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Recife I 29 de outubro de 2014 I quarta-feira

cidades

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Controle sobre UTI em xeque SAÚDE PÚBLICA Juiz suspendeu direito da Aduseps de saber quantos aguardam vaga para unidade. Entidade recorreu da decisão Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem

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onhecida por denunciar irregularidades no serviço público e apoiar os usuários que reclamam das operadoras de planos de saúde, a Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps) lamenta a possibilidade de deixar de receber diariamente a lista com o nome dos pacientes que aguardam vaga em unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública no Estado. Essa relação, liberada pela Central de Regulação de Leitos de Pernambuco, também chega para o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) e o Ministério Público. “Conseguimos isso em 2007 através de liminar. Tenho certeza que o número de leitos nos hospitais tem aumentado porque divulgamos esses números para a população ficar ciente da crise que o sistema de saúde enfrenta”, diz a médica Renê Patriota, coordenadora-executiva da Aduseps. Só ontem 60 pacientes aguardam vaga em UTIs no Estado. No último dia 17, foram 71 pessoas nessa lista. “Em setembro, o juiz Mozart Valadares Pires, da 7º Vara da Fazenda Pública, suspendeu essa sentença por julgar improcedente o pedido de fornecimento da relação dos pedidos para internamento em UTIs e, por isso, a liminar foi revogada. Só quem perde com isso é a população de Pernambuco”, lamenta Renê, que recorreu da decisão. “Já deixamos de receber a lista com os óbitos e, assim, não temos mais ideia de quantas mortes são decorrentes da falta de

LUTA Renê briga na Justiça para saber quem precisa de leito

R$ 250 mil são necessários para entidade não fechar as portas UTI. Agora, vamos lutar para não deixarmos de ter em mãos os nomes de quem precisa desses leitos.” Ao se referir à importância da entidade como defensora dos direitos do consumidor, ela menciona o trabalho da Ouvidoria Popular de Saúde Pública, criada pela Aduseps há 12 anos, em sintonia com o Proje-

to Risco de Vida, cujo objetivo é garantir o atendimento médico e hospitalar a quem utiliza o serviço público de saúde. Em 2002, a Justiça concedeu liminar a uma ação cautelar solicitada pela Aduseps garantindo que todo paciente de hospital público com risco de vida seja removido para um hospital particular, se faltar leito em UTI. Além disso, a Aduseps se empenha para não ter as portas fechadas por inadimplência. Dos 10 mil associados, 70% estão sem pagar as mensalidades. “Se os associados envolvidos nos 5 mil processos quitarem suas dívidas, chegamos a R$ 250 mil. Isso já é capaz de sustentar os nossos serviços de suporte jurídico”, avisa Renê Patriota.

entrevista k Carlos Freitas

“Tento melhorar o SUS” Carlos Freitas, ouvidor da Aduseps, abraça diariamente a missão de fazer ronda nos hospitais públicos para ajudar a garantir um atendimento humano aos cidadãos. “Gosto de amparar pacientes e familiares”, afirma. JC – Como o senhor chegou à Aduseps? CARLOS FREITAS – Há 12 anos, a Aduseps criou o Projeto Risco de Vida, que convidou a comunidade católica, através da Pastoral da Saúde, a identificar pacientes que precisavam de UTI nos hospitais públicos. Desde então, faço um trabalho voluntário para a entidade, registro tudo o que é irregularidade e passo adiante para tentar ajudar a melhorar a situação crítica enfrentada no sistema de saúde. JC – Como é feita essa fiscalização? CARLOS – Todos os dias o meu roteiro inclui as grandes emergências. Passo pelo Hos-

pital Barão de Lucena, pelo Getúlio Vargas, Agamenon Magalhães, Otávio de Freitas, Procape e Restauração. Converso com muitos familiares angustiados, que estão na porta desses hospitais aguardando informações sobre parentes internados. Sempre oriento como essas pessoas devem proceder. Em muitos casos, vamos com essas famílias até o Ministério Público para que sejam tomadas as medidas cabíveis. JC – Que casos chamam mais a sua atenção? CARLOS – Sempre que vejo pessoas angustiadas nas portas das emergências dou apoio. A primeira coisa é escu-

tar o que elas têm a dizer. Muitas reclamam que estão sem notícias do parente internado. No Hospital da Restauração, por exemplo, tem uma mãe que me disse que só pode ficar cinco minutos com o filho internado durante o horário de visita. Acho isso um absurdo. JC – Que ação da Aduseps gostaria de ressaltar? CARLOS – Em 2007, armamos uma tenda em frente à capela do Hospital de Câncer de Pernambuco, que iria ter as portas fechadas. Conseguimos, através de um abaixo-assinado com 8 mil assinaturas, sensibilizar o governo de Pernambuco a assumir o hospital.

k ciência/meio ambiente

Estado discute mudanças climáticas METEOROLOGIA A partir de segunda, no Centro de Convenções, Pernambuco sedia pela primeira vez congresso brasileiro sobre o tema

TEMPO Inundação em pauta gia renovável e pesquisadores vão debater formas de desaquecer a economia que utiliza combustíveis fósseis, investindo em outra movida à bioenergia. Nada menos que 70% do PIB do Estado estão concentrados no litoral, uma das áreas mais vulneráveis às alterações climáticas, segundo o secretário-executivo de Meio Ambiente, Élvio Polito.

ESTUDO

Na opinião da secretária de Meio Ambiente do Recife, Cida Pedrosa, Pernambuco é um estudo de caso perfeito para entender e tentar mitigar as mudanças climáticas em curso no planeta, adaptando-se a elas. “Temos um mar que avança na Região Metropolitana, uma região assolada por enchentes e inundações e um Se-

miárido que sofre com a seca.” A secretária admite que é difícil vencer a burocracia interna e fazer as pessoas (nos órgãos públicos) entenderem que os efeitos nocivos das alterações do clima não são uma realidade distante, mas algo que já está acontecendo. “Para enfrentar a questão, resolvemos atuar em três frentes: participação popular, garantia de legislação específica e entender como os gases do efeito estufa atingem o Recife.”

Marcos Michael/Acervo JC Imagem

Bobby Fabisak/JC Imagem/3-5-2011

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ernambuco vai sediar, pela primeira vez, o Congresso Brasileiro de Meteorologia. A 18ª edição do evento será realizada durante o PE no Clima, encontro para discutir mudanças climáticas que o Estado promove pela terceira vez este ano. Os dois fóruns de discussão começam na próxima segunda-feira, no Centro de Convenções. A previsão é que 1,5 mil pessoas – entre pesquisadores, empresários e instituições públicas e privadas – participem do encontro. Este ano, o PE no Clima vai discutir o uso de fontes limpas de energia, formas de promover a economia sem aumentar as emissões de gases que geram o efeito estufa, maneiras de conviver com menos água, desastres naturais, políticas de tratamento de resíduos sólidos e desertificação entre outras questões. “Pernambuco está dando um exemplo, trazendo a sociedade para discutir essa temática e pensando junto com a ciência”, disse o secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos André Cavalcanti, durante o lançamento do evento. Ele lembrou que o Estado é muito vulnerável ao aquecimento global. “Temos alguns cenários muito críticos. Há 102 municípios no Semiárido, suscetíveis ao processo de desertificação, enquanto outros da Zona da Mata enfrentam problemas de inundação.” O secretário adiantou que empresários na área de ener-

SOLUÇÕES

Enquanto o PE no Clima vai discutir as temáticas de interesse local, o Congresso de Meteorologia apresentará novos produtos e soluções tecnológicas que podem ser usados para melhorar a qualidade de vida da população. Cerca de 1,2 mil meteorologistas e climatologistas de várias partes do País e do exterior devem comparecer ao evento, Segundo a coordenadora Karen Studzinski, os cientistas vão interagir com o público e trocar opiniões com a comunidade. “Teremos sessões científicas e outras nas quais vamos passar informações, ouvir e discutir. Esse é o objetivo do Congresso Brasileiro de Meteorologia”, destaca.

q Mais na web Veja infográfico com programação do evento, no www.jconline.com.br/cidades

SEMIÁRIDO Pelo menos 102 cidades estão sujeitas à desertificação, assunto que estará em debate

Europa cobra atitude dos EUA BRUXELAS – A conferência das Nações Unidas sobre o Clima, que será realizada em 2015 em Paris, será um fracasso se os Estados Unidos não se comprometerem com um objetivo “concreto e ambicioso” de redução de gases de efeito estufa, alertou a comissária europeia do Clima, Connie Hedegaard. “A Europa fez o que devia fazer. Comprometeu-se a reduzir em pelo menos 40% suas emissões até 2030, com relação aos níveis de 1990. Mas a Europa não pode resolver sozinha o problema causado pelo aquecimento. Os Esta-

dos Unidos devem se comprometer com um objetivo ambicioso, e então, os chineses se comprometerão.” É difícil quantificar o esforço que os Estados Unidos devem fazer, mas deverá ser importante se quiserem que seja confiável, destacou Hedegaard. “Em Copenhague, em 2009, eles se comprometeram a reduzir suas emissões em 3,6% até 2020 em comparação com os níveis de 1990, e não podem nem mesmo alcançar este objetivo”, lamentou. A União Europeia (UE) se comprometeu a reduzir em 20% até 2020, e alcança seu

objetivo. “As emissões de gases de efeito estufa da UE caíram no ano passado, enquanto as dos EUA aumentaram.” As emissões de gases poluentes da UE representam 11% do total no mundo. Os Estados Unidos representariam 16% e a China, 29%.

OBJETIVOS

“O presidente (americano) Barack Obama prometeu que os Estados Unidos apresentarão seus objetivos em 2015. Vamos ver como a maior economia do mundo assume suas responsabilidades”, afirmou.


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