TCC arqurbuvv - Arquitetura Paisagística em Espaços Livres de Uso Público

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UNIVERSIDADE VILA VELHA – UVV ARQUITETURA E URBANISMO

MOIRA INDIRA PANTOJA EL-HAGE

ARQUITETURA PAISAGÍSTICA EM ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO: REQUALIFICAÇÃO DO PARQUE DA PRAINHA, VILA VELHA, E.S.

VILA VELHA 2018


MOIRA INDIRA PANTOJA EL-HAGE

ARQUITETURA PAISAGÍSTICA EM ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO: REQUALIFICAÇÃO DO PARQUE DA PRAINHA, VILA VELHA, E.S.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da Profª. Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra

VILA VELHA 2018


MOIRA INDIRA PANTOJA EL-HAGE

ARQUITETURA PAISAGÍSTICA EM ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO: REQUALIFICAÇÃO DO PARQUE DA PRAINHA, VILA VELHA, E.S. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da Profª. Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra Parecer da Comissão em 21 de Junho de 2018.

COMISSÃO EXAMINADORA ___

_ Prof.ª Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra Universidade Vila Velha Orientadora

_____

_____

Arq. Raquel Corrêa Mesquita Universidade Vila Velha Avaliador interno

______

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João Paulo Dominguez Carvalho Arquiteto Urbanista Avaliador externo

VILA VELHA 2018


Fonte: Fabricio Silva (2014)


AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por ter me proporcionado força, sabedoria e saúde ao longo desses anos. Agradeço aos mestres por todos os ensinamentos que me passaram, por sua dedicação, competência e por sempre estarem dispostos a nos ajudar quando for necessário. Agradeço aos amigos que fiz e que levarei para o resto da vida, bem como agradeço a todos que em algum momento me deram força, seja com algum gesto ou palavra. Agradeço à minha família por estar sempre perto me encorajando a seguir adiante e por se preocuparem comigo. Obrigada a minha querida irmã Lauren, ao meu pai, Roger Alain e a minha mãe, Moira. Um muito obrigada ao meu companheiro de todas as horas, Felipe Neves, por me tornar cada dia uma pessoa melhor, por sempre estar ao meu lado e por me ajudar a seguir em frente nos momentos mais difíceis dessa caminhada. Obrigada a todos que passaram por mim e que de alguma forma me fizeram crescer como pessoa. Muito obrigada!


Fonte: Arquivo Pessoal (2017)


“Para ser um bom arquiteto, você precisa amar as pessoas. Porque arquitetura é uma arte aplicada e lida com a moldura da vida [...]” Ralph Erskine


RESUMO Os espaços livres de uso público existem desde o início das cidades, sendo sua existência crucial para promover a relação interpessoal, dinâmica social e vitalidade urbana. Porém, com o desenvolvimento industrial a partir do século XVIII, ocorreu um adensamento populacional nos centros urbanos, e os espaços livres se tornaram escassos e desfavorecidos, situação esta que se agravou após o surgimento do automóvel, já que a infraestrutura começou a privilegiar o transporte individual, desconsiderando o pedestre do ambiente urbano. Tais problemas se refletem até os dias atuais, onde a valorização do veículo ainda se sobrepõe em relação aos transeuntes e ciclistas, o que impede a sensação de segurança e bem estar dos mesmos ao percorrer a cidade, bem como dificulta a integração social. Outra adversidade presente trata do surgimento de condomínios fechados, que são vistos como sinônimo de segurança e lazer, quando na realidade contribuem com a violência urbana e segregação social. Seguindo essas reflexões, foi feito um estudo teórico, abordado neste trabalho, de modo a garantir um bom entendimento sobre a relação dos espaços livres com a cidade e as pessoas, e a partir disso foi traçado como objetivo a requalificação do Parque da Prainha, localizado no Sítio Histórico de mesmo nome, no município de Vila Velha/ES, pois é uma área atualmente frágil e suscetível à degradação, e que possui uma importância histórico-cultural para o estado que deve ser preservada, além de potencialidades ambientais e turísticas bem marcantes. Com essa intervenção, o espaço será adequado às necessidades da população, bem como passará por um tratamento paisagístico, terá diversidade de usos e funções, infraestrutura apropriada, valorização dos visuais já existentes e proteção da herança histórica existente no local.

Palavras-Chave: espaços públicos, vitalidade urbana, parques urbanos, requalificação.


ABSTRACT Public spaces have existed since the beginning of cities, and their existence is crucial to promote interpersonal relationships, social dynamics and urban vitality. However, with the industrial development from the XVIII century, there was a population density in urban centers, and the public spaces became scarce and disadvantaged, a situation that got worse after the appearance of the automobile, since the infrastructure began to favor individual transportation, disregarding the pedestrian of the urban environment. Such problems are reflected to the current days, where the appreciation of the vehicle still overlaps with regard to passersby and cyclists, which prevent the sense of security and well-being of them by walking through the city, as well as hinders a social integration. Another present adversity deals with the emergence of closed condominiums, which are seen as synonymous with security and leisure, when they actually contribute to urban violence and social segregation. Following this reflections, a theoretical study was done, addressed in this work, in order to guarantee a good understanding about the relation of free spaces with the city and people, and from there, was designed as a goal the requalification of the Prainha’s Park, located in the Historic Site of the same name, in the municipality of Vila Velha/ES, because it is an area currently fragile and susceptible to degradation, and which has a historical-cultural importance to the state that must be preserved, besides a remarkable environmental and tourism potential. With this intervention, the space will be suitable to the needs of the population, as well as it will undergo a landscape treatment, it will have diversity of uses and functions, infrastructure appropriate, appreciation of the existing visuals and protection of the historical heritage on the site.

Key words: public spaces, urban vitality, urban parks, requalification.


LISTA DE FIGURAS

Figura 22 - Barreira vegetal direcionando o vento ................... 41

Figura 1 - Espaços livres e áreas verdes ..................................25

Figura 23 - Plinth bem projetado .............................................. 42

Figura 2 - Espaço público - Amsterdã, Holanda .......................26

Figura 24 - Serviço e função do ecossistema da floresta urbana:

Figura 3 – Parque de los Deseos – Medellín, Colômbia ...........26

na escala da árvore, da rua e da cidade .................................. 43

Figura 4 - Ágora de Atenas .......................................................27

Figura 25 - Condições para haver vigilância natural ................ 45

Figura 5 - Fórum Romano.........................................................27

Figura 26 - Esfera Pública........................................................ 46

Figura 6- Praça medieval - Piazza del Campo, Siena ..............28

Figura 27 - Espaço público cercado de vegetação .................. 47

Figura 7 - Jardim renascentista - Palácio de Versalhes, França

Figura 28 - Comparativo de rua sem e com vegetação ........... 48

..................................................................................................28

Figura 29 - Área esportiva e de caminhada - Parque da

Figura 8 - Jardim renascentista - Villa Lante, Itália ...................29

Juventude (SP) ........................................................................ 57

Figura 9 - Cidade industrial .......................................................29

Figura 30 - Área de contemplação - Parque Natural Municipal

Figura 10 - Cidade modernista, Ville Radieuse .........................30

Flor do Ipê (SP)........................................................................ 57

Figura 11 - Fachada no contexto da arquitetura do medo ........31

Figura 31- Área de estar - Parque Güell (Barcelona)............... 58

Figura 12-Parc de la Vilette - Paris, França ..............................32

Figura 32 - Recreação infantil - Parque de los pies descalzos

Figura 13-Mangal das Garças - Pará, Brasil .............................32

(Medellín) ................................................................................. 58

Figura 14 – Vias de alto tráfego - Texas, EUA..........................34

Figura 33 - O que faz um espaço público ser bem sucedido ... 61

Figura 15 - Cidade Modernista - Plano Piloto, Brasília .............34

Figura 34 - Fatores que geram conforto no espaço público ..... 62

Figura 16 - Trânsito em São Paulo, Brasil ................................35

Figura 35 - Aarhus, Dinamarca ................................................ 62

Figura 17: Tipos de acessos definidos por Carr .......................35

Figura 36 - Praça de Trafalgar, Londres, Inglaterra ................. 62

Figura 18 - Place Des Vosges - Paris, França ..........................36

Figura 37 - Bradford City Park - Inglaterra ............................... 63

Figura 19 - Praça de Armas de Cuzco, Peru ............................36

Figura 38 - Union Square - Nova York, EUA............................ 63

Figura 20 - Integração de modais - China.................................38

Figura 39 - Burnside Park - Providence, EUA .......................... 63

Figura 21 – Rio Cheonggyecheon, Seul – Coreia do Sul..........39

Figura 40 - Espaço público de HafenCity - Alemanha ............. 63


Figura 41 - Parque do Abaeté, Bahia ........................................65

Figura 63 - Área de banhistas e lazer ...................................... 77

Figura 42 - Vista de cima do núcleo central do parque .............67

Figura 64 - Área esportiva e de lazer ....................................... 77

Figura 43-Praça de eventos......................................................67

Figura 65 - Mercado e áreas de lazer ...................................... 78

Figura 44 - Planta de Implantação ............................................68

Figura 66 - Área de descanso e lazer ...................................... 78

Figura 45 - Implantação ampliada ............................................68

Figura 67 - Área cultural e de lazer .......................................... 78

Figura 46-Croqui do parque ......................................................68

Figura 68 - Cais de recreação e porto para lanchas e caiaques

Figura 47 - Fortaleza de São José, Macapá .............................69

................................................................................................. 78

Figura 48 - Anfiteatro e espelhos d’água ..................................71

Figura 69 - Camadas do novo desenvolvimento ...................... 79

Figura 49-Parque infantil...........................................................71

Figura 70 - Igreja do Rosário ................................................... 85

Figura 50 - Croqui dos jogos d'água .........................................71

Figura 71 - Convento da penha85

Figura 51- Croqui da área infantil .............................................71

Figura 72 - Casa da Memória .................................................. 85

Figura 52-Passeio beira-rio.......................................................72

Figura 73 - Museu Homero Massena ....................................... 86

Figura 53 - Croqui do acesso ao passeio beira-rio ...................72

Figura 74 - Casa Amarela ........................................................ 86

Figura 54 - Passeio beira-rio .....................................................72

Figura 75 - Gruta Frei Pedro Palácios .................................... 86

Figura 55-Planta de implantação ..............................................72

Figura 76-Marinha do Brasil e Morro do Jaburuna................... 86

Figura 56 - The Voronez Sea ...................................................73

Figura 77 - Capela do campinho do Convento......................... 94

Figura 57 - Plataformas flutuantes ............................................75

Figura 78 - Monumentos .......................................................... 94

Figura 58 - Plataformas flutuantes ............................................75

Figura 79 - Comércio artesanal no acesso ao Convento ......... 94

Figura 59 - Esquema demonstrando a proposta de recuperação

Figura 80 – Delegacia da mulher ............................................. 95

do rio .........................................................................................75

Figura 81 – Polícia Militar ........................................................ 95

Figura 60 - Passos de recuperação do rio Voronez ..................76

Figura 82 - Câmara Municipal .................................................. 95

Figura 61 - Usos propostos para o local ...................................77

Figura 83 - Correios ................................................................. 95

Figura 62 - Esquema dos usos .................................................77

Figura 84 - Fábrica de Gelo ..................................................... 96


Figura 85 - Moradias no Morro do Cruzeiro ..............................96

Figura 107 - Tendas............................................................... 113

Figura 86 - Clube de bocha ......................................................97

Figura 108 – Bancos depredados .......................................... 114

Figura 87 - Peixaria ..................................................................97

Figura 109 – Tanque pichado ................................................ 114

Figura 88 - Edificações em desacordo com a lei ......................99

Figura 110 – Lixeiras e postes depredados ........................... 114

Figura 89 - Sinalização horizontal – Rua Antônio Ataíde ........105

Figura 111 - EEEB da CESAN pichada ................................. 114

Figura 90 - Faixa elevada - Av. Luciano das Neves ...............105

Figura 112 - Lixo jogado no parque ....................................... 114

Figura 91 - Sinalização vertical ...............................................105

Figura 113 - Grama pisoteada ............................................... 116

Figura 92 - Sinalização vertical - compartilhamento de vias com

Figura 114 – Veículo em local impróprio ................................ 116

outros modais .........................................................................105

Figura 115 - Sinalizações implementadas proibindo a passagem

Figura 93 - Ponto de táxi próximo ao acesso do Convento ....106

de veículos ............................................................................. 116

Figura 94 - Ponto de táxi - Praça Otávio Araújo .....................106

Figura 116 - Carros estacionados na grama .......................... 116

Figura 95 - Ponto de Ônibus - Antônio Ataíde ........................106

Figura 117 - Bicicletas aglomeradas ...................................... 116

Figura 96 - Ponto de Ônibus - Praça Otávio Araújo ................106

Figura 118 - Poças e buracos ................................................ 117

Figura 97 - Bicicletário ............................................................106

Figura 119 - Barcos abandonados ......................................... 117

Figura 98 - Bike VV .................................................................106

Figura 120 - Construções antigas .......................................... 117

Figura 99 - Festa da Penha ....................................................109

Figura 121 - Venda de peixes ................................................ 117

Figura 100 - Festa da Penha ..................................................109

Figura 122 - Perfil da região................................................... 118

Figura 101 - Sinalização vertical dos Passos de Anchieta......109

Figura 123 - Perfil Topográfico – Corte AA’ ........................... 119

Figura 102 - Sinalização horizontal dos Passos de Anchieta .109

Figura 124 - Perfil Topográfico – Corte BB’ ........................... 119

Figura 103 - Usuários na Prainha ...........................................110

Figura 125 - Rosa dos ventos ................................................ 121

Figura 104 - Caçambas ..........................................................113

Figura 126 - Estudo solar (Verão - Janeiro) ........................... 121

Figura 105 - Banheiros públicos temporários .........................113

Figura 127 - Estudo solar (Inverno-Julho) .............................. 121

Figura 106 - Palco de eventos ................................................113

Figura 128 - Vista para a baía de Vitória ............................... 122


Figura 129 - Vista para Terceira Ponte e morro da Ucharia ...122

Figura 150 – Área infantil ....................................................... 145

Figura 130 - Convento da Penha ............................................123

Figura 151 – Pet park ............................................................ 145

Figura 131 - Cones visuais .....................................................125

Figura 152 – Pet park ............................................................ 145

Figura 132 - Eventos ocorridos na Prainha.............................126

Figura 153 – Área de descanso entre o pet park e o playground

Figura 133 - Muro da Marinha ................................................127

............................................................................................... 145

Figura 134 - Muro do Exército ................................................127

Figura 154 – Área de descanso com vista para o jardim

Figura 135 - Sinalização vertical .............................................127

sensorial................................................................................. 145

Figura 136 - Conceitos do projeto de intervenção ..................136

Figura 155 – Jardim sensorial ................................................ 145

Figura 137 - Diagrama de resgate à memória local ................137

Figura 156 –Jardim sensorial e horta ..................................... 145

Figura 138 - Diagrama de valorização visual ..........................138

Figura 157 – Vista da horta, do pomar e jardim zen .............. 145

Figura 139 - Assentos diferenciados ......................................141

Figura 158 – Área gastronômica ............................................ 145

Figura 140 - Redes para descanso .........................................141

Figura 159 – Área de eventos - Anfiteatro ............................. 145

Figura 141 - Elemento água pra recreação ............................141

Figura 160 – Área de estacionamento ................................... 145

Figura 142 - Brinquedos dinâmicos ........................................141

Figura 161 – Eixo para a Baía de Vitória ............................... 145

Figura 143 - Ambientes agradáveis e lúdicos .........................141

Figura 162 – Eixo para a Igreja do Rosário ........................... 145

Figura 144 – Setor ..................................................................144

Figura 163 – Vista geral do parque da Prainha...................... 145

Figura 145 - Setor esportivo - Pista de skate ..........................145 Figura 146 – Setor esportivo – Quadra poliesportiva e área de descanso ................................................................................145 Figura 147 – Setor contemplativo – Área de descanso ..........145 Figura 148 – Setor contemplativo – Orla e deck que avança o

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tipologia de Parques...............................................55 Tabela 2 - Ficha Técnica do Parque do Abaeté........................66

mar..........................................................................................145

Tabela 3 - Ficha Técnica do Parque do Forte...........................70

Figura 149 – Setor contemplativo – Aquaviário ......................145

Tabela 4 – Ficha Técnica do Voronezh Sea.............................74


Tabela 5 – Síntese da análise e cada parque...........................80

Mapa 10 – Estacionamentos e romarias.................................108

Tabela 6 – Zoneamento urbano................................................91

Mapa 11 – Equipamentos urbanos..........................................111

Tabela 7 – Uso e ocupação do solo..........................................92

Mapa 12 – Sinais comportamentais e patologias urbanas......115

Tabela 8 – Número de pavimentos e suas respectivas áreas...99 Tabela 9 – Estacionamentos irregulares e regulares com e sem demarcação de vagas.............................................................109 Tabela 10 – Equipamentos urbanos........................................112 Tabela 11 – Potencialidades, vulnerabilidades, ações e programa de necessidade.......................................................130

Mapa 13 – Mapa topográfico...................................................118 Mapa 14 – Mapa ambiental.....................................................120 Mapa 15 – Potencialidades.....................................................124 Mapa 16 – Vulnerabilidades....................................................129 Mapa 17 – Síntese de uso e apropriação da área de estudo..132 Mapa 18 – Setorização............................................................143

LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Localização da Prainha, Vila Velha (ES)....................84

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Faixa etária da população......................................88

Mapa 2 - Área de estudo...........................................................85 Mapa 3 - Evolução da ocupação do solo..................................87

Gráfico 2 – Quantidade de pessoas e sua classe de rendimento nominal médio mensal...............................................................89

Mapa 4 - Zoneamento urbano na Prainha.................................90

Gráfico 3 – Meios de transportes utilizados pelos usuários....106

Mapa 5 - Uso de uso do solo.....................................................93

Gráfico 4 – Perfil dos usuários da região................................106

Mapa 6 – Uso do solo no parque da Prainha............................98

Gráfico 5 – Elementos considerados potenciais pelos usuários...................................................................................128

Mapa 7 – Gabaritos.................................................................100 Mapa 8 – Morfologia urbana....................................................102 Mapa 9 – Hierarquia viária......................................................104

Gráfico 6 - Elementos considerados potenciais pelos usuários...................................................................................128


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................17

2 ESPAÇOS LIVRES NO DESENVOLVIMENTO URBANO.....................................................................................................................23 2.1 DA ÁGORA AO PARQUE PÚBLICO CONTEMPORÂNEO..................................................................................................................25 2.2 IMPACTO DO ESPAÇO PÚBLICO NO CONTEXTO URBANO...........................................................................................................32 2.2.1 Impactos na cidade................................................................................................................................................................................................................33 2.2.2 Impactos na população..........................................................................................................................................................................................................44

3. PARQUES...............................................................................................................................................................................................51 3.1 Definição e tipologia..............................................................................................................................................................................53 3.2 Função dos parques..............................................................................................................................................................................57 3.3 Requalificação de parques....................................................................................................................................................................59 3.3.1 Definição e recomendações para intervenções em parques.................................................................................................................................................59 3.3.2 Referenciais Projetuais...........................................................................................................................................................................................................64

4. DIAGNÓSTICO DA PRAINHA DE VILA VELHA...................................................................................................................................81 4.1 Localização da área de estudo.............................................................................................................................................................83 4.2 Contextualização histórica do sítio........................................................................................................................................................87 4.3 Perfil socioeconômico do bairro Centro................................................................................................................................................88 4.4 Análise Morfológica...............................................................................................................................................................................89 4.4.1 Zoneamento Urbano..............................................................................................................................................................................................................89 4.4.2 Uso e Ocupação do Solo........................................................................................................................................................................................................92


4.4.3 Gabaritos................................................................................................................................................................................................................................99 4.4.4 Morfologia urbana................................................................................................................................................................................................................101 4.4.5 Mobilidade Urbana................................................................................................................................................................................................................103 4.4.6 Equipamentos Urbanos no Parque da Prainha.....................................................................................................................................................................110 4.4.7 Sinais Comportamentais e Patologia Urbanas......................................................................................................................................................................114

4.5 Condicionantes ambientais.................................................................................................................................................................118 4.6 Potencialidades e Vulnerabilidade.....................................................................................................................................................123 4.7 Síntese do Uso e Apropriação da área de intervenção......................................................................................................................131

5. PROPOSTAS DE REQUALIFICAÇÃO NO PARQUE DA PRAINHA..................................................................................................134 5.1 Conceito e Partido Projetual................................................................................................................................................................136 5.1.1 Resgate à memória local......................................................................................................................................................................................................136 5.1.2 Valorizar os cones visuais e a paisagem natural.................................................................................................................................................................138 5.1.3 Vitalidade ao espaço............................................................................................................................................................................................................139 5.1.4 Sustentabilidade...................................................................................................................................................................................................................139 5.1.5 Interatividade e integração social.........................................................................................................................................................................................140

5.2 Proposta projetual...............................................................................................................................................................................142

CONSIDERAÇOES FINAIS......................................................................................................................................................................166

REFERÊNCIAS.........................................................................................................................................................................................168

APÊNDICES.............................................................................................................................................................................................173



1 Introdução


Atualmente, vivemos em um mundo onde o dia a dia das pessoas se passa em escritórios, edifícios, shoppings, e demais ambientes fechados, sendo inabitual o contato com o meio natural e espaços livres. Dessa forma, é instintivo que a população demande por locais abertos, pela proximidade com áreas

verdes,

tranquilidade

e

conforto

que

tais

áreas

proporcionam para o corpo e a mente. Sendo assim, os espaços livres de uso público são essenciais para manter ativa a dinâmica das cidades e garantir qualidade de vida e interação social dos habitantes, já que permitem encontros, reuniões, momentos de descontração e lazer. Porém, os espaços livres de uso público tem sido cada vez menos utilizados, tanto devido à falta de planejamento e infraestrutura adequada aos mesmos, como também à sensação de insegurança que o meio urbano vem causando aos seus cidadãos. Isso ocorre devido a vários fatores, como por exemplo, o fato da gestão da cidade impulsionar progressivamente a criação de condomínios fechados, e áreas de lazer privativas no Fonte: Elene Válles (2011)

interior dos mesmos, dizendo garantir assim seguridade aos seus usuários, quando na realidade propiciam a segregação e fragmentação sócio-espacial. 18


Além disso, com a crescente utilização de automóveis nas

adequada para as necessidades dos usuários, e valorizar os

últimas décadas, ocorre cada vez mais a criação de vias e

potenciais locais relacionados à questão histórica, cultural e

equipamentos que privilegiam o transporte particular, havendo

paisagística. Vale ressaltar que a região de estudo é

assim um descuido quanto às necessidades dos pedestres e

denominada Sítio Histórico desde 2015, graças à sua relevância

ciclistas que percorrem a cidade. Dessa maneira, é gerado um

histórica para o estado do Espírito Santo, e por possuir uma

distanciamento social, bem como a perda da qualidade dos

diversidade de bens tombados, o que exige um cuidado ainda

espaços públicos, já que os usuários não possuem infraestrutura

maior para o projeto de requalificação.

adequada para usufruí-los, o que resulta na evasão das pessoas dessas áreas livres.

A partir disso, definiu-se uma metodologia de estudo que abrange um embasamento teórico amplo relacionado às cidades

A partir disso, percebeu-se a importância de retratar sobre tal

e às pessoas, adentrando em temas essenciais e diretamente

tema, de modo a verificar e expor os impactos gerados pelo

ligados com a melhoria da qualidade de vida da população e a

planejamento cuidadoso das áreas livres de uso público, para a

vitalidade

cidade e sua população. Sendo assim, o objetivo deste trabalho

segurança e saúde. Tais estudos foram encontrados em livros

é requalificar o parque da Prainha, localizado no bairro Centro,

de autores como Gehl (2013), Jacobs (2011), Cullen (2008) e

no município de Vila Velha/ES, pois é uma região que apesar de

Marcus e Francis (1998), bem como em artigos, teses, e revistas

possuir

online.

diversas

qualidades,

atualmente

é

precária

em

infraestrutura e equipamentos oferecidos à sociedade, o que gera

constantes

problemas

relacionados

à

insegurança,

principalmente à noite. Portanto, o projeto visa criar a integração social e urbana, não somente com os bairros vizinhos, mas também com toda a cidade, trazer diversidade de usos e funções para dinamizar a área, bem como infraestrutura

urbana,

como

a

mobilidade,

sustentabilidade,

Sendo assim, este trabalho divide-se em cinco capítulos, onde o primeiro apresenta o tema a ser trabalhado, no caso Espaços Livres de Uso Público, abordando uma breve explicação sobre a importância do mesmo, o objetivo final do trabalho, justificando a escolha, e por fim a metodologia utilizada para no estudo. 19


Logo após, o capítulo dois dividido em dois itens, trata da

sendo que a primeira traz definições e recomendações para

fundamentação teórica relacionada ao espaço livre de uso

intervenções em parques, de modo a auxiliar na tomada de

público, onde a primeira parte apresenta uma breve definição e o

decisões no futuro projeto, e a segunda parte apresenta três

histórico dos espaços livres, de modo a melhor compreender o

projetos de parques que sofreram requalificação ou então que

que são, como surgiram e sua evolução no decorrer do tempo e

estão situados em áreas a serem requalificadas, analisando

durante o desenvolvimento das cidades. A segunda parte é

assim as condicionantes locais para a intervenção nos mesmos,

dividida em dois itens, onde um trata da relação desses espaços

estudo este que auxiliará na tomada de decisões do objetivo

com

proposto neste trabalho.

a

cidade,

trazendo

assuntos

sobre

mobilidade,

acessibilidade, sustentabilidade, vitalidade e economia, e o segundo item apresenta a relação das áreas livres com as pessoas, analisando questões referentes à segurança, bem estar, saúde, relação interpessoal e diversidade.

O capítulo quatro traz o diagnóstico da área de estudo e é divido em cinco partes, onde a primeira apresenta a localização da Prainha bem como a área limite de estudo, a segunda traz a contextualização histórica do sítio, explicando sua importância

Já o capítulo três, vai tratar especificamente de parques,

para todo o estado, a terceira aborda o perfil socioeconômico do

estando divido em três tópicos de estudo, sendo que o primeiro

bairro Centro, de modo a melhor compreender o contexto da

traz algumas definições apresentadas por autores como Kliass

área de estudo. Quanto à quarta parte, trata da análise

(2011) e Macedo e Sakata (2010), de modo a garantir uma

morfológica da região e já a quinta apresenta as condicionantes

melhor compreensão sobre o tema, e logo após serão

ambientais,

apresentas as diferentes tipologias de parques, gerando no final

relevantes para gerar uma proposta o mais adequada possível.

uma tabela de tais tipologias. No segundo item, serão analisadas as diversas funções exercidas pelos parques, de modo a atender as necessidades da população e da cidade. Já o terceiro item aborda a requalificação de parques, e é dividido em duas partes,

permitindo

assim

informações

completas

e

Já o quinto capítulo traz como primeiro item o conceito e partido do projeto, apresentando também a setorização da área, e o segundo item traz a proposta projetual em nível de estudo 20


preliminar, descrevendo as decisões tomadas em cada área do parque e os objetivos que foram tomados durante o processo, promovendo resgate à memória histórica, valorização dos potenciais, integração de pessoas e vitalidade ao espaço.

21


22


2 Espaรงos livres no desenvolvimento urbano

23


A primeira parte deste capítulo aborda uma breve definição e evolução histórica dos espaços livres de uso público, de modo a situar o leitor sobre o tema e garantir um melhor entendimento em relação ao mesmo. Já a segunda parte, divide-se em dois subitens que abordam

Fonte: TheCityFix Brasil (2017)

sobre a importância dessas áreas públicas para a cidade e para as

pessoas,

respectivamente,

descrevendo

algumas

das

contribuições dos espaços livres tanto para o desenvolvimento urbano, como para a qualidade de vida da população. Tais estudos servirão de embasamento teórico para compreensão dos fatores relevantes e essenciais para alcançar o objetivo proposto neste trabalho. 24


2.1 Da Ágora ao Parque Público Contemporâneo Existem diversas denominações sobre o que são Espaços Livres de Uso Público, e para isso foram analisados alguns autores que

conexões e suas inter-relações funcionais e hierárquicas”. Figura 1 - Espaços livres e áreas verdes

tratam sobre o tema, de modo a melhor compreender o significado e relevância destes para sociedade. De forma mais abrangente, espaços livres são aqueles não ocupados por edificações, mas sim, que estão presentes ao redor delas e que permitem livre acesso para as pessoas (MAGNOLI, 1982). Tais espaços, normalmente estão associados às áreas verdes, porém eles podem também estar livres de vegetação e possuir outras características, como por exemplo, serem áreas alagadas ou áridas. (HIJIOKA et al., 2007). A figura 1 ao lado demonstra o que são espaços livres e áreas verdes. Já espaços públicos, segundo Corsini (2007), são aqueles cuja função é comum para todos os usuários, salientando que tais espaços não podem estar totalmente separados uns dos outros, ou seja, deve haver uma continuidade, de modo que a cidade

Fonte: HIJIOKA et al., 2007 (Modificado pela autora)

seja totalmente conectada pelas áreas livres. Essa conexão trata do Sistema de Espaços Livres Urbanos, que segundo Hijioka et al. (2007, p. 121), “é o conjunto de todos os espaços livres de edificações existentes na malha urbana, sua distribuição, suas 25


Outra definição bem próxima é feita por Carr e Lynch (apud

de funções e de propósitos simbólicos, como mostram abaixo as

FRANCIS, 2003), descrevendo que os espaços livres são áreas

figuras 2 e 3.

que possuem acesso público, como parques, praças, ruas,

Figura 2 - Espaço público - Amsterdã, Holanda

jardins comunitários e corredores verdes, concordando assim com Hijioka et al. (2007) que cita que os espaços livres podem ser divididos em calçadas, quintais, pátios, terrenos e demais itens

mencionados

acima.

Ademais,

Lynch

(apud

MADANIPOUR, 2010), descreve tais áreas como regiões no ambiente que permitem não somente a liberdade de acesso, mas também realização de ações e atividades espontâneas pela população. Fonte: viagemeturismo.abril.com.br (2016)

Além disso, é importante ressaltar que o sucesso dos espaços livres depende da sua vitalidade e do bom uso que as pessoas

Figura 3 – Parque de los Deseos – Medellín, Colômbia

fazem deles, bem como devem saciar as necessidades dos usuários, serem significativos para a comunidade e permitir acessibilidade à população (FRANCIS, 2003). Segundo Altman e Zube

(1989),

tal

acessibilidade

deve

ser

para

todos

independente da idade, gênero, etnia, questão física, ou demais características, ideia esta também compartilhada por Sun (2008). Além do mais, Madanipour (2003), reitera que as áreas públicas nas cidades não devem se limitar a apenas um pequeno grupo social, mas sim ser utilizado por uma variedade

Fonte: premio.fundacionrogeliosalmona.org

26


Dito isso, é considerável analisar brevemente a evolução

Da mesma maneira, na Roma antiga existia o Fórum (figura 5),

histórica dos espaços livres de uso público, para o melhor

que desempenhava papel semelhante ao da Ágora, já que nele

entendimento de sua apropriação e uso ao longo do tempo.

também estavam localizadas construções coletivas destinadas à

Portanto, inicia-se esclarecendo que tais espaços se fazem

cultura, política e comércio, bem como ocorriam encontros

presentes desde o surgimento das cidades, na forma de vias de

intelectuais. Sendo assim, a vida pública grega e romana era

circulação, passeios públicos e praças.

extremamente importante, pois ademais das questões citadas

Sua origem data do mundo antigo, principalmente na Grécia, com as áreas circundadas por edifícios públicos, destacando-se a Ágora de Atenas (figura 4), onde, segundo Benévolo (1999, p.

acima, havia também lugares destinados a eventos esportivos e ao teatro. (WATERMAN, 2010). Figura 4 - Ágora de Atenas

Figura 5 - Fórum Romano

Fonte: wikimapia.org (2005)

Fonte: pt.wikipedia.org (2008)

78), “toda a população ou grande parte dela pode reunir-se e reconhecer-se como uma comunidade orgânica”. A Ágora teve fundamental importância na cidade, pois ali era o local destinado à vida política e ao comércio, atraindo a circulação de pessoas e constituindo-se no local ideal para as reuniões, decisões políticas, troca de ideias, manifestação da opinião pública, feiras livres, dentre outros (WATERMAN, 2010). Sobre essa questão, Waterman (2010, p. 24) diz: [...] era uma peça essencial da vida pública e democrática ateniense, oferecendo não somente um local para a comercialização de mercadorias, mas também para o intercâmbio de ideias. Filósofos como Sócrates desenvolveram suas teorias junto ao público que frequentava a Ágora.

Já avançando para as cidades medievais, na Idade Média, as áreas livres de uso público adquiriram uma nova função, pois as edificações eram muito próximas umas das outras, devido à alta densidade urbana, resultando em ruas apertadas. Desse modo, houve a necessidade de se criar espaços abertos onde a população pudesse se movimentar livremente e exercer a 27


função de cidadania, portanto, criou-se o principal ponto de

O processo de valorização do Espaço Público alcança uma

encontro, resgatando a ideia da Ágora na figura da praça pública

dimensão maior durante o Renascimento, onde Marcus e

(WATERMAN, 2010). Tal praça era considerada o coração da

Francis (1998, p. 85) afirmam que “a ideia de espaços livres

cidade, pois ali acontecia a vida ao ar livre, ou seja, era o local

cresceu simultaneamente com o renascimento urbano, que faz

onde se sediavam festivais, mercados, execuções e também

parte da emergente apreciação da vitalidade da cidade”. Nesse

onde as pessoas ouviam as novidades, coletavam água, ou até

período, as cidades passaram por grandes mudanças, pois um

mesmo conversavam sobre política (MARCUS; FRANCIS,

dos ideais da época era o humanismo, ou seja, dar prioridade ao

1998). A figura 6 ilustra um desses raros espaços, geralmente

ser humano e buscar sua perfeição. Tal pensamento refletiu-se

áridos e vazios, desprovidos de equipamentos urbanos para

sobre a composição dos espaços públicos da cidade, onde as

permitirem as diferentes apropriações da população.

vias se tornam organizadas, amplas e limpas, e ocorreram

Figura 6- Praça medieval - Piazza del Campo, Siena

criações de jardins (figura 7) tanto funcionais, como estéticos, onde os ideais se baseavam em simetria e proporção (WATERMAN, 2010). Figura 7 - Jardim renascentista - Palácio de Versalhes, França

Fonte: touropia.com Fonte: gruposervice.net.br (2016)

28


Figura 8 - Jardim renascentista - Villa Lante, Itália

Figura 9 - Cidade industrial

Fonte: en.wikipedia.org (2007)

Fonte: minimumvita.blogspot.com.br

Já no século XVIII, com a Revolução Industrial, ocorre a

Com toda essa desordem, ocorreram problemas em relação à

migração das pessoas do campo para a cidade, causando um

saúde da população, demandando por medidas na área do

drástico aumento da população urbana, bem como da produção

saneamento urbano pensadas por higienistas de modo a

em massa, o que consequentemente gerou um crescimento

contemplar as questões sociais inerentes à salubridade das

desordenado, tornando as cidades insalubres e problemáticas

cidades. Neste período, “a atividade dos arquitetos orientava-se

(figura 9). As casas foram sendo construídas sem afastamentos

[...] para a construção de prédios públicos e a criação de lugares

umas das outras, nas ruas corriam esgotos descobertos, se

simbólicos nas cidades, o que vinha reforçar a imagem burguesa

acumulava lixo, e havia a circulação de pessoas, veículos e

e urbana” (BERTONI, 2015, p.114). As reformas urbanas

animais, o que impedia o desenvolvimento de atividades ao ar

propostas a partir deste período do século XIX, a exemplo do

livre. (BENÉVOLO, 1999).

Novo Arrabalde, Plano de Saturnino de Brito para Vitória (CAMPOS, 1996) e do Plano de Haussmann para Paris 29


(WATERMAN, 2010), refletem uma preocupação com as

automóveis, como grandes artérias de mão única e ruas

características naturais da cidade, quando ocorrem criações de

subterrâneas (JACOBS, 2011).

parques públicos para dar fôlego e refúgio à população.

Ele procurou fazer do planejamento para automóveis um elemento essencial de seu projeto [...] manteve os pedestres fora das ruas e dentro dos parques. [...] Não importava quão vulgar ou acanhado fosse o projeto, quão árido ou inútil o espaço, quão monótona fosse a vista, a imitação de Le Corbusier gritava: "Olhem o que eu fiz!" Como um ego visível e enorme, ela representa a realização de um indivíduo. Mas, no tocante ao 1 funcionamento da cidade, tanto ela como a Cidade-Jardim só dizem mentiras. (JACOBS, 2011, p.23).

Durante o período caracterizado pelo modernismo (séc. XX), surgem novas ideias de organização funcional da cidade baseados na divisão por zonas, com funções específicas, e é neste momento que, como explica Benévolo (1999, p.631): as atividades recreativas são reavaliadas e requerem espaços livres apropriados, esparsos por toda a parte da cidade (as zonas verdes para o jogo e para o esporte perto das casas, os parques dos bairros, os parques da cidade, as grandes zonas verdes protegidas no território, isto é parques regionais e nacionais); estes espaços verdes devem formar espaço único, onde todos os outros elementos resultem livremente distribuídos: a cidade se torna um parque aparelhado para as várias funções da vida urbana.

Figura 10 - Cidade modernista, Ville Radieuse

O modernismo visava a individualidade e setorização por zonas, o que gerou muitas críticas por vários estudiosos, como Jacobs (2011) e Gehl (2013), pois estes defendem a cidade dinâmica, diversificada e que permita interações sociais. Como um Fonte: herancacultural.com.br

exemplo de cidade modernista, pode-se citar a Ville Radieuse (figura 10) idealizada pelo arquiteto europeu Le Corbusier, onde esta era composta de arranha-céus dentro de um parque, edificações setorizadas de acordo com o tipo de uso e de diversos mecanismos que valorizassem

a circulação de

1

Cidade idealizada por Ebenezer Howard, urbanista inglês, no século XIX, logo após observar a condição de vida dos pobres em Londres. O objetivo era criar cidades autossuficientes e que permita o contato dos seus habitantes com a natureza (JACOBS, 2011).

30


Com o passar do tempo, as cidades foram se desenvolvendo

propiciem a interação de pessoas. A figura 11 representa uma

rapidamente e atraindo novas pessoas, de modo que a

fachada que se insere no cenário da arquitetura do medo,

população crescente passa a residir mais nas áreas urbanas do

apresentando muro alto, cerca elétrica e câmeras de vigilância

que rurais, impondo um maior desafio na oferta de áreas livres

como meio de proteção contra a violência urbana. Em

de uso público (GEHL, 2013). A concentração de pessoas nas

contrapartida, as figuras 12 e 13 são exemplos de áreas livres

cidades e as transformações urbanas impulsionadas pelo

públicas que permitem encontros, passeios, lazer e descanso

período modernista, em que as vias destinadas a circulação de

para seus usuários.

veículos automotores eram privilegiados, resultou em sérios

Figura 11 - Fachada no contexto da arquitetura do medo

problemas vivenciados pelas cidades hoje (CUNHA, LYRA e SANTANA, 2016). Os altos níveis de poluição e aumento do tráfego de automóveis, seguidos da ausência de espaços para permanência de pessoas nas áreas comuns da cidade, tem sido relacionados ao aumento da vulnerabilidade sócio espacial urbana. A paisagem caracterizada pela arquitetura do medo2 (LIRA, 2014 e LIRA, LYRA e GUADALUPE, 2014), resultante dos enclaves fortificados3 (CALDEIRA, 2000), tem sido alertada por pesquisadores como NETTO (2006) e (LYRA, 2017) para a urgência de criação de espaços livres urbanos que também 2

A “arquitetura do medo” insere-se no contexto da criminalidade violenta contemporânea, onde esta influencia, por exemplo, a construção de grades, muros elevados, guaritas com seguranças particulares, colocação de cercas elétricas e circuitos de vídeo-monitoramento, modificando a paisagem das cidades brasileiras (LYRA, 2014). 3 São espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer ou trabalho (CALDEIRA, 1997).

Fonte: parquedaciencia.blogspot.com.br (2015)

31


Figura 12-Parc de la Vilette - Paris, França

2.2 Impacto do espaço público no contexto urbano Como já dizia Gehl (2013), as cidades tem se tornado espaços limitados, cheios de obstáculos, ruído, poluição, riscos de acidentes e condições geralmente vergonhosas, onde as funções social e cultural simplesmente foram descartadas. Situação esta que se intensifica no século XX, onde segundo Gehl (2013, p. 4) “Os modernistas rejeitaram a cidade e os espaços da cidade, mudando seu foco para construções individuais”, portanto, como consequência, ocorreu a negligência

Fonte: lavillette.com

com as áreas livres de uso coletivo e os encontros sociais foram desestimulados. Além disso, parte dos problemas citados acima

Figura 13-Mangal das Garças - Pará, Brasil

foi intensificada devido ao privilégio que os automóveis tiveram no desenvolvimento da malha urbana das cidades, que incentivou ainda mais a individualidade, criando também um maior distanciamento entre o meio urbano e as pessoas, já que o uso do transporte particular teve preferência durante o processo de urbanização, com a construção de estradas, pontes e sinalizações, deixando os pedestres em segundo plano. Logo, as áreas urbanas tem se tornado menos proveitosas e a relação

Fonte: percorrendobelem.blogspot.com.br

interpessoal que deveria ser incentivada, passa a ser suprimida em detrimento dos espaços destinados a circulação dos veículos individuais (CUNHA, LYRA e SANTANA, 2016). Sendo assim, 32


percebe-se que a cidade torna-se vazia e monótona, sem áreas

Tais reflexões destacadas pelos autores citados nos remetem a

de escape para lazer ou momentos de tranquilidade e,

analisar a composição desses espaços da cidade para as

consequentemente, com poucos atrativos para o convívio

pessoas, quando se pensa na criação de espaços livres de uso

público.

público no ambiente urbano, englobando-se questões diversas

Os

efeitos

da

arquitetura

destas

cidades

introspectivas

comprometem a vitalidade urbana defendida por Jacobs (2011), Gehl (2013) e Netto (2006), sugerindo que um dos principais meios para retomar a dinâmica da cidade e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, é projetar espaços livres de uso público, como largos, praças, parques, bulevares e outros, que disponibilizam equipamentos para serem livremente utilizados por

todos.

Projetos

estes

que

devem

considerar

as

características e demandas da realidade atual das cidades, onde a escassez de áreas verdes diante da qualidade do ar e do conforto urbano, precisa ser considerados na composição de um paisagismo ideal para o clima local, com vegetação adequada à proposta, e que garanta o bem estar dos usuários, além de assegurar uma estética agradável que valorize a paisagem urbana. Desse modo, essas áreas tornam-se naturalmente um atrativo pra a população, o que contribui para um maior senso de comunidade, gera vitalidade na região, proporciona segurança aos pedestres e aumento da qualidade de vida.

como sociais, culturais, históricas, econômicas, estéticas, climáticas e psicológicas, reunidas e descritas a seguir a partir das recomendações de Cullen (2008), Jacobs (2011), Gehl (2013), Sun (2008), Mascaró (2005), Bauman (2009) e diversos outros. 2.2.1 Impactos na cidade Com o crescente processo de urbanização nas últimas décadas, as cidades passaram a ser rapidamente transformadas, tanto em função da inserção de novos edifícios quanto em função do aumento da utilização do automóvel e consequente criação de novas ruas, avenidas e estradas construídas para comportar o fluxo crescente de veículos motorizados, o que resultou em um grande

problema

na

mobilidade

urbana

das

cidades

contemporâneas (figura 14). [...] o automóvel tem-se insinuado nas nossas cidades, travessas, jardins e praças [...] os habitantes aventuram-se a sair dos prédios por sua conta e risco, avançando de ilha em ilha, procurando passadeiras, semáforos e faixas separadoras. (CULLEN, 2008, p. 123)

33


Figura 14 – Vias de alto tráfego - Texas, EUA

Percebe-se neste contexto uma diminuição das áreas de convívio social, onde se verifica que os passeios para pedestres passaram a comportar equipamentos como placas, sinalizações, iluminações, pontos de ônibus, chaveiros, bancas e outros, em detrimento da acessibilidade das pessoas que passaram a ser esquecidos. Ademais, percebe-se ainda que o modal não motorizado perde espaço na cidade, e a mobilidade urbana torna-se conflituosa. Abaixo, a figura 15 retrata uma cidade modernista com grandes áreas vazias, e vias de circulação voltadas para os automóveis.

Fonte: texasmonthly.com (2017)

Figura 15 - Cidade Modernista - Plano Piloto, Brasília

A esse respeito, Jacobs (2011) já alertava desde a década de 60, que o dramático aumento do tráfego de automóveis e a ideologia urbanística do modernismo, que separa os usos da cidade e destaca edifícios individuais autônomos, poriam um fim ao espaço urbano e à vida da cidade, resultando em cidades sem vida, esvaziadas de pessoas. As artérias viárias junto com estacionamentos, postos de gasolina e drive- ins, são instrumentos de destruição urbana poderosos e persistentes. Para lhes dar lugar, ruas são destruídas e transformadas em espaços imprecisos, sem sentido e vazios para qualquer pessoas a pé (JACOBS, 2011, p. 377). Fonte: urbanchange.eu (2017)

34


Acompanhando esse raciocínio, é importante destacar que um

Portanto, percebe-se que para aqueles que não utilizam o

dos principais conflitos existentes trata dos denominados

transporte automotor, as áreas são precárias e escassas, já que

horários de “pico”, ou seja, momentos do dia onde a maioria das

faltam ciclovias e locais de livre circulação para transeuntes,

pessoas se movimenta com maior intensidade, gerando tráfego

principalmente se tratando da acessibilidade universal, criando

intenso, engarrafamentos nas vias e maior risco de acidentes

limitações para as pessoas alcançarem seus locais de destino,

(figura 16). Outro problema que também vale salientar é a

além de situações propícias a acidentes. Vale ressaltar que o

disputa de espaço dos pedestres e bicicletas com os veículos.

termo acessibilidade, também pode ser designado como

À medida que mais carros tomam as ruas, cada vez mais planejadores de tráfego e políticos concentraram-se em criar espaços para eles e para estacionamentos. Como resultado, deterioraram-se as condições para pedestres e ciclistas. Gradualmente, calçadas estreitas foram ficando pontilhadas de placas de sinalização, parquímetro, postes, luminárias de rua, e outros obstáculos [...] (GEHL, 2013, p. 91). Figura 16 - Trânsito em São Paulo, Brasil

liberdade de acesso ao local público, de modo que isto é uma condição primordial para o uso e apropriação dos espaços livres (SUN, 2008). Quanto a isso, Carr (apud SUN, 2008), classifica os três tipos de acessos a esses espaços como: Figura 17: Tipos de acessos definidos por Carr

Físico: refere-se à ausência de barreiras para entrar ou sair do local

Visual:

definido pela quantidade do primeiro contato que o usuário tem com o local

Simbólico ou social:

refere-se à presença de sinais, sugerindo quem é bem vindo ou não ali Fonte: Elaborado pela autora a partir de Carr (apud SUN, 2008)

Fonte: jornaldoonibusdecuritiba.com.br (2017)

35


Dessa forma, ao unir os três tipos de acessos, é possível tornar

Analisando assim tudo que foi dito anteriormente, entende-se

o espaço mais ou menos convidativo. As figuras 18 e 19

então que a criação de espaços livres de uso público pode

retratam espaços públicos convidativos, com a presença das

contribuir para melhorias no ambiente urbano, visto que com a

características citadas acima.

preocupação em se projetar áreas livres, tem-se o pedestre

Figura 18 - Place Des Vosges - Paris, França

como prioridade, portanto tudo começa a ser pensado de maneira a proporcionar melhores experiências das pessoas nas cidades. Dessa forma, com um planejamento adequado são analisadas questões como, segurança, conforto ambiental, acessibilidade universal e mobilidade urbana através de, por exemplo, integração de modais de transporte público e criação de vias exclusivas para pedestres e ciclistas. Sobre essa situação, Gehl (2013, p. 107) diz:

Fonte: ipiu.org.br (2017)

Figura 19 - Praça de Armas de Cuzco, Peru

Boa paisagem urbana e bom sistema de transporte público são dois lados da mesma moeda. A qualidade das viagens entre os pontos de ônibus e estações tem influência direta sobre a eficiência e qualidade dos sistemas de transporte público [...] Bons trajetos para pedestres e ciclistas e bons serviços nas estações são elementos essenciais para garantir conforto e sensação de segurança.

Portanto, é importante existir a integração com os demais modais de transportes coletivos na cidade, já que este item é essencial para uma melhor mobilidade urbana (figura 20). Dito isso, os usuários passam a se sentir atraídos por esses locais e Fonte: archdaily.com.br (2013)

pela facilidade de locomoção, propiciando, consequentemente, o 36


uso de bicicletas, meios de deslocamento coletivos e inclusive passeios a pé. Por conseguinte, passa a haver diversificação de usos no local, o convívio social é estimulado, a dinâmica da cidade torna-se presente no dia a dia e a vitalidade urbana é retomada. Vale destacar, entretanto que o problema gerado pela exagerada necessidade de veículos, tem sido assunto presente nas principais pautas dos gestores públicos bem como das políticas instituídas pelo Ministério das Cidades através da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana. Desde então, tem-se buscado alternativas que são pautadas em planejamentos favoráveis à circulação de transportes não motorizados. Realidade esta que vem abrindo espaço para uma visão mais equilibrada da cidade contemporânea, onde o transeunte passa a ser o indicador da mobilidade urbana. Segundo Gehl (2013), nas décadas mais recentes, áreas urbanas pelo mundo estão criando melhores condições para pedestres, o que tem melhorado muito a relação da população com a cidade.

37


38 Figura 20 - Integração de modais - China Fonte: itdpbrasil.org.br (2016)


Outro ponto que tem sido muito abordado atualmente trata da sustentabilidade, já que as cidades atingiram um nível de poluição, consumo e descarte abundante, de modo que tem prejudicado não só as pessoas, mas também o próprio planeta. Segundo Gehl (2013), o conceito de sustentabilidade aplicado às cidades é amplo, estando inclusas preocupações como consumo de energia, emissões dos edifícios, atividades industriais, fornecimento de energia e gerenciamento de água, esgoto e transportes. Portanto, qual a relação dos espaços livre de uso público com tal tema? Segundo LERNER (2013, pág. XIII)4, “a sustentabilidade reflete o diálogo entre o ambiente urbano e natural”, logo, é indispensável compreender que quanto maior a proximidade com áreas verdes, cursos d’água e demais elementos naturais, melhor é a vivência das pessoas na cidade e a qualidade visual da mesma (figura 21). Sendo assim, as áreas livres públicas devem valorizar tais componentes da paisagem, já que estes são essenciais para atender a função de sustentabilidade.

4

LERNER, Jaime. Prólogo à edição brasileira. In: GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. P. XII – XIII.

39 Figura 21 – Rio Cheonggyecheon, Seul – Coreia do Sul Fonte: caosplanejado.com (2012)


Porém, esta não se limita apenas à questão da paisagem

transportes

natural, ou seja, ela está presente de diversas formas, que serão

sustentabilidade.

analisadas a seguir. Antes de tudo, vale relembrar que, como já dito anteriormente, os espaços livres de uso público estão diretamente relacionados à mobilidade urbana, o que nos leva primeiramente a analisar a relação de tal questão com a sustentabilidade. Segundo Gehl (2013), atualmente há um interesse crescente no planejamento de cidades sustentáveis, sendo um dos principais motivos, a poluição gerada pelos meios de transporte, já que estes são responsáveis por um grande consumo de energia e emissão de carbono. Sendo assim, citando um pensamento de Gehl (2013, p. 105) “Priorizar o pedestre e as bicicletas, modificaria o perfil do setor de transportes e seria um item expressivo nas políticas sustentáveis em geral”.

públicos,

gerando

consequentemente,

maior

Outro aspecto importante trata da presença de vegetação nas áreas livres, já que, por exemplo, a arborização utilizada em locais de clima tropical permite o sombreamento das ruas e calçadas, amenizando a temperatura tanto da superfície dos pavimentos, como das fachadas dos edifícios (MASCARÓ, 2005). Além disso, através dessa arborização, é possível controlar a direção e velocidade dos ventos, garantindo assim a menor utilização de meios artificiais de resfriamento, o que gera maior sustentabilidade na cidade (figura 22). Uma barreira de vegetação bloqueia a passagem do vento, reduzindo a sua velocidade e atenuando seus efeitos na diminuição da temperatura do ar [...] Barreiras de vegetação podem ser mais eficazes do que barreiras sólidas (ex.: muros, paredes, edificações, etc.), pois a redução da velocidade se dá de forma gradual [...] (MASCARÓ, 2005, p. 47).

A partir desse pensamento, entende-se a importância dos espaços públicos para amenizar a situação na qual as cidades se encontram, pois ao aumentar as áreas de circulação para ciclistas e transeuntes, há um aumento de interesse pelo uso de tais meios de locomoção, o que permite menos poluição sonora, emissão de gases, e também diminuição da sobrecarga dos 40


Seguindo esse raciocínio, Mintz (2015) ressalta que as Figura 22 - Barreira vegetal direcionando o vento

atividades

são

a

chave

para

continuar

a

estabelecer

comunidades vibrantes com vias prósperas, já que “quanto mais funções acontecem na cidade, mais viva e vibrante ela será” (MINTZ, 2015, p. 82). A esse respeito, Cullen (2008) complementa que o cérebro humano reage a diversidade, portanto a monotonia da cidade é o que faz a mesma perder a vida, e já diversidade e multiplicidade, dá vida e animação à Fonte: Elaborado pela autora a partir de Mascaró (2005)

As áreas livres públicas também estão diretamente relacionadas com a vitalidade e economia local. Segundo Corsini (2007), os espaços públicos são essenciais para assegurar vitalidade ao ambiente urbano, sendo que tal pensamento é também compartilhado por Gehl (2013), destacando que o que realmente importa não é o número de indivíduos, senão a sensação de que o local é habitado e está sendo utilizado, já que a presença de outras pessoas transmite uma sensação de segurança. Gehl (2013, p. 63) ainda complementa dizendo que “o que importa não são os números, multidões ou o tamanho da cidade, e sim a sensação de que o espaço da cidade é convidativo e popular; isso cria um espaço com significado”.

cidade, o que gera diferentes emoções e sensações aos transeuntes, causando também vitalidade ao ambiente. Em relação à questão da economia, vale destacar que o adensamento de construções próximas às áreas livres e a concentração de atividades são imprescindíveis para o comércio e a especulação imobiliária (SUN, 2008). Os locais vizinhos aos espaços livres verdes são privilegiados e consequentemente possuem

maior

valorização

e

estabilidade

econômica,

aumentando o preço do valor da terra (MASCARÓ, 2005), uma vez que “vendem” saúde, vitalidade espacial e social, bem como visuais agradáveis. Segundo Mascaró (2005), a população muitas vezes enfrenta problemas como os custos para manutenção da vida nas cidades, o que gera aumento em seus 41


gastos, fazendo-se assim necessários, espaços de lazer com

Figura 23 - Plinth bem projetado

áreas verdes perto de suas moradias. Ainda sobre a questão econômica, Karssenberg e Laven (2015), citam a Estratégia do Plinth, onde o valor do “plinth”5 está na capacidade do térreo dos edifícios em atrair pessoas. Bons plinths, são de interesse da economia urbana, e não somente em razão dos gastos dos consumidores. Um mercado de trabalho equilibrado [...] demanda um entorno urbano funcional para viver, fazer compras e brincar. (KARSSENBERG; LAVEN, 2015, p. 16).

Karssenberg e Laven (2015) ainda deixam claro que quando os plinths são bem projetados, lojas, restaurantes e bares acabam lucrando mais pela capacidade de atração do local. Ao lado, a figura 23 representa um plinth ideal, que gera espaços públicos atrativos.

Fonte: La citta vita (flickr.com)

Outro item relevante na questão econômica trata dos créditos de carbono, mercado este que surgiu a partir das Conferências Internacionais sobre o Meio Ambiente, como a Rio 92. Um exemplo sobre como esses créditos podem funcionar é possível de ser explicado através da experiência do pesquisador do Serviço Florestal dos EUA, Greg McPherson, que calcula o valor monetário e ecológico das árvores. Depois de se formar, fez suas primeiras experiências sobre os impactos econômicos do

5

É o andar térreo de um prédio. É a parte mais crucial do prédio para a cidade a nível dos olhos, já que conecta o espaço público com o privado (KARSSENBERG; LAVEN, 2015)

espaço verde e examinou a capacidade das árvores para absorver a poluição do ar, reduzir o efeito da ilha de calor, 42


reduzir os custos de energia, interceptar as chuvas e até mesmo proteger as superfícies pavimentadas. Posteriormente através de

suas

pesquisas,

participou

de

vários

trabalhos

revolucionários, onde desenvolveram modelos de funções florestais, como o sequestro de carbono e a absorção de ozônio e outros poluentes do ar, monetizando depois os benefícios (FISHER, 2006). Segundo estudos realizado pelo Prof. Mc Pherson em 1997, o plantio de três árvores em torno de cada edifício da comunidade estudada poderia economizar cerca de US $ 50 a US $ 90 por habitação em custos de aquecimento e resfriamento anuais, devido ao aumento da sombra e à redução da velocidade do vento. Como conclusão, a equipe de pesquisa afirma que o valor líquido que os serviços das árvores fornecem é estimado em $402 por árvore plantada, ou $38 milhões no total em 1997 (FISHER, 2006). A figura 24 ao lado, apresenta os benefícios e funções da cobertura vegetal no ambiente urbano:

43

Figura 24 - Serviço e função do ecossistema da floresta urbana: na escala da árvore, da rua e da cidade Fonte: S.J. Livesley, G.M. McPherson e C. Calfapietra (2016)


2.2.2 Impactos na população Os espaços públicos também desempenham funções que

as ruas de uma cidade parecerem interessantes, a cidade

atingem diretamente a população, portanto o seu ambiente deve

parecerá interessante, se elas parecerem monótonas, a cidade

proteger a saúde das pessoas e garantir segurança e bem-estar,

parecera monótona”. Para a autora, o perigo está na percepção

incluindo os indivíduos tanto com capacidades limitadas, como

de insegurança.

diversificadas, garantindo assim o bem comum. (ALTMAN e ZUBE, 1989). Já Corsini (2007), cita a acessibilidade como item essencial para garantir o contato final entre os espaços urbanos, gera liberdade de ação e decisão dos usuários, permite a relação verdadeira entre os espaços públicos de diversas categorias, garante a comunicação da sociedade com o território, e confere vitalidade ao espaço urbano, sendo isso a chave da segurança e um freio para sua possível deterioração social.

Segundo Castel (apud BAUMAN, 2009) a insegurança é culpa da sociedade moderna, que como já analisada anteriormente, incentivava ao individualismo, substituindo as comunidades solidamente unidas, que possuíam suas próprias regras de proteção, por insegurança e a ideia de que o perigo esta em toda a parte. Sendo assim, percebe-se que a falsa ideia de segurança dentro de muros de loteamentos fechados foi disseminada e contraditoriamente hoje é um dos principais motivos da inquietação e medo social, propiciando ainda mais a

Um dos principais problemas enfrentados hoje trata da

criminalidade. Sobre os condomínios fechados, Bauman (2009,

insegurança presente no dia a dia das cidades. Segundo Jacobs

p. 39), destaca como sendo “um lugar isolado que fisicamente se

(2011), manter a segurança urbana é uma função fundamental

situa dentro das cidades, mas social e idealmente, está fora

das ruas das cidades e suas calçadas, sendo que essas vias

dela”.

são parte primordial dos espaços livres urbanos, portando elas devem garantir segurança aos usuários, bem como movimento ao local. Jacobs (2011, p. 29) ainda diz que “se

Uma pesquisa citada por Marcus e Francis (1998), feita na Philadelphia, faz uma ligação entre a relação das áreas de recreação e a prevenção da criminalidade, onde voluntários do 44


bairro estudado, juntamente com a ajuda da polícia, fizeram uma

redor, além de existir o contato visual entre o interior e os

limpeza das áreas vazias e plantaram jardins nas mesmas.

espaços públicos.

Como resultado dessa ação, houve uma queda de 90% da criminalidade na região. Portanto, a ideia de substituir os espaços livres de uso público por locais privados, é problemática e deve ser repensada, já que as áreas públicas tem função essencial de gerar a vitalidade e o espírito de comunidade que está em falta atualmente, de modo que as pessoas geram sua própria segurança.

Um último item que é relevante destacar, pois também garante um aumento da segurança nas cidades, trata da dimensão humana. Segundo Gehl (2013), tal questão foi esquecida por décadas e seriamente negligenciada no planejamento urbano, sendo essencial para uma melhor vivência e segurança na cidade, já que é no nível térreo que as pessoas se movimentam, portanto é para onde os olhos devem estar voltados. Voltada

Voltando à ideia de Jacobs (2011) sobre a segurança nas ruas e

para a mesma questão, pode-se destacar a Estratégia do Plinth,

calçadas, a autora propõe três condições para que haja pessoas

já citada em itens anteriores, onde este é considerado a parte

suficientes nas ruas, de modo que elas exerçam vigilância

mais relevante dos prédios para a cidade no nível dos olhos.

natural: Figura 25 - Condições para haver vigilância natural

1 2 3

Deve ser nítida a separação entre o espaço público e o espaço privado

Devem existir olhos na rua A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente

[...] um prédio pode ser muito bonito, porém se o andar térreo é um muro cego, a experiência na rua pouco será positiva. Plinchs são cruciais para a experiência e atividade do espaço urbano, seja em áreas residenciais ou comerciais. Pesquisadores mostram que se o destino é seguro, limpo, relaxado e fácil de compreender [...] visitantes permanecerão três vezes mais tempo e gastarão mais dinheiro do que numa estrutura antipática e confusa (KARSSENBERG; LAVEN 2015, p. 15).

Complementando tal pensamento, Karssenberg e Laven (2015), descrevem que os habitantes vivenciam a cidade na chamada

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Jacobs (2011)

esfera pública, que inclui tanto o espaço público, como as

Tais medidas auxiliam na sensação de segurança das pessoas, pois dessa maneira é fácil enxergar o que está acontecendo ao 45


fachadas dos edifícios e demais itens vistos ao nível dos olhos,

agradável, já que a população sente necessidade de encontrar

como demonstra a figura 26.

cenários tranquilos que amenizem a pressão e tensão do trabalho (MACEDO e SAKATA, 2010). Segundo Spirn (apud

Figura 26 - Esfera Pública

Waterman, 201, p. 170), o próprio ambiente “sustenta a vida e fomenta o crescimento pessoal e coletivo”, ressaltando dessa forma, sua relevância. Sendo assim, em se tratando de bem estar, a função dos espaços públicos são primordiais, principalmente pelo fato de que os mesmos normalmente possuem arborização e zonas verdes, característica esta buscada pela maioria da sociedade.

Fonte: Karssenberg e Laven (2015)

estratégias

Uma pesquisa feita no ano de 1979 em Detroit, EUA, e

voltadas para a melhoria da segurança pública, e que através

apresentada por Mascaró (2005), mostrou que a população

delas as cidades podem se tornar cada vez mais humanas,

urbana reconhece a importância da arborização tanto de

diminuindo a violência e criminalidade.

parques como ruas, já que como resultado dos estudos, a

Portanto

compreende-se

que

existem

muitas

preferência por áreas verdes ficou em segundo lugar, atrás Os espaços livres de uso público também tem relação direta

apenas do item educação. Quando se tratando exclusivamente

com a qualidade de vida da sociedade, por ser um ponto de

de parques, os entrevistados gostavam de ter mais áreas de

encontro e interação de pessoas e também um escape da

sombras para realizar atividades de descanso e contemplação.

correria do dia a dia da cidade. O arquiteto paisagista Frederick Law Olmsted, idealizador do Central Park, acreditava que

Além disso, outras análises foram levantadas e concluiu-se que

através de espaços abertos na cidade e áreas de recreação para

os principais motivos das pessoas preferirem a vegetação, são

a comunidade, era possível fornecer um estilo urbano mais

referentes aos benefícios gerados pela mesma, como por 46


exemplo, equilíbrio ambiental, purificação do ar e efeitos

diminuem as ilhas de calor da região, criando microclimas mais

psicológicos, que geram a sensação de alegria e vitalidade ao

agradáveis tanto para quem está na calçada, como para os

ambiente (MASCARÓ, 2005). Tal análise está de acordo com

moradores de edifícios próximos. Além disso, “a vegetação

Francis (2003, p. 23, tradução nossa), que diz que “a sensação

protege o muro e amplia psicologicamente os espaços urbanos,

de conforto psicológico é uma das experiências que as pessoas

melhorando sua ambiência” (MASCARÓ, 2005, p. 24), como

procuram nos espaços abertos. Este benefício pode ser

pode-se ver na figura 28 ao lado.

promovido pelo efeito restaurador da água ou verde urbano [...]”.

Figura 27 - Espaço público cercado de vegetação

Essas vantagens são também decisivas no fator saúde tanto mental, quanto física. Um estudo realizado por Kuo e Faber (2004), pesquisadoras do Laboratório da Paisagem e Saúde Humana da Universidade de Illinois, EUA, demonstra que os sintomas de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tendem a melhorar após atividades realizadas em locais verdes e abertos se comparadas com atividades que ocorrem em locais fechados. Sendo assim, percebe-se que as pessoas se identificam naturalmente com as áreas verdes e são atraídas pela sensação de conforto que tais áreas causam (figura 27). Algumas funções

Fonte: ondanaranjacope.com (2010)

citadas por Mascaró (2005) também interferem na saúde e bem estar dos indivíduos, como por exemplo, a influência que as áreas arborizadas tem na temperatura e umidade do ar, já que 47


Figura 28 - Comparativo de rua sem e com vegetação

Outro item citado e também relevante, que permite uma maior qualidade de vida trata da acústica urbana, visto que em cidades grandes, os níveis de ruído são extremamente elevados causando desconforto aos cidadãos. Portanto o uso de vegetação pode auxiliar na redução desses ruídos, pois além de absorver parte do som, ela o desvia da região, que por ofertar mais áreas verdes passa a incentivar a troca do carro por caminhadas e passeios ciclísticos. [...] o alto nível de ruído provocado por algumas ruas dos centros urbanos prejudica o conforto de praças ou parques próximos a elas. O Uso de barreiras de vegetação possibilita relativo isolamento dos usuários no interior desses espaços. (MASCARÓ, 2005, p. 48).

Outro elemento expressivo a ser citado refere-se ao controle da poluição atmosférica, essencial quando se fala em saúde humana. Atualmente a poluição do ar tem se tornado um problema grave nas cidades e várias medidas estão sendo pensadas para atenuar o dano. Dessa maneira, com a arborização implantada nos espaços livres, ocorrem processos de amenização da poluição do ar, através da absorção, oxigenação, diluição e oxidação, proporcionadas pela folhagem verde (GREY; DENEKE, apud MASCARÓ, 2005). Portanto Fonte: MASCARÓ, 2005 (Modificado pela autora)

quanto mais arborizadas as ruas, calçadas e parques, maior é a 48


absorção das partículas poluentes soltas na atmosfera e mais

Jacobs (2011), pois dizia que tal pensamento fazia o convívio

saudável a cidade se tornará para seus habitantes.

social diminuir extremamente, já que tudo incentivava à

Outro fator relevante para o estudo trata da relação interpessoal e diversidade, sendo de suma importância entender que a relação social nas áreas livres é primordial, pois é ali que se faz presente a, já explicada, vitalidade urbana e é onde as pessoas criam o senso de comunidade entre si. Segundo Gomes (2002), o espaço livre trata essencialmente de uma área com diversidade social, onde os diferentes interesses e expectativas se

alimentam

da

presença

e

interação

das

pessoas,

transpassando o individualismo através da prática da conversa e civilidade. Através do mesmo pensamento, Marcus e Francis (1998) verificam que as pessoas vão aos parques, exatamente por causa desse contato social, já que é possível observar e conhecer outras pessoas ou então frequentar o local para encontrar os amigos e familiares.

individualidade.

Além disso, problemas como,

falhas no

planejamento da cidade geram descuidos cada vez mais frequentes, principalmente quando se tratando de áreas ociosas, ocorrendo

assim,

apropriação

inadequada

por

parte

da

população. Para que isso não aconteça, deve haver um planejamento adequado de tais áreas, além de ser fundamental criar nos espaços públicos atividades sociais diversificadas (GEHL, 2013), de modo a atrair pessoas de diversas idades e características, não excluindo nenhum grupo social. As necessidades dos usuários devem ser bem analisadas e projetadas para obter sucesso nos espaços livres, pois é comum ocorrerem conflitos, onde um invade o espaço do outro, e o que deveria ser um encontro saudável e necessário para todos, acaba se tornando algo inconveniente e um empecilho para as pessoas usufruírem desses locais (FRANCIS, 2003). Sendo assim, a socialização do espaço público não deve ser lançada

Porém, vale relembrar, como já explicado em parágrafos

para um plano secundário, pois essa questão é definidora da

anteriores, que na época do modernismo, defendia-se a

qualidade social urbana.

segregação de usos e a criação de áreas verdes e edifícios isolados, questão esta muito criticada por estudiosos como 49


Após toda a análise feita durante o capítulo acima, sobre as diversas questões relacionando a cidade e as pessoas no contexto dos espaços livres de uso público, fica clara a importância destes no meio urbano, de modo que é um dos itens essenciais para garantir a qualidade de vida da população e vitalidade urbana. Dentre tais espaços livres, será dada uma ênfase ao parque, pois em se tratando de áreas de lazer e descanso para a população, este é o local normalmente mais procurado, já que possui elementos que contemplam as necessidades dos usuários, além de atividades diversas para todas as idades. Portanto, o parque tem funções relevantes no ambiente urbano, que serão estudadas a seguir.

50


3 Parques

51


Este capítulo é composto de três partes, onde a primeira aborda definições de parque através da visão de vários autores, de modo que a compreender os diversos conceitos existentes, e também são apresentas as tipologias dos parques públicos, que gerará uma tabela final que sintetiza as informações pesquisadas. A segunda parte identifica as funções dos parques para a qualidade da vida na cidade contemporânea e, dessa forma, será possível concluir qual o tipo de parque será trabalhado no projeto final desta monografia. A terceira parte aborda a requalificação de parques, onde o primeiro subitem apresenta uma breve definição dos conceitos de requalificação necessários para a compreensão da estratégia de intervenção a ser desenvolvida para a área escolhida como cenário da proposta projetual deste trabalho, bem como são estudadas recomendações para tais intervenções em espaços públicos. Já o segundo subitem apresenta um repertório de parques requalificados ou construídos em áreas que careciam de infraestrutura adequada, estudados como referência projetual, de modo a compreender estes projetos e analisar as funções exercidas por estes parques, seus usos, equipamentos, e como as necessidades dos usuários foram atendidas. Este capítulo resume a temática de espaços livres de uso público ao objeto estudado

Fonte: archdaily.com.br (2014)

através da compreensão de questões mais específicas relacionadas à requalificação e instalação de parques urbanos, colaborando assim, para o adequado desenvolvimento do partido e conceito a serem aplicados na proposta projetual.

52


3.1 Definição e tipologia figura

morfológica é autossuficiente. Além disso, afirmam que o parque

que

é estruturado por vegetação e atende a uma grande diversidade

procuravam construir uma figuração urbana semelhante dos

de solicitações de lazer, tanto culturais quanto esportivas, não

exemplos internacionais, ao contrário do caso europeu, onde o

possuindo necessariamente a destinação voltada para o lazer

parque surge da emergência social de atender às necessidades

contemplativo. Uma explicação equivalente também foi definida

da população urbana do século XIX. (MACEDO e SAKATA,

pela arquiteta paisagista Kliass (2011), que diz que os parques

2010).

urbanos são espaços públicos que possuem dimensões

O

parque

urbano

complementar

ao

brasileiro cenário

surgiu

das

elites

como

uma

emergentes,

consideráveis e predominância de componentes naturais, como Segundo Mascaró (2008), foi o jardim que deu lugar ao parque

cobertura vegetal, destinados à recreação.

público urbano e consequentemente este deu lugar ao sistema de parques e aos corredores verdes. Dessa forma, o autor diz

Por outro lado, Olmsted (apud Scalise, 2002), afirma que

que o parque é um espaço de vários hectares, aberto, onde a

parques são locais com extensão e espaço suficientes e com

vegetação prevalece sobre os materiais inertes, e geralmente é

todas as características necessárias que justifiquem a aplicação

atravessado por vias de circulação, podendo ser de pedestres

a eles daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou

ou então de veículos nos casos de parques maiores, permitindo

paisagem, no seu sentido mais antigo e radical. E ainda de

assim o acesso dos usuários ao diferentes setores do local.

acordo com o Ministério do Meio Ambiente (Governo do Brasil, acesso em 23/02/2018), parque urbano é uma área verde com

Já segundo Macedo e Sakata (2010), a definição de parques no Brasil é abrangente, e nem sempre muito precisa. Sendo assim,

função ecológica, estética e de lazer, e com uma extensão maior que as praças e jardins públicos.

os mesmos consideram parque todo espaço de uso público destinado ao lazer da população, qualquer que seja seu tipo,

Após

as

várias

definições

encontradas,

é

necessário

capaz de introduzir intenções de conservação e cuja estrutura

compreender que existem diversos tipos de espaços livres de 53


uso público, e que vários autores citam e explicam tais tipologias em seus livros. Porém aqui o foco se destinará aos parques, e as análises feitas estão contidas nos livros de Francis (2003), Macedo e Sakata (2010), Marcus e Francis (1998) e Mascaró (2008). Dessa maneira, foi produzida uma tabela indicando o tipo de parque, o autor que o cita, sua definição e as principais características, de modo a comparar as diferentes visões dos autores para cada tipologia. Porém, antes de apresentá-la, é importante deixar claro certas observações. Alguns tipos de parques foram encontrados em mais de um livro, de modo que é possível fazer comparações, já outros apenas foram citados por um único autor, mas apesar disso, todos foram colocados na tabela de modo a facilitar a análise. Segue abaixo a tabela 1:

54


Tabela 1 - Tipologia de parques

55


Fonte: Arquivo Pessoal (2017)

56


3.2 Função dos parques

Figura 29 - Área esportiva e de caminhada - Parque da Juventude (SP)

Os parques exercem diversas funções para a cidade e para sociedade, de modo que isso os torna essenciais para a vitalidade urbana. Segundo Macedo e Sakata (2010), os parques possuem três funções de lazer, sendo elas a cultural, com a presença de museus e exposições, o esportivo, com quadras e até tanques para modelismo de barcos e lazer contemplativo, com visuais da vegetação, das fontes, dos lagos e dos cenários criados. Dentro da função lazer, Francis (2003), destaca que deve haver engajamento passivo, que trata das ações observar,

Fonte: aflalogasperini.com.br

descansar, dormir, conversar, bem como o ativo, que envolve a

Figura 30 - Área de contemplação - Parque Natural Municipal Flor do Ipê (SP)

questão física, com a presença de diversas atividades e esportes, como caminhadas e corridas, sem se descuidar da presença de espaços para todas as faixas etárias, desde playgrounds para as crianças até espaços para idosos, promovendo consequentemente a função de socialização. As figuras a seguir demonstram as funções descritas acima.

Fonte: olhardireto.com.br

57


Figura 31- Área de estar - Parque Güell (Barcelona)

Segundo Francis (2003), para que esses espaços desenvolvam a sua função e possam ser bem utilizados pela população deve haver conforto, com a presença de bancos para sentar, descansar e admirar a paisagem, devem oferecer comida e água para os usuários e também locais com exposição ao sol e com sombra. Tal pensamento está de acordo com Marcus e Francis (1998), que citam que os parques além de promover tais locais de conforto, devem garantir também passeios sinuosos pelas áreas naturais para que as pessoas apreciem melhor o contato

Fonte: traveler.es

com o ambiente. Sobre o esse tema, algumas entrevistas feitas em São Francisco e Londres, são apresentadas por Marcus e

Figura 32 - Recreação infantil - Parque de los pies descalzos (Medellín)

Francis (1998), onde o resultado confirma que a maioria das pessoas procuram os parques para ter contato com a natureza, e as mesmas os descrevem utilizando palavras como vegetação, natureza, relaxamento, conforto, tranquilidade paz, oásis urbano, dentre outras. Já Macedo e Sakata (2010, p. 13) destacam que:

Fonte: viajeros.com

Novas funções foram introduzidas no decorrer do século XX, como as esportivas, as de conservação de recursos naturais, típica dos parques ditos ecológicos, e as de lazer sinestésico dos brinquedos eletrônicos, mecânicos e dos espaços cenográficos dos parques temáticos. Essas funções requalificam os parques e novas denominações, novos adjetivos, são atribuídos a eles como, por exemplo, parque ecológico e parque temático.

58


Sendo assim, existe também a função ecológica, com o objetivo

3.3 Requalificação de parques

de preservar a vegetação nativa dentro do meio urbano, e criar atividades relacionadas com a educação ambiental no espaço dos parques, de modo que ocorra a conscientização ecológica

3.3.1 Definição e recomendações para intervenções em parques

(Macedo e Sakata, 2010), questão esta também citada por

A Carta de Lisboa (1995, p. 2), sugere que a requalificação

Marcus e Francis (1998), ressaltando que o tema vem ganhando

urbana “aplica-se sobretudo a locais funcionais da “habitação”;

força nos debates sobre parques, e que estes vem sendo

tratam-se de operações destinadas a tornar a dar uma

considerados como um oásis de vegetação em um deserto de

actividade adaptada a esse local e no contexto actual.” Já

concreto.

segundo Moura et al. (2006, p.20):

Dessa forma, fica claro que as funções são benéficas e necessárias para o ser humano, meio ambiente e para toda a cidade, e que a criação de parques públicos é fundamental para toda a sociedade urbana.

a requalificação urbana é sobretudo um instrumento para a melhoria das condições de vida da população, promovendo a construção e recuperação de equipamentos e infra-estruturas e a valorização do espaço público com medidas de dinamização social e econômica. Procura a (re) introdução de qualidades urbanas, de acessibilidade ou centralidade a uma determinada área [...]

A partir do estudo feito acima, pode-se afirmar que o Parque da

Além disso, com seu caráter mobilizador e estratégico, promove

Prainha, objeto deste estudo de intervenção, é um parque

modificações culturais, paisagísticas e sociais, bem como

urbano, pois possui ligação com o sistema de transporte público,

mudanças no valor econômico da região, além de sempre

sua frequência de utilização é diária ou semanal e está envolvido

estabelecer novos padrões de organização e utilização da área

pelo tecido urbano. Além do mais, possui grande importância

(Moura et al., 2006).

para toda a cidade devido aos seus eventos de médio e grande

Já outra definição trazia por Mendes (2013, p.35) diz que a

porte, com destaque para a Festa da Penha, que acontece

requalificação “visa restituir a qualidade a um determinado

anualmente e reúne milhares de fiéis na região.

espaço a partir da melhoria das condições físicas dos edifícios 59


e/ou dos espaços urbanos, podendo ser alterada a função

for Public Spaces6, quatro qualidades são essenciais para tornar

primitiva de forma a dar resposta às exigências da época”. Ainda

o espaço público bem sucedido.

complementando as ideia citadas acima, Sotratti (2015) cita que: A requalificação apresenta propostas alicerçadas na recuperação e na valorização das origens e das verdadeiras representações sociais, humanizando e controlando o sistema de exclusão das cidades contemporâneas, e ao mesmo tempo, reinventando identidades baseadas em produções socioculturais locais.

Dito isso, pode-se afirmar que a requalificação de parques afeta várias questões relevantes, como economia, sociedade e paisagem, sendo seu principal objetivo, valorizar as qualidades do local em que se insere, resgatando sempre seu potencial histórico-cultural, de modo a criar uma identidade local. Além disso, o projeto deve se integrar com a cidade e a população, trazendo novos usos, diversidades de funções, e garantindo a melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Após o que foi explicado acima, vale analisar algumas recomendações que devem ser levadas em conta para gerar uma intervenção de qualidade em parques. Para isso, utilizaramse guias que trazem fundamentos para projetar áreas livres de uso público.

1. ATIVO Trata do dinamismo que as atividades existentes geram no local, pois quando não se oferece algo atrativo para as pessoas, então o espaço torna-se inutilizado. Sendo assim, deve haver diversas formas

e Santiago (2015), baseados nos princípios e práticas da Project

uso

do

ambiente,

com

múltiplas

atividades

acontecendo, de modo que permitam a permanência de usuários de variadas idades durante o dia todo. 2. ACESSÍVEL Aborda o fato de que pessoas de todas as idades e condições, como por exemplo, as que possuem dificuldades de locomoção, consigam chegar ao espaço e circular livremente nele. Trata também das conexões físicas e visuais existentes para o espaço público, levando em consideração a facilidade de acesso, sua visibilidade no ambiente, a forte presença do sistema de transporte público e também as características das ruas do 6

Segundo o “Guia de Espaços Públicos”, produzido por Heemann

de

Organização sem fins lucrativos de Nova York, que ajuda pessoas a criar e

manter espaços públicos com o objetivo de construir comunidades mais fortes. Fonte: placemaking.org.br

60


entorno, já que estas se tornam mais seguras e interessantes

Figura 33 - O que faz um espaço público ser bem sucedido

com a presença de lojas e cafés, por exemplo, o que consequentemente atrai mais pessoas. 3. SOCIÁVEL Já quanto à questão da sociabilidade, é um item de extrema importância, pois gera o encontro entre amigos, e inclusive incentiva o surgimento de novas amizades, portanto traz vitalidade ao local e cria a sensação de pertencimento ao espaço público. 4. CONFORTÁVEL Este item diz que o espaço público deve possuir características convidativas, como por exemplo, lugares para a pessoa se sentar, visuais agradáveis e deve incluir também percepções sobre segurança e limpeza, de modo que tornem o ambiente mais atraente. É dessa maneira que o espaço torna-se confortável para seus usuários. Fonte: placemaking.org.br, 2015 (Modificado pela autora)

A seguir, a figura 33 apresenta os quatro itens essenciais nas áreas públicas e suas respectivas características:

61


A seguir são apresentadas imagens de espaços públicos bem Já o guia "Fundamentos para Projetar Espaços Públicos Confortáveis", criado pelos arquitetos Martínez, Ciriquián e

sucedidos, que seguem os elementos descritos nos guias analisados:

Moure (2013), apresenta os fatores determinantes para o conforto nas áreas livres públicas, o que consequentemente atrai

Figura 35 - Aarhus, Dinamarca

usuários e gera prosperidade ao local. Abaixo seguem as condicionantes estabelecidas para gerar conforto: Figura 34 - Fatores que geram conforto no espaço público Condições Térmicas

O espaço urbano deve garantir conforto térmico para seus usuários e qualidade ambiental

Escala Urbana

Deve haver proporção entre a altura das edificações e a escala do espaço urbano

Ocupação do Espaço

Trata das atividades realizadas no espaço público, de modo que garantam diversidade de usos e segurança para seus usuários

Paisagem Urbana

O ambiente torna-se confortável através da criação de visuais agradáveis e de focos de atração

Segurança

Deve-se promover a transparência no espaço público, garantindo assim a visibilidade natural

Condições Acústicas

Trata dos ruídos gerados por veículos e que devem ser amenizados com barreiras vegetais e pavimentos com materiais absorventes

Qualidade do Ar

Elemento este ligado ao conforto e à saúde, que pode ser melhorado com a implantação de arborização e controle na utilização de automóveis

Ergonomia

Trata da correta aplicação das medidas dos mobiliários urbanos e no próprio desenho do espaço público

Fonte: archdaily.com.br, 2013 (Modificado pela autora)

Fonte: e-dublin.com.br (2015) Figura 36 - Praça de Trafalgar, Londres, Inglaterra

Fonte: archdaily.com.br (2013)

62


Figura 37 - Bradford City Park - Inglaterra

Fonte: discoversociety.org (2014)

Figura 38 - Union Square - Nova York, EUA

Fonte: kid101.com (2018)

Figura 39 - Burnside Park - Providence, EUA

Fonte: goprovidence.com

Figura 40 - Espaço público de HafenCity - Alemanha

Fonte: hafencity.com

63


3.3.2 Referênciais Projetuais

relevante bem como problemas pertinentes relacionados à

A escolha dos parques urbanos analisados neste trabalho

questão ambiental, social e de degradação da área.

seguiu um critério de seleção feito de uma maneira simples e

Este processo resultou na identificação de três parques urbanos,

objetiva.

seriam

sendo dois exemplos brasileiros, e um estrangeiro. O primeiro

estudados parques localizados em área de importância histórica,

trata de um parque que já era existente, mas que precisou sofrer

cultural ou paisagística para a cidade e para a população, de

um processo de requalificação devido ao grau de degradação do

modo a analisar possíveis compatibilidades com o sítio da

local. O segundo não existia, porém foi criado em uma área de

Prainha, que será estudado neste trabalho. Sendo assim,

interesse histórico, que se encontrava descaracterizada e

utilizaram-se para a pesquisa, o livro “Desenhando paisagens,

depredada, com o objetivo de levar diversidade de usos e

moldando uma profissão” de Rosa Kliass e “Parques Urbanos no

dinamismo para a região. Já o terceiro exemplo, trata de um

Brasil” de Silvio Soares Macedo e Francine Sakata, além de

local público de extrema importância para a população, porém

buscas online.

deteriorado e escasso em infraestrutura, o que gerou uma

Primeiramente

foi

definido

que

apenas

A partir dos resultados encontrados, foram selecionados os espaços públicos com afinidade à realidade sócio espacial e cultural da Prainha. Destes, foram verificados os problemas da área em que eles se encontram, e o porquê da necessidade de

barreira dividindo a cidade. Com isso, neste último exemplo, pensou-se na criação de um parque e de outras áreas livres no próprio local, de modo a trazer qualidade à região e conexão com a cidade.

requalificação, contribuindo assim para um melhor entendimento sobre a situação da região e sobre quais eram as demandas dos usuários e da própria cidade para aquele ambiente em que se inserem os parques. Com esta delimitação, a busca foi reduzida para parques que abrangem contexto histórico e cultural 64


65 Figura 41 - Parque do AbaetĂŠ, Bahia Fonte: pt.wikipedia.org (2012)


Tabela 2-Ficha Técnica do Parque do Abaeté

Parque do Abaeté Autor

Rosa Grena Kliass e Luciano Fiaschi

Local

Salvador, BA - Brasil

Ano

1992

Área

4.000.000m², sendo 2.500.000m² urbanizados

Atividades

Esporte, contemplação, eventos culturais, recração infantil, atividades tradicionais

Fontes

preservando a vegetação nativa e garantindo um tratamento paisagístico

e

inserção

de

equipamentos

urbanísticos

adequados à tradição local e memória popular (MOURA, 1995). O entorno da lagoa foi conservado e a intervenção ocorreu afastada das margens, em áreas próximas à cidade, já que

AU Urbanismo (1995) Macedo; Sakata (2010) Kliass (2011)

apresentavam maior degradação pelo uso intenso (MACEDO; SAKATA, 2010 e KLIASS, 2011). Dessa forma, foi criado um núcleo central (figura 42) com equipamentos turísticos e uma praça de eventos (figura 43), circundada com áreas gramadas e percursos sombreados, incluindo a vegetação nativa, que

Fonte: Elaboração da autora (2017)

garantem locais de encontro e descanso para os usuários, assim

O parque Abaeté (figura 41) localiza-se em Salvador/BA, e

como de contemplação da paisagem, já que é possível ter uma

segundo o artigo publicado na revista AU por Moura (1995), foi

vista para o mar, as dunas e para a cidade de Salvador. Da

declarado parque público devido a sua área de interesse, pois se

mesma forma, encontram-se outras atrações como a Casa de

situa bem próximo a uma lagoa de extrema importância para os

Música

ritos afro-brasileiros, e possui em seu entorno dunas que

equipamentos esportivos, como campo de futebol e instalações

alcançam até 40 metros de altura, sendo estas, características

de ginástica, e áreas de recreação infantil, com presença de

naturais e culturais bem marcantes na região. Porém no final da

playground. (AU Urbanismo, 1995; KLIASS, 2011).

da

Bahia,

destinada

às

atividades

culturais,

década de 80, a área estava sofrendo processo de degradação, com poluição na lagoa e ocupação irregular das dunas, o que levou a se pensar numa requalificação daquele ambiente, 66


Figura 42 - Vista de cima do núcleo central do parque

Outro ponto relevante é que a tradição das lavadeiras foi valorizada com a criação da Casa das Lavadeiras, que possui todas as instalações necessárias, como tanques e sanitários, para garantir o conforto das mulheres que utilizam o local (KLIASS, 2011). Além disso, o parque conta com uma infraestrutura completa, com a presença de lanchonetes, quiosques, lojas, estacionamento, lixeiras, bancos e demais equipamentos que atendem as necessidades dos usuários (MACEDO; SAKATA, 2010). As descrições acima sugerem que o Parque do Abaeté cumpre

Fonte: vivasalvador.com.br

com sua função em relação à cidade e sociedade, pois além de Figura 43-Praça de eventos

proporcionar atividades culturais, esportivas e de lazer para todas as idades, características estas essenciais para assegurar vitalidade ao espaço urbano, também garantiu a preservação do ambiente

natural

ali

existente.

Ademais,

o

projeto

de

requalificação respeitou e valorizou as tradições religiosas locais, de modo que o símbolo da cultura baiana perdura no parque até os dias de hoje. Segue ao lado a planta de implantação para a melhor compreensão do projeto, e um croqui do parque do Abaeté: Fonte: vivasalvador.com.br

67


Figura 44 - Planta de Implantação Figura 46-Croqui do parque

Fonte: KLIASS, 2011 Fonte: lfpaisagismo.com.br Figura 45 - Implantação ampliada

Fonte: KLIASS, 2011 (Modificado pela autora)

68


69 Figura 47 - Fortaleza de São José, Macapá Fonte: vitruvius.com.br (2007)


Tabela 3-Ficha Técnica do Parque do Forte

Parque do Forte - Complexo Fortaleza de São José

requalificar a área em seu entorno, criando assim um parque com projeto paisagístico adequado ao local, sem conflitar com

Autor

Rosa Grena Kliass

tal monumento, e cuja principal preocupação era integrar o rio, a

Local

Macapá, AP - Brasil

fortaleza e a cidade (KLIASS, 2011).

Ano

2004

O projeto recuperou a vegetação de uma área antes asfaltada,

Área

120.000m²

que era utilizada como estacionamento, e criou-se ali um

Atividades Passeio, eventos culturais, recreação infantil Fontes

vitruvius.com.br (2007) Fundação Joaquim Nabuco (2014) Kliass (2011)

anfiteatro para apresentações ao ar livre (figura 48). O acesso ao forte, que se dá por essa esplanada de eventos, foi desenhado de modo a permitir a visualização dos restos arqueológicos, bem como foram concebidos dois espelhos

Fonte: Elaboração da autora (2017)

d’água que seguem o desenho das construções históricas que

À beira do rio Amazonas, encontra-se a Fortaleza de São José,

existiam no local, de modo a fazer referência às mesmas

indicada hoje como cartão postal da cidade do Macapá (figura

(KLIASS, 2011). Do outro lado, em uma zona mais baixa,

47), construída no século XVIII e tombada pelo IPHAN em 1950

respeitando sempre as visuais da edificação principal, foi

(MORIM, 2014). Apesar da importância histórica do local para a

projetada uma área de recreação infantil que traz como ideia

cidade, com o crescimento urbano e novas construções que

principal a água, em homenagem ao rio Amazonas (figuras 49,

surgiram a partir do século XX, o forte foi perdendo a sua

50 e 51). Nesse pequeno parque foram utilizadas cores e

identidade e valor histórico, situação esta agravada pela

também elementos lúdicos, de modo a tornar o espaço mais

ocupação inadequada da população em áreas de remanescente

vivo, estimulando assim os jogos das crianças (KLIASS, 2007).

arqueológico, extinguindo assim, a relação da edificação com a cidade. Com isso, no ano de 1999, o monumento passou por

Outro item concebido no projeto trata de um passeio às margens

uma restauração e ao mesmo tempo houve a proposta de

do Amazonas (figuras 52, 53 e 54), designado aos pedestres e 70


ciclistas, potencializando assim a conexão da população com o

Figura 49-Parque infantil

rio, bem como interligando as áreas construídas no Parque do Forte (KLIASS, 2011). Sendo assim, percebe-se que todas as características do projeto conversam entre si e respeitam a questão histórica do local, sem ignorar as necessidades da população, que agora possui uma área pública de qualidade para as atividades culturais e de lazer. A seguir são apresentadas as figuras que retratam as descrições do parque, bem como sua planta de implantação (figura 55) e alguns croquis para auxiliar no melhor entendimento do projeto. Figura 48 - Anfiteatro e espelhos d’água Fonte: vitruvius.com.br

Figura 50 - Croqui dos jogos d'água

Figura 51- Croqui da área infantil

Fonte: KLIASS, 2011

Fonte: KLIASS, 2011

Fonte: youtube.com, 2016 (MegaView Pro)

71


Figura 52-Passeio beira-rio

Figura 55-Planta de implantação

Fonte: vitruvius.com.br

Fonte: KLIASS, 2011

Figura 53 - Croqui do acesso ao passeio beira-rio

Figura 54 - Passeio beira-rio

Fonte: KLIASS, 2011

Fonte: vitruvius.com.br

72


73 Figura 56 - The Voronez Sea Fonte: bustler.net (2014)


Tabela 4 - Ficha Técnica do Voronzh Sea

The Voronezh Sea

assim como a falta de infraestrutura adequada para a sociedade. Portanto, em 2014, o Departamento de Ecologia e Recursos

Autor

BudCud

Naturais promoveu uma competição com o objetivo de

Local

Voronezh, Rússia

desenvolver

Ano

2014

reservatório, bem como estimular o desenvolvimento urbano e

Área

157 km²

Atividades

Recreação, lazer, contemplação, esportiva, cultural

Dessa forma, o vencedor foi o escritório polonês BudCup, que

bustler.net (2014) ecosistemaurbano.com (2014) budcud.org (2014) arquitecturaviva.com (2015)

recuperará o reservatório, mas que também irá integrá-lo na

Fontes

estratégias

de

limpeza

e

recuperação

do

natural na região (Bustler Editors, 2014).

em sua proposta prevê uma ação multifacetada que não apenas

estrutura da cidade. O projeto conta com a criação de espaços públicos

multifuncionais,

acessíveis

e

atraentes

para

a

Fonte: Elaboração da autora (2018)

população, bem como traz soluções sustentáveis que criam

The Voronezh Sea (figura 56) é o nome como ficou conhecido o

assim um valor ecológico no local (BudCud, 2014). As figuras

reservatório de água construído no centro da cidade de

que seguem abaixo são esquemas que demonstram alguns dos

Voronezh, na Rússia, em 1972, sendo uma área de recreação

meios utilizados na recuperação do reservatório.

muito utilizada pela população. Porém, em 1992, o local passou a ser abandonado pelos seus usuários devido à intensa poluição das águas e do cais, bem como perdeu sua conexão com a cidade, criando-se assim uma barreira física e visual na região (Bustler Editors, 2014; Arquitectura Viva, 2015). Outros fatores que motivaram a evasão das pessoas daquele local foram a ausência de paisagens atraentes e de mobiliários urbanos, 74


Figura 57 - Plataformas flutuantes

Figura 59 - Esquema demonstrando a proposta de recuperação do rio

Fonte: ecosistemaurbano.com

Figura 58 - Plataformas flutuantes Fonte: budcud.org

Segundo o escritório BudCup (2014), como a poluição do cais e do reservatório estava em nível crítico, bloqueando inclusive o desenvolvimento da fauna e da flora, decidiu-se que o processo de purificação do tanque e a introdução de funções públicas seria dividido em três etapas:

- Estágio de teste (2015-2017): ocorrerão testes em nove pontos escolhidos e haverá a utilização de eco tecnologias para Fonte: ecosistemaurbano.com

75


purificar a água e inibir a entrada de agro poluentes no reservatório;

- Segunda etapa (2017-2022): o fundo do reservatório será mecanicamente aprofundado e limpo, e o solo retirado do fundo será utilizado para remodelar e ampliar a orla. Além disso, ocorrerá a criação de um parque paisagístico;

- Terceira etapa (2022-2025): o cais ecológico será o novo centro multifuncional da cidade de Voronez. A área passa a ser chamada de "mar de mil cais" e reconstruirá a estrutura da cidade, conectando de forma atraente e equilibrada ambos lados do reservatório.

Com isso, o projeto se tornará o centro de encontro e lazer da

1. Testes no cais, revitalização ecológica e espacial, locais compostos de cais de madeira flutuantes, jardins ecológicos e bóias ecológicas

1. Aprofundando

2.Pesquisa social e ecológica do litoral, para encontrar todos os conflitos e fraquezas

3. Criação do parque paisagístico

2. Revitalização ecológica do litoral em parceria pública e privada, baseada nas conclusões do testes

1. Mar limpo e sustentável (ecológica, econômica e socialmente). Área agora denominada “Mar de mil cais”, novo ícone da cidade

população, garantindo melhorias tanto na qualidade de vida dos habitantes, como no próprio tecido da cidade. Ao lado segue a figura 60, que apresenta as etapas de recuperação citadas acima, para o melhor entendimento do projeto.

Figura 60 - Passos de recuperação do rio Voronez Fonte: budcud.org (Modificado pela autora)

76


As figuras abaixo apresentam os diversos usos que o local

Figura 62 - Esquema dos usos

oferecerá aos seus usuários, dentre eles, plataformas para banho de sol, mercados, áreas de recreação em contato direto com a água, áreas esportivas, portos para caiaques e lanches, e muitos outros. Figura 61 - Usos propostos para o local

Fonte: ecosistemaurbano.com

Figura 63 - Área de banhistas e lazer

Figura 64 - Área esportiva e de lazer

Fonte: budcud.org

Fonte: budcud.org

Fonte: budcud.org

77


Figura 65 - Mercado e áreas de lazer

Figura 67 - Área cultural e de lazer

Fonte: arquitecturaviva.com

Fonte: ecosistemaurbano.com

Figura 66 - Área de descanso e lazer

Figura 68 - Cais de recreação e porto para lanchas e caiaques

Fonte: ecosistemaurbano.com

Fonte: budcud.org

78


Figura 69 - Camadas do novo desenvolvimento

adequados e houve a valorização do ambiente natural, atendendo assim as necessidades do público. Após as análises das intervenções acima, pode-se concluir que cada uma, apesar de diferentes, possui o objetivo de reestabelecer a qualidade do espaço público, trazendo dessa maneira novos usos, vivências e infraestrutura ao local, de modo a atrair as pessoas e gerar um ambiente dinâmico, vivo, com lazer e relações sociais. Além disso, são mudanças que atingem não somente o bem estar dos usuários, mas também a própria cidade, pois como já estudado nos capítulos anteriores, consequentemente impacta na economia, sustentabilidade, segurança, mobilidade, dentre outros aspectos urbanos. A seguir será apresentada uma tabela síntese contendo as potencialidades de cada parque trazido como exemplo, suas

Fonte: ecosistemaurbano.com

principais fragilidades e as soluções pra tais adversidades, de

Com isso, pode-se perceber que a intervenção foi pensada para

modo que sirvam de inspiração para o projeto final deste

além da purificação das águas, contanto com estratégias de

trabalho de conclusão de curso.

integração entre o mar, a cidade, e seus habitantes, assim como trouxeram soluções sustentáveis que criaram na área um valor ecológico de extrema importância. Além disso, foram inseridos diversos usos para todas as idades, equipamentos urbanos 79


Tabela 5 – Síntese da análise de cada parque Projetos analisados

Potencialidades

Fragilidades/Problemas

Área degradada, poluição da lagoa, ocupação irregular das dunas

Tratamento paisagístico; preservação da vegetaçao nativa e da lagoa; inserção de equipamentos urbanos adequados; criação de áreas de contemplação e descanso, lazer para todas as idades, incluindo áreas esportivas e de playground; valorização da cultura local

Perda da identidade e valor histórico, ocupação inadequada da população, perda da relação do forte com a cidade

Projeto paisagístico adequado; integração entre o rio, o forte e a cidade; criação de áreas de lazer e recreação para todas as idades; valorização das visuais da edificação; inserção de infraetrutura adequada

Poluiçã crítica das águas, o mar tornouse uma barreira que divide a cidade, ausência de infraestrutura e mobiliário adequado

Limpeza do mar e do cais; uso de tecnologia sustentável para criar um valor ecológico no local; colocação do meio de transporte aquático; criação de espaços públicos multifuncionais, acessíveis e atraentes para todas as idades

Ambiente natural: lagoa e dunas Parque do Abaeté

Questão cultural:ritos africanos e lavadeiras

Soluções de projeto

Ambiente natural: beira do rio Amazonas Parque do Forte

Questão histórica: Fortaleza de São José (séc. XVIII) e remanescentes arqueológicos

Ambiente natural: beira do mar Voronezh

The Voroneh Sea

Questão cultural: antigamente muito utilizada pela população para recreação

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

80


4 diagnรณstico da รกrea de estudo

81


Este capítulo apresenta em sua primeira parte a localização e delimitação da área a ser estudada, situada numa região reconhecida por sua relevância histórico-cultural, considerando a quantidade de bens tombados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que ali se encontram. A segunda parte apresenta a contextualização histórica do sítio em estudo, de modo a retratar os principais acontecimentos da região, bem como sua importância para o município. A terceira traz informações sobre o perfil socioeconômico do bairro, compreendendo melhor o contexto em que a área em estudo se Fonte: vilavelha.es.gov.br (2013)

situa. O quarto item aborda a morfologia urbana, descrevendo os elementos viários, gabaritos, uso do solo, equipamentos urbanos, dentre outros elementos. Já o quinto item apresenta as condicionantes ambientais, que possuem uma grande relevância para a tomada de decisões no projeto final, portanto apresenta topografia, cortes, a marcação das áreas de preservação e demais

pontos

essenciais

de

serem

analisados. 82


memória local. A região possui também um rico acervo histórico

4.1 Localização da área de estudo

compreendido pelo Convento da Penha, Casa da Memória, O Sítio Histórico da Prainha está localizado no município de Vila Velha, no estado do Espírito Santo e apesar de ser conhecida pela população como um bairro, de acordo com a prefeitura a região está situada no bairro denominado Centro.

Museu Homero Massena, Casa Amarela da Família Shalders, Igreja do Rosário, Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, e Gruta Frei Pedro Palácios, todos pertencentes ao sítio histórico, que inclui também os morros do

A área de estudo deste trabalho abrange os morros do Convento da Penha, da Ucharia, do Jaburuna e morro do Cruzeiro da Prainha, limitando-se ao norte pela Baía de Vitória e ao sul pela avenida Castelo Branco. A escolha da Prainha para a proposta de intervenção foi definida primeiramente por já possuir uma área de parque que atualmente está em condições precárias e

Convento da Penha, da Ucharia e do Cruzeiro. Ao lado, segue o mapa de localização do bairro Centro e a poligonal do Sítio Histórico, definida pela Prefeitura Municipal de Vila Velha (mapa 2). Logo após será apresentado um mapa com a delimitação da área de estudo e de intervenção final, bem como algumas imagens dos bens históricos citados acima.

que será utilizado na intervenção, e também por reunir um potencial físico espacial e raro na área central do município para apropriação de um espaço público destinado ao uso da população. Além disso, possui uma característica singular de estar inserida em sítio histórico que, como dito anteriormente, faz limite com a baía de Vitória, onde até a década de 90 existia o transporte aquaviário que contribuía para reduzir as distâncias e aumentar a relação da comunidade “canela verde”

7

com a

7

Nome utilizado para todo cidadão nascido no município de Vila Velha (Morro do Moreno, 2014)

83


Mapa 1- Localização da Prainha, Vila Velha (ES)

Fonte: Elaborado pela autora a partir de IJSN e PMVV (2018)

84


Mapa 2- ร rea de estudo

Figura 71 - Convento da penha

Fonte: folhavitoria.com.br (2018) Figura 72 - Casa da Memรณria Fonte: Elaborado pela autora a partir de PMVV (2018)

Figura 70 - Igreja do Rosรกrio

Fonte: portal.iphan

Fonte: vilavelha.es.gov.br (2013)

85


Figura 73 - Museu Homero Massena

Fonte: vilavelha.es.gov.br (2016) Figura 74 - Casa Amarela

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

Figura 75 - Gruta Frei Pedro Palรกcios

Fonte: Arquivo pessoal (2017) Figura 76-Marinha do Brasil e Morro do Jaburuna

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

86


4.2 Contextualização histórica do sítio

transformações espaciais, incluindo quatro aterros ao longo dos anos, que foram feitos de modo a suprir as necessidades que o

Vila Velha é o munícipio mais antigo do estado do Espírito Santo, onde em 1535 desembarcavam em sua enseada, os portugueses, dentre eles Vasco Fernandes Coutinho, donatário

local demandava, o que acabou por descaracterizar a forma original da Prainha. Abaixo segue um mapa com a localização de tais aterros:

da Capitania do Espírito Santo e responsável pela colonização da mesma (VIEIRA, 2012). A construção da Igreja Nossa

Mapa 3 – Evolução da ocupação do solo

Senhora do Rosário foi o marco dessa colonização, tombada em 1950 pelo IPHAN devido à sua importância histórica (IPHAN, acesso em 21/11/2017). Anos mais tarde, em 1558, o Frei Francisco Pedro Palácios foi responsável por construir em um penhasco, a 154 metros de altitude, um dos santuários mais antigos do Brasil, o Convento da Nossa Senhora da Penha (VIEIRA, 2012). Tombado pelo IPHAN em 1943, hoje é o maior símbolo religioso do estado, bem como um dos principais cartões postais do Espírito Santo, visitado não somente pela população local, mas também por devotos e turistas de todo o Brasil (IPHAN, acesso em 1º Aterro

Ocupações do séc. XVI XVII

2º Aterro

Ocupações do séc. XVIII e XIX

Localizada entre morros e limitada pelo mar, a ocupação da

3º Aterro

Ocupações do séc. XX

Prainha de Vila Velha foi se expandindo para o interior, e

4º Aterro

Construções históricas

21/11/2017).

conforme a cidade crescia, o local foi sofrendo diversas

Fonte: Calmon, Nunes, De Nardi, Almeida (2015)

87


Primeiro aterro (1912): feito para aumentar o raio de

4.3 Perfil Socioeconômico do Bairro Centro

curvatura da linha de bondes na época, invadindo assim o mar da Prainha 

Segundo aterro (déc. 50): feito para implantar a Escola de Aprendizes de Marinheiros

Terceiro aterro (entre 1951 e 1954): feito para a construção da Av. Beira Mar e quebra mar

Quarto aterro (1970): feito para a construção do Parque da Prainha

As demais transformações da região também incluem o

Para esta análise, levou-se em consideração o contexto do bairro Centro como um todo, sendo consultado o documento “Perfil Socioeconômico por Bairros” (2013), disponibilizado pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão (SEMPLA), produzido com base nas informações do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo tal documento, o bairro conta com uma população de 7.880 habitantes, com a faixa etária de acordo com o gráfico 1:

acréscimo de novas construções com relevância histórico-

Gráfico 1 – Faixa etária da população

cultural, sendo que a Prainha conta atualmente com uma grande

Faixa Etária

quantidade de bens tombados pelo IPHAN. Graças à relevância

15,4%

4,1% 10,0%

histórica e religiosa do local, em 2015 a Prefeitura de Vila Velha

0 a 4 anos

sancionou uma lei que transformou a Prainha em Sítio Histórico,

5 a 14 anos

cujo objetivo é de preservar o patrimônio cultural, religioso,

15 a 64 anos

histórico e paisagístico da região (PMVV, 2015), além de

65 anos ou mais 70,4%

incentivar também o crescimento do turismo na região (Rádio CBN Vitória, 2015).

Fonte: Elaborado pela autora a partir do IBGE (2010)

Portanto, ao analisar o gráfico, percebe-se que o bairro possui uma quantidade muito baixa de crianças, sendo a população predominantemente jovem e adulta. 88


Quanto aos domicílios particulares permanentes ocupados,

4.4 Análise Morfológica

obteve-se um total de 2.719, sendo que dentre eles 66,6% são próprios, 27,1% são alugados, 6% são cedidos e 0,3% possuem

4.4.1 Zoneamento Urbano

outras formas de ocupação. É importante ressaltar também que

De acordo com o artigo 69º do Plano Diretor Municipal (PDM) de

a média de habitantes por moradia é de 2,9.

Vila Velha (Lei nº 4575, de 26 de Novembro de 2007), “o

Já quanto ao rendimento nominal médio mensal de pessoas com dez anos ou mais, o documento da SEMPLA apresenta o valor de R$2280,60. O gráfico 2 a seguir apresenta em porcentagem a quantidade de pessoas que recebem até um salário mínimo, mais de um salário mínimo ou que não possuem rendimentos, levando em consideração um salário mínimo de R$510,00. Gráfico 2 – Quantidade de pessoas e sua classe de rendimento nominal médio mensal Classe de rendimento médio mensal

zoneamento urbano institui as regras de uso e ocupação do solo urbano para cada uma das zonas criadas, com o objetivo de consolidar e otimizar a infraestrutura básica instalada de maneira a evitar vazios urbanos e a expansão desnecessária da malha urbana”. Segundo a Minuta de Projeto de Lei Complementar n° 040 de 20 de dezembro de 2017 (revisão decenal da Lei Municipal nº 4575/2007), o bairro Centro possui seis zonas diferentes, porém a área de estudo da Prainha possui apenas quatro, sendo elas a Zona de Especial Interesse Ambiental (ZEIA B), Zona de Especial Interesse Cultural (ZEIC A), Zona de Ocupação Restrita

11,8% 29,6%

Até 1 salário mínimo

58,6%

Mais de 1 salário mínimo Sem rendimentos

(ZOR D) e Zona de Especial Interesse Público (ZEIP), apresentadas no mapa 4 abaixo e descritas logo em seguida na tabela 4.

Fonte: Elaborado pela autora a partir do IBGE (2010)

89


Mapa 4 – Zoneamento Urbano na Prainha

Legenda ZEIA B ZEIC A ZOR D ZEIP Centro Limite da área de estudo Fonte: Elaborado pela autora a partir de Google Earth e PDMVV (2018)

90


Tabela 6 - Zoneamento Urbano

Art. 90

Constitui-se pelos vazios urbanos ou áreas próximas Parcelas do território municipal, de domínio público ou a remanescentes ambientais, áreas de interesse privado, onde é fundamental a proteção e a ambiental, orla municipal ou áreas com baixa ZEIA's Art. 84 ZOR's conservação dos recursos naturais, com sua adequada infraestrutura existente e sem potencial para sua utilização visando à preservação do meio ambiente. qualificação, observando-se as condições ambientais a serem protegidas.

Art. 92 §2

ZOR D

Parâmetros urbanísticos: I - Coeficiente de Aproveitamento Mínimo: 0,2; II - Coeficiente de Aproveitamento Básico: 1,0; III - Taxa de Ocupação Máxima: 60%; IV - Taxa de Permeabilidade Mínima: 15%; V - Gabarito: 2 (dois) Pavimentos; VI - Altura da Edificação: limitada em 8 (oito) metros; VII - Altura Máxima da Edificação: limitada por interferência em cones aeroviários, visual do Convento da Penha, Carta Náutica Nº 1401 e Estudos de Sombreamento, o que for menor; VIII - Graus de Impacto Permitidos: 1, 2 e 3.

ZEIP

Áreas do território municipal, de propriedade ou interesse público, onde é fundamental a manutenção e qualificação dos espaços livres de uso público ou voltados à implantação de equipamentos públicos.

ZEIA B

Parcelas do território municipal, de domínio público ou privado, com características ambientais passíveis de estudos para definição de novas Zonas de Especial Interesse Ambiental A – ZEIA-A e, no entorno das Art. 86 áreas definidas como tal, deverão ter características de ocupação urbanística restrita e com uso predominantemente residencial unifamiliar ou multifamiliar com baixas densidades.

Art. 93

Áreas destinadas à proteção do patrimônio histórico, ZEIC's cultural e natural, com o objetivo de garantir a proteção e valorização dos bens existentes.

Art. 95

Parâmetros urbanísticos: I - Coeficiente de Aproveitamento Mínimo: 0,2; II - Coeficiente de Aproveitamento Básico: 1,5; III - Taxa de Ocupação Máxima: 70%; IV - Taxa de Permeabilidade Mínima: 10%; V - Gabarito: 2 (dois) Pavimentos; VI - Altura da Edificação: limitada em 8 (oito) metros; VII - Altura Máxima da Edificação: limitada por interferência em cones aeroviários e visual do Convento da Penha, o que for menor; VIII - Graus de Impacto Permitidos: 1, 2 e3

ZEIC A

Art. 100

Legenda ZEIA B

ZOR D

ZEIC A

ZEIP

Fonte: Elaborado pela autora a partir de PDMVV (2018)

91


4.4.2 Uso e Ocupação do Solo O estudo de uso e ocupação do solo é de extrema importância

Abaixo segue a tabela 7 com as áreas e porcentagens do uso do

para o bom entendimento das atividades que acontecem na

solo na região, e logo em seguida serão apresentadas imagens

região, bem como para compreender como o espaço está sendo

é apresentado o mapa 5, produzido levando em consideração o

utilizado,

conclusões

Artigo 60º da Minuta de Projeto de Lei Complementar n° 040 de

melhores

20 de dezembro de 2017, que estabelece os tipos de usos

essenciais

o

que que

posteriormente serão

permite

empregadas

para

tirar gerar

propostas de intervenção. Ao analisar as ocupações do solo, foi possível perceber que o

existentes. Tabela 7 – Uso e ocupação do solo

parque da Prainha, local que receberá a intervenção, possui uma área significativa, ocupando 16,06% da região estudada, porém quanto aos tipos de uso, a Prainha é composta predominantemente pelo residencial, seguido do uso misto, sendo que este está adensado principalmente em frente às praças e nas imediações do acesso ao Convento da Penha, onde é possível encontrar especialmente produtos artesanais. É importante destacar também, que o terceiro tipo de uso com maior área é o institucional, compreendido por relevantes edificações como a Câmara Municipal de Vila Velha, Delegacia da Mulher, Correios, Posto da Polícia Militar, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 38º Batalhão de Infantaria, Marinha do Brasil, dentre outros. 92


Fonte: Arquivo pessoal (2017)

93


Patrimônios Históricos

Seguem abaixo figuras que apresentam o

1 Escola de Aprendiz de Marinheiro

comércio

artesanal

descrito

anteriormente, bem como alguns dos

2 Museu Homero Massena

edifícios

3 Casa da Memória

institucionais

existentes

na

região:

4 Igreja do Rosário

Figura 77 - Capela do campinho do Convento

5 Prédios do 38º Batalhão de Infantaria

Fonte : Arquivo pessoal (2017)

6 Pórtico dos Fiéis 7 Gruta do Frei Pedro Palácios 8 Portão da Ladeira-Acesso de veículos 9 Ladeira do Fiéis 10 Convento Nossa Senhora da Penha 11 Capela de São Francisco de Assis no campinho do Convento

M1

M2

Monumentos M1 Âncora de ferro fundido M2 Busto em homenagem à Marinha do Brasil M3 Monumento do Frei Pedro Palácios

M3

Figura 78 - Monumentos Fonte : Arquivo pessoal (2018)

Figura 79 - Comércio artesanal no acesso ao Convento Fonte : Arquivo pessoal (2017)

94


Figura 80 – Delegacia da mulher

Figura 81 – Polícia Militar

Observando

o

mapa

5,

notam-se

também

algumas

irregularidades nos usos da região, que serão descritas a seguir, estando assim, em desacordo com o PDM de Vila Velha. A área do parque da Prainha, como visto anteriormente, insere-se na ZEIP, zona destinada à manutenção e qualificação dos espaços livres de uso público e que possui os seguintes objetivos segundo

o

artigo

101º

da

Minuta

de

Projeto

de

Lei

Complementar n° 040 de 20 de dezembro de 2017: Fonte: Arquivo pessoal (2017)

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

I - garantir a reserva de áreas de espaço livre de uso público; Figura 82 - Câmara Municipal

Figura 83 - Correios

II - fomentar a qualificação dos espaços públicos municipais; III - permitir, em consonância com os desígnios dos moradores, a utilização dos espaços de forma que melhor aprouverem as necessidades da região. Apesar de ainda não terem sido definidos os parâmetros urbanísticos para tal zona, os itens citados acima são suficientes

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: gazetaonline.com.br (2016)

pra tornar inapropriada a presença de uma fábrica e distribuidora de gelo no local (figura 83). Outro uso inadequado percebe-se também em relação às moradias que se encontram em áreas de ZEIA, como por exemplo, no Morro do Cruzeiro, já que nessas zonas é 95


necessária a proteção e a conservação dos recursos naturais,

Figura 85 - Moradias no Morro do Cruzeiro

pois visam a preservação do meio ambiente. Alguns dos objetivos das ZEIA’s citados no artigo 91º da Minuta de Lei são: - Proteger as áreas frágeis, alagáveis e/ou brejosas - Proteger todas as lagoas e matas e seu entorno - Promover a criação de parques urbanos Portanto, o fato de existirem construções em tal área, gera desacordo em relação ao Plano Diretor Municipal (figura 84 e 85). Fonte: Google Earth (Modificado pela autora) Figura 84 - Fábrica de Gelo

Uma análise complementar sobre o uso e ocupação do solo a ser feita trata do artigo 286º, que apresenta os deveres da população quanto às obras de infraestruturas, demolições, reformas, urbanização e novas construções que são executadas no Sítio Histórico da Prainha: a) privilegiar a boa qualidade visual para os bens tombados ou identificados como de interesse a preservação; b) ser ordenadas de forma a favorecer a visibilidade do Outeiro e Convento Nossa Senhora da Penha; c) ser submetidas ao exame e manifestação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural; d) no caso específico de intervenções no Parque da Prainha, a proposta também deverá ser encaminhada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para manifestação e

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)

96


aprovação. (Minuta de Projeto de Lei nº XXX/2017, Art. 286. Parágrafo Único)

O mapa 6 a seguir, mostra a área de uma maneira mais aproximada, de modo a verificar melhor os usos no próprio

procurado pelos moradores, remete à memória do local (figura 87). Figura 86 - Clube de bocha

parque da Prainha. A partir de análises no mapa, visitas feitas ao local e de conversas com usuários do parque, foi possível pontuar algumas observações sobre tais usos ali existentes. Primeiramente, é importante citar o fato de que existem pescadores tanto artesanais, como industriais na região, onde os primeiros pescam de forma tradicional e em pouca quantidade, diferentemente dos segundos, que visam a pesca predatória e venda em grande escala. Portanto, apesar de existir uma Associação de Pescadores, essa situação gera um conflito entre ambos.

Fonte: Arquivo pessoal (2017) Figura 87 - Peixaria

Outra questão relevante é a importância que o Clube de Bocha tem na região, já que é uma atividade esportiva tradicional e antiga, fundado em 1996, atraindo adultos e idosos todos os dias, sendo seu horário de funcionamento a partir das 16h, estendendo-se até a noite e gerando certo movimento na no parque da Prainha (figura 86). Da mesma forma, percebeu-se também que a peixaria é um elemento muito relevante para a população, pois além de ser um ponto comercial muito

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

97


98


4.4.3 Gabaritos

Segundo o artigo 95º da Minuta de Projeto de Lei nº 040 de 20

A análise dos gabaritos na região em estudo é fundamental, pois a Prainha apresenta patrimônios históricos, paisagens naturais e vistas significativas, além de possuir o Convento da Penha como marco visual que deve ser conservado e valorizado devido à sua importância histórica e religiosa para o estado do Espírito Santo e para o Brasil.

ZEIC A, zona esta que ocupa a maior parte plana da Prainha, o número máximo de gabaritos permitidos são dois, com a altura das edificações limitadas em oito metros, podendo ser menor quando interferir em cones aeroviários e visuais do Convento da Penha, contudo, existem edificações que ultrapassam o permitido na lei (figura 88).

Sendo assim, observou-se que a maior parte da região em estudo possui edificações com dois gabaritos, predominando sobre as de um pavimento por uma diferença muito baixa. Segue abaixo a tabela 8, com os resultados obtidos quanto ao número de pavimento e as respectivas áreas que ocupam em solo na região. Número de pavimento

de dezembro de 2017, que trata dos parâmetros urbanísticos da

Com isso, obteve-se um total de 21,44 % de edificações em desacordo com o PDM, considerando também aquelas que se encontram em áreas de ZEIA, que como visto anteriormente, possui o objetivo de preservar e conservar seus recursos naturais, não sendo permitido qualquer tipo de edificação no local. A seguir é apresentado o mapa de gabaritos.

Área (m²)

Porcentagem

1 pavimento

40625,41 m²

38,68%

2 pavimentos

41878,7 m²

39,88%

3 pavimentos

13556,74 m²

12,91%

4 pavimentos

7318,47 m²

6,97%

Mais de 4 pavimentos

1644,12 m²

1,57%

Total

105023,4 m²

100,00%

Tabela 8 – Número de pavimentos e suas respectivas áreas Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 88 - Edificações em desacordo com a lei Fonte: Arquivo pessoal (2018)

99


100


4.4.4 Morfologia urbana

assim em desacordo com o PDM de Vila Velha, como já foi visto

Do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo, morfologia

anteriormente.

urbana é o estudo da forma das cidades, de modo mais específico, “o estudo do meio físico da forma urbana, dos processos e das pessoas que o formataram” (REGO e MENEGUETTI,

2011,

p.

124).

Seguindo

esse

mesmo

pensamento, tal estudo é voltado, segundo Del Rio (1990, p. 71), para “o tecido urbano e seus elementos construídos formadores através da sua evolução, transformações, inter-relações e dos processos sociais que os geraram”. Portanto, a análise a seguir trata da forma urbana, demarcando as edificações existentes e expondo as áreas vazias, de modo a relacioná-las entre si e verificar como isso pode influenciar na dinâmica social e da cidade. Como pode ser visto no mapa a seguir, a maior parte da área de estudo está ocupada por edificações, porém é possível encontrar áreas vazias com dimensões significativas, que podem se tratar de pátios, bem como de terrenos abandonados ou vazios. É importante destacar também que existem edificações no próprio parque da Prainha e no entorno dos morros, estando

101


102


4.4.5 Mobilidade Urbana O estudo da mobilidade urbana é fundamental para o trabalho, pois permite compreender como ocorrem os deslocamentos e

Via local: via caracterizada por interseções em nível não semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas

fluxos na região, quais modais de transportes são utilizados e

No mapa 6 apresentado a seguir, foram destacadas também as

quais

atender a

vias locais com paralelepípedo, pois é relevante citar que tal

população, de modo a verificar se a mobilidade cumpre sua

pavimentação é normalmente utilizada como estratégia para a

função de segurança e conforto aos usuários.

redução da velocidade de veículos, o que pode servir de

são

as

infraestruturas

existentes para

De acordo com a Minuta de Projeto de Lei de 2017, a área de estudo possui três diferentes hierarquias viárias, que são descritas no artigo 233º da seguinte maneira:

influência para a inserção de tal piso no futuro projeto, de modo a impedir o fluxo rápido. Vale destacar também, que atualmente a região do Sítio Histórico da Prainha conta com um projeto denominado Zona 30, projeto este que reduz a velocidade

Via arterial (Av. Luciano da Neves e Rua Antônio Ataíde):

máxima dos veículos para 30km por hora, além de implementar

via caracterizada por interseções em nível, geralmente

faixas elevadas e sinalização horizontal na pista, visando assim

controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes

melhorar a segurança viária para os motoristas, ciclistas e

lindeiros e às vias secundárias e locais, possibilitando o

pedestres, bem como valorizar o próprio Sítio Histórico

trânsito entre as regiões da cidade

(Prefeitura de Vila Velha, 2017).

Via coletora (Av. Castelo Branco): via destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro das regiões da cidade

Vale ressaltar que segundo a Prefeitura de Vila Velha (2017), tais medidas foram estabelecidas em conjunto com os moradores

da

região,

que

inclusive

haviam

pedido

modificações no fluxo viário para tornar a área mais segura.

103


104


Abaixo seguem imagens do projeto Zona 30 implantado pela Prefeitura de Vila Velha: Figura 89 - Sinalização horizontal – Rua Antônio Ataíde

Figura 91 - Sinalização vertical

Fonte: vilavelha.es.gov.br (2017)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 90 - Faixa elevada - Av. Luciano das Neves

Figura 92 - Sinalização vertical - compartilhamento de vias com outros modais

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

105


Quanto aos modais de transportes oferecidos na região,

Ademais, é possível encontrar um bicicletário em frente à

encontraram-se dois pontos de ônibus, localizados na rua

Câmara Municipal (figura 97), bem como uma instalação do

Antônio Ataíde e em frente à praça Otávio Araújo, bem como

sistema de compartilhamento de bicicletas “Bike VV” em frente à

dois pontos de táxi, sendo um situado próximo ao acesso

praça Almirante Tamandaré (figura 98), programa este criado no

principal do Convento da Penha e outro também na praça Otávio

ano de 2018, que oferece aluguel de bicicletas para a população

Araújo. Ver figuras abaixo:

de Vila Velha.

Figura 93 - Ponto de táxi próximo ao acesso do Convento

Figura 94 - Ponto de táxi - Praça Otávio Araújo

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

Figura 95 - Ponto de Ônibus Antônio Ataíde

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 97 - Bicicletário

Figura 98 - Bike VV

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 96 - Ponto de Ônibus - Praça Otávio Araújo

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

106


Ainda sobre os meios de locomoção, foi feita uma pesquisa com

Com isso, percebe-se que o meio de locomoção principal é o

usuários da região para saber qual o transporte mais utilizado

ônibus, utilizado principalmente por trabalhadores e estudantes

por eles e os resultados encontram-se no gráfico 3 abaixo,

da região. O segundo modal mais utilizado é o automóvel,

seguido do gráfico 4, que apresenta o perfil dos entrevistados:

seguido da locomoção a pé, esta feita principalmente por

Gráfico 3 – Meios de transporte utilizados pelos usuários Meio de transporte utilizado

moradores da própria região. Por último, com apenas 14% do total, encontra-se o uso da bicicleta, pois devido a ausência de ciclovias, o ambiente torna-se inseguro para tal meio de transporte, inibindo a população de usufruí-lo.

21%

Ônibus

36%

29%

Bicicleta

Já o mapa apresentado a seguir, permite analisar as áreas

Carro

regulares e irregulares de estacionamentos no Sítio Histórico.

A pé

14%

Dessa maneira, é possível observar que a maior parte dos locais demarcados como irregulares localizam-se no próprio parque da

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Prainha, próximos à orla e à peixaria, já que tais áreas sofreram

Gráfico 4 – Perfil dos usuários da região

apropriações devido às necessidades da população local. Logo

Perfil dos entrevistados

após o mapa, será exibida uma tabela com figuras que demonstram tais áreas.

9% Morador 37%

18%

Trabalhador Estudante Lazer

36%

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

107


108


Tabela 9 – Estacionamentos irregulares e regulares com e sem demarcação de vagas ESTACIONAMENTOS IRREGULARES

ESTACIONAMENTOS REGULARES SEM DEMARCAÇÃO DE VAGAS

ESTACIONAMENTOS REGULARES COM DEMARCAÇÃO DE VAGAS

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

109


No mesmo mapa é possível analisar também os caminhos

Figura 100 - Festa da Penha

realizados em eventos religiosos, como por exemplo, os Passos de Anchieta que ocorrem entre maio e junho anualmente e as romarias que acontecem durante a Festa da Penha, festa religiosa esta considerada a maior do estado e a terceira maior do Brasil, atraindo milhares de pessoas de todo o país (Folha Vitória, 2017). Além de fazerem caminhadas, os fiéis se reúnem no parque da Prainha para celebrações, portanto fica clara a necessidade de infraestrutura adequada para atender a todos. Seguem abaixo figuras de tais eventos:

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 99 - Festa da Penha

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 101 - Sinalização vertical dos Passos de Anchieta

Figura 102 - Sinalização horizontal dos Passos de Anchieta

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

109


4.4.6 Equipamentos Urbanos no Parque da Prainha A análise dos equipamentos urbanos no parque da Prainha foi

Já na área próxima da orla, existem três tanques para o uso dos

feita de modo a verificar quais elementos estão presentes ali,

pescadores, cinco lixeiras e o total de nove bancos, todos

quais suas condições de uso, seu nível de degradação e se

depredados e em condições precárias, assim como os demais

realmente suprem as necessidades do local, gerando assim o

elementos citados. Vale destacar que em uma das visitas ao

mapa 7 ao lado, que identifica tais elementos para o estudo.

local, encontrou-se uma caçamba isolada no parque.

A partir disso, percebe-se que alguns equipamentos estão

O parque também conta com dois orelhões, bem como com

distribuídos de forma inadequada na região, como por exemplo,

duas quadras esportivas, sendo que uma está totalmente

a área localizada na parte inferior do mapa possui uma

inutilizada e outra apenas é usufruída por estudantes da escola

quantidade muito grande de lixeiras e nenhum banco para

Godofredo Schneider8 que está a uma rua de distância do local

descanso, o que leva os usuários a se sentarem na grama, ou

e por moradores do bairro. Da mesma forma, é importante

então a levarem seu próprio assento para descanso (figura 103).

destacar que próximo à quadra existe uma Estação Elevatória

Figura 103 - Usuários na Prainha

de Esgoto Bruto (EEEB) da Cesan9 que deve ser mantida na região, e que também sofre com pichações. Logo

após

o

mapa,

serão

apresentadas

figuras

dos

equipamentos urbanos descritos acima.

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

8 9

Escola Estadual de Ensino Médio Godofredo Schneider Companhia Espírito Santense de Saneamento

110


111


Quadra sendo utilizada por crianças

Orelhão

Tabela 10 – Equipamentos urbanos Caçamba

Tanque

Área apenas com lixeira

Banco

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

112


É importante citar o fato de que em dias de eventos, o parque da

Figura 106 - Palco de eventos

Prainha ganha infraestruturas temporárias de modo a atender os visitantes, como por exemplo, instalações de palcos e tendas para comportar as feiras artesanais e praça de alimentação. Além disso, são implementadas caçambas e banheiros públicos para suprir a demanda. Abaixo seguem figuras representativas: Figura 104 - Caçambas

Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 107 - Tendas Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 105 - Banheiros públicos temporários

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

113


4.4.7 Sinais Comportamentais e Patologias Urbanas

Figura 110 – Lixeiras e postes depredados

Figura 111 - EEEB da CESAN pichada

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

O mapa de sinais comportamentais e patologias urbanas é de extrema importância para complementar o estudo do parque da Prainha, pois verifica-se assim onde ocorre depredação por parte da população e onde há falhas na própria infraestrutura da região. Portanto após visitas ao local, foi produzido o mapa 8, apresentado logo a frente, que demonstra esses elementos. Vale

destacar

que

algumas

considerações

sobre

sinais

comportamentais já foram feitas no item anterior, pois tratam da depredação de bancos, lixeiras, tanques e da EEEB da Cesan. Porém, também foram observadas outras atitudes, como por

Figura 112 - Lixo jogado no parque

exemplo, lixo jogado na grama, inclusive em locais onde existem lixeiras próximas, além de pichações nas paredes da quadra esportiva. Abaixo seguem imagens das descrições feitas: Figura 108 – Bancos depredados

Figura 109 – Tanque pichado

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

114


115


Observando o mapa, é possível analisar ainda locais de grama

Ademais, vale destacar que em dias de eventos, devido a falta

pisoteada, piso degradado e caminhos irregulares provocados

de vagas, foi possível encontrar carros estacionados em cima da

pelos usuários, tanto os que se locomovem a pé e de bicicleta,

grama, bem como bicicletas aglomeradas em locais impróprios,

como os que utilizam automóvel, pois no parque existem poucos

já que não existem bicicletários que atendam a demanda dos

caminhos definidos por onde os mesmos possam se deslocar,

usuários. Ver imagens abaixo:

ocasionando tais atitudes. Devido a esse fato, atualmente

Figura 116 - Carros estacionados na grama

existem sinalizações que proíbem a passagem de veículo em locais antes utilizados. Seguem imagens das descrições feitas: Figura 113 - Grama pisoteada

Figura 114 – Veículo em local impróprio

Fonte: Arquivo pessoal (2018) Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 117 - Bicicletas aglomeradas

Figura 115 - Sinalizações implementadas proibindo a passagem de veículos

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

116


Já quanto às patologias urbanas, foi possível verificar a

Outros problemas detectados foram o ruído produzido pela

presença de buracos e poças no parque em dias chuvosos. Tais

fábrica de gelo e pelo estaleiro, bem como o odor muito forte da

itens, juntamente com calçadas irregulares e degradadas, criam

venda de peixe próximo à orla. Além disso, é importante

uma zona insegura e desconfortável de circular, principalmente

destacar a existência de marcas de construções antigas que

para pessoas com deficiência física e idosos.

permanecem no parque, bem como barcos abandonados,

Figura 118 - Poças e buracos

degenerando ainda mais o local. Figura 119 - Barcos abandonados

Fonte: Arquivo pessoal (20018)

Figura 120 - Construções antigas

Figura 121 - Venda de peixes

Fonte: Arquivo pessoal (20018)

Fonte: Arquivo pessoal (20018)

117


4.5 Condicionantes Ambientais O município de Vila Velha possui, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisas, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), um relevo plano com grandes elevações e área litorânea, características estas marcantes na Prainha. A figura 120 abaixo demonstra o perfil da região, visto desde a Baía de Vitória, onde é possível visualizar os morros no entorno do Parque. E ao lado, encontra-se o mapa topográfico da região, com dois cortes que serão analisados mais a frente (figura 123 e 124).

Mapa 13 - Mapa topográfico Fonte : Geobases e IBGE (Modificado pela autora)

Figura 122 - Perfil da região Fonte: Arquivo pessoal (2018)

118


Figura 123 - Perfil Topográfico – Corte AA’

Fonte: Google Earth (Modificado pela autora)

Figura 124 - Perfil Topográfico – Corte BB’

Fonte: Google Earth (Modificado pela autora)

Analisando o mapa topográfico e os cortes acima, percebe-se

Vila Velha, 2017). Dito isso, vale ressaltar que as regiões baixas

que parte do terreno pode ser aproveitada em termos de

estão sujeitas a inundações, bem como as encostas dos morros

ocupação, por possuir área praticamente plana, apresentando

são suscetíveis a deslizamentos de terra (Companhia de

desníveis de no máximo 2 metros, e declividade que varia de 0%

Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM), porém não se tem

a 5%. Porém, quando se tratando das elevações, é importante

registros de tais acontecimentos na área em estudo. No mapa

destacar que estas fazem parte das Áreas de Preservação

14 que segue, é apresentado o estudo ambiental feito,

Permanente (APP) e devem ser mantidas e conservadas, sendo

retratando as áreas que possuem riscos para a região.

proibido qualquer tipo de construção nas mesmas (Prefeitura de 119


120


Analisando o mapa ambiental e os estudos

Figura 126 - Estudo solar (Verão - Janeiro)

Figura 127 - Estudo solar (Inverno-Julho)

Fonte: Arquivo Pessoal (2017)

Fonte: Arquivo Pessoal (2017)

de insolação ao lado, identifica-se que o parque da Prainha está exposto à insolação tanto

no

verão

quanto

no

inverno,

principalmente em horários de sol a pino, situação

esta

agravada

pela falta

de

vegetação adequada no local, já que há poucas árvores para sombreamento, além da vegetação principal da área ser rasteira e estar bastante desgastada. Vale destacar que o vento predominante na região é nordeste, como mostra a figura abaixo: Figura 125 - Rosa dos ventos

Velocidade predominante por direção

Primavera Verão Outono Inverno

Fonte: Analysis SOL-AR

121


Se tratando das zonas de riscos, segundo o CPRM (2015),

Figura 129 - Vista para Terceira Ponte e morro da Ucharia

observa-se que no morro do Convento da Penha e da Ucharia existe uma alta suscetibilidade de movimento de massa, ou seja, alto risco de deslizamentos, apesar de não se terem relatos de tal acontecimento na região. Ainda no morro do Convento e também no Jaburuna, há uma média suscetibilidade de movimento de massa, e nas demais áreas de estudo a suscetibilidade é baixa. Já quanto aos principais atrativos da Prainha de Vila Velha relacionados ao meio ambiente, destacam-se seus elementos naturais, pois é uma área banhada pelo mar, oferecendo uma

Fonte: blog.elefanteverde.com.br (2014)

vista para a Baía de Vitória (figura 128) e para a Terceira Ponte (figura 129), bem como é cercada pelas elevações rochosas apresentadas no mapa ambiental, compondo assim uma paisagem marcante e que deve ser valorizada.

122 Figura 128 - Vista para a baía de Vitória Fonte : Arquivo pessoal (2017)


4.6 Potencialidades e Vulnerabilidades

circuito histórico cultural na área, promovendo dessa forma mais visitações e consequentemente preservando a memória do local.

A análise das potencialidades e vulnerabilidades da Prainha foi feita levando em consideração toda a área de estudo, de modo a

Figura 130 - Convento da Penha

auxiliar na tomada de decisões para o futuro projeto. Como as principais potencialidades do local, ou seja, elementos positivos que podem ser trabalhados para dar uma maior valorização à região, podem-se destacar os cones visuais existentes, sendo eles da orla da Prainha para a Baía de Vitória, do próprio parque para a Igreja do Rosário, incluindo neste eixo as praças Almirante Tamandaré e da Bandeira, e também os cones de vários pontos da área em estudo para o Convento da Penha. Tais cones visuais serão numerados no mapa 15 a seguir, bem como serão apresentadas figuras para cada ponto numerado. É importante ressaltar que o Convento da Penha por si só é uma

Fonte: http://vivendoavidabemfeliz.blogspot.com

potencialidade (figura 130), pois é considerado marco visual do estado do Espírito Santo, atraindo fiéis de todo o país durante o ano, portanto é um ícone que deve ser preservado e valorizado da melhor maneira possível. Vale destacar também a presença de outros patrimônios históricos na região, o que pode gerar um 123


124


1

2

3

5

6

7

8

9

10

4

Figura 131 - Cones visuais Fonte : Arquivo pessoal (2017)

125


Outro potencial muito grande apresentado no mapa trata dos

criação de novos usos para a população. Como ponto positivo,

elementos naturais, como o mar e as elevações rochosas, onde

também foram apresentadas as áreas de predominância do uso

o primeiro possibilita a criação de fluxos e conexões com a Baía

residencial, pois isso significa proximidade de pessoas na área

de Vitória, trazendo uma nova opção de mobilidade urbana, e de

de intervenção, o que poderia gerar um movimento constante de

integração intermunicipal. Já as elevações, por serem APP’s,

usuários de diversas idades em todos os horários do dia.

podem ser utilizadas para passeios turísticos, de modo que permitam os usuários a melhor apreciarem os visuais existentes no local.

Da mesma forma, o parque da Prainha foi considerado um potencial por possuir uma área livre significativa, podendo comportar grandes eventos e permitindo a criação de múltiplos

No mapa foram demarcadas também as edificações com

usos e funções ali, de modo a atrair público de todas as idades.

características arquitetônicas antigas, que podem servir de

Vale ressaltar que atualmente a área é utilizada para eventos

incentivo para futuros tombamentos e para ampliação da área de

sazonais diversificados, como eventos gastronômicos, musicais,

Sítio Histórico, bem como houve a demarcação de lotes vazios e

religiosos, dentre outros. Abaixo seguem alguns exemplos de

áreas abandonadas, já que estes possuem potenciais para a

eventos já ocorridos no parque:

Figura 132 - Eventos ocorridos na Prainha Fontes : diocesedesaomateus.org.br (2018) cajuproducoes.art.br (2017) vilavelha.es.gov.br (2017)

126


Em seguida, será apresentado o mapa de vulnerabilidades da área de estudo, trazendo análises de pontos negativos na região, elementos estes que devem sofrer modificações para se adequarem à identidade do local. Dentre as vulnerabilidades analisadas, pode-se citar a fábrica de

Figura 133 - Muro da Marinha

gelo e o estaleiro, já que estão em local inadequado, pois como

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

visto anteriormente, de acordo com a Minuta de Projeto de Lei de 2017, o parque da Prainha é uma Zona de Especial Interesse Público, destinado à manutenção e qualificação desse espaço livre. Outro item relevante trata das barreiras criadas pelos muros da Marinha do Brasil e do Exército (figura 133), já que limitam o parque, bem como suas visuais, portanto deve ser

Figura 134 - Muro do Exército Fonte: Arquivo pessoal (2018)

levado em consideração na proposta de projeto. Quanto às águas do mar, atualmente encontram-se em estado impróprio para banho devido à poluição e esgoto que é jogado na Baía, portanto torna-se um ponto negativo, já que impede que os usuários usufruam do local. Ao lado segue a figura 135, que apresenta uma sinalização vertical existente na orla, de modo a impedir que os usuários se banhem na região.

Figura 135 - Sinalização vertical Fonte: Arquivo pessoal (2018)

127


Já quanto à própria área do parque, assim como é uma

um ponto negativo à noite devido à ausência de pessoas nas

potencialidade, também é uma vulnerabilidade local, pois

ruas, situação causada pela falta de iluminação, bem como de

atualmente está degradada, sofre com maus cuidados por parte

usos que gerem movimento na área. Abaixo seguem dois

da população, a iluminação dos postes é ineficaz e não possui

gráficos produzidos a partir de entrevistas com usuários da

mobiliários urbanos nem infraestruturas adequadas para os

região, de modo a analisar quais elementos eles consideram

usuários, gerando assim grandes vazios no parque, atraindo

como potencialidade ou vulnerabilidade na Prainha, auxiliando

moradores

assim, na tomada de decisões no projeto de intervenção.

de

rua

e

dependentes

químicos,

o

que

consequentemente torna o local inseguro. Vale ressaltar que em Potencialidades

dias muito quentes, a ausência de arborização apropriada no parque impossibilita a permanência de pessoas ali, o que propicia ainda mais a evasão da população daquela região. Outro ponto negativo demarcado trata das edificações com

Convento da Penha 18% 32%

Pescadores/Peixaria Grande área do parque

18%

altura inadequada com a área de estudo, ou seja, são

11% 21%

edificações que possuem acima de dois gabaritos, limite este

Paisagem natural Turística e cultural

Gráfico 5 – Elementos considerados potenciais pelos entrevistados Fonte: Arquivo pessoal (2018)

máximo permitido pelo PDM de Vila Velha. Também foram marcados os lotes vazios e áreas abandonadas, pois apesar de

Vulnerabilidades 4%

serem potenciais de mudanças, atualmente estão prejudicando a identidade do local, principalmente na área da orla, onde existe o

Insegurança

14% 41%

antigo píer do aquaviário, juntamente com barcos abandonados.

Moradores de rua

23%

Um último item analisado trata sobre a predominância de usos residenciais em certas partes da área de estudo, que se torna

Falta iluminação Sujeira

18%

Usuários de drogas

Gráfico 6 – Elementos considerados vulneráveis pelos entrevistados Fonte: Arquivo pessoal (2018)

128


129


Abaixo segue a tabela 11 com as principais potencialidades e vulnerabilidades detectadas na área de estudo, contendo também as ações que devem ser promovidas na Prainha e o programa de necessidades final. Tabela 11 – Potencialidades, vulnerabilidades, ações e programa de necessidades Fonte: Arquivo pessoal (2018) Potencialidades Cones visuais

Elementos naturais Convento da Penha (marco visual)

Vulnerabilidades Ações Ausência de equipamentos Criar diversidade de usos no local, urbanos e infraestrutura de modo a atrair usuários adequada no local Valorizar as paisagens naturais, Área vazia e insegurança bem como os cones visuais existentes

Programa de Necessidades Criar áreas de contemplação, descanso e lazer para todas as idades (crianças, jovens, idosos), bem como áreas para cães Criar elementos que valorizem as visuais, utilizando vegetação, pavimentação e outras estratégias

Presença de moradores de Inserir equipamentos urbanos e Inserir equipamentos esportivos, playgrounds, assentos, rua e dependentes químicos infraestrutura adequada no parque bicicletários, sanitários, iluminação e demais infraestruturas Criar estratégias sustentáveis, como eliminação correta dos Implementar tratamento das águas resíduos descartados, uso de materiais ecologicamente do mar corretos, reuso de água, aproveitamento da água da chuva e purificação da água do mar na região

Presença de patrimônios históricos

Água do mar poluída

Relevância cultural, histórica e religiosa

Presença da fábrica de gelo

Retirar a fábrica de gelo do local

Arborização escassa

Resgatar a memória local, bem Criar um circuito histórico que conecte os patrimônios e como promover o turismo na região permitam visitações aos mesmos

Grande área do parque Parque utilizado para eventos sazonais Ainda possui atividades tradicionais

Criar um estaleiro de pequeno porte para atender aos pescadores artesanais e para manter a tradição local Inserir um projeto paisagístico Inserir arborização no parque, de modo a melhorar o Muros da Marinha e do 38º adequado, com áreas agradáveis e conforto térmico local, garantindo a permanência de pessoas Batalhão presença de arborização ali

Edificações com altura Manter uma área livre para que o local receba os eventos da Proibir construções com altura em inadequada em desacordo cidade, bem como criar locais de parada de ônibus para a desacordo com o PDM com o PDM chegada dos visitantes

130


4.7 Síntese do Uso e Apropriação da Área de

temporárias para atender a demanda. Mas, apesar disso,

Intervenção

apenas uma parte do parque é utilizado, mantendo os demais espaços isolados, criando assim, uma grande incoerência de

Após diversas visitas feitas em dias e horários diferentes ao

usos no local.

Parque da Prainha, foram gerados mapas de uso e apropriação da área de intervenção, que se encontram no apêndice deste trabalho. A partir disso, reuniram-se as informações coletadas e então houve a elaboração do mapa síntese ao lado, com as principais características observadas no local.

Outro elemento analisado é quanto ao fluxo de pessoas em direção à orla e peixaria, o que demanda por caminhos seguros e confortáveis, além de locais de parada de veículos e bicicletários, elementos hoje não existentes, gerando assim caminhos e estacionamentos irregulares.

É importante destacar que o parque é pouco utilizado pela população devido à carência de infraestrutura adequada e de atividades no local, o que gera abandono de certas áreas. Um exemplo disso são as quadras existentes, onde uma delas é totalmente inutilizada e encontra-se degradada, e a outra é apenas utilizada por alunos da escola próxima ao local e ocasionalmente por moradores do bairro. Além disso, existem áreas que foram apropriadas por autoescolas, já que eram espaços antes com pouco uso.

Quando se tratando da permanência de pessoas no parque, percebe-se que as mesmas optam por regiões próximas às árvores, por serem áreas sombreadas, e que os próprios usuários levam seus assentos para descanso, seja em dias de eventos ou não. Sendo assim, é possível perceber a demanda existente por arborização e bancos, observações estas que devem ser levadas em consideração para o projeto de intervenção.

Porém, em dias de eventos, a situação do local sofre algumas alterações, pois ocorre uma grande concentração de pessoas nas áreas demarcadas no mapa, bem como de infraestruturas 131


132


133


5

Proposta de requalificação no parque da prainha

134


Neste capítulo serão apresentados primeiramente o conceito e partido projetual definidos a partir do embasamento teórico apresentado nos primeiros capítulos, bem como dos estudos feitos na região da Prainha, levando em consideração as informações coletadas durante o diagnóstico e os mapas produzidos em cada item, desde o mapa de localização, até o de uso e apropriação da área de intervenção. Logo em seguida, será apresentado o resultado da proposta projetual decorrente do embasamento teórico obtido com os capítulos dois e três, assim como com o diagnóstico presente no capítulo quatro. A proposta teve como objetivo requalificar o parque da Prainha, de modo a resgatar a memória local, valorizar seus elementos naturais e dar estímulo a novos usos e atrações para o público, garantindo uma melhor vivência e qualidade dos espaços para seus usuários. 135


5.1 Conceito e partido projetual

5.1.1 Resgate à memória local

Os conceitos estabelecidos para o projeto de intervenção foram

Como já visto anteriormente, a Prainha possui uma relevância

resultantes das análises das demandas exigidas pela região e

histórica, religiosa e cultural devido ao fato de a colonização do

pela população, detectadas através de visitas ao local em

Espírito Santo ter se iniciado ali, bem como a presença de

diversos dias e horários, entrevistas com usuários, produção de

patrimônios históricos tombados pelo IPHAN, a construção da

mapas e do diagnóstico da área, além do embasamento teórico

Igreja do Rosário e do Convento da Penha no século XVI e

produzido sobre espaços livres de uso público e parques

devido à pesca artesanal que ainda acontece na região. Porém,

urbanos. Abaixo segue uma figura esquemática retratando os

atualmente o parque se encontra descaracterizado graças aos

conceitos da proposta de intervenção:

aterros que aconteceram com o passar dos anos, à presença da fábrica de gelo e com as demais construções existentes tanto no

Figura 136 - Conceitos do projeto de intervenção

próprio parque, como no seu entorno.

resgate à memória local

Sendo assim, pensou-se em criar um circuito histórico, com início na Casa Amarela, que será transformada em um ponto de Interatividade e integração social

Valorizar os cones visuais e a paisagem natural Conceitos

informações turísticas, de modo a conectar e valorizar os patrimônios ali presentes, juntamente com a implantação de totens explicativos sobre a evolução da Prainha, colocados de forma estratégica durante o percurso. Além disso, decidiu-se utilizar pavimentação em paralelepípedos na via Beira Mar,

Sustentabilidade

Vitalidade ao espaço

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

remetendo assim a um dos primeiros pisos utilizados na Prainha, bem como foi definida a colocação de balizadores demarcando até onde o mar avançava antes do primeiro aterro e a 136


implantação de uma estátua de Vasco Fernandes Coutinho, responsável pelo início da colonização do estado. Outra medida proposta foi a retirada da fábrica de gelo e do grande estaleiro do parque, permitindo apenas a permanência da peixaria e dos pescadores artesanais, já que são demandas exigidas pela população e que mantem a memória do local viva, criando-se assim um estaleiro de pequeno porte para atender os barcos pesqueiros. Também houve a retirada do edifício da Polícia Militar, construção esta realocada para um dos lotes atualmente vazios e próximos ao parque da Prainha. Segue ao lado o diagrama que demonstra alguns dos elementos descritos acima, para o melhor entendimento da proposta:

±

Legenda Balizadores

Legenda Casa Amarela 0

Legenda

Km 0,2

Alguns 0,05patrimônios 0,1 Balizadores Polícia Casa Amarela

Balizadores Balizadores

Área que receberá Área depatrimônios peixaria Alguns

a peixaria, os pescadores e o estaleiro

Casa Amarela Casa Amarela

Paralelepípedo Polícia

Figura 137 - Diagrama de resgate à memória local

Alguns patrimônios Patrimônios Históricos

FábricaParque de gelo e estaleiro Perímetro da Prainha Área de peixaria

Polícia Polícia

Pavimento Paralelepípedo

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Área de peixaria

Militar será realocada

Paralelepípedo Perímetro Parque da Prainha

de paralelepípedo

Perímetro dodaparque Perímetro Parque Prainha

da Prainha

137


5.1.2 Valorizar os cones visuais e a paisagem natural

deck em madeira que adentra o mar, de modo a permitir também

Uma das principais potencialidades da Prainha trata dos visuais

uma melhor apreciação da Baía de Vitória.

existentes tanto para o Convento da Penha, como para os

Já para permitir que os cones visuais para o Convento e para os

elementos naturais da região, como já analisado no diagnóstico,

morros do entorno sejam preservados, foram deixadas áreas

portanto, como estratégias de valorização de tais visuais, foi

livres de modo estratégico, bem como houve a substituição da

criado um eixo de 12 metros de largura que abrange desde a

fiação elétrica aérea pela subterrânea. Além disso, houve a

Igreja do Rosário até a orla da Prainha, sendo que seu percurso

criação de uma área de contemplação na beira da orla, com

é delimitado por uma paginação diferente, bem como conta com

assentos para descanso e decks que levam até a areia, de modo

a presença de palmeiras no início e no fim do eixo, destacando

a privilegiar tais visuais. Ao lado segue o diagrama que

ainda mais o caminho. Também ao final do eixo, foi inserido um

apresenta as propostas ditas acima: Figura 138 - Diagrama de valorização visual

Baía de Vitória

Fonte: (2018)

Legenda

Arquivo

pessoal

Eixo Deck Área de contemplação Convento da Penha Palmeiras Cone visual livre de qualquer lugar do parque

± 0

0,075

0,15

138 Km 0,3


5.1.3 Vitalidade ao espaço

5.1.4 Sustentabilidade

Atualmente o parque da Prainha possui áreas vazias e em

A sustentabilidade é um elemento chave para obter melhores

processo de degradação, com quadras desocupadas, barcos

resultados no projeto, auxiliando também no desenvolvimento

abandonados e espaços inutilizados. Sendo assim, pensou-se

mais saudável da cidade e de seus habitantes. Para isso, foram

em soluções baseadas nos estudos teóricos produzidos sobre

tomadas medidas estratégicas como, purificação das águas do

este tema, retratado por autores como Gehl (2013) e Cullen

mar, permitindo assim banhistas no local e melhorando a

(2008), e também a partir das análises feitas no local de

qualidade da vida marinha, aproveitamento da água da chuva

intervenção.

para os espelhos d’água, bem como reuso da mesma para os

Segundo Cullen (2008), o que gera animação e vitalidade ao ambiente é a diversidade e multiplicidade de usos e atividades, promovendo assim diferentes sensações e emoções aos usuários. Dito isso, buscou-se inserir múltiplos usos e funções em toda a extensão do parque, de modo a atrair pessoas de diferentes idades e em diversas horas do dia, mantendo assim os espaços ocupados e consequentemente tornando-os mais seguros

e

convidativos.

Foram

criadas

tanto

atividades

recreativas, dinâmicas, culturais e esportivas, como também locais de descanso e de contemplação, todos com mobiliários

chafarizes e quedas de água criadas. Além disso, foi inserido o sistema de fitodepuração em algumas áreas do parque, sistema este que trabalha com a depuração da água através de vegetação aquática, alcançando níveis de qualidade necessária para uso posterior da água. Outra estratégia utilizada trata da contenção de inundações em casos de chuvas muito fortes, onde a água excedente será armazenada na pista de skate criada, bem como na quadra de futebol society e no anfiteatro, já que a Prainha encontra-se em uma área plana, suscetível a alagamentos.

urbanos e infraestrutura adequada para atender os usuários,

Outra

medida

tomada

trata

da

utilização

de

materiais

garantindo dessa forma a maior permanência dos mesmos no

ecologicamente corretos, tanto para os mobiliários urbanos

local.

como para as pavimentações que serão colocadas. Será 139


priorizada a utilização de madeira reflorestada para os assentos

interação entre eles e o senso de comunidade, bem como a

e pergolados, materiais reciclados para os demais mobiliários,

vigilância natural dos ambientes e cuidados com o próprio

placas de concreto drenantes para os pisos, bem como pisos

espaço público.

que geram energia elétrica ao serem pressionados. Além disso, será utilizada a iluminação LED10, bem como serão colocadas placas solares na cobertura do campo de bocha, do vestiário, e dos contêineres presentes na área gastronômica.

Sendo assim, criou-se uma área de pet park, ou seja, ambiente destinado aos animais domésticos, bem como houve a criação de áreas de recreação infantil com brinquedos lúdicos, mobiliários interativos e jatos de água que saem do piso.

Vale ressaltar também que dentre as estratégias sustentáveis

Também foi concebido um espaço esportivo em uma área antes

implementadas, houve a realocação das árvores já existentes no

degradada e desocupada, com colocação de quadras de futebol

parque da Prainha, como também foram colocadas novas

society, poliesportiva e de vôlei, bem como pista de skate,

espécies de diversos portes, de modo a evitar que ilhas de calor

equipamentos de academia e campo de bocha, sendo todos os

sejam formadas e também atraindo espécies aviárias, criando

ambientes intercalados com área de descanso contendo

assim ambientes agradáveis, promovendo o bem-estar e a

assentos e arborização.

saúde dos usuários. 5.1.5 Interatividade e integração social A interatividade e integração entre pessoas são elementos definidores da qualidade social urbana, portanto foram pensadas soluções que promovessem o dinamismo e convívio saudável entre usuários de diversas idades e gostos, incentivando assim a 10

Termo em inglês para Light Emitting Diode, traduzido como diodo emissor de luz

Também houve a criação de uma horta comunitária, de modo a aproximar os moradores do bairro e a atrair novos membros para a comunidade, além da criação de um jardim sensorial e zen, garantindo assim integração entre todos os públicos. Ademais, foram implantados elementos que promovam a questão cultural, como a colocação de um anfiteatro ao ar livre, que poderá receber atrações durante o ano e a presença de áreas amplas desprovidas de mobiliários fixos, permitindo assim 140


eventos diversos e estimulando ainda mais a interatividade entre a população. Outro item implantado foi a área gastronômica, concebida com a colocação de contêineres empilhados e coloridos, juntamente com assentos, pergolados e árvores, gerando um ambiente descontraído e de incentivo às relações sociais. Com isso, o parque da Prainha será usufruído de diversas formas, pelos mais variados públicos e durante todos

Figura 141 - Elemento água pra recreação Fonte: colombia.com (2015)

os períodos do dia, garantindo assim um ambiente vivo, saudável, seguro e dinâmico. A seguir, são apresentadas imagens de elementos que tornam o ambiente mais vivo e diversificado: Figura 142 - Brinquedos dinâmicos Fonte: archdaily.com.br (2018)

Figura 139 - Assentos diferenciados Fonte: archiexpo.com (2018)

Figura 143 - Ambientes agradáveis e lúdicos Figura 140 - Redes para descanso Fonte: arcoweb.com (2017)

Fonte: archdaily.com.br (2018)

141


5.2 Proposta projetual Após os estudos feitos neste trabalho, desde o embasamento teórico até as definições do conceito e partido, deu-se início à

ESPORTIVO: área criada para a prática de diversos esportes por pessoas de todas as idades, desde crianças até os idosos, promovendo integração entre os usuários.

setorização do parque da Prainha, buscando sempre a

CONTEMPLATIVO: local destinado à contemplação da dos

implantação de atividades adequadas ao local, de modo a atrair

elementos da paisagem, tanto naturais como artificiais, contendo

usuários de diferentes idades em diversas horas do dia e suprir

decks e assentos para melhor experiência dos usuários.

as necessidades da população para a área. Sendo assim, neste projeto em nível de estudo preliminar, optou-se por criar uma

RECREATIVO: espaço destinado aos animais domésticos e ao

grande variedade de usos no parque, posicionando-os em áreas

lazer das crianças, com a presença de equipamentos lúdicos e

estratégicas e apropriadas, além de manter alguns já existentes

dinâmicos que despertem o interesse e criatividade do usuário.

e de grande importância para a região, como por exemplo, a

SENSORIAL: composto por três setores menores, o jardim

área de pescadores e de eventos.

sensorial, a horta comunitária e o jardim zen, todos destinados à

Dessa forma, foram definidos setores, que serão brevemente

interação do usuário com o ambiente.

descritos abaixo e apresentados no mapa ao lado, cada um

GASTRONÔMICO: composto por contêineres e por uma grande

contendo objetivos e atividades em comum. MEMÓRIA HISTÓRICA: ponto inicial do circuito turístico, localizado próximo aos bens históricos existentes no entorno (Casa da Memória, Casa Amarela e Museu Homero Massena), e

estrutura em madeira, destinado principalmente à culinária local. EVENTOS: grande área livre designada a eventos diversos, sendo composta por mobiliários móveis.

que possuirá totens digitais com a explicação da história da

PESCA: setor criado para a manutenção da pesca artesanal,

Prainha, de modo a inserir o visitante no cenário local.

garantindo infraestrutura adequada à lavagem e venda de peixe. 142


143


SETOR MEMÓRIA HISTÓRICA

distribuição de energia elétrica para recarregar aparelhos eletrônicos.

Local onde se dá início ao circuito histórico proposto no Sítio Histórico da Prainha, composto por totens digitais e informativos

Outros itens inseridos foram balizadores que se encontram no

que contem informações desde a descoberta da Prainha,

antigo limite existente entre a areia e o mar, de modo a mostrar

passando pelas modificações que ocorreram com o tempo,

às pessoas onde começa o aterro existente na Prainha. O setor

chegando na situação atual. Tais totens utilizam energia solar

também possui pergolados, assentos, lixeiras e áreas gramadas

para seu funcionamento, sendo alimentados através de placas

que possibilitam os usuários de descansarem em tais espaços

solares acopladas em sua parte superior, permitindo também a

sombreados. Figura 144 – Setor memória histórica Fonte: Arquivo pessoal (2018)

144


SETOR ESPORTIVO

academia. Além disso, possui uma rede de infraestruturas necessárias para atender a demanda dos usuários, com a

Setor criado com uma grande diversidade de usos esportivos que atraem desde crianças até os idosos, já que é composto por um campo de futebol society, uma quadra poliesportiva, quadra

presença de vestiário feminino e masculino, lanchonetes, bebedouros, arquibancadas, mesas e bancos, ademais de arborização e iluminação adequada para o local.

de tênis, campo de bocha, pista de skate e equipamentos de Figura 145 - Setor esportivo - Pista de skate Fonte: Arquivo pessoal (2018)

145


Vale ressaltar que os alunos da escola Godofredo Schneider

água da chuva, de modo a evitar alagamentos no parque. Outro

atualmente utilizam a quadra existente, portanto a área esportiva

item que o setor apresenta são os filetes de água com

criada também é destinada ao uso da escola. Outra observação

iluminação durante a noite, que cortam o piso em algumas

relevante de ser lembrada é o fato de que a pista de skate e o

áreas, despertando assim a curiosidade das pessoas e criando

campo de futebol society possuem a função de armazenar a

um elemento diferenciado e atrativo no setor. Figura 146 – Setor esportivo – Quadra poliesportiva e área de descanso Fonte: Arquivo pessoal (2018)

146


SETOR CONTEMPLATIVO

Na região limite do parque com a Marinha do Brasil, foi concebida uma área de estar com a presença de vegetação de

Localizado próximo à orla, este setor é destinado à valorização das visuais para a Baía de Vitória, terceira ponte, elevações naturais e demais paisagens do entorno. Dito isso, decidiu-se criar um grande deck que avança o mar, seguindo o formato natural do limite da areia, com a implantação de assentos e floreiras, permitindo uma melhor experiência aos usuários.

grande porte para permitir sombreamento, espaços gramados, redes para descanso e assentos em madeira. Além disso, também houve a concepção de decks contemplativos, criando desníveis que levam até a areia, estes vencidos por rampas acessíveis de modo a garantir a livre circulação de pessoas pelo ambiente (figura 147).aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Figura 147 – Setor contemplativo – Área de descanso Fonte: Arquivo pessoal (2018)

147


Já nas demais áreas, criou-se um percurso beira mar, com a

do trajeto, permitindo descanso e apreciação das visuais. Ver

presença de canteiros, pergolados e bancos diversos ao longo

imagem 148 abaixo: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Figura 148 – Setor contemplativo – Orla e deck que avança o mar Fonte: Arquivo pessoal (2018)

148


Vale ressaltar que neste setor foi criado o transporte aquaviário

urbana e trazendo benefícios para a cidade e para a população.

unindo Vila Velha e Vitória, auxiliando na melhoria da mobilidade Figura 149 – Setor contemplativo – Aquaviário Fonte: Arquivo pessoal (2018)

149


SETOR RECREATIVO

e coloridos e a presença de goiabeiras, já que esta árvore frutífera é de pequeno porte e possui tronco liso, o que permite

Este setor é composto por uma área infantil, cujo objetivo é incentivar a curiosidade e a diversão das crianças, bem como a interação entre elas, portanto o ambiente conta com a implantação de brinquedos lúdicos e variados, bancos dinâmicos

livremente brincadeiras infantis sem riscos à saúde dos usuários, bem como interatividade entre eles. Além disso, o espaço infantil faz limite com uma área de jatos d’água que saem do piso, proporcionando uma atividade diferenciada e dinâmica no local. Figura 150 – Área infantil Fonte: Arquivo pessoal (2018)

150


Outro uso existente neste setor trata da área de pet park, ou

como brinquedos diversos, circuitos que auxiliam na prática de

seja, destinada à recreação de animais domésticos, contando

exercício físico dos animais e áreas de areia e grama.

com a presença de equipamentos específicos para os mesmos, Figura 151 – Pet park Fonte: Arquivo pessoal (2018)

151


Figura 152 – Pet park Fonte: Arquivo pessoal (2018)

152


Ambos os usos são integrados com áreas de descanso para as

além de possuírem o piso em formato orgânico faz os ambientes

pessoas que acompanham as crianças e os animais domésticos,

conversarem entre si.

contendo pergolados, arborização, e assentos diversificados, Figura 153 – Área de descanso entre o pet park e o playground

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

153


A figura 154 abaixo representa mais uma área de descanso bem

sensorial, este localizado em outro setor que será apresentado a

equipada que faz transição entre a área infantil e o jardim

seguir. Figura 154 – Área de descanso com vista para o jardim sensorial Fonte: Arquivo pessoal (2018)

154


SETOR SENSORIAL

O jardim também possui espelhos d’agua durante o percurso e caminhos demarcados com pergolados e pisos em madeira.

Este setor conta com a presença de três setores menores, que serão descritos a seguir. Primeiramente foi concebido um jardim sensorial, de modo a estimular os sentidos das pessoas e a criar uma atividade diferenciada e prazerosa ao público, portanto foram trazidos elementos que contemplam tais objetivos. O jardim conta com uma variedade de plantas que exalam aromas agradáveis,

bem

como

possuem

texturas

diferenciadas,

permitindo que sejam tocadas pelos usuários, além de terem

Vale ressaltar que de forma a explorar a experiência sensorial do usuário, foi implantado um pergolado com quedas de água laterais, criando assim uma cortina durante o caminho. A água é proveniente de um sistema de reutilização, e a mesma quando cai do pergolado, atinge o espelho d’água, impedindo assim que ocorra desperdício. Este sistema foi colocado, pois a ideia não somente do jardim, mas a do parque, é de gerar surpresas e despertar a curiosidade de quem está usufruindo o local.

sido colocas árvores frutíferas na região, criando um pequeno pomar. Figura 155 – Jardim sensorial Fonte: Arquivo pessoal (2018)

155


Em seguida foi criado um espaço de horta comunitária, cujo

hortaliças que poderão ser cuidadas pelos próprios usuários.

objetivo é gerar integração de pessoas e aproximação entre os

Assim como os demais ambientes, a horta é equipada com

moradores do bairro, onde tal área contém uma variedade de

assentos e iluminação adequada para receber o público. Figura 156 –Jardim sensorial e horta Fonte: Arquivo pessoal (2018)

156


O terceiro ambiente criado dentro do setor sensorial trata do

auxiliam na sensação de tranquilidade do espaço. O jardim zen

jardim zen, destinado à prática de atividades relacionadas à

possui também uma área de fitodepuração, sistema que consiste

meditação e yoga, com a presença de espelhos d’água, áreas

na depuração da água com a utilização de plantas aquáticas de

gramadas, seixo e pedriscos que formas desenhos no piso,

modo a possibilitar o reuso das águas no espelho d’água. Figura 157 – Vista da horta, do pomar e jardim zen Fonte: Arquivo pessoal (2018)

157


SETOR GASTRONÔMICO

como com áreas de pergolado e cobertura em policarbonato reutilizável.

Este setor foi criado com o objetivo de conceber uma opção gastronômica para a população, contendo restaurantes variados,

Além disso, o setor possui infraestrutura necessária para seu

todos com a reutilização de contêineres. O espaço é composto

bom funcionamento, com área de carga e descarga na parte

de áreas descontraídas, com bancos em madeira, poltronas,

posterior, limitada pelo muro do 38º Batalhão. E sua localização

sombreiros, mesas e vegetação que criam sombreamento, bem

próxima à área de pescadores incentiva a compra de peixes locais, auxiliando a manter viva a tradição da região. Figura 158 – Área gastronômica Fonte: Arquivo pessoal (2018)

158


SETOR DE EVENTOS É o setor que acomodará os diversos eventos que ocorrerão ao

Próximo ao anfiteatro também foram colocados equipamentos

longo do ano no parque, portanto uma grande área foi mantida

sustentáveis de recreação, com pisos iluminados que remetem à

livre de mobiliários fixos, contando apenas com árvores de

pista de dança, e geram energia ao serem pressionados, unindo

grande porte que garantem sombreamento aos usuários,

lazer com cuidados ao meio ambiente. As demais áreas contem

iluminação, assentos móveis que podem ser facilmente retirados

assentos para atender ao público, lixeiras e iluminação tanto

em dias de eventos e realização de atividades esporádicas,

funcional como decorativa.

como slackline11. Porém, além dos espaços livres, decidiu-se criar um anfiteatro com 1,80 metros de profundidade, contendo rampa acessível, cujo palco poderá ser visto de diversos pontos da área de eventos, integrando ainda mais a população e garantindo mais diversidade de usos em um mesmo local,

Neste setor também foi criada a área de estacionamento, com capacidade para 106 automóveis, 15 motos e 12 ônibus para acomodar os visitantes, contendo arborização para evitar ilhas de calor. A seguir são apresentadas figuras que contem as descrições acima.

evitando assim espaços inutilizados.

11

Esporte de equilíbrio sobre uma fita elástica esticada entre dois pontos fixos. Fonte: http://desviantes.com.br/blog/post/o-que-e-slackline-e-comocomecar-praticar/. Acesso em 07/06/2018

159


Figura 159 – Área de eventos - Anfiteatro Fonte: Arquivo pessoal (2018)

160


Figura 160 – Área de estacionamento Fonte: Arquivo pessoal (2018)

161


SETOR DE PESCA

Todos os setores criados foram organizados de modo integrado, com paginação de piso e arborização harmônica, conexões

Setor criado com o objetivo de valorizar a pesca artesanal, tradição esta existentes há tempos na Prainha, contendo infraestrutura adequada que atende aos pescadores, com um estaleiro de pequeno porte, que faz limite com o muro do 38º Batalhão da Infantaria, permitindo a manutenção dos barcos e armazenamento de materiais, bem como tanques e apoios para a lavagem dos peixes e uma área de peixaria, com tendas e mesas para vendas. Por ser uma área com odor muito forte proveniente do peixe, foi-se criada uma barreira vegetal entre este setor e a área gastronômica, evitando desconforto para os usuários presentes no local.

entre as áreas e entre os usos, de modo a estabelecer uma relação única no parque. Isso foi acontecendo também durante o eixo visual principal, que possui 12 metros de largura e conecta ambos os lados do parque através de pisos em madeira, pergolados que geram continuidade aos caminhos e filetes de água que conversam entre si. O eixo é uma estratégia muito importante que privilegia a Igreja do Rosário e a Baía de Vitória, portanto é demarcado com palmeiras em seu início e final, possui em seus limites uma paginação diferenciada que guia o transeunte, e apresenta em uma certa região pequenos jatos de água que brotam do piso, de modo a direcionar o olhar das pessoas para frente. No final do eixo foi selecionada uma área para colocação de um monumento que represente o Sítio Histórico da Prainha, obra esta que será obtida através da abertura de um Concurso Público. Com isso, pode-se perceber que todas as necessidades do local foram levadas em conta e foram solucionadas da melhor forma possível, garantindo um espaço vivo, confortável, seguro e utilizado por todos. 162


Figura 161 – Eixo para a Baía de Vitória Fonte: Arquivo pessoal (2018)

163


Figura 162 – Eixo para a Igreja do Rosário Fonte: Arquivo pessoal (2018)

164


Figura 163 – Vista geral do parque da Prainha Fonte: Arquivo pessoal (2018)

165


CONSIDERAÇOES FINAIS Apesar da importância dos espaços livres de uso público para o ambiente urbano e sua população, ele ainda está sendo pouco utilizado na maioria das cidades, já que a valorização se dá principalmente

ao

automóvel,

equipamentos

exclusivos

necessidades

dos

para

pedestres

com

criação

o

mesmo,

e

ciclistas.

de

vias

ignorando Além

e as

dessa

problemática, vale ressaltar também a questão dos espaços privativos criados nos grandes centros urbanos, que passam a ideia de conforto e segurança para seus usuários, onde na realidade propiciam a segregação social e espacial, além de contribuírem com o medo já recorrente nas pessoas, quando se tratando de insegurança nas ruas e calçadas. Com isso, as áreas livres na cidade perdem seu espaço tanto para construções individualistas, como para os carros, o que gera abandonado dessas áreas por parte população, pois tornam-se locais descuidados, isolados, sem atrativos para os usuários, e consequentemente passam a ter uma ocupação inadequada, o que gera maior insegurança para os habitantes. Sendo assim, ocorre o afastamento entre o ambiente público e as pessoas, situação esta que propicia a cidades a se tornarem 166


monótonas e sem vida. A partir desse contexto, o trabalho apresentado vai em busca de embasamento teórico que contemple as relações dos espaços livres de uso público com a cidade e seus habitantes, adentrando em questões relacionadas à vitalidade, segurança, mobilidade, economia, bem estar, sustentabilidade, dentre outros itens diretamente ligados com a melhoria da qualidade de vida da população, bem como melhoria da vivência urbana. Além disso, o trabalho também aborda sobre a importância dos

Dessa maneira, a proposta utiliza mecanismos e estratégias que valorizam

os

potenciais

visuais,

turísticos

e

ambientais

existentes, além de trazer diversidade de usos e funções para o local, melhoria na dinâmica social, equipamentos adequados para todas as idades e propostas que proporcionem a relação interpessoal, todas descritas ao longo do capítulo cinco. Ademais disso, os elementos que compõe o parque solucionam os problemas e vulnerabilidades detectadas na região durante o diagnóstico da área.

parques públicos nas cidades, de modo que foram analisadas

Portanto, é possível concluir que a proposta de intervenção

suas funções dentro do contexto urbano, ademais de haver um

atinge seus objetivos, já que os elementos que compõe o parque

estudo sobre as diversas tipologias de parques, resultando

privilegiam seus potenciais e solucionam as vulnerabilidades e

assim em um acúmulo de informações relevantes a serem

os problemas detectados na região, criando assim um parque

consideradas na proposta de requalificação do parque da

urbano diversificado, vivo, seguro, sustentável e adequado para

Prainha.

a cidade e a população.

O parque da Prainha foi escolhido como local da proposta de intervenção por ser uma área repleta de valores culturais, históricos e religiosos, identificados e estudados no diagnóstico deste trabalho, portanto o objetivo principal foi resgatar esses valores, já que possuem importância não só para a área em estudo, mas também para o município. 167


ReferĂŞncias

168


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