos de trigo Tente dizer essas frases várias vezes em seguida. Trata-se de uma brincadeira que se faz muito por aí, um tipo de desafio "quebra-língua". Na verdade, o que temos nessas frases é a repetição de fonemas (sons) consonantais, ou o uso de fonemas parecidos: Três tigres trituram três pratos de trigo Existe aí a repetição do fonema /t/, do fonema /r/ e do encontro consonantal /tr/. No outro exemplo, temos a repetição do fonema /r/: O rato roeu a roda da carruagem do rei de Roma. Esse recurso chama-se aliteração e é bastante usado na poesia. Vamos a um exemplo, um trecho da canção "Alvorada Voraz", de Paulo Ricardo: Virada do século alvorada voraz nos aguardam exércitos que nos guardam da paz (que paz?). A face do mal, um grito de horror um fato normal, um êxtase de dor e medo de tudo, medo do nada. Medo da vida, assim engatilhada fardas e força forjam as armações... Nessa letra temos dois trechos com aliterações: em "alvorada voraz" há a repetição do fonema /v/ e do fonema /r/. E mais adiante, em "fardas e força forjam as armações", temos a repetição do fonema /f/. Tente fazer uma aliteração e

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perceba como é difícil para o poeta fazer uma combinação que tenha bom gosto e faça sentido.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA POLITO, Reinaldo. Assim é que se fala, 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BRANCO, Vitorino Prata Castelo. O Advogado e a Defesa Oral, 1 ed. São Paulo: Sugestões Literária, 1997. CUNHA, Abdon de Morais. Técnicas de falar em público, 2 ed. Goiânia: AB, 1995. MELLO, Edmee Brandi de Souza. Educação da Voz Falada, 3 ed. São Paulo: Livraria Atheneu, 1988. QUEIROZ, Jerônimo Geraldo de. Manual do Orador, 2 ed. Goiânia: AB, 1995. SANTOS, Mário Pereira dos. Prática de Oratória, São Paulo: Lagos, 1985. BUENO, Antônio Silveira. A Arte de Falar em Público, 10 ed. São Paulo: BED, 1996

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