Bibliotecas Escolares de Mira, janeiro de 2014
Quem é Conceição Dinis Tomé? Apontamento biobibliográfico Maria da Conceição Dinis Alves Ferreira Tomé, nascida em Vila Nova de Famalicão, em 1970, é licenciada em PortuguêsFrancês pela Universidade do Minho e mestre em Gestão de Informação e Bibliotecas Escolares, pela Universidade Aberta. Enquanto docente na EB2,3 D. Luís de Loureiro e professora bibliotecária no Agrupamento de Escolas Viseu Sul , tem vindo a realizar, em colaboração com docentes de Historia, uma série de atividades que não deixam as gerações mais novas esquecerem o Holocausto. Conceição Tomé é também autora dos contos infantis «A
Lua e o Pirilampo» (2003) e «História do Rapaz que se Tornou Fazedor de Estrelas» (vencedor do Concurso Literário Infanto -juvenil “Prémio do Centro Cultural do Alto Minho”, em 2009), tendo colaborado na antologia “Histórias para Um Natal” (2004), com o conto “Manhã de Natal”. É ainda investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais e está a concluir o Doutoramento em Estudos Portugueses, com uma tese sobre a representação do “outro” na literatura juvenil portuguesa contemporânea. 4
Boletim BE n.º24
Boletim das Bibliotecas Bibliotecas Escolares de Mira / nº24 , janeiro de 2014
Escritora Conceição Dinis Tomé
E
voca-se, a 27 de janeiro, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Nesse dia, são lembradas e condenadas todas as manifestações de intolerância religiosa, incitação, assédio ou violência contra pessoas e comunidades, com base na origem étnica ou crença religiosa, onde quer que ocorram! Para dar relevo a este dia e a esta temática, convidámos a escritora Conceição Dinis Tomé a apresentar-nos o seu novíssimo livro “O caderno do avô Heinrich”, galardoado com o “Prémio Literário Maria Rosa Colaço - literatura juvenil 2012”.
Pedimos, por isso, a todos os alunos, e de forma particular aos que irão estar presentes nas sessões com a autora, que participem nas atividades programadas e que preparem perguntas para lhe fazer, mostrando quanto valorizam a sua presença. A equipa das Bibliotecas Escolares
Bibliotecas Escolares de Mira, janeiro de 2014
“O Caderno do Avô Heinrich” A escrita de um livro tem sempre, na sua génese, uma ideia. A que deu corpo a “O Caderno do Avô Heinrich”, confidencia a sua autora, começa com uma imagem. A imagem de um soldado das SS a obrigar um jovem judeu a tocar violino, enquanto uma fila de crianças do orfanato de Varsóvia, agarrados aos seus cadernos e livros, é encaminhada para um campo de concentração. Esta imagem verídica, tão forte, levou Conceição Dinis Tomé a sentir a necessidade de contar uma história que fosse, por um lado, uma denúncia do Holocausto, mas também um hino à leitura, à amizade e à solidariedade. Surge assim o “O Caderno do Avô Heinrich”, uma obra comprometida com a memória da humanidade, pois, como diz a sua autora, os livros podem ajudar-nos “a ver o mundo com outros olhos e de vários pris-
mas”, tornando-nos mais humanos, mais capazes e mais livres. Sobre o processo de escrita, a escritora refere que, apesar do tema ser de uma natureza difícil, “não mediu” as palavras, escrevendo sem pensar no público alvo. Só quando terminou a sua escrita, achou que a história podia ser lida por jovens e adultos. E com uma certeza: “a vida é menos difícil quando lemos”. Para saber mais sobre o livro: Programa “Ler+ Ler melhor”, da
RTP2, emitido em 29 de outubro de 2013. Disponível em http://www.rtp.pt/play/p1241/ e133003/ler-mais-ler-melhor Jornal de Letras, suplemento Educação, edição de 16-29 de outubro de 2013, p.10. Blogue Destante, “O Caderno do Avô Heinrich de Conceição Dinis Tomé (opinião)”. Disponível em http:// destante.blogspot.pt/2013/12/ o-caderno-do-avo-heinrich-deconceicao.html 2
Boletim BE n.º24
“O Caderno do Avô Heinrich” Deixamos-vos aqui um excerto de “O Caderno do Avô Heinrich” para aguçarem o apetite: Naquela madrugada, acordei com uma pedra a bater na janela da cozinha. Primeiro, estremunhado, julguei que um pássaro se tivesse esbarrado contra o vidro num voo mais desajeitado, mas, depois, ouvi chamar pelo meu nome. — Heinrich! Heinrich! Levantei-me, afastei com cuidado as cortinas brancas de renda e vi o Józef no passeio. Há meses que não nos víamos, desde que ele fora obrigado a mudar de casa. — Espera, já aí vou... — sussurrei, na tentativa de não acordar os meus pais. O dia começava a clarear, mas o céu estava carregado de nuvens escuras. Choveria todo o dia, pela certa. Senti o bafo gelado de dezembro no rosto. Olhei a cidade. Varsóvia ainda dormia. Vesti uma camisola de
lã e umas calças por cima do pijama de flanela e fechei a porta com cuidado. — Tens pão? — perguntou-me, de imediato, o Józef, olhando o chão, quando me viu ao seu lado. Voltei a casa e trouxe pão com compota e uma maçã. Józef sentou-se na borda do passeio e devorou tudo em poucos minutos. Apenas a faixa de tecido branco com a estrela de David azul na manga direita do seu casaco sobressaía no seu corpo, àquela hora da manhã. 3
Bibliotecas Escolares de Mira, janeiro de 2014
“O Caderno do Avô Heinrich” A escrita de um livro tem sempre, na sua génese, uma ideia. A que deu corpo a “O Caderno do Avô Heinrich”, confidencia a sua autora, começa com uma imagem. A imagem de um soldado das SS a obrigar um jovem judeu a tocar violino, enquanto uma fila de crianças do orfanato de Varsóvia, agarrados aos seus cadernos e livros, é encaminhada para um campo de concentração. Esta imagem verídica, tão forte, levou Conceição Dinis Tomé a sentir a necessidade de contar uma história que fosse, por um lado, uma denúncia do Holocausto, mas também um hino à leitura, à amizade e à solidariedade. Surge assim o “O Caderno do Avô Heinrich”, uma obra comprometida com a memória da humanidade, pois, como diz a sua autora, os livros podem ajudar-nos “a ver o mundo com outros olhos e de vários pris-
mas”, tornando-nos mais humanos, mais capazes e mais livres. Sobre o processo de escrita, a escritora refere que, apesar do tema ser de uma natureza difícil, “não mediu” as palavras, escrevendo sem pensar no público alvo. Só quando terminou a sua escrita, achou que a história podia ser lida por jovens e adultos. E com uma certeza: “a vida é menos difícil quando lemos”. Para saber mais sobre o livro: Programa “Ler+ Ler melhor”, da
RTP2, emitido em 29 de outubro de 2013. Disponível em http://www.rtp.pt/play/p1241/ e133003/ler-mais-ler-melhor Jornal de Letras, suplemento Educação, edição de 16-29 de outubro de 2013, p.10. Blogue Destante, “O Caderno do Avô Heinrich de Conceição Dinis Tomé (opinião)”. Disponível em http:// destante.blogspot.pt/2013/12/ o-caderno-do-avo-heinrich-deconceicao.html 2
Boletim BE n.º24
“O Caderno do Avô Heinrich” Deixamos-vos aqui um excerto de “O Caderno do Avô Heinrich” para aguçarem o apetite: Naquela madrugada, acordei com uma pedra a bater na janela da cozinha. Primeiro, estremunhado, julguei que um pássaro se tivesse esbarrado contra o vidro num voo mais desajeitado, mas, depois, ouvi chamar pelo meu nome. — Heinrich! Heinrich! Levantei-me, afastei com cuidado as cortinas brancas de renda e vi o Józef no passeio. Há meses que não nos víamos, desde que ele fora obrigado a mudar de casa. — Espera, já aí vou... — sussurrei, na tentativa de não acordar os meus pais. O dia começava a clarear, mas o céu estava carregado de nuvens escuras. Choveria todo o dia, pela certa. Senti o bafo gelado de dezembro no rosto. Olhei a cidade. Varsóvia ainda dormia. Vesti uma camisola de
lã e umas calças por cima do pijama de flanela e fechei a porta com cuidado. — Tens pão? — perguntou-me, de imediato, o Józef, olhando o chão, quando me viu ao seu lado. Voltei a casa e trouxe pão com compota e uma maçã. Józef sentou-se na borda do passeio e devorou tudo em poucos minutos. Apenas a faixa de tecido branco com a estrela de David azul na manga direita do seu casaco sobressaía no seu corpo, àquela hora da manhã. 3
Bibliotecas Escolares de Mira, janeiro de 2014
Quem é Conceição Dinis Tomé? Apontamento biobibliográfico Maria da Conceição Dinis Alves Ferreira Tomé, nascida em Vila Nova de Famalicão, em 1970, é licenciada em PortuguêsFrancês pela Universidade do Minho e mestre em Gestão de Informação e Bibliotecas Escolares, pela Universidade Aberta. Enquanto docente na EB2,3 D. Luís de Loureiro e professora bibliotecária no Agrupamento de Escolas Viseu Sul , tem vindo a realizar, em colaboração com docentes de Historia, uma série de atividades que não deixam as gerações mais novas esquecerem o Holocausto. Conceição Tomé é também autora dos contos infantis «A
Lua e o Pirilampo» (2003) e «História do Rapaz que se Tornou Fazedor de Estrelas» (vencedor do Concurso Literário Infanto -juvenil “Prémio do Centro Cultural do Alto Minho”, em 2009), tendo colaborado na antologia “Histórias para Um Natal” (2004), com o conto “Manhã de Natal”. É ainda investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais e está a concluir o Doutoramento em Estudos Portugueses, com uma tese sobre a representação do “outro” na literatura juvenil portuguesa contemporânea. 4
Boletim BE n.º24
Boletim das Bibliotecas Bibliotecas Escolares de Mira / nº24 , janeiro de 2014
Escritora Conceição Dinis Tomé
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voca-se, a 27 de janeiro, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Nesse dia, são lembradas e condenadas todas as manifestações de intolerância religiosa, incitação, assédio ou violência contra pessoas e comunidades, com base na origem étnica ou crença religiosa, onde quer que ocorram! Para dar relevo a este dia e a esta temática, convidámos a escritora Conceição Dinis Tomé a apresentar-nos o seu novíssimo livro “O caderno do avô Heinrich”, galardoado com o “Prémio Literário Maria Rosa Colaço - literatura juvenil 2012”.
Pedimos, por isso, a todos os alunos, e de forma particular aos que irão estar presentes nas sessões com a autora, que participem nas atividades programadas e que preparem perguntas para lhe fazer, mostrando quanto valorizam a sua presença. A equipa das Bibliotecas Escolares