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O país precisa de ciência. O Brasil precisa do CNPq

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Memorial

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Evaldo Ferreira Vilela Agrônomo, doutor em ecologia química pela Universidade de Southampton (Reino Unido). Professor titular e atualmente professor voluntário/colaborador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da qual foi reitor (2000-2004). Foi presidente da Fapemig (2015-2020) e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap, 2019-2020). Criou o Sistema Mineiro de Inovação (SIMI). Foi pesquisador 1A do CNPq de 1996 a 2014. É presidente do CNPq Celebramos, em 2021, os 70 anos de criação do CNPq, aniversário marcado por uma série de desafios em um momento em que o mundo se voltou à discussão da importância da ciência como solução para grandes problemas da sociedade. O CNPq nasceu de um contexto também desafiador para a humanidade, o mundo pós-guerra. E foi justamente esse cenário que consolidou, mundialmente, a ideia de que o conhecimento e a tecnologia gerados pela ciência promovem desenvolvimento e soberania de um país e que, para isso, seria imprescindível a concepção de uma estrutura central de fomento à pesquisa.

Nos últimos dois anos, o desafio foi – e está sendo – vencer a pandemia da covid-19 e a ciência tem sido, mais uma vez, a peça-chave na busca de respostas a problemas que afligem a humanidade. A atuação imediata de pesquisadores em todo o mundo, incluindo brasileiros, no combate a esse vírus, só foi possível graças à existência de redes e centros de pesquisa consolidados por um histórico de investimentos de longa duração que puderam contribuir de forma eficiente para os avanços necessários na produção das melhores evidências e na conquista dos melhores resultados.

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Por isso, no Brasil, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, pudemos dar significativas contribuições, como o sequenciamento genético do novo coronavírus em tempo recorde, liderado pela pesquisadora bolsista do CNPq Ester Sabino (USP), apenas para citar um exemplo.

No entanto, se por um lado mostramos a qualidade da ciência brasileira e a excelência dos nossos pesquisadores e pesquisadoras, por outro, foi necessário um esforço de todos nós, gestores,

servidores, entidades representativas e comunidade científica, na busca por mais recursos para investimento em ciência. Mas, ainda que atuando com um orçamento limitado, que afetou a capacidade de apoio a projetos de pesquisa, além de outras iniciativas, conseguimos promover realizações de que nos orgulhamos e que merecem reconhecimento.

Com o descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (FNDCT), fruto de justa e intensa reivindicação e, importante pontuar, o trabalho contínuo e competente do corpo técnico do CNPq, ações e programas já consolidados, de elevada envergadura, tiveram continuidade garantida com novos aportes de recursos para o período de 2021 e 2022, da ordem de quase R$ 1 bilhão. É o caso do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), com 102 grupos apoiados, que impulsiona a pesquisa científica de forma competitiva em âmbito internacional, desenvolvendo conhecimento e inovações, agregando importantes centros de pesquisa do país em atuação em rede e incorporando jovens pesquisadores com muito talento. Também é o caso do Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE), com 181 projetos apoiados pela nova chamada lançada em 2021, além da retomada, depois de três anos, da Chamada Universal, que contemplou mais de 2 mil projetos de pesquisa em todo o país, em todas as áreas do conhecimento.

Sabemos, porém, que podemos fazer muito mais, com recursos adequados. Também sabemos da necessidade de atualização da gestão do fomento à pesquisa frente às profundas transformações em um mundo que pede mais assertividade, mais transparência e mais foco nas entregas dos projetos financiados como contribuição para a solução dos grandes problemas da sociedade.

No CNPq, estamos implementando um plano de atualização. Trabalhamos por uma ciência mais colaborativa, com projetos que contemplem a curiosidade dos cientistas para o avanço do conhecimento humano ou que, alternativa ou complementarmente, foquem na solução imediata dos nossos principais desafios. Fazer ciência é cada vez mais uma necessidade para alavancar o desenvolvimento social e econômico e a soberania nacional – e o fomento à pesquisa é chave para orientar e induzir as mudanças necessárias, mudanças estas que causam, muitas vezes, desconfortos. Mas é preciso enfrentar e evoluir, porque temos que nos adaptar aos novos paradigmas, sob pena de perdermos o passo na caminhada para o futuro do nosso país.

Assim, precisamos abraçar a ideia da pesquisa orientada à missão, capaz de mover a fronteira do conhecimento na direção dos grandes desafios. As missões fornecem soluções, oportunidades e abordagens para os inúmeros desafios que as pessoas encaram no seu dia-a-dia como, por exemplo, tornar a vida mais saudável e sustentável. Essa é uma das nossas missões.

Para isso, é fundamental a atuação do poder público, por meio das agências de fomento, com orçamentos robustos e estrutura fortalecida. É sempre importante ressaltar que o investimento em ciência não deve estar condicionado à riqueza de um país. Ao contrário, a riqueza de um país é resultado, em grande parte, do investimento em ciência.

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