Uma Viagem pelo Nilo
Márcia Jamille
Uma Viagem pelo Nilo
1ª Edição
Organização: Site Arqueologia Egípcia 2013
Copyright © Márcia Jamille 2014 Foto da capa: Nic McPhee | Capa: Márcia Jamille Revisão: Nadiajda Ferreira
Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela autora C837u Costa, Márcia Jamille Nascimento, 1987Uma Viagem pelo Nilo / Márcia Jamille Nascimento Costa. – Aracaju: Site Arqueologia Egípcia, 2013.
ISBN (E-Book): 978-85-916787-0-9 1. Antigo Egito. 2. Arqueologia Egípcia. 3. Egiptologia 4. Sítios Arqueológicos - Estudo do passado. I Título. CDD: 932.01 CDU: 902.94(32)
Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização escrita da autora. Atendimento e venda direta ao leitor: contato@arqueologiaegipcia.com.br
Sobre a autora: Nascida em 1987, começou a se interessar por Arqueologia por influência dos pais, mas foi somente depois dos 13 anos que decidiu que um dia se tornaria uma arqueóloga egiptóloga, começando, desde então, a se dedicar à leitura de bibliografias sobre o assunto. Ingressou em 2007 no recém-criado curso de Arqueologia da UFS e um ano depois deu início ao site Arqueologia Egípcia. Em 2010 se formou com a monografia “Egito Submerso: A Arqueologia Marítima Egípcia” e em 2013 adquiriu o título de Mestra na mesma área e universidade com a dissertação “Arqueologia de Ambientes Aquáticos no Egito: Uma Proposta de Pesquisa das Sociedades dos Oásis do Período Faraônico”.
Sumário CAPÍTULO 1: KEMET VERSUS DESHERET....................... 17 1.0: Quem foi responsável pela unificação do Baixo e Alto Egito? .......................................................................... 21 CAPÍTULO 2: UMA MISCELÂNEA DE DEUSES .................. 34 1.0: Decadência da religião faraônica: ............................. 64 CAPÍTULO 3: NECRÓPOLES PARA ANIMAIS ..................... 68 1.0 - Um espaço especial ................................................... 71 2.0 - Bubastis: a antiga capital dos gatos ......................... 71 3.0 - Sobre leão achado no Egito em 2001 ..................... 74 4 .0 - Anúbis, o senhor das necrópoles ........................... 76 CAPÍTULO 4: A ANÁLISE DOS TALATATS DE AKHENATON ......................................................................... 83 CAPÍTULO 5: UMA LIGAÇÃO ESPECIAL COM A ÁGUA ... 95 CAPITULO 6: UMA EGIPTOLOGIA PARA TODOS .......... 103 CAPÍTULO 7: UM DIA TRÁGICO NÃO SÓ PARA A EGIPTOLOGIA…................................................................. 119
Lista de Imagens:
Figura 1: Serek de Khasekhemwy protegido por Hórus e Seth .......................................................................................... 23 Figura 2: Coroas do Alto e Baixo Egito ............................. 32 Figura 3: Deus Hórus (esquerda) e Toth (direita) purificando o faraó Amenhotep III com o emblema da vida (Ankh) ............................................................................. 41 Figura 4: Deus Anúbis e o Ba do falecido dotando a múmia dentro o ataúde com vida ..................................................... 79 Figura 5: Planta do hipostilo e negativo do templo de Akhenaton. ............................................................................. 92 Figura 6: A rainha Nefertiti e o faraó Akhenaton com duas de suas filhas orando para Aton. ......................................... 93
Lista de mapas: Mapa 1: Kemet e Desherit .................................................... 20 Mapa 2: Divisão do território egípcio entre Baixo e Alto Egito ........................................................................................ 25 Lista de quadros: Quadro 1: Centros religiosos e os deuses da criação ........ 38 Quadro 2: O que constitui um Talatat................................. 86
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INTRODUÇÃO
Acompanhando, embora um pouco tardiamente, o nascimento da Arqueologia Egípcia, a Egiptologia começou no século XVIII como um estudo humanístico do passado, o que rendeu um profundo interesse pelas pesquisas filológicas e as descrições advindas da História da Arte, ambas patrocinadas por práticas da Arqueologia colecionista, hoje corretamente rechaçada devido ao seu teor predatório e pouco científico. É possível afirmar que a Egiptologia esteve, como ainda está, enfrentando tanto um problema metodológico como moral. Se for levado em consideração que grande parte dos objetos dos quais temos conhecimento foram coletados em necrópoles de pessoas que tinham condições financeiras para arcar com os custos da construção de seu sepulcro ou a realização da mumificação e que temos acesso à catálogos de descrições de templos e mausoléus, arquiteturas provenientes da elite, onde é que estão inclusas aí as pessoas comuns, cujos hábitos não foram devidamente estudados? Neste contexto, dentre tantos catálogos, exposições e descrições de artefatos, estava como um assunto de segunda ordem os debates acerca do desenvolvimento 11
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político e as práticas sociais, inclusive o lado “humano” dos viventes das margens do Nilo e dos oásis. Como consequência, sabemos mais acerca da história da realeza e da alta nobreza do que sobre as pessoas comuns. A despeito do seu antigo papel imperialista, a Arqueologia atualmente destaca-se por tratar da cultura material e imaterial, dois produtos sumariamente humanos, mas que, ao contrário da cultura material escrita, podem ser reproduzidas por qualquer indivíduo, independente da sua classe social ou credo, o que torna a Arqueologia um instrumento de entendimento daqueles outrora tomados como subalternos, os “invisíveis” da historiografia. É importante ter em mente que a Egiptologia é uma ciência sumariamente europeia e desta forma seus métodos de pesquisa e teorias em parte foram encabeçadas pelas mentes que se valiam da visão de mundo “orientalista” para justificar seu domínio sobre o Egito Otomano, adotando assim seus pontos de vista morais para a pesquisa. Isso resultou nas mutilações de papiros de teor sexual, na exclusão das mulheres da história egípcia, na busca por um passado europeu nesta área da África e na própria postura imperialista de tomar para si uma parte das glórias da antiguidade. Nunca desde a publicação do Description de l’Égypte e do anúncio da descoberta da tumba do faraó Tutankhamon, a 12
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Arqueologia Egípcia foi tão popular. Atualmente com as numerosas publicações da área e materiais audiovisuais, esta ciência, quando voltada para a divulgação para o público comum, tornou-se um comércio rentável, mas que tem beneficiado mais as editoras e produtoras de documentários do que aos egiptólogos em si. Todos os anos muitos pesquisadores das diversas áreas se põem em uma batalha para conseguir fundos para as suas pesquisas ou missões arqueológicas, especialmente quando visam ao excedente para pagar os seus próprios e merecidos salários. Obviamente, na época em que me interessei por me formar em Arqueologia para depois me especializar em Antiguidade Egípcia nada disso tinha se passado por minha cabeça. Eu, assim como muitos outros, era só mais uma criança ingênua que nada sabia sobre a vida, muito menos sobre o tradicional e relativamente fechado mundo da Egiptologia. O primeiro choque viria anos depois, quando entrei na Universidade e notei que muitos se ocupavam mais em tentar me convencer a não seguir em frente com o estudo da antiguidade egípcia, do que me apoiar. O segundo choque viria logo depois, quando me vi formada e sem nada de construtivo na minha vida acadêmica e que não importava quantas horas eu passasse lendo sobre o Egito Antigo ou quanto eu soubesse, não seria a minha força de vontade que me levaria a um dia trabalhar em uma 13
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escavação: eu dependeria de muitos outros fatores, alguns deles de nível burocrático (acadêmico e político). Em horas como estas não é incomum se duvidar da sua própria capacidade e começar a ir atrás de uma perfeição que não existe, momento este em que Egiptólogos (ou aspirantes) têm crises de ansiedade ou noites mal dormidas. Em todas as áreas do mundo acadêmico, muitos estudantes passam por seus conflitos pessoais, mas com a Egiptologia todos em algum momento sentem o cerco se fechar em suas costas: esta é uma das ciências que cria um grande funil em um contexto mundial, onde realmente são poucos os que conseguem se sustentar trabalhando exclusivamente como egiptólogos. Com estas palavras espero não desencorajar ninguém, mas mostrar que existe uma realidade por trás das lindas fotografias das pirâmides do platô de Gizê. Alcançar a felicidade e o retorno financeiro na Egiptologia não é tarefa fácil, mas também não é impossível: muitos já conseguiram chegar lá. Este livro é composto por alguns dos artigos retirados do site Arqueologia Egípcia. Todos os textos aqui pontuados como “revisado” tiveram a inclusão de novas ideias que não existiam no texto da internet ou foram mesclados para criar um só capítulo. 14
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Os textos exclusivos são aqueles nunca publicados no Arqueologia Egípcia. Espero lhes mostrar, mesmo que parcialmente, um pouco do mundo da Egiptologia e alguns dos seus objetos de estudo: os artefatos remanescentes da extinta civilização que floresceu e decaiu no Norte e Nordeste da África, mas que ainda hoje desperta a curiosidade. Para aqueles que anseiam um dia trabalhar como arqueólogos egiptólogos, espero que curtam esta tórrida e emocionante viagem que é o estudo da Arqueologia Egípcia e que vocês venham a engrandecer esta ciência no âmbito nacional. Sem mais delongas, desejo-lhes uma boa leitura!
A Autora.
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