Diário de Bordo dos Navegadores

Page 1

Diário de Bordo dos Navegadores Projeto de História e Geografia de Portugal em E@D

Turmas de 5.ºano | EB de Mira

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães


Grumete Filipe Simões | Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºD Olá, bom dia! Meninos e meninas do século XXI vou contar-vos como é a minha vida a bordo de uma nau da Carreira das Índias. Estamos no ano 1601, no reinado de Filipe II e embarquei na nau de S. Roque, em direção à Índia. Sou o António, mas todos me chamam Tó. Não sei qual o meu apelido, pois perdi os meus pais cedo e por isso também não sei bem a minha idade. Pela minha altura, devo ter 12 ou 14 anos. Fui apanhado por um grupo de marinheiros, quando estava a pedir esmola nas ruas de Lisboa. A minha vida a bordo da nau é muito difícil, sou tratado quase como um animal, tal como os outros grumetes. Ocupamos o último degrau na hierarquia social dos que vão a bordo. Só servimos para lançar os cabos acima, mas não subimos aos mastros, nem passamos do convés. Fazemos todo o serviço pesado do navio, ajudamos como criados os marinheiros, que nos batem e nos repreendem muito; não podemos manobrar o leme e não há trabalho algum, quer fora, quer dentro do navio, que nós não sejamos obrigados a fazer, como baldear o navio e dar à bomba. Este último serviço só a nós pertence, a não ser que o navio deixe entrar mais água do que é costume. Eu não recebo nenhum pagamento pelo meu trabalho, dizem que serve para pagar o que como. Isto acontece porque sou órfão, aproveitam-se da minha situação. Os pais de alguns dos meus colegas, que também exercem esta profissão de grumete, recebem um pequeno pagamento para engordar a renda da família que é muito pobre (menos de um soldo que é pago aos marujos). Mesmo que venham a morrer no alémmar, os pais podem receber os soldos dos seus filhos. Com frequência sou explorado pelos pajens que também são crianças, mas, porque trabalham a bordo ao lado dos oficiais, têm mais privilégios. Ainda hoje, depois de limpar o convés durante várias horas seguidas,

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

2


fui colocado na gávea para vigiar o horizonte durante a tarde inteira. O meu corpo tremeu durante toda a tarefa, pois recordava-me de uma história de um grumete que, em 1560, navegava na nau S. Paulo. Este tinha sido colocado ao serviço na gávea e caiu, desfazendo a cabeça no convés em mil pedaços, espalhando os miolos por todo o lado. Quanto ao descanso, posso dizer-vos que enquanto os marujos têm direito a um catre para dormir e a um baú para guardar os seus pertences, nós dormimos a céu aberto no convés. Estamos expostos ao sol e à chuva, muitas vezes falecendo devido às más condições em que somos acomodados, vítimas de pneumonia e queimaduras do sol. Hoje foi o dia de nos informarem acerca da alimentação. Temos direito a uma ração diária de uma libra e meia de biscoito e um pote de água, a uma arroba de carne salgada por mês e alguns peixes secos, cebolas e manteiga. Bom, pelo menos na minha nau o alimento é distribuído igualmente a todos, independentemente da idade e do género. Apenas não temos direito à ração diária de “um pote de vinho” que cabe aos marinheiros. Sei que sou criança e não deveria beber bebidas alcoólicas, mas sempre dava para matar a sede quando faltasse a água. Espero não apanhar escorbuto, aquela doença que começa por atacar as gengivas por falta de vitamina C, que se encontra nos legumes e frutos frescos. Se isso acontecer, vou parar às mãos do barbeiro (cirurgião), que irá provocarme uma sangria (hemorragia). Sabem, eu não percebo nada de medicina, mas pelo que tenho visto, ou se morre da doença ou do sangramento! Já estamos no fim da semana e ainda não consegui pescar nada, para melhorar a refeição. Aqueles sacanas não me dão uma folga para poder lançar o anzol ao mar. Se a situação não melhorar, tenho de ver se consigo caçar uma ratazana ou algumas baratas! Espero que tenhas gostado deste relato da vida a bordo de um grumete. E a tua vida, menino do Grumete (Gravura 2) século XXI, é melhor do que a minha?

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

3


Grumete Leonor Oliveira | Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºD Dia: 28/05 | Hora: 6:00h Localização/condições: uma milha da costa africana; vento fraco NW. Olá! Eu sou o Sebastião e neste diário de bordo ficarão a saber o que me aconteceu durante uma viagem entre Portugal e o Brasil. Não sou mais do que um simples grumete, mas um dia irei tornar-me num grande marinheiro! Parti há uma semana de Lisboa e no caminho aconteceram muitas aventuras! Hoje, por exemplo, um dos marinheiros deixou-me o encargo de içar as velas e, como sou um bom aprendiz, fui de imediato fazer o que ele me pediu. Mas houve um pequeno problema… uma rajada de vento forte atirou-me contra elas e estas rasgaram-se. Apanhei um grande susto, mas acabou tudo bem. Claro que o capitão ficou preocupado comigo e aborrecido com a situação, que nos obrigou a fazer um desvio à costa africana para reparar as velas, atrasando a nossa viagem. Devem estar a pensar porque é que não as reparámos no caminho, mas eu já irei explicar. É que na véspera estava eu a descansar, depois de um longo dia de trabalho, e decidi que podia deitar-me em cima das velas. Só que fui apanhado pelo capitão, que me obrigou a ir limpar a cozinha de castigo. Fiquei chateado e, para me vingar, atirei as velas suplentes para o mar. Como devem ter percebido eu sou um simples grumete, embora um pouco traquina e isso pode tornar-se complicado. Mas eu vou tentar melhorar o meu feitio! Agora tenho de ir. O cirurgião-barbeiro está a chamar-me, vou cortar estas guedelhas que já Grumete (Gravura 3) estão muito grandes. Amanhã devemos voltar ao mar e espero bem que nos próximos tempos não haja mais complicações. Até à vista, marujos!

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

4


Marinheiro Martim Miguel | Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºC Eu, marinheiro Martim, a 9 de março de 1500 saí de Portugal com destino à Índia. Atravessando temporais, a 22 de abril de 1500, depois de 44 dias no mar, cheguei ao Brasil com o comandante Pedro Alvares Cabral e o resto da tripulação. Depois desta descoberta, retornámos ao alto-mar e eu continuei a trabalhar muito, a vigiar as condições do mar, a içar as velas quando havia vento, a lançar as âncoras em cada sitio que desembarcávamos, para podermos demorar alguns dias. As tempestades, que eram muito perigosas, partiam os mastros! Chegámos a ter os nossos catres inundados! Nem queiram saber a carga de trabalhos que foi reparar as velas e o barco. Nos confrontos com os piratas e outras embarcações, tivemos que proteger a nossa vida e os nossos alimentos, pois eles queriam roubar o que mais nos fazia falta. Foi grande o sofrimento, mas os longos meses de viagem valeram a pena, pois eu, marinheiro Martim, servi Portugal e, acima de tudo, participei no achamento do Brasil. Muito me Manutenção da coberta de um barco (Gravura 4) orgulha ficar na História por tal descoberta!

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

5


Marinheiro Duarte Marques | Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºE Bom dia amigos, Esta é a minha primeira viagem como marinheiro de uma nau de mercadorias. O nosso rumo é a Índia, pela rota das especiarias. O nosso capitão diz que é chegar, carregar e voltar... Mas os meus colegas marinheiros, que já cá andam há mais tempo do que eu, disseram-me que o mais difícil é passar o Cabo Bojador, porque muitos como nós perderam lá as suas vidas. Para terem ideia do perigo, digo-vos que, logo pela manhã, estava um dia calmo, o céu estava azul, o mar tranquilo e o sol quente. Navegávamos normalmente e eu ainda estava a descobrir como eram as coisas, quando, de repente, apareceram umas grandes nuvens negras, que cada vez estavam mais próximas de nós. O capitão gritou a dizer que se aproximava uma tempestade. De súbito, o navio começou a meter água, o mastro principal partiu-se e nós, cheios de medo, começámos a pedir a ajuda de todos os santinhos. Nessa hora, só pensava na minha família que tinha ficado em terra. Marinheiros a remover água do porão (Gravura 5) Mas Deus ouviu o nosso desespero e a tempestade começou a acalmar, até que parou e nós ficámos mais aliviados. Este dia fez-me pensar que a vida de marinheiro não é fácil e esta ainda é só a minha primeira viagem. E pensar que quase morri! Está na hora de descansar este corpo cansado e amanhã haverá mais histórias. Até logo!

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

6


Marinheiro Eduardo Vieira | Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºA Eu estava, como marinheiro, na maior caravela portuguesa quando começou uma tempestade. Chovia torrencialmente e eu corri para dentro, para avisar o capitão que estávamos a chegar a Portugal. Chegados a terra, começámos a descarregar as mercadorias que tínhamos trazido. Entre elas, descarregámos louça, tecidos, especiarias, marfim, … Por fim, o capitão mandou-me chamar e promoveu-me a “Mestre”. Passado algum tempo… Chegou o dia de nos fazermos ao mar para mais uma viagem. Íamos nós a navegar havia umas boas horas, quando o capitão me chamou e disse que eu tinha de comandar a caravela, porque ele precisava de descansar. Já no comando, vi um remoinho e desviei a embarcação, mas a manobra não foi a tempo e encalhámos num banco de areia. Desci do barco e, com a ajuda dos marinheiros, fizemos um buraco no chão, de forma a conseguimos libertá-la. Entrámos novamente na caravela e seguimos viagem. Dias mais tarde, chegámos ao nosso destino. Decidimos, então, ir a terra explorar. Durante essa madrugada, o capitão desapareceu sem deixar rasto e nunca mais ninguém o encontrou. Como tínhamos que voltar a Portugal, fiquei eu a comandar a caravela na viagem de regresso. Desde esse dia sou eu o seu Capitão! Na embarcação de Fernão de Magalhães (Gravura 6)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

7


Despenseiro Lucas Domingues | Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºD Sou o despenseiro e há uns dias eu e a tripulação desta nau saímos numa viagem, em busca do caminho marítimo para a Índia. O meu trabalho como despenseiro não é muito difícil, mas é muito cansativo, porque tenho que levar os mantimentos de tripulante em tripulante e ver se estes ainda não os acabaram. Quando saímos de Lisboa, tive que ver se havia mantimentos suficientes para toda a tripulação. Fomos sempre para sul, mas tivemos que parar na costa de África para ir buscar mais mantimentos e assegurarmo-nos que tínhamos suficientes para o resto da viagem. Continuámos para sul e tentámos contornar o Cabo das Tormentas, só que havia muita turbulência e muita da comida que tínhamos trazido caiu borda fora. Passámos o Cabo com muito perigo e, graças a Deus, ainda ficámos com mantimentos suficientes. Finalmente, depois de muito tempo, chegamos à Índia! Quase já não tínhamos alimentos, por isso, eu e outras pessoas da tripulação, fomos a terra buscar o que havia por lá. Eram todos produtos exóticos e eu nem sabia quais faziam bem e quais faziam mal! Depois de termos ido buscar todos os mantimentos necessários, voltamos para o barco para fazer a viagem de volta a Portugal. O capitão decidiu que, quando passássemos pelo Cabo da Boa Esperança, o íamos fazer muito ao largo, para não voltarmos a Despensa de uma nau (Gravura 7) perder o nosso sustento.

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

8


Cozinheira M.ª Eduarda Oliveira |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºC Eu vou contar a minha história. Alerta! Ouvidos bem abertos, porque é uma história com cheirinho a comida. Foi há muito tempo que tudo aconteceu. Eu era cozinheira e trabalhava para o Capitão Óscar e para os nobres, num navio muito especial, onde o meu avô foi cozinheiro durante muitos anos. Numa das muitas viagens, conheci um senhor bem velhinho e simpático que tinha a missão de salvar quem passava dificuldades. Tinha um coração muito bondoso, nunca conheci ninguém assim! Ele sentiu que estava cada vez mais fraco, as forças dele sumiam dia após dia, e, depois do jantar, como todas as noites, pediu para ver a cozinheira... - “Menina cozinheira” – disse, “quem faz uma comida assim tem de ter bom coração, por esse motivo passarei para ti a minha missão. Quando em terra chegar, muitas vidas irás salvar. Fui o primeiro capitão neste barco, mas agora ando cansado, sei que em ti posso confiar”. Eu adoro cozinhar, sempre fui com a minha mãe para a cozinha e ela costumava dizer-me que os cozinhados eram formas de amor. Por isso, navegar em alto-mar e fazer comida é o melhor da minha vida! Sempre que eu estiver em terra vou continuar o trabalho do nosso capitão e sempre que puder participarei em mais uma expedição. Juntos somos mais fortes e melhores! A preparar peixe (Gravura 8)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

9


Cozinheira Matilde Bronze |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºD (Capitão) – Cozinheiro, o que é para o almoço? Estou cheio de fome! (Cozinheiro) - Vou já começar a fazer, vai ser peixe fresco! – Ai, meu capitão, o peixe acabou! O que fazemos? (Capitão) - Sendo assim, vou mandar alguém pescar! Neste mar, peixe é que não há de faltar... Despenseiro, anda cá! Hoje vais ter um trabalho um pouco diferente, vais pescar um belo peixe para o almoço! (Despenseiro) -Sim meu capitão, é já! Meu capitão aqui tem! Agora, vou levá-lo ao cozinheiro, vai dar um belo petisco... Aqui tem, cozinheiro! (Cozinheiro) - Oh, muito obrigado! Vai dar um rico almoço. Diz ao meu capitão que estará pronto em meia hora. (Despenseiro) Meu capitão o almoço estará pronto em meia hora. (Capitão) - Ah, muito bem! Vou já para a sala de jantar, estou cheio de fome, mal posso esperar... (Cozinheiro) Aqui tem meu capitão, bom apetite! (Capitão) - Mas Alimentos a bordo (Gravura 9) que peixe maravilhoso, cozinheiro...consegues sempre surpreender-me!

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

10


Carpinteiro Martim Maranhão |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºE E lá estávamos nós a caminho da Índia, quando de repente batemos num rochedo do Cabo Bojador. Pronto, estava instalado o caos numa das caravelas portuguesas, porque a rocha fez um buraco enorme na parte de baixo do barco. Com muita sorte, consegui reparar o buraco rapidamente. Passado um dos infernos, agora só o Cabo das Tormentas nos podia parar. Estávamos todos com fome e com sede, quando avistámos terra. Não era a Índia, porque ainda não tínhamos passado o Cabo das Tormentas, por isso decidimos não parar e só explorar essas terras numa expedição futura. E mais à frente, lá estava o grande Cabo das Tormentas, ainda mais destruidor do que do Cabo Bojador. O homem do leme fez uma manobra arriscada e, por um fio, não batemos em cheio numa rocha. Tínhamos passado o Cabo das Tormentas e agora o caminho estava livre para a Índia.

Carpinteiros (Gravura 10)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

11


Homem da Ampulheta |Registo de M.ª Rita Petronilho Embarcação 5.ºA Diário de Manuel Eanes, 20 de outubro de 1510 6 horas Acordei. O capitão ordenou que fosse ver a ampulheta: já eram 6 horas. Estávamos em alto mar e queríamos descobrir uma terra porque precisávamos de abastecer a embarcação. Estava a acabar a água e a farinha de trigo. 9 horas Passaram 3 horas e continuámos rodeados de mar. Não se via mais nada. Ampulheta (Gravura 11) 14 horas Avistámos um pedaço de terra. Tínhamos demorado 18 dias a chegar lá. 15 horas Desembarcámos e fomos explorar a ilha. 16 horas Naquela ilha não havia nada para nos abastecer. Era muito pequena e despovoada. 17 horas Desistimos de explorar a ilha. Era só uma ilha, cheia de árvores. Era como uma floresta rodeada de água. 18 horas Desesperados, voltámos para a caravela e de novo navegámos à procura de uma terra habitada. Diário de Manuel Eanes, 22 de outubro de 1510 10 horas Finalmente encontrámos terra habitada! 11 horas Desembarcámos. Iremos abastecer o barco com o que precisamos para continuarmos a navegar.

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

12


Piloto Rafael Cascão |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºE Dia um Saímos do porto de Lisboa para explorar a costa africana. Bem cedo, começámos a afastar-nos da costa portuguesa e de terra. Com a ajuda da bússola, indiquei ao homem do leme um rumo sempre em direção ao sul. Entrámos em alto-mar e as correntes marítimas começaram a ficar agitadas, sendo que vou orientando a caravela pela posição solar, com o astrolábio. Ao chegar a noite, com a ajuda do quadrante e da estrela polar, farei de novo a orientação.

Quadrante (Gravura 12)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

13


Homens do Leme |Página de Diário de Bordo de

Bruno Sérgio, Rodrigo Cainé e Tiago Arneiro Embarcação 5.ºA “E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo; Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João II” Excerto de “O Mostrengo”, in Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: 1934

Os Descobrimentos revelam-se um autêntico projeto nacional. Do rei à nobreza, do clero ao povo, todos temos interesse na conquista de novas terras! Por isso cada grupo social participa e dá o seu contributo para que os Descobrimentos e a Expansão Marítima sejam um sucesso. Todos temos a ganhar! E é nesta linda caravela que vamos conquistar os mares, eu, o homem do leme, e quantos dela fazem parte. Eu, o homem do leme, governo o navio e tenho a meu encargo a roda do leme, que faz a transmissão entre a roda do leme e a máquina do leme. Subam a bordo, que vamos partir: 1415 – Conquista de Ceuta 1418/1420 – Colonização da Madeira Sob a direção do Infante D. Henrique, também chegámos ao arquipélago dos Açores. Tenho uma grande força de vontade e fé em chegar a outras paragens e sei que é esse o desejo do povo português. Assim, ao comando do leme, vou descobrir novas terras, novos povos, novas culturas… Homem do Leme (Gravura 13)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

14


Mulher do Leme Lara Alcaide |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºC 7 de maio de 1500 Acordo todos os dias cedo, mal durmo, porque durmo no chão, num espaço pequeno. Há muitos bichos por todo o lado e eu e os meus companheiros temos bastante medo que nos aconteça alguma coisa. Comemos muito pouco, porque os restos de comida estragam-se. Tenho que trabalhar todos os dias na roda do leme. Então, como não me alimento nem durmo bem, fico sem forças e o barco pode desviarse da sua rota. Como se sabe, a minha responsabilidade é grande, porque, se o barco mudar de rota, podemos perder-nos ou ir para um local onde o mar seja muito perigoso e morrer todos. A morte aqui é uma coisa diária, todos os dias morrem companheiros meus, uns por doenças, outros pela falta de higiene ou pela pobreza da alimentação. Estou ansioso por chegar a terra, para descobrir novos locais e as suas riquezas, e assim poder ter uma vida melhor! Vou agora tentar descansar um pouco, pois amanhã é outro dia de luta! Navegar no tempo das descobertas (Gravura 14)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

15


Homem do Leme Afonso Lima |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºE Ao dia 26 de janeiro de 1553 Nesta armada, no meio das águas turbulentas do Atlântico, os ventos sopram de norte e de este sem nos dar tréguas. Foi no início da manhã, ainda o sol não tinha nascido, quando avistámos um navio e a "toda a vela" fomos ao seu encontro. O capitão mandou três embarcações pela esquerda e três pela direita. Erguemos as velas e em breve alcançámos uma embarcação muçulmana, enquanto eu rodava o leme para a esquerda e para a direita, desviando-nos das bolas de canhão, gritando ferozmente: - El-rei João III sairá vitorioso!... No fim, a embarcação inimiga naufragou e houve festa rija aqui no convés. Depois, continuámos caminho, seguindo a linha do horizonte, aproveitando as marés, ondas e ventos, rumo ao desconhecido...

Caravela (Gravura 15)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

16


Escrivão Dinis Morais |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºE Lisboa, 5 de junho do ano 1503 Com a bênção do Rei D. Manuel I, partimos para terras longínquas, através da Rota do Cabo, em busca dos ricos e cobiçados produtos. Nos porões levamos os produtos alimentares e água necessários para a viagem, mas faremos um reforço quando chegarmos à Madeira. Levamos também a nossa melhor moeda de troca... tecidos coloridos, sal do nosso mar, o trigo das nossas terras e as melhores peças de adorno... na esperança de as podermos trocar pelas riquezas longínquas. Na vinda poderemos trazer ouro, marfim, malagueta, as tão cobiçadas especiarias como: cravo-daíndia, nozmoscada, canela, caril, pimentado-reino, anis e açafrão. Podemos trazer também Escrivão e Capitão de Nau Quinhentista (Gravura 16) uns quantos escravos. Quando regressarmos, vamos poder guardar os produtos na Casa da Guiné e da Mina, onde vão ser inventariados, pesados, avaliados e negociados com mercadores estrangeiros, podendo assim D. Manuel I usufruir dos seus lucros.

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

17


Capitã Ema Ribeiro |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºB Eu, capitã Ema Ribeiro, ao serviço de Vasco da Gama, participei na descoberta do caminho marítimo para a Índia! Foi há exatamente três meses e estamos agora na viagem de retorno a Portugal. Talvez seja esta a minha última escrita, visto que a tempestade que atravessamos já dura Viagem de Vasco da Gama (Gravura 17) cinco dias. Ondas monstruosas batem contra as nossas caravelas, a dobrar a madeira. Já engoliram três dos nossos marinheiros! Toda a tripulação reza! O fim parece estar próximo e talvez ninguém fique a saber o que vimos! Mas, hoje, eu ainda quero registrar tudo neste diário de bordo. Talvez consigamos sobreviver, talvez a morte nos leve… A 8 de julho de 1497 partimos para a descoberta de um caminho marítimo até à Índia. Não nos rastos de Colombo, mas, sim, nos próprios. Quatro navios e tripulações cheias de esperança, tensão e, quem sabe, de medo diante de um mundo novo. Eu, Ema Ribeiro, ia embarcada no São Rafael, o bom Gonçalo Álvares tinha o comando desse navio. A aventura começou pouco depois de contornarmos o Cabo da Boa Esperança. Além desse ponto, nenhum outro navegador português tinha viajado.

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

18


Fizemos paragens em portos estranhos: Mombaça, Moçambique,... No entanto, agora temos a promessa de que, caso um dia voltemos a Calecute, se sobrevivermos a esta viagem de retorno à pátria, receberemos condimentos e sedas em troca de pérolas, prata e ouro. Oh, Deus, permite-nos sobreviver a essa intempérie, a essa tempestade bárbara e a esta doença! E agora estamos no caminho de volta. Estamos bem carregados, mas o sacrifício foi grande. Toda a tripulação do São Rafael foi arrasada por uma infeção. Tivemos de queimar o navio. Será que conseguiremos mais uma vez retornar ao nosso amado Portugal? Talvez? Se não, um outro navegador corajoso do meu povo terá de tentar nova viagem, porque Portugal precisa da ligação marítima com a Índia. Talvez eu morra nessa viagem, mas talvez logo, logo, chegue a Lisboa. Pelos meus cálculos, ainda teremos muitos meses de viagem, caso não naufraguemos! Sei que, caso retornemos a Lisboa, seremos heróis. Seremos recebidos com uma grande festa e serei condecorada pelo Rei D. Manuel. Será um sonho que se tornou realidade. Portugal descobriu o caminho para a Índia! Em breve, teremos comércio com todas as nações, transformaremos os países em nossas colónias e nos tornaremos mais ricos do que a Espanha, Inglaterra e França. E dir-se-á que tudo começou a 8 de julho de 1497: a viagem de descoberta de Ema Ribeiro nos mares, ao lado de Vasco da Gama. Vasco da Gama (Gravura 18)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

19


Capitã Ana Beatriz de Jesus |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºE Hoje foi um dia muito difícil. Nesta longa viagem enfrentámos mais uma tempestade. Felizmente não registámos perdas. Valeu-me a minha experiência, a força e a coragem dos meus homens. Ontem, quando passávamos junto à costa africana, avistámos nuvens cinzentas e um vento muito quente e húmido. O mestre João adivinhou-me os pensamentos e começou a preparar a caravela para o que viesse. Decidimos aproximar-nos da costa e recolher as velas, de modo a estabilizar o barco e fugir da tormenta. Mas tal como receávamos, abateu-se sobre nós um violento temporal. O mar ficou muito agitado e começou a chover torrencialmente. A caravela não parava de balançar dum lado para o outro. Foi uma noite terrível! Por Deus, ultrapassámos mais um obstáculo nesta difícil viagem que já dura há meses.

Mar revolto (Gravura 19)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

20


Capitão João Santos |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºC No dia 1 de agosto de 1554, eu e a minha tripulação embarcámos rumo ao desconhecido. No primeiro dia de viagem, o mar estava sereno e tudo estava bem. Já no segundo dia, fui acordado pelo grito de um marinheiro que estava assustado, pois tinha avistado outro barco. Eu, como capitão, fui verificar. Estiquei o meu monóculo e vi um navio pirata. De imediato avisei a minha tripulação. Todos ficaram com medo, pois não sabiam o que fazer! No meio daquela confusão, eu mandei um grito ao mestre, pois ele devia ter preparado a tripulação para todas as circunstâncias. Enquanto eu gritava com o mestre, os piratas começaram a invadir a nossa caravela. Nós tentámos impedi-los, mas não deu em nada. Os piratas levaram todos os nossos mantimentos!

Batalha naval no século XVI (Gravura 20)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

21


A tripulação, desesperada com a falta de alimentos, pensou que ia morrer. No terceiro dia, já ninguém tinha forças para continuar a viagem, mas eu, como capitão, tentei motivá-los a não desistir. Depois de uma longa conversa com todos, decidimos continuar. Dias depois, a fome já não dava para aguentar, até eu estava prestes a resignar-me! Foi quando o piloto gritou "Terra à vista"! Fiquei cheio de esperança e cheguei-me à amurada, enquanto a minha tripulação saltava para os botes, pronta para ir a terra. Na ilha, depois de muito procurarmos, encontrámos comida, mas não deu tempo para comemorar, pois uma tempestade aproximava-se e nós tínhamos que nos abrigar. Depois da tempestade passar, verifiquei que faltava alguém – um grumete. Nós procurámos, procurámos, e a determinada altura ouvimos uma voz longínqua que dizia "Estou aqui, estou aqui"! Era o aprendiz de marinheiro, que se tinha perdido numa caverna, não numa caverna qualquer, mas sim, uma, cheia de ouro! A partir daí, os meus homens chamaram àquela terra de Esperança, porque até nos piores momentos, há algo de bom que nos alegra. E assim termina o relato de hoje, como capitão na "Nau da Salvação".

A ilha do tesouro (Gravura 21)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

22


Capitão Dinis Capela Miguelo |Página de Diário de Bordo Embarcação 5.ºB 23 de setembro do Ano 1584 Tivemos uma noite muito agitada, uma tempestade vinda do norte provocou estragos consideráveis na nossa embarcação. Perdemos quatro homens no mar, assim como muitas provisões, teremos que atingir terra brevemente, senão a nossa expedição ficará comprometida. Pela madrugada, a tempestade acalmou e dei imediatamente ordens à tripulação para começarem os reparos e reagruparem o mais rapidamente possível os mantimentos e a água doce. Continuamos a navegar para sul pela costa de África, com ventos contrários. Mandei levantar as velas para iniciarmos a navegação em bolina, mas a corrente está extremamente forte. Peço a Deus que nos ajude a chegar a terra em breve, para nos equiparmos devidamente e podermos prosseguir o nosso destino até à India. Capitão a observar um mapa (Gravura 22)

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

23


Índice das Gravuras 1.

Peter Jackson. Ferdinand Magellan. The Illustration Art Gallery. Disponível em https://bookpalace.com/acatalog/info-JacksonMagellanLL.html

2.

Seaman, time of George I. The New York Public Library. Gravura disponível em https://www.pinterest.pt/pin/628322585499806210/

3.

Seaman, time of Charles II. The New York Public Library. Gravura disponível em https://digitalcollections.nypl.org/items/510d47de-5c99-a3d9-e040-e00a18064a99

4.

Peter Dennis. Manutenção da coberta de um barco, 1600-1700. Q-Files. The Online Library of Knowledge. Disponível em https://www.pinterest.pt/pin/382031980896016567/

5.

Marinheiros a remover água do porão. Gravura disponível em https://static.greatbigcanvas.com/images/singlecanvas_thick_none/getty-images/illustration-of-sailorspumping-and-bailing-water-out-of-15th-or-16th-century-ship,1044338.jpg?max=540

6.

Milton Lomask. Ship’s boy with Magellan (Capa). Garden City, N.Y., Doubleday [1960. Disponível em https://www.pinterest.pt/pin/550002173225318665/]

7.

Despensa de uma nau. Modelo em 3D. Disponível em https://static.turbosquid.com/Preview/2015/02/05__10_11_37/Pirate.jpg1021888f-786c-4989-921385017e4bba83Original.jpg

8.

Pehr Hilleström. A Woman Cleaning Fish. 1775. Disponível em http://www.earlymodernengland.com/2015/03/4997/

9.

A vida a bordo de um galeão. Q-Files.The Online Library of Knowledge. Disponível em https://www.pinterest.es/pin/461689399293486624/

10.

Carpinteiros. Q-Files.The Online Library of Knowledge. Disponível em https://www.qfiles.com/history/pirates-galleons/building-a-galleon/

11.

Ampulheta. Modelo de madeira, vidro e areia. Disponível em https://produto.mercadolivre.com.br/MLB875437910-ampulheta-de-madeira-vidro-areia-relogio-3-cores-de-areia-_JM

12.

Quadrante. Disponível em https://rayviolet2.blogspot.com/2015/04/o-descobrimento-do-brasil.html

13.

Anabela Faia. Homem do Leme. Disponível em http://anabelafaia.blogspot.com/2010/06/o-homem-doleme.html

14.

Vítor Péon. História das Descobertas. Capa da caderneta de cromos. Disponível em http://bddesempre.blogspot.com/2009/10/autores-vitor-peon-6.html

15.

Caravela. Domínio Livre. Disponível em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/de/Caravella_2_edit.jpg

16.

Tripulação de Nau Quinhentista. Fotografia disponível em http://luadmarfim.blogspot.com/2008/06/nauquinhentista-tripulao-ii.html

17.

Viagem de Vasco da Gama. HGP em Ação (manual). Porto: Porto Editora, 2019.

18.

Anthony Preston. Vasco da Gama. Bion Books: Printed in South Africa. Domínio Livre. Disponível em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8d/Vasco_da_Gama_-_1838.png

19.

Seascape painting. Disponível em https://yakimenkopaint.wixsite.com/seascapes

20.

Naval Battle of Harlem, 1573. La Pintura y la Guerra. Disponível em https://www.militar.org.ua/foro/viewtopic.php?p=7295088#p7295088

21.

Assassin’s Creed Wallpaper. Disponível em https://wallup.net/boat-island-cave-landscape-assassins-creed/

22.

Map. Minnhagen Illustration. Disponível em https://minnhagen.com

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

24


Notas finais No âmbito das comemorações do 5.º Centenário da Viagem de Circum-Navegação, comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães, a Rede de Bibliotecas Escolares lançou a iniciativa “Navegar com a BE”, que foi selecionada pelo grupo de História e Geografia de Portugal do Agrupamento de Escolas de Mira como tema de trabalho no ano letivo 2019/2020. Nesse contexto, e cumprindo a proposta “Viajar para conhecer” (que preconiza um projeto coletivo de escrita digital), os alunos de 5.ºano tomaram contacto com as funções desempenhadas pela tripulação dos navios quinhentistas e foram convidados a escrever uma página do diário de um tripulante à sua escolha.

Operacionalização do projeto Este projeto de História e Geografia de Portugal foi realizado em E@D, no espaço do #EstudoEmCasa. Após o envio dos textos, foi feita uma seleção por turma, com base na sua diversidade e representatividade, os quais se apresentam agora em e-book.

Participação Turmas de 5.ºano da EB de Mira

Supervisão pedagógica Professoras Amélia Morgado, Filomena Cunha e Rosário Figueiredo

Edição Biblioteca Escolar (Pb Rosário Figueiredo)

Mira, julho de 2020

Comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães

25


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.