Permacultura na Prática da Arquitetura

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SUMÁRiO

1. PERMACULTURA NA ARQUITETURA

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2. ÁREA DE ESTUDO

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3. PARTIDO

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4. SISTEMAS E PRINCÍPIOS

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5. CONCLUSÃO

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6. REFERÊNCIAS

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1. PERMACULTURA NA ARQUiTETURA Conforme apresentado no livreto “Modos de desaprender a Arquitetura”, a permacultura, conhecida como cultura permanente, busca desenvolver um sistema sintrópico, onde nada se perde, nada vira lixo. A permacultura enxerga o resíduo como um elemento dentro de um sistema, que precisa ser rearranjado para obter rendimento. Esse sistema, baseia-se na análise dos recursos de modo a alcançar um equilíbrio, para que o que seja realizado seja pertinente com o contexto. Desse modo, a permacultura trabalha com a natureza e não contra ela, valoriza a autonomia, o trabalho em comunidade e os recursos locais. Considerando a forma como a arquitetura vem sendo realizada, pensar a permacultura na arquitetura é uma das alternativas para uma prática arquitetônica consciente em relação ao meio socioambiental.

A permacultura apresenta três éticas e doze princípios de planejamento. São eles:

Fonte: Rede NEPerma (Núcleo de Estudos em Permacultura)

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Os doze princípios da permacultura podem ser aplicados à arquitetura de diversas maneiras, desde o processo de concepção de um projeto até intervenções em regiões já planejadas, utilizando de princípios específicos. O Núcleo de Estudos em Permacultura da Universidade Federal de Santa Catarina7 se dedica a entender as diferentes áreas que a permacultura atua, incluindo a arquitetura. Nesse sentido, nos baseamos nas análises do grupo sobre essa relação e definição de cada princípio para a realização do Estudo Preliminar.

2. ÁREA DE ESTUDO A fim de demonstrar o funcionamento de alguns pontos discutidos sobre a Permacultura na prática, escolhemos a Escola de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Por se tratar de um espaço em que somos usuários e por esse motivo conhecendo o lugar e as formas de uso majoritárias, acreditamos, diante do contexto da pandemia, que seria o local ideal para propor e analisar ideias de cunho permacultural. Fundada em agosto de 1930, a Escola de Arquitetura4 foi a primeira da América do Sul a desvincular o curso das Escolas Politécnicas de Belas Artes. Porém, por não possuir uma sede própria, passou por vários locais, até que, por auxílio de Juscelino Kubitschek nos anos 40, estabeleceu-se no bairro Funcionários (região centro-sul de Belo Horizonte), onde antes se localizava o Mercado Municipal. O prédio, de arquitetura modernista, foi federalizado nos anos 40, juntando-se à UFMG e projetado pelos próprios alunos e ex-alunos do curso, sendo tombado como Patrimônio Histórico Municipal.

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O local onde está a Escola de Arquitetura é considerada Zona Sul de Belo Horizonte e a sua área foi contemplada pelo Plano de Aarão Reis na época de planejamento da cidade. Ela possui 12000 m², 4 andares e conta com laboratórios, biblioteca e oficinas. Para poder tratar de forma mais detalhada e completa, escolhemos um setor da faculdade, onde se localiza o pátio interno (1), o espaço previsto para a cantina (2), que se encontra atualmente inutilizada, e a área que dá acesso à rua Cláudio Manoel (3). Além de incluir os banheiros no primeiro andar que se encontram próximos ao setor mencionado e estão representados nas plantas presentes no capítulo 4.

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Fonte: Autoral com base no Google Maps

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Rua Cláudio Manoel

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Rua Paraíba

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Entrada

Rua Gonçalves Dias

Fonte: Autoral com base no Levantamento da UFMG

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3. PARTiDO O livreto “Modos de Desaprender a Arquitetura”, nos direciona para diversas reflexões sobre os espaços, a forma como eles são projetados de acordo com as necessidades e contextos locais, nos fazendo refletir sobre diversas questões até chegar na permacultura como uma alternativa à ordem vigente. Nesse sentido, partimos das reflexões apresentadas, da definição e dos princípios da permacultura, junto ao conceito de micropolítica do Ailton Krenak para a realização desse Estudo Preliminar. De acordo com o permacultor Nilson Dias do Instituto Pindorama6, a forma mais fácil de se inserir a permacultura no dia a dia é através da própria alimentação. Nesse sentido, é visível que a Escola de Arquitetura da UFMG apresenta diversos espaços subutilizados. Entendemos que a região escolhida para abrigar o bandejão, área hoje totalmente abandonada, considerando sua área de influência, o pátio e as áreas totalmente impermeabilizadas, seria ótima para a aplicação da relação arquitetura e permacultura. Nesse sentido, partimos de um ideal em que o bandejão seria devidamente construído e funcionaria de uma forma diferente do convencional, com base na permacultura. Para isso, torna-se necessário transformar o setor selecionado em um sistema, de modo a equilibrar as relações entre os espaços.

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4. SISTEMAS E PRINCÍPIOS Os princípios da permacultura, mencionados anteriormente, foram criados em 2002 pelo ecologista e co-criador do conceito permacultura, Holmgren. No livro “Permacultura: Princípios e Caminhos Além da Sustentabilidade”5, ele apresenta a definição dos 12 princípios de projeto que podem ser utilizados para pensar a permacultura na prática. De forma resumida, os princípios da permacultura abordados diretamente no estudo foram: OBTENHA RENDIMENTO - “você não pode trabalhar de barriga vazia” Esse princípio considera que os sistemas projetados devem garantir a sobrevivência da comunidade através da obtenção de rendimento. Incentiva a criação de espaços verdes para a produção de alimentos através de hortas, por exemplo. NÃO PRODUZA DESPERDÍCIOS - “não desperdice para que não lhe falte” Esse princípio é baseado no não desperdício de todos os recursos utilizados no sistema. Nesse sentido, estimula a produção somente do necessário. É pensar na origem e futuro dos resíduos, utilizando instrumentos para isso como as composteiras e os jardins filtrantes.

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USE SOLUÇÕES PEQUENAS E LENTAS “quanto maior pior a queda” Esse princípio é baseado no entendimento e valorização de pequenas ações como essenciais para um processo autossuficiente. Significa buscar soluções que demandem menos gasto energético, evitando decisões imediatistas incentivadas pela cultura de massa. USE E VALORIZE OS RECURSOS RENOVÁVEIS - “deixe a natureza seguir seu curso” Esse princípio é baseado na ideia de deixar a natureza seguir seu curso na maior medida possível, utilizando os materiais renováveis sem os prejudicar. O uso de energias renováveis, solar e eólica, e materiais renováveis, como o adobe e bambu, são algumas das medidas que podem ser tomadas. USE E VALORIZE A DIVERSIDADE - “não coloque seus ovos numa única cesta" Esse princípio é baseado na inserção de diferentes possibilidades de uso e apropriação dos espaços, de modo a incentivar a diversidade. É contra a cultura de massa e padronização que projeta os mesmos espaços para todos, como se todos fossem iguais.

Os sistemas pensados para área foram:

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Fonte: Autoral com base no Levantamento da UFMG

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Fonte: Autoral com base no Levantamento da UFMG

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Fonte: Autoral

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1. Horta O primeiro elemento proposto é a horta na laje, que hoje é um espaço sem permeabilidade e nenhum verde. A finalidade é fornecer ao futuro bandejão alimentos orgânicos e plantados na própria faculdade, reduzindo a emissão de poluentes tanto no transporte dos alimentos como no processo de plantação e colheita convencionais. Essas utilizam maquinários, produtos químicos, sementes alteradas geneticamente, além de serem produzidos distantes do destino final e utilizarem da monocultura (técnica que gera o esgotamento da terra). Seria disposto sobre a laje diversas caixas de madeiras produzidas pela técnica do “Wicking Bed”1 criada pelo inventor australiano Colin Austin. Essa técnica foi pensada com o intuito de gerar um mecanismo auto irrigável e assim reduzir perdas de alimentos em ambientes de água escassa. Ela se trata de uma irrigação por meio da capilaridade, propriedade físico-química da água de subir, muito comum nas árvores. O sistema funciona basicamente por um tubo de PVC ou mangueira que é furada, tornando-se a fonte de água para a plantação. A água sobe passando pelas camadas, pensadas para evitar impurezas, até alcançar as plantas. É importante ressaltar, que para colocar a horta em cima da laje, deve-se antes realizar ensaios para definir se a estrutura é capaz de sustentar o peso da própria horta e dos outros elementos como a caixa d’água destinada para a irrigação, a área de manutenção (compias, ferramentas e armários) e as pessoas que vão subir lá,

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para colher e cuidar das plantas. Recomenda-se a prova de carga, na qual é testada a capacidade suportada pela laje sem que ela seja danificada.

Fonte: Autoral com base no sistema apresentado pelo Deep Green Permaculture

2. Horta Vertical A horta vertical foi pensada para ser colocada na parede do corredor que dá acesso a Rua Cláudio Manoel (3). Ela é uma estrutura de simples execução e também utilizaria da técnica de “Wicking Bed”1 demonstrada na horta anterior, mas em menor proporção. Associando canos de pvc e braçadeiras, esse sistema pode ser expandido de acordo com a necessidade, além de apresentar fácil manutenção e se tornar, assim como a horta abordada acima, uma proposta que se contrapõe ao modelo de abastecimento alimentar atual nas cidades.

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Fonte: Autoral com princípios no sistema de “Wicking bed”

3. Composteira O terceiro elemento proposto é a composteira3. A ideia é colocar uma bateria de composteiras caseiras, para atender a demanda do bandejão. Dessa maneira, os resíduos orgânicos podem ser utilizados para formação de adubo e húmus (líquido gerado no processo que serve de nutriente para as plantações). O objetivo é retirar do ciclo do lixo, elementos que podem ter outros fins além do aterro ou lixão, e os reinserindo no processo de cultivo de plantas. O sistema funciona da seguinte forma: todos os resíduos orgânicos gerados, são colocados no segundo balde, alternando camadas de alimentos com elementos secos como serragem e galhos, até que ela esteja completa. A partir daí, começa-se o preenchimento do primeiro balde, da mesma forma. Com a ação do tempo, esses resíduos vão sendo decompostos e vão formando o chorume no balde 3, que pode ser captado pela torneira. Assim que no balde 2 todos

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os elementos tiverem se transformado em uma matéria escura, elas podem já serem retiradas e usadas como adubo. Como o sistema é feito em baldes, o usuário pode facilmente repor a matéria orgânico gerando um ciclo contínuo.

Fonte: Autoral com base no sistema apresentado pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)

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4. Cisterna A cisterna9 foi pensada para captar a água da chuva que cai na cobertura da construção, que hoje é feita de elementos impermeáveis, o que dificulta a reinserção da água ao seu ciclo natural. A finalidade da implantação da cisterna, onde fica atualmente um depósito da escola, é poder utilizar a água da chuva para atividades em que água potável não seja necessária, como na irrigação das plantas da horta, no vaso sanitário, na lavagem de máquinas e quintais, etc. Esse processo evita com que a água da chuva vá para o esgoto, sendo reutilizada de outras maneiras e com isso evitando também o uso de mais água para exercer tais atividades. O sistema funciona a partir da captação da captação da água da chuva pelos ralos e calhas, passando por 2 filtros, até chegar no reservatório. De lá a água é bombeada para a caixa d’água, separada somente para as águas de chuvas, onde serão direcionadas para o uso. É importante ressaltar que para implantar esse sistema,

Fonte: Autoral com base no sistema apresentado pelo Rosenbaum Design

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deve-se antes, fazer visitas em campo e verificação e análises do sistema hidráulico da instalação, para entender como foi projetada, seus fluxos, seu funcionamento e se é possível adicionar o elemento proposto.

5. Jardim Filtrante O jardim filtrante2 é responsável pelo tratamento das águas cinzas, ou seja, águas da cozinha, de lavatórios, que possuem resíduos de alimentos e produtos químicos de limpeza doméstica. Esse sistema apresenta baixo custo e manutenção e trata a água de forma específica, ao contrário do esgoto, que mistura a água cinza com a água negra para depois tratá-las, gerando mais gasto energético e mais uso de químicos na água que seriam desnecessários se tratados separadamente. Após a água passar pelas caixas de contenção para retirar resíduos sólidos e gordura, ela vai ao jardim de plantas aquáticas, onde termina de ser tratada. É importante avaliar o sistema hidráulico sanitário do local para confirmar se é possível a associação do jardim filtrante.

Fonte: Autoral com base no sistema apresentado pela EMBRAPA

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5. CONCLUSÃO Diante do contexto atual de pandemia, foi possível a análise e proposição de elementos permaculturais no nível de estudo preliminar. Todas as propostas feitas por nós devem ser aprofundadas com estudos de campo, verificações do sistema hidráulico-sanitário da instituição, provas de carga, dentre diversas outras variáveis para que seja de fato possível colocá-las em ação. O propósito deste estudo é demonstrar como os princípios da permacultura podem ser pensados para além da teoria e colocados em prática mesmo que em pequena escala, tornando-se uma micropolítica e se contrapondo à forma convencional que nos organizamos nas cidades e enxergamos nossa natureza. As ideias trazidas neste material possuem um potencial de transformação na maneira como vivemos e podem ser adaptadas para outros locais. Inclusive, pode ser, também, expandida para o resto da Escola de Arquitetura e Urbanismo e Design da UFMG.

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6. REFERÊNCiAS 1. Deep Green Permaculture. Wicking Bed Construction, How to Build a Self-Watering Wicking Bed. Acesso em 20 Fev 2021. Disponível em: https://deepgreenpermaculture.com/diy-instructions/wicking-bed-construction/. 2. Embrapa. Agricultura Inteligente Saneamento Básico Rural: Jardim Filtrante. 2015. Acesso em: 20 Fev. 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/1355311/13729367/jardim+filtrante+-+flyer/3d037f3e-7ff3-44ea-85b8-86682f01dafe 3. Embrapa. COMO montar uma composteira caseira. 2014. Acesso em: 20 Fev. 2021. Disponível em: https://ainfo.cnptia.emb r a p a . b r / d i g i t a l / b i t s t r e a m / i tem/136838/1/CPAF-AP-Folder-COMPOSTEIRA.pdf.. 4. Escola de Arquitetura. História da EA. Acesso em: 21 Fev. 2021. Disponível em: https://sites.arq.ufmg.br/ea/sobre-a-ea/historia/. 5. FRANCO, José Tomás. Como integrar os 12 princípios da permacultura para um projeto realmente sustentável. How to Integrate the 12 Principles of Permaculture to Design a Truly Sustainable Project. 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo). Acesso em: 20 Fev. 2021. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/793829/como-integrar-os-12-principios-da-permacultura-para-um-projeto-realmente-suste ntavel.

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7. Rede NEPerma Brasil. Sessão ao vivo: Os princípios da permacultura aplicados à arquitetura. Palestra realizada pela Profa, Soraya Nór e as arquitetas Julia Lahm e Carolina Dal Soglio. Acesso em: 23 Fev. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8UyQB8ohgqg. 8. SANTOS, Letícia; VENTURI, Marcelo. O que é a permacultura? Acesso em: 20 Fev. 2021. Disponível em: https://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/. 9. VILARINHO, Bia. Aproveita que tá chovendo. 2009. Acesso em: 20 Fev. 2021. Disponível em: https://rosenbaumdesign.wordpress.com/2009/07/31/aproveita-que-ta-chovendo/.

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