Hapvida jc 04 11 2014

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4 jornal do commercio

Recife I 4 de novembro de 2014 I terça-feira

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Diagnóstico via biossensor Fotos: Bernardo Soares/JC Imagem

No terceiro dia da série Novembro Azul, o Jornal do Commercio traz informações sobre pesquisa inédita para substituição dos exames que detectam o câncer de próstata por um biossensor, que eliminaria a necessidade do exame de toque. A pesquisa está sendo realizada pelo Lika, Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em parceria com o Hospital das Clínicas e com o Grupo de Engenharia da Computação do Centro de Informática da UFPE.

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magine poder ir à farmácia e comprar um teste que detecta se você possui ou não o câncer de próstata. O exame seria semelhante ao que é utilizado hoje em dia para se verificar o índice de glicose – pingando uma gota de sangue numa tirinha – ou poderia ser feito também através da urina. Todo procedimento seria realizado em casa, de forma indolor, por você mesmo, e, em poucos minutos, você teria o resultado. A ideia é bastante atrativa, e a boa notícia é que está perto de se tornar realidade. Este é o futuro. Diga-se, de passagem, relativamente próximo. Pelo menos, é isto que esperam pesquisadores do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), ligado à Universidade Federal de Pernambuco, em parceria com o Hospital das Clínicas e com o Grupo de Engenharia da Computação (Greco) do Centro de Informática da universidade. Eles estão criando um biossensor capaz de detectar o câncer de próstata ainda na

ESPERANÇA No alto, Gustavo Alves, que gerencia a pesquisa há dois anos e cujo objetivo é o diagnóstico preciso e não invasivo. Já o urologista Salvador Vilar (acima) vê a iniciativa com otimismo em relação à redução no número de casos sua fase inicial. O estudo, coordenado pelo diretor do Lika, professor José Luiz de Lima Filho, e gerenciado pelo pesquisador Gustavo Alves, vem sendo desenvolvido há dois anos e tem evoluído bastante, com resultados significativos, tanto que o grupo de pesquisadores irá publicar, daqui a dois meses, um artigo na revista científica Biosensors & Bioelectronics, apresentando o tema à comunidade internacional. “O objetivo do trabalho é desenvolver uma ferramenta com uma proposta inédita, que consiga avaliar de forma precisa e não invasiva a existência do câncer. Os métodos atuais para diagnosticar a doença são o exame do toque

retal, o teste PSA (um exame de sangue que verifica os valores do antígeno prostático específico) e a ultrassonografia da próstata. Porém, estes modelos ainda apresentam limitações na detecção precoce do câncer, assim como não são muito específicos”, disse o pesquisador do Lika, Gustavo Alves. Ele explicou que, no caso do teste PSA, seu nível pode estar elevado em pacientes que apresentam hiperplasia do órgão, prostatite e tumor benigno. “Em se tratando de testes não conclusivos, é necessário ainda uma biópsia para detectar a presença de células tumorais na próstata, que é um método bastante invasivo.” O biossensor identificaria a

Um dos desafios do estudo é relativo ao financiamento da pesquisa doença através da análise quantitativa do gene PCA3 – um fragmento genético presente em pequena quantidade nos homens. No entanto, naqueles com a doença, os valores estariam bastante elevados. “Com isso, o PCA3 se trata de um biomarcador bem específico para esse câncer, ou

seja, noutros quadros clínicos, diferentemente do câncer de próstata, sua concentração é baixa”, disse. O equipamento forneceria o diagnóstico em tempo real e poderia ser utilizado por qualquer pessoa, pois ele seria fácil de usar. “O dispositivo será altamente interpretativo. Não será necessário que o paciente vá ao laboratório para realização do teste ou precise de ajuda de um profissional para manuseá-lo. Seguindo as instruções, ele poderá fazer sozinho. Queremos também reduzir o tempo de espera do diagnóstico. Atualmente, ele tem sido dado em torno de 40 minutos. Queremos reduzir para dez”, acrescentou. O biossensor já vem sendo testado em

pacientes do Hospital das Clínicas, e as respostas têm sido eficazes na detecção da doença. No entanto, a expectativa é de que o biossensor esteja disponível no mercado daqui a cinco anos, a depender dos resultados dos testes e de financiamentos. O diretor do Lika, professor José Luiz de Lima Filho, afirmou que os principais desafios do estudo são o financiamento e ainda conseguir pesquisadores para trabalhar nesta linha de fronteira do conhecimento, o qual mistura biologia, medicina, química e instrumentação. “Na verdade, é a pesquisa translacional (nova área de trabalho), onde esperamos que o Lika fique cada vez mais próximo do Hospital das Clínicas, pois um depende do outro para chegarmos a um resultado o mais rápido possível”, afirmou. E Alves completou que outra dificuldade é o de conseguir amostras humanas já que o paciente masculino muitas vezes se recusa a fazer os testes de toque e o de PSA. “Essa situação está mudando um pouco, mas é preciso fazer um trabalho de incentivo para os homens fazerem tais avaliações”, explica. O urologista e professor da UFPE, Salvador Vilar, que já orientou diversos projetos de pesquisa na área, fez um balanço otimista dos estudos já realizados, acreditando que houve um progresso na análise do tema. “No futuro, espero que não precisemos mais operar tantos pacientes com a doença. Serão feitos tratamentos preventivos, com o uso de medicamentos que modificariam a genética da pessoa, prevenindo a doença. Teríamos o uso da vacina, e os tratamentos específicos não ofereceriam qualquer agressão ou sequela ao paciente. Não vejo isso num futuro distante, mas, sim, bem próximo”, diz, otimista Se depender do Lika, muitas outras novas pesquisas tão úteis quanto esta serão realizadas. O Laboratório, há 12 meses, vem fortalecendo a parceria já existente com o HC, reunindo-se semanalmente com médicos da unidade para discutir sobre os pacientes com casos polêmicos e elaborar novos protocolos e pesquisas.

q Mais na web Confira a entrevista com o diretor do Lika, José Luiz de Lima Filho, e saiba sobre outras pesquisas que estão sendo desenvolvidas em prol da prevenção do câncer de próstata no site http://jconlineblogs.ne10.uol. com.br/novembroazul


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