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Recife I 2 de novembro de 2014 I domingo

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Maternidade após os 30 anos Mariana Mesquita mmesquita@jc.com.br

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m em cada três bebês brasileiros é filho de mães com mais de 30 anos. A tendência, que é mundial, foi constatada através do estudo “Saúde Brasil”, divulgado esta semana pelo Ministério da Saúde. Quanto maior o grau de escolarização, e quanto mais alta a classe social da mulher, maior a probabilidade da mulher adiar a chegada do primeiro rebento. A taxa de fecundidade das brasileiras também vem diminuindo, sendo cada vez mais comum se ter apenas um filho ou, no máximo, dois. “São pessoas em processo de inserção no mercado de trabalho, e que postergam essa decisão de forma consciente”, diz Elaine Müller, professora de Antropologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mãe de três filhos, ela própria é um exemplo disso, pois teve seu primeiro bebê quinze dias antes de completar 30 anos. “Na contemporaneidade, existe a ideia de um prolongamento do período de juventude. As pessoas da classe média agora ficam adultas mais tarde, até conseguir alcançar estabilidade financeira, moradia, casar, ter filhos. E ter um bebê é uma coisa muito definitiva”, avalia. Este foi o caso da assessora de imprensa Raquel Paz, 43, que vive em Brasília, e da servidora pública recifense Nélia de

Paula, 42. Ambas preferiram esperar. Filha de uma família numerosa, Raquel começou a trabalhar aos 12 anos e precisou conciliar os estudos com a educação. “Só consegui me formar depois dos 30, e mesmo tendo sido casada por sete anos, preferi esperar”, relembra. Olívia, sua filha, foi gerada no segundo casamento, e chegou quando ela já tinha 37 anos e não sabia sequer se chegaria, um dia, a engravidar. Nélia, que é advogada, foi com o primeiro marido estudar em Barcelona e não pensava em ter filhos. “Eu estava no auge dos estudos”, ressalta. Os bebês vieram depois, no regresso ao Brasil, frutos de outros relacionamentos: Gabriel nasceu quando tinha quase 35 anos, e Daniel, aos 38. “Eu acho que tudo depende dos planos de vida da pessoa. Não sei estatisticamente, mas quase todas as minhas amigas de colégio tiveram filhos se não depois dos 30, perto disso”, atesta. A fisioterapeuta Bernadete Pinheiro, 49, teve Letícia aos 44. Chegou a receber um diagnóstico de infertilidade, quando o exame positivo chegou. “Como toda menina, sonhava em casar e ter filhos, mas o tempo foi passando e eu foquei na carreira”, explica. Apesar do medo de possíveis complicações, Bernadete teve uma gravidez saudável e uma criança perfeita. “Ela foi um presentinho do Céu”, sorri.

Fotos: Reprodução/Facebook

ESCOLHA Estudo do Ministério da Saúde confirma que cresceu o número de mulheres que têm adiado a chegada do primeiro filho

CARREIRA Bernadete (no alto) só teve Letícia aos 44, e já achava que não poderia ter filhos. Raquel engravidou aos 37

Gravidez precisa de cuidados maiores Para a obstetra Melânia Amorim, que é professora da pós-graduação em Saúde Materno-Infantil do IMIP, “o Brasil passa por um momento de transição epidemiológica, mesclando comportamentos. Em algumas questões, passamos a agir de acordo com os padrões de renda média, mas ainda convivemos com os elementos de baixa renda”. Ela cita que, apesar da comprovada tendência de ter filhos mais tarde, a gravidez na adolescência ainda é um problema grave em nosso País. A pesquisa “Saúde Brasil” também revela isso, quando mostra que o patamar de nascimento de filhos de jovens com menos de 15 anos (em torno de 30 mil bebês por ano) permaneceu o mesmo, ao longo da última década. “A tendência a postergar a primeira gravidez, do ponto de vista médico, representa alguns cuidados a mais que não estão ligados apenas à questão da idade, porque existem algumas questões inerentes à primeira gravidez, como a pré-eclâmpsia, que devem ser observadas em qualquer idade. Agora, depois dos 35 anos, existe de fato um aumento do risco de problemas clínicos, como hipertensão e diabetes, o que é normal à medida que se

envelhece. Mas uma mulher saudável pode engravidar em qualquer idade”, explica Melânia, que teve seu segundo filho, Joaquim, aos 42 anos. “Fala-se muito também do aumento de máformação genética, por conta da idade. Mas quando se avalia o risco em termos absolutos, o aumento é baixo e a maioria das gestações tendem a ser saudáveis”, acrescenta. Um problema que costuma acontecer após os 40 anos é a diminuição da fertilidade. “Entre os 30 e os 35 anos anos, não se tem nenhuma queda importante nesse índice”, tranquiliza Melânia. “Houve uma época em que as mulheres engravidavam muito jovens e ficou o tabu da primípara idosa. Na época de meu pai, que também era obstetra, se considerava a paciente ‘idosa’ a partir dos 28 anos”, ri. Na briga contra o tempo, o congelamento de óvulos tornouse relativamente corriqueiro, entre as executivas americanas, “garantindo” a possibilidade de adiar a gravidez. A conduta já chegou ao Brasil e começa a ser praticada por mulheres a partir dos 30 anos - ou no caso daquelas que vão passar por tratamentos que podem deixá-las inférteis, como a quimioterapia.


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