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Recife I 3 de dezembro de 2014 I quarta-feira

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Atenção maior à obesidade Fotos: Ricardo B. Labastier/JC Imagem

SAÚDE Conselho Federal de Medicina aprova a criação da área de cirurgia bariátrica, fato que ampliará o procedimento pelo SUS

ESPERANÇA “Quero voltar a ter uma vida ativa, a correr e a jogar bola”, diz André Braga

Há quatro anos, espero para ser operada. Estou recebendo todo o apoio para enfrentar a cirurgia com segurança. Quero ter saúde e qualidade de vida. Ir para a academia, dançar, andar de patins e sair com os amigos sem enfrentar o preconceito das pessoas na rua são meus maiores sonhos”, diz a dona de casa Vanessa Lins, 27 anos

Tenho excesso de peso desde criancinha. Já fiz de tudo para emagrecer: segui muitas dietas e até tomei remédios, mas nada adiantou. E nem sou de comer muito. Minha obesidade é de família mesmo. Agora, estou na fase de preparação para a cirurgia. Torço para tudo dar certo”, diz a estudante

Luana Lima, 15 anos

Cinthya Leite cleite@jc.com.br

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cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como redução de estômago, é a última instância para tratar a obesidade e doenças associadas ao excesso de peso. Para ser realizada com risco mínimo de complicações, a operação requer boa infraestrutura hospitalar, preparo do paciente e experiência da equipe interdisciplinar. Ao considerar esses requisitos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) acaba de aprovar a criação da área de atuação em cirurgia bariátrica. “Isso permite intensificação de ações na formação dos cirurgiões e oferece caminhos que prezam pela segurança de quem se submete ao procedimento”, diz o cirurgião Josemberg Campos, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) para o biênio 2015/2016. Professor do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele reforça que, com a chancela do CFM, os hospitais públicos que realizam a cirurgia bariátrica só têm a ganhar, já que os principais centros de treinamento no Brasil estão nos estabelecimentos conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). “À frente da SBCBM, vamos trabalhar para Pernambuco expandir a cirurgia bariátrica nos serviços públicos de saúde. Além disso, o Estado será incluído num projeto piloto nacional do procedimento em pessoas com diabete”, garante Josemberg. Outra luta dele está voltada para um trabalho que estimule o aumento de operações realizadas pela rede pública. Das 88 mil cirurgias bariátricas que devem ser realizadas até o fim deste ano no País, apenas 10% são via SUS. No Hospital das Clínicas (HC/ UFPE), a demanda reprimida de pacientes na fila pelo procedimento é imensurável. É o que informa o chefe do Serviço de Cirurgia-Geral do hospital, Álvaro Ferraz. “Só temos capacidade para realizar três ou quatro cirurgias por semana”, diz o médico. Ele sublinha um entrave: “Para cada intervenção, determinamos um prejuízo de quase R$ 2 mil para o hospital. Por isso, precisa-

mos lutar para ampliar o financiamento da cirurgia bariátrica pelo SUS”. No Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), a espera também é grande. “Cerca de 500 pacientes aguardam o procedimento”, informa o cirurgião do hospital Walter França. Para ele, o aumento do custeio desse tipo de intervenção e a criação de uma fila única, como acontece com os transplantes, podem reduzir a demanda reprimida. Outro detalhe evidenciado pelos médicos está relacionado ao perfil dos pacientes da rede pública. “São pessoas em condições graves porque têm obesidade associada a outras doenças, problemas sociais e psicológicos. Preocupa também o fato de serem desnutridos porque têm dieta pobre em proteínas”, frisa Álvaro Ferraz.

Apenas 10% das cirurgias para redução de estômago no País são feitas pelo SUS Pela severidade da obesidade mórbida, muitos pacientes precisam se internar para perder peso antes da cirurgia e receber apoio psicológico para lidar com o pósoperatório. É o caso do profissional autônomo André Braga, 35 anos, que precisa eliminar 20 quilos para se submeter ao procedimento. Já perdeu 12 quilos. “Há quatro anos, luto para ser operado. Quando me informaram que fui selecionado para a cirurgia, fiquei muito feliz. O internamento aqui no HC funciona como um spa. Somos preparados por vários profissionais para sermos operados com segurança”, conta André. Ele não vê a hora de jogar bola e correr como fazia antes de engordar. “Era professor de artes marciais e, por um fato que me abalou, comecei a ganhar muito peso. Quero voltar a ter uma vida ativa e longe de preconceitos”, finaliza André.

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esde o mês passado, em todas as tardes de sexta-feira, o ambulatório de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife, tem horário exclusivo para adolescentes com o vírus da aids. A ideia é no futuro construir um espaço físico destinado somente a eles, garantindo serviço diferenciado, como a idade requer. Nessa faixa de idade vem crescendo o registro anual de novos casos, atribuídos ao início da vida sexual sem uso de preservativo. No ano passado foram 45 pessoas de 10 a 19 anos, dez a mais que em 2013. Dados parciais de 2014 apontam 31 notificações. O serviço especial, em montagem pela equipe do Huoc, é voltado também para os egressos da pediatria, meninos e meninas que já nasceram com o HIV e agora estão chegando à juventude. “Nesse momento de mudança e autonomia é preciso trabalhar a adesão ao tratamento”, explica a médica Regina Coeli, que acompanha pacientes infectados desde a infância e decidiu criar o horário diferenciado para os adolescentes. Ela

Consultas podem ser agendadas no ambulatório do Oswaldo Cruz adianta que a proposta é garantir a consulta individualizada e, futuramente, fazer trabalhos em grupo com aqueles que aceitarem dividir experiência. O serviço tem médica e psicóloga. Uma enfermeira está sendo reivindicada para atuar também nesse horário, fazendo o acolhimento dos jovens. “É uma idade peculiar, há um turbilhão de emoções num momento de autoafirmação”, completa a psicóloga Myrian Azoubel, parceira no projeto. Com duas décadas de experiência no atendimento a adultos com aids, ela sabe que adolescer é também querer ultrapassar limites, como fazer sexo sem camisinha, aventurarse ao uso de drogas e álcool, submetendo-se aos riscos. “É

o que chamamos de fantasma da invulnerabilidade e mito da invencibilidade.” Até o momento, a forma mais eficaz de conter a replicação do vírus e manter o bem-estar é usar os remédios e se proteger de nova infecção. Daí a importância de convencer os jovens a não descuidarem do sexo seguro. Trabalhar a responsabilidade, a autoestima e a perspectiva de desenvolvimento estão na pauta da equipe do Huoc. Muitos dos que usam o serviço apresentam problemas sociais (condição econômica, dificuldade de acesso a bens básicos em razão do lugar de moradia). Por enquanto o atendimento é feito no prédio do ambulatório infantil de doenças infecciosas. Há projeto anterior de construção de um pavimento superior. Organizadores do novo espaço sonham com salas exclusivas, decoradas para o público juvenil e com direito a práticas extras, como dança, teatro e outras atividades. Estão em busca de parceiros. Adolescentes podem agendar consulta indo ao local (ambulatórios de adultos e de crianças de doenças infecciosas).

Alexandre Gondim/JC Imagem

Serviço exclusivo para jovens com HIV

CUIDADOS Regina Coeli criou horário diferenciado para atender os adolescentes no Huoc


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